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RELATÓRIO CADEIA 2

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RELATÓRIO DE ATIVIDADE
ALUNO (A): MATHEUS NASCIMENTO GONÇALVES DE OLIVEIRA
ESTÁGIO BÁSICO: ( ) I ( ) II ( ) III ( ) IV
TIPO DE RELATÓRIO: ( ) VISITA TÉCNICA ( ) ATIVIDADE ACADÊMICA
LOCAL DE REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE:_____________________________
DATA: ____/____/_____ HORÁRIO:_____________
RESPONSÁVEL (Profissional):______________________________________
ORIENTADOR:___________________________________________________
RELATO OBSERVACIONAL:
 Dia treze de junho de dois mil e vinte e dois, começamos o segundo dia de estágio na cadeia pública de Assis Chateaubriand, fomos recepcionados com café por um dos carcereiros. 
 Às oito e dezenove, começamos os atendimentos, atendemos por primeiro C., detento já atendido da primeira vez, agora aparenta mais interesse na participação do atendimento e por isso continuamos a aplicação da anamnese. C. apresenta blusa com número “002” estampado e calça moletom na cor amarela, chinelos azuis com tiras consertadas, cavanhaque, unhas cortadas e braços cruzados. Possui algumas tatuagens visíveis, como: “Fé” no pescoço, terço no braço, símbolo OM, pentagrama invertido, símbolo espiral triplo na mão (significa alguma trindade).
 Ao entrarmos na sala, C. começa sua fala perguntando se estávamos ouvindo o pássaro bem-te-vi que estava cantando do lado de fora da cela de atendimento, com o objetivo de traze-lo para realidade foram feitas perguntas para a anamnese. C. diz já ter morado em Palotina, Tupãssi, Assis Chateaubriand, mas sua cidade “do coração” era Cascavel, antes da preensão trabalhava de motorista, possui uma irmã, a mãe faz visitas uma vez por mês e a cada quinze dias realiza visita virtual.
 C. relatou já ter ido preso no Complexo Médico Penal (CMP) de Curitiba, onde tomava algumas injeções, mas não foi diagnosticado com nenhum transtorno, achava estar ficando “louco” relatando indicativos de doença mental, ouvia e via “coisas”, explana ter descoberto através de um bem-te-vi, a verdade da humanidade e sobre as mentiras em que o papa conta. 
 Em alguns momentos C. demonstra estar incomodado com nossas anotações, no entanto nossa orientadora o explica para que anotamos todo contexto. O presidiário continua seu relato, dizia estar na quinta dimensão e que acreditava em Jesus antes de descobrir a verdade da humanidade, disse que está por vir a segunda onda, mas não explicou nada sobre. Pautou sobre bruxismo, que é algo que a tormenta “amarração de uma moça”. Dizia sobre como as drogas expandiam o pensamento, utilizando o exemplo do Albert Einstein, para C. Einstein se tornou o melhor filósofo pois “abriu a mente” com auxílio de drogas. Ao perguntarmos como é o convívio do detento na cela, C. relata existir vinte e cinco a vinte e seis detentos na cela dele, possuindo “jegas” (dormitórios/camas) adaptada. C. explica o porquê de seu olhar disperso dizendo querer guardar seu olhar para sua ex-namorada, que conheceu pela internet quando morava em Cascavel Pr, dizia ser sua alma gêmea e que até aquele momento estaria de alguma forma “preso” nela, C. queixa-se que a vida dele é um loop, ou seja, sempre acontece as mesmas coisas, como: conhece alguma mulher e logo em seguida é preso. C. diz sobre o livro de Filipe, retirado da bíblia. O detento diz sobre bruxarias e sobre mandalas, também afirma sua convivência em festas eletrônicas e a utilização de alucinógenos, o mesmo relata ter alucinações visuais, e auditivas em menor frequência (vultos, extraterrestres, entre outros) C. alega ter sido preso duas vezes, a primeira por embriaguez no volante, onde declara ser inocente pois só foi encaminhado à delegacia por ter se recusado ao bafômetro, a segunda vez por tentativa de homicídio (golpe de faca na orelha de um homem que teria “mexido” com sua ex-namorada). Por fim nos informa sobre a segunda onda que está por vim na primavera, que será um transtorno. C. expressa: “Eu me sinto no meu máximo”, “não adianta eu dizer, vocês não vão entender”.
 W. segundo detento atendido, apresenta meia por cima da calça, par de chinelos da marca havaianas, blusa preta, camisa branca, calça cinza de moletom, boné preto e aparelho dental. Morador da cidade terra roxa, já fez atendimento psicológico durante sua vida, possui dois filhos, de seis e oito anos. Preso em quatro de dezembro de dois mil e vinte e um, pela Lei Federal 11.340 do Brasil, também conhecida como Lei Maria da Penha, antes da preensão trabalhava com contrabando de cigarros, do Paraguai para o Brasil, já foi preso outras vezes e saiu com fiança. W. é considerado um detento tranquilo, na cadeia trabalha na faxina e capinando plantas na rua do lado de fora do presídio, está aproximadamente sete meses preso, relata como evento traumático os dois primeiros meses onde passou sozinho em uma cela comendo apenas pão e idealizando o suicídio. W. ao explicar o ocorrido, explana ter ido em Guaira ingerir bebida alcoólica, sendo para ele, o estímulo para a agressão de sua esposa, pois tinha “ouvido boatos” que estava sendo traído. W. efetua coronhadas em sua esposa para saber se realmente existia traição, houve disparos sem intenção. W. expõe sentimento de vingança, por considerar que está preso por culpa dela, e que fez isto para ela viver com o amante. Diz estar na melhor fase de sua vida quando ela o traiu, pelo seu poder aquisitivo, iria comprar a casa em que moravam de aluguel, presenteava ela com celulares, entre outros. Ao notarmos este forte sentimento de vingança, propomos refletir sobre os benefícios e os malefícios desta ação, W. considera como malefício voltar para cadeia e como seus filhos reagiriam a partir de tal vingança, pois acredita que seus filhos precisam dele. W. demonstra confusão mental sobre seus sentimentos, existem momentos em que prioriza a vingança contra sua mulher, esquecendo de seus filhos, e como solução para a cadeia fugiria para o Paraguai, já que possui bastante amigos pelo país. W. diz e demonstra sentimentos de solidão, carência e angústia, narrando: que castigo é esse?. Por fim, propomos para que refletisse o que é prioridade para ele e quais são os malefícios e benefícios da ação prometida.
 C., primeiro detento atendido, demonstra a perca de uma parcela de sua resistência ao atendimento, desta vez mostrou interesse ao participar, comunicativo, olhar focado e aparência um pouco mais conservada, é notável sua ideologia religiosa e seus pensamentos à relacionamentos passados, talvez se identificando com o evangelho de Filipe onde apresenta Maria Madalena como companheira de Jesus. Carência e apego religioso é típico frente à dificuldade vivenciada pelos detentos. A utilização de alucinógenos, alucinações visuais e auditivas mesmo sem a utilização, suas falas de superioridade como se fosse escolhido por Deus, suas crenças que fogem da realidade, pode ser interpretado como uma despersonalização (sintomas de perca de realidade podem surgir com o consumo de drogas).
 W. segundo detento atendido, possui noção de realidade e aparência conservada, apresenta sentimentos de ódio e propõe vingança contra a ex-esposa. Foi proposta a reflexão sobre os benefícios e malefícios da ação planejada, sendo posicionado seus filhos e a prisão como efeito prejudicial. Demonstra-se arrependido pela maneira que buscou respostas, mas também considera a traição um grande erro. Durante o atendimento W. denota preocupação sobre sua ex-esposa, sobre se está tendo condições financeira suficiente, pois estaria morando em um lugar vulnerável com o atual marido, que para W. seria de má índole, esta angústia sobre a ideia de sofrimento da ex-esposa é um pensamento contrário de um ato de vingança, podendo ser considerado como uma organização de pensamentos racionais, capaz de ser interpretado como um processo gradual do perdão.

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