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Autor: Prof. Claudio Ditticio Colaboradores: Profa. Daniela Menezes Brandão Prof. André Galhardo Fernandes Finanças Corporativas - Avaliação de Viabilidade de Projetos Professor conteudista: Claudio Ditticio Graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP-1973) e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP-2008). Participou de cursos de especialização em Métodos Quantitativos, Banking, Marketing, Processos Administrativos e Operacionais, Derivativos Financeiros, Sistemas e Processos de Educação a Distância (EaD), Avaliação de Empresas e Tecnologia da Informação e Comunicação. Possui uma larga experiência profissional como administrador e diretor de bancos e instituições financeiras. Também atuou como sócio-diretor em consultoria de economia e de análise política. Foi professor e pesquisador da Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP). Atua na educação a distância da UNIP como professor conteudista. Foi coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública, produzindo textos e ministrando aulas nos cursos de Empreendedorismo, Gestão Pública, Gestão Financeira, Gestão Ambiental e Gestão de Agronegócios, todos nessa modalidade de ensino. Participou de bancas examinadoras de concursos públicos, com ênfase em Ciências Contábeis e Gestão Pública. É professor da graduação e pós-graduação da UNIP nos cursos presenciais e à distância de Administração, Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Direito, Propaganda e Marketing, Serviço Social, Engenharias Elétrica, da Computação, Mecatrônica e Mecânica, Gestão Financeira, Gestão de Agronegócio, Gestão de Empreendedorismo e Gestão de Comércio Exterior. Nessa instituição, participa também dos Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs), de campi e cursos, de ensino nas modalidades presencial e a distância. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D617f Ditticio, Claudio. Finanças Corporativas - Avaliação de Viabilidade de Projetos / Claudio Ditticio. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 220 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Índices. 2. Custos. 3. Risco. I. Título. CDU 658.15 U509.04 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Bruna Baldez Kleber Souza Talita Lo Ré Sumário Finanças Corporativas - Avaliação de Viabilidade de Projetos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 11 Unidade I 1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ANÁLISE CONTÁBIL E FINANCEIRA......................................... 15 1.1 Abrangência da análise financeira ................................................................................................ 16 1.2 Informações sobre a empresa ......................................................................................................... 19 1.3 Demonstrativos e relatórios contábeis ........................................................................................ 23 1.3.1 Balanço patrimonial (BP) ..................................................................................................................... 25 1.3.2 Demonstrativo dos resultados do exercício (DRE) .................................................................... 27 1.3.3 Demonstrativo de fluxo de caixa (DFC) ......................................................................................... 28 1.3.4 Relevância dos demonstrativos contábeis ................................................................................... 29 2 ÍNDICES CONTÁBEIS E FINANCEIROS ...................................................................................................... 29 2.1 Índices de liquidez ............................................................................................................................... 32 2.1.1 Índice de liquidez geral ........................................................................................................................ 33 2.1.2 Índice de liquidez corrente ................................................................................................................. 34 2.1.3 Capital de giro líquido .......................................................................................................................... 34 2.1.4 Índice de liquidez seca .......................................................................................................................... 35 2.1.5 Índice de liquidez imediata ................................................................................................................. 36 2.2 Índices de endividamento ................................................................................................................. 37 2.2.1 Índice de estrutura de capital ............................................................................................................ 37 2.2.2 Índice de dependência .......................................................................................................................... 38 2.2.3 Índice de dependência de curto prazo ........................................................................................... 38 2.2.4 Índice de cobertura de juros .............................................................................................................. 39 2.2.5 Índice de cobertura de caixa .............................................................................................................. 39 2.3 Índices de rentabilidade (ou lucratividade) ............................................................................... 40 2.3.1 Retorno sobre o ativo ........................................................................................................................... 41 2.3.2 Retorno sobre o capital próprio ........................................................................................................ 41 2.3.3 Margem líquida ....................................................................................................................................... 42 2.4 Índices de atividade ............................................................................................................................. 43 2.4.1 Giro do estoque ....................................................................................................................................... 43 2.4.2 Giro de contas a receber ...................................................................................................................... 44 2.4.3 Prazo médio de vendas .........................................................................................................................45 2.4.4 Prazo médio de recebimento de vendas ....................................................................................... 45 2.4.5 Prazo médio de pagamento de compras....................................................................................... 46 2.4.6 Prazo médio de renovação de estoques ........................................................................................ 46 2.5 Índices de valor de mercado ............................................................................................................ 47 2.5.1 Índice preço/lucro ................................................................................................................................... 48 2.5.2 Índice valor de mercado/valor de livro .......................................................................................... 48 2.6 Análises: vertical e horizontal ......................................................................................................... 49 2.6.1 Análise vertical ......................................................................................................................................... 50 2.6.2 Análise horizontal ................................................................................................................................... 53 2.7 Atribuição de pesos para os índices .............................................................................................. 56 2.8 Limitações dos índices financeiros e das informações contábeis .................................... 56 2.9 EBITDA, NOPAT e EVA.......................................................................................................................... 57 2.9.1 EBITDA ......................................................................................................................................................... 57 2.9.2 NOPAT .......................................................................................................................................................... 58 2.9.3 EVA ................................................................................................................................................................ 58 Unidade II 3 ADMINISTRAÇÃO DE CAIXA E DE VALORES DE CURTO PRAZO .................................................... 63 3.1 O valor do dinheiro no tempo ......................................................................................................... 65 3.2 Planejamento de caixa ....................................................................................................................... 68 3.2.1 Política financeira ................................................................................................................................... 69 3.2.2 Ciclos operacionais e financeiros ..................................................................................................... 70 3.2.3 Orçamento de caixa ............................................................................................................................... 73 3.3 Controle do saldo de caixa ............................................................................................................... 74 3.4 Manutenção de um saldo mínimo de caixa .............................................................................. 74 3.5 Elaboração do DFC ............................................................................................................................... 76 3.6 Construção do diagrama do fluxo de caixa ............................................................................... 78 3.7 Análises de outros valores de curto prazo ................................................................................. 81 3.7.1 Contas a receber de clientes .............................................................................................................. 81 3.7.2 Manutenção e controle de estoques .............................................................................................. 84 3.7.3 Contas a pagar ......................................................................................................................................... 88 4 CUSTOS E ESTRUTURAS OPERACIONAIS ................................................................................................ 89 4.1 Custos suportados pela empresa ................................................................................................... 89 4.2 Custos fixos ............................................................................................................................................. 90 4.3 Custos variáveis..................................................................................................................................... 91 4.4 Custos semifixos ................................................................................................................................... 92 4.5 Custos diretos e indiretos ................................................................................................................. 92 4.6 Margem de contribuição (MC) ........................................................................................................ 93 4.7 Ponto de equilíbrio (PE) ..................................................................................................................... 95 4.8 Alavancagens ......................................................................................................................................... 98 4.8.1 Alavancagem operacional ................................................................................................................... 99 4.8.2 Alavancagem financeira .....................................................................................................................102 4.8.3 Alavancagem total ou combinada .................................................................................................105 Unidade III 5 AVALIAÇÃO DE PROJETOS E INVESTIMENTOS .................................................................................... 112 5.1 Métodos de avaliação por períodos de payback ................................................................... 113 5.2 Método da taxa interna de retorno (TIR) ................................................................................. 115 5.3 Método do valor presente líquido (VPL) ou Net Present Value (NPV) .......................... 119 5.4 Método índice de valor atual (IVA) .............................................................................................124 5.5 Divergências de resultados na aplicação de diferentes métodos ...................................125 5.6 Taxa interna de retorno modificada (TIRM) .............................................................................125 5.7 Metodologia das opções reais .......................................................................................................126 6 ESTRUTURAS E CUSTOS DE CAPITAIS ....................................................................................................128 6.1 Orçamento de capital .......................................................................................................................128 6.2 Taxas de juros e orçamento de capital ......................................................................................129 6.3 Capital próprio x capital de terceiros .........................................................................................130 6.4 Estrutura de capital da empresa ..................................................................................................132 6.5 Estrutura ótima de capital ..............................................................................................................133 6.6 Mensuração do custo do capital ..................................................................................................133 6.6.1 Importância de medir o custeio do capitalutilizado pela empresa ................................ 134 6.7 Custo do capital próprio ..................................................................................................................135 6.7.1 Modelo de precificação de ativos de capital (CAPM) ............................................................ 135 6.7.2 Security market line .............................................................................................................................141 6.7.3 Modelo APT .............................................................................................................................................141 6.7.4 Custo de capital com base no lançamento de ações preferenciais ................................ 142 6.7.5 Custo de capital com base no lançamento de ações ordinárias ...................................... 143 6.7.6 Lucros retidos ........................................................................................................................................ 144 6.8 Custo do capital de terceiros .........................................................................................................145 6.8.1 Custo de capital com base na colocação de debêntures no mercado ........................... 146 6.8.2 Custo de capital com base na obtenção de empréstimos e financiamentos no mercado ....................................................................................................................................................... 147 6.9 Custo médio ponderado de capital (CMPC) ou Weighted Average Cost Of Capital (WACC) ....................................................................................149 6.10 Escolha dos pesos dos elementos de capital ........................................................................150 6.11 Questões relacionadas com gestão e custo de capital .....................................................152 6.12 Ajustes do custo de capital em função de riscos diferenciados dos projetos ........155 Unidade IV 7 RISCOS E RETORNOS....................................................................................................................................161 7.1 Retorno de investimentos e de ativos .......................................................................................163 7.2 Riscos de investimentos ..................................................................................................................165 7.3 Riscos medidos com o uso de estatística .................................................................................168 7.4 Tipos de riscos financeiros ..............................................................................................................170 7.4.1 Riscos de crédito .................................................................................................................................. 172 7.4.2 Riscos operacionais ............................................................................................................................. 173 7.4.3 Riscos cambiais ..................................................................................................................................... 173 7.4.4 Riscos de taxas de juros .................................................................................................................... 173 7.4.5 Riscos de financiamentos ................................................................................................................. 174 7.5 Comportamentos em relação a riscos .......................................................................................174 7.6 Diversificação dos investimentos .................................................................................................175 7.7 Riscos x incertezas .............................................................................................................................176 8 TÓPICOS COMPLEMENTARES ...................................................................................................................178 8.1 Market Valeu Added (MVA) ............................................................................................................178 8.2 Economic Value Added (EVA) ........................................................................................................179 8.3 Mercados financeiros ........................................................................................................................182 8.3.1 Subsistema normativo ....................................................................................................................... 183 8.3.2 Subsistema operativo ......................................................................................................................... 186 8.3.3 Divisão dos mercados financeiros ................................................................................................. 187 8.3.4 Mercados futuros e de derivativos ............................................................................................... 189 8.4 Políticas de distribuição de dividendos .....................................................................................191 8.5 Objetivos e práticas de responsabilidade social nas empresas ........................................193 8.6 A teoria de agência ............................................................................................................................195 8.7 Escolha do regime tributário aplicado à empresa ................................................................197 8.8 Obtenção de capital mediante IPO .............................................................................................198 8.9 Repasses governamentais ...............................................................................................................200 8.10 Análise de ativos intangíveis e Goodwill ................................................................................201 8.11 Projetos incentivados .....................................................................................................................203 8.12 Captações no exterior ....................................................................................................................204 9 APRESENTAÇÃO Olá, aluno(a)! Nesta disciplina, vamos tratar de finanças e, mais especificamente, dos recursos financeiros, obtidos e gerados pelas empresas, independentemente de seu porte e ramo de atividades. O livro-texto irá mostrar o status e a evolução das finanças das empresas, considerando os aspectos conjunturais e estruturais da economia como um todo e as melhores práticas e procedimentos das organizações no âmbito financeiro. Sabemos que é muito importante o conhecimento de finanças por todos, principalmente aqueles que estão envolvidos com a análise e as decisões relacionadas às empresas e organizações em geral, sejam as que objetivam lucros em suas atividades, sejam outras voltadas, por exemplo, a interesses comunitários. É certo também que tais conhecimentos são muito úteis para o desempenho financeiro do próprio indivíduo. Segundo Brigham e Ehrhardt (2016, p. IX): “Finanças são, no sentido real, o pilar do sistema de gestão empresarial livre. Uma boa administração financeira tem, portanto, vital importância para a saúde econômica das empresas, da nação e do mundo”. A área de finanças corporativas, mais especificamente, estuda as aplicações da administração financeira nas empresas, independentemente do ramo e mercado em que atuam, e cujo objetivo fundamental é maximizar os seus resultados e a renda dos proprietários, sócios ou acionistas. Este estudo acompanha as empresas desde a mais tenra idade e prossegue em toda a sua existência. Aqueles que vão iniciar um negócio novo, que vão empreender, procurando trazer produtos e soluções novas para a coletividade, já têm, naturalmente, uma preocupação fundamental com o assunto de finanças, além de considerar a necessidadede obtenção de capital para transformar seus objetivos em realidade. Em muitas ocasiões, esses empreendedores necessitam de reforço de capital e recursos financeiros para esse desenvolvimento e, por isso, precisam obtê-los junto aos mercados financeiros (instituições privadas e públicas), necessitam convencer aquele que dispõe de recursos a aplicar em seu negócio. O empreendedor, portanto, deve conhecer o melhor possível as diferentes possibilidades de vender e acompanhar os negócios que propõe. Afinal, o projeto de uma nova empresa, ainda que startup (aquela que está iniciando suas atividades, visando implementar um plano de negócios), precisa revelar também a sua sustentabilidade em termos econômico-financeiros, com o objetivo de atrair capitais e recursos financeiros para os seus investimentos, e não somente na fase de lançamento/inicial. Para quem dispõe desses recursos, vale a pena aplicá-los nessa nova empresa? Assim, esta disciplina se presta ao estudo das questões financeiras de modo geral, procurando mostrar técnicas e processos capazes de permitir análises mais acuradas sobre a empresa e, também, sobre a riqueza dos indivíduos que nela estão interessados. 10 Os objetivos financeiros também são, obviamente, responsáveis por boa parte do que denominamos “preocupações com a sustentabilidade”, mas a empresa deve, além disso, procurar atender a outros aspectos relacionados aos objetivos sociais, cada vez mais valorizados em termos éticos, sociais, de proteção ao meio-ambiente etc. De fato, não é possível conceber a sustentabilidade de forma restrita. Acima de tudo, uma empresa sustentável é criada para não “morrer”, ultrapassando o tempo de vida dos seus fundadores. Se, por um lado, é necessário que a empresa procure sempre maximizar o lucro para os proprietários, acionistas, sócios, por outro, deve considerar o fato de que está inserida numa comunidade da qual é membro muito destacado; além de estar cada vez mais imersa num universo globalizado. Assim, nesse mundo de intensas transformações tecnológicas e comportamentais, a empresa deve estar em condições de enfrentar cada vez mais os desafios que se lhe apresentam. Por isso, seja como empreendedor, seja como empresário, seja como investidor, as informações sobre as quais iremos nos debruçar são de grande significado. Vê-se, então, em nível global, um forte direcionamento para a inclusão de assuntos ligados às finanças desde o início das atividades escolares, partindo do grau Fundamental ao Médio. O que se espera é criar uma cultura e aumentar o conjunto de conhecimentos sobre o assunto, notadamente num período de mudanças na orientação econômica dos governos, procurando uma moeda mais estável, que permita à sociedade fugir do “fantasma” da inflação e demandando que cada indivíduo possa experimentar opções de aumento de rentabilidade do seu capital, mas sempre preocupado com o risco que corre nas operações do mercado. E, aqui, estamos tratando tanto das pessoas físicas quanto das empresas. Note que, além da área de finanças propriamente dita, esta disciplina traz e estimula a consulta de conceitos e informações relacionadas com outras disciplinas correlatas, como administração, economia, contabilidade, matemática financeira, estatística etc. É esse tipo de abrangência e de inter-relação que torna o assunto mais desafiador – basta ver que, nas livrarias e bibliotecas, encontramos compêndios muito volumosos sobre o tema, destacando-se entre as várias áreas do conhecimento profissional. Procuramos priorizar neste livro-texto o tratamento dos conceitos e as informações financeiras com base na realidade brasileira, seguindo o esforço de novos autores que pensam o assunto. Claramente, há especificidades no Brasil em comparação a outras nações, ditadas pela nossa história, nossa situação econômica, nossa cultura, nosso relacionamento com o exterior etc. Convido-o, portanto, a uma leitura atenta do texto, com a certeza de que lhe será muito útil, não só para os fins específicos da disciplina e do curso que frequenta, mas para toda a sua vida profissional e pessoal. Bons estudos! 11 INTRODUÇÃO Bem, iniciemos nossa caminhada! Verifiquemos, de início, os conceitos, métodos e processos que permitem o estudo e a análise financeira das organizações, mais especificamente das empresas. Vamos partir dos critérios mais usuais e fortemente apoiados nas informações oferecidas pelos registros contábeis, até outros mais especializados, que levam em conta a evolução dos estudos sobre finanças. Abordaremos os conceitos financeiros básicos aplicáveis às empresas, iniciando com a abrangência da administração financeira e das informações providas pelos registros contábeis, que são geradas pelos principais demonstrativos, destacando-se o balanço patrimonial, o demonstrativo dos resultados do exercício e o demonstrativo de fluxo de caixa. Trataremos também das informações que são obtidas externamente aos controles/registros contábeis. O ponto de partida será o balanço patrimonial, que a maioria dos analistas considera como o mais importante e destacado relatório produzido pela contabilização dos eventos na empresa. Uma visão bastante geral do conteúdo de um BP permite que comecemos a entender, por exemplo, quais as distinções básicas entre investimentos e financiamentos. Mas, antes de tudo, o que é a função financeira da empresa? Intuitivamente, é possível entendê-la como o tratamento, através dos ativos e passivos, de qual é a melhor combinação entre a origem dos recursos (próprios ou de terceiros) com as várias alternativas e sua utilização nos variados tipos de investimentos ou projetos que podem ser realizados pela empresa. Abordaremos as decisões financeiras fundamentais, relacionadas com investimento, financiamento, planejamento e controle financeiro. Em seguida, procuraremos mostrar diferentes métodos e índices, obtidos pelo confronto dos valores incluídos no BP e nos demais relatórios e posições contábeis, que revelam as condições e expectativas de liquidez, endividamento, rentabilidade, atividade etc. da empresa em análise. Mais adiante, abordaremos as questões financeiras relacionadas fundamentalmente com a administração de caixa – ou, como se diz mais genericamente, elementos de caixa – e outros valores que compõem os denominados circulantes da empresa, tanto do ativo quanto do passivo. De pronto, procuraremos expor a importância de compreender e praticar a variação do dinheiro no tempo, a adoção de medidas de controle de caixa e a elaboração de diagramas que revelam os fluxos de entrada e de saída de recursos financeiros na companhia. Há valores que, embora não estejam totalmente disponíveis em caixa – que é o caso do próprio dinheiro vivo, existente nos cofres da empresa ou depositados em contas correntes ou contas de rápida movimentação, em bancos e outras instituições financeiras –, são também passíveis de afetar a liquidez da empresa, como é o caso do que é mantido em estoques e em contas a receber, em função de créditos concedidos ou prazos oferecidos para pagamentos pelos clientes. 12 O outro lado da moeda é também importante, como aquilo que recebemos de adiantamento dos nossos fornecedores e valores que já tenham sido comprometidos para pagamento de salários e recolhimento de tributos às entidades governamentais que, entre outros, fazem parte do passivo (dívidas e obrigações) de curto e médio prazos. A análise dos valores classificados como circulantes propicia um melhor conhecimento das condições de liquidez de uma empresa. A liquidez é tão importante quanto a rentabilidade. Evidentemente, há instituições que demandam maior ou menor liquidez, dadas as suas características operacionais. Sem dúvida, uma empresa que atua mais no curto prazo, no geral, tem mais necessidades de caixa (e liquidez) para cumprir com suas obrigações e saldar suas dívidas. E é claro que uma empresa precisa ser rentável, ainda que, em determinados momentos, mais difíceis, inclusivegerados por fatores externos a ela, possa não apresentar uma performance mais condizente com o que se planeja. No entanto, na maioria das vezes, é necessário que os seus resultados (das suas operações) remunerem, como veremos, os capitais que utilizou, seja de seus donos, sócios, acionistas ou mesmo de terceiros. Depois, iremos analisar os diferentes tipos de custo e as possibilidades de alavancagem dos resultados positivos (lucros) ou negativos (prejuízos) da empresa, tanto operacionais quanto financeiros, relacionando as margens de contribuição de produtos com os resultados obtidos no período. Nesse momento, trataremos das diferentes possibilidades de alavancagem dos lucros (operacional, financeiro e combinado/total), partindo da margem de contribuição obtida com as vendas líquidas (receitas menos despesas) dos produtos e considerando a existência de custos fixos e de despesas com juros das operações de empréstimo e financiamento para a obtenção de capitais de terceiros junto a bancos e demais agentes dos mercados financeiros. Traremos ao nosso estudo os métodos e as técnicas de análises financeiras, considerando o estudo das oportunidades de investimento e financiamento de recursos para a empresa. Nossa preocupação é com os métodos quantitativos de avaliação dos investimentos, como payback, TIR e VPL. Custos e estruturas de capitais (ou seja, do mix entre a aplicação do capital próprio e de terceiros) serão também um assunto a ser tratado. Afinal, quais capitais devem suportar as operações e os investimentos feitos pela empresa? Os que são aportados pelos sócios ou acionistas ou aqueles que são obtidos junto ao mercado, como em transações com bancos e instituições financeiras? Explicitaremos os variados tipos de custos e riscos, comparando-os com as possibilidades de retorno (remuneração) do capital empregado (próprio e de terceiros). Chegaremos ao custo médio de capital da empresa, que é a base para a avaliação dos fluxos trazidos por investimentos. Veremos a visão da gestão financeira fundamentada em criação de valor, com ênfase na adoção do indicador EVA – método que vem se tornando mais frequente e que mede o lucro econômico esperado em um novo negócio ou propicia a comparação de empresas ou negócios para possíveis investimentos. 13 Apresentaremos, ainda que de forma sintética, as instituições e os produtos e serviços oferecidos pelos sistemas e mercados financeiros, cujo conhecimento é fundamental tanto para o administrador financeiro quanto para o empreendedor, empenhados em iniciar, com sucesso, as operações de sua empresa. A corporação precisa conhecê-los, por ser uma importante fonte de captação de recursos financeiros de terceiros, mas também próprios, como veremos mais detalhadamente. Encerraremos este livro-texto tratando de outros aspectos que complementam os estudos financeiros e que levam em consideração outros objetivos da empresa. Tais assuntos têm recebido cada vez mais destaque das corporações e da sociedade em geral, agrupados sob os conceitos de governança corporativa: responsabilidade social, sustentabilidade, proteção do meio ambiente e outros. Temos a certeza de que você terá em mãos um texto que lhe permitirá compreender de forma mais completa o extenso mundo financeiro e suas influências para as empresas. Indicaremos algumas leituras ao longo deste livro-texto, que irão proporcionar muitos convites ao incremento dessa pesquisa. É importante considerar a enorme interação desta disciplina com outras, como economia, ciências contábeis e administração geral. Como mencionado na apresentação, para o empreendedor e para o investidor (que oferece os capitais/recursos financeiros), é questão de sobrevivência obter desenvoltura para o tratamento das questões financeiras. Muitas novas organizações, apesar de contarem com excelentes produtos e serem inovadoras, atendendo a novas necessidades dos usuários, acabam falhando, correndo o risco de encerrar suas atividades em função de seus inadequados controles e processos internos, notadamente os de cunho financeiro. Para o empreendedor, é necessário apresentar e defender o seu projeto, demonstrando aos potenciais investidores a oportunidade de participar ou mesmo auxiliar no financiamento de seus recursos para o desenvolvimento do seu negócio. Como indica o Sebrae: O capital empreendedor, também conhecido como capital ou investimento de risco, é uma das formas de captar recursos para realizar os planos e projetos de longo prazo do seu negócio. Nessa forma de financiamento, um investidor – chamado de investidor de risco – aporta recursos no negócio em troca de participação societária, geralmente minoritária, de uma empresa de capital fechado. Esse aporte pode ocorrer em diversos momentos de um projeto. De negócios que estão começando até os mais maduros, que já possuem uma grande operação, mas precisam de recursos para continuar crescendo. Investidores de risco podem entrar em diversas etapas de desenvolvimento de um negócio. Para cada estágio, existe um tipo de investidor com critérios de seleção e objetivos específicos (SEBRAE, [s.d.]a). 14 A participação do investidor num novo empreendimento está diretamente relacionada às oportunidades por este oferecidas, que ele tenderá a comparar com outras alternativas de remuneração ou retorno, econômico e financeiro, e, claro, ao atendimento de outros objetivos quanto à sustentabilidade de seu aporte de capital. Vamos, então, iniciar nossa caminhada no fascinante mundo das finanças! 15 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Unidade I 1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ANÁLISE CONTÁBIL E FINANCEIRA Iniciamos nosso livro-texto apresentando as definições e os principais conceitos relacionados com a análise financeira de empresas. Apesar de sua referência fundamental ser a empresa, tais conceitos são perfeitamente aplicáveis a organizações em geral, inclusive as de fins não lucrativos e independentemente de vínculo com o setor privado ou público, sejam estes da administração direta ou indireta. No texto, porém, como padronização, todas as entidades serão denominadas empresas. Observação É comum a comparação entre a atuação das empresas e dos demais agentes vinculados ao lado privado e ao público da economia. Diz-se, então, que na administração privada tudo pode ser feito, desde que não seja contrário à legislação em vigor. Na pública, contudo, somente é permitido realizar o que é previsto na legislação. Neste tópico, abordaremos aspectos fundamentais relacionados a: • Informações disponíveis sobre a empresa. • Uso de dados e valores contidos em relatórios e demonstrativos contábeis. • Entendimento da mudança do valor do dinheiro no tempo. As empresas e os mercados, de forma geral, têm cada vez mais atuado sob a égide dos processos de globalização, que tem afetado de forma muito significativa o porte e as características do sistema financeiro nacional. Nas décadas de 1960 a 1980 (mais precisamente, 1964 a 1985), quando vigorava o regime militar no Brasil, foram promulgadas leis fundamentais para a constituição das instituições e a operação dos mercados financeiros, com destaque para: • Lei n. 4.595 do Sistema Financeiro Nacional, de 31 de dezembro de 1964. 16 Unidade I • Lei n. 4.728 do Mercado de Capitais, de 14 de julho de 1965. • Lei n. 6.404 das Sociedades Anônimas (SA), de 15 dezembro de 1976. As crises que continuam a afetar empresas e mercados têm trazido, também, uma preocupação com a chamada accountability. Apesar de não haver uma tradução final para o termo accountability, é possível entendê-lo como um indivíduo ou organização que presta contas de suas atividades, aceita suas responsabilidades e disponibiliza as informações de forma transparente. Veremos sobre esse conceito e sua relação direta com as preocupações com governança corporativa mais adiante. Compreender e participar dessas mudanças é crucial para a nossa própria participação na economia e nasociedade e, obviamente, para o nosso sucesso profissional e pessoal. Ademais, há um certo consenso de que a pujança da economia de um país guarda relação direta com o seu sistema financeiro, o que importa a todos, notadamente às empresas e aos empreendedores. 1.1 Abrangência da análise financeira De forma global, o estudo de finanças em empresas abrange tópicos como: • Análise de investimentos: como são escolhidos os instrumentos para o financiamento das carteiras de investimentos e de projetos das organizações. • Finanças empresariais: análise e decisões relacionadas com o status e as perspectivas financeiras de uma empresa. • Mercados financeiros e de capitais: estudo sobre as instituições e os tipos de operações e de títulos neles transacionados. Descreve Ribeiro (2016, p. 7): Podemos dizer que o termo Finanças está relacionado ao processo, às instituições, aos mercados e aos instrumentos envolvidos na transferência de dinheiro entre pessoas, empresas ou órgãos governamentais. O termo Finanças pode ser definido como a “arte/ciência de administrar o dinheiro” [...] [surgida no início do século passado, como disciplina autônoma, a administração financeira evolui] no final da década de 1950, [iniciando-se] um movimento em direção à análise teórica, com enfoque nas decisões administrativas em relação à escolha de ativos e passivos, para a maximização do valor da empresa [...]. A partir do século XXI, com os avanços no campo da tecnologia da informação e comunicação, a maneira como são tomadas as decisões financeiras passa por um processo de revolução contínuo. E, com o advento da Internet, as empresas passam a estar conectadas umas com as outras, a seus clientes e fornecedores em uma rede mundial. 17 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS As empresas, particularmente, têm nessa administração uma de suas tarefas mais naturais. Nelas, emergem a figura do hoje denominado CFO (chief financial officer), que responde pelo controle e pela gestão dos recursos financeiros da empresa, tido como executivo essencial para o desenvolvimento estratégico empresarial e sua competitividade. A gestão financeira de uma empresa e, naturalmente, o foco de atuação dos profissionais que com ela trabalham são generalizados pelos elementos a seguir (RIBEIRO, 2016): • Obtenção dos recursos nas condições mais favoráveis possíveis. • Alocação eficiente desses recursos na empresa. As empresas devem, primordialmente, ser vistas analisando-se sua dimensão estratégica, tanto em suas operações internas quanto nos relacionamentos externos, cobrindo as necessidades de seus diversos stakeholders. Assaf Neto (2012b, p. 2) define stakeholder como: [...] todo indivíduo (ou grupo de pessoas) que pode influenciar os objetivos de uma empresa, e, também, ser influenciado por suas decisões. Exemplo de stakeholders: acionistas (controladores e minoritários), empregados, fornecedores, clientes, consumidores. Os acionistas ou proprietários de uma empresa são os que suprem primariamente os recursos para a realização de suas atividades, tendo como objetivo principal obter retorno financeiro compatível com o risco que assumem. É importante que a empresa gere riqueza para os seus acionistas e proprietários, que sejam competitivos com os outros retornos que o investidor possa obter nos mercados. A análise financeira é um excelente instrumento para avaliar a situação e as perspectivas dos resultados da empresa, visando reduzir a incerteza de quem dela participa, direta ou indiretamente. As empresas estão inseridas de forma global e crescente no universo em constante mutação, e um dos motivos é a expansão das tecnologias da informação e comunicação (TICs). Participando intensamente de um universo globalizado e apoiado nas TICs, a administração das finanças ocupa, cada vez mais, uma posição proeminente entre as tarefas de condução da empresa. Conhecida também pela sigla TI, a tecnologia da informação pode ser entendida como: [...] uma área que utiliza a computação como um meio para produzir, transmitir, armazenar e usar informações. Como a tecnologia da informação pode abranger e ser usada em vários contextos, a sua definição pode ser bastante complexa e ampla. A tecnologia 18 Unidade I é usada para fazer o tratamento da informação, auxiliando o utilizador a alcançar um determinado objetivo. As TIs têm evoluído muito com o rápido desenvolvimento da tecnologia, e com este desenvolvimento surgem cada vez mais soluções disponibilizadas pela informática. A tendência é que a tecnologia da informação seja cada vez mais importante na nossa sociedade, onde a informatização de vários conteúdos se transformou em uma norma. A Tecnologia da Informação pode ser dividida de acordo com as seguintes áreas: • Hardware e seus componentes; • Software e seus meios; • Sistemas de telecomunicações; • Gestão de informações e de dados. (SIGNIFICADO..., [s.d.]a) É preciso que cuidemos da nossa realidade e das expectativas de ganhos (ou de perdas) que possam ocorrer com nosso patrimônio, seja da empresa, seja dos setores públicos, seja de cada um de nós como pessoas físicas. Como mencionamos, finanças é um assunto tão importante que, na atualidade, comenta-se muito sobre a intenção de orientar os alunos, desde o próprio ensino inicial, a conhecerem o que é o dinheiro e sua influência na sociedade. Você certamente já deve ter percebido que, entre as decisões financeiras fundamentais, podem ser enquadradas: • Determinação dos investimentos a serem realizados em diferentes tipos de ativos, analisando os seus retornos, custos e a perspectiva de rentabilidade do negócio. • Oportunidades nas escolhas de fontes de captação de recursos financeiros, seja com seus próprios acionistas, sócios, proprietários ou junto a terceiros. • Elaboração do planejamento e orçamento financeiro em consonância com o planejamento estratégico, procurando identificar as necessidades de expansão dos negócios. • Controle do desempenho da empresa, confrontando-o com o que foi planejado. • Retenção ou repartição dos resultados favoráveis, ocorridos na empresa em determinado ano ou ciclo de atividades, com base na definição de uma política de distribuição de dividendos, sempre visando à obtenção de resultados favoráveis nos períodos de operação da empresa. 19 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS • Análise das oportunidades de M&A (mergers and acquisitions), ou seja, fusões e aquisições de empresas, e de trabalhos consorciados ou conduzidos em parcerias com outras organizações. Como vimos, sob a ótica do empreendedor, é cada vez mais importante conhecer e poder analisar o capital necessário à abertura do negócio e as expectativas de crescimento da empresa. Enfim, num mundo globalizado e com alto nível de financeirização, essas exigências tornam-se cada vez mais presentes. Veremos, posteriormente, as opções de financiamento dos investimentos, como: • Venda de participações societárias. • Utilização dos próprios lucros gerados no ciclo de atividades econômicas e financeiras. • Constituição de dívidas pela obtenção de capitais com terceiros (bancos, mercados de crédito e de capitais etc.). Para entendermos como obter as estimativas dos valores a serem retornados pelos investimentos concretizados na empresa, serão também abordados os métodos de análise específicos (VPL, TIR etc.). 1.2 Informações sobre a empresa Atualmente, em qualquer que seja a situação, precisamos conhecer ou criar as informações para melhor análise dos fatos e conceitos. Qualquer empresa, para o início e a manutenção de suas atividades, utiliza os chamados fatores ou recursos de produção. Os fatores de produção são, genericamente, entendidos como: • Trabalho: mão de obra de seus funcionários e prestadores de serviços. • Recursos naturais: uso do solo, rios, instalações etc. • Capital: máquinas e equipamentos (capital físico) ou, ainda, recursos financeiros (capitalfinanceiro) e intelectuais. • Capacidade empresarial: ordenação e orientação dos demais recursos produtivos. • Tecnologia: mais recentemente, tem sido destacada como outro fator de produção, aquele que tende a melhorar a produtividade dos demais. Os agentes econômicos organizam-se de forma diversa, notadamente quando constituem uma empresa. Assim, uma sociedade empresária é aquela que visa à obtenção de lucro em suas atividades econômicas para a produção ou a circulação de bens ou serviços. São vários os tipos de organização da sociedade, estruturada como societária, distinguindo-se, fundamentalmente, por: 20 Unidade I • Sociedade limitada: o capital é dividido em cotas, e a responsabilidade dos sócios no empreendimento é limitada ao montante investido pelos sócios ou acionistas. • Sociedade anônima: o capital social é dividido em ações que podem ou não ser transacionadas livremente (nos mercados de balcão ou nas bolsas de valores). Os acionistas respondem apenas ao preço das ações subscritas ou adquiridas. Aponta Carmona (2009, p. 17): Há duas espécies de sociedades anônimas: a companhia aberta ou capital aberto, que capta recursos junto ao público e é fiscalizada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), e a companhia fechada, que obtém seus recursos dos próprios acionistas. Saiba mais Para obter informações mais detalhadas sobre a organização, atuação e responsabilidades das entidades componentes, além dos produtos e serviços dos mercados financeiros e de capitais, leia: ABREU, E.; SILVA, L. Sistema financeiro nacional. São Paulo: Forense, 2017. Existem outros tipos mais simples de organização societária, como é o caso das empresas ou microempresas individuais (com apenas um proprietário), de pequeno porte. Entre as funções e os produtos desenvolvidos pela empresa, mediante a utilização de fatores de produção visando à obtenção dos bens e serviços, é necessário atentar-se para: • A atuação e conduta dos proprietários, administradores e principais concorrentes. • O mercado em que atua o público consumidor de seus produtos e serviços. • Os órgãos e as entidades reguladoras. • O status em tecnologia da informação ou específico das atividades da empresa. • Os planos de investimentos e de financiamentos dos respectivos recursos financeiros. • O status e a evolução do grau de endividamento. • A capacidade instalada para fazer frente às necessidades de produção da empresa. 21 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Em síntese, admite-se que o objetivo principal da empresa é a maximização da receita e, mais do que isso, do lucro que deve proporcionar aos proprietários, acionistas, sócios etc. Apesar de seu objetivo básico ser o lucro, há vários outros importantes perseguidos pela empresa, como: • Comprometimento no atendimento às necessidades dos seus clientes e demais stakeholders. • Busca de contínuo aperfeiçoamento tecnológico. • Convivência e competitividade, tendo em vista a pressão exercida pelos concorrentes, em termos, por exemplo, de preço e qualidade dos produtos e serviços. • Atendimento aos aspectos de interesses da sociedade com a qual convive. No âmbito do empreendedorismo, as informações (previsões, por exemplo) devem procurar mostrar as vantagens e os benefícios, mas, obviamente, também os riscos de investir na empresa ou mesmo financiar as suas atividades. Menciona Assaf Neto (2012b, p. 14): [O comportamento da Economia é parte de um ambiente no qual a empresa está inserida e as decisões financeiras devem atentar para]; a) Risco econômico (operacional): inerente à própria atividade da empresa e as características do mercado em que opera. Esse risco independe da forma como a empresa é financiada, restringindo-se, exclusivamente, às decisões de investimento. Alguns exemplos: sazonalidade de mercado e comportamento cíclico, tecnologia, concorrência, estrutura de custos, qualidade dos produtos, variações nas taxas de juros etc.; b) Risco financeiro: reflete o risco associado às operações de financiamento, isto é a capacidade da empresa em liquidar seus compromissos financeiros assumidos. Empresas com reduzido nível de endividamento apresentam baixo nível de risco financeiro; altos níveis de endividamento, por outro lado, ao mesmo tempo em que podem promover maior capacidade de alavancar os resultados, denotam maior risco financeiro. Os estudos, portanto, devem considerar aspectos fortemente inter-relacionados com a economia, administração e análise financeira. Você pode estar se perguntando como podemos conhecer e analisar uma empresa, inclusive compará-la com outras que atuem no mesmo ou em diferentes segmentos do mercado. 22 Unidade I Para a análise de qualquer empresa, utilizam-se as informações contábeis, mas também outras de cunho operacional e gerencial, para avaliar a situação e as perspectivas de atuação futura. Por isso, a empresa se preocupa cada vez mais com a constituição de um sistema de informações que possa, por exemplo, monitorar e, com isso, garantir o seu desempenho e dos seus administradores e integrantes, de forma a subsidiar o processo decisório. Sim, a contabilidade oferece um extenso leque de informações de uma empresa ou organização. Porém, ela não é suficiente. Para a análise de qualquer empresa, utilizam-se, também, as informações trazidas pelo conhecimento e pelos resultados de seus processos operacionais e gerenciais. As informações precisam ser conhecidas, classificadas e analisadas corretamente, permitindo uma adequada avaliação da situação e das perspectivas de atuação e de atingimento dos objetivos e das metas planejadas. O diagrama a seguir apresenta, de forma simplificada, a estrutura de um sistema de informações para a empresa. Contábeis ImprensaNão contábeis Interna Externa Outras fontes Compreendem Informações De origem Compreendem Figura 1 – Estrutura do sistema de informações da empresa De forma global, as informações podem ser separadas em internas e externas. São internas as informações extraídas a partir dos registros e demonstrativos contábeis; expressas, portanto, em valores monetários. No conjunto das informações externas, existem aquelas que são divulgadas por jornais, revistas, televisão e internet, e as que podem ser obtidas em visitas e contatos com os stakeholders da própria empresa. 23 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Argumenta Silva (2012, p. 23): Por mais completo que possa ser o sistema de informações, sempre haverá [aquelas] que influenciam as decisões e que podem não constar de registro formal. Por outro lado, em muitas organizações ainda existem líderes que não transmitem a seus funcionários informações importantes para a realização de suas atividades. 1.3 Demonstrativos e relatórios contábeis Definido o tipo de estruturação societária, o montante do capital a ser investido e os demais objetivos sociais, cabe à empresa desenvolver as suas atividades operacionais. Comenta Carmona (2009, p. 23): A análise contábil das empresas é responsável pela geração e interpretação de informações relevantes sobre seu patrimônio para dar suporte ao processo de tomada de decisão no que se refere ao planejamento e controle, considerando sua estrutura, suas variações e sua evolução em função do desenvolvimento das operações específicas de seu ramo de atividade. Evidentemente, as atividades por ela executadas dependerão de seu tipo básico e ramo de atuação, como: • Transformação de insumos e matérias-primas em produtos, quando não se tratar de empresa comercial (voltada à compra e venda de mercadorias) ou de prestação de serviços (de consultoria, técnicos etc.). • Métodos de estocagem de insumos e produtos ou semielaborados. • Pagamentos e recebimentos junto a fornecedores e clientes, respectivamente. • Aplicações e empréstimos junto ao mercado financeiro. As diversas contas que compõem o patrimônio da empresa podem ser inter-relacionadas, visando aoprovimento de informações relevantes sobre seu comportamento, tanto para os usuários internos quanto externos. De acordo com Fipecafi (2007) apud Carmona (2009, p. 25), “a estrutura de dados que a contabilidade possui é fundamental para que ela atinja seu valor informativo para os diversos usuários”. Várias demonstrações financeiras podem ser elaboradas a partir das informações contábeis. Figuram entre os usuários das informações contábeis: 24 Unidade I • Acionistas e proprietários da empresa. • Acionistas potenciais. • Fornecedores de bens e/ou insumos. • Clientes. • Instituições financeiras. • Entidades de governo. • Concorrentes. • Administradores da empresa. A figura a seguir mostra o diagrama de um sistema de informações contábeis a partir dos eventos ocorridos na empresa. Atividades e operações da empresa Sistema de informações contábeis Relatórios e informações gerenciais Integralização de capital Compra de matéria-prima Produção de bens Pagamentos a fornecedores, empregados e governos Vendas dos produtos Recebimento das vendas Compra de equipamentos Financiamentos de ativos permanentes Diversas outras operações Interpreta Calcula Classifica Registra Processa Demonstrações financeiras Dados para imposto de renda e outras informações fiscais Relatórios de custos de produção Dados para orçamento de receitas, despesas, custos e empréstimos Acompanhamento de planos e investimentos e financiamentos Diversos outros relatórios gerenciais Figura 2 – Sistema de informações contábeis a partir dos eventos ocorridos na empresa 25 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Já comentamos que, entre os diversos demonstrativos e relatórios contábeis, destacam-se, para efeito de análise financeira da empresa: • Balanço patrimonial (BP). • Demonstrativo dos resultados do exercício (DRE). • Demonstrativo de fluxo de caixa (DFC). Saiba mais Para entender sobre a teoria que suporta, de forma geral, a contabilidade de indivíduos, empresas, governo etc. , consulte: IUDÍCIBUS, S. Análise de balanços. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2009. Os demonstrativos contábeis permitem identificar a composição do capital empregado na empresa (próprio e de terceiros), como veremos posteriormente neste livro-texto. 1.3.1 Balanço patrimonial (BP) A tabela a seguir apresenta um exemplo, em reais, do BP de uma empresa hipotética. Tabela 1 – Subgrupos do BP de uma empresa hipotética Ativo R$ Passivo R$ Circulante 30.000,00 Circulante 15.000,00 Realizável a longo prazo 1.000,00 Exigível a longo prazo 0,00 Permanente 20.000,00 Patrimônio líquido: 36.000,00 – Capital 32.000,00 – Lucros acumulados 4.000,00 Total 51.000,00 Total 51.000,00 O BP revela a posição (uma espécie de fotografia) do patrimônio da empresa em determinado momento – usualmente, no último dia do respectivo ano ou do ciclo das atividades. O patrimônio é mensurado pela diminuição, em relação aos seus bens e direitos (ativos), dos compromissos e das obrigações (passivo com terceiros), expressos monetariamente. Ross, Westerfield e Jordan (2010) apud Carmona (2009, p. 27) destacam que “a estrutura das informações contábeis é uma maneira conveniente de organizar e resumir o que a empresa possui (seus ativos), o que ela deve (seus passivos) e a diferença entre os dois (patrimônio líquido)”. 26 Unidade I O BP possui dois lados: no lado esquerdo, de quem o enxerga frontalmente, estão os ativos; no lado direito, os passivos e o capital dos acionistas. Assim, o BP declara o que a empresa possui e como ela é financiada. Como indicado em Ross et al. (2013, p. 22): A composição dos ativos depende da natureza dos negócios e de como a administração escolheu conduzi-los. A administração deve fazer escolhas como: caixa ou títulos negociáveis, venda à vista ou venda a crédito, comprar ou produzir commodities, alugar ou comprar itens, em quais negócios se concentrar etc. No lado dos passivos e do patrimônio líquido, eles são listados na ordem típica em que seriam pagos ao longo do tempo. Observação A empresa é neutra em termos de seu patrimônio, dado que tudo o que possui, como bens e direitos, é igual ao que deve (passivo com terceiros e patrimônio líquido, com sócios e acionistas). A própria estrutura do BP mostra essa situação à medida que o total dos valores inscritos no ativo coincide com os do passivo. O quadro a seguir mostra a estrutura conceitual/geral de um BP. Quadro 1 – Estrutura conceitual/geral de um BP Balanço patrimonial Ativo circulante Passivo circulante Ativo não circulante Passivo não circulante Patrimônio líquido Os ativos são formados pelos bens e direitos da empresa. No passivo, estão registrados os relacionados com as diversas fontes de recursos obtidos pela empresa, contraindo dívidas com terceiros ou com os próprios sócios. O patrimônio líquido (PL) – isto é, a dívida que a empresa mantém com os próprios sócios, proprietários e acionistas – é, então, descrito algebricamente como: PL = A – P PL: Patrimônio – Líquido 27 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS A: Ativo P: Passivo – com – terceiros Tanto o ativo quanto o passivo segregam os valores de curto prazo (ou seja, realizáveis ou vencíveis até um ano, após a data do BP, denominados circulantes) e os de longo prazo, ou, ainda, de prazo indefinido. O que, então, pertence aos sócios e proprietários da empresa? O PL representa, no BP, o que pertence aos sócios, proprietários, acionistas. É o que resta aos acionistas após a empresa ter quitado as suas obrigações. Resumindo, o ativo mostra onde e como a empresa aplicou os recursos financeiros; e o passivo, de onde estes vieram (quais foram suas fontes de captação). Um exemplo simples, como o revelado na tabela anterior, já permite que se consiga um número significativo de informações da empresa que se pretende analisar. Vê-se, por exemplo, que o financiamento dos ativos (isto é, dos investimentos, que totalizam 51 mil reais) é feito exclusivamente com capital próprio (36 mil reais), não havendo financiamentos de longo prazo. Mas observe que a empresa se vale de 15 mil reais (isso é, de capital de terceiros), que é um valor de curto prazo, necessário à cobertura de seus compromissos com fornecedores, empregados, governo etc. 1.3.2 Demonstrativo dos resultados do exercício (DRE) O DRE, outro importante relatório contábil, apresenta como a empresa alcançou o resultado em cada ciclo (normalmente, ano) de atividades, finalizando-o com lucro ou prejuízo. É fácil concordar que o DRE é essencial para a compreensão do desempenho financeiro de uma empresa. A tabela a seguir mostra um exemplo de DRE, em reais (R$), em um determinado ano, para uma empresa hipotética. Tabela 2 – DRE de uma empresa hipotética Receita operacional 70.000,00 (-) Custo dos produtos vendidos 30.000,00 = Lucro bruto 40.000,00 (-) Despesas administrativas 10.000,00 (-) Despesas de vendas 5.000,00 (-) Despesas financeiras 0,00 = LAIR (lucro antes do imposto de renda) 25.000,00 (-) Provisão para o imposto de renda 10.000,00 = Lucro líquido 15.000,00 28 Unidade I Esse demonstrativo nos permite de pronto concluir, além do resultado positivo da empresa (lucro) no período, que ela foi financiada por recursos próprios. Veja que não houve a incidência de despesas financeiras, que denunciam financiamentos junto a terceiros. 1.3.3 Demonstrativo de fluxo de caixa (DFC) Outro relatório contábil de grande importância para a verificação e a análise da empresa é o DFC, que permite o acompanhamento do caixa (liquidez) da empresa, registrando: • Eventos operacionais. • Operações de investimento. • Operações de financiamento de recursos. O exemplo a seguir apresenta um DFC com as divisões anteriores indicadas. Tabela 3 – DFC de uma empresa hipotética Demonstrativo do fluxo de caixa 20x2 (R$ mil) Lucro líquido/prejuízo 25.350,00 (+) Depreciação do imobilizado 10.500,00(+) Amortização do diferido 650 (+/-) Variação dos ativos e passivos circulantes operacionais (+/-) Variação das duplicatas a receber (-5.000,00) (+/-) Variação dos estoques -28.500,00 (+/-) Variação das duplicatas a pagar 3.800,00 (+/-) Variação de outros passivos circulantes operacionais 8.200,00 Fluxo de caixa das operações (1) 15.000,00 (-) Investimento em ativo imobilizado 28.850,00 Fluxo de caixa dos investimentos (2) 28.850,00 (+/-) Variação do passivo circulante financeiro 5.000,00 (+/-) Variação do exigível a longo prazo 9.300,00 (+) Captação de recursos próprios 350 Fluxo de caixa dos financiamentos (3) 14.650,00 Caixa gerado no período 4 (1 - 2 + 3) 800,00 (+) Caixa inicial (5) 14.800,00 Caixa final 6 (4 + 5) 15.600,00 Adaptado de: Megliorini e Vallim (2009). 29 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS 1.3.4 Relevância dos demonstrativos contábeis É importante ressaltar que os demonstrativos financeiros dificilmente refletem uma posição atual, mas de períodos passados da empresa. Também deve ser observado que eles não apresentam valores não monetários (não quantificáveis), como: • Motivação, experiência e conduta, pessoal e profissional, de quem atua na empresa, como é o caso dos administradores e funcionários. • Potencial decorrente de investimentos pontuais ou continuados no que tange à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos e outros. • Grau de satisfação de seus clientes e demais stakeholders. • Nível tecnológico da empresa em relação ao seu mercado de atuação. • Disponibilidade de patentes e direitos especiais sobre marcas e produtos. • Ameaças oferecidas pelas atuações de seus concorrentes. • Políticas e práticas de sustentabilidade e de proteção ao meio ambiente. Lembrete Os três relatórios mais importantes para coletar informações sobre a empresa são: o balanço patrimonial (BP), o demonstrativo dos resultados do exercício (DRE) e o demonstrativo de fluxo de caixa (DFC). Deve-se, pois, procurar conhecer o máximo possível os aspectos relacionados com as informações que auxiliam a compreender a empresa. 2 ÍNDICES CONTÁBEIS E FINANCEIROS Com o intuito de conhecer melhor e, assim, tirar conclusões mais precisas quanto a determinada empresa, são comumente utilizados, e de forma intensa, os dados disponíveis nos principais relatórios contábeis, antes mencionados, e, também, outras informações para estabelecer índices e poder, por exemplo, efetuar as oriundas de outras fontes. O que se pretende é apurar: • Condições de liquidez. • Nível de atividade e de endividamento. 30 Unidade I • Rentabilidade. • Valor de mercado. Como podemos perceber, tais índices cobrem muitas informações sobre a empresa e classificam-se entre as medidas mais tradicionais de avaliação da empresa, que são: • Estabelecimento de índices econômico-financeiros. • Análises vertical e horizontal. De pronto, é possível destacar o fato de os resultados apresentados por esses índices representarem dados extraídos do passado, isto é, do momento que os demonstrativos contábeis foram emitidos. Por isso, muitas informações podem perder atualidade quando chegam às mãos dos analistas, encarregados do estudo da empresa. Ademais, aponta Carmona (2009, p. 29): “Empresas que exploram atividades econômicas vinculadas ao setor industrial podem possuir padrões patrimoniais diferentes de entidades de atividade econômica vinculada ao setor comercial ou ao setor de serviços”. Portanto, pode ser enfatizado o uso de diferentes tipos de indicadores, consoante o tipo, as características de atuação e até o porte da empresa em análise. Há situações em que os administradores e os analistas definem índices próprios para o acompanhamento e o controle da empresa, quando esta desempenha funções muito específicas no mercado. A escolha dos índices mais adequados para a medição da empresa vincula-se a um conjunto de questões que devem ser observadas, a priori: • Como o índice é calculado? • Quais são os objetivos dessa medição? • Qual foi a unidade de medida utilizada? • O que pode ser considerado um valor alto ou baixo – bom ou ruim – para determinado índice? • Como a medida pode ser melhorada? É, ainda, Carmona (2009, p. 29) que acrescenta: A definição, o cálculo e a utilização de índices financeiros como mecanismo sistemático para avaliação financeira da situação patrimonial de uma entidade não são tarefas simples e requerem conhecimento aprofundado sobre o setor de atividade econômica no qual ela esteja atuando. 31 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Para o estudo dos indicadores, utilizaremos as informações que lhes servem de fonte, disponíveis no BP da empresa Sensação, com os valores verificados nos anos de 2017 e 2018, a partir da adaptação dos modelos apresentados em Silva (2012). De forma a melhorar a legibilidade dos dados, os valores são expressos em milhares (R$). Tabela 4 – BP da empresa Sensação em 2017 e 2018 Ativo 2017 2018 Passivo 2017 2018 Ativo circulante R$ (mil) R$ (mil) Passivo circulante R$ (mil) R$ (mil) Disponibilidades Instituições financeiras 52,80 55,00 Caixa e bancos 5,50 5,40 Fornecedores 53,20 44,30 Aplicações financeiras 14,20 48,40 Tributos a pagar 33,10 26,00 Total de disponibilidades 19,70 53,80 Provisões para pessoal e outros 31,80 35,20 Clientes (líquido de provisão) 93,00 104,20 Dividendos e juros sobre capital próprio 25,80 19,90 Saques descontados -14,20 -30,00 Estoques 73,70 67,10 Impostos a recuperar 30,10 19,30 Despesas antecipadas 3,90 1,90 Total do ativo circulante 206,20 216,30 Total do passivo circulante 196,70 180,40 Ativo não circulante Passivo não circulante Realizável a longo prazo Exigível a longo prazo Empresas relacionadas 1,13 7,00 Débitos com empresas relacionadas 41,10 25,80 Depósitos judiciais e outros 118,00 97,50 Provisões para eventuais 84,90 85,40 Total do realizável a longo prazo 119,13 104,50 Investimentos Empresas controladas 165,20 137,70 Outros investimentos 1,10 1,60 Total de investimentos 166,30 139,30 Imobilizado líquido 171,10 154,10 Depreciação acumulada 10,00 20,00 Intangível 1,30 10,00 Total do ativo não circulante 457,83 407,90 Total do passivo não circulante 126,00 111,20 Patrimônio líquido Capital social 304,70 304,70 Reserva de capital 3,40 0,00 Reserva de lucros 33,23 27,90 Total do patrimônio líquido 341,33 332,60 Total do ativo 664,03 624,20 Total do passivo 664,03 624,20 Adaptada de: Silva (2012, p. 72). 32 Unidade I Para este estudo, utilizaremos, também, as informações disponíveis no DRE da empresa Sensação nos anos de 2017 e 2018, com a adaptação dos modelos apresentados em Silva (2012). Os valores são expressos em milhares (R$). Também é expressa em milhares de unidades a quantidade de ações negociadas pela empresa. Tabela 5 – DRE da empresa Sensação em 2017 e 2018 2017 2018 R$ (mil) R$ (mil) Receita operacional bruta 974,60 967,80 Impostos incidentes sobre vendas -231,00 -232,00 Renda operacional líquida 743,60 735,80 Custo dos produtos vendidos -521,00 -542,00 Lucro bruto 222,60 193,80 Despesas operacionais Vendas -85,40 -76,50 Gerais e administrativas -42,90 -46,00 Honorários da administração -1,00 -1,00 Despesas de depreciação -10,00 -10,00 Outras receitas e despesas -1,00 -1,00 Resultado antes das receitas e despesas financeiras 82,30 59,30 Receitas (despesas) financeiras líquidas -3,60 -7,80 Resultado antes dos tributos sobre o lucro 78,70 51,50 Imposto de Renda e Contribuição Social -31,48 -20,60 Lucro líquido do exercício 47,22 30,90 Quantidade de ações emitidas pela empresa 100,00 100,00 Lucro líquido por ação 0,472 0,309 Adaptada de: Silva (2012, p. 77). 2.1 Índices de liquidez O índice de liquidez é um dos aspectos mais significativos quando se procura estudar determinada empresa. O que se diz é que não basta a empresa ser rentável, mas deve dispor,também, de caixa adequado para suprir seus compromissos com relação à manutenção de valores de curto prazo. Isso é ainda mais importante na análise de bancos e instituições financeiras, cuja operação depende de suas condições de liquidez, que podem “pôr por terra” os bons e até excelentes resultados, em termos de rentabilidade nos respectivos períodos de atuação. A análise das condições de liquidez é obtida a partir dos valores inscritos em seu BP nos grupos de circulante, tanto no ativo quanto no passivo. Nos grupos do circulante, classificados no ativo, e, de outro lado, no passivo, são englobados os valores de direitos e obrigações vencíveis em curto prazo 33 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS (até o final do exercício subsequente). Quanto maior for o valor, melhor será a condição retratada pelo respectivo índice. São variados os índices de liquidez, mas comumente empregados nas análises de empresas à medida que determinados são ou não considerados para a sua formação. Apresentamos, neste tópico, os mais adotados por quem deseja conhecer e analisar a liquidez de uma empresa. 2.1.1 Índice de liquidez geral Compara os grupos circulante e realizável a longo prazo do ativo com os grupos circulante e exigível a longo prazo do BP: AC RLP ILG PC ELP += + onde: ILG: índice de liquidez geral; AC: total do ativo circulante; RLP: total do ativo realizável a longo prazo; PC: passivo circulante; ELP: passivo exigível a longo prazo. Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, com base em seus demonstrativos contábeis mostrados anteriormente e considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão: Tabela 6 2017 2018 206.20 119.13 325.33 ILG 196.70 126.10 322.80 ILG 1,0078 += = + = 216.30 104.20 320.50 ILG 180.40 111.20 291.60 ILG 1,0991 += = + = Observa-se, neste caso, um aumento da liquidez geral da empresa em 2018, comparativamente ao ano anterior. 34 Unidade I Esse índice será considerado bom caso o ILG seja superior ou igual a 1. 2.1.2 Índice de liquidez corrente AC ILC PC = onde: ILC: índice de liquidez corrente; AC: total do ativo circulante; PC: total do passivo circulante. Neste caso, o que se procura é a razão entre os valores do ativo e do passivo circulante. O ativo circulante compreende as disponibilidades (também conhecidas como caixa e equivalentes de caixa), os direitos realizáveis no exercício social subsequente e as aplicações de recursos em despesas do próximo exercício. Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, revelados pelos demonstrativos contábeis anteriormente apresentados e considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão: Tabela 7 2017 2018 206.20 ILC 1,0483 196.70 = = 216.30ILC 1,1990 180.40 = = Este é, talvez, o índice de mais fácil apuração e revela, também, um aumento da liquidez da empresa em 2018, comparativamente a 2017. O ILC será considerado bom quando for superior ou igual a 1. 2.1.3 Capital de giro líquido O índice de liquidez corrente não deve ser confundido com o valor obtido a título de capital de giro líquido (CGL), que é representado pela diferença entre os montantes de ativo circulante e passivo circulante: CGL = AC - PC 35 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS onde: CGL: capital de giro líquido; AC: total do ativo circulante; PC: total do passivo circulante. Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, considerando que os valores são expressos no BP em milhares de reais, serão: Tabela 8 2017 2018 CGL = 206.20 - 196.70 = R$ 9.50 CGL = 216.30 - 180.40 = R$ 35.90 O CGL – também conhecido como capital circulante líquido (CCL) – indica o valor total da disponibilidade financeira para suportar seus compromissos de curto prazo. Comenta Carmona (2009, p. 34): Considerando que uma parcela significativa das obrigações contidas no passivo circulante não apresenta variações significativas ao longo do tempo, torna-se vital a preservação de um certo nível de segurança financeira. Espera-se um resultado positivo, que reflita a folga de liquidez para a empresa arcar com seus compromissos, evitando tornar-se inadimplente. 2.1.4 Índice de liquidez seca Para conhecermos, utilizamos a expressão a seguir: AC E ILS PC −= onde: ILS: índice de liquidez seca; AC: ativo circulante; PC: passivo circulante; E: estoques. 36 Unidade I Este indicador é calculado com a redução do total do ativo circulante do que se mantém em estoques. Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir dos dados extraídos do seu BP e considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão: Tabela 9 2017 2018 206.20 73.70 132.50 ILS 196.70 196.70 ILS 0,6736 −= = = 216.30 67.10 149.20 ILS 180.40 180.40 ILS 0,8271 −= = = 2.1.5 Índice de liquidez imediata Obtido a partir da formulação: D ILI PC = onde: ILI: índice de liquidez imediata; D: montante das disponibilidades; PC: total do passivo circulante. Este indicador considera o total das disponibilidades, isto é, o que tem conversibilidade imediata em dinheiro, como é o caso da conta caixa e de outras que podem imediatamente ser transformadas em dinheiro. Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir das informações de seu BP e considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão: Tabela 10 2017 2018 19.70 ILI 0,1002 196.70 = = 180.4 5 0 3.80 ILI 0,2982= = 37 FINANÇAS CORPORATIVAS - AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE DE PROJETOS Os cálculos exemplificados para a empresa Sensação, nos anos de 2017 e 2018, indicam que, de forma geral, quanto maior for o respectivo índice de liquidez, melhor será a situação financeira da empresa. Naturalmente, esse índice, assim como os demais relacionados com liquidez (mas não só com ela), pode ser comparado com os de outros períodos operacionais da mesma empresa ou com os de outras empresas do mesmo segmento de mercado. 2.2 Índices de endividamento Indicam a avaliação do perfil da estrutura financeira de uma empresa para o financiamento de suas atividades operacionais e administrativas. Possibilitam o confronto dos capitais obtidos junto a terceiros com o que foi aportado ou está à disposição dos acionistas. Quanto menor for o valor, melhor será o resultado retratado pelo índice. Ross et al. (2013) apud Carmona (2009) definem os níveis de endividamento como os que analisam a capacidade de a empresa liquidar as obrigações, principalmente de longo prazo. Descrevemos, a seguir, os variados tipos de índices de endividamento, adotados pelos analistas de empresas. 2.2.1 Índice de estrutura de capital PE IEC PL = onde: IEC: índice de estrutura de capital; PE: passivo exigível (capital de terceiros); PL: patrimônio líquido (capital próprio). Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir dos números expressos em seu BP e considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão: Tabela 11 2017 2018 126.00 IEC 0,3691 341.33 = = 332. 111.20 IEC 4 60 0,33 3= = 38 Unidade I 2.2.2 Índice de dependência PE ID AT = onde: ID: índice de dependência; PE: total do passivo exigível (capital de terceiros); AT: total do ativo. Neste caso, o passivo exigível (capital de terceiros) é comparado com todos os ativos da empresa. Os cálculos deste índice para a empresa Sensação, a partir dos valores constantes em seu BP e considerando que os valores são expressos em milhares de reais, serão: Tabela 12 2017 2018 664 126.00 IDCP 0, . 3 98 0 18= = 624 111.20 IDCP 0, . 0 81 2 17= = 2.2.3 Índice de dependência de curto prazo É uma variante do indicador imediatamente anterior, calculado a partir de: cp PC ID AT = onde: IDcp: índice de dependência de curto prazo; PC: total do passivo circulante; AT: total do ativo. Para este indicador, é expressa a relação entre o passivo circulante (dívida com terceiros, mas apenas de curto prazo) contra todos os ativos da empresa. 39 FINANÇAS CORPORATIVAS
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