Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 BIOÉTICA Unidade I Juliana Ferreira de Andrade APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Doutoranda em Patologia Experimental pela Universidade Paulista – UNIP. Mestre em Bioética pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela Universidade Metodista de São Paulo. Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário São Camilo. Professora do curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – UNIP. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 1 ÉTICA, MORAL E DIREITO ..................................................................................... 5 1.1 Bioética ................................................................................................................ 9 1.2 Bioética no Brasil .............................................................................................. 12 1.3 Teoria Principialista .......................................................................................... 13 2 PESQUISAS COM SERES HUMANOS ................................................................. 17 2.1 Código de Nuremberg ....................................................................................... 18 2.2 Declaração de Helsinque .................................................................................. 19 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 25 ANEXO A .................................................................................................................. 29 ANEXO B .................................................................................................................. 30 4 INTRODUÇÃO Com os avanços tecnológicos na área da saúde surgiu a necessidade de uma proteção ao ser humano no que se refere a sua dignidade. Estamos passando por grandes transformações na área da saúde, na área das ciências e tecnologias que proporcionam aos seres humanos atribuírem para si, “poderes” que antigamente eram atribuídos a Deus; como por exemplo a morte, que hoje encontra-se nas mãos dos homens e da tecnologia. A disciplina Bioética aborda os princípios ético-morais relacionados à dignidade humana, à qualidade de vida e ao exercício profissional no campo da saúde, a partir de uma construção interdisciplinar e pluralista, baseada no reconhecimento das diversidades enfrentadas pela Saúde Pública no Brasil e no propósito da construção da cidadania, da responsabilidade social e do respeito à vida humana. A Bioética ganha notoriedade nos dias de hoje devido ao seu caráter pluralista e interdisciplinar, com o principal objetivo de proteger a dignidade da pessoa humana bem como nortear as decisões éticas. A partir da discussão de conceitos fundamentais, a disciplina tem o objetivo estabelecer condições para o crescimento pessoal e o desenvolvimento de um profissional de saúde comprometido com a realidade de saúde, tanto regional quanto nacional, capaz de assistir o indivíduo de uma forma humana e ética no ciclo evolutivo, seja em estado de saúde, seja em episódios de doença inseridos em seu ecossistema, familiar e comunitário, respeitando seus valores e sua dignidade. 5 1 ÉTICA, MORAL E DIREITO A palavra ética deriva do grego ethos, que quer dizer o modo de ser, o caráter; já para os romanos significa costume dando origem a palavra moral. Observamos, portanto, que as duas traduções referentes a ethos estão relacionadas a um tipo de conduta, a um comportamento humano. A ética tem um contexto histórico, sendo considerada como uma ciência, construída através dos comportamentos e relacionamentos humanos individuais e coletivos. De acordo com Vázquez (1980), a ética corresponde à uma preocupação em como os indivíduos encaram suas relações sociais através de uma observação crítica e reflexiva de seus atos morais deixando evidente que a ética é algo baseada nas virtudes humanas adquirida pelo comportamento humano. Os filósofos foram os primeiros a pensar sobre o conceito de ética, associando-a à cidadania e a uma moral, já que a honestidade, fidelidade e harmonia entre os cidadãos da época eram necessárias para a construção de cidades e do Estado. Vários foram os filósofos de destaque, dentre os quais destacamos Sócrates Platão e Aristóteles, os filósofos gregos mais estudados e citados quando falamos em ética. Sócrates, conhecido como pai da ética, tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga e tinha o hábito de debater e dialogar de maneira descontraída e descomplicada com as pessoas de sua região. Dando preferência a diálogos realizados em locais públicos, como as praças, conquistou muitos seguidores como jovens, mulheres e políticos. Nesses diálogos, Sócrates indagava os cidadãos sobre as virtudes, sua essência, valores e obrigações. Questionamentos como: “por que o bem é uma virtude e o mal um erro?” eram comuns e faziam com que os cidadãos refletissem sobre si e sobre suas ações. Para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade caminham juntos, sendo assim, age eticamente aquele que ao conhecer o bem não deixa de praticá-lo e, consequentemente, ao praticá-lo sente-se feliz. As virtudes são fundamentais para que o homem atinja a plena felicidade, e, dentre essas, destacamos a justiça, que só pode ser conhecida a partir do momento em que se conhece a injustiça entre outros. Para Sócrates, o homem procura sempre o bem, mas nem sempre o faz. A virtude é considerada um conhecimento de dentro para fora e que, portanto, só pode ser alcançada quando conhecemos a nós mesmos. O espírito, ou seja, a alma racional, é o que há de mais essencial no ser humano e, portanto, as normas e os costumes morais devem estar fundamentados na alma racional. Dessa forma, se as pessoas tivessem consciência da sua própria ignorância, seriam menos ambiciosas, presunçosas e donas da verdade acreditando que apenas sua opinião tem valor, tornando a convivência em sociedade difícil, já que há uma dificuldade em aceitar novas ideias (HOBUSS, 2014). 6 Figura – 1: O homem e sua alma Fonte: Reale; Antiseri, 2007, p. 108. Platão era discípulo e admirador de Sócrates e afirmava que a alma humana podia ser dividida em três partes: a racional, que nos faz ir atrás do conhecimento; a irascível, que é responsável pela produção de emoções; e a apetitiva, que está associada à busca por prazer. Para ele, uma pessoa só toma a decisão correta quando utiliza a parte racional de sua alma, já que se formos guiados pelas nossas emoções, acabamos sendo precipitados e inconsequentes. Só se torna sujeito ético aquele capaz de exercer o seu autocontrole, ou seja, quando escutamos nosso lado racional culminamos para uma tomada de decisões mais justa. (HOBUSS, 2014) Já Aristóteles foi discípulo de Platão. Ele afirmava que a felicidade era a finalidade de todo homem e que a realização humana era o resultado do exercício da razão. Para o filósofo, havia três formas de se alcançar a felicidade: virtuosamente; intelectualmente, por meio da educação; e moralmente, por meio do hábito (prazer). A virtude é o equilíbrio entre o excesso de sentir e a indiferença e, portanto, para atingir a felicidade, não devemos agir nem tanto com razão nem tanto com emoção, mas devemos encontrar um meio termo entre ambas. Não nascemos éticos, mas temos a possibilidade de sermos éticos durante nosso desenvolvimento, pois isso faz parte do nosso processo de humanização. Ser ético está associado às relações humanas, em como iremos nos comportar perante o outro, em como respeitaremos a nós mesmos e ao outro. Devemos perceber os conflitos e as diferenças e a necessidade de nos relacionarmos com o outro para uma convivência em sociedade e estabelecer um equilíbrio entre a razão e a emoção no momentode tomar uma decisão. 7 A ética é considerada como um rama da Filosofia, pois apresenta um caráter crítico e reflexivo dos princípios morais que norteiam as ações humanas, indagando as atitudes realizadas através da análise de suas finalidades frente ao coletivo, proporcionando a capacidade de distinguir os limites das diversidades das culturas e dos indivíduos e o convívio e respeito a essas diversidades. Ela proporciona ao ser humano uma reflexão sobre suas condutas e as repercussões de suas atitudes em relação ao outro, bem como a reflexão sobre esse agir perante o outro de acordo com seus próprios valores e sentimentos. Trata-se de um estudo de valores relativamente abstratos, conceituados de formas diversas e de caráter mutável tais como bem, mal, certo, errado, justo, injusto, dever e direito, bem como a discussão dos princípios comuns, de regras. Ela fundamenta-se no respeito pelo homem como um ser físico, mental e moral, através da justiça, do amor, da lealdade e da paz. A ética é construída no dia a dia e contribui para o convívio com as diferenças em espaços públicos, em diferentes culturas, nas situações cotidianas, nas relações interpessoais, profissionais e ambientais. Deve-se haver liberdade de reflexão para que um sujeito seja ético. Não existe ética sem liberdade de pensamento, de ação, de reflexão acerca das experiências vivenciadas pelos conflitos e das consequências de suas atitudes, escolhas e decisões. Existem ainda os códigos de ética profissional, que são um conjunto de regras de conduta que deve ser seguido durante o exercício da profissão. Essas regras têm característica de lei – caso sejam desrespeitadas pelo profissional, este poderá sofrer punições. Para que haja uma conduta ética, deve existir a consciência para se distinguir entre o bem e o mal, o certo e o errado, o proibido e o permitido. Essa consciência deve proporcionar a capacidade de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir de acordo com os valores morais. Dessa forma, podemos afirmar que consciência e responsabilidade são fundamentais para uma atitude ética (CHAUÍ, 2012). A moral, diferentemente da ética, não é uma ciência, pois moral significa um conjunto de normas e regras que estão pautados nos costumes e nos valores de uma sociedade conforme a época histórica vivenciada. Isso forma o caráter humano e a forma como o sujeito vai se portar diante das mais diferentes situações. Portanto, a moral não é inata a cada um: ela é adquirida e construída historicamente e socialmente de acordo com as relações coletivas dos locais onde os seres humanos nascem e vivem. A moral traça princípios para que o homem consiga ter uma ação moralmente correta. Questionamentos como “ser ou não ser” justo, quais valores devem nortear minha existência; que tipo de ser humano devo ser nas relações comigo mesmo e com os outros; são ponderações características do campo moral. (LEITE, 2003) A moral pode ser dividida em: a) moral individual: forma de agir de um indivíduo como pessoa frente ao mundo, a outras pessoas e à sociedade em geral; e b) moral coletiva: conjunto de atitudes ou maneiras de agir que se impõem aos membros de uma sociedade como um todo. Nossas condutas, ações, sentimentos são formados e modelados de acordo com a nossa família, grupos sociais, escola, religião, trabalho etc., ou seja, a 8 sociedade nos educa para que possamos reproduzir os valores por ela considerados como bons; como se fossem deveres e obrigações. Dessa forma, quando nós seguimos os nossos valores podemos ser recompensados; ao contrário, quando os infringimos estamos sujeitos a uma punição. O homem é o único ser capaz de distinguir suas condutas, de decidir sobre o que é certo e errado e, portanto, é o único ser que possui uma consciência e uma moral. O homem tem a liberdade de escolher o seu próprio caminho, de agir de acordo com seus valores e de escolher entre o certo e o errado de acordo com seus julgamentos morais. Quando agimos contra os nossos valores, temos a sensação de estarmos realizando algo indevido, contra os princípios e valores adquiridos Apesar de não ser considerada uma ciência, a moral faz parte da ética, pois a ética nada mais é do que uma reflexão, um estudo sobre os valores e princípios morais para uma melhor convivência em sociedade; um estudo sobre o comportamento moral do homem frente a sociedade em que vive, frente a uma determinada situação, problema, conduta etc. Quadro – 1: Ética X Moral ÉTICA MORAL Reflexão filosófica sobre a moral. Relacionada a hábitos e costumes. Permanente, pois é universal. Temporária, pois é cultural. Relacionada à essência do ser. Relacionada à formação do caráter. Fonte: Andrade, 2020 Como exemplo, podemos citar uma situação em que uma adolescente engravida de seu namorado. Ao contar para seu pai, este, em uma atitude impensada e de acordo com a moral e bons costumes de sua época, coloca sua filha para fora de casa, pois estar grávida sem estar casada era considerado uma afronta aos princípios morais de sua família. Contudo, como a atitude do pai foi impensada, ele não refletiu sobre as consequências que seu ato poderia trazer a sua filha e a ele também. Talvez, se o pai não tivesse agido por impulso, teria concluído que apesar de não estar de acordo com a moral e os bons costumes de sua época, não deveria deixar de prestar assistência a sua filha, de acolhê-la. Quando o pai passa a refletir sobre o bem e o mal que a sua atitude pode desencadear, ele está praticando a ética; quando age por impulso, ele está apenas de acordo com os seus valores, ou seja, apenas de acordo com a moral. Podemos considerar um sujeito ético moral aquele que não se submete a sentimentos e desejos incontroláveis e muito menos ao dinheiro como resultado de suas ações; que segue a sua consciência, que conhece o bem e a razão e consegue dominar seus impulsos e desejos conduzindo suas ações rumo ao bem e à felicidade (CHAUÍ, 2012). O direito está relacionado a leis, àquilo que obrigatoriamente deve ser cumprido e respeitado, sendo considerado um conjunto de valores morais de uma 9 sociedade que deve ser respeitado para a sobrevivência dessa. O desrespeito a essas regras pode gerar punições nos termos das leis. Para refletir: As pessoas são livres para tomar decisões morais e agir de acordo com elas? Figura – 2: O que fazer?1 Lembrete Ética é uma crítica reflexiva de valores morais. Um sujeito ético moral é aquele que não se submete a sentimentos e desejos incontroláveis e encontra equilíbrio entre razão e emoção na tomada de decisões. 1.1Bioética A palavra bioética é um neologismo derivado das palavras gregas bios (vida) e ethike (ética), podendo ser definida, portanto, como ética da vida; um estudo sistemático das dimensões morais, das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas em um conceito interdisciplinar. Por se tratar de um conteúdo de enorme abrangência, a vida, podemos dizer que a bioética é um estudo sem fronteiras (PESSINI, 2008). O termo bioética foi introduzido por Van Rensselaer Potter (1911-2001), em 1971, em um artigo intitulado Bioethics, the science of survival. Potter foi considerado o pioneiro na área da bioética e a denominava como uma ponte entre a ciência biológica e a ética. O neologismo bioética foi utilizado para destacar a importância das ciências biológicas como garantidoras de qualidade de vida e sobrevivência no planeta; porém, se observarmos o sentido histórico do termo bioética, observamos que o mesmo apareceu pela primeira vez na literatura em 1927, proposto por Fritz Jahr, no periódico alemão Kosmos, em um artigo denominado Bioética: uma revisão do relacionamento ético dos humanos em relação aos animais e plantas que afirma 1 Disponível em: https://tecnologia.culturamix.com/dicas/como-usar-informacao-de-dominio-publico-para-sua-vantagem. Acesso em 15.dez.2019 https://tecnologia.culturamix.com/dicas/como-usar-informacao-de-dominio-publico-para-sua-vantagem https://tecnologia.culturamix.com/dicas/como-usar-informacao-de-dominio-publico-para-sua-vantagem 10 que a bioética abrange todas as formas de vida além da do ser humano. (PESSINI, 2013). Diante dos vários acontecimentos abusivos ocorridos no século XX durante a Segunda Guerra Mundial, Potter formulou o termo bioética quando observava um risco para a sobrevivência do ecossistema pela separação de duas áreas do saber: a científica e a humanista. A distinção entre os valores éticos e os fatos biológicos colocaria em perigo toda a vida humana sobre a Terra, e o único caminho para evitar esta situação, de acordo com a definição de Potter (1971), a bioética seria a construção de uma “ponte” entre as ciências humanas e as ciências biológicas. O surgimento da bioética foi uma necessidade, pois existia uma emergência de condutas éticas para os diversos acontecimentos abusivos que estavam ocorrendo na época da Segunda Guerra Mundial, as quais pudessem proteger a vida humana dos participantes mostrando aos pesquisadores que a vida é um valor absoluto que deve ser respeitado por todos. O eixo central da bioética é o valor da pessoa e da vida humana e, dessa forma, todas as nossas reflexões e ações diante de outras pessoas devem ser guiadas por meio do respeito a um ser único, que é uma totalidade dotada de dignidade: a pessoa humana. Quando afirmamos que a pessoa é única, estamos dizendo que cada uma possui características, anseios e vontades que a torna diferente de outras (mesmo em caso de gêmeos idênticos), porém todas as pessoas são iguais no que se refere a dignidade pois a dignidade refere-se a um valor pelo simples fato de ser pessoa. Dessa forma, toda pessoa deve ser respeitada em todas as suas dimensões: espiritual, social, biológica e psicológica – o que confere a sua totalidade. Quando conseguimos agir dessa maneira, ou seja, respeitando esse fundamento, podemos estar certos de que agimos de forma ética. Entretanto, o que é dignidade? Podemos definir dignidade como um valor moral e espiritual, inerente à pessoa humana, que se manifesta na autodeterminação consciente e responsável da própria vida, que traz consigo o respeito por parte de outras pessoas e constitui um direito que deve ser assegurado em todo âmbito jurídico (MORAES, 2006). Alguns autores contribuíram, ao longo dos anos, com definições para a bioética. Contudo, uma definição exata ainda não foi formulada devido a sua característica pluralista e interdisciplinar. Dentre todas as definições, a mais ampla define a bioética como o estudo de problemas e implicações morais encontradas em diversos dilemas atuais que fazem parte de nosso dia a dia. De acordo com Lepargneur (1996 p. 16), a bioética pode ser o “estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e dos cuidados da saúde, na medida em que esta conduta é examinada à luz dos valores e princípios morais”. [...] a resposta da ética aos novos casos e situações originadas da ciência no campo da saúde. Poder-se-ia definir a Bioética como a expressão crítica do nosso interesse em usar convenientemente os poderes da medicina para conseguir um atendimento eficaz dos problemas da vida, saúde e morte do ser humano (LEPARGNEUR, 1996, p.16). 11 Passou-se a observar que a forma pluralista da bioética, com sua visão multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar avançou a outros campos além do da medicina e dos meios acadêmicos. Ela passou a ser um campo de interesse em outras áreas de conhecimento como as áreas de humanas e exatas, conforme a descrição de Dallari: No ano de 1993 ao ser implantado o Comitê Internacional de Bioética, por iniciativa da UNESCO, foi assinado que ele tinha sido criado em decorrência das preocupações éticas suscitadas pelos progressos científicos e tecnológicos relacionados com a vida sobretudo no âmbito da genética. Entretanto, a consideração da vida humana em si mesma e das relações dos seres humanos com outros seres vivos e com a natureza circundante tem ampliado rapidamente a extensão e a diversidade da abrangência da Bioética, à medida que cada reflexão ou discussão revela a necessidade de consideração de novos aspectos (DALLARI, 1998, p. 233). Hossne (2000, p. XX) também afirma: “Bioética é na essência e no fundo, a ética nas (e das) ciências da vida, da saúde e do meio ambiente. Entretanto, esse conceito não é suficiente para caracterizá-la, pois implica, obrigatoriamente, diversos desdobramentos, todos imprescindíveis para a prática e para a caracterização da bioética, sendo os principais”: A bioética não se além de abranger as discussões de dilemas médicos também abrange os dilemas de avanços tecnológicos e do cotidiano tanto das ciências da saúde quanto das ciências relacionadas a vida e ao meio ambiente, A bioética, enquanto ética, preocupa-se com a reflexão crítica sobre valores; proporcionando uma distinção entre ética - considerada como um ramo da Filosofia e portanto uma ciência - e moral associada aos costumes e valores de uma determinada sociedade que foram adquiridos em uma determinada época histórica A bioética é um ramo da ética, e portanto não há padronização de valores respeitando a liberdade para se fazer uma opção na resolução de dilemas Durante a transição do mundo moderno para o pós-moderno, vivenciamos alguns conflitos, nas mais diversas áreas, que levaram à formação de vários paradigmas a serem compreendidos no mundo contemporâneo. Devido aos grandes avanços observados no decorrer dos anos nos campos da medicina, ciência e tecnologia, houve a necessidade de ampliar o conhecimento no campo da bioética, pois esses avanços também interferiam de forma direta ou indireta na vida de homens, animais e no meio ambiente. As novas tecnologias desencadearam e ainda desencadeiam repercussões que ultrapassam a relação médico-paciente, exigindo uma participação de outros profissionais além dos da saúde e conferindo à bioética o seu caráter multidisciplinar e transdisciplinar introduzindo-a, dessa forma, em questões relacionadas ao nascer, ao morrer, à qualidade de vida, à obstinação terapêutica, entre outros. A bioética é o campo de estudo de ética aplicada que mais cresceu nos últimos anos devido ao seu caráter multidisciplinar e pluralista, que nos fornece ferramentas teóricas e metodológicas para nos auxiliar e nos guiar de forma ética na resolução de dilemas bioéticos encontrados na área da saúde. Ela tem como objeto de estudo valores que movem a sociedade sem esperar por uma padronização, porém exige 12 uma reflexão ética, crítica, livre de preconceitos tendo como alicerce a liberdade de opinião. Sua preocupação é que as reflexões éticas façam parte do cotidiano das pessoas, das famílias, da sociedade e da educação, por meio de um pensamento crítico reflexivo, tendo sempre a pessoa humana em sua totalidade e a dignidade como base para as reflexões. Ela se refere a um estudo sistemático da conduta humana de seus valores e de seus princípios morais. Seu objetivo não é elaborar novos princípios éticos, mas aplicar esses princípios nas ciências da vida e do cuidado da saúde, principalmente aos novos problemas que estão surgindo com os avanços tecnológicos. O mundo de hoje necessita de ética em todas as áreas e principalmente nas áreas da saúde e de pesquisas clínicas, contudo, os códigos de ética e deontologia das profissões são suficientes para suprir essa necessidade? A resposta é não, pois, apesar de nortearem os profissionais, esses códigos não são capazes de provocar uma reflexão crítica e, portanto, tornaram-se insuficientes para auxiliar na resolução de dilemas complexos que apareceram com o avançar dos anos. Entretanto, a bioética está aí para auxiliar na resolução dos dilemas vivenciados, pois seu caráter pluralista einterdisciplinar permite uma reflexão crítica de valores em situações que dizem respeito à vida e à dignidade da pessoa humana. Deparamo-nos com vários dilemas éticos e bioéticos na área da saúde, muitas vezes associados ao avanço tecnológico, o que fez surgir a necessidade de implantação de comitês de bioética em serviços de saúde com o objetivo de auxiliar os profissionais na resolução desses dilemas. Esses comitês são formados por profissionais de várias áreas, não apenas da área da saúde, incluindo um líder religioso e um membro da comunidade. Têm o objetivo de auxiliar na resolução de dilemas associados ao início ou fim da vida, à descontinuidade de tratamento, à autonomia do paciente, entre outros temas polêmicos e atuais que geram angústias na tomada de decisões. 1.2 Bioética no Brasil No período da Ditadura Militar, 1968 a 1984, o Brasil vivenciou notícias de tortura e exílio de pessoas devido ao regime político em questão que restringia manifestações cívicas de democracia. Esse contexto não apenas privava a manifestação política da sociedade, como também privava os debates acadêmicos sobre questões humanísticas para desenvolvimento e reflexão, levando à restrição de indexação em bibliotecas termos que fossem de forte sentido político ou moral (FICO, 2001). Assim à bioética, por sua natureza crítico-reflexiva, não era dado espaço nem a possibilidade de divulgação de ideias e princípios durante essa fase de censura pela qual passou o Brasil na época da Ditadura Militar. A partir da década de 1980, com o Movimento das Diretas Já, passou a ocorrer a redemocratização e uma convocação para a elaboração da nova Constituição de nosso país, permitindo à sociedade a manifestação e o debate acerca de assuntos, antes proibidos, então, livre de censuras. Com a criação da nova Constituição Federal, o pensamento bioético começou a ganhar espaço; e com a 8ª Conferência Nacional da Saúde, na qual foi criada a Lei Orgânica da Saúde, houve a implementação do Sistema único de Saúde (SUS) e a criação dos diversos códigos de ética dos 13 profissionais da saúde. A bioética no Brasil, portanto, teve um início tardio, surgindo apenas após a retomada do regime democrático e a promulgação da Constituição de 1988 (HOSSNE, 2007). Essa nova forma de política no Brasil repercutiu no meio acadêmico, que passou a discutir os experimentos científicos com seres humanos, já que, sem a censura da Ditadura Militar, os experimentos horrendos ocorridos na época das Guerras Mundiais, passaram a ser conhecidos e questionados. Esses questionamentos deram origem à viabilização da discussão ética em pesquisa por meio da obra intitulada Experimentação com seres humanos, de Willian Saad Hossne e Sonia Vieira, em 1987. No início de 1995, surge a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), presidida e fundada pelo Doutor Willian Saad Hossne, que tinha como preocupação inicial agregar pessoas das mais diversas áreas do conhecimento que tivessem interesse na bioética e, desta forma, afirmar que o conhecimento desta não estava restrito apenas a uma categoria exclusiva de pesquisadores e profissionais, mas sim a toda sociedade, ciência e religião. O Ministério da Saúde, por meio do Conselho Nacional da Saúde (CNS), também teve uma participação significativa na criação dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) e da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), que visavam a normatização da ética em pesquisa envolvendo seres humanos (HOSSNE, 2007). No Brasil, o CEP e o Conep foram essenciais para a institucionalização da bioética, passando a mobilizar pesquisadores, patrocinadores de pesquisa, instituições acadêmicas e os próprios sujeitos de pesquisa com o objetivo de discutir o melhor exercício humano da ciência no Brasil. A instauração desse sistema deu-se pela Resolução n.º 196/1996, do CNS, que formou um grupo executivo de trabalho de composição interdisciplinar colocando, assim, a bioética em pauta nacional (FREITAS; LOBO, 2001). 1.3 Teoria Principialista Os mesmos eventos que levaram Potter a criar o termo bioética, em 1971, deram origem à criação da National Commission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research, que passou a estudar os critérios éticos em pesquisa com seres humanos com o objetivo de evitar os abusos observados na época da Segunda Guerra Mundial. A conclusão dessa Comissão foi publicada em 18 de abril de 1979, no Relatório Belmont, que estabeleceu, pela primeira vez, o uso dos princípios de respeito às pessoas (autonomia), beneficência e justiça; e o estabelecimento de critérios para a aplicação desses princípios, como o consentimento informado e a análise de riscos e benefícios de pesquisa. Apesar de publicado em 1979, o Relatório foi elaborado em 1978. Ainda em 1979, Tom l. Beuchamps e James F. Childress, em sua obra Principles of biomedical ethics, propõem o principialismo, incorporando mais um princípio, a não maleficência, aos três princípios anteriores (autonomia, beneficência e justiça). Esses princípios servem para orientar as relações médico-paciente e para auxiliar na resolução de dilemas encontrados na prática clínica. Vejamos cada um deles a seguir. 14 Autonomia Capacidade de autodeterminação, de decisão sobre seus atos e sobre sua própria vida. As pessoas têm o direito de decidir sobre sua própria vida e sobre seu corpo, portanto, qualquer ato médico deve ser autorizado pelo paciente. Esse princípio confere o direito ao ser humano de refletir sobre as situações que lhe são impostas. Respeitar a autonomia é reconhecer que o outro tem suas próprias crenças, valores e pontos de vista e que os esses devem ser respeitados; porém, para que isso aconteça, o profissional deve estabelecer uma relação de confiança com seu paciente. Nem todas as pessoas podem exercer sua autonomia, ou seja, pessoas que tenham suas faculdades mentais comprometidas (portadores de distúrbios mentais, pessoas idosas apresentando algum tipo de demência) e crianças necessitam de outras pessoas que decidam por elas. A violação da autonomia só é eticamente aceitável quando o bem coletivo sobressai ao bem individual. Beneficência Agir beneficamente em favor de outros; fazer o bem. Maximizar os benefícios e minimizar os riscos. Dever de ajudar os outros reconhecendo o valor moral do outro. O profissional de saúde deve avaliar os riscos e benefícios individuais e coletivos reduzindo os riscos e danos ao mínimo possível. Como profissionais de saúde devemos sempre fazer aquilo que é benéfico do ponto de vista da saúde e para os seres humanos. Desta forma, é necessário o desenvolvimento de competências profissionais, pois só assim poderemos decidir quais são os riscos e benefícios aos quais estaremos expondo os pacientes, quando decidirmos por determinadas atitudes, práticas e procedimentos. Muitos profissionais de saúde adotam uma atitude paternalista em relação ao seu paciente, decidindo o que é melhor para ele sem levar em consideração sua vontade, seus sentimentos e desejos, e acabam ferindo o princípio da autonomia, mesmo tendo a intenção de fazer o bem. Não maleficência Evitar o mal; ação que não faz o mal. A ação do profissional de saúde deve causar o menor prejuízo ou agravo à saúde do paciente e reduzir os efeitos adversos ou indesejáveis de ações diagnósticas e terapêuticas. Não basta apenas que o profissional de saúde tenha boas intenções de não prejudicar o paciente: ele deve evitar qualquer situação que ofereça riscos; verificar se o modo de agir não está prejudicando não apenas o paciente mas também o coletivo; observar se determinada técnica utilizada não está causando riscos de danos ao paciente. Justiça O que é devido às pessoas; estabelece como condição a equidade. Os profissionais de saúde devem agir com imparcialidade, evitando que aspectos culturais, sociais, religiosos e/ou financeiros, interfiram na relação entre profissional de saúdee paciente. 15 A Teoria Principialista não foi nenhuma inovação; a não maleficência (primum non nocere – primeiro não prejudicar) e a beneficência já eram claramente enunciadas no Juramento Hipocrático e incorporadas às práticas médicas; a justiça também já havia se feito presente em vários Diálogos de Platão, na voz de Sócrates, e a autonomia passou a se consolidar na sociedade desde as revoluções dos séculos XVII e XVIII. Pode-se observar que os princípios atendem plenamente a algumas das situações na área da biomedicina, mas não atendem a situações de outras áreas abrangidas pela bioética, por exemplo, à ética envolvendo animais ou meio ambiente (HOSSNE, 2008). Nessa teoria de princípios há referências a partir das quais as reflexões bioéticas acontecem, não sendo necessário definir se é princípio pertencente ao universo dos deveres ou ao universo dos direitos, sentimentos, conceitos, fundamentos, condições etc., como pode ser observado em Silva, Segre e Selli (2007): [...] é óbvio que ela (Bioética) não pode ser apenas um sistema de princípios ou um conjunto de regras. A ausência de valores dotados de universalidade real e a impossibilidade de objetivar o sujeito na sua integridade exigem uma moralidade aberta a constante invenção, sem o apoio de qualquer lógica e de qualquer axiologia. Aí está uma característica marcante da Bioética: a relação humana vivida no regime da singularidade é o eixo em torno do qual gira a conduta. Nas situações de fato, os princípios se mostram abstratos e as regras imprecisas. Isso porque dignidade, humanidade, subjetividade, liberdade não são princípios nem regras, são modos indefinidamente abertos de viver a relação humana, são temas sujeitos a infinitas variações nas nossas relações concretas com os outros (SILVA; SEGRE; SELLI, 2007, p. 62-3). A Teoria Principialista é a mais utilizada nos dias de hoje para auxiliar na resolução de dilemas bioéticos em situações clínicas, porém observou-se que além dos quatros princípios (autonomia, justiça, beneficência e não maleficência) que são considerados direitos e deveres, devemos também utilizar algumas ferramentas (referenciais) como dignidade, solidariedade, fraternidade, confidencialidade, privacidade, vulnerabilidade, responsabilidade, sobrevivência, prudência, alteridade, altruísmo, integridade, equidade e qualidade de vida, que não estão linearmente atreladas entre si, mas livres para a interação bioética (HOSSNE, 2006; 2009b). Os princípios se tornaram insuficientes para resolução de dilemas em países como o Brasil, pois a análise de conflitos muitas vezes exige uma flexibilidade para adequação ao nível sociocultural, além do enfrentamento de macroproblemas associados a uma condição persistente de exclusão social vivenciada em nosso país. A inclusão de outras ferramentas como cuidado, alteridade, tolerância, dentre outras, bem como a prevenção de possíveis danos, a precaução frente àquilo que desconhecemos, a prudência em relação aos avanços da tecnologia e sua utilização e a proteção dos mais vulneráveis devem ser consideradas na reflexão de dilemas bioéticos. Por meio da utilização dessas ferramentas associadas aos quatro princípios básicos da bioética, temos a formação de uma bioética de intervenção no cenário brasileiro (SILVA; DRUMOND; GARRAFA, 2011). 16 A bioética de intervenção ocupa um lugar de destaque no campo da bioética em países da América Latina onde a desigualdade social aumenta a cada dia. No Brasil, desde a Reforma Sanitária, a elaboração de políticas de saúde, bem como a criação do SUS estão diretamente associados a uma bioética de intervenção. Ela prioriza, no campo público e coletivo, a elaboração de políticas que privilegiem um maior número de pessoas por um maior período, ainda que possa ocorrer prejuízo em algumas situações individuais. No campo privado e individual, ela procura soluções viáveis para conflitos identificados onde acontecem. Saiba mais Para melhor entendimento acerca de pessoas que não podem exercer sua autonomia devido a suas faculdades mentais não preservadas, sugerimos assistir ao filme: BICHO de sete cabeças. Direção: Laís Bodanzky. Buriti Filmes; Dezenove Som e Imagens Produções Ltda.; Gullane Filmes; Fabrica Cinema. Brasil, 2001 (74 min). 17 2 PESQUISAS COM SERES HUMANOS A pesquisa sempre estará relacionada a transformações na sociedade e sua grande preocupação é a busca do bem-estar de seus participantes, bem como o respeito à dignidade da pessoa humana. Para isso, normas internacionais e nacionais foram estabelecidas com o objetivo de proteger tanto o pesquisador quanto o participante e a comunidade em geral. Durante muito tempo, a medicina era considerada paternalista, na qual não se tinha um paciente falante que exercia sua autonomia, porém o sigilo médico e a beneficência eram consideradas. A Segunda Guerra Mundial foi marcada por grandes atrocidades e torturas realizadas com seres humanos. Nesse período, foi cunhado um movimento denominado Movimento Eugênico, idealizado por Francis Galton, que tinha como objetivo a busca de raças puras. Esse Movimento foi seguido por Hitler, entre 1939 e 1945, com a busca incansável por uma raça pura, que feriu a dignidade de muitas pessoas, gerando uma repulsa do ser humano para com seu semelhante. O Movimento desencadeou o nascimento de crianças com doenças mentais e/ou deformidades. Essas crianças eram exterminadas logo após o seu nascimento na presença de suas genitoras, que eram enclausuradas em instituições ou esterilizadas para que não dessem origem a outros descendentes defeituosos. Para Galton, o cruzamento entre linhagens da mesma espécie produziria pessoas altamente inteligentes, porém esses cruzamentos resultaram em pessoas defeituosas ou com problemas mentais. Os prisioneiros de guerra também eram submetidos a experimentos desastrosos sem serem informados sobre o que seria feito nem quais os possíveis resultados e não eram consultados sobre sua vontade de participar ou não do experimento, o que ocasionou a morte de muitas pessoas e a mutilação de várias outras. Diversos experimentos eram realizados, e atrocidades eram observadas. Dentre as atrocidades cometidas em favor do Movimento Eugênico, podemos citar as experiências lideradas, principalmente, pelo Dr. Josef Mengele, o “anjo da morte”, que, propositalmente, contaminava judeus com o bacilo do tifo, no intuito de criar vacinas (antídotos). Os médicos nazistas utilizavam injeções de tinta de cor azul nos olhos de crianças que possuíam olhos escuros ou, ainda com o intuito de avaliar a resistência do corpo humano, utilizavam câmaras de alta e baixa temperatura em dezenas de prisioneiros para verificar os resultados de uma hipotermia severa seguida de um aquecimento abrupto, vitimando centenas de pessoas. O extermínio das raças impuras seria apenas uma forma de “seleção natural” que traria benefícios à sociedade. Para que esses prisioneiros de guerra e as denominadas cobaias humanas tivessem algum tipo de proteção e respeito à sua dignidade, alguns documentos foram elaborados com o intuito de protegê-los e guiar eticamente os médicos e demais pesquisadores clínicos: o Código de Nuremberg e a Declaração de Helsinque. 18 2.1Código de Nuremberg As atrocidades desencadeadas no período de guerra acenderam um alerta na sociedade de que alguma providência deveria ser tomada. Muitas dessas atrocidades, senão a sua maioria, tinham um cunho de pesquisa e foram realizadas ou assistidas por médicos que não se preocupavam com as pessoas (muito menos com sua autonomia) e as obrigavam a participar desses experimentos sem nenhum respeito à dignidade. Dentre alguns experimentos podemos citar as câmaras de gás que exterminaram milhares de pessoas no período de guerra. As pessoas eram “convidadas” a entrar em uma sala, nuas, com a alegação de que iriam tomar um simples banho. Ao entrarem na sala, aporta se fechava e, em vez de água, gases tóxicos eram liberados exterminando as pessoas. Devido a todas essas atrocidades, a sociedade sentiu a necessidade de um documento que regulamentasse os experimentos para que não fosse mais ferida a dignidade dos sujeitos. Então, em 1947, foi elaborado, por juízes dos Estados Unidos da América, o Código de Nuremberg, como resultado do julgamento dos médicos nazistas, que começou em dezembro de 1946 e terminou em julho de 1947. Os juízes de Nuremberg, apesar de conhecerem a importância do Juramento Hipocrático e a consequente obrigação de não maleficência (isto é, a obrigação do médico de, em primeiro lugar, não fazer mal ao seu paciente), reconheceram que isso não era suficiente para proteger os voluntários de uma pesquisa. O Código de Nuremberg é uma recomendação internacional sobre aspectos éticos envolvidos em pesquisas com seres humanos. É composto por dez princípios éticos básicos, que regem as pesquisas com seres humanos, centrados não no pesquisador mas no sujeito participante da pesquisa; estabelece um paciente falante e que tem autonomia para decidir o que é melhor si e agir em consequência de sua decisão – diferentemente da tradição de Hipócrates, em que o paciente é silencioso e obedece ao médico; requer que o pesquisador proteja melhor os interesses do seu paciente, mas também proclama que os sujeitos podem proteger-se ativamente; determina as normas do consentimento informado e da ilegalidade da coerção; regulamenta a experimentação científica; e defende a beneficência como um dos fatores justificáveis sobre os participantes dos experimentos. 19 Figura – 3: O Tribunal de Nuremberg2 Lembrete Movimento Eugênico: busca pela raça pura (bem nascido), cunhado por Francis Galton, em 1833. Difundido pelo mundo por Hitler e Josef Mengele (seus principais seguidores), foi um movimento devastador que exterminou milhares de pessoas consideradas de raça impura; tais atrocidades e extermínios alertaram para a necessidade de documentos que protegessem o participante de pesquisa. 2.2 Declaração de Helsinque Diferentemente do Código de Nuremberg, a Declaração de Helsinki foi projetada como um guia ético obrigatório para todos os médicos pesquisadores. A Associação Médica Mundial (AMM) desenvolveu a Declaração de Helsinque como uma declaração de princípios éticos para fornecer orientações aos médicos e incentivar outros participantes em pesquisas clínicas envolvendo seres humanos a seguir os mesmos princípios éticos. Essa Declaração agregou ao Código de Nuremberg novos elementos na análise ética de pesquisas estabelecendo uma diferença entre estudos realizados com participantes saudáveis e estudos que envolvam pacientes defendendo que houvesse uma avaliação ética do estudo e que esta fosse realizada por um comitê. Na Declaração, a proteção dos direitos dos participantes da pesquisa está relacionada a sua autonomia de não participar ou de retirar-se do estudo em qualquer momento, fase do estudo e os médicos, pesquisadores deverão respeitar essa autonomia. Toda pesquisa com seres humanos tem por objetivo compreender a história natural da doença, ou seja, suas causas e sua evolução, e desta forma aprimorar as intervenções para prevenção, reabilitação e cura. As intervenções realizadas deverão sempre ser estudadas para que seja realizada uma avaliação contínua de sua segurança, eficácia, acessibilidade e confiabilidade. Devemos lembrar que para que 2 Disponível em : https://www.foreignpolicyjournal.com/2017/08/11/tyranny-at-nuremberg/. Acesso em 10.dez.2019 https://www.foreignpolicyjournal.com/2017/08/11/tyranny-at-nuremberg/ 20 qualquer pesquisa seja realizada, a segurança e a dignidade do paciente devem ser asseguradas pelo pesquisador. Quatro anos após a adoção da Declaração de Helsinque, Henry Beecher, pesquisador da Escola Médica de Harvard, publicou em artigo no New England Journal of Medicine a ocorrência de 22 experimentos que colocaram em risco a saúde dos sujeitos participantes. Em um deles, conduzido na Willowbrook State School of New York, crianças com deficiência mental foram infectadas com cepas de hepatite sob a alegação de estarem sendo imunizadas. Em 1972, estourou o escândalo do caso Tuskegee, experimento levado a cabo no Sul dos Estados Unidos, no qual 400 homens afro-americanos pobres, portadores de sífilis, foram deixados sem tratamento (ALBUQUERQUE, 2013). Após o acontecimento de 1972, a Associação Médica Mundial observou a necessidade de uma revisão da Declaração e, em 1975, esta passou por uma revisão em que correções foram efetuadas. Devido ao grande avanço em pesquisas e em tecnologia médica, a Declaração de Helsinque tem diversas correções em seus princípios, efetuadas em assembleias gerais da Associação Médica Mundial, para que as orientações estejam adequadas aos avanços científicos sempre com o objetivo de proteger a dignidade e os direitos de todo participante de pesquisa. A Declaração de Helsinque, portanto, fornece orientação a médicos e outros pesquisadores que estejam envolvidos com pesquisas em seres humanos, as quais devem salvaguardá-los em todas as suas dimensões, respeitando-os e protegendo sua saúde e direitos. Todo médico pesquisador deve estar ciente das normas éticas envolvidas em pesquisas com seres humanos em cada país, bem como das exigências éticas internacionais, sendo que nenhuma dessas exigências deverá diminuir os direitos dos participantes de pesquisa ou eliminar qualquer tipo de proteção a eles. 2.3 Resolução CNS n.º 466/2012 No Brasil, por meio do Conselho Nacional de Saúde (CNS), foram elaboradas resoluções que criaram diretrizes éticas e bioéticas relacionadas à pesquisa com seres humanos. O Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, foi criado em 1937 pela Lei n.º 378 e até 1990 foi um órgão consultivo do Ministério da Saúde. A partir de 1970, a atuação do Conselho foi ampliada pelo Decreto n.º 67.300, no qual a promoção, proteção e recuperação da saúde passaram a ser foco dos debates e caberia ao Conselho "examinar e emitir parecer sobre questões ou problemas relativos à promoção, proteção e recuperação da saúde”. As atribuições atuais do CNS estão regulamentadas pela Lei n.º 8.142/1990 da Constituição Federal (1988), e o CNS tem a missão de fiscalizar, deliberar, acompanhar e monitorar as políticas públicas de saúde nas suas mais diferentes áreas (CNS, 2018). Na década de 1970, surgiu o Movimento de Reforma Sanitária, formado por um grupo responsável por discussões importantes como integralidade, descentralização e universalização. Foram elaboradas pelo Movimento de Reforma Sanitária algumas propostas, análises e interpretações responsáveis por grandes mudanças na saúde pública do país. A partir da elaboração dessas propostas, as políticas de saúde 21 passaram a ganhar mais força. Em 1987, foi publicado o Decreto n.º 93.933, de 14 de janeiro, dispondo sobre a organização e atribuições do CNS, com funções normativas e de assessorar o Ministro de Estado da Saúde, porém em 7 de julho de 1990 este Decreto foi revogado pelo Decreto n.º 99.438 que regulamentou as novas atribuições do conselho nacional de saúde. A partir da promulgação da Constituição, em 1988, a saúde ganhou rumos diferentes com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 28 de dezembro de 1990, a Lei n.º 8.142 instituiu as conferências e os conselhos de saúde, instâncias de controle social. Em 10 de outubro de 1996, o CNS aprovou a Resolução n.º 196, fundamentada em importantes documentos relacionados a ética e pesquisa em seres humanos tais como Código de Nuremberg, Declaração de Helsinque, Constituição brasileira, dentre outros documentos. Essa Resolução norteou diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos e foi oprimeiro documento nacional da ética aplicada à pesquisa. Por meio dessa Resolução, foi criado um sistema para revisão ética dos projetos de pesquisa, composto pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), também conhecido como Sistema CEP/CONEP. Após 16 anos, a Resolução n.º 196/1996 foi revogada pela Resolução n.º 466, de dezembro de 2012, que entrou em vigor após sua publicação em junho de 2013. A Resolução n.º 466/2012 possui 13 partes e é mais longa e filosófica que a resolução anterior: leva em consideração referenciais básicos da bioética tais como o reconhecimento e a afirmação da dignidade, a liberdade, a autonomia, a beneficência, a não maleficência, a justiça e a equidade, dentre outros que têm como objetivo assegurar os direitos e deveres aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado. Os mesmos documentos que nortearam a elaboração da Resolução n.º 196/1996 também nortearam a elaboração da nova, acrescidos da Declaração Universal do Genoma Humano, da Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos e da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, porém não foi feita referência à Declaração de Helsinque em sua última versão, a de 2008. Dentre as principais alterações podemos citar (NOVOA, 2014): Alteração do termo “sujeito de pesquisa” para “participante de pesquisa” para designar o indivíduo que, de forma voluntária e esclarecida ou sob o esclarecimento e autorização de seu responsável legal, aceita ser pesquisado. Inclusão do “assentimento livre e esclarecido”, que é indicado para quando o participante da pesquisa for criança, adolescente ou legalmente incapaz, livre de vícios, dependência, subordinação ou intimidação. Tais participantes devem ser esclarecidos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa lhe acarretar, na medida de sua compreensão e respeitados em suas singularidades. O termo “patrocinador” recebeu nova definição. Na Resolução n.º 196/1996, era definido como pessoa física ou jurídica que apoiava financeiramente a pesquisa; na Resolução n.º 466/2012, é definido como a pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que apoia a pesquisa, mediante financiamento, infraestrutura, recursos humanos ou apoio institucional. Assim, mesmo nos estudos acadêmicos, as instituições passam a ser encaradas como patrocinadoras. 22 Consentimento livre e esclarecido: a Resolução n.º 466/2012 amplia o previsto na anterior ao entender o consentimento livre e esclarecido como um processo composto por várias etapas, permitindo que os participantes se manifestem de forma “autônoma, consciente, livre e esclarecida”. O pesquisador deverá aguardar o momento adequado para que o esclarecimento seja efetuado, considerando a privacidade do indivíduo, e fornecer as informações pertinentes de forma clara e acessível. Se necessário, deverá consultar a família do participante ou outras pessoas capazes de ajudá-lo em sua tomada de decisão. Somente depois desse procedimento o pesquisador poderá apresentar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) para que seja lido e compreendido. O Termo deverá ser elaborado em duas vias, rubricado em todas as páginas e uma das vias deverá permanecer em posse do participante. Na Resolução n.º 196/1996 não eram citados de forma explícita termos como “assistência integral” (para atender a complicações e danos recorrentes do estudo) e “benefício da pesquisa” (proveito direto ou indireto, imediato ou posterior, ao participante da pesquisa). As pesquisas que incluíam mulheres em idade fértil já contavam com critérios específicos na Resolução n.º 196/1996. No entanto, na Resolução n.º 466/2012, há a ampliação da atenção a essa população, pois fica estabelecido que aquelas que se declararem isentas do risco de gravidez ou não exercerem práticas sexuais não serão obrigadas a utilizar contraceptivos. Na Resolução n.º 466/2012, as pesquisas que utilizam metodologias experimentais na área biomédica devem, ao final do estudo, assegurar aos participantes acesso gratuito e por tempo indeterminado aos melhores métodos profiláticos, terapêuticos e diagnósticos que se demonstrarem eficazes. A Plataforma Brasil é o sistema oficial de lançamento de pesquisas para análise e monitoramento do Sistema CEP/CONEP, sendo desnecessária a apresentação de documentos antes exigidos pela Resolução n.º 196/1996. Os CEPs devem avaliar protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, com prioridade para os temas de relevância pública e de interesse do SUS, com base em indicadores epidemiológicos, e emitir parecer, devidamente justificado, imparcial e transparente. A Conep é responsável pela análise de projetos de estudos que incluam populações de alta vulnerabilidade, como as populações indígenas, além de ser responsável por analisar projetos de pesquisas envolvendo genoma humano. Aspectos éticos e bioéticos: a Resolução n.º 466/2012 direciona seu foco ao âmbito bioético dos estudos ao valorizar o respeito pela dignidade humana e a proteção aos participantes das pesquisas envolvendo seres humanos. A dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano devem ser respeitadas. Saiba mais 23 Para se aprofundar neste assunto, leia o Código de Nuremberg e a Declaração de Helsinque (anexos), a Resolução n.º 466/20123, e assista ao filme: COBAIAS. Direção: Joseph Sargent. HBO NYC Productions. EUA, 1997 (118 min.). 3Disponível em: https://bit.ly/2Jthr9h. Acesso em: 5 jan. 2020. 24 RESUMO A ética é considerada como um rama da Filosofia, pois apresenta um caráter crítico e reflexivo dos princípios morais que norteiam as ações humanas, indagando as atitudes realizadas através da análise de suas finalidades frente ao coletivo, proporcionando a capacidade de distinguir os limites das diversidades das culturas e dos indivíduos e o convívio e respeito a essas diversidades A moral, diferentemente da ética, não é uma ciência, pois moral significa um conjunto de normas e regras que estão pautados nos costumes e nos valores de uma sociedade conforme a época histórica vivenciada. Isso forma o caráter humano e a forma como o sujeito vai se portar diante das mais diferentes situações O direito está relacionado a leis, àquilo que obrigatoriamente deve ser cumprido e respeitado A palavra bioética é um neologismo derivado das palavras gregas bios (vida) e ethike (ética), podendo ser definida, portanto, como ética da vida: um estudo sistemático das dimensões morais, das ciências da vida e do cuidado da saúde, que utiliza uma variedade de metodologias éticas em um conceito interdisciplinar com base em quatro princípios básicos para auxiliar na resolução de dilemas: autonomia, beneficência, não maleficência e justiça associados a conceitos como humildade, prudência, alteridade, dentre outros. A pesquisa sempre estará relacionada com transformações na sociedade e sua grande preocupação é a busca do bem-estar de seus participantes, bem como o respeito à dignidade da pessoa humana. Para isso, normas internacionais e nacionais foram estabelecidas com o objetivo de proteger tanto o pesquisador quanto o participante e a comunidade em geral. Para proteção dos participantes de pesquisa, bem como para orientação de médicos e pesquisadores em relação a condutas éticas, alguns documentos são importantes: o Código de Nuremberg, a Declaração de Helsinque e, no Brasil, a Resolução n.º 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. 25 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A. Para uma ética em pesquisa fundada nos direitos humanos. Rev. Bioét. vol. 21 n.3, Brasília set./dez. 2013 AMORIM, K. P .C. ética em pesquisa no sistema CEP-CONEP brasileiro: reflexões necessárias. RevCiênc.saúde coletiva. V.24, nº3. Rio de Janeiro,2019. Disponívelem: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019000301033. Acesso em: 06.abril.2020 BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n.º 466, de 12 de dezembro de 2012. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 150, n. 112, p. 56, 13 jun. 2013. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em: 5 jan. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Lei n.º 8080, de 28 de dezembro de 1990. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8080_190990.htm. Acesso em :06 de abril 2020 BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Lei n.º 81.42, de 28 de dezembro de 1990. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8142_281290.htm. Acesso em :06 de abril 2020 BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Decreto 99.938, de 7 de agosto de 1990. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/legislacao/dec99438_070890.htm. Acesso em :06 de abril 2020 CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2012. DALLARI, D. A. Bioética e direitos humanos: a vida humana como valor ético. In: COSTA, S. I. F.; GARRAFA, V. Iniciação à bioética. Brasília: Conselho Federal de M edicina, 1998. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/biblioteca_virtual/bioeti ca/indice.htm. Acesso em: 31 mar. 2020. Diário Oficial da União - Seção 1 - 1/10/1970, Página 8476. Decreto 67.300 de 30 de setembro de 1970. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970- 1979/decreto-67300-30-setembro-1970-408661-publicacaooriginal-1-pe.html. Acessado em 06.abril.2020 FICO, C. Como eles agiam. Rio de Janeiro: Record, 2001. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019000301033 http://conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8080_190990.htm http://conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8142_281290.htm http://conselho.saude.gov.br/legislacao/dec99438_070890.htm http://www.portalmedico.org.br/biblioteca_virtual/bioetica/indice.htm http://www.portalmedico.org.br/biblioteca_virtual/bioetica/indice.htm https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-67300-30-setembro-1970-408661-publicacaooriginal-1-pe.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-67300-30-setembro-1970-408661-publicacaooriginal-1-pe.html 26 HOBUSS, J. F. N. Introdução à história da filosofia antiga. Pelotas: NEPFIL, 2014. Disponível em: http://nepfil.ufpel.edu.br/publicacoes/1-introducao-a-historia-da-filo- antiga.pdf. Acesso em: 10 jan. 2020. HOSSNE, W. S. Bioética? Com Ciência: Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, [S. l.], 6 jul. 2000. Disponível em: http://www.comciencia.br/dossies-1- 72/reportagens/genoma/genoma9.htm. Acesso em: 31 mar. 2020. HOSSNE, W. S. Bioética princípios ou referenciais? O Mundo da Saúde. São Paulo, v. 30, n. 4, p. 673-676, out/dez. 2006. HOSSNE, W. S. Bioética: ponto de vista. Bioethikos, São Paulo, v. 1, p. 21-132, 2007. HOSSNE, W. S. Dos referenciais de bioética: a vulnerabilidade. São Paulo, Bioethikos, São Paulo, v. 3, n.1 , p. 41-51, 2009a. HOSSNE, W. S. Dos referenciais de bioética: a equidade. Bioethikos, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 211-216, 2009b. HOSSNE, W. S. Dos referenciais de bioética: a prudência. Bioethikos, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 185-196, 2008. LEITE, G. A história da ética. Âmbito Jurídico, Rio Grande, VI, n. 14, ago. 2003. Disponível em: https://bit.ly/3dHiVut. Acesso em: 10 jan. 2020. LEPARGNEUR, H. Força e fraqueza dos princípios da bioética. Bioética, Brasília, v. 4, n. 2, p.138 1996. MORAES, A. Direito constitucional. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006. NOVOA, P. C. R. O que muda na ética em pesquisa no Brasil: resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. einstein. São Paulo: v. 12, n.1. jan./mar. 2014. PESSINI, L. P. As origens da bioética: do credo bioético de Potter ao imperativo bioético de Fritz Jahr. Conselho Federal de Medicina: Brasília. Rev bioét ,2013. v. 21 (1), p. 9-19. PESSINI, L.; HOSSNE, W. S. Fritz Jahr: o imperatismo bioético na origem da palavra bioética. Bioethikos, São Paulo, v. 2, n. 1, jan./jul. 2008. POTTER, V. R. Bioethics:Bridge to the Future. Prentice Hall: USA, 1971. REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: filosofia pagã antiga. Tradução: Ivo Storniolo. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2007. v. 1, p. 91-120. 27 SILVA, F. L.; SEGRE, M.; SELLI, L. Da ética profissional para a bioética. In: ANJOS, M. F. dos; SIQUEIRA, J. E. de (org.). Bioética no Brasil: tendências e perspectivas. Aparecida: Ideias e Letras; Sociedade Brasileira de Bioética, 2007, p. 57-67. SILVA, L. E. S.; DROMMOND, A.; GARRAFA, V. Bioética de intervenção: uma prática politizada na responsabilidade social. Universitas: Ciências da Saúde, Brasília, v. 9, n. 2, p. 111-119, jul./dez. 2011. VAZQUEZ, A. S. Ética. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. 28 29 ANEXO A CÓDIGO DE NUREMBERG4 EXPERIMENTAÇÃO HUMANA (CÓDIGO DE NUREMBERG – 1947) 1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso significa que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser legalmente capazes de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o livre direito de escolha sem qualquer intervenção de elementos de força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição posterior; devem Ter conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomar uma decisão. Esse último aspecto exige que sejam explicados às pessoas a natureza, a duração e o propósito do experimento; os métodos segundo os quais será conduzido; as inconveniências e os riscos esperados; os efeitos sobre a saúde ou sobre a pessoa do participante que eventualmente possam ocorrer devido à participação no experimento. O dever e a responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um experimento ou se compromete nele. São deveres e responsabilidades pessoais que não podem ser delegados a outrem impunemente. 2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade, que não possam ser buscados por outros métodos de estudo, mas não podem ser feitos de maneira casuística ou desnecessariamente. 3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação com animais e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo; dessa maneira, os resultados já conhecidos justificam a condição do experimento. 4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e danos desnecessários, quer físicos, quer mentais. 5. Não deve ser conduzido nenhum experimento quando existirem razões para acreditar que possa ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, quando o próprio médico pesquisador se submeter ao experimento. 6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema que o pesquisador se propõe resolver. 7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que remota. 8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas. 9. O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no decorrer do experimento. 10. O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos experimentais em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a continuação do experimento provavelmente causará danos, invalidez ou morte para os participantes 4Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/codigo_nuremberg.pdf. Acesso em: 5 jan. 2020. 30 ANEXO B DECLARAÇÃO DE HELSINQUE – VERSÃO 2013 DECLARAÇÃO DE HELSINQUE DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA MUNDIAL (WMA) .Princípios Éticos para Pesquisa Médica Envolvendo Seres Humanos Adotada pela 18ª Assembleia Geral da WMA, Helsinque, Finlândia, Junho1964, e emendada pela: 29ª Assembleia Geral da WMA, Tóquio, Japão, Outubro 1975 35ª Assembleia Geral da WMA, Veneza, Itália, Outubro 1983 41ª Assembleia Geral da WMA, Hong Kong, Setembro 1989 48ª Assembleia Geral da WMA, Somerset West, África do Sul, Outubro 1996 52ª Assembleia Geral da WMA, Edimburgo, Escócia, Outubro 2000 53ª Assembleia Geral da WMA, Washington, EUA, 2002 (acrescentada Nota de Clarificação) 55ª Assembleia Geral da WMA, Tóquio, Japão, 2004 (acrescentada Nota de Clarificação) 59ª Assembleia Geral da WMA, Seul, Coréia do Sul, Outubro 2008 64ª Assembleia Geral da WMA, Fortaleza, Brasil, Outubro 2013 Preâmbulo 1. A Associação Médica Mundial (WMA) desenvolveu a Declaração de Helsinque como uma declaração de princípios éticos para pesquisa médica envolvendo seres humanos, incluindo pesquisa em materiais e dados humanos identificáveis. A Declaração deve ser lida como um todo e cada um de seus parágrafos constituintes deve ser aplicado considerando-se todos os outros parágrafos relevantes. 2. Condizente com a missão da WMA, a Declaração é principalmente dirigida aos médicos. A WMA encoraja outros envolvidos em pesquisa médica envolvendo seres humanos a adotarem estes princípios. Princípios Gerais 3. A Declaração de Genebra da WMA compromete o médico com as palavras “A saúde do meu paciente será minha primeira consideração” e o Código Internacional de Ética Médica declara que “Um médico deve agir no melhor interesse do paciente quando fornecer cuidados médicos.” 4. É dever do médico promover e proteger a saúde, bem-estar e direitos dos pacientes, inclusive daqueles que estão envolvidos em pesquisa médica. O conhecimento e consciência do médico são dedicados ao cumprimento do seu dever. 5. O progresso médico é baseado em pesquisas que, em última instância, devem incluir estudos envolvendo seres humanos. 6. O principal objetivo de pesquisa médica envolvendo seres humanos é compreender as causas, evolução e efeitos das doenças e melhorar as intervenções preventivas, diagnósticas e terapêuticas (métodos, procedimentos e tratamentos). Mesmo a melhor intervenção comprovada deve ser continuamente avaliada através de pesquisa no que diz respeito à sua segurança, efetividade, eficiência, acessibilidade e qualidade. 7. A pesquisa médica está sujeita a padrões éticos que promovem e garantem o respeito a todos seres humanos e protegem sua saúde e direitos. 8. Ainda que o principal objetivo de pesquisa médica seja gerar novos conhecimentos, este objetivo nunca pode ter precedência sobre os direitos e interesses de cada sujeito da pesquisa. 31 9. É dever dos médicos que estão envolvidos em pesquisa médica proteger a vida, saúde, dignidade, integridade, direito à autodeterminação, privacidade e confidencialidade das informações pessoais dos sujeitos da pesquisa. A responsabilidade pela proteção aos sujeitos da pesquisa deve sempre recair no médico ou outros profissionais da saúde e nunca no sujeito da pesquisa, mesmo que eles tenham dado consentimento. 10. Os médicos devem considerar as normas e padrões éticos, legais e regulatórios para a pesquisa envolvendo seres humanos em seus próprios países, bem como as normas e padrões internacionais aplicáveis. Nenhum requisito ético, legal ou regulatório nacional ou internacional deve reduzir ou eliminar quaisquer das proteções para os sujeitos da pesquisa indicadas nesta Declaração. 11. Pesquisas médicas devem ser conduzidas de forma a minimizar possíveis danos ao ambiente. 12. Pesquisas médicas envolvendo seres humanos devem ser conduzidas somente por indivíduos com educação, treinamento e qualificações éticas e científicas apropriadas. Pesquisa com pacientes ou voluntários sadios requerem a supervisão de um médico ou outro profissional da saúde competente e adequadamente qualificado. 13. A grupos que são sub-representados em pesquisa médica, deve ser fornecido acesso apropriado para participação na pesquisa. 14. Médicos que combinam pesquisa médica com cuidados médicos devem envolver seus pacientes em pesquisa somente na medida em que isto é justificado pelo seu potencial valor preventivo, diagnóstico ou terapêutico e se o médico tem uma boa razão para acreditar que a participação na pesquisa não afetará desfavoravelmente a saúde dos pacientes que servirão como sujeitos da pesquisa. 15. Indenização e tratamento apropriados devem ser assegurados para sujeitos que sofreram danos como resultado de participação na pesquisa. Riscos, Ônus e Benefícios 16. Na prática médica e em pesquisa médica, a maior parte das intervenções envolvem riscos e ônus. Pesquisa médica envolvendo seres humanos somente podem ser realizadas se a importância do objetivo excede os riscos e ônus para os sujeitos da pesquisa. 17. Toda pesquisa médica envolvendo seres humanos deve ser precedida por avaliação cuidadosa dos riscos e ônus previsíveis aos indivíduos e grupos envolvidos na pesquisa em comparação com os benefícios esperados para eles e para outros indivíduos ou grupos afetados pela condição sob investigação. Medida para minimizar os riscos devem ser implementadas. Os riscos devem ser continuadamente monitorados, avaliados e documentados pelo pesquisador. 18. Os médicos não devem participar de pesquisa envolvendo seres humanos a não ser que eles estejam seguros de que os riscos foram adequadamente avaliados e podem ser satisfatoriamente manejados. Quando os riscos excedem os potenciais benefícios ou quando há uma prova conclusiva de determinados desfechos, os médicos devem avaliar se devem continuar, modificar ou interromper imediatamente o estudo. Grupos e Indivíduos Vulneráveis 32 19. Alguns grupos e indivíduos são particularmente vulneráveis e podem ter uma probabilidade maior de sofrerem danos ou de incorrerem em danos adicionais. Todos grupos e indivíduos vulneráveis devem receber proteção especificamente considerada. 20. Pesquisa médica com um grupo vulnerável somente é justificada se a pesquisa é responsiva às necessidades ou prioridades de saúde deste grupo e não possa ser conduzida em um grupo não vulnerável. Além disto, este grupo deve se beneficiar dos conhecimentos, práticas ou intervenções que resultem da pesquisa. Requisitos Científicos e Protocolos de Pesquisas 21. Pesquisa médica envolvendo seres humanos deve estar de acordo com princípios científicos geralmente aceitos, ser baseada em conhecimento minucioso da literatura científica e de outras fontes relevantes de informação, e em adequada experimentação laboratorial e, se apropriado, animal. O bem-estar dos animais utilizados para pesquisa deve ser respeitado. 22. O desenho e desempenho de cada pesquisa envolvendo seres humanos devem ser claramente descritos e justificados em um protocolo de pesquisa. O protocolo deve conter uma declaração das considerações éticas envolvidas e deve indicar como os princípios desta Declaração foram abordados. O protocolo deve incluir informações relativas a financiamento, patrocinadores, afiliações institucionais, potenciais conflitos de interesse, incentivos para sujeitos da pesquisa e informações relativas às provisões para tratar e/ou indenizar sujeitos que sofreram danos em consequência de participação na pesquisa. Em ensaios clínicos, o protocolo deve também descrever os arranjos apropriados para as provisões pós-ensaio. Comitês de Ética em Pesquisa 23. O protocolo de pesquisa deve ser submetido para consideração, comentários, orientação e aprovação do respectivo comitê de ética em pesquisa antes que o estudo comece. Este comitê deve ser transparente em seu funcionamento, deve ser independente do pesquisador, do patrocinador e de qualquer outra influência indevida, e deve ser devidamente qualificado. Ele deve levar em consideração as leis e regulamentos do país ou países nos quais a pesquisa deverá ser realizada, bem como as normas e padrões internacionais aplicáveis, mas estes não devem permitir a reduçãoou eliminação de qualquer uma das proteções para os sujeitos da pesquisa indicadas nesta Declaração. O comitê deve ter o direito de monitorar estudos em andamento. O pesquisador deve fornecer informações de monitoramento para o comitê, especialmente informações sobre quaisquer eventos adversos graves. Nenhuma emenda ao protocolo pode ser feita sem a devida consideração e aprovação pelo comitê. Depois do término do estudo, os pesquisadores devem submeter um relatório final ao comitê contendo um sumário dos achados e conclusões do estudo. Privacidade e Confidencialidade 24. Toda precaução deve ser tomada para proteger a privacidade dos sujeitos da pesquisa e a confidencialidade de suas informações pessoais. Consentimento Informado 25. A participação pelos indivíduos capazes de dar consentimento informado como sujeitos em pesquisa médica deve ser voluntária. Embora possa ser apropriado consultar membros da família ou líderes comunitários, nenhum indivíduo capaz de dar consentimento informado pode ser inscrito em uma pesquisa a menos que ele concorde livremente. 33 26. Em pesquisa médica envolvendo seres humanos capazes de dar consentimento informado, cada sujeito em potencial deve ser adequadamente informado dos objetivos, métodos, fontes de financiamento, quaisquer conflitos de interesse possíveis, afiliações institucionais do pesquisador, os benefícios esperados e potenciais riscos do estudo e o desconforto que ele possa provocar, provisões pós- estudo e quaisquer outros aspectos relevantes do estudo. O sujeito em potencial deve ser informado do direito de se recusar a participar do estudo ou de retirar seu consentimento em participar a qualquer momento, sem represálias. Atenção especial deve ser dada às necessidades de informações específicas de cada sujeito em potencial, bem como aos métodos para fornecer a informação. Depois de assegurar que o sujeito em potencial compreendeu a informação, o médico ou outro indivíduo apropriadamente qualificado deve então buscar obter o consentimento informado livremente dado pelo sujeito em potencial, preferivelmente por escrito. Se o consentimento não pode ser expresso por escrito, o consentimento não escrito deve ser formalmente documentado e testemunhado. A todos os sujeitos de pesquisa médica deve ser dada a opção de serem informados sobre o desfecho geral e resultados do estudo. 27. Ao buscar o consentimento informado para participação na pesquisa, o médico deve ser particularmente cuidadoso se o sujeito em potencial está em uma relação de dependência com o médico ou pode consentir sob coação. Em tais situações, o consentimento informado deve ser buscado por um indivíduo apropriadamente qualificado completamente independente desta relação. 28. Para um sujeito em potencial que seja incapaz de dar consentimento informado, o médico deve buscar consentimento informado do representante legalmente autorizado. Estes indivíduos não podem ser incluídos em uma pesquisa que não tenha probabilidade de beneficiá-los a menos que ela pretenda promover a saúde do grupo representado pelo sujeito em potencial, não possa ser realizada com pessoas capazes de fornecer consentimento informado e implique somente em risco e ônus mínimos. 29. Quando um sujeito em potencial de pesquisa considerado incapaz de dar consentimento informado é capaz de dar aprovação a decisões sobre participação na pesquisa, o médico deve buscar aquela aprovação em acréscimo ao consentimento do representante legalmente autorizado. A discordância do sujeito em potencial deve ser respeitada. 30. Pesquisa envolvendo sujeitos que são físicas ou mentalmente incapazes de dar consentimento, por exemplo, pacientes inconscientes, podem ser realizadas somente se a condição física ou mental que impeça dar consentimento informado é uma característica necessária do grupo de pesquisa. Em tais circunstâncias, o médico deve buscar consentimento informado do representante legalmente autorizado. Se tal representante não está disponível e se a pesquisa não pode ser adiada, o estudo pode prosseguir sem consentimento informado desde que as razões específicas para envolver sujeitos com a condição que os torna incapazes de dar consentimento informado tenham sido enunciadas no protocolo de pesquisa e o estudo tenha sido aprovado pelo comitê de ética em pesquisa. O consentimento para permanecer na pesquisa deve ser obtido do sujeito ou de um representante legalmente autorizado tão logo seja possível. 34 31. O médico deve informar completamente o paciente sobre que aspectos do seu cuidado estão relacionados com a pesquisa. A recusa do paciente em participar em um estudo ou a decisão do paciente de se retirar do estudo nunca deve afetar adversamente a relação médico paciente. 32. Para pesquisas médicas que utilizam materiais ou dados humanos identificáveis, tais como pesquisas com materiais ou dados contidos em biobancos ou repositórios similares, os médicos devem buscar consentimento informado para sua coleta, armazenamento e/ou reutilização. Poderá haver situações excepcionais onde o consentimento será impossível ou impraticável de ser obtido para tal pesquisa. Em tais situações, a pesquisa poderá ser realizada somente depois de consideração e aprovação de um comitê de ética em pesquisa. Uso de Placebo 33. Os benefícios, riscos, ônus e efetividade de uma nova intervenção devem ser testados contra aqueles da(s) melhor(es) intervenção(ões) comprovada(s), exceto nas seguintes circunstâncias: Quando não existe intervenção comprovada, o uso de placebo, ou não intervenção, é aceitável; ou Quando por razões metodológicas convincentes e cientificamente sólidas, o uso de qualquer intervenção menos efetiva que a melhor comprovada, o uso de placebo, ou não intervenção, é necessário para determinar a eficácia ou segurança de uma intervenção e os pacientes que recebem qualquer intervenção menos efetiva que a melhor comprovada, placebo, ou não intervenção, não estarão sujeitos a riscos adicionais de danos graves ou irreversíveis como resultado de não receber a melhor intervenção comprovada. Extremo cuidado deve ser tomado para evitar abuso desta opção. Provisões Pós-Ensaio 34. Antes de um ensaio clínico, patrocinadores, pesquisadores e governos de países anfitriões devem fazer provisões para acesso pós-ensaio para todos os participantes que ainda necessitam de uma intervenção identificada como benéfica no ensaio. Esta informação também deve ser divulgada aos participantes durante o processo de consentimento informado. Registro da Pesquisa e Publicação e Disseminação dos Resultados 35. Toda pesquisa envolvendo seres humanos deve ser registrada em um banco de dados acessível publicamente antes do recrutamento do primeiro sujeito. 36. Pesquisadores, autores, patrocinadores, editores e casas editoras têm todas obrigações éticas em relação à publicação e disseminação dos resultados da pesquisa. Os pesquisadores têm o dever de tornar disponível publicamente os resultados de sua pesquisa com seres humanos e são responsáveis pela integridade e exatidão de seus relatórios. Todos devem aderir a diretrizes aceitas para relatos éticos. Resultados negativos e inconclusivos bem como positivos devem ser publicados ou caso contrário tornados disponíveis publicamente. Fontes de financiamento, afiliações institucionais e conflitos de interesse devem ser declarados na publicação. Relatórios de pesquisa que não estejam de acordo com os princípios desta Declaração não devem ser aceitos para publicação. Intervenções Não Comprovadas na Prática Clínica 37. No tratamento de um determinado paciente, onde intervenções comprovadas não existem ou outras intervenções conhecidas se mostraram inefetivas, o médico, depois de buscar conselho especializado, com consentimento informado do paciente ou de representante legalmente autorizado, pode usar uma intervenção não comprovada se em seu julgamento ela oferece esperança de salvar
Compartilhar