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UNIDADE 1 1. O que é licitação? A licitação é um procedimento administrativo obrigatório que ocorre antes da celebração de contratos pela administração pública (MAZZA, 2018). O motivo pelo qual se faz necessário tal exigência reside no fato de o poder público não poder escolher livremente um fornecedor, uma empresa ou um prestador de serviços do modo que fazem as empresas privadas. A administração pública deve balizar-se pelos princípios administrativos da isonomia, impessoalidade, moralidade e indisponibilidade do interesse público, que norteiam a atuação da administração, sendo necessário para tanto, a realização de um processo público para seleção imparcial da melhor proposta, garantindo iguais condições a todos que queiram concorrer para a celebração do contrato (MAZZA, 2018). 1.1 Finalidades da licitação Segundo Mazza (2018), a realização do processo licitatório, conforme orienta a redação original da Lei n. 8.666/93 (art. 3º), sempre serviu a duas finalidades fundamentais: buscar a melhor proposta, estimulando a competitividade entre os potenciais contratados, a fim de atingir o negócio mais vantajoso para a administração; oferecer iguais condições a todos que queiram contratar com a Administração, promovendo, em nome da isonomia, a possibilidade de participação no certame licitatório de quaisquer interessados que preencham as condições, condições essas previamente descritas no instrumento convocatório. Nos idos do ano de 2010, foi promulgada a Lei n. 12.349, de 15 de dezembro de 2010, que inseriu no art. 3º da Lei n. 8.666/93 trazendo a lume um terceiro objetivo do procedimento licitatório: “a promoção do desenvolvimento nacional sustentável” (Mazza, 2018). Com a mencionada alteração legislativa, o artigo 3° da lei Geral de Licitações (Lei 8.666/93), passou a ter o seguinte texto: “A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos (BRASIL, 1993).” 1.2 Conceitos doutrinários A licitação é o processo administrativo usado pela Administração Pública e pelas pessoas a quem a lei elenca objetivando selecionar a melhor proposta e o preço mais justo, valendo-se de meios objetivos e de critérios que busquem de forma impessoal realizar a celebração dos contratos. Segundo Di Pietro (2019, p. 755), licitação pode ser definida como “o procedimento administrativo pelo qual um ente público, no exercício da função administrativa, abre a todos os interessados, que se sujeitem às condições fixadas no instrumento convocatório, a possibilidade de formularem propostas dentre as quais selecionará e aceitará a mais conveniente para a celebração de contrato.” Para Bandeira de Mello (2009, p. 517), “licitação é um certame que as entidades governamentais devem promover e no qual abrem disputa entre os interessados em com elas travar determinadas relações de conteúdo patrimonial, para escolher a proposta mais vantajosa às conveniências públicas.” De acordo com os ensinamentos de Meirelles (2016), é o procedimento administrativo mediante o qual a administração pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse. Já para Carvalho Filho (2018, p. 310/311), “é o procedimento administrativo vinculado por meio do qual os entes da Administração Pública e aqueles por ela controlados selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vários interessados, com dois objetivos – a celebração de contrato, ou a obtenção do melhor trabalho técnico, artístico ou científico.” Por fim, para Mazza (2018, p. 538), licitação é “o procedimento administrativo pelo qual entidades governamentais convocam interessados em fornecer bens ou serviços, assim como locar ou adquirir bens públicos, estabelecendo uma competição além de celebrar contrato com quem oferecer a melhor proposta.” 1.3 Análise dos elementos estruturantes da licitação Segundo Mazza (2018), os principais elementos estruturantes da licitação são: Procedimento A natureza jurídica da licitação é a de uma sequência ordenada de atos administrativos. Desse modo, é incorreto tratar da licitação como ato administrativo isolado. Administrativo A unanimidade da doutrina reconhece a licitação como instituto pertencente ao Direito Administrativo e, por isso, sujeito à incidência dos princípios e normas desse ramo jurídico. Obrigatório para entidades governamentais Arealização de licitação é um dever do Estado, não extensivo às empresas e pessoas privadas. “Toda entidade governamental, de qualquer Poder, assim como instituições privadas mantidas com auxílio de verbas públicas, deve licitar. Essa exigência decorre dos princípios Administrativos da impessoalidade, isonomia, moralidade e indisponibilidade do interesse público. Mediante convocação de interessados A licitação é aberta a todos aqueles que queiram concorrer à celebração de um contrato com o Estado, desde que preencham as condições de participação definidas no instrumento convocatório. Válido ressaltar que a participação ou não no processo licitatório é sempre facultativa ao particular. Promovendo uma competição Com a isonomia, a competitividade, visando obter proposta vantajosa, é princípio básico da licitação. Por tal razão, só pode ser exigido dos licitantes o preenchimento de condições estritamente vinculadas ao objeto a ser contratado, sob pena de reduzir a quantidade de participantes. Dito de modo mais simplificado, a licitação nada mais é do que uma disputa entre aqueles que têm interesse em contratar com o Estado. “A finalidade da competição é promover uma disputa justa entre os interessados para celebrar contrato econômico, satisfatório e seguro para a administração. Fornecer bens ou serviços, assim como locar ou adquirir bens públicos A realização de prévio procedimento licitatório é obrigatória para celebração de contratos referentes a diversos objetos. Objeto da licitação é aquilo que a administração pretende contratar, podendo ser o fornecimento de bens, a prestação de serviços, a locação de móveis ou imóveis privados, a locação ou venda de imóveis públicos, a premiação de trabalho artístico ou a alienação de determinado bem. Visando celebrar contrato administrativo Oobjetivo final do procedimento licitatório é a celebração de um contrato administrativo entre o vencedor do certame e a administração pública. Na verdade, o ato que aperfeiçoa o contrato (assinatura) não pertence ao procedimento licitatório propriamente dito, à medida que ocorre após a adjudicação (fase final da licitação. Com quem oferecer a melhor proposta Nem sempre o preço mais baixo é determinante para a decretação do vencedor no certame licitatório. Cabe ao instrumento convocatório da licitação preestabelecer o critério para definição da melhor proposta, denominado tipo de licitação, podendo ser menor preço, melhor técnica, técnica e preço, maior lance ou menor oferta. Mesmo após a realização da licitação, “a administração pública não é obrigada a celebrar o contrato”, de modo que o vencedor do procedimento licitatório possui somente expectativa de direito à celebração do contrato, e não direito adquirido (MAZZA, 2018, p. 539). 2. Princípios da licitação A licitação, por ser um processo administrativo, pressupõe o atendimento dos princípios constitucionais aplicáveis à administração pública, notadamente aqueles expressamente previstos no art. 37, caput da Constituição Federal: Legalidade Impessoalidade Moralidade Publicidade Eficiência Segundo Oliveira (2015), ao lado dos princípios constitucionais, existem princípios específicos que devem ser observados na licitação. O art. 3.º da Lei 8.666/1993 traz em seu bojo os seguintesprincípios: legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, probidade administrativa, vinculação ao instrumento convocatório, julgamento objetivo e outros que lhes são correlatos. Junto a esses, podem ser destacados os princípios da competitividade, da isonomia, da vinculação ao instrumento convocatório, do procedimento formal e do julgamento objetivo. 2.1 Princípio da competitividade Segundo Oliveira (2015), o caráter competitivo da licitação justifica-se pela busca da proposta mais vantajosa para administração, motivo pelo qual é vedado admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo (art. 3.º, § 1.º, I, da Lei 8.666/1993). O referido princípio deve servir, ainda, como “norte interpretativo das cláusulas editalícias, de maneira a aumentar o universo de competidores. Afinal, quanto maior a competição, maior será a chance de se encontrar a melhor proposta. Exemplos: exigir a compra de editais ou restringir a participação às empresas que possuem sede no território do Ente Federado licitante frustram a competitividade (OLIVEIRA, 2015, p. 29).” 2.2 Princípio da isonomia O princípio da isonomia tem profunda ligação com o princípio da impessoalidade, e significa que a administração deve dispensar tratamento igualitário (não discriminatório) aos licitantes. A licitação deve assegurar “igualdade de condições a todos os concorrentes”, conforme dispõe o art. 37, XXI, da CRFB. Nesse diapasão, Oliveira (2015) pontua que, a isonomia guarda estreita relação com a competitividade, pois, segundo o mesmo, as restrições à participação de determinadas pessoas na licitação acarretam diminuição do número de possíveis interessados. Exemplo: a administração não pode estabelecer preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato, conforme previsão do art. 3.º, § 1.º, I, da Lei 8.666/1993. Após a Lei 12.349/2010, tal postulado passou a ter ressalvas, admitindo tratamento diferenciado. Os §§ 5.º a 12 do art. 3.º consagram a denominada “margem de preferência” para produtos manufaturados e serviços nacionais, que atendam a normas técnicas nacionais, limitada a até vinte e cinco por cento acima do preço dos produtos e serviços estrangeiros (OLIVEIRA, 2015, p. 30). É importante lembrar que a isonomia pressupõe, por vezes, tratamento desigual entre as pessoas que não se encontram na mesma situação fático-jurídica (tratamento desigual aos desiguais), desde que respeitado o princípio da proporcionalidade (Mazza, 2018). 2.3 Princípio da igualdade O princípio da igualdade, segundo Di Pietro (2019), “constitui um dos alicerces da licitação, na medida em que esta visa, não apenas permitir à Administração a escolha da melhor proposta, como também assegurar igualdade de direitos a todos os interessados em contratar”. Esse princípio, que hoje está expresso no artigo 37, XXI, da Constituição, veda segundo a autora, o estabelecimento de condições que impliquem preferência em favor de determinados licitantes em detrimento dos demais. Na parte final, o dispositivo deixa claro que o procedimento da licitação somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. Como, vimos anteriormente, a lei 12.349/2010 trouxe algumas exceções a essa regra. 2.4 Princípio da vinculação ao instrumento convocatório O instrumento convocatório (edital ou carta convite) “é a lei interna da licitação que deve ser respeitada pelo Poder Público e pelos licitantes” (Oliveira, 2015). Segundo o art. 41 da Lei 8.666/1993, a “Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada”. “Trata-se da aplicação específica do princípio da legalidade, razão pela qual a não observância das regras fixadas no instrumento convocatório acarretará a ilegalidade do certame” (Oliveira, 2015). Exemplos: a obtenção da melhor proposta será auferida necessariamente a partir do critério de julgamento (tipo de licitação) elencado no edital; os licitantes serão inabilitados caso não apresentem os documentos expressamente elencados no edital etc. 2.5 Princípio da legalidade O princípio da legalidade é de suma relevância em matéria de licitação, pois esta constitui um procedimento inteiramente vinculado à lei; todas as suas fases estão rigorosamente disciplinadas na Lei nº 8.666/93, cujo artigo 4º estabelece que todos quantos participem de licitação promovida pelos órgãos ou entidades a que se refere o artigo 1º têm direito público subjetivo à fiel observância do pertinente procedimento estabelecido na lei. Lembra Di Pietro (2019), que “tratando-se de direito público subjetivo, o licitante que se sinta lesado pela inobservância da norma pode impugnar judicialmente o procedimento”. 2.6 Princípio do procedimento formal Segundo Oliveira (2015), os procedimentos adotados na licitação devem observar fielmente as normas contidas na legislação (art. 4.º da Lei 8.666/1993). O referido princípio decorre do princípio constitucional do devido processo legal. “É oportuno ressaltar que o princípio do procedimento formal não significa excesso de formalismo. Não se pode perder de vista que a licitação é um procedimento instrumental que tem por objetivo uma finalidade específica: celebração do contrato com o licitante que apresentou a melhor proposta. Por esta razão, a legislação tem flexibilizado algumas exigências formais, que não colocam em risco a isonomia, com o intuito de garantir maior competitividade. Exemplos: quando todos os licitantes forem inabilitados ou todas as propostas forem desclassificadas, a Administração poderá fixar prazo para que os licitantes apresentem nova documentação ou outras propostas (art. 48, § 3.º, da Lei 8.666/1993); nas licitações para formalização de PPPs, o edital pode prever a “possibilidade de saneamento de falhas, de complementação de insuficiências ou ainda de correções de caráter formal no curso do procedimento, desde que o licitante possa satisfazer as exigências dentro do prazo fixado no instrumento convocatório” (art. 12, IV, da Lei 11.079/2004); as microempresas e empresas de pequeno porte podem corrigir falhas nos documentos de regularidade fiscal (art. 43, § 1.º, da LC 123/2006) etc (OLIVEIRA, 2015, p. 31-32).” 2.7 Princípio do julgamento objetivo Segundo Oliveira (2015), “o julgamento das propostas apresentadas pelos licitantes deve ser pautado por critérios objetivos elencados na legislação”. Ainda segundo ele, a adoção de critérios subjetivos para o julgamento das propostas é contrária ao princípio da isonomia, conforme vimos anteriormente. De lado outros critérios previstos em legislação específica, o art. 45 da Lei 8.666/1993, após afirmar que “o julgamento das propostas será objetivo”, apresenta os seguintes critérios de julgamento: (I) menor preço; (II) melhor técnica; (III) técnica e preço; e (IV) maior lance ou oferta. De acordo com o entendimento do professor Rafael OIiveira (2015), “a objetividade deve ser obedecida inclusive quando houver empate entre duas ou mais propostas. Nesse caso, o desempate será realizado por meio de sorteio (art. 45, § 2.º, da Lei 8.666/1993)”. 2.8 Princípio da inalterabilidade do edital Segundo Mazza (2018), “em regra, o edital não pode ser modificado após sua publicação”. Porém, o próprio autor esclarece que havendo necessidade de alteração de algum dispositivo, tornam-se obrigatórias a garantia de ampla publicidade e a devolução dos prazos para não prejudicar os potenciais licitantes que eventualmente tenham deixado de participar do certame em razão da cláusula objeto da modificação (Mazza, 2018). 2.9 Princípio do sigilo das propostas Segundo Mazza (2018), nos termos do art. 43, § 1º, da Lei n. 8.666/93, os “envelopes contendo as propostas dos licitantes não podem ser abertos e seus conteúdos divulgados antes do momentoprocessual adequado, que é a sessão pública instaurada com essa finalidade”. 2.10 Princípio da vedação à oferta de vantagens Baseado na regra do art. 44, § 2º, da Lei n. 8.666/93, para Mazza (2018), “tal princípio proíbe a elaboração de propostas vinculadas às ofertas de outros licitantes”. 2.11 Princípio da adjudicação compulsória Segundo Mazza (2018), tal princípio “obriga a Administração a atribuir o objeto da licitação ao vencedor do certame”. 2.12 - Princípio da moralidade e da probidade Segundo Di Pietro (2019), a Lei nº 8.666/93 “faz referência à moralidade e à probidade, provavelmente porque a primeira, embora prevista na Constituição, ainda constitui um conceito vago, indeterminado”, que segundo a autora abrange uma esfera de comportamentos ainda não absorvidos pelo Direito, enquanto a probidade ou, melhor dizendo, a improbidade administrativa já tem contornos bem mais definidos no direito positivo, tendo em vista que a Constituição estabelece sanções para punir os servidores que nela incidem (art. 37, § 4º) (Di Pietro, 2019). 2.13 Princípio da publicidade Segundo Di Pietro (2019), outro princípio previsto no artigo 3º da Lei nº 8.666/93 é o da publicidade, “que diz respeito não apenas à divulgação do procedimento para conhecimento de todos os interessados, como também aos atos da Administração praticados nas várias fases do procedimento”, que segundo a autora, “podem e devem ser abertas aos interessados, para assegurar a todos a possibilidade de fiscalizar sua legalidade” (2019). Segundo Mazza (2018, p. 550), “todos os atos que compõem o procedimento licitatório devem ser públicos; e as sessões, realizadas de portas abertas. O princípio da publicidade se desdobra, ainda, na obrigatoriedade de realização de audiência pública, antecedendo licitações e envolvendo objetos de grande valor (art. 39 da Lei n. 8.666/93), e no dever de publicação do resumo do instrumento convocatório na imprensa (art. 40 da Lei n. 8.666/93). A ampla divulgação dos atos da licitação encontra importante exceção no dever de manutenção do sigilo das propostas. É o que estabelece o art. 3º, § 3º, da Lei n. 8.666/93: “A licitação não será sigilosa, sendo públicos e acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura.” 2.14 Princípio da ampla defesa Finalmente, cabe ainda uma palavra a respeito de um princípio pouco mencionado em matéria de licitação e que é abordado na obra da professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2019); trata-se do princípio da ampla defesa, que segundo a autora, “já reconhecido, em alguns casos concretos, pela jurisprudência. Cite-se acórdão do STF, publicado na RTJ 105/162, em que, embora sem julgamento do mérito porque o problema da defesa envolvia matéria de fato”, inapreciável em mandado de segurança, “ficou implícito o reconhecimento do direito de defesa na licitação, como procedimento administrativo que é” (Di Pietro, 2019). 2.15 Princípio da eficácia administrativa A eficácia impõe a adoção da solução mais eficiente e conveniente para a gestão dos recursos públicos. Segundo Oliveira (2015), a atividade administrativa gera custos e, como os recursos públicos são escassos, é necessário que sua utilização produza os melhores resultados econômicos possíveis à administração pública, tanto quantitativa quanto qualitativamente. “O agente público tem o dever de gerenciar os recursos públicos, onerando o menos possível a administração” (Carvalho, 2017). É possível perceber, assim, que os princípios que regem a licitação estão espalhados por diversos diplomas legais, como a Constituição Federal e leis infraconstitucionais como a Lei 8.666/93, por exemplo, ademais alguns autores argumentam que ainda existem alguns princípios implícitos os quais também devem ser observados pelos agentes públicos. 3. Da disciplina legal da licitação Carvalho Filho (2018), a Constituição de 1988 referiu-se expressamente à licitação, estabelecendo, no art. 22, XXVII, ser da competência privativa da União Federal legislar sobre “normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1o, III”, conforme redação dada pela EC no 19/1998. Além desse mandamento, aponta Carvalho Filho (2018), a Constituição também enunciou o princípio da obrigatoriedade de licitação. No art. 37, XXI, estabelece que, fora dos casos expressos em lei, “as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes”. Diante de semelhante princípio, não pode a Administração abdicar do certame licitatório antes da celebração de seus contratos, salvo em situações excepcionais definidas em lei (Carvalho Filho, 2018). Conforme Mazza (2018), “além da Constituição Federal, diversos diplomas normativos disciplinam no âmbito federal aspectos gerais do procedimento licitatório”. Entre eles, merecem destaque: 3.1 Lei 8.666, de 1993 A Supracitada lei “estabeleceu as normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União”, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (Mazza, 2018). Nesse diapasão esclarece Carvalho Filho (2018), que a lei reguladora das licitações é a Lei no 8.666, de 21.06.1993 – o Estatuto dos Contratos e Licitações. Tal diploma legal, que, como visto, é o mesmo que disciplina os contratos administrativos, sofreu posteriormente algumas alterações, mas continua sendo a lei básica sobre a matéria. 3.2 Lei 8.883, de 1994 Trouxe alterações em diversos dispositivos da Lei n. 8.666/93. 3.3 Medida Provisória 2.026-3, de 2000 Foi responsável pela criação, apenas para o âmbito federal, da modalidade licitatória denominada pregão. 3.4 Decreto 3.555, de 2000 Foi a lei responsável pela regulamentação do procedimento do pregão no âmbito federal. 3.5 Lei 10.520, de 2002 Foi responsável por estender a todas as esferas federativas a modalidade licitatória denominada pregão, utilizada para contratação de bens e serviços comuns. Lei n° 10.520, de 17.7.2002 (antecedida de várias medidas provisórias reeditadas), que passou a regular nova modalidade de licitação – o pregão. “A referida lei, por conseguinte, tem caráter especial diante do Estatuto, eis que disciplina especificamente a nova modalidade licitatória”, sendo de acrescentar que, por isso mesmo, incidem sobre essa nova modalidade, no que couber, as regras da lei geral (Carvalho Filho, 2018). Tem o Estatuto, portanto, caráter supletivo em relação ao novo diploma. Sobre o pregão, faremos adiante os comentários que nos parecem pertinentes, em tópico próprio que dedicamos ao assunto (Carvalho Filho, 2018). 3.6 Decreto 5.450, de 2005 Incumbiu-se de definir o procedimento a ser adotado para o pregão eletrônico. Segundo Carvalho Filho (2018), merecem destaque também, por sua especificidade, as Leis nos 8.248, de 23.10.1991, “que dispõe sobre aquisição de bens e serviços de informática”,10 e 12.232, de 29.4.2010, “que institui as normas gerais para licitação e contratação de serviços de publicidade prestados por agências de propaganda” (CARVALHO FILHO, 2018). Por outro lado, e com o objetivo de regulamentar o art. 179 da CF, veio a lume, “a LC no 123, de 14.12.2006, que instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, no qual foram inseridas normas específicas para proporcionar tratamento diferenciado e favorecido” a tais categorias empresariais (CARVALHO FILHO, 2018). Foi promulgada a Lei no 12.462, de 5.8.2011, que criou o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), voltado, inicialmente, para “contratações necessárias à realização de grandes eventos esportivos e, posteriormente, estendido a outrassituações sem qualquer relação com os referidos eventos” (CARVALHO FILHO, 2018). “Reiteramos que as novas normas sobre licitação são aplicáveis para tais contratações, caracterizando-se como normas específicas, diversas, portanto, das constantes do Estatuto, qualificadas como normas gerais, de aplicação subsidiária. Entretanto, o regime é opcional e, se for adotado, deve figurar necessariamente no instrumento convocatório (art. 1º, § 2º). A nova lei pretende, entre outros objetivos, ampliar a eficiência nas contratações públicas e a competitividade entre os licitantes, segundo estabelece seu art. 1º, § 1º (CARVALHO FILHO, 2018, p. 313).” Em outra vertente, a Lei no 13.019, de 31.7.2014, que rege as parcerias voluntárias e as relações de fomento e de colaboração, determinou que, salvo nas hipóteses expressamente previstas, não se aplica o Estatuto a ajustes dessa natureza. “Na verdade, o citado diploma adota forma própria de seleção, o chamamento público, sobre o qual incidem as normas específicas nele previstas, como se verá no momento oportuno” (Carvalho Filho, 2018). A Lei nº 13.303, de 30.6.2016, consubstanciou o estatuto das empresas públicas e sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, e nesse diploma há normas direcionadas a licitações e contratações dessas entidades. “A lei, por ser especial, prevalece sobre a Lei nº 8.666/1993, que, em relação a ela, se compõe de normas gerais” (Carvalho Filho, 2018). Outras leis estabeleceram regras específicas sobre exigibilidade da licitação e determinados aspectos procedimentais, a saber: 1) Lei n. 9.472, de 16-7-1997, 2) Lei n. 9.648, de 27-5-1998, 3) Lei n. 11.107, de 6-4-2005, 4) Lei n. 12.349, de 15-12-2010, 5) Lei nº 12.598, de 2012 e a lei 6) Lei nº 13.800, de 2019. A lei 8.666/93 é responsável por estabelecer normas gerais obrigatórias para todas as entidades federativas. É o que se depreende do disposto no seu art. 1º: “Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 1993).” 4. Da finalidade do processo licitatório Conforme Carvalho (2017), “a Licitação tem como finalidade viabilizar a melhor contratação possível para o poder público, sempre buscando a proposta mais vantajosa ao Estado”, bem como permitir que qualquer pessoa tenha condições de participar das contratações públicas, desde que preencha os requisitos legais, consoante disposição do art. 3° da Lei 8.666/93. Ainda segundo ensina o autor, “a licitação busca a satisfação do interesse da coletividade ao garantir contratos mais vantajosos à Administração, bem como garante a isonomia das contratações públicas” (CARVALHO, 2017). Dessa forma, qualquer pessoa que tenha interesse e cumpra os requisitos de lei pode contratar com o poder público desde que, por óbvio, se sagre vencedor do certame (Carvalho, 2017). Portanto, a licitação tem um duplo objetivo: “proporcionar ao poder público o negócio mais vantajoso e assegurar ao administrado a oportunidade de concorrer, em igualdade de condições, com os demais interessados” (MAZZA, 2018). O professor Mateus Carvalho ainda traz a lume que cumpre ressaltar que a Lei 12.349/10 “acrescentou uma outra finalidade à licitação, que é a busca pelo Desenvolvimento Nacional”. Sendo assim, o artigo 3° da Lei 8.666/93, atualmente, define existirem três finalidades na realização do procedimento licitatório, a saber, “busca pela melhor proposta, isonomia e garantia de desenvolvimento nacional, não havendo hierarquia ou preferência entre elas, devendo o ente público compatibilizar esses escopos todas as vezes que der início a um procedimento de licitação” (Carvalho, 2017). 5. Dos destinatários do processo licitatório Conforme Carvalho Filho (2018), vários são os destinatários do Estatuto. Segundo o autor, “em primeiro lugar, sujeitam-se a suas normas as pessoas integrantes da federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), que formam a administração direta”. Estados, Distrito Federal e Municípios, que já tinham as suas próprias leis, receberam a incumbência de adaptá-las aos princípios gerais da lei federal, com vistas à uniformidade do quadro normativo fundamental (art. 118, Estatuto). A disciplina, esclarece Carvalho Filho (2018), “abrange todos os órgãos administrativos dos Poderes Legislativo, Judiciário, dos Tribunais de Contas e do Ministério Público, de todas as aludidas pessoas federativas”, conforme dispõe expressamente o art. 117 do Estatuto. A Lei nº 8.666/1993 menciona, no art. 1º, parágrafo único, as empresas públicas e sociedades de economia mista. Contudo conforme alerta Carvalho Filho, (2018), “como a lei não distinguiu, sempre se considerou que a norma se aplicava tanto às entidades voltadas a atividades econômicas, quanto àquelas que prestam serviços públicos”. No entanto, foi promulgada a Lei nº 13.303, de 30.6.2016 – o estatuto jurídico das empresas públicas e das sociedades de economia mista, e suas subsidiárias –, que passou a disciplinar a matéria de licitações e contratações especificamente para tais entidades. O Estatuto, lembra Carvalho Filho (2018), “faz menção expressa, ainda, a duas categorias de entidades destinatárias: os fundos especiais e as entidades controladas direta ou indiretamente pelas pessoas federativas”. Por fim, esclarece o autor em tela, não obstante, como muitas dessas entidades ostentam personalidade de direito privado, “o legislador flexibilizou os parâmetros alinhados na lei, permitindo que pudessem editar regulamentos internos simplificados, desde que respeitados os princípios básicos estatuídos” (Carvalho Filho (2018). Não os editando, porém, submetem-se inteiramente às regras do Estatuto. 6. Do objeto do procedimento licitatório Conforme Carvalho Filho (2018), o “objeto do procedimento licitatório apresenta duas facetas. O objeto imediato é a seleção de determinada proposta que melhor atenda aos interesses da Administração”. Na verdade, todas as atividades em que se desenrola a licitação conduzem a essa escolha, feita entre vários proponentes. “Mas pode ver-se o objeto sob outra faceta, qual seja, a que traduz o objeto mediato, que consiste na obtenção de certa obra, serviço, compra, alienação, locação ou prestação de serviço público”, a serem produzidos por particular por intermédio de contratação formal (Carvalho Filho, 2018). A contratação, pontua o autor em tela, “é o objetivo normalmente perseguido pela Administração. Mas a licitação busca, ainda, selecionar a melhor proposta de trabalhos técnicos, científicos ou artísticos” (Carvalho Filho, 2018). Importa, pois, segundo o autor em estudo, salientar que “o procedimento da licitação tem caráter instrumental, porquanto espelha um meio para que a Administração alcance fim por ela colimado”. Em virtude desse fato é que o objeto da licitação deve ser bem definido no instrumento convocatório (art. 40, I, do Estatuto), o que serve também para que as propostas sejam objetivamente julgadas. (Carvalho Filho, 2018). É interessante observar, nesse passo, alerta Carvalho Filho, que, como regra, “a pessoa que realiza a licitação é a mesma que vai figurar como contratante no contrato administrativo que dela resulta”. Contudo, “o Estatuto permite que os consórcios públicos realizem licitação em cujo edital se preveja que o sujeito contratante não será o consórcio”, mas sim uma das entidades federativas que nele figure como pactuante (Carvalho Filho, 2018). 7. Do fundamento constitucional do dever de licitar Conforme Mazza (2018), o dever de realizar licitações está constitucionalmente disciplinado no art. 37, XXI: “ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta,nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações (BRASIL, 1988).” Segundo Mazza (2018, p. 542 -543), o dispositivo transcrito merece, por sua importância, ser analisado por partes: “a) ressalvados os casos especificados na legislação: o próprio Texto Constitucional atribui competência ao legislador para definir as hipóteses em que poderá ocorrer contratação direta sem licitação. Na Lei n. 8.666/93, esses casos excepcionais estão previstos nos arts. 24 e 25, constituindo as hipóteses de inexigibilidade, dispensa, licitação dispensada e vedação; b) obras, serviços, compras e alienações: a Constituição faz referência exemplificativa a alguns bens cuja contratação exige prévia licitação. É uma descrição panorâmica do objeto da licitação; c) igualdade de condições a todos os concorrentes: seleção da proposta mais vantajosa para a Administração (só a competitividade garante o direito de escolha, entre várias, da proposta mais vantajosa) e atendimento ao princípio da isonomia (todos que preencham os requisitos do instrumento convocatório têm direito de participar do certame licitatório) são as duas finalidades da licitação; d) mantidas as condições efetivas da proposta: a Constituição Federal obriga a Administração a garantir a manutenção das condições efetivas da proposta vencedora. Desse modo, mesmo que ocorram circunstâncias excepcionais que tornem mais onerosa a execução contratual, a Administração deve, atendidos os requisitos legais, aumentar a remuneração do contratado para preservar sua margem de lucro. A preservação do lucro contratual é denominada equilíbrio econômico-financeiro. Portanto, a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos é uma garantia constitucional estabelecida em benefício do contratado; e) as exigências de qualificação técnica e econômica devem se restringir ao estritamente indispensável para garantir o cumprimento das obrigações: essa parte final do dispositivo assegura a competitividade no certame licitatório. Assim, se o instrumento convocatório exigir condições desproporcionais para participação no certame, tais exigências desmedidas devem ser consideradas nulas, podendo ser objeto de impugnação por qualquer cidadão (art. 41, § 1º, da Lei n. 8.666/93).” 7.1 Da extensão pessoal ao dever de licitar Conforme Mazza (2018), “o dever de realizar licitação incumbe a todas as entidades e órgãos públicos pertencentes aos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”. É o que se depreende da leitura do art. 37, caput e inciso XXI, da Constituição Federal. Segundo o autor em estudo, “o teor desse imperativo constitucional foi desdobrado pelo art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 8.666/93, segundo o qual estão subordinados ao dever de licitar”: órgãos da administração direta, fundos especiais, autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pelas entidades federativas (Mazza, 2018). Atualizando o conteúdo dos referidos dispositivos com as novas figuras da Administração indireta, conclui-se que estão sujeitos ao dever de licitar: Poder legislativo - Inclui órgãos e entidades ligadas às casas legislativas, como a Caixa de Assistência Parlamentar (CAP), antiga autarquia federal vinculada ao Congresso Nacional. Poder Judiciário Ministério Público; Tribunais de Contas; Órgãos da Administração Pública direta; Autarquias e fundações públicas; Agências reguladoras e agências executivas; Agências reguladoras e agências executivas; Consórcios públicos; Fundações governamentais; Empresas públicas; Sociedades de economia mista; Fundos especiais - São dotações orçamentárias de valores ou acervos de bens destituídos de personalidade jurídica autônoma. É o caso, por exemplo, do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); Fundações de apoio; Serviços sociais do sistema S; Conselhos de classe. Segundo Mazza (2018), é importante analisar agora a situação de algumas entidades especiais cuja submissão ao dever de licitar desperta controvérsia. 7.2 Organizações sociais O art. 24, XXIV, da Lei n. 8.666/93 dispensa a realização de procedimento licitatório para a celebração, pela Administração Pública, de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais. Segundo Mazza (2018), “a autorização de dispensa é concedida à Administração Pública, e não às organizações sociais, que, via de regra, não estão obrigadas a licitar”. Quando a organização social for contratante, não existe previsão genérica no ordenamento jurídico de realização de procedimento licitatório. Em princípio, portanto, esclarece Mazza (2018), organizações sociais não se sujeitam ao dever de licitar”. O art. 1º do Decreto n. 5.504/2005 considera, entretanto, “obrigatória a realização de licitação para obras, compras, serviços e alienações contratados por entidades com os recursos ou bens repassados voluntariamente pela União. “A citada ressalva objetiva evitar que as entidades do terceiro setor sejam maliciosamente utilizadas como intermediárias em contratações da União, burlando o dever de licitação” (MAZZA, 2018). 7.3 Organizações da sociedade civil de interesse público Segundo Mazza, (2018), “quanto à obrigatoriedade de contratação mediante prévia licitação, a condição das Oscips é similar à das organizações sociais, à medida que, como regra, não precisam licitar”. Do mesmo modo que ocorre com as organizações sociais, as obras, as compras, os serviços e as alienações a serem realizadas pelas Oscips, com os recursos ou bens repassados voluntariamente pela União, serão, porém, contratados mediante processo de licitação pública (art. 1º do Decreto n. 5.504/2005). “Sendo bens e serviços comuns, torna-se obrigatória a utilização do pregão, preferencialmente na modalidade eletrônica” (MAZZA, 2018). 7.4 Entidades paraestatais Os denominados serviços sociais, instituições privadas sem fins lucrativos ligadas ao sistema sindical, como o Sesc, o Sesi e o Senai, são designados pela doutrina como entidades paraestatais, compondo o chamado sistema “S” (MAZZA, 2018). “A doutrina entende que as entidades paraestatais estão sujeitas ao dever de realizar licitação, especialmente porque são mantidas com recursos provenientes de contribuições de natureza tributária, arrecadadas pelas instituições sindicais junto aos seus filiados. A 1ª Câmara do Tribunal de Contas da União, na Decisão n. 47/2005, entendeu, entretanto, que o procedimento licitatório a ser observado pelas paraestatais pode ser definido nos regimentos internos de cada entidade, não havendo obrigatoriedade de cumprimento dos preceitos definidos na Lei n. 8.666/93 (MAZZA, 2018, p. 546).” 7.5 Conselhos de classe Segundo Mazza (2018), os conselhos de classe, como o Conselho Regional de Medicina (CRM) e o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), são tradicionalmente tratados pela doutrina como espécies de autarquias profissionais. “Assim, pertencem à Administração Pública indireta e, por isso, sujeitam -se ao dever de realizar licitação” (Mazza, 2018). “Assim como ocorre com as entidades paraestatais, o procedimento licitatório não é, porém, o definido na Lei n. 8.666/93. Ao contrário, cabe ao regimento interno de cada entidade estabelecer o detalhamento do rito a ser observado, atendendo às peculiaridades e à natureza do respectivo conselho (MAZZA, 2018, p. 546).” 7.6 Ordem dos Advogados do Brasil Conforme Mazza (2018), entre os conselhos de classe, bastante peculiar é a situação da Ordem dos Advogados do Brasil. Isso porque, segundo ele, no julgamento da ADIn 3.026/2006, o Supremo Tribunal Federal “rejeitou natureza autárquica à OAB, entendendo que a entidade não tem nenhuma ligação com o Estado e não se sujeita aos ditames impostos à Administração Pública direta e indireta” (Mazza, 2018). “Imperioso concluir, na esteira do referido entendimento do SupremoTribunal Federal, que a OAB não está obrigada a realizar licitação” (Mazza, 2018). 7.7 Empresas estatais exploradoras de atividade econômica Conforme Mazza (2018), “empresas públicas e sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de direito privado pertencentes à Administração Pública indireta e, nessa condição, encontram-se submetidas ao dever de licitar”. O § 1º do art. 173 da Constituição Federal, acrescentado pela Emenda Constitucional n. 19/98, afirma, entretanto, que: “A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade; II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da administração pública; IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários; V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos administradores (BRASIL, 1988).” Para Mazza (2018), a especial preocupação da Emenda Constitucional n. 19/98 em criar um “estatuto licitatório específico para as empresas estatais exploradoras de atividade econômica reside no fato de que o modelo tradicional de licitação dificulta a competitividade no mercado” (Mazza, 2018). Mister se faz frisar, no entanto, que até o presente momento, dita lei não foi promulgada, mantendo-se em plena aplicabilidade os dispositivos da Lei n. 8.666/93 no que tange às empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica. Bandeira de Mello (2009, p. 438), entretanto, entende que: “empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica não precisam licitar para contratação de objetos relacionados às suas atividades-fim, pois isso significaria uma desvantagem competitiva em relação aos demais concorrentes daquele setor específico de atuação. Assim, por exemplo, supondo uma empresa pública municipal criada para comercializar refeições populares, a compra de gêneros alimentícios pode ser feita sem licitação. Mas, como tal exceção somente se aplica a objetos relacionados à atividade finalística, a aquisição de uma viatura para a diretoria da referida empresa pública deve ser realizada com observância da prévia licitação. Portanto, as contratações feitas por empresas públicas e sociedades de economia mista, em regra, exigem licitação. Quanto às prestadoras de serviço público, não há exceção a essa regra. Já no caso das exploradoras de atividade econômica, o procedimento licitatório é dispensado para contratação de objetos vinculados à sua atividade-fim; em relação aos demais objetos, a licitação é obrigatória.” 7.8 Entidades que não se sujeitam ao dever de licitar Neste sentido, não precisam licitar: Empresas privadas; Concessionários de serviço público; Permissionários de serviço público; Organizações sociais, exceto para contratações com utilização direta de verbas provenientes de repasses voluntários da União; Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips), exceto para contratações com utilização direta de verbas provenientes de repasses voluntários da União. Ordem dos Advogados do Brasil. 8. Da moralidade administrativa “Quando foi concebido o procedimento de licitação, assentou-se o legislador em determinados fundamentos inspiradores. E um deles foi, sem dúvida, a moralidade administrativa” (CARVALHO FILHO, 2018). Erigida atualmente à categoria de princípio constitucional pelo art. 37, caput, da CF, “a moralidade administrativa deve guiar toda a conduta dos administradores. A estes incumbe agir com lealdade e boa-fé no trato com os particulares, procedendo com sinceridade e descartando qualquer conduta astuciosa ou eivada de malícia” (CARVALHO FILHO, 2018). “A licitação veio prevenir eventuais condutas de improbidade por parte do administrador, algumas vezes curvados a acenos ilegítimos por parte de particulares, outros levados por sua própria deslealdade para com a Administração e a coletividade que representa. Daí a vedação que se lhe impõe, de optar por determinado particular. Seu dever é o de realizar o procedimento para que o contrato seja firmado com aquele que apresentar a melhor proposta. Nesse ponto, a moralidade administrativa se toca com o próprio princípio da impessoalidade, também insculpido no art. 37, caput, da Constituição, porque, quando o administrador não favorece este ou aquele interessado, está, ipso facto, dispensando tratamento impessoal a todos (CARVALHO FILHO, 2018, p. 315).” UNIDADE 2 1. Do objetivo da licitação Segundo Oliveira, o objetivo ou “objeto da licitação é o conteúdo do futuro contrato que será celebrado pela Administração Pública” (Oliveira, 2015). Seguindo esclarece o professor que os arts. 1.º e 2.º da Lei 8.666/1993 enumeram os objetos da licitação e do contrato administrativo, a saber: obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da Administração Pública. “É importante notar, todavia, que o rol é exemplificativo, pois a regra constitucional da licitação se impõe para todo e qualquer contrato administrativo, independentemente do objeto” (art. 37, XXI, da CRFB), salvo as hipóteses de contratação direta (Oliveira, 2015). É fundamental que o instrumento convocatório (edital ou carta convite) descreva o objeto da licitação de forma “sucinta e clara” (art. 40, I, da Lei 8.666/1993). Segundo Oliveira, a Lei de Licitações estabeleceu exigências diferenciadas para quatro objetos distintos: obras, serviços, compras e alienações. Vamos analisa-las! 2. Obras e serviços de engenharia A definição de “obra” consta do inciso I do art. 6.º da Lei 8.666/1993 que prevê: “Obra – toda construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação, realizada por execução direta ou indireta” (ex.: construção de uma escola). Oliveira (2015) esclarece, no entanto, que existem, determinadas situações de difícil distinção entre obra e serviço de engenharia, especialmente pela insuficiência das definições constantes da legislação. A reforma de um imóvel, por exemplo, que envolve demolição, seria uma obra ou serviço? Não há resposta definitiva, uma vez que o art. 6.º, I, da Lei 8.666/1993, na definição de “obra”, utiliza o vocábulo “reforma” e, em seguida, na definição de “serviço” constante do art. 6.º, II, da Lei 8.666/1993, menciona a expressão “demolição”. Oliveira (2015), esclarece, portanto, que alguns critérios são sugeridos pela doutrina para distinção entre obra e serviço, tais como: na contratação de uma obra prepondera o resultado, consistente na criação ou modificação de um bem corpóreo (obrigação de resultado), e na contratação do serviço predomina a atividade humana, que produz utilidades para a Administração (obrigação de meio); enquanto na obra, normalmente, o custo do material é superior ao da mão de obra, nos serviços a lógica é inversa. 2.1 Projeto básico, projeto executivo e outras exigências legais Conforme Oliveira (2015), a realização de obras e a prestação de serviços pressupõem a elaboração do “projeto básico” (art. 6.º, IX, da Lei de Licitações) e do “projeto executivo” (art. 6.º, X, da Lei de Licitações), que devem estabelecer, de maneira clara e precisa, todos os aspectos técnicos e econômicos do objeto a ser contratado. O autor em comento esclarece que esses projetos decorrem do dever de planejamento estatal, possibilitando a definição dos custos e análise de compatibilidade com a legislação orçamentária. (Oliveira, 2015) A licitação para contratação de obras e serviços depende do cumprimento das seguintes exigências (art. 7.º, § 2.º, da Lei 8.666/1993): “a) elaboração do projeto básico que deve ser aprovadopela autoridade competente e disponibilizado para consulta dos interessados em participar do processo licitatório; b) existência de orçamento detalhado em planilhas que expressem a composição de todos os seus custos unitários; c) previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento das obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem executadas no exercício financeiro em curso, na forma do respectivo cronograma; d) o produto dela esperado estiver contemplado nas metas estabelecidas no Plano Plurianual, quando for o caso (BRASIL, 1993).” Nas hipóteses em que o empreendimento exigir licenciamento ambiental, o projeto básico deve conter o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Contudo, Oliveira (2015) alerta que, a licitação pode ser iniciada sem a elaboração prévia do projeto executivo, desde que haja decisão motivada por parte da autoridade administrativa, hipótese em que o projeto deverá ser desenvolvido concomitantemente com a execução das obras e serviços (arts. 7.º, § 1.º, e 9.º, § 2.º, da Lei 8.666/1993). 2.2 Vedações e impedimentos A licitação para execução de obras e prestação de serviços submete-se às seguintes vedações (art. 7.º, § 3.º, 4.º e 5.º, da Lei 8.666/1993): “a) é vedado incluir no objeto da licitação a obtenção de recursos financeiros para sua execução, qualquer que seja a sua origem, exceto nos casos de empreendimentos executados e explorados sob o regime de concessão, nos termos da legislação específica; b) é vedada a inclusão, no objeto da licitação, de fornecimento de materiais e serviços sem previsão de quantidades ou cujos quantitativos não correspondam às previsões reais do projeto básico ou executivo; e c) é vedada a realização de licitação cujo objeto inclua bens e serviços sem similaridade ou de marcas, características e especificações exclusivas, salvo nos casos em que for tecnicamente justificável, ou ainda quando o fornecimento de tais materiais e serviços for feito sob o regime de administração contratada, previsto e discriminado no ato convocatório (BRASIL, 1993).” Oliveira (2015) esclarece que caso as sobreditas vedações sejam desrespeitadas, os respectivos atos e contratos serão nulos, devendo ser apurada a responsabilidade de quem lhes tenha dado causa (art. 7.º, § 6.º, da Lei 8.666/1993). Ainda segundo o autor em comento, além das mencionadas vedações, a legislação estabelece impedimentos para participação, direta ou indireta, da licitação ou da execução de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários (art. 9.º da Lei 8.666/1993): “a) O autor do projeto, básico ou executivo, pessoa física ou jurídica; b) empresa, isoladamente ou em consórcio, responsável pela elaboração do projeto básico ou executivo ou da qual o autor do projeto seja dirigente, gerente, acionista ou detentor de mais de 5% do capital com direito a voto ou controlador, responsável técnico ou subcontratado; e c) servidor ou dirigente de órgão ou entidade contratante ou responsável pela licitação (BRASIL, 1993).” 2.3 Formas de execução: direta e indireta As obras e serviços de engenharia, de acordo com os arts. 6.º, VII, VIII, e 10 da Lei de Licitações, podem ser executados de forma direta (por meio dos órgãos ou entidades administrativas) ou indireta (por meio da contratação de terceiros) (Oliveira, 2015). 2.4 Execução indireta: empreitada por preço global, empreitada por preço unitário, empreitada integral e tarefa A execução indireta pode ocorrer por meio dos seguintes regimes: Empreitada por preço global quando se contrata a execução da obra ou do serviço por preço certo e total (ex.: construção de uma escola por preço certo e determinado apresentado pelo licitante); Empreitada por preço unitário quando se contrata a execução da obra ou do serviço por preço certo de unidades determinadas (ex.: o valor deve ser pago ao final de cada unidade executada – metragem executada de fundações, de paredes levantadas, de colocação de piso etc.); Empreitada integral quando se contrata um empreendimento em sua integralidade, caso em que o contratado assume inteira responsabilidade pela execução do objeto até entrega à Administração contratante para uso (ex.: o contratado deve realizar a obra, como a construção de um prédio, bem como implementar sistema de segurança, o sistema de refrigeração etc.); Tarefa quando se ajusta mão de obra para pequenos trabalhos por preço certo, com ou sem fornecimento de materiais (ex.: contratação de um eletricista para pequeno reparo na instalação elétrica da repartição pública). 3. Serviços Conforme Oliveira (2015), “os serviços englobam todas as atividades destinadas a “obter determinada utilidade de interesse para a Administração”, tais como: demolição, conserto, instalação, montagem, operação, conservação, reparação, adaptação, manutenção, transporte, locação de bens, publicidade, seguro ou trabalhos técnico-profissionais” (art. 6.º, II, da Lei 8.666/1993). 3.1 Terceirização: atividade-meio x atividade-fim Conforme ensina Rafael Oliveira (2015), “a terceirização envolve a contratação de empresa privada (interposta pessoa) para prestação de serviços à Administração”. No âmbito legislativo, várias normas fundamentam a terceirização de serviços, destacando-se, por exemplo, o art. 10 do DL 200/1967 que, ao tratar da descentralização de atividades federais, dispõe: "Art. 10. A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente descentralizada. [...] § 7.º Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coordenação, supervisão e controle e com o objetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquina administrativa, a Administração procurará desobrigar-se da realização material de tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, à execução indireta, mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos de execução (BRASIL, 1967).” A principal vantagem da terceirização, segundo o professor Rafael Oliveira (2015), tem relação com a eficiência administrativa, tendo em vista que a prestação de serviços instrumentais (atividades-meio) por empresa privada especializada permite que a Administração concentre sua atenção na prestação de atividades fim. Com o intuito de evitar que a terceirização seja um sucedâneo da regra do concurso público, a doutrina e o TCU têm entendido que a terceirização somente será legítima para atividades instrumentais (atividades-meio) da Administração. No tocante aos serviços relacionados às finalidades essenciais da Administração (atividades-fim), a terceirização é vedada. (OLIVEIRA, 2015, p. 37) 3.2 - Serviços técnicos profissionais especializados Os denominados “serviços técnicos profissionais especializados” encontram-se enumerados no art. 13 da Lei 8.666/1993: Estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos; Pareceres, perícias e avaliações em geral; Assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias; Fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços; Patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas; Treinamento e aperfeiçoamento de pessoal; Restauração de obras de arte e bens de valor histórico. Segundo Oliveira (2015) trata-se de rol exemplificativo, admitindo-se que outros serviços sejam também considerados “serviços técnicos profissionais especializados”. Em relação aos serviços técnicos profissionais especializados, o Poder Público deverá observar, preferencialmente, a modalidade de licitação concurso, com estipulação prévia de prêmio ou remuneração (art. 13, § 1.º, da Lei 8.666/1993). Nesse caso, o licitante vencedor deverá ceder os direitos patrimoniais a ele relativos e a Administração (arts. 13, § 2.º, e 111 da Lei 8.666/1993). Ainda segundo entendimento do autor, “nas hipóteses em que for inviável a competição, os serviços técnicos de natureza singular, prestados por profissionais ou empresas de notória especialização”, poderão ser contratadosdiretamente pelo Poder Público, mediante inexigibilidade de licitação, salvo na hipótese de serviços de publicidade e divulgação (art. 25, II, da Lei 8.666/1993). 3.3 Serviços de publicidade Conforme esclarece o professor Rafael Oliveira (2015), a Lei 12.232/2010 dispõe sobre as normas gerais para licitação e contratação de serviços de publicidade prestados por intermédio de agências de propaganda. De acordo com o art. 2.º do diploma legal em comento, os serviços de publicidade são “o conjunto de atividades realizadas integradamente que tenham por objetivo o estudo, o planejamento, a conceituação, a concepção, a criação, a execução interna, a intermediação e a supervisão da execução externa e a distribuição de publicidade aos veículos e demais meios de divulgação, com o objetivo de promover a venda de bens ou serviços de qualquer natureza, difundir ideias ou informar o público em geral (BRASIL, 2010).” O projeto básico é substituído pelo briefing, que deve conter as informações claras e objetivas para que os interessados elaborem propostas (art. 6.º, II, da Lei 12.232/2010). Quanto aos critérios de julgamento, somente poderão ser utilizados os tipos de licitação “melhor técnica” ou “técnica e preço” para escolha da melhor proposta (art. 5.º da Lei 12.232/2010). 4. Compras As compras são todas as aquisições remuneradas de bens para fornecimento de uma só vez ou parceladamente (art. 6.º, III, da Lei 8.666/1993). 4.1 Indicação de marcas e amostras Segundo pontua o professor Rafael Oliveira (2015), em regra, é vedada a indicação de marcas nas compras efetuadas pelo Poder Público (art.15, § 7.º, I, da Lei 8.666/1993). “Trata-se de vedação que possui caráter relativo, pois a indicação da marca será legítima quando acompanhada de justificativas técnico-científicas”. Ainda segundo o autor, da mesma maneira, a indicação de marca pode servir como parâmetro de qualidade para facilitar a descrição do objeto a ser licitado. Na hipótese, ao lado da marca apontada no instrumento convocatório, constarão as seguintes expressões “ou equivalente”, “ou similar” e “ou de melhor qualidade”. (Oliveira, 2015) 4.2 Princípio da padronização Nesse sentido, as compras, sempre que possível, devem atender ao “princípio da padronização”, com especificações técnicas e de desempenho (art. 15, I, da Lei 8.666/1993). Conforme preleciona o professor Rafael Oliveira (2015), a Administração, “ao estabelecer a padronização, deverá apontar, no instrumento convocatório, as características técnicas uniformes do bem a ser adquirido, bem como as exigências de manutenção, assistência técnica e garantia”. 5. Alienações As alienações são todas as transferências de domínio de bens da Administração Pública a terceiros (art. 6.º, IV, da Lei 8.666/1993). Apenas os bens dominicais, que não se encontram afetados a nenhuma finalidade pública, podem ser alienados (art. 101 do CC). Ademais, conforme orienta o professor Rafael Oliveira (2015), “a alienação de bens da Administração Pública depende do cumprimento dos requisitos elencados no art. 17 da Lei 8.666/1993, a saber”: a) motivação: interesse público justificado; b) avaliação prévia; c) licitação (concorrência para os bens imóveis, salvo as exceções do art. 19 da Lei, e leilão para os bens móveis). 6. Contratação direta Conforme esclarece Oliveira (2015), “a regra da licitação comporta exceções que devem ser previstas pela legislação”. Aliás, a relatividade da regra constitucional e a instrumentalidade do processo de licitação estão evidenciadas no art. 37, XXI, da Constituição da República Federativa do Brasil - CRFB que afirma: “ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública”. Em determinadas hipóteses, esclarece o autor, “a licitação será considerada inviável por ausência de competição ou será inconveniente (ou inoportuna) para o atendimento do interesse público”. Nessas situações, a legislação admite a contratação direta devidamente motivada e independentemente de licitação prévia. Os casos de contratação direta não dispensam, em regra, a observância de um procedimento formal prévio, como a apuração e comprovação das hipóteses de dispensa ou inexigibilidade de licitação, por meio da motivação da decisão administrativa (art. 26 da Lei 8.666/1993). Portanto, as hipóteses de contratação direta são: Licitação dispensada (art. 17 da Lei 8.666/1993); Dispensa de licitação ou licitação dispensável (art. 24 da Lei 8.666/1993); Inexigibilidade de licitação ou licitação inexigível (art. 25 da Lei 8.666/1993). 6.1 Licitação dispensada (art. 17 da Lei 8.666/1993) Segundo Oliveira (2015), a licitação dispensada refere-se às hipóteses de alienação de bens imóveis ou móveis da Administração Pública (art. 17, I e II, da Lei 8.666/1993).97 Em regra, pontua o autor, a alienação de bens, integrantes do patrimônio das entidades administrativas, pressupõe, entre outras exigências, a realização de licitação: a) bens imóveis: concorrência, ressalvadas as hipóteses do art. 19 da Lei 8.666/1993; e b) bens móveis: leilão. “As hipóteses de licitação dispensada estão taxativamente previstas na legislação e relacionam-se com os casos de alienação de bens em que o destinatário é certo” (Oliveira, 2015). Segundo a doutrina tradicional, a licitação dispensada apresenta três características básicas: Rol taxativo; O objeto do contrato é restrito: alienação de bens; Ausência de discricionariedade do administrador, pois o próprio legislador dispensou previamente a licitação. 6.2 Dispensa de licitação (art. 24 da Lei 8.666/1993) As hipóteses de dispensa de licitação estão consagradas no art. 24 da Lei 8.666/1993. Oliveira doutrina que “nesses casos, a licitação é viável, tendo em vista a possibilidade de competição entre dois ou mais interessados”. “Todavia, o legislador elencou determinadas situações em que a licitação pode ser afastada, a critério do administrador, para se atender o interesse público de forma mais célere e eficiente” (Oliveira, 2015). É importante notar, frisa Oliveira (2015), “que as hipóteses de dispensa de licitação representam exceções à regra constitucional da licitação, permitidas pelo art. 37, XXI, da CRFB (“ressalvados os casos especificados na legislação”) ”. O legislador autoriza o administrador a dispensar, por razões de conveniência e oportunidade, a licitação e proceder à contratação direta. 6.3 Valor reduzido (art. 24, I e II) Conforme orienta Oliveira (2015), a dispensa da licitação, em primeiro lugar, fundamenta-se no valor reduzido (estimado) do futuro contratado, na forma do art. 24, I e II, da Lei 8.666/1993. O objetivo do legislador, segundo Oliveira, foi atender aos princípios da economicidade e da eficiência administrativa, evitando que os custos econômicos do processo de licitação ultrapassem os benefícios que serão alcançados com a futura contratação. (Oliveira, 2015) O limite para dispensa de licitação é de até 10% dos valores previstos no art. 23, I, “a”, e II, “a”, da mesma Lei, que tratam dos valores relativos à modalidade convite. Em consequência, a partir dos limites vigentes, a dispensa será possível nos seguintes casos: obras e serviços de engenharia: valor estimado do contrato de até R$ 150.000,00 outros serviços e compras: valor estimado do contrato de até R$ 80.000,00. É importante notar, pontua Oliveira (2015), que a norma não autoriza que o fracionamento das contratações acarrete a dispensa de licitação. Frise-se segundo o autor em comento que a lei não veda genericamente o fracionamento das contratações, mas apenas a utilização do fracionamento com o intuito de dispensar a licitação. Em casos de contratações homogêneas, com objetos similares, deve ser levado em consideração o valor global dessas contratações (Oliveira, 2015). Por fim, o percentual será de 20% para dispensa da licitação para compras, obras e serviços contratados por consórcios públicos, sociedades de economia mista, empresas públicas e por autarquiasou fundações qualificadas, na forma da lei, como agências executivas (art. 24, § 1.º, da Lei 8.666/1993). 6.4 Situações emergenciais (art. 24, III e IV) De acordo com Oliveira (2015), admite-se a dispensa de licitação em razão de situações emergenciais quando o tempo necessário à licitação é incompatível com a urgência da contratação e com o atendimento do interesse público. É o que ocorre nos casos de “guerra ou grave perturbação da ordem” e de “emergência ou de calamidade pública”, conforme dispõe o art. 24, III e IV, da Lei 8.666/1993. O art. 24, III, da Lei trata dos casos de guerra ou grave perturbação da ordem. O estado de guerra depende de declaração formal do Presidente da República, com autorização prévia ou posterior do Congresso Nacional (arts. 49, II, e 84, XIX da CRFB). A grave perturbação da ordem pública depende da declaração de Estado de Defesa (art. 136 da CRFB) ou de Estado de Sítio (art. 137 da CRFB). No tocante à emergência e à calamidade pública, segundo Oliveira (2015), as situações deverão ser analisadas concretamente. Exemplos: inundação causada por fortes chuvas pode acarretar a necessidade de contratações emergenciais (compra de medicamentos, contratação de serviços médicos, locação de imóveis para funcionarem como abrigos etc.); anulação de determinada licitação e a justificativa, no caso concreto, de que a repetição do certame será incompatível com a urgência da contratação etc. Importante salientar que, a contratação direta, quando houver emergência ou calamidade pública, limita-se aos bens e serviços necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa (Oliveira, 2015). Desta forma a Lei não autoriza a contratação de qualquer bem ou serviço. Ademais, as contratações, em casos de emergência e de calamidade pública, serão efetuadas por, no máximo, 180 dias consecutivos e ininterruptos (ou seja: seis meses) (Oliveira, 2015). O referido prazo será contado da ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a sua prorrogação (art. 24, IV, da Lei 8.666/1993). 6.5 Licitação deserta (art. 24, V) O art. 24, V, da Lei 8.666/1993115 dispensa a licitação quando não acudir interessado à licitação anterior e esta, justificadamente, não puder ser repetida sem prejuízo para a Administração, mantidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas. Nesse caso, em razão da ausência de interessados, a licitação é denominada de “deserta”. Ressalte-se que a licitação deserta não se confunde com a “licitação frustrada ou fracassada”, pois, nesse último caso, existem licitantes presentes no certame, mas todos são inabilitados ou desclassificados (Oliveira, 2015). A característica comum dessas duas hipóteses é que a licitação não chegará ao seu termo final. 6.6 Intervenção no domínio econômico (art. 24, VI) É dispensável a licitação quando a União tiver que intervir no domínio econômico para regular preços ou normalizar o abastecimento (art. 24, VI, da Lei 8.666/1993). Segundo doutrina Oliveira (2015), a dispensa restringe-se às intervenções na ordem econômica com o objetivo de regular os preços ou normalizar o abastecimento de bens ou serviços, não alcançando, portanto, as outras possibilidades de intervenção. 6.7 Licitação frustrada (art. 24, VII) Admite-se a dispensa de licitação quando os licitantes apresentarem propostas com preços manifestamente superiores aos praticados no mercado nacional ou incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais competentes (art. 24, VII, da Lei 8.666/1993). “Esse é o caso de licitação frustrada, pois aparecem interessados, mas todos são desclassificados” (Oliveira, 2015). A dispensa, segundo a citada norma, pressupõe a observância do art. 48, § 3.º, da Lei 8.666/1993, que possibilita a apresentação de novas propostas, no prazo de oito dias, quando todas as propostas inicialmente apresentadas foram desclassificadas. Nesse caso, se os licitantes reapresentarem propostas novamente incompatíveis com o mercado ou com os fixados pelos órgãos competentes, a Administração poderá dispensar a licitação para efetivar a contratação direta, “por valor não superior ao constante do registro de preços, ou dos serviços” (parte final do art. 24, VII). 6.8 Contratação de entidades administrativas (art. 24, VIII, XVI e XXIII) O diploma legal prevê três casos distintos de dispensa de licitação para contratações de entidades da Administração Pública. Segundo Oliveira (2015), em primeiro lugar, de acordo com o art. 24, VIII, da Lei 8.666/1993,123 é dispensável a licitação para contratação, por pessoas jurídicas de direito público, de bens ou serviços oriundos de entidade integrante da Administração Pública, criada para esse fim específico em data anterior à vigência da Lei de Licitações, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado. O segundo caso de dispensa de licitação para contratação de pessoas administrativas, segundo Oliveira (2015), situa-se no art. 24, XVI, da Lei 8.666/1993. De acordo com a norma legal em comento, a licitação é dispensável para contratação por pessoas de direito público de entidades administrativas para impressão dos diários oficiais, de formulários padronizados de uso da administração, de edições técnicas oficiais, bem como para prestação de serviços de informática. O terceiro caso, segundo o autor em comento, é aquele previsto no art. 24, XXIII, da Lei 8.666/1993. As empresas públicas e as sociedades de economia mista podem contratar diretamente, sem licitação, com suas subsidiárias e controladas, para a aquisição ou alienação de bens, prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado. Nesse caso, a norma, por não fazer distinção, deve ser aplicada às empresas estatais, independentemente do seu objeto (atividade econômica ou serviço público) (Oliveira, 2015). 6.9 Segurança nacional (art. 24, IX) É autorizada a dispensa de licitação quando houver possibilidade de comprometimento da segurança nacional, nos casos estabelecidos em decreto do Presidente da República, ouvido o Conselho de Defesa Nacional (art. 24, IX, da Lei 8.666/1993). 6.10 Compra e locação de imóveis (art. 24, X) O art. 24, X, da Lei 8.666/1993134 dispensa a licitação para compra ou locação de “imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia”. 6.11 Complementação do objeto contratual (art. 24, XI) Não é obrigatória a realização de licitação na contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento, em razão de rescisão contratual, “desde que atendida a ordem de classificação da licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido” (art. 24, XI, da Lei 8.666/1993). Segundo Oliveira (2015), as exigências para a dispensa no caso de complementação do objeto contratual podem ser assim enumeradas: a) rescisão do contrato; b) existência de remanescente do objeto contratual (obra inacabada, serviço incompleto ou fornecimento parcial); c) o contratado deve ter participado da licitação que deu origem ao contrato rescindido, respeitada a ordem de classificação; e d) o contratado deve aceitar as mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor, sendo o preço devidamente corrigido. 6.12 Gêneros perecíveis (art. 24, XII) É dispensável a licitação para compras de gêneros perecíveis (hortifrutigranjeiros, pão etc.), no tempo necessário para a realização dos processos licitatórios correspondentes, realizadas diretamente com base no preço do dia (art. 24, XII, da Lei 8.666/1993). Conforme observa Oliveira (2015), a contratação direta, no caso, depende de três requisitos: Gêneros Perecíveis - gêneros perecíveis; Provisoriedade - não pode ser habitual a contratação, mas apenas durante o tempo necessário para formalização da licitação; Preço do Dia - preço praticado no mercado no dia da aquisição,tendo em vista que esses produtos, por suas características, apresentam preços voláteis. 6.13 Entidades sem fins lucrativos (art. 24, XIII, XX, XXIV e XXXIII) Segundo Oliveira 2015), foram consagradas três hipóteses de dispensa de licitação no art. 24 da Lei de Licitações relacionadas com as contratações de entidades privadas sem fins lucrativos. A primeira hipótese está prevista no art. 24, XIII, da Lei 8.666/1993. É possível a dispensa de licitação para contratar instituição brasileira, sem fins lucrativos e de inquestionável reputação ético-profissional, que tenha por objetivo desenvolver, por força estatutária, uma das seguintes atividades: pesquisa, ensino, desenvolvimento institucional ou recuperação social do preso (Oliveira, 2015). A segunda hipótese de dispensa de entidades sem fins lucrativos encontra-se consagrada no art. 24, XX, da Lei 8.666/1993. De acordo com o permissivo legal, a Administração pode contratar diretamente associação de portadores de deficiência física, sem fins lucrativos e de comprovada idoneidade para a prestação de serviços ou fornecimento de mão de obra, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado. A norma, em comento, tem o claro objetivo de fomentar a inclusão dos portadores de deficiência no mercado de trabalho, cumprindo a denominada “função social do contrato administrativo” (Oliveira, 2015). A terceira possibilidade de dispensa, prevista no art. 24, XXIV, da Lei 8.666/1993, refere-se à contratação de serviços prestados por Organizações Sociais, qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para atividades contempladas no contrato de gestão (Oliveira, 2015). 6.14 Negócios internacionais (art. 24, XIV) Segundo Oliveira (2015), o Poder Público pode dispensar a licitação para contratação de bens ou serviços nos termos de acordo internacional específico, aprovado pelo Congresso Nacional, quando as condições ofertadas forem manifestamente vantajosas para o Poder Público (art. 24, XIV, da Lei 8.666/1993). 6.15 Obras de arte (art. 24, XV) De acordo com os ensinos de Oliveira (2015), a aquisição ou restauração de obras de arte e objetos históricos, de autenticidade certificada, desde que compatíveis ou inerentes às finalidades do órgão ou entidade, não depende necessariamente de licitação (art. 24, XV, da Lei 8.666/1993). É fundamental, segundo o autor em estudo, que a aquisição ou restauração tenha vinculação direta com as finalidades do órgão ou entidade. Assim, por exemplo, o Poder Público pode adquirir, sem licitação, obra de arte para determinado museu público, mas não será possível a aquisição de obra de arte para decorar gabinete de autoridades administrativas (Oliveira, 2015). 6.16 Necessidade de manutenção de garantias (art. 24, XVII) Conforme ensina Oliveira (2015), é possível a contratação direta de componentes ou peças de origem nacional ou estrangeira, necessários à manutenção de equipamentos durante o período de garantia técnica, junto ao fornecedor original desses equipamentos, quando tal condição de exclusividade for indispensável para a vigência da garantia (art. 24, XVII, da Lei 8.666/1993). 6.17 Forças Armadas (art. 24, XVIII, XIX e XXIX) Conforme pontua Oliveira (2015), a legislação prevê três casos de contratações no âmbito das Forças Armadas que prescindem do processo licitatório. Em primeiro lugar, o art. 24, XVIII, da Lei 8.666/1993 admite contratações diretas necessárias para o abastecimento de navios, embarcações, unidades aéreas ou tropas, quando em estada eventual de curta duração em portos, aeroportos ou localidades diferentes de suas sedes. Nesse caso, as contratações não poderão exceder o valor de R$ 80.000,00 (art. 23, II, “a”, da Lei) (Oliveira, 2015). A segunda possibilidade de contratação direta encontra-se prevista no art. 24, XIX, da Lei 8.666/1993, e diz respeito às compras de material de uso pelas Forças Armadas, quando houver necessidade de padronização, mediante parecer de comissão instituída por decreto. De acordo com a norma, a licitação será obrigatória se os materiais forem de uso pessoal (ex.: produtos de higiene pessoal dos militares) e administrativo (ex.: material de escritório) (Oliveira, 2015). Por fim, o terceiro caso de dispensa de licitação está consagrado no art. 24, XXIX, da Lei 8.666/1993. Trata-se do caso de contratação direta de bens e serviços para atender as Forças Singulares brasileiras empregadas em operações de paz no exterior. Nesse caso, o preço e a escolha do contratado devem ser justificados, com ratificação do Comandante da Força (Oliveira, 2015). 6.18 Bens destinados à pesquisa (art. 24, XXI) Segundo aduz Oliveira (2015), admite-se a contratação direta de bens destinados exclusivamente à pesquisa científica e tecnológica com recursos concedidos pela CAPES, FINEP, CNPq ou outras instituições de fomento à pesquisa credenciadas pelo CNPq para esse fim específico (art. 24, XXI, da Lei 8.666/1993, alterado pela Lei 12.349/2010). 6.19 Serviços públicos concedidos (art. 24, XXII) O Poder Público pode contratar diretamente, com dispensa de licitação, concessionários, permissionários ou autorizados, responsáveis pelo fornecimento ou suprimento de energia elétrica e gás natural (art. 24, XXII, da Lei 8.666/1993). 6.20 Transferência de tecnologia e incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica (art. 24, XXV, XXXI e XXXII) O art. 24, XXV, da Lei 8.666/1993, inserido pela Lei 10.973/2004, dispensa a licitação na contratação realizada por Instituição Científica e Tecnológica – ICT ou por agência de fomento para a transferência de tecnologia e para o licenciamento de direito de uso ou de exploração de criação protegida. O inciso XXXI do art. 24 da Lei 8.666/1993, acrescentado pela Lei 12.349/2010, dispensa a licitação nas contratações visando ao cumprimento do disposto nos arts. 3.º, 4.º, 5.º e 20 da Lei 10.973/2004, observados os princípios gerais de contratação dela constantes. A dispensa de licitação, aqui citada, abrange as seguintes hipóteses: “a) O art. 3.º da Lei 10.973/2004 afirma que os Entes federados e as respectivas agências de fomento poderão estimular e apoiar a constituição de alianças estratégicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação envolvendo empresas nacionais, ICT e organizações de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa e desenvolvimento, que objetivem a geração de produtos e processos inovadores; b) As ICTs, na forma do art. 4.º da Lei 10.973/2004, após a fixação de prioridades, critérios e requisitos aprovados e divulgados pelo seu máximo, que garantam igualdade de tratamento entre os interessados, poderão, mediante remuneração e por prazo determinado, nos termos de contrato ou convênio: I – “compartilhar seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais instalações com microempresas e empresas de pequeno porte em atividades voltadas à inovação tecnológica, para a consecução de atividades de incubação, sem prejuízo de sua atividade finalística;” II – “permitir a utilização de seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais instalações existentes em suas próprias dependências por empresas nacionais e organizações de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa, desde que tal permissão não interfira diretamente na sua atividade-fim, nem com ela conflite”; c) A União e as entidades administrativas federais ficam autorizadas a participar minoritariamente do capital de empresa privada de propósito específico que vise ao desenvolvimento de projetos científicos ou tecnológicos para obtenção de produto ou processo inovadores (art. 5.º da Lei 10.973/2004); d) Possibilidade de contratação de empresa, consórcio de empresas e entidades nacionais de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa, de reconhecida capacitação tecnológica no setor, visando à realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento, que envolvam risco tecnológico, para solução de problema técnico específico
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