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ATIVIDADE FÍSICA NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA Bruno de Oliveira Pinheiro 2 3 AQUISIÇÃO DAS CAPACIDADES E HABILIDADES MOTORAS Neste bloco abordaremos os conceitos gerais que envolvem o treinamento de capacidades e habilidades motoras, levando em consideração suas relações de interdependência e a necessidade de adequá-las de acordo com as características de cada indivíduo, as características da tarefa em si e as características do ambiente (contexto). Além disso, veremos algumas sugestões de estilos de ensino que podem ser utilizados em diversas situações práticas com o público infanto-juvenil. 3.1 Capacidades condicionais e coordenativas durante a infância e adolescência 3.1.1 Aquisição das capacidades e habilidades motoras Para que qualquer habilidade motora (HM) seja executada, é necessária a requisição de capacidades motoras. O grau dessa requisição depende basicamente de três fatores: as características do executante, as características do contexto (meio) e as características da tarefa propriamente dita. Assim, a execução de habilidades motoras pode ser definida como uma ação motora que exige coordenação de movimentos corporais para atingir determinado objetivo e requer um comando adequado emitido pelo sistema nervoso central relacionado aos processos de contração e relaxamento dos músculos envolvidos na execução da habilidade motora em questão. Não obstante, para que o movimento seja realizado, é necessária a liberação de energia. Logo, a execução de habilidades motoras depende do metabolismo energético. Somado a esses fatores, também é necessário que o movimento atenda às requisições do contexto no qual é realizado, ou seja, que a tomada de decisão (cognitiva) seja adequada. Na realidade, só é possível considerar uma habilidade motora dentro de um determinado contexto. Portanto, a execução de habilidades motoras depende das capacidades motoras condicionais (que envolvem gasto energético), das capacidades motoras coordenativas (organização e controle de movimentos) e do conhecimento cognitivo (tomada de decisão). 3 As capacidades motoras condicionais podem ser entendidas como uma capacidade orgânica do indivíduo diretamente associada à sua capacidade de gerar energia (metabolismo energético). Já as capacidades motoras coordenativas são dependentes de mecanismos de organização e controle do movimento e estão diretamente vinculadas aos comandos de contração e relaxamento musculares emitidos pelo sistema nervoso central. O processamento cognitivo de tomada de decisão está vinculado ao contexto, sendo difícil, ou mesmo impossível, considerá-lo fora desse contexto. Exemplificando, as regras e as situações presentes em um jogo de Basquetebol (contexto) limitam as ações em determinadas habilidades motoras. 3.1.2 Capacidades condicionais durante a infância e adolescência As capacidades condicionais estão fundamentadas na eficiência do metabolismo energético dos músculos e dos sistemas orgânicos. Elas são três: a capacidade de força, a capacidade de resistência e a capacidade de velocidade. O grau de importância da força, da velocidade e da resistência pode variar de acordo com a modalidade esportiva e a habilidade motora considerada, mas, em qualquer situação, influencia o desempenho esportivo. Em virtude da elevada relação com a capacidade metabólica de liberação de energia, as capacidades condicionais são dependentes de adaptações decorrentes do treinamento e, principalmente, do processo de maturação biológica, especialmente a maturação dos sistemas neuromuscular e cardiorrespiratório. Assim, a evolução das capacidades condicionais apresenta uma relação razoavelmente linear com o processo de crescimento. Em ambos os sexos, a resistência aeróbia, medida por meio do consumo máximo de O2, absoluto (VO2máx.), apresenta uma evolução constante até os 16 anos, com o maior aumento ocorrendo na puberdade entre os 11 e os 15 anos. No caso específico dos meninos, o pico de ganho da capacidade aeróbia coincide com o pico de crescimento em estatura e massa muscular. Já nas meninas, existe uma tendência de estabilização a partir da menarca (por volta dos 12 anos). Em geral, o treinamento aeróbio é indicado, em ambos os sexos, somente após a maturação biológica, pois os ganhos obtidos com o treinamento antes do amadurecimento das funções metabólicas musculares são 4 pequenos e podem ser obtidos com o treinamento adequado das capacidades coordenativas. Do mesmo modo, a resposta aos estímulos anaeróbios de longa duração é desfavorável antes do final da puberdade, ainda que em termos relativos a criança apresente uma elevada resistência à fadiga, em geral, superior à do adulto. Na prática, isso significa que as atividades de alta intensidade e curta duração podem ser aplicadas às crianças, desde que sejam respeitados seus interesses e motivações, existam pausas adequadas de descanso e haja atenção especial com a integridade do aparelho locomotor. Em relação à força são observados aumentos graduais e constantes, do mesmo modo como foi relatado na capacidade aeróbia. Considerando as diferenças entre meninos e meninas, antes do pico de crescimento em estatura e ganho de massa muscular nos meninos, a tendência é que não existam diferenças significantes, desde que ambos tenham a mesma oportunidade de prática motora. Esse aumento gradual da força proporciona condições para uma melhora qualitativa na execução de diversas habilidades motoras, como correr, saltar, arremessar, entre outras. Portanto, a evolução dos índices de força, resistência e velocidade permanece razoavelmente linear com o aumento da idade cronológica em ambos os sexos até o início do pico de crescimento em estatura, quando ocorre uma grande evolução no sexo masculino em virtude da ação androgênica da testosterona, que, entre outros fatores, proporciona um significativo ganho de massa muscular. No caso das meninas, a maturação biológica não proporciona os mesmos benefícios encontrados nos meninos, pelo contrário, traz certa desvantagem em termos motores, associados ao aumento do percentual de gordura corporal. É possível melhorar a força muscular em pré-púberes, embora essa melhora seja atribuída não à hipertrofia, mas ao aumento de coordenação intermuscular e intramuscular, à ativação e ao recrutamento de unidades motoras e, por fim, ao processo de mielinização. Assim, os meios utilizados para o desenvolvimento da força devem oferecer os estímulos mais variados possíveis. Em vez de treinar força executando sempre a mesma série padronizada de exercícios em circuito, por exemplo, deve-se treinar utilizando materiais e estratégias variadas, pois além de melhora da força, isso proporcionará paralelamente uma melhora nas capacidades coordenativas. 5 Em ambos os sexos, devem ser enfatizados o treinamento das capacidades condicionais após a maturação biológica (final do pico de crescimento em estatura), em razão do amadurecimento das funções musculares. Por isso, é fundamental que nos estágios anteriores (especialmente na fase pré-púbere) o foco do treinamento esteja voltado para o aperfeiçoamento das capacidades coordenativas e cognitivas, e não para o aprimoramento das capacidades condicionais, que podem ser desenvolvidas de modo indireto, utilizando-se habilidades motoras com elevada necessidade de coordenação e tomada de decisão. Há pouquíssimas evidências cientificas, e as que existem são de contextos específicos, de que iniciar o treinamento específico das capacidades condicionais (força, velocidade e resistência) antes do final da puberdade resultará em índices mais elevados das capacidades condicionais na idade adulta, mesmo reconhecendo que existe uma adaptação ao treinamento das capacidades na infância. Alguns autores entendem que a flexibilidade também seriaclassificada como uma capacidade condicional. Porém, é questionável a afirmação de que a flexibilidade seja uma capacidade condicional dependente do metabolismo energético. Outros estudos permitem inferir que o músculo apresenta propriedades viscoelásticas independentes da liberação de energia para execução do movimento, e, portanto, a flexibilidade não poderia ser classificada como uma capacidade condicional. Todavia, o processo natural de enrijecimento de tendões, ligamentos e cápsulas articulares, que começa a ocorrer a partir do nascimento, são justificativas suficientes para iniciar o treinamento da flexibilidade já na infância, mantendo assim níveis ideais de flexibilidade na idade adulta. Na realidade, a execução de movimentos é inviável sem que haja flexibilidade adequada, a qual pode ser entendida como a capacidade de executar movimentos com grande amplitude de oscilação em determinada articulação; não é um fator geral, é específico de cada articulação. E é fundamental para o desempenho esportivo a flexibilidade desenvolvida de forma ideal (não necessariamente à sua máxima potência), adequada às exigências de determinado movimento. Considerando a velocidade, é importante destacar que, apesar de classificada como uma capacidade condicional, relacionada à velocidade de contração das unidades motoras, existe uma importante interferência da coordenação intramuscular e intermuscular. Na 6 realidade, para que determinado movimento seja executado velozmente, a sincronização da atividade muscular exerce um papel decisivo. Portanto, a velocidade de movimentos exige, além da capacidade contrátil de unidades motoras, uma elevada capacidade coordenativa e, ao mesmo tempo, uma elevada capacidade cognitiva de tomada de decisão diante da solicitação de determinado contexto. 3.1.3 Capacidades coordenativas durante a infância e adolescência As capacidades coordenativas servem como base para a execução de qualquer habilidade motora e são altamente dependentes de comandos emitidos pelo Sistema Nervoso Central (SNC). Pode-se considerar a coordenação motora como uma interação cooperativa do SNC e dos músculos esqueléticos, proporcionando condições para a organização e o controle de movimentos. Em função dessa rapidez no desenvolvimento, é adequado que a criança seja exposta a habilidades motoras que exijam um elevado grau de organização e controle (coordenação). São consideradas habilidades coordenativas: orientação, equilíbrio, ritmo, adaptação, sincronização e reação. A execução de qualquer habilidade motora depende de uma integração entre a informação sensorial (exteroceptiva e proprioceptiva) e a resposta eferente, ou seja, depende da integração sensório-motora. A execução diversificada de movimentos com elevada reaquisição coordenativa, desde os primeiros anos de vida, promove diferentes modos de integração sensório-motora, fato que deve ser considerado durante o processo de desenvolvimento humano, independentemente da opção pela prática esportiva. Na realidade, para uma elevada capacidade de organização e controle de movimentos, é necessária a utilização de diferentes modos de integração sensório-motora. Em outras palavras, é necessário que sejam emitidos comandos aferentes (provenientes dos órgãos sensoriais) ao SNC e, de acordo com os objetivos a serem atingidos, é enviada uma informação eferente a determinados grupos musculares. As fontes de informação sensorial são classificadas como exteroceptivas e proprioceptivas. Os órgãos sensoriais exteroceptivos (visão, audição, tato, paladar e olfato) captam informações externas ao corpo, ou seja, informações do ambiente. O 7 paladar e o olfato são irrelevantes para o desempenho esportivo, porém, é necessário que as atividades propostas exijam uma elevada necessidade de utilização da informação sensorial proveniente da visão, da audição e do tato. Por exemplo, para que uma cortada no Voleibol seja realizada, a informação visual é muito importante. O estímulo auditivo proporcionado pelo contato entre a raquete e a bola, no Tênis, pode proporcionar uma determinada resposta motora no oponente, assim como a informação visual do posicionamento da raquete e de sua velocidade de deslocamento proporciona condições de antecipar o posicionamento da bola e emitir comandos eferentes adequados ao contexto do jogo. Do mesmo modo, a informação tátil proporcionada pelo contato entre a mão e a bola durante um drible no Basquetebol gera condições para o envio de comandos eferentes necessários para a manutenção do controle da bola. Esses exemplos permitem inferir que quanto maior a capacidade de integração das diferentes fontes de informação exteroceptivas na ação motora, maior a probabilidade de sucesso na execução de habilidades motoras. Todavia, é necessário ressaltar o importante papel da experiência em determinados contextos e a participação decisiva de mecanismos cognitivos para que a decisão motora seja apropriada. Desse modo, para o treinamento adequado das capacidades coordenativas, devem ser utilizadas diversas habilidades motoras, enfatizando os diferentes modos de utilização da informação exteroceptiva, em ambientes nos quais a tomada de decisão (cognição) seja privilegiada. Além das fontes de informação sensorial exteroceptivas, para que a organização e o controle do movimento sejam viáveis, também são necessárias informações aferentes proporcionadas pelas fontes de informação sensoriais proprioceptivas – fusos musculares, órgãos tendinosos de Golgi (OTG) e aparelho vestibular. Os fusos musculares, dispostos paralelamente às fibras musculares, captam informações relacionadas ao alongameto/relaxamento muscular; os OTGS, localizados nos tendões, enviam informações sobre a contração muscular, e o aparelho vestibular capta informações sobre flutuações no posicionamento da cabeça, facilitando o controle da postura e do equilíbrio. 8 Desse modo, como qualquer habilidade motora exige contração e relaxamento de determinados grupos musculares e alterações no posicionamento da cabeça, as fontes de informações proprioceptivas fornecem continuamente informações relacionadas ao posicionamento do corpo no espaço e à velocidade com que este é deslocado, viabilizando assim a organização e o controle de movimentos. Vale destacar que quanto maior a complexidade do movimento, maior a necessidade de utilização das informações proprioceptivas. Os mecanismos de integração sensório-motora (exteroceptivos e proprioceptivos) são altamente dependentes da experiência do treinamento, daí a necessidade de variação na execução de habilidades motoras. Por exemplo, ao driblar uma bola de Basquetebol em ambiente estável e previsível, a criança provavelmente utilizará a informação visual como principal fonte de informação para organizar e controlar o movimento. Ao alterar a tarefa e solicitar que ela se desloque driblando a bola ao mesmo tempo que passa por uma corda em movimento, sem deixar que a corda toque seu corpo (popularmente conhecida como "zerinho"), diminui significativamente a utilização da visão para o controle do movimento. Ao olhar para a corda em movimento, a criança perde o contato visual com a bola, gerando a necessidade de utilização de outras fontes de informação sensorial para a manutenção do controle da bola. Além da possível utilização da informação tátil e auditiva, é notório que o ângulo de contato entre mão e bola e a velocidade com que o membro é deslocado no espaço, entre outros fatores, determina o posicionamento da bola. Assim, ao perder o contato visual com a bola, a necessidade de utilizar informações proprioceptivas (posicionamento do corpo no espaço) aumenta consideravelmente. A resposta aos estímulos com predominância coordenativa e a consequente utilização de informação sensorial, especialmente a proprioceptiva,parece ser um fator relevante para o treinamento das capacidades coordenativas. Uma capacidade ampliada de utilização das fontes de informação sensorial facilita a aprendizagem e o aperfeiçoamento dos movimentos de diferentes modalidades esportivas. Ainda que não tenha sido comprovada com o devido rigor científico, é plausível a hipótese da existência de uma continuidade no processo de desenvolvimento das capacidades coordenativas, uma vez que a falta de estímulos no momento adequado do 9 ciclo de vida poderia prejudicar aquisições futuras. Assim, o treinamento das capacidades coordenativas deve ter um caráter geral até o início do pico de crescimento em estatura (por volta dos 12 anos nas meninas e 13–14 anos nos meninos), desenvolvendo uma ampla base motora por meio da grande diversificação das habilidades motoras; a partir do pico de crescimento em estatura, deve ser enfatizado o treinamento específico das habilidades motoras (técnica) presentes em determinadas modalidades. Isso não significa que na infância não possam ser ensinadas técnicas especificas, apenas remete à necessidade de um desenvolvimento amplo da criança que vá além das limitações técnicas especificas de uma única modalidade. 3.2 Habilidades motoras no esporte infanto-juvenil Em todas as modalidades esportivas, existe a necessidade de execução de habilidades motoras. Conforme já destacado, as habilidades motoras relacionam-se com aspectos metabólicos (condicionais), coordenativos e cognitivos. Portanto, faz-se necessária a identificação da participação relativa de cada um desses fatores para que uma solicitação adequada de determinadas habilidades motoras possa ser imposta ao aluno/atleta. As habilidades motoras devem ser executadas em resposta a uma determinada solicitação, ou seja, existe a necessidade de decidir qual movimento deve ser realizado e o momento correto de realizá-lo (o que fazer e quando fazer, respectivamente). Dessa forma, fica evidente que a execução motora (técnica) correta não terá sucesso se o processo de tomada de decisão não for adequado. O sucesso na execução de determinada habilidade motora depende da ótima integração das capacidades motoras condicionais, coordenativas e do conhecimento cognitivo. Todavia, a treinabilidade desses fatores, sobretudo das capacidades condicionais, é diferenciada durante a puberdade e sofre elevada interferência do estágio de maturação biológica em que o jovem se encontra. Em contrapartida, pode ser dito que o conhecimento cognitivo depende quase exclusivamente da experiência (exposição à determinada situação de modalidade esportiva). 10 3.2.1 Interferência do conhecimento cognitivo na execução de habilidades motoras Nos esportes, a execução de movimentos habilidosos depende da contração seriada de cada músculo que compreende o movimento, assim como do julgamento apropriado do momento ideal para execução do movimento em relação às condições externas. Esses fatores determinam o tempo necessário para a execução da resposta a determinado estímulo que pode ser decomposto em duas partes: tempo de reação pré-motora e motora. O tempo de reação pré-motora corresponde ao intervalo de tempo entre a apresentação do estímulo e o início da contração muscular. Esse período representa processos centrais como percepção, tomada de decisão e condução do estímulo nervoso. Já o tempo de reação motora refere-se ao intervalo entre a primeira ativação muscular e o início do movimento, o qual só gerará a resposta motora apropriada se houver a perfeita sincronização da atividade muscular. Em um jogo de Basquetebol, por exemplo, o tempo que um jogador na fase de iniciante demora para perceber um estímulo (como o deslocamento da marcação adversária) e tomar uma decisão (por exemplo, passar a bola para o lado oposto), representa o tempo de reação pré-motora. O intervalo de tempo entre a primeira ativação muscular e o início do movimento propriamente dito (por exemplo, execução do passe) seria o tempo de reação motora. Em situação real de jogo, é impossível dividir o movimento dessa maneira (pré-motora e motora), mas é importante deixar claro que um atraso em qualquer um dos níveis pode comprometer o de desempenho do jogador. A percepção e a decisão do momento ideal para iniciar o movimento, bem como sua execução correta, devem ser treinadas com a exposição dos jovens às habilidades motoras abertas, enfatizando a variabilidade de prática e a interferência contextual, ou seja, deve haver uma diversificação na execução de habilidades motoras (variabilidade de prática) de acordo com a solicitação do contexto (interferência contextual). A importância prática do conceito de “tempo de movimento” no esporte pode ser justificada ao tomar a velocidade como um exemplo. Basicamente, a velocidade depende da frequência e da amplitude do movimento, não se relacionando apenas com a potência muscular, mas também com o processo cognitivo (tempo de reação pré- motora) e a coordenação de movimentos. 11 Um atleta considerado "mais lento" que outro, do ponto de vista da expressão neuromuscular, pode compensar essa desvantagem com maior velocidade de reação pré-motora e a consequente antecipação da resposta motora, chegando mais depressa a um determinado espaço ou à bola (ou seja, reagindo antes que o adversário). Isso significa que, ao treinar a velocidade, é fundamental a preocupação com os processos de percepção e tomada de decisão, uma vez que, em situação real, a velocidade é influenciada por todos esses fatores. Convém ressaltar, ainda, que a percepção de determinado estímulo depende do conhecimento que o indivíduo tem da modalidade, e uma lacuna nesse conhecimento pode gerar um atraso na percepção, o que acarreta o retardamento do início do tempo de reação pré-motora, e, consequentemente, maior tempo total do movimento. O conhecimento é essencial para entender a informação do ambiente de maneira apropriada e utiliza-la em padrões táticos e técnicos específicos de determinada modalidade esportiva. É plausível que, mesmo com um padrão motor consistente, um indivíduo não consiga executar a resposta desejada em razão da falta de conhecimento sobre a prática. O balanço entre conhecimento e ação varia de acordo com diferentes modalidades. Em algumas delas, especialmente as que requisitam habilidades motoras fechadas, a execução (ação) predomina. Em outras, nas quais são empregadas habilidades motoras abertas, o conhecimento cognitivo é extremamente importante, pois são necessárias decisões precisas e rápidas dentro do contexto do jogo, executando o movimento para gerar a resposta desejada, em um ambiente que está em constante mudança. Assim, as habilidades motoras abertas são executadas em ambientes instáveis e imprevisíveis, como os esportes coletivos, o Tênis e as lutas. Como as ações motoras devem ocorrer em resposta a situações inesperadas, há grande requisição cognitiva. Já nas habilidades motoras fechadas o ambiente é relativamente estável e previsível, como nos 100m rasos do Atletismo, diminuindo a necessidade de o indivíduo decidir a ação motora mais apropriada em função de situações inesperadas. Considerando os fatores cognitivos, condicionais e coordenativos presentes na execução de habilidades motoras, a seguir serão discutidas algumas estratégias de ensino-aprendizagem de habilidades 12 motoras encontradas na realidade esportiva sugeridas em algumas possibilidades de treinamento. 3.2.3 Ensino-aprendizagem de habilidades motoras no esporte De modo geral, a excelência no desempenho de habilidades motoras fechadas requer um elevado índice de capacidade condicional, fazendo que, para a obtenção de resultados a curto prazo, a criança seja submetida precocemente a umtreinamento, eliminando a interferência de instabilidades no ambiente (mínima participaçãodos processos cognitivos de percepção e tomada de decisão). Assim, o trabalho com professores competentes, que respeitam as fases de desenvolvimento da criança, é fundamental para que não sejam "queimadas" etapas em função de resultados imediatistas. Os pais, os técnicos e outros responsáveis pelo processo de formação esportiva, independentemente da modalidade, devem compreender que a infância é apenas um período inicial, de transição e preparação, que deve ter objetivos a longo prazo, e não um período no qual a conquista de títulos seja prioridade. O foco no desenvolvimento de capacidades condicionais antes do momento apropriado e a baixa participação de fatores coordenativos e cognitivos no estágio inicial de aprendizagem pode levar a um acervo motor reduzido e, consequentemente, limitar a evolução do desempenho esportivo. Considerando um alto nível de desempenho esportivo, a ação motora realizada deve ser apropriada à necessidade de determinado contexto, o que necessariamente acarreta um delicado ajuste entre mente e corpo, impossível de ser obtido apenas com a melhoria dos processos fisiológicos necessários à atividade muscular. Ainda, os estímulos que privilegiam as capacidades coordenativas, como as atividades com bolas, aros, cordas e macas propostas pela ginástica rítmica, proporcionam também um incremento de capacidades condicionais. Em outras palavras, ao lançar uma bola no ar, fazer um rolamento e segurar novamente a bola com as mãos, estão sendo requisitadas capacidades coordenativas e também as capacidades condicionais em razão do número de repetições (resistência), da sustentação do peso corporal em diferentes articulações (força) e da rapidez na execução de movimentos (velocidade). 13 3.3 Os estilos de ensino Mosston et. al. (2002) propõem em sua obra diferentes estilos de ensino, distribuídos num espectro. Nesse contexto, os autores consideram três elementos como os principais: treinador, atleta e objetivo. A relação entre esses fatores variará de acordo com uma série de processos de tomada de decisão que, inicialmente, partirão do treinador. Suas escolhas modularão, num primeiro momento, as ações subsequentes. Nesse sentido, os estilos podem, de maneira geral, ser classificados em dois grandes grupos: os diretos e os indiretos. A tabela 1 ilustra as principais características de cada grupo. Tabela 3.1 – Tipos de estilo de ensino Direto Indireto O que/ Como/ Quando Liberdade ao atleta Eficiente, objetivo Explorar, experimentar Poucas falhas de interpretação Tentar, errar, questionar Controle do grupo Demanda tempo Pouca individualidade Fase inicial do ensino Pouca criatividade Desafios Fonte: O autor. Entre os dois extremos do espectro Mosston et. al. (2002) desenvolveram os diversos estilos de ensino: Comando, Tarefa, Recíproco, Autotestagem, Inclusão, Descoberta orientada, Descoberta convergente, Produção divergente. É importante ressaltar que não existe um estilo melhor ou pior, mas sim o mais adequado para uma situação ou realidade de treino. Assim, o treinador deve dominar um amplo repertório de estilos de ensino, combiná-los e modificá-los de acordo como que acreditar ser necessário. Esse espectro de ensino representa uma graduação da distribuição da autoridade sobre o processo de ensino-aprendizagem que abrange desde uma "diretividade absoluta" (autoridade predominantemente centrada no treinador–técnico) até a indiretividade (autoridade predominantemente centrada no atleta–atleta). 14 A adoção de determinado estilo para um programa depende não só da situação de ensino específica, mas também deve atender aos fins últimos que norteiam esse programa. Dentre os fatores que podemos chamar de situacionais, incluem-se: • Comportamento do grupo; • Natureza da modalidade; • Segurança; • Tempo disponível. A seguir veremos os estilos de ensino, ressaltando qual o contexto adequado para sua utilização, o papel do treinador e o do atleta, assim como exemplos práticos de cada estilo. 3.3.1 Estilo comando (Estilo direto) O treinador é a figura central, quem toma todas as decisões necessárias (como e quando a tarefa será executada). Cabe ao atleta seguir as determinações do treinador. Nesse estilo a resposta do atleta ao estímulo do treinador costuma ser rápida e existe uma tendência à execução uniforme do movimento quando realizado em grupo, a partir do comando do treinador. A principal vantagem desse estilo é o controle sobre os participantes e a possibilidade de trabalhar com grandes grupos. Esse estilo de ensino é adequado à atividades que envolvam a repetição, especialmente em situações que envolvam a imitação (atividades do tipo "siga o mestre") e necessitem de sincronismo (aulas de ginástica em academia, dança e nado sincronizado). O treinador deve atentar para que a tarefa proposta seja adequada para o grupo, de modo que os atletas efetivamente possam executá-la. Além disso, deve existir o cuidado para a escolha do sinal de comando, de modo que este não gere desconforto aos praticantes, bem como para a dosagem do tempo de duração da atividade, a fim de que os atletas permaneçam motivados a executá-la. O treinador, com foco na aula, deve movimentar-se pelo espaço, a fim de observar e oferecer feedback individualizado quando necessário, sem interromper a atividade. 15 Exemplos práticos: • Corrida como aquecimento numa aula de Handebol: o treinador posiciona os atletas em linha e explica que, ao seu sinal, todos os atletas deverão atravessar a quadra correndo; ao chegarem ao outro lado, deverão aguardar novamente o sinal do treinador para que possam retornar ao ponto inicial. • Ensino de habilidades numa aula de Caratê: o treinador, em frente aos atletas, executa uma série de socos e chutes, e então, no ritmo da contagem do treinador, os atletas realizam o mesmo movimento. 3.3.2 Estilo tarefa (Estilo direto) O estilo tarefa também exige grande participação do treinador. Contudo, o trabalho do atleta é um pouco mais independente se comparado ao estilo anterior. O treinador elabora tarefas, especificando por quanto tempo ou quantas repetições deverão ser executadas, entretanto, quem determina o ritmo de execução é o atleta. As tarefas devem ser bem-delimitadas pelo treinador e, geralmente, são solicitadas aos atletas por meio das "folhas de tarefa", as quais devem conter a descrição dos exercícios a serem executados. O treinador, então, solicita que os atletas iniciem a tarefa e os supervisiona, oferecendo-lhes um feedback individual. A utilização desse estilo permite trabalhar com um número grande de pessoas. No entanto, é muito dependente da motivação de cada um, uma vez que os atletas não estarão sob supervisão direta do técnico em todo o decorrer da atividade. Exemplos práticos: • Ensino da habilidade arremesso: o treinador prepara a área de trabalho (uma quadra poliesportiva), criando diversas situações para que os atletas pratiquem a habilidade. Os atletas recebem uma folha, contendo a descrição de todas as situações, e após a explicação do treinador sobre como será a atividade, todos se dirigem para as diferentes estações e praticam a habilidade. Durante o tempo de prática, o treinador dirige-se aos atletas, oferecendo-lhes feedback individual. Após o término da atividade, o treinador pode, com base nas observações feitas, realizar críticas relativas ao desempenho do grupo; 16 • Circuito de habilidades: o treinador monta cinco estações de habilidades na quadra (por exemplo, saltar, rastejar, correr, pular e arremessar), e os atletas são divididos em cinco grupos. As tarefas têm cinco minutos de duração, e o treinador oferece feedback para corrigir os movimentos, caso seja necessário. Após o tempo proposto, os atletas devem trocar de estação. Como o treinador é responsável apenaspelo controle do tempo de exercício, ele tem disponibilidade para acompanhar os atletas que requerem maior atenção na aprendizagem, ou pode focar em uma habilidade específica, que demande maior atenção durante o processo de aprendizagem. 3.3.3 Recíproco (Estilo direto) O estilo recíproco atribui ao atleta maior independência em comparação aos estilos anteriores. No entanto, ainda é centrado no treinador, pois cabe a este elaborar as situações de aprendizagem e estabelecer o critério de referência do movimento, como por meio das folhas de tarefa. Os atletas são divididos em pares: um deverá executar a tarefa, e o outro, oferecer o feedback com relação à execução, baseado nos critérios propostos pelo treinador. O papel do treinador será o de oferecer assistência sobre eventuais dúvidas que possam surgir durante a execução da tarefa. Além disso, o treinador também deve iniciar a comunicação com os observadores quando necessário. Esse estilo oferece mais autonomia aos praticantes, apesar de o técnico ainda possuir o controle da maioria das decisões tomadas para a realização da atividade. É importante esclarecer aos atletas que a atividade de observação não envolve julgamento da qualidade do movimento executado, mas sim de proximidade em relação aos critérios estabelecidos pelo treinador. No decorrer da atividade, o observador pode apresentar dificuldades em oferecer feedback: nessa situação, o treinador deve aproximar-se e levá-lo a retornar aos critérios estabelecidos. Outra complicação que pode surgir refere-se ao próprio relacionamento entre os praticantes durante a tarefa. São comuns situações de conflitos de ideias entre os envolvidos que devem ser administradas pelo técnico. 17 Exemplos práticos: • Aula de Ginástica Artística: o treinador oferece aos atletas uma folha de tarefa relacionada à habilidade “parada de mãos”. Os atletas deverão, em pares, executá-la. Os pontos a serem checados pelo observador são: correção com relação à posição inicial, posição dos ombros, extensão do quadril, extensão dos joelhos, posição dos pés e posição final. • Drible do Basquetebol: o treinador mostra um vídeo com a execução correta do drible no Basquetebol, enfatiza algum movimento específico (exemplo: olhar para frente) e pede que os atletas, em duplas, executem-no: um realiza o movimento e o outro corrige os erros, de acordo com o critério estabelecido pelo treinador. 3.3.4 Autotestagem (Estilo direto) A autotestagem se assemelha muito ao estilo recíproco, no entanto, o atleta deverá desenvolver capacidade de avaliar a própria performance. Após receber do treinador a instrução sobre a atividade e a folha de tarefas (ou outra forma de medida/critério), com a descrição para a avaliação dessas tarefas, o atleta parte para a execução. Caberá ao atleta uma série de decisões, como o momento de início da prática, o número de repetições, os intervalos, o ritmo em que as repetições serão executadas e o esclarecimento de dúvidas pelo treinador. Esse estilo pode proporcionar ao atleta a possibilidade de reconhecer suas qualidades e dificuldades com relação à habilidade desenvolvida, percebendo seu potencial e seus limites. Além disso, se por um lado a independência para a decisão de diversos fatores relacionados à atividade pode despertar nesse estilo o senso de responsabilidade, por outro lado, o sucesso da atividade depende muito do empenho e do envolvimento do atleta. Exemplos práticos: • Habilidade de deslocamento na trave numa aula de Ginástica Artística: os atletas deverão transpor a trave, realizando deslocamento em bipedia, com os pés em flexão plantar, mantendo a postura correta (alinhamento de pés, joelhos, quadris e ombros), nas seguintes variações: 1) para frente; 2) para trás; 3) para 18 o lado direito; 4) para o lado esquerdo. Os atletas receberão uma folha de tarefas com os principais erros na execução dessa habilidade e, após a realização de cada exercício, deverão avaliar-se. • Atividade de arremesso na modalidade Handebol: os atletas deverão executar arremessos ao gol, tentando fazer a bola passar pelo centro de arcos posicionados na meta, em diferentes alturas. Em seguida, devem escrever numa folha os principais acertos na execução da tarefa (baseados no critério de referência estabelecido pelo treinador). 3.3.5 Inclusão (Estilo direto) O estilo de ensino inclusão tem como objetivo oferecer tarefas com níveis diferenciados de dificuldade. Nesse sentido, praticantes com diferentes níveis de habilidade ou em diferentes estágios de aprendizagem podem participar de uma mesma tarefa. Cabe ao treinador elaborar a tarefa pensando em oferecer diferentes níveis de dificuldade, assim como caberá ao atleta avaliar as situações propostas e escolher aquela que mais se encaixe no seu nível. Nesse estilo, o atleta poderá avaliar a sua própria performance e identificar se é o momento de passar para o nível seguinte. A comunicação entre o atleta e o treinador deve ser constante e podem ser utilizadas as chamadas folhas de tarefa, já mencionadas. Abordar atividades com o estilo inclusão permite ao técnico trabalhar com grupos heterogêneos e atender às diferenças entre os atletas. No entanto, o técnico deve certificar-se de que os praticantes estejam preparados para aceitar as diferenças e suas condições. Situações em que o praticante não muda o nível de dificuldade durante a atividade devem ser investigadas pelo técnico. • Exemplos práticos:Atividade de salto em distância: o treinador programa para seus atletas uma atividade na qual eles deverão saltar uma corda posicionada sobre o chão. A corda deverá estar no formato da letra V, proporcionando diferentes níveis de dificuldade. Ao saltar, o atleta opta pelo nível de dificuldade, ou seja, qual distância consegue saltar. • Habilidade de rolamento para frente: o treinador monta três estações para trabalhar a habilidade rolamento: 19 1) rolamento simples (grupado); 2) rolamento a partir de determinada altura; 3) rolamentos sucessivos. O atleta opta por qual estação pretende fazer, podendo mudar caso avalie que pode cumprir outra tarefa. 3.3.6 Descoberta orientada (Estilo indireto) O indivíduo aprende por meio do engajamento na resolução de desafios/problemas, os quais o levarão, ao final, a aprendizagem da habilidade, do conteúdo etc. Nesse estilo, o treinador busca ensinar um princípio tático (por exemplo, buscar superioridade numérica em setores da quadra ou do campo) por meio da organização de uma série de situações-problema, formada, por exemplo, por uma sequência de perguntas e respostas. A natureza da situação-problema pode abarcar conceitos, princípios, relações, causas, razões, aspectos de técnicas esportivas, táticas, estratégias de jogo, entre outros. O treinador tem o papel essencial de apresentar o problema, elaborar as questões e apresentá-las aos atletas na sequência em que permitam chegar ao objetivo. Além disso, é essencial reconhecer as conquistas dos atletas quando elas ocorrerem. Aos atletas caberá ouvir atentamente as questões, respondendo-as e tentando alcançar a resposta final. Esse estilo estimula a participação do atleta durante todo o processo. Além disso, a resolução das perguntas e do problema em si podem tornar determinado aprendizado mais significativo para o atleta. No entanto, para a utilização desse estilo, o técnico deve preparar previamente as questões para chegar à resolução do problema e estar preparado para todas as possibilidades de respostas possíveis. Assim, ele poderá conduzir as crianças ao seu objetivo com tranquilidade. Exemplos práticos: Relação entre base de apoio e manutenção do equilíbrio estático na GA (Ginástica Artística), o treinador oferece uma sequência de perguntas: a) O que é equilíbrio? b) Em quais posições da GA ficamos em equilíbrio?c) Em qual posição é mais difícil ficar em equilíbrio? 20 d) Qual a diferença entre a patada de três apoios e a parada de mãos? e) Em qual das duas posições é mais difícil ficar em equilíbrio? Conforme os atletas respondem as questões, o treinador propõe novas indagações até alcançar o objetivo da atividade. Paralelamente aos questionamentos, o treinador pode propor momentos de experiências, quando os atletas fazem tentativas buscando auxílio para chegar as respostas com "tentativas motoras". 3.3.7 Descoberta convergente (Estilo indireto) A diferença em relação ao estilo anterior é que o aprendiz avança no processo de descoberta sem nenhuma dica do profissional. A descoberta convergente trabalha com situações-problema, as quais levarão a uma única resposta correta ou a uma solução; assim, o atleta passa por diversas situações que, posteriormente, podem levá-lo a compreender o princípio comum existente entre elas. Cabe ao treinador oferecer uma situação-problema, acompanhar o atleta em seu processo de descoberta e interferir nesse processo se necessário. O atleta deverá ter a iniciativa de buscar a solução para o problema proposto. Exemplo de prática: • Braçadas no nado crawl na Natação: o treinador pede para os atletas nadarem cinquenta metros das seguintes formas: 1) Com a mão fechada; 2) Com a mão aberta e os dedos afastados; 3) Com a mão aberta e os dedos unidos. Ao término de todas as experimentações, o treinador questiona qual foi a melhor. 3.3.8 Produção divergente (Estilo indireto) A produção divergente diferencia-se da convergente porque as perguntas feitas pelo treinador podem resultar em diferentes respostas. Esse estilo estimula a capacidade cognitiva do profissional de planejar problemas para um dado tema, e, no aprendiz, provoca sua capacidade cognitiva de descobrir múltiplas soluções. Além disso, é possível 21 desenvolver em ambos a perspicácia na estrutura da atividade e descobrir as variações possíveis dentro dessa estrutura. Exemplos práticos: • Habilidade de rebater: o treinador entrega uma raquete e uma bola de Tênis para cada criança e pergunta: o que vocês conseguem fazer? As inúmeras respostas devem ser consideradas corretas e ser valorizadas pelo treinador. • Jogo de Futebol diferente: o treinador pede que, em grupos, os atletas elaborem um jogo de Futebol com regras diferentes (cobranças de lateral, faltas, número de jogadores etc.). Os atletas experimentam jogar com a nova regra. Conclusão Inúmeros fatores biológicos e ambientais têm influência direta no desempenho motor/esportivo. Se, por um lado, o conhecimento desses fatores pode proporcionar maior adequação ao processo de treinamento, por outro, permite afirmar que são diversas as possibilidades de elaboração de programas de treinamento, fato que limita a adoção de uma visão determinista. No presente bloco, foram levadas em consideração as relações de interdependência entre capacidades e habilidades motoras para apresentar propostas de treinamento. Na realidade, a execução de qualquer habilidade motora exige a participação de aspectos cognitivos e de capacidades motoras condicionais e coordenativas. Como o grau de requisição desses fatores pode variar em função da interação entre a tríade composta por indivíduo, tarefa e ambiente, é fundamental que o responsável pela elaboração do treinamento conheça a influência dessa interação na resposta ao estímulo e tenha clareza dos objetivos relacionados às diferentes etapas do treinamento a longo prazo (TLP). A execução de habilidades motoras requer a participação de capacidades motoras condicionais, capacidades motoras coordenativas e conhecimento cognitivo. O grau de requisição desses fatores depende das características do indivíduo, das características do contexto (meio) e das características da própria atividade. Considerando um processo de TLP, de modo geral, na infância deve haver maior exposição à habilidades motoras com predominância coordenativa e cognitiva. Já na adolescência, continua 22 sendo importante o treinamento de capacidades coordenativas e cognitivas, porém, de modo específico à modalidade esportiva em questão e com a preocupação adicional de desenvolvimento das capacidades condicionais. Essa sequência justifica-se principalmente em função do processo de crescimento e desenvolvimento humano, o qual é expresso a partir de uma complexa interação de fatores biológicos e ambientais. Antes de pensar sobre os aspectos relacionados à planificação, à execução (metodologias) e à avaliação de um programa de treinamento, devemos pensar numa concepção de atleta que buscamos definir por meio do treinamento infanto-juvenil. Propomos imaginar atletas competentes (que possuem habilidades para praticar o esporte), conscientes (que entendem valores, regras, rituais, tradições e ideologias da prática esportiva) e entusiasmados (que se comportam de maneira que conservem, protejam e divulguem a cultura de esporte dentro da classe, da escola e da comunidade). Descrevemos os estilos de ensino (comando, tarefa, recíproco, inclusão, auto testagem, descoberta orientada, descoberta convergente e produção divergente) que podem ser utilizados para desenvolver o conteúdo proposto no esporte infanto-juvenil. Vale ressaltar que não existe um estilo melhor ou pior, podemos avaliar os estilos com relação à adequação dele a cada situação de treino. As metodologias apresentadas podem servir como modelos, ou ideias gerais, que nos ajudarão na reflexão de nossa ação didática no treinamento (prática-teoria). REFERÊNCIAS BÖHME, M. T. S. Esporte Infanto-Juvenil. São Paulo: Phorte, 2011. MOSSTON, M. et al. Teaching physical education. São Francisco: Benjamin Cummings, 2002. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Prescrição de exercícios e atividade física para crianças e adolescentes. São Paulo: CREF4, 2018. (Coleção exercício físico e saúde; 3). E-book.