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6-Atores do Universo esportivo e mentalidade para o mundo atual-Atividade Física na Infância e adolescência

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ATIVIDADE FÍSICA NA INFÂNCIA E 
NA ADOLESCÊNCIA 
Bruno de Oliveira Pinheiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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6 ATORES DO UNIVERSO ESPORTIVO E MENTALIDADE PARA O MUNDO 
ATUAL 
É esperado do profissional de Educação Física o conhecimento e as atitudes corretas no 
momento de orientação ao aluno. Atualmente temos o desafio de compreender as 
características de uma nova geração que está conectada e muitas vezes opta por não 
praticar atividades físicas. Neste bloco serão discutidas as características dessa nova 
geração e os principais desafios para envolve-los na prática de atividades físicas e quais 
são as características que a sociedade espera de um bom treinador. 
 
6.1 A Tríade Esportiva (Pais, Professores e Alunos/atletas) 
 
Tabela 6.1 O tripé que influencia o jovem esportista: pais, treinadores e estrutura 
esportiva 
 
Fonte: O autor. 
 
Os benefícios e os malefícios do esporte são determinados pela ação desses três atores: 
pais, treinadores e instituições. 
Os pais devem ser conscientizados da importância de um trabalho a longo prazo, e de 
que não devem projetar seus próprios sonhos em seus filhos para que eles se tornem os 
campeões que os pais não foram. 
 
 
 
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Os profissionais precisam entender que sua função é formar, se o objetivo do 
profissional for o resultado precoce em competições, ele deve mudar de categoria e 
atuar com equipes adultas. 
 
6.1.1 Os pais: quais suas verdadeiras responsabilidades 
As responsabilidades dos pais de atletas são: 
• Encorajar a criança a participar da prática esportiva organizada, mas não 
pressionar a criança demais; 
• Compreender por que a criança deseja participar da prática esportiva, auxiliar no 
estabelecimento de metas realistas e ajudar a fornecer uma atmosfera que 
permita a criança atingir esses objetivos; 
• Estabelecer limites para a criança. Ensinar que o esporte faz parte da vida dela, 
mas não é a única coisa que importa; 
• Manter a vitória e a derrota em perspectiva, tanto dos pais quanto da criança; 
• Ajudar a criança a compreender e a aprender as importantes lições que a prática 
esportiva pode trazer; 
• Valorizar o ser humano acima de qualquer desempenho ou resultado; 
• Tomar cuidado para não viver a vida esportiva da criança no lugar dela, nem fazê-
la acreditar que só a amarão se ela for ótima esportista ou campeã; 
• Ser um exemplo positivo para a criança; 
• Enfatizar a diversão e o aprendizado junto com a disciplina e a dedicação 
constante, auxiliando a construir a confiança e a autoestima da criança de forma 
saudável e positiva. 
 
 
 
 
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Como você percebe o comportamento dos pais em jogos e competições de crianças e 
adolescentes na sua região? Nossa cultura valoriza a formação esportiva da criança ou 
os resultados imediatos que devem ser obtidos a qualquer custo? 
6.1.2 A influência dos pais no rendimento da criança em competições 
Os pais podem ter muita importância na qualidade das experiências competitivas de seu 
filho (BARBANTI, 1992). Essa qualidade está ligada ao tratamento que o pai confere ao 
seu filho quando ele ganha ou quando ele perde. Com base em Cozac (2001) podemos 
afirmar que o filho, em muitos casos, é uma "extensão narcísica" dos pais e este fato 
pode gerar muitas desavenças entre a família como as comparações entre um e outro, 
tanto no caso do sucesso como no caso do fracasso dos filhos. 
Latorre (2001) sugere que pressões impostas às crianças, sejam elas por qualquer 
motivo, podem dar origem ao chamado “burnout”, que é a desistência da vida esportiva 
pelo atleta-criança devido essa pressão psicológica. 
Porém, se falamos das expectativas que os familiares exercem sobre os filhos, podemos 
imaginar que esse rendimento pode ser afetado por essa possível pressão dos pais. Para 
analisarmos melhor esse problema sobre a falta de incentivo e o problema da pressão 
dos pais podemos citar Latorre (2001) que aponta algumas classificações de pais e suas 
características em relação à vida competitiva dos filhos: 
• Os desinteressados: pais que costumam se ausentar das competições do filho 
seja por desinteresse ou porque têm algo ”mais importante” para fazer. 
• Os pais "úteis": incentivam a participação dos filhos nas competições de forma 
positiva. 
• Os excessivamente críticos: sempre criticam o filho e nunca estão satisfeitos com 
seu desempenho. 
• Os vociferantes: ficam alterados durante as competições, gritam, gesticulam e 
às vezes chegam a ficar agressivos. 
• Os "técnicos": esses pais têm agem como se fossem donos do time, dão 
instruções aos atletas passando até por cima das instruções do técnico. 
• Os superprotetores: têm medo de ver seus filhos em competições por inúmeras 
razões e insegurança, sentimentos que podem ser transmitidos para seus filhos. 
 
 
 
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6.1.3 Os desafios dos treinadores 
Quando você aceita ser um treinador(a), você também aceita algumas outras coisas que 
vêm junto com esse trabalho. Segundo Wootten et. al. (2012), é preciso ter consciência 
dos seguintes desafios que você deve estar preparado para enfrentar ao longo da 
profissão: 
1. Seu sucesso depende das habilidades de outras pessoas; 
2. Treinadores são constantemente avaliados por todos; 
3. A grande maioria das pessoas acredita que já tem bastante conhecimento sobre 
esporte e sobre como ser um treinador; 
4. Entre os altos e baixos dos resultados, a presença do treinador é importante nos 
dois momentos, mas é mais relevante nos momentos de fracasso, pois esses têm 
consequências psicológicas prejudiciais ao desempenho dos atletas; 
5. Um treinador tem um relacionamento muito pessoal com seus atletas e isso 
pode ter um impacto enorme na vida desses esportistas; 
6. O sucesso é baseado no paradoxo de desenvolver as habilidades dos indivíduos 
e, logo depois, levar esses mesmos indivíduos ao sacrifício pelo bem estar de 
toda a equipe. 
 
6.1.4 As instituições esportivas 
O objetivo das instituições esportivas é garantir à criança e ao adolescente uma 
formação de qualidade para que no futuro eles tenham a opção de se tornar atletas de 
alto nível (se houver talento, intenção e estrutura esportiva) ou indivíduos que 
pratiquem o esporte como lazer ou atividade física. 
Algumas normas podem ser adotadas para que a formação seja o objetivo central das 
competições nas instituições: 
• Aumentar o intervalo entre uma competição e outra; 
• Reduzir as medidas das instalações e dos materiais para a prática; 
• Alterar o regulamento e as regras dos campeonatos; 
• Limitar as inscrições possibilitando que participem somente atletas do mesmo 
nível esportivo. 
 
 
 
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6.2 A prática esportiva junto das novas gerações da era da tecnologia: caminhos 
possíveis 
Vivemos numa época sem precedentes na história. Os avanços da tecnologia nos 
trouxeram a uma realidade que jamais imaginaríamos quando éramos crianças. E a 
mudança está aí para a vida de todos nós, não apenas dos nossos jovens. 
Claro que a tecnologia é incrível e nossa juventude está tendo oportunidades que 
nenhuma outra geração teve, mas quais as ramificações disso? Quais as influências e 
as consequências de tantas mudanças ao longo do processo de maturidade e o que 
acontecerá com nossos alunos e atletas quando eles forem adultos? Quais mudanças 
dentro do universo esportivo e na nossa tradicional metodologia de ensino e 
aprendizagem esses avanços tecnológicos trarão? 
Mais do que nunca, crianças precisam de nossa ajuda, e para ajudá-las a crescer só 
existe um caminho possível: aprender sobre as novas demandas, nos adaptarmos às 
novas necessidades e assumir o compromisso de rever nossas crenças, se for preciso, 
de modo a também sermos capazes de participar ativamente desse momento de 
transição da humanidade. 
Não é preciso estar pronto, é preciso apenas estar disposto a aprender, ensinar e 
crescer como nunca. 
6.2.1 As gerações através dos tempos 
• Baby Boomers (1946-1954);o Boomer II (1955-1965) – 49 milhões de pessoas; 
• Geração X (1966-1979): 
o Geração que teve maior acesso à educação até então – 26% com 
bacharelado; 
o Com a melhora na educação, as famílias se formaram com maior 
 
 
 
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cautela – 41 milhões de pessoas. 
• Geração Y – Echo Boomer (1979-1995) 
o Geração com maior diversidade racial; 
o Expansão dos canais a cabo, satélite, internet – 71 milhões de pessoas. 
• Geração Z – Millenials (1996 a atual) e Centenials 
o Primeira geração a crescer constantemente conectados. 
▪ A geração X viu a tecnologia nascer; 
▪ A tecnologia viu a geração Y nascer (filhos cresceram com pais de outra 
geração); 
▪ A geração Z são os chamados Nativos Digitais (iY). 
6.2.2 Desafios: 
• Os jovens de hoje são muito fechados. Estamos acompanhando o 
crescimento de uma geração egocêntrica; 
• Essa é a primeira geração que não precisa de adultos para obter informações. 
Um grande problema se mostra cada vez mais presente: com tanta informação à 
disposição, se torna difícil escolher quais informações são de fato relevantes 
(capacidade seletiva será uma habilidade fundamental nos próximos anos), 
aumentando o risco de uma pessoa se distrair facilmente com coisas sem importância 
(reduzindo a produtividade) ou, ainda pior, sofrer de ansiedade e estresse com o 
excesso de informação. 
Porém, talvez ainda não tenhamos tomado total consciência de que educar as novas 
gerações no mundo atual significa não somente prepará-los para o mundo que 
encontrarão ao sair da escola, do clube ou das turmas que participam (um mundo que 
conhecemos muito bem), mas também para um futuro próximo no qual a tecnologia 
estará ainda mais poderosa, de maneiras que talvez ainda nem possamos 
 
 
 
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compreender. 
Ano após ano as ferramentas tecnológicas vão ficando menores, melhores, mais 
rápidas, mais acessíveis e serão usadas por todos. Por causa do uso desses dispositivos, 
os comportamentos sofrerão ainda mais mudanças e professores, treinadores, 
escolas, clubes e instituições de ensino terão que se adaptar a isso. Com um futuro já 
tão próximo de tantas mudanças, como os professores poderão preparar seus alunos 
para o futuro a longo prazo? E como, num mundo de mudanças tão intensas, 
conseguiremos preservar a importância do legado de nosso passado? 
Essa não é uma questão simples. 
Mas, os especialistas estão em consenso sobre um assunto: o caminho para que 
tenhamos sucesso sob condições singulares na história não é apenas focar nas 
mudanças da tecnologia, mas enxergar a concepção de aprendizado de uma nova 
forma. Jovens estudantes precisam focar em utilizar as novas ferramentas, 
encontrando informação, sendo seletivos, buscando significado e aumentando a 
criatividade. 
Adultos, professores e treinadores devem manter o foco, saber realizar 
questionamentos, guiar a nova geração, fornecer contexto, garantir significado e 
garantir especialmente qualidade nos resultados. Esse é um novo conceito chamado 
de aprendizagem em parceria. É o que propõe Marc Prensky (1946-) em seu livro 
Teaching Digital Natives: Partnering for real learning (2010). 
Nosso modelo educacional ainda segue, na maioria dos casos, modelos convencionais 
de gerações anteriores, onde o papel do professor é palestrar, falar e explicar, 
enquanto o aluno escuta, toma notas, realiza leituras e memoriza informações que 
teoricamente usará somente no futuro: é o modelo de instrução direta. Porém, esse 
modelo tem se tornado ineficaz. A reclamação número um dos alunos hoje em dia é a 
de que os professores falam demais e que não entendem do que eles precisam. E a 
resposta mais comum deles é simplesmente se desligarem, se desconectarem do 
momento presente. Nossos estudantes estão ali, mas não estão nos ouvindo mais. 
 
 
 
 
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6.2.3 A geração tecnológica: juventude digital 
Segundo o pesquisador Tim Elmore (2015), as novas gerações são mais: 
• Experimentais; 
• Participativas; 
• Orientadas por imagens; 
• Conectadas; 
• Com atividades físicas reduzidas. 
Elmore chama de Geração iY a geração Z. Essa é uma geração de nascidos após os 
anos 2000, que já nasceram e estão crescendo on-line com ipods, iphones, ipads, 
icloud, i-tunes etc. 
• 90% usam e-mail, pelo menos ocasionalmente; no perfil médio, 20% da 
geração X e 10% dos boomers usam; 
• Forte senso de comunidade local e global: acreditam em fazer parte de algo 
para construir um mundo melhor; 
• São mais conscientes quanto à saúde, à sociedade, à economia e ao meio 
ambiente; 
• Gostam de trabalhar com stakeholders (parceiros), clientes e empregados; 
• Consideram-se cidadãos do mundo: são menos patrióticos que as gerações 
anteriores e possuem uma mentalidade mais global; 
• Valorizam a diversidade, são contra injustiças sociais e buscam igualdade e 
sustentabilidade; 
• São empreendedores. É uma geração que viu o crescimento de Steve Jobs 
(1955–2011, Apple) e Mark Zuckenberg (1984–, Facebook); 
 
 
 
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• Por conta das crises da última década, têm a ideia que um trabalho não é 
para a vida toda. Adoram buscar suas próprias oportunidades; 
• Enviam mais de 100 mensagens por dia; 
• Sua atenção se dispersa em cerca de 8 segundos; 
• Estão conectados 73% do tempo que estão acordados; 
• 88% são extremamente próximos dos seus pais; 
• 76% estão preocupados com o impacto humano sob o planeta; 
• 77% deles acreditam que um negócio deve “fazer o bem” como missão 
central; 
• 55% se sentem pressionados pelos pais para ter uma experiência 
profissional cedo; 
• 74% adorariam trabalhar por conta própria; 
• Metade terá educação de nível superior (comparados com 1/3 dos millenials); 
• São preocupados com a própria privacidade – 42% estão compartilhando 
menos informações do que há 2 anos; 
• Gastam mais de 7,5 horas do dia em frente às telas; 
• 9 entre 10 se sentem otimistas em relação ao futuro; 
• 65% se preocupam com a economia de forma geral. 
6.2.4 Maturidade artificial 
A geração Z, ou iY, ou ainda, geração selfie, segundo Elmore (2015), é uma geração que 
cresce rapidamente para dois sentidos opostos: 
De um lado estão crescendo muito rapidamente quanto à interação com a 
tecnologia, de outro estão crescendo como uma geração muito mais imatura 
 
 
 
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emocionalmente do que as gerações anteriores, o que significa que desenvolvem 
muito lentamente, ou sequer desenvolvem suas habilidades emocionais e sociais. 
A questão é que eles são expostos precocemente à informação desde muito cedo em 
suas vidas, porém estão sendo hiperprotegidos de modo a não experimentarem 
situações reais que já estariam prontos a viver e enfrentar, como questões de 
comportamento, responsabilidades, interações, obrigações e desafios. Desse modo 
estão amadurecendo muito mais tarde que as gerações anteriores. 
Estando prontos, mas não sendo expostos às situações de amadurecimento, caem 
no que se chama maturidade artificial. 
Ao invés de preparar nossas crianças para a vida adulta, estamos permitindo que eles 
permaneçam infantis por mais tempo. 
Podemos facilmente observar entre nossos alunos, filhos e familiares jovens de 18 
anos com a mesma mentalidade de adultos de 28, e adolescentes de 15, 16 anos com 
o desenvolvimento emocional e o comportamento de pré-adolescentes. Na prática, 
estamos vivendo tempos nos quais somos ótimos protetores, mas péssimos 
preparadores. Estamos mais protegendo que preparando. 
Qual a consequência disso na vida adulta? 
Quando o jovem atinge a maioridade no mundo atual, conquistando uma liberdade 
que talvez ele não esteja pronto para usufruir, o que pode acontecer? Ficam confusos 
em relação ao que significa ser adulto. 
Precisamos dar a nossos jovens, de maneira deliberada, sabedoria para seguirem 
amadurecendo. 
6.2.5 Consequências no mundo atual 
A geração de hoje não é diferente em desejos e sonhos das gerações anteriores. Eles 
também crescem desejando salvar o mundo e fazer a diferença.Essa é uma geração 
muito coparticipativa, cheia de vontade e ideias, mas quando as coisas começam a ficar 
difíceis, elas desistem e fogem. 
 
 
 
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A diferença é que essa geração está menos disposta a sacrifícios. Eles querem 
encontrar saídas e soluções, mas de preferência em algum website. Qualquer solução 
que não venha através de um link da internet parece complicada demais. 
Nossas habilidades humanas continuam sendo as mesmas, mas como nós podemos 
desenvolvê-las talvez precise ser revisto. 
Com a utilização dos dispositivos eletrônicos, e muitas crianças utilizando o celular 
em demasia, perde-se muito da relação cara a cara. As relações e interações sociais 
se empobrecem e o desenvolvimento das habilidades provenientes dessas 
interações está decrescendo. 
Isso significa que o gerenciamento das emoções fica empobrecido e até mesmo 
simpatia e empatia deixam de ser desenvolvidas. Assim como outras habilidades 
importantes, como paciência, tolerância, persistência, resiliência, compaixão, 
competitividade, altruísmo e enfrentamentos. 
Os jovens de hoje têm grande dificuldade em manter uma conversa difícil ou discutir 
opiniões divergentes. Até mesmo as paqueras adolescentes sofrem com isso, pois 
nossos jovens não conseguem interagir como as gerações anteriores. 
6.2.6 Consequências no mundo esportivo 
Antigamente hierarquias eram respeitadas. A criança respeitava o pai, a mãe, os 
professores. Hoje, a criança tem dificuldade em reconhecer hierarquias e enxerga nos 
adultos pessoas “camaradas”, como se fossem da mesma idade que ela. 
Como as crianças são menos expostas a situações reais, acabam sendo pouco 
desafiadas a seguir crescendo. Isso assusta muito as crianças quando elas vêm para o 
esporte competitivo. A criança cria uma relação ruim com o fracasso e com os próprios 
erros, de modo a evitar ao máximo cometê-los. E isso dificulta o processo de 
aprendizagem e desenvolvimento. 
Muito tempo de tela está associado a maior queda da performance acadêmica, 
aumento de problemas com o sono, obesidade, problemas de comportamento, 
aumento da agressividade e baixa autoestima. 
 
 
 
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6.2.7 Como treinar as novas gerações: sugestões de abordagens 
A seguir veremos algumas sugestões para lidarmos com essa nova geração: 
a) Orientação para os pais: 
• Levar a criança à exposição deliberada do mundo adulto conduz ao processo 
de amadurecimento que passa a não ser mais automático como antes; 
• Desenvolver clareza do que desejam desenvolver em seus filhos, pois esses 
valores e habilidades humanas precisam ser treinados como músculos; 
• Traçar estratégias para desenvolver essas habilidades nas crianças. Exemplo: 
levar a criança em uma festa e deixa-las interagir com adultos, fazer um 
intercâmbio cultural; participar de viagens com grupos da mesma faixa etária 
sob supervisão etc.; 
• Criar gaps nos momentos de transições de vida do jovem. Exemplo: trabalhar 
um pouco antes de ir para a faculdade; expor a criança à situações de 
evolução da maturação social e emocional que ela irá enfrentar; 
• Orientar o equilíbrio em relação ao tempo de tela com tempo de interações 
não-virtuais: para cada hora que a criança passar na tela (celular, 
computador, games etc.) ela deve passar o dobro cara a cara com pessoas, 
desenvolvendo suas habilidades sociais e amadurecendo sua inteligência 
emocional, o que a tecnologia não será capaz de fazer por elas; 
• Permitir que as crianças errem mais, vivenciem o fracasso e aprendam com 
isso. Não superproteja a criança. É preciso não confundir o que é doloroso do 
que é prejudicial. A vida real sempre terá algum tipo de dor. Você não 
poderá evitar que a vida machuque o sentimento das crianças às vezes. Nem 
tudo que é doloroso é prejudicial. Claro que queremos protegê-los, mas é 
preciso ensiná-los como navegar pelos mares dolorosos da vida, e prepará-
los para, inevitavelmente em algumas situações, enfrentar as consequências 
 
 
 
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do erro e lidar com o fracasso. Deixe-os experimentar por conta própria e 
supervisione, permitindo falharem, seja na escola, no esporte, na vida. 
Quando isso acontecer, ajude-os ativamente orientando sobre o valor dos 
erros, a necessidade de se desenvolver e tentar de novo, a busca pelo 
aprendizado e crescimento e a importância de persistir e se tornar uma 
pessoa resiliente. 
b) Orientação para treinadores: 
• Não minta sobre o potencial da criança, pois isso impedirá o processo de 
explorar o verdadeiro potencial dela; 
• Vivemos em um tempo de hipérboles. Tendemos a ver o mundo de forma 
exagerada, e assim exageramos também. Somos exagerados em nossas 
palavras, em nossa escrita, nossas mensagens e dizemos palavras como 
“show”, “demais”, “massa”, “incrível”, “sensacional” muitas vezes. E fazemos 
isso com nossos alunos e atletas também, especialmente com os iniciantes. 
Dizemos: “Puxa, isso foi incrível”, quando na verdade tudo o que eles fizeram 
foi um ato com pouco esforço envolvido. Exageramos nos elogios e acabamos 
contribuindo para a construção de uma imagem distorcida deles mesmos. Claro 
que eles são importantes e especiais. Mas, usar demais essas hipérboles faz 
com que cresçam e depois comecem a questionar nosso julgamento. Se você 
diz muito “você é demais”, mas ao entrar numa equipe ou grupo ninguém mais 
diz isso, eles começam a se questionar com o tempo. 
c) Guarde essa reflexão: 
• Nossas crianças não se tornam desiludidas a menos que antes tenham sido 
iludidas. É muito útil e coerente continuar a amá-los intensamente, mas se 
mantenha verdadeiro e honesto. Fale mais abertamente sobre seus talentos 
ou falta de alguma habilidade; 
• O momento de agir assim é no início quando as expectativas são menores e as 
consequências não são graves. Na vida adulta as consequências serão muito 
 
 
 
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mais duras e podem chegar a ser devastadoras; 
• Há um fenômeno no mundo atual chamado de “quarter-life crisis”. Nós que 
somos mais velhos crescemos ouvindo falar da “crise da meia-idade”, mas, essa 
nova geração enfrenta uma nova crise. São jovens em torno de 25 anos de 
idade que estão procurando psicólogos, psiquiatras e terapeutas porque têm 
dificuldade em lidar com o fato de ainda não terem encontrado o emprego 
perfeito, nem o parceiro perfeito, nem se tornaram bem-sucedidos ou 
milionários. Eles estão assim porque têm tanta expectativa sobre si mesmos 
que não atingir suas metas (as quais vêm carregadas de ilusão) os deprime, 
entristece e os deixam perdidos muito cedo, se chocam com a realidade da vida 
e com a busca por resultados reais em diferentes áreas. Eles se comparam com 
seus colegas e isso agrava o sentimento de pressão e aumenta muito a 
ansiedade. 
• E como transformar uma crise em uma situação positiva? Mais uma vez, 
exercitando e desenvolvendo sua inteligência emocional. 
• Foque e valorize mais os esforços e menos os resultados. 
• Lembre-se que para desenvolver excelência é preciso primeiro desenvolver a 
pessoa, planejar o processo e observar os resultados. Não caia na armadilha 
cultural de nossa sociedade que valoriza apenas os resultados, por isso 
pressiona a pessoa e esquece ou desvaloriza o processo. 
• O sucesso ou o fracasso de uma equipe no seu desempenho esportivo não são 
indicadores da sua qualidade enquanto pessoa. No máximo você vai precisar 
rever e reajustar seu processo, mas nunca associe caráter com desempenho. 
• Desafie seus atletas a serem “monotarefas”, não multitarefas. Incentive-os a 
perseguirem uma meta importante e focar nela; 
• Promova acampamentos esportivos para seus atletas, com jovens da mesma 
idade, e monitore as atividades para que desenvolvam habilidades humanas 
em suas dimensões físicas, cognitivas, sociais e emocionais. Reduza o tempo e 
 
 
 
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coloque limites no uso de tecnologias, favorecendo as relações interpessoais; 
• Adote o dia off-line da semana com seus atletas: um ou dois dias por semanaem que estarão totalmente desconectados. Afaste-se tempo suficiente para 
que sua consciência sensorial aumente. Quando você reduz tempo de tela, 
volta a desenvolver maior sensibilidade das coisas a sua volta. Você passa a 
aumentar sua capacidade de solucionar problemas cognitivos; aumenta a 
consciência emocional, social e espiritual. 
6.3 Reflexões sobre a Formação de um bom Treinador 
A competição pode trazer à tona o melhor em nós, mas também pode trazer o pior. 
Normalmente ouvimos muitas histórias de equipes e competições adultas, mas a 
iniciação esportiva e as competições iniciais não estão imunes aos mesmos problemas. 
Você já deve ter visto pais gritando com os oficiais de quadra, com os treinadores, com 
o adversário e muitas vezes com seus próprios filhos. Não acontece o tempo todo, mas 
vezes suficientes para que nos deixem preocupados com a formação da criança. 
Isso normalmente acontece porque o lema “o importante é vencer”, que pode até fazer 
algum sentido em níveis adultos de competições voltadas ao alto rendimento, não faz 
sentido nas idades iniciais. 
Sua filosofia de trabalho precisa realinhar essas perspectivas (que muitas vezes são 
culturais), ser capaz de fornecer informações sobre o real valor e as reais possibilidades 
do esporte para a criança e trazer valores inegociáveis que coloquem sempre o indivíduo 
em protagonismo, nunca o resultado. 
Ao trabalhar com crianças na fase de iniciação e formação esportiva, a missão das 
crianças precisa ser aprender a modalidade escolhida, adquirir e aprimorar as 
habilidades específicas necessárias e aumentar sua compreensão sobre as regras, as 
técnicas e as táticas do esporte. 
Sua abordagem, portanto, deveria desenvolver o esportista em sua totalidade física, 
mental, emocional e socialmente. 
 
 
 
 
 
 
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Segundo Machado (2013): 
 
No contexto do treino o treinador não se limita ao seu papel de ensino, tem 
sido um poderoso agente social (BRITO, 2001). Ele não só estrutura a prática 
ou as aprendizagens afetando os jovens nas suas percepções de competência, 
nas suas motivações, nos reforços que comprometem a informação ou a 
avaliação correspondendo ao desempenho específico realizado como a 
realizar a posteriori. O treinador é um elemento que maximiza de forma 
deliberada a prática, as aprendizagens e as habilidades dos seus atletas de 
forma a ser o melhor predictor do sucesso dos seus jovens facultando as 
ferramentas e as fontes necessárias (SALMELA, 1996). Cabe-lhe a ele preparar 
o contexto para potenciar o desempenho desportivo. (...) O Treinador tem o 
papel de ser um “facilitador” de aprendizagens, tem de ser um 
“proporcionador” de ambiente para as aprendizagens, um “estruturador” das 
tarefas mais adequadas para a aquisição de conhecimentos, de ser um 
“formador” de atletas e de cidadãos. (MACHADO, 2003, p.1). 
 
6.3.1 Atributos do treinador de base 
1. Conhecer sobre treinamento na infância e juventude; 
2. Conhecer o esporte no qual se propõe a trabalhar; 
3. Conhecer as fases de desenvolvimento da criança e do adolescente e ter claro 
em que fase seus alunos/atletas estão; 
4. Desenvolver uma filosofia de trabalho clara, com valores compartilhados 
com pais, com os atletas e com a instituição na qual trabalha; 
5. Ser apaixonado por auxiliar no desenvolvimento esportivo e humano de seus 
alunos/atletas; 
6. Ter mais do que a vitória em mente e valorizar o ser humano acima do seu 
desempenho; 
7. Enfatizar em seus programas de treinamentos a melhora contínua, o 
desenvolvimento das competências para a modalidade escolhida e a 
motivação para buscar a excelência em todos os níveis de participação 
esportiva; 
8. Incluir habilidades emocionais e sociais além das habilidades técnicas em 
seus planejamentos; 
9. Ser um exemplo positivo de comportamento, de mentalidade e de 
representação de valores nobres; 
 
 
 
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10. Ser flexível e paciente; 
11. Manter o senso de humor. A aprendizagem precisa ser prazerosa e divertida. 
E mesmo com toda a disciplina envolvida é possível manter a leveza no 
processo. Mas nunca faça humor à custa de nenhuma outra pessoa ou 
adversário. Apenas aprecie os momentos à medida que forem surgindo; 
Segundo Santos (2008), para incentivar a prática e evitar o desinteresse da criança, é 
preciso: 
• Privilegiar a aprendizagem das técnicas; 
• Propor exercícios multifacetados; 
• Proporcionar uma prática divertida e estimulante; 
• Orientar para uma motivação intrínseca; 
• Estimular a autoestima; 
• Dar maior importância ao processo do que ao resultado; 
• Valorizar as atitudes constantes (ensino); 
• Transmitir valores associados à prática desportiva para uma continuidade a 
longo prazo. 
• Diversificar o treino; 
• Definir os objetivos da prova e do treino; 
• Fornecer imediatamente o feedback da prova e dos treinos; 
• Criar um clima de confiança entre a equipe; 
• Elaborar atividades paralelas ao calendário competitivo. 
 
6.3.2 Dez elementos-chaves para ser um excelente treinador 
Você já viu os atributos de um treinador de base. Se você tiver esses atributos, estará a 
caminho de ser um bom treinador. Mas há outras características que vão além do básico. 
E quando você somar esses atributos básicos com as próximas características, você 
estará no caminho da excelência: 
• Como atributo básico você precisa conhecer a modalidade que pretende 
trabalhar. Aqui você irá dedicar em se aprofundar no universo dessa 
modalidade no seu cenário local e nacional (e até internacional); 
 
 
 
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• Planeje toda a sua temporada com a criança ou adolescente e todas as suas 
sessões de treino; 
• Conduza práticas efetivas: quando você realiza o planejamento de sua sessão 
você já tem um bom caminho percorrido, porém há uma grande diferença 
entre ter um plano e conduzir esse plano de forma efetiva. Um mesmo 
planejamento executado por treinadores diferentes vai causar efeitos 
diferentes nos atletas; 
• Fortaleça a comunidade em torno do seu trabalho: Além de se comunicar 
com os alunos e atletas você também se comunica com os pais, familiares, 
outros treinadores, oficiais, representantes de instituições etc. Portanto, 
você precisa compreender muito bem estratégias para uma boa 
comunicação e os mecanismos de fortalecimento de uma comunidade; 
• Prepare-se efetivamente para sua conduta nas competições. Há uma grande 
diferença no comportamento do treinador durante os treinos e nas 
competições. Tente imaginar tudo o que pode acontecer e defina como você 
desejaria reagir a essas situações. Isso irá fazer uma enorme diferença na 
construção de seu perfil perante sua comunidade; 
• Tenha muito claro o que é sucesso dentro do seu trabalho. Se você não irá 
trabalhar com porcentagens de derrotas e vitórias, você precisa ser capaz de 
definir o que de fato é importante ser desenvolvido e quais serão os 
indicadores que demonstrarão que o planejamento foi totalmente cumprido 
e o desenvolvimento atingido; 
• Mantenha sempre a perspectiva de todas as pessoas envolvidas em sua 
comunidade esportiva. Pessoas diferentes possuem diferentes razões para 
estar envolvidos na prática, da mesma forma que razões diferentes levam à 
evasão desses indivíduos. Manter isso claro vai possibilitar a realização de 
uma mediação positiva e vai aumentar sua capacidade de contribuição com 
todos os envolvidos; 
 
 
 
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• Com isso em mente, desenvolva os objetivos da equipe e de cada criança. 
Ensine suas crianças a desenvolver prioridades, a acompanhar suas próprias 
metas e a descobrirem o que é preciso desenvolver para atingi-las; 
• Crie seu código de ética, desenvolva valores positivos e uma mentalidade 
forte. Exemplo: 
• Respeite sempre seus amigos e seus treinadores; 
• Respeite seus adversários; 
• Dedique-se 100% a cada atividade que fizer; 
• Treine duro, treine junto, treine com alegria; 
• Treine cada dia como se fosse a competição etc. 
 
REFERÊNCIAS 
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Esporte. Anais. São Paulo: EEF/EEFE, 1992. P.26-33. 
COZAC, J. R. “Sociointeracionismo”. Revista do Professor. Teorias que embasam o 
comportamento lúdico da criança, v. 17, n. 66, abr./jun. 2001. 
ELMORE, T. Generation iY: secrets to connecting with today’s teens & young adults in 
the digital age. Atlanta: Poet Gardener Publishing, 2015. 
MACHADO, S. “Tema: motivação do treinador”. In: Blog Soraia Machado, 2013. 
Disponível em: <http://tiny.cc/qipq8y>. Acesso em: jun. 2019. 
MATVEEV, L. P. Preparação Desportiva. São Paulo: Livraria Aratebi, 1995. 
PRENSKY, M. Teaching Digital Natives: Partnering for Real Learning. California: Corwin 
Publishers, 2010. 
LATORRE D.L.S. Influencia de la familia en el deporte escolar. Revista Educación Fisica 
y Deportes, v. 40, p. 7, 2001. 
SANTOS, S. O abandono precoce do desporto pelos jovens e a motivação subjacente 
para continuar. Efdeportes.com, Buenos Aires, ano 13, n. 127, dez. 2008. Disponível 
em: <http://tiny.cc/4fhq8y>. Acesso em: 6 jun. 2019. 
WOOTTEN, M; et. al. Coaching basketball successfully. Champaign: Human Kinetics, 
2012.

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