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AULA 05

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HISTÓRIA DE ISRAEL 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Roberto Rohregger 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Uma nova era iniciou-se para a nação judaica. Apesar de voltarem a ficar 
sob o domínio de uma nação estrangeira, mantinham seu território e estrutura 
religiosa com uma relativa liberdade, pelo menos por um breve período. Esse 
momento foi de muitas transformações religiosas, pois várias vertentes de 
interpretação dos livros sagrados surgiram, e algumas até se opunham, muitas 
descontentes da subserviência de Israel a um governo pagão e até de oposição 
ao templo. 
Muito do mundo social e administrativo passou a ter influência direta de 
Roma, que influenciava a sociedade judaica, além da pesada cobrança de 
impostos e taxas tanto para o templo quanto para o governo romano. 
Esse período de paz escondeu um caldeirão de insatisfação, e bastou 
uma pequena fagulha para explodir toda a ira entre a população. As revoltas 
judaicas contra Roma – e muitas vezes contra a própria administração judaica – 
levaram a uma derrocada total da nação judaica, culminando na destruição do 
templo em 70 d.C., e algum tempo depois levaria à grande diáspora judaica, e 
essa nação deixaria de existir. 
TEMA 1 – TRANSFORMAÇÕES RELIGIOSAS 
A religião judaica, no seu desenvolvimento, já vinha sofrendo algumas 
transformações, como a construção das sinagogas, um elemento novo na cultura 
religiosa e social. Durante o domínio romano, algumas instituições e estruturas 
religiosas se consolidaram, e outras se transformaram. Grupos religiosos 
disputavam interpretações das escrituras diferentes e, por vezes, conflitantes. 
Ao contrário do que se possa pensar, o judaísmo da época estava longe de ser 
um conceito unânime. 
De forma geral, a estrutura física mais estabelecida para as reuniões 
religiosas eram as sinagogas e o templo. Havia inúmeras sinagogas, porém 
apenas um templo, e ambas eram instituições totalmente distintas. Conforme o 
relato bíblico, o primeiro templo foi construído por Salomão, como uma estrutura 
que sucederia ao tabernáculo (1Rs: 5-8). O templo em Jerusalém permaneceu 
do século X a.C. até sua destruição pelos romanos em 70 d.C. 
Podemos afirmar que o templo era o centro não somente da vida religiosa, 
mas também da vida econômica e política de Jerusalém e da Judeia. De certa 
 
 
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maneira, o templo também funcionava como tesouraria, onde se depositavam os 
fundos nacionais e do próprio templo, como também dos bens da classe rica 
local do exterior; e todos tinham interesse na estabilidade político-econômica e 
religiosa da região. Os sacerdotes acabaram consolidando sua posição como 
intermediários entre os romanos e a população, dado que estes costumavam 
desagradá-la (Boring, 2016, p. 151-152). 
A sinagoga teve um papel extremamente importante. Era um lugar de 
oração, onde a comunidade se reunia durante o Sabbath e nos demais dias 
festivos e santos. Também servia como a escola local onde as crianças 
aprendiam a Torá. 
Dessa forma, constituía-se um centro comunitário, onde os membros 
poderiam se reunir para discutir assuntos de interesse comum além dos 
religiosos. Também era muitas vezes o local onde a comunidade assava os pães 
sem fermento e para socializar (Stambaugh; Balch, 1996, p. 42-43). 
Nas cidades ou povoados de população predominantemente judaica, 
a vida cível era regida por um conselho de anciões (presbíteros) ou 
conselheiros, todos eles judeus. O poder destes anciões em matéria 
religiosa deve ser entendido como análogo à autoridade que exerciam 
nos assuntos civis. Desempenhavam o papel de juízes também nos 
assuntos religiosos e provavelmente a eles competia pronunciar a 
sentença de excomunhão ou exclusão da comunidade, a qual impedia 
a pessoa de participar na reunião da sinagoga. (Mateos; Camacho, 
1992, p. 25) 
A sinagoga proporcionava um senso de pertencimento, de união e 
facilitava contatos, contribuindo para que as necessidades fossem conhecidas e 
houvesse apoio de uns com os outros. Quando um judeu chegava em 
determinada cidade onde houvesse uma comunidade judaica, ele poderia 
receber apoio na sinagoga para suas necessidades. Dessa forma, a sinagoga 
fortalecia o sentimento de instituição de um povo separado e especial 
(Stambaugh; Balch, 1996, p. 42-43). 
O cânon das escrituras judaicas ainda não estava fechado; isto é, não se 
falava numa quantidade limitada de livros que comporiam a Escritura. Havia uma 
compreensão dos principais livros sagrados, o Pentateuco, os profetas e os 
escritos, mas não um cânon, até porque muitos livros posteriormente não 
entraram para a lista, mas eram utilizados como escrituras e considerados 
importantes. Aliás, alguns livros citados no Novo Testamento não entraram para 
o cânon judaico posteriormente. 
 
 
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Os livros das Escrituras Hebraicas foram aceitos gradualmente como 
obrigatórios (autoritativos) e em alguns casos forma integrados a 
diferentes coleções de escritos sagrados, […] entretanto, processos de 
cópia começaram muito tempo antes que os livros obtivessem status 
autoritativo, também denominado de canonização. (Tov, 2017, p. 21) 
Outro aspecto importante sobre as transformações religiosas era a 
expectativa da vinda do Messias, sempre orientada para o futuro e fundamental 
para a maioria dos judeus. Esperava-se pelo cumprimento final dos desígnios de 
Deus para Israel e para todo o mundo. 
Na época de Jesus, do cristianismo primitivo, muitos judeus expressavam 
sua crença de tal forma que incluíam a ação futura de Deus em conjunto com a 
figura de um salvador enviado e capacitado por Ele (Boring, 2016, p. 181). 
entre os judeus que esperavam por tal libertador futuro, divinamente 
enviado, havia muita variação da maneira com que eles concebiam e 
articulavam essa esperança. Não havia um conjunto apenas de 
crenças sobre o Messias. Havia dois tipos principais: (a) a espera por 
uma figura deste mundo, um ser humano autorizado e habilitado por 
Deus, representando a esperança escatológica e profética, e (b) uma 
figura transcendente, um ser celestial que entraria com ímpeto neste 
mundo, representando a esperança apocalítica. (Boring, 2016, p. 181) 
Vários grupos faziam parte desse conjunto da estrutura teológica e 
religiosa. Os mais importantes são estes: 
 Escribas: indivíduos com muito estudo e conhecimento que se 
dedicavam ao estudo e à instrução da Lei. Interpretavam e ensinavam as 
leis de Moisés; 
 Fariseus: considerados rabinos (mestres), eram responsáveis pelo 
ensino da Talmud; 
 Saduceus: não criam na ressurreição dos mortos. Eram formados pela 
elite judaica; 
 Sumo sacerdote: mais alto posto religioso. Coordenava o culto e os 
sacrifícios. Presidia o Sinédrio (assembleia sacerdotal); 
 
 
 
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Figura 1 – Representação de um sumo sacerdote 
 
Crédito: Elias Aleixo, 2021. 
 
 
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 Essênios: seita que rompeu com a estrutura do sistema político-religioso 
do templo. Eram extremamente zelosos com a observação da Lei. Os 
mais radicais sustentavam que o templo e o culto não estariam purificados 
porque o sacerdócio seria ilegítimo. Também divergiam do calendário 
religioso do templo. Sua maioria vivia em comunidades retiradas, muitas 
à margem do Mar Morto; 
 Zelotas: corrente formada por nacionalistas fanáticos, organizados em 
grupos clandestinos que opunham resistência ao domínio do Império 
Romano; 
 Samaritanos: habitantes da região da Samaria que não eram 
considerados puramente judeus. Desde a invasão assíria, instalaram-se 
na região colonos de outras nações, porém boa parte seguia as 
orientações da Torá. Mesmo assim, os judeus os consideravam hereges 
e evitavam se relacionar com eles. 
Era nesse caldeirão político-religioso que a sociedade israelita vivia, com 
uma grande diversidade de interpretações religiosas e de expectativas libertárias 
que conduziam os diversos grupos religiosos. 
TEMA 2 – PERÍODO NEOTESTAMENTÁRIO 
Foi uma época
bastante agitada. Sob o governo de Roma, a Palestina 
tornou-se palco de diversas revoltas e movimentos messiânicos que almejavam 
a libertação. Boa parte da administração local estava diretamente sob os olhos 
de Roma, e algumas das suas instituições eram facilitadores para os indivíduos 
e as instituições. 
É importante entendermos como funcionavam algumas instituições 
políticas e legislativas do período. 
2.1 Lei Romana e lei local 
Cidadania: à medida que o império e a autoridade romana se difundiam 
mais pelo mundo mediterrâneo, um dos meios pelo quais recompensavam e 
cooptavam a lealdade dos povos dominados eram as concessões de cidadania 
romana. 
 
 
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A cidadania romana implicava a responsabilidade de servir as legiões do 
exército, além do privilégio de um voto nas assembleias populares romanas e da 
plena proteção da Lei Romana e isenção da maioria das taxas. 
2.2 Formas de adquirir a cidadania romana 
• A mais simples: nascer de pai romano. 
• Ser cidadão de uma cidade estrangeira que tivesse se concedido 
globalmente como franquia romana. 
• Algumas cidadanias poderiam ser concedidas a classes aristocráticas, 
como governante de determinada cidade ou províncias. 
• Recompensa a serviços prestados. 
• Soldados não cidadãos serviam como auxiliares quando davam baixa 
oficialmente, em geral depois de 25 anos de serviços. 
• Escravos libertos por donos cidadãos também recebiam direitos limitados 
de cidadania, e seus filhos, depois da emancipação, eram considerados 
cidadãos plenos (Stambaugh; Balch, 1996, p. 25). 
2.3 Legislação e jurisdição 
As leis que regulamentavam atos criminais tinham estabelecido tribunais 
especiais de júri para ouvir julgamentos sob categorias específicas: adultério, 
falsificação, assassínio, suborno e traição. Estes costumavam ser crimes dos 
ricos e poderosos. 
• Para tratar de outros tipos de comportamento, o magistrado competente 
tinha o poder de determinar qual era o comportamento legal, de acordo 
com o parecer de um conselho. 
• Dentro de uma província, o governador se envolvia somente em casos 
mais sérios, que implicassem ordem pública. Assuntos jurídicos menores 
eram deixados nas mãos dos oficiais locais, que continuavam a observar 
os velhos sistemas de cada cidade ou reino em particular. 
• Na Judeia, portanto, o Sinédrio e o sumo sacerdote continuaram a 
observar e sancionar a lei mosaica escrita na Torá e podiam esperar que 
as autoridades romanas reconhecessem seu direito de fazê-lo 
(Stambaugh; Balch, 1996, p. 26-27). 
 
 
8 
2.4 Penalidades legais 
 Na Lei Civil Romana, o réu convicto estava sujeito a pagamentos 
monetários ou a punições retaliatórias que podiam incluir até a morte. Sob 
o principado (governo dos césares), magistrados policiais tinham muitas 
liberdades de ação ao decidir punições, e usava-se uma grande variedade 
de penalidades, ainda que não fossem consistentes. 
 As penalidades impostas depois da comprovação do crime variavam 
segundo a disposição ou juízo do magistrado e seu conselho. 
 Uma penalidade relativamente leve era a multa. 
 Prisão não era punição em si, mas uma mera detenção antes do 
julgamento ou da execução da sentença. Uma grande detenção era o 
exílio, geralmente guardado às classes mais altas, para uma ilha ou a uma 
cidade remota por período indefinido, geralmente pelo resto da vida do 
condenado. 
 Em casos mais graves, ou se o réu fosse de classe mais baixa, poderia 
ser vendido como escravo ou condenado a trabalho forçado nas minas 
pelo resto da vida ou mandado à arena dos gladiadores. 
 Antes de ser despachado, era batido duramente com um flagellum, um 
chicote com amarras de pedaços de osso ou metal (Jesus foi flagelado 
com esse instrumento). 
 A crucificação em geral se reservava a escravos e prisioneiros perigosos 
de guerra, embora fosse aplicada a cidadãos de tempos em tempos. 
 A lei judaica era muito específica sobre a imposição de punições. A Lei de 
Moisés especificava surra com chicotes para certos crimes sexuais e 
permitia aos juízes impô-la também para outras ofensas, até no máximo 
40 golpes (Dt. 25:2-4). 
 A forma tradicional de pena capital era o apedrejamento, prescrita para 
idolatria, feitiçaria e adultério. Não fica claro se os romanos permitiam às 
autoridades judias condenar à morte, embora num caso se sancione uma 
espécie de linchamento legalizado: uma inscrição no templo advertia 
claramente que qualquer gentio – incluído cidadão romano – que violasse 
a área sagrada estava sujeito à morte imediata por apedrejamento 
(Stambaugh; Balch, 1996, p. 29-30). 
 
 
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TEMA 3 – DINASTIA HERODIANA 
3.1 Herodes, o Grande 
Herodes destronou a dinastia asmoneia em 37 a.C. e passou a governar 
a Palestina com o apoio do Senado de Roma por meio da influência de Marco 
Antônio. Apesar da sua forma dura de governo, Herodes realizou grandes obras 
públicas e contribuiu muito para desenvolver a Judeia. Construiu um grande 
anfiteatro e continuou as obras do templo de Jerusalém. Também construiu a 
cidade de Cesárea. 
Porém, por sua origem não judaica e pelo modo de vida gentio, Herodes 
não era bem visto pelos israelitas, apesar de ter alguns círculos judaicos 
alinhados a seu regime – identificados como herodianos. Esse grupo era 
formado por funcionários e boa parte das personalidades da Galileia, além da 
própria corte real e de todos que se beneficiavam indiretamente da administração 
de Herodes (Mateos; Camacho, 1992, p. 42). 
Para Roma, a principal obrigação de Herodes, além de manter a região 
como Estado-tampão e zelar pela paz interna, era pagar o substancioso tributo 
anual para o Império, o que era feito pela cobrança das mais diversas taxas e 
impostos dos cidadãos judeus. 
A partir da perspectiva do sucesso político e econômico, o título 
“Herodes, o Grande” se justificava. Herodes manteve boas relações 
com seus superiores romanos, especialmente Otávio/Augusto, e 
enviou seus filhos Alexandre e Aristóbulo a Roma a fim de serem 
educados e preparados para a futura liderança. Na Palestina, contudo, 
Herodes governava com intriga e terror, eliminando brutalmente 
qualquer suspeita de oposição política. Assassinou algumas de suas 
esposas e alguns filhos a quem considerava ameaças em potencial”. 
(Boring, 2016, p. 132) 
Herodes morreu em 4 d.C., deixando a sucessão ao trono em aberto, o 
que gerou disputas entre seus filhos, solucionadas pelo imperador Augusto, que 
negou o título de rei aos filhos de Herodes e dividiu o território entre eles. 
O território norte e leste do mar da Galileia ficou sob administração de 
Felipe, que se portou como um típico governador vassalo, construindo um templo 
em homenagem a Augusto na cidade de Banias, que em seguida a renomeou 
para Cesareia de Felipe. Herodes Antipas – o conhecido “Rei Herodes” dos 
Evangelhos – foi o governador da Galileia e da Pereia. Seu título oficial era de 
tetrarca, que significa “príncipe” ou “governador”. 
 
 
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Herodes trouxe um grande avanço à região, construindo novas cidades e 
palácios. Já Arquelau ficou como regente de Judeia, Samaria e Idumeia, parte 
central do reino de seu pai, e se mostrou o menos competente dos filhos de 
Herodes. Sua administração foi tão ruim e suas medidas foram tão opressivas 
que uma delegação judaica foi a Roma e persuadiu Augusto a substituí-lo 
apenas dez anos após assumir. Dessa forma, seus territórios formam colocados 
sob a administração direta de Roma. 
TEMA 4 – REVOLTAS JUDAICAS 
Uma das primeiras grandes revoltas judaicas ocorreu quando, no ano 6 
d.C., o censo realizado na Judeia colocou todo residente sob a autoridade fiscal 
e legal de Roma, desencadeando o movimento revolucionário que teve como 
principal liderança Judas Galileu. Ao lado de seus seguidores, defendia que a 
aceitação do julgo romano se oporia às convicções religiosas fundamentais da 
fé judaica, identificando que a submissão a um governo pagão feria o preceito
de adoração ao Deus único, e que deveriam resistir tanto à introdução de 
imagens romanas quanto às reivindicações dos imperadores romanos de ser 
adorados como divindades. Judas e seus seguidores elaboraram ataques ao 
forte romano de Séforis, mas foram derrotados; Judas foi morto, e seus 
seguidores, dispersos. 
O historiador Flávio Josefo indicou ao fariseu Zadoque a fundação do 
movimento zelota, que pregava a luta armada contra os opressores romanos. 
Outro personagem revoltoso foi Teudas, rebelde judeu do século I d.C., que 
aparece descrito em Atos 5:36: “Porque antes destes dias levantou-se Teudas, 
dizendo ser alguém; a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o 
qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a 
nada”. 
Teudas era um pregador messiânico que se proclamava como profeta. 
Seu movimento não obteve sucesso, sendo morto em torno de 45 d.C., segundo 
o historiador Josefo, por uma guarnição romana. Seus seguidores também foram 
dispersos. 
Outro líder, denominado o egípcio, apareceu em Atos 21:37-38: 
37 Pouco antes de ser levado para dentro da fortaleza, Paulo solicitou 
ao comandante: “Tenho permissão para te dirigir a palavra?” Então, o 
comandante lhe indagou: “Falas a língua grega? 38 Não és, 
porventura, o egípcio que há algum tempo deu início a uma revolução 
 
 
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e levou para o deserto quatro mil terroristas armados?” 39 Ao que 
Paulo declarou: “Sou judeu, cidadão de Tarso, cidade de grande 
importância na Cilícia. Peço-te que me consintas falar ao povo.” 
Ele se intitulava profeta e afirmava que, depois de proferir algumas 
palavras, os muros de Jerusalém cairiam por terra. O procurador Félix atacou a 
ele e seus seguidores. 
A grande revolta que iniciou a derrocada de Israel se deu no fim do reinado 
de Nero, em torno de 66 d.C., apesar de se iniciar sem grande alarde. Um 
procurador romano retirou 17 talentos do tesouro do templo. Com o objetivo de 
protestar e zombar dele, uma parcela da população saiu às ruas com cestos, 
encenando uma coleta para atender as supostas necessidades do procurador, 
que se indignou com essa ação e mandou prender e executar alguns dos 
responsáveis. 
Essa ação acabou desencadeando uma revolta violenta na rua, obrigando 
o procurador a fugir para Cesareia. A revolta assumiu um caráter extremamente 
amplo, e as tentativas de apaziguamento dos sacerdotes e fariseus foram inúteis. 
Os fariseus e alguns sacerdotes que buscavam reconciliação com o apoio de 
tropas enviadas por Herodes Agripa II foram vencidos e expulsos da cidade, e 
os rebeldes incendiaram o palácio de Herodes, a casa do sumo sacerdote e 
ocuparam a fortaleza Antônia. Ananias, um dos sumos sacerdotes, foi 
assassinado. 
A revolta se espalhou rapidamente para outras cidades, chegando a 
Alexandria. A resposta de Roma foi rápida e radical: a Décima Segunda Legião, 
composta de dois mil homens, foi ao monte Scopus, ao norte do monte das 
Oliveiras; percebendo que não tinham tropas nem equipamento suficiente para 
sufocar a rebelião, retiraram-se após uma emboscada. 
Em 67 d.C., durante a primavera, Nero repassou a direção da guerra 
contra os judeus para Vespasiano. Os revoltosos haviam conquistado a maioria 
da população, dividiram o país em distritos militares, com assembleias e chefes. 
Vespasiano acionou três legiões da Síria e uma quarta, alocada no Egito, para 
marchar contra Israel. 
Iniciando seu ataque pela Galileia, Vespasiano tomou cidade após cidade, 
numa campanha de dois meses. Durante a investida, a situação em Jerusalém 
se degradava; havia um confronto de oposição entre os zelotes e os chefes da 
resistência. Vespasiano aproveitou essa guerra interna para tomar territórios em 
torno de Jerusalém. 
 
 
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Em 68 d.C., tomou toda a Pereia, depois Antipátrida, Lida, Jânia, Nabus 
e Jericó. Em torno de junho, começaram os preparativos para atacar Jerusalém 
(Saulnier; Rolland, 2002, p. 91-93). 
TEMA 5 – O CERCO E A QUEDA DE JERUSALÉM 
As tropas romanas avançaram a Jerusalém para acabar com o levante 
judaico e tomar a cidade santa. No início da primavera de 70 d.C., o general Tito 
finalizou a concentração de suas tropas em volta da cidade, que se dividiu 
internamente em três facções: o templo e os arredores, dominados por João de 
Giscala; o centro da cidade, com Simão bar Goria; e Eleazar, entrincheirado no 
pátio do templo. Essa divisão das forças judaicas prejudicou muito a defesa da 
cidade, e os conflitos internos impossibilitaram uma resistência real contra os 
romanos: Jerusalém não estava preparada para enfrentá-los. 
No período da Páscoa, Eleazar propôs uma trégua e abriu o acesso ao 
templo; João aproveitou para atacar o local com seus partidários e matou 
Eleazar. Tito, por sua vez, atacou as muralhas em três pontos diferentes, 
conseguindo atravessar os muros da cidade e, ao mesmo tempo, impedir que a 
população fugisse da cidade. 
No ataque final, o templo foi incendiado, e os revoltosos, dominados. Além 
da destruição de grande parte da cidade e do templo, muito ouro e outros objetos 
sagrados foram levados pelos romanos. Os líderes da resistência, João e Simão, 
foram feitos prisioneiros. A partir daí o templo se fechou, dado que o nível de 
destruição não permitiria nenhuma celebração no local. Com a impossibilidade 
dos sacrifícios, os sacerdotes perderam suas funções, e seu declínio também 
implicou uma extinção progressiva do partido saduceu. 
Porém, ainda havia focos de resistência em três fortalezas: Maqueronte, 
Herodium e Massada. As duas primeiras renderam-se com bastante facilidade, 
porém a terceira apresentou uma resistência feroz (Saulnier; Rolland, 2002, 
p. 92-93). 
5.1 A queda de Massada 
Após a tomada de Jerusalém, os romanos começaram a reconquistar as 
áreas sob domínio rebelde. As fortificações judaicas Herodion e Maqueronte 
foram rapidamente tomadas. Massada foi deixada para o procurador Flávio. 
 
 
13 
Flávio marchou em direção a Massada com a Décima Legião. Para evitar 
a fuga dos rebeldes, construiu uma muralha de três quilômetros de extensão, 
circulando a montanha. Para acessar a fortaleza, foi construída uma rampa que 
alcançou 100 metros de altura. Finalmente, em abril de 72 d.C., as tropas 
tomaram a fortaleza. Porém, ao chegar ao seu interior, depararam-se com uma 
cena horrível: havia apenas dois sobreviventes; todos os demais haviam se 
suicidado. Antes do suicídio coletivo, queimaram todos os edifícios que 
compunham a fortaleza. 
Massada havia sido construída por Herodes, o Grande, entre 37 a.C. e 
4 d.C., como parte de um sistema de defesa e refúgio em caso de guerra. 
A imagem a seguir mostra onde ficava a fortaleza de Massada: 
Figura 2 – Fortaleza de Massada 
 
Crédito: Framalicious/Shutterstock. 
Massada foi o último foco de resistência da revolução judaica contra 
Roma. Pela bravura e pelo posicionamento dos judeus que se mantiveram e 
resistiram às tropas de Flávio, ela é considerada um símbolo do heroísmo 
judaico. 
 
 
 
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NA PRÁTICA 
Pudemos estudar a reestruturação da nação judaica, que, mesmo sob o 
domínio de uma nação estrangeira, manteve sua fidelidade, cultura e 
religiosidade. Essa valorização das raízes possibilitou aos judeus se manter 
como um povo com identidade em comum, mesmo nos períodos mais críticos. 
Apesar das divergências religiosas, a fidelidade judaica estava no cerne 
do seu povo e de seus princípios básicos. Ainda que essa mesma fidelidade 
desencadeasse muitas revoltas, ao mesmo tempo manteve a unidade do povo 
judeu em todas as situações de crise no decorrer de sua história. Sem essa 
fidelidade, talvez o povo judeu não tivesse se mantido como nação, mesmo 
quando não tinha seu próprio território. 
FINALIZANDO 
Israel entrou na era do domínio de Roma, um período de grandes 
mudanças sociais, políticas e religiosas. Apesar da paz momentânea em Israel, 
um governo estrangeiro pagão sempre representou
um problema para a 
sociedade judaica, que, além dos pesados tributos, precisou lidar muitas vezes 
com a insatisfação religiosa. 
A religião judaica se organizou e se estruturou, porém surgiram vertentes 
e grupos com novas concepções e interpretações dos livros sagrados, dado que 
a população não estava satisfeita com a política, e os tributos pesados eram uma 
grande carga. Os enfrentamentos religiosos também causaram profundos 
confrontos, e as alianças da elite religiosa com o governo romano também 
descontentavam a nação. 
Outro fator que trouxe vários problemas foi o messianismo, uma fonte de 
enfrentamento à opressão romana, com base numa visão religiosa radical da 
soberania divina e da ação de Deus para livrar Israel da opressão. Porém, o 
exército romano era uma potência extremamente difícil de derrotar, e a liderança 
judaica sabia que qualquer subversão seria esmagada por Roma, o que também 
poria em risco a estrutura de poder dos líderes religiosos, de certa maneira 
mantida pela vigilância do exército romano. 
Ao fim de várias revoltas, Israel tentou se libertar de Roma, mas foi 
subjugado, o templo foi destruído, e a nação, brutalmente enfraquecida. 
Mas este não é o final de sua história. 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BORING, M. E. Introdução ao Novo Testamento: questões introdutórias do 
Novo Testamento e Escritos Paulinos. Santo André: Academia Cristã; Paulus, 
2016. 
MATEOS, J.; CAMACHO, F. Jesus e a sociedade de seu tempo. São Paulo: 
Paulus, 1992. 
SAULNIER, C.; ROLLAND, B. A Palestina no tempo de Jesus. São Paulo: 
Paulus, 2002. 
STAMBAUGH, J. E.; BALCH, D. L. O Novo Testamento em seu ambiente 
social. São Paulo: Paulus, 1996. 
TOV, E. Crítica textual da Bíblia Hebraica. Rio de Janeiro: BV Books, 2017.

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