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HISTÓRIA DE ISRAEL AULA 6 Prof. Roberto Rohregger 2 CONVERSA INICIAL A nação judaica estava fragmentada, e o domínio romano se impôs de forma dura após a revolta que levou à destruição do templo. Mas essas ações somente provocaram uma nova revolta, um povo que estava praticamente desprovido de suas raízes estava sendo destituído também de sua fé. A revolta de Barkocba foi a gota d’agua para que Roma destituísse totalmente a nação judaica, provocando uma fuga em massa dos judeus para outras regiões, onde as dificuldades iriam se apresentar de forma avassaladora. Os judeus se espalham por boa parte da região do oriente, influenciando e sendo influenciados pelos povos dos locais onde iriam habitar. A ascensão do Islamismo foi um fato marcante na história da humanidade, uma nova religião e um novo império estavam se constituindo. Os judeus tiveram algumas dificuldades nesse período, porém nenhuma grande perseguição fora realizada pelos muçulmanos contra os judeus, ao contrário, viriam a sofrem muito mais pelas mãos dos ocidentais durante as cruzadas. Veremos que, com o passar do tempo, os judeus espalharam-se pela Europa e depois para as Américas. Mantêm sua cultura e fé, mesmo em locais que acabam se misturando com os povos da região. Porém, o preconceito, assim como os falsos mitos sobre a história dos judeus, levava-os a sempre serem vistos como estrangeiros e prejudiciais à nação na qual se encontravam. Com raras exceções, sempre sofreram perseguição e tiveram que fugir de cidades ou até de países. O ápice da perseguição e do antissemitismo se deu na Alemanha durante a tomada do poder pelos nazistas, onde conduziram o holocausto judeu de forma terrível. Após a Segunda Guerra Mundial, ficou claro que os judeus precisavam de um território e que a região da Palestina deveria ser esse local. Porém, os árabes já viviam nesse local há muito tempo e a solução encontrada não satisfez as nações ao redor. A longa saga para a volta à terra prometida estava acabando e o Estado de Israel estava formado, porém a paz ainda está para ser alcançada. TEMA 1 – A REVOLTA DE BARKOCHBA Após a destruição do templo no ano 70 d. C., houve um período em que não houve maiores manifestações dos judeus contra Roma, pelo menos até a 3 época de Trajano. Porém, em 115 d. C., alguns motins tiveram início com várias intervenções bastante radicais pelo exército romano. A série de eventos que levou à revolta liderada por Bar Kochba e à queda de Betar começou no ano de 117 da era comum, quando o então governador da Síria, Adriano, tornou-se soberano do Império Romano. Quando assumiu o trono, prometeu aos judeus liberdade e tolerância religiosa. Mais do que isso, garantiu que lhes daria permissão para reconstruir Jerusalém e restaurar os serviços religiosos no Templo. Mas, em pouco tempo, Adriano provou que suas promessas haviam sido apenas palavras vazias, mudando de maneira dramática sua política em relação aos judeus. (Morashá, 2001, p. 1) Uma nova revolta inicia-se em 132 d. C. na Palestina, porém não existem muitas informações a respeito dos motivos por falta de documentação. Apesar de não haver evidências maiores sobre o motivo da rebelião, alguns pesquisadores supõem que o estopim possa ter sido a proibição da circuncisão estipulada por Adriano, impondo a pena de morte àqueles que não obedecessem a essa norma. Além disso, havia uma possível concepção por parte de Adriano de fundar uma colônia romana onde estava Jerusalém. De fato, a reconstrução de Jerusalém seria nos moldes de uma cidade romana, e o templo seria dedicado à adoração de Júpiter. Além disso, a atitude de Adriano com as medidas restritivas anunciadas, entre elas a proibição do estudo da torá, a prática do Shabat e da circuncisão devem ter sido o estopim da revolta. Porém, o fato histórico que se tem maior certeza é que o chefe da revolta, Simão Bar-Kosba, se intitulava príncipe de Israel e havia sido reconhecido como messias pelo rabi Akiva. Foi Rabi Akiva quem mudou o seu nome para Bar Kochba, que significa “filho de uma estrela”. O sábio acreditava que Bar Kochba tinha potencial para se tornar redentor do povo, se agisse corretamente e se rendesse aos desejos Divinos. Dizem os estudiosos, no entanto, que Bar Kochba não correspondeu às expectativas de Rabi Akiva. Sob o aspecto militar, no entanto, Bar Kochba foi um grande comandante. (Morashá, 2001, p. 1) Dessa forma, proclamou a independência do estado judeu. Moedas foram cunhadas com os dizeres "Primeiro ano da redenção de Israel". A Reação romana foi extremamente pesada, o general, Sexto Júlio Severo, comandando dez legiões, iniciou o enfrentamento aos rebeldes. Em 135, Severo finalmente encurralou bar Kokhba em Betar, seis milhas a sudoeste de Jerusalém. Foi o fim do "Filho da Estrela" e da terceira revolta judaica. 4 No fim da guerra, a Judeia estava devastada. Centenas de milhares de judeus morreram lutando, de fome ou por doenças. Prisioneiros judeus abarrotavam os mercados de escravos. Jerusalém foi reconstruída de acordo com o projeto do imperador, recebendo o nome de Élia Capitolina. Os judeus ficaram também proibidos o ensinamento da Torah e a ordenação de novos Rabinos (Saulnier; Rolland, 2002, p. 94-95). TEMA 2 – NOVAS DIÁSPORAS Após a terceira revolta judaica, Israel já não existia mais como uma nação. Após a guerra, muitos judeus acabam migrando ou são levados como escravos e o povo acaba se espalhando pela região, primeiro uma migração pela Galileia, Babilônia, que já tinha algumas comunidades judaicas antigas e pela Síria. Cabe salientar que a saída da terra prometida foi um grande trauma para o povo judeu, que está vinculado com a questão religiosa, como salienta Topel: Ao longo da História o povo judeu criou um padrão em relação à Terra. Prometida ou terra-mãe, a Terra de Israel, expresso na chegada ao território para sacralizá-lo, seu abandono – geralmente causado por expulsões com o consequente exílio doloroso – e o retorno que traria consigo a redenção do povo judeu e da humanidade. Estas três etapas: o desmantelamento do centro em Jerusalém, isto é, o afastamento do centro religioso-político; a separação em comunidades distintas umas das outras no seio de sociedades alheias; e o aprendizado da estrangeiridade são momentos apresentados pelos profetas como um desígnio divino. (2015, p. 338) Essa migração, na verdade, já havia se iniciado depois da destruição do Templo no ano 70 a. C., que fez com que muitos judeus acabassem migrando para a Ásia Menor, para a África e uma parte para a Europa. O exílio foi tão marcante e longo na história de Israel que, já na Babilônia, os judeus se organizaram de modo tal a ter um líder político ao qual deram o nome de exilarca. Descendente da casa de Davi, o exilarca, além de organizar os assuntos internos da comunidade, como educação, arrecadação de impostos e nomeação de juízes, era reconhecido pelas autoridades persas como o representante oficial da comunidade judaica do lugar. (Topel, 2015, p. 340) Normalmente se compreende três diásporas judaicas; a egípcia, que é apresentada no livro do Antigo Testamento em Jeremias 41: 17 e 42: 18, comum volume que aumentou muito sob o governo de Alexandre, o Grande e seus sucessores. Outra grande diáspora foi a da Babilônia, onde muitos dos descendentes judeus permaneceram e formaram uma colônia significativamente 5 grande. Entretanto, a maior diáspora dos judeus ocorreu depois de 130 d. C. O termo diáspora é utilizado para referir-se às colônias judaicas que se estabeleceram em outros locais fora da região de Israel (Champlin, 2001, p. 141). Figura 1 – Principais rotas e locais de assentamentos judaicos das diásporas judaicas durante o século 1 e 2 d. C. Créditos: João Moreira. Com relação à comunidade judaicada Babilônia, esta começou a declinar no século 9 d. C, contribuindo para a migração dos judeus para outras partes do mundo. Uma parte ruma para o Norte da África, na região da atual Argélia, para o Marrocos, até para o Saara ocidental e para a Mauritânia. Formaram assentamentos nos locais dominados por tribos dos berberes, que eram guerreiros exímios; também se juntaram aos mouros que se dedicavam ao comércio, ao artesanato e à ciência. Em decorrência dos mouros estarem em franca expansão pela Espanha, muitos judeus acabaram acompanhando-os, estes ficam conhecidos como sefaradins, nome que tem origem de Sefarad, “Espanha” em hebraico. Acabam gerando uma língua própria, o ladino, que emprega vocábulos hebraicos e o espanhol medieval. (Szklar, 2017, p. 1). 6 TEMA 3 – ERA ISLÂMICA Um novo desafio se estabelece para a comunidade judaica, agora espalhada ao redor do mundo conhecido, a ascensão do Islamismo. Inicialmente, os conflitos entre os judeus e islâmicos não ocorrem e estes acabam convivendo de forma respeitosa por um grande período. O Islamismo tem seu surgimento com o profeta Maomé. Nascido em Meca, antiga cidade do santuário conhecido como Ka’ba, uma cidade importante e politeísta. A família de Maomé fazia parte de um poderoso clã local, os Hashim, associados à federação Kuraish. Seus pais vieram a falecer pouco tempo após seu nascimento e Maomé foi criado por seu tio. Casa-se com uma viúva de posses aos 24 anos, desenvolve-se como um próspero mercador. Segundo a tradição, ao completar 40 anos, Maomé sente-se impelido por uma poderosa força por meio de uma série de experiências místicas que o levam a crer que está sendo chamado para proclamar a verdade do Deus único e supremo, Alá, palavra árabe que significa “O Deus”. (Toropov; Buckles, 2006, p. 161-162). Após 12 anos de pregação sobre a revelação que havia recebido, a quantidade de seguidores restringe-se a alguns familiares e outros poucos da localidade, sendo que Maomé acaba enfrentando uma forte e violenta resistência do povo local, colocando a vida de Maomé em perigo. Em decorrência desses fatos, Maomé, junto com os seus seguidores em 622, foge da cidade, indo se estabelecer em Yathrib, hoje conhecida como Medina. Esse movimento ficou denominado como a Hegira (êxodo) do profeta. Em pouco tempo, a mensagem de Maomé foi acolhida em Yatrib, cujo líderes tribais estavam em guerra, e acabam acolhendo Maomé como seu líder. Após alguns anos, Maomé havia atraído muitos seguidores. Nesse período, ocorre uma série de conflitos entre Meca e Medina. Em 630 d. C., após a acusação de rompimento de acordo, Maomé reuniu um exército e ataca Meca, capturando-a em pouco tempo. Durante esse ataque, Maomé decretou o fim da idolatria em Meca e destrói o todos os ídolos que estavam alojados na Ka’ba. A captura de Meca por Maomé permite o início do Estado Islâmico, sendo que logo após a consolidação dessa vertente religiosa, em 632 d. C., Maomé morre. O Islamismo, mesmo depois da morte de Maomé, se consolida e mesmo após algumas divisões e correntes de pensamento que divergiam uma das outras em alguns pontos da doutrina implantada por Maomé, a religião se 7 expande, muito em decorrência da expansão militar dos seguidores do Islã (Toropov; Buckles, 2006, p. 163). Porém, apesar da ação militar, é importante salientar que não havia restrições contra os povos de outras religiões, tanto com os judeus quanto aos cristãos, ao contrário, visto que a base comum entre as três religiões era fundamental para uma convivência harmônica. O fundamental é salientar que desde o início da pregação de Maomé, houve em suas revelações conteúdos favoráveis a judeus e cristãos, ou seja, uma preocupação em se justificar que o Islã era a confirmação da tradição monoteísta de Abraão, e de assegurar que a nova revelação não veio para anular as anteriores, mas sim para confirmá- las. Na prática este caráter favorável deu origem ao princípio de coexistência confessional, quando se estabeleceu o pacto referido acima, numa convenção entre os diferentes grupos de Medina. (Oliveira, 2016, p. 22) Os judeus acabam sendo mais bem aceitos que os próprios cristãos nesse momento, inclusive os judeus acabavam sofrendo maiores dificuldades com os cristãos do que com o Islã. Havia alguma restrição como, por exemplo, os impostos, que eram maiores para os não muçulmanos de forma geral, mas nada especificamente contra os judeus. Em determinado momento, servem de ponte entre os muçulmanos e a Europa cristã. TEMA 4 – OS JUDEUS NA EUROPA E A AURORA DA EMANCIPAÇÃO De forma geral, os judeus acabaram se espalhando por praticamente toda a Europa, encontrando dificuldades de instalar-se em vários locais. O preconceito contra um povo que não tinha mais uma terra representava um peso grande. Apesar dos judeus em vários locais acabarem mesclando-se bem com a cultura e o povo local, sempre eram vistos como estrangeiros, e não pertencentes a terra onde estavam habitando. Na Europa medieval, ocuparam principalmente a região da Península Ibérica (Portugal e Espanha). Antes do ano 1000, tinham liberdade religiosa e influenciaram o desenvolvimento cultural e científico. No ano de 1095, começaram a ser perseguidos pelos cristãos, porque a Igreja Católica julgou os judeus como responsáveis pela morte de Jesus Cristo. A partir desse fato, a civilização judaica sofreu constantes ataques nas cidades europeias; enclausurando-se nos guetos, milhares de judeus foram vítimas da Santa Inquisição (Tribunal da Igreja Católica que julgava os hereges). (Carvalho, [S.d.], p. 1) Durante o século XV, com o enfrentamento da expansão do Islamismo na Europa, os judeus acabaram também sofrendo por estarem entre a Europa cristã e o Oriente Islâmico. O Rei Fernando de Aragão e Isabel de Castela, de 8 formação católica, se uniram para acabar com o domínio mulçumano no Sul da Espanha, agindo de forma indiscriminada também contra judeus. No Sul da Espanha, a Santa Inquisição atuava perseguindo judeus, inclusive levando-os à fogueira e tomando seus bens, acusando-os de hereges. Em 1492, a ação militar dos espanhóis toma Granada, o último bastião mouro na região da Península Ibérica, expulsando os judeus que se recusassem a aceitar a conversão imediata ao cristianismo. Aqueles que não aceitaram a conversão e pretendiam praticar o judaísmo tiveram que se emigrar para o Império Otomano, que se expandia da Turquia ao norte da África e Oriente Médio. Porém, a grande maioria dos judeus optou por migrar para Portugal pela proximidade. Mas essa não foi a melhor decisão, visto que cinco anos depois, o Rei Dom Manuel batizou os judeus à força (Szklar, 2017, p. 1). A situação não era melhor no Leste da Europa, visto que, em 1389, ocorreu uma das primeiras grandes perseguições de judeus na cidade de Praga. Uma multidão da população local invadiu o bairro judeu, roubou suas casas e assassinou mais de 400 judeus. Em 1542, os judeus foram expulsos da mesma cidade, Praga, demonstrando que a perseguição era persistente, ocorrendo o mesmo em várias cidades da França, Inglaterra, Boemia, Morávia e Holanda. O mais inacreditável é que, tempos depois da expulsão, foram chamados de volta para reerguer o comércio local, que desde a expulsão destes se encontrava paralisado. A discriminação aos judeus se dava em várias esferas, por exemplo, os impostos pagos pelos judeus eram sempre mais altos. Em 1200, a população judia, na Inglaterra, representava 0,1 %, porém a arrecadação com impostos dos judeus representava cerca de 15 % do total da receita. Por serem um povo sem uma terra, a perseguição e o preconceito estavam constantemente na vida dos judeus, com raros momentos de normalidade. Mesmo quando convertidos à força, continuavam sendo vítimas de preconceito. Os convertidos, os "cristãos-novos", continuaram sendo alvo de suspeita dosinquisidores. Tanto que ficaram conhecidos como marranos ("porcos", em espanhol) ou anussim ("forçados", em hebraico). "para muitos, a saída foi praticar o judaísmo secretamente, correndo risco de vida", diz o escritor americano-português Richard Zimler, autor de vários livros sobre o tema. outros botaram o pé no mundo e se fixaram em todo o arco mediterrâneo, sul da França, Holanda, Inglaterra e norte da Alemanha. (Szklar, 2017, p. 1) A Polônia e Ucrânia, em 1648, começaram grandes massacres de judeus, pelo exército dos Cossacos ucranianos comandados por Bohdan Chmielnicki que invadiram a Polônia. O resultado dessa ação foi de dezenas de milhares de 9 judeus assassinados. Durante a invasão, os comandos de Chmielnicki cercaram a cidade de Tulczyn, e após dois meses de resistência, mas sem condições de continuar a manter o enfrentamento, os moradores da cidade receberam um ultimato dos invasores: entregar os judeus para que a vida dos demais fosse polpada, condição aceita pelos cidadãos locais sem demora. Os 1500, judeus sobreviventes da batalha foram entregues e receberam a sentença: ou se convertiam ou morreriam. Nenhum dos judeus se converteu e então foram degolados na frente de toda a cidade (Abrahan, 1987, p. 13). Figura 2 – Principais rotas e estabelecimentos dos judeus na Europa e migração para as Américas Créditos: João Moreira. O início do século XIX acabou sendo mais propício para os judeus de forma geral. Inicia-se na Europa um movimento de emancipação judaica, que indicava uma possibilidade de melhores tempos. Porém, a prerrogativa de alguns países de concederem direitos antes negados ao povo judeu teve no fundo motivações financeiras. As leis e éditos, que outorgavam aos judeus o direito à emancipação, seguiam na Europa, lenta e hesitantemente, a lei francesa de 1791. Estes decretos foram precedidos e acompanhados pela atitude ambígua do estado-nação em relação aos seus habitantes judeus. do colapso da ordem feudal surgiu o conceito revolucionário de igualdade, segundo o qual não se podia mais tolerar uma “nação dentro de outra nação”. (Arendt, 1979, p. 31) 10 Mesmo com as diversas perseguições, e por causa delas, os judeus acabam se espalhando cada vez mais pela Europa, e as perseguições continuam ocorrendo em alguns locais, como a Rússia, onde há uma perseguição instaurada pelos Czares por motivação política. Os judeus efetivamente não encontrariam paz em praticamente quase nenhum país em que imigraram. Tornaram-se um povo nômade, não por desejo, mas obrigados a migrar várias vezes para fugir da perseguição e preconceito. Porém, infelizmente, o pior ainda estaria por vir. TEMA 5 – ANTISSEMITISMO E ISRAEL COMO NAÇÃO MODERNA A grande dificuldade do povo judeu foi a de que eles se constituíam em um povo com uma cultura e religião própria há milênios. O fato de não possuírem um território próprio desde o século I d. C., em decorrência da revolta judaica contra o Império Romano, tornou-se um grave problema no decorrer dos séculos. Aliada a essa fragilidade, havia o preconceito com relação à própria religião e cultura judaicas, muito difundidas por mentiras e mitos sobre as suas ações. Essas mentiras foram se aprofundando cada vez mais e a perseguição aos judeus gerou um termo específico, o antissemitismo. O termo antissemitismo é composto por duas raízes, anti, “contra”, e semita, denominação dos descendentes de Sem, filho mais velho de Noé – que compõe as famílias que povoavam o Oriente Médio durante o período bíblico, incluindo os fenícios, assírios, arameus e hebreus. Porém, o termo antissemita está vinculado diretamente àqueles que se opõem ao povo judeu, isto é, são contra os judeus. Dessa forma, o antissemitismo estrutura-se como um movimento organizado, antijudaico, que pode manifestar-se tanto na perseguição religiosa, racial, econômica ou política. Para enfrentar esse preconceito, os judeus entenderam que precisariam de um movimento que trabalhasse em prol da defesa dos direitos dos judeus. Dessa forma, no final do século XIX, foi criado um movimento/doutrina intitulada de Sionismo que tinha como principal proposta a criação de um Estado para os judeus na Palestina, local originário dos judeus. Apesar de vários esforços, o movimento não conseguiu progredir muito, e antes que tomasse maior vulto, uma reviravolta na política na Alemanha na década de 1930 causou a maior perseguição contra o povo judeu da história. 11 A perseguição judaica na Alemanha não era uma novidade, uma vez que desde a Idade Média, no período mais intenso das Cruzadas, boa parte das comunidades judaicas haviam sido destruídas, sendo que no decorrer da história o antissemitismo sempre se sustentou em várias regiões que posteriormente viriam a compor a Alemanha moderna (Abrahan, 1987, p. 12). Os cerca de 600 mil judeus praticantes que viviam no império alemão eram uma minoria minúscula em uma sociedade esmagadoramente cristã, constituindo em torno de 1% da população total. Excluídos por séculos das fontes tradicionais de riqueza, como propriedade de terras, permaneceram fora das altas posição do Reich, pois a discriminação social informal continuou a negar-lhes um lugar em instituições-chave como o Exército, universidades e postos mais elevados do serviço público. [...] Judeus convertidos sofriam tanto com o antissemitismo no cotidiano que muitos mudavam os nomes para algo que soasse mais cristão. (Evans, 2016, p. 61) Com a derrota da Alemanha na 1ª Guerra Mundial, a situação política e econômica no país ficou desastrosa. Os altos encargos que o país teria que pagar a título de indenização para os países vencedores produziu, além de duros percalços nas finanças, um sentimento de haverem sido traídos. O enfrentamento da extrema direita e do partido comunista da Alemanha produziram uma sensação de insegurança. Nesse cenário, um líder político populista assume o poder, Adolf Hitler. Hitler ganha o poder por meio do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), conhecido popularmente como partido nazista. Um dos pilares do discurso nazista era baseado na supremacia da raça ariana, em detrimento das demais, e um dos principais objetivos era a perseguição aos judeus, que eram descritos como uma raça inferior, de aproveitadores e um dos grandes responsáveis pela Alemanha ter perdido a 1ª Guerra Mundial. Uma política sistemática de retirada de direitos foi sendo impostas, com leis de segregação racial. Em pouco tempo os judeus não poderiam frequentar vários estabelecimentos comerciais e locais públicos. Além disso, tinham que se identificar com uma estrela de Davi amarela costurada na roupa e não poderiam ter cargos públicos. Todos os judeus que tinham empregos em repartições públicas foram demitidos. Em pouco tempo, depois lhes era negado o direito à propriedade, foram desalojados de suas casas, perderam seus negócios e empresas e foram enviados para guetos, onde as condições de alimentação e saúde eram extremamente precárias. Porém, o objetivo dos nazistas era dar uma solução final para o “problema judeu”. Os judeus foram então vistos como inimigos da 12 Alemanha, que já em guerra estava expandindo suas fronteiras invadindo países vizinhos. Uma das ações coordenadas era a eliminação de todos os judeus que eram encontrados nas cidades dos países dominados. Estes eram fuzilados imediatamente e enterrados em valas comuns. Mais tarde, essa ação foi “industrializada”, uma parte significativa dos judeus passou a ser enviada para campos de concentração para trabalhos forçados em empresas alemãs visando ao aumento de produção para o esforço de guerra. Os judeus chegavam nos campos de concentração em trens de carga em condições sub-humanas. No pátio, se fazia a separação de mulheres com filhos, crianças, idosos e todos os que se entendiam não aptos para otrabalho. Estes eram enviados para câmeras de gás para serem mortos. Os demais trabalhavam em terríveis condições até a exaustão. Com o final da Segunda Guerra Mundial, o levantamento que foi realizado identificou que cerca de seis milhões de judeus haviam sido assassinados das mais diversas e bárbaras formas pelos nazistas, no período entre 1933 e 1945 (Abrahan, 1987, p. 75-81). Após a constatação dessa terrível perseguição, compreendeu-se que não seria possível que os judeus não tivessem um Estado próprio. Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) cria um plano de partilha do território palestino entre árabes e judeus. Nesse plano, estava prevista a criação de dois Estados independentes e um regime independente para administração de Jerusalém. Em 14 de maio de 1948, efetivamente é criado o Estado de Israel. Porém as lideranças árabes e palestinas que já habitavam a região por longa data não aceitaram essa proposta. Dessa forma, os países vizinhos invadem a região gerando uma guerra. 13 Figura 3 – Plano de partilha da ONU e ocupação israelense Créditos: João Moreira. Durante a invasão, a Faixa de Gaza ficou sob o domínio egípcio, ficando a Cisjordânia e o Leste de Jerusalém dominadas pela Jordânia. Porém, Israel acaba ocupando um território maior que o esperando, invadindo e expulsando os árabes dessas regiões. Em 1967, ocorreu a “Guerra dos Seis Dias” entre Israel, Jordânia, Egito e Síria. Israel vence a guerra de forma espetacular dominando a Faixa de Gaza, as colinas de Golã (importante ponto estratégico da região), a Península do Sinai e o Leste da Cisjordânia. Em 1973, novamente ocorre conflito entre Israel, Egito e Síria (Guerra do Yom Kippur), novamente com Israel vencendo (Ferraz, 2018, p. 1). Desde então, Israel vem se estabelecendo com uma das maiores potências econômicas e militares, não somente da região, como do mundo. Porém, até hoje a região ainda enfrenta graves problemas em decorrência da implantação do Estado Judaico. A faixa de Gaza, região onde vivem os palestinos, continua sem um reconhecimento por parte do Estado Judaico de se constituir como um Estado Autônomo. Grande parte das nações do mundo 14 continuam envolvidas na tentativa de resolver a questão palestina e da pacificação da região. Porém, entende-se como lícita a constituição do Estado Judaico, extremamente necessário, primeiro pela tradição histórica, em que pudemos ver que os Judeus habitaram e mantiveram uma nação por milênios, apesar das grandes dificuldades e percalços. Em segundo e não menos importante, pela história desse povo, que durante sua história de peregrinação por outras terras não encontrou acolhida, sendo de várias formas perseguidos e mortos sem o reconhecimento da sua dignidade humana. Pudemos ver nestas aulas a história da constituição de um povo, de uma nação da conquista e reconquista de seu território, mas principalmente pudemos compreender que a união do povo judeu se deu mais em decorrência da sua fidelidade à sua religião e cultura, que mesmo sem uma pátria, mantiveram-se fiéis à sua origem como povo, como nação. NA PRÁTICA Percebemos que os Judeus foram duramente castigados pela sua luta pela independência. Acabarem tendo de migrar para a Europa e continuaram a sofrer perseguições e preconceitos de várias formas. Durante a Segunda Guerra Mundial, quase foram aniquilados, porém, mesmo sem um território durante séculos, se mantiveram como um povo que tinha orgulho de sua origem e que nunca esquecera sua religião e cultura. Podemos dizer que foi esse fator que possibilitou a perseverança durante tantas perseguições? É possível, visto que, ao persistirem como o povo escolhido, conseguiram manter a unidade durante séculos mesmo espalhados pelo mundo. FINALIZANDO No século XIX, o antissemitismo assumiu uma nova forma. Apoiava- se em teorias racistas e foi usado como um instrumento de poder pelos partidos políticos. A desconfiança religiosa em relação aos judeus não era, sem dúvida, um fenômeno novo. Os judeus haviam sido perseguidos por meio dos tempos. As superstições religiosas floresceram na Idade Média, tempo em que não estavam em desacordo com o espírito da época, mas que persistiram no século XIX numa era de ideias modernas, progressos científicos, industrialização, 15 movimentos de libertação nacional – isso não era, diante das circunstâncias, de se esperar. O Holocausto na Segunda Guerra Mundial foi o maior ato para destruir o povo judeu, mas como fênix, os judeus ressurgem e agora retornam novamente para a terra onde haviam sido expulsos. No entanto, é preciso refletir até onde o preconceito e ação política pode levar à destruição de povos inteiros. Por fim, sem dúvidas a história de Israel é um exemplo de perseverança e fé diante das circunstâncias tenebrosas. 16 REFERÊNCIAS ABRAHAN, B. Holocausto: O massacre de 6 milhões. São Paulo: Sheit Hpleita, 1987. ARENDT, H. As origens do totalitarismo. Rio de Janeiro: Editora Documentário, 1979. CARVALHO, L. Judeus na História. Mundo Educação, [s.d.]. Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/judeus-na-historia.htm>. Acesso em: 17 jul. 2021. CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2001. v. 2. EVANS, R. J. A chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2016. FERRAZ, T. C. Criação do Estado de Israel. Instituto Claro, 27 jul. 2018. Disponível em: <https://www.institutoclaro.org.br/educacao/para-ensinar/planos- de-aula/criacao-do-estado-de-israel/>. Acesso em: 17 jul. 2021. MORASHÁ. A Batalha de Betar. 33. ed, jun. 2001. disponível em: <http://www.morasha.com.br/comunidades-da-diaspora-1/a-batalha-de- betar.html>. Acesso em: 17 jul. 2021. OLIVEIRA, A. G. Judeus e Cristãos Vistos Pelo Islã. Revista Historiado, ano 8, n. 8, 2016. SAULNIER, C.; ROLLAND, B. A palestina no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 2002. SZKLAR, E. Descubra como judeus se espalharam pelo mundo. Aventuras na História, 23 out. 2017. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/diaspora-descubra- como-judeus-se-espalharam-pelo-mundo-743351.phtml>. Acesso em: 17 jul. 2021. TOPEL, M. F. Terra Prometida, Exílio e Diáspora. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 21, n. 43, p. 331-352, jan./jun. 2015. TOROPOV, B.; BUCKLES, L. O Guia Completo das Religiões do Mundo. São Paulo: Madras, 2006.
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