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MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 1 www.medresumos.com.br BASES DA ONCOLOGIA A oncologia é a especialidade médica que estuda e trata do câncer, bem como a forma de comportamento patológico que esta entidade desenvolve no organismo, buscando entender a sua fisiopatologia e desenvolver métodos terapêuticos adequados para o seu tratamento. Podemos dizer que o câncer é consequência de alterações moleculares que conferem à célula modificações em seu comportamento e resultam em alterações na fisiologia celular que, em última instância, são responsáveis pela biologia do câncer. DIFERENÇAS ENTRE A CÉLULA NORMAL E A CÉLULA CANCEROSA Quando as células extraídas de tumores são colocadas em cultura, elas apresentam um padrão de crescimento diferente das células extraídas de tecidos normais. Essa característica confere-lhes a condição de células transformadas, isto é, são células independentes de mecanismos de ancoragem, de fatores de crescimento e de inibição por contato. Ao proliferarem, sofrem mudanças na forma, reúnem- um mínimo de nutrição. As principais características da célula tumoral são: Resistência à apoptose: a célula normal apresenta a capacidade de entrar em auto-destruição (apoptose) quando mecanismos vigilantes percebem erros irreversíveis em seu metabolismo molecular. Contudo, este mecanismo não acontece com as células tumorais. Perda da inibição por contato: as células tumorais formam aglomerados celulares com empilhamento sem que haja a inibição de crescimento por contato com as demais células, fazendo com que o tecido base deste processo neoplásico perca, gradativamente, suas características iniciais. Mudanças na proliferação: in vitro, células sobreviventes da senescência transformam-se; células transformadas malignas imortalizam-se (crescem em cultura indefinidamente). In vivo, ocorre o aumento da expressão de proteínas oncogênicas e, com isso, acontece a perda de expressão de produtos de genes supressores do tumor. Mudanças citológicas: in vitro e in vivo, ocorre aumento no número e tamanho do núcleo, aumento de basofilia citoplasmática, aumento do raio núcleo/citoplasma. Perda do controle do ciclo celular. Alterações na membrana celular: alterações na composição de proteínas de superfície celular. Alterações nos receptores de membrana para agentes que induzem à diferenciação celular. In vivo, ocorre um aumento na habilidade em induzir e sustentar a angiogênese. Habilidade de escapar de respostas imunes antitumorais (mecanismo de escape tumoral). ONCOGÊNESE O processo de desenvolvimento neoplásico pode ser dividido em três etapas: iniciação, promoção e progressão tumoral. Durante a iniciação, ocorrem modificações no genótipo da célula que a levam à imortalização. Na promoção, essa célula gera um clone com vantagens proliferativas que promoverão, enfim, a progressão tumoral. Estágio de iniciação: É o primeiro estágio da carcinogênese. Nele as células sofrem o efeito de um agente carcinogênico (agente oncoiniciador) que provoca modificações em alguns de seus genes. Nesta fase as células encontram-se geneticamente alteradas, porém ainda não é possível se detectar um tumor clinicamente. Exemplos de substâncias químicas carcinógenas: sulfato de dimetila, metilnitrossureia, cloreto de vinila, aflatoxinas, dimetilnitrosoamina e benzopireno. Estágio de promoção: As células geneticamente alteradas sofrem o efeito dos agentes cancerígenos classificados como oncopromotores. A célula iniciada é transformada em célula maligna, de forma lenta e gradual. Para que ocorra essa transformação, é necessário um longo e continuado contato com o agente cancerígeno promotor. A suspensão do contato muitas vezes interrompe o processo nesse estágio. Estágio de progressão: É o terceiro e último estágio e caracteriza-se pela multiplicação descontrolada, sendo um processo irreversível. O câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença. O câncer é, portanto, um distúrbio genético caracterizado pela mutação de genes importantes para a síntese de proteínas e enzimas que estão ligadas ao processo de crescimento e maturação celular. De maneira geral, são necessárias múltiplas alterações genéticas para dar origem ao câncer. Estes distúrbios genéticos podem ser herdados geneticamente ou adquiridos por eventos do meio externo. Arlindo Ugulino Netto. ONCOLOGIA 2016 MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 2 www.medresumos.com.br Os fatores que promovem a iniciação ou progressão da carcinogênese são chamados de carcinógenos. O fumo, por exemplo, é um agente carcinógeno completo, pois possui componentes que atuam nos três estágios da carcinogênese. Oncogênese (tumorigênese ou carcinogênese) é um processo de múltiplos eventos, e cada evento reflete uma progressiva transformação da célula normal para a célula maligna, passando por uma série de estados pré-malignos. Para uma abordagem didática da oncogênese, tem-se que um câncer se forma a partir das alterações genéticas (mutações) dos genes que controlam a proliferação celular normal. Dentre os genes que podem sofrer alterações, destacam-se: Oncogenes (genes promotores do crescimento ou protooncogenes): genes que codificam, por exemplo, fatores de crescimento que estimula seu próprio crescimento ou o crescimento de células vizinhas de uma forma ordenada. Uma vez alterado, o oncogene pode promover uma maior produção de fatores de crescimento ou um aumento na expressão de receptores destes fatores, promovendo uma aceleração do crescimento celular desordenado. Este crescimento acelerado predispõe a alterações de outros genes celulares, como o próprio gene que regula a síntese de DNA, promovendo, assim, mutações celulares. Além disso, quando mutados, esses genes inibem a apoptose celular. Genes supressores de tumor: estão envolvidos na síntese de fatores que inibem o crescimento e a divisão celular em casos de falhas durante a replicação. Quando mutados, deixam de funcionar e a célula passa a se replicar e formar colônias cada vez mais defeituosas e pouco diferenciadas (isto é, mais diferentes do tecido de origem). Genes de reparação: são genes que sintetizam proteínas ou enzimas que reparam os erros metabólicos da replicação, como os Genes que regulam a apoptose e os Genes envolvidos no reparo do DNA. CICLO CELULAR E CÂNCER O ciclo celular pode ser definido como o conjunto de processos moleculares que uma célula eucariótica passa para crescer, duplicar seu material genético e se dividir. O feito mais importante desse ciclo é fazer com que todo o material genético da célula-mãe seja duplicado sem erros e, em seguida, igualmente dividido entre as células filhas. Para este feito, o ciclo celular dispõe de mecanismos de vigilância que incluem alguns dos genes relacionados com a oncogênese. De um modo geral, o ciclo celular pode ser dividido basicamente em duas partes: a intérfase e a mitose. Intérfase: período em que ocorre toda a preparação da célula para a divisão, incluindo-se a duplicação do DNA. Ela pode ser subdividida em três fases: G1, S (em que ocorre, de fato, a duplicação do DNA) e G2 e cada uma delas é muito bem regulada por enzimas denominadas quinases. Mitose (fase M): consiste na divisão celular propriamente dita, que por sua vez também é dividida em prófase, metáfase, anáfase e telófase. Podemos considerar também que as células normalmente permanecem em estado quiescente (também chamado de G0) até receberem um estímulo externo, como a ligação de um determinado fator de crescimento ao seu respectivo receptor de membrana celular, e assim iniciado o ciclo (fase G1). O ciclo celular é marcado por específicos pontos de verificação cuja função é avaliar se determinados requisitos moleculares atendem a demanda necessária, tais como tamanho da célula, bateria enzimática, fatores de crescimento, DNA duplicado, etc. Por exemplo, é de crítica importância que a mitose nãoinicie até que a replicação do genoma esteja completada. Os principais pontos de verificação estão localizados nas seguintes etapas: G1: mecanismos ativos nesta etapa verifica danos no próprio DNA e seu bloqueio é mediado por um gene danificado, estimulado a expressão do gene p21 que passa a inibir o ciclo celular e a replicação do DNA. G2: nesta etapa, ocorre a prevenção da iniciação da mitose antes que o DNA seja completamente replicado. Sua operação, portanto, previne o início da fase M antes que a fase S esteja devidamente completa, de modo que a célula permaneça em G2 até que o genoma seja replicado totalmente. Mitose: o ponto de verificação na fase M monitora o alinhamento dos cromossomos no fuso mitótico, assegurando que um conjunto completo de cromossomos seja distribuído com exatidão para as células filhas. De maneira geral, o desenvolvimento e a progressão do câncer envolvem processos que evitam a diferenciação e previnem a quiescência celular, bem como aqueles que promovem a proliferação, permitindo assim a imortalização celular. Pelo menos uma das vias que restringem a reposta proliferativa em células normais está alterada na maioria dos tumores. Um exemplo desse tipo de alteração são as mutações que ativam o gene Ras, que, entre outras funções, atua na via de transdução de sinal das MAP quinases. Outro tipo de mutação que desregula o crescimento celular compreende as alterações no ponto de controle final da fase G1, a fosforilação da proteína Rb. Defeitos nesta via, que podem ocorrer em todos os tipos de câncer, incluem deleções do próprio gene Rb e desregulação das CDKs, que fosforilam e funcionalmente inativam a proteína Rb (tanto pela superativação das CDKs quanto pela perda genética de seus inibidores). MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 3 www.medresumos.com.br OBS1: Alguns quimioterápicos antitumorais e até mesmo alguns tratamentos radioterápicos são capazes de agir em pontos específicos do ciclo celular. Daí a importância de conhecer as fases do ciclo celular bem como as drogas que agem nesses pontos específicos. No entanto, há tam - fase do ciclo celular. OBS²: Os patologistas costumam classificar os tumores com relação ao seu grau de diferenciação: quanto menor o grau, mas bem diferenciado é o tumor (isto é, apresenta um aspecto morfológico mais próximo do tecido de origem e, portanto, apresenta melhor prognóstico); quanto maior o grau, menos diferenciado é o tumor (isto é, apresenta um aspecto morfológico que pouco ou nada lembra o tecido de origem, sendo de pior prognóstico). Em resumo, quanto mais indiferenciado o tumor, mais agressivo será e, portanto, pior seu prognóstico. NECROSE E APOPTOSE Morte celular pode ser resultado de inúmeros danos, como isquemia, infecções, reações imunológicas, força mecânica e exposição a temperaturas extremas. Há dois mecanismos principais de morte celular: necrose e apoptose. Necrose é uma resposta passiva a um dano que resulta em aumento do volume celular, das organelas e do núcleo, e perda da integridade da membrana, o que provoca ruptura da célula. A liberação do seu conteúdo para o meio extracelular gera uma resposta inflamatória local, com dano às células adjacentes. Em contrapartida, a apoptose, ou morte celular programada, envolve ativação de um programa genético durante o qual a célula perde a viabilidade antes de perder a integridade da membrana, com ausência de resposta inflamatória. É um evento muito bem regulado que ocorre durante a embriogênese e em vários processos fisiológicos e patológicos. A carcinogênese está diretamente ligada à inativação da apoptose celular. PROCESSOS DE DISSEMINAÇÃO TUMORAL Os tumores, dependendo de suas características celulares e morfológicas, podem disseminar-se por diversas vias e alojarem-se em outros tecidos que não o de origem. A este processo, damos o nome de metástase que significa, em outras palavras, o desenvolvimento de uma segunda população tumoral a partir da primeira, mas sem uma conexão direta entre as duas. Ocorre quando um tumor primário localizado em uma dada região é submetido a uma proliferação celular neoplásica e ainda sofreria uma expansão clonal (as células se multiplicariam) e, decorrente disto, iria surgir um subclone que teria capacidade de invadir a membrana basal. Ocorrendo o rompimento desta membrana basal, as células neoplásicas migram através dos tecidos até alcançar as paredes dos vasos, invadindo-os e caindo na circulação onde sofrem ação de células do sistema imunitário. Sobrevivendo a ação das células imunológicas (por meio do mecanismo de escape tumoral), as células neoplásicas continuam migrando até chegar a um novo sítio de instalação. Para que o processo de metástase se estabeleça é necessária uma série de ações pelas células tumorais e pelo sangue. No local onde ocorre o extravasamento a distância, ocorre a liberação de fatores angiogênicos que promovem a nutrição do tumor e seu crescimento. Por isto é importante tratar o tumor o quanto antes, prevenindo o surgimento de um subclone metastático. A disseminação da população tumoral pode ocorrer por meio dos seguintes mecanismos: Disseminação por contiguidade: ocorre quando o tumor localizado em um órgão alcança outra estrutura graças às relações anatômicas de proximidade entre os dois órgãos acometidos. Como por exemplo, um câncer de estomago pode facilmente disseminar-se por contiguidade para o baço ou intestino. Disseminação linfática: é a principal via de disseminação dos carcinomas. Todos os órgãos apresentam uma cadeia ganglionar relacionada para onde a sua linfa será drenada em um primeiro plano. Um tumor invasivo que se origina em um determinado órgão, quando chega à via linfática, segue para o primeiro linfonodo da cadeia ganglionar. A expressão linfonodo sentinela a receber a drenagem da linfa de um determinado órgão. Com isso, em casos de metástase, trata-se do primeiro linfonodo a receber a linfa do órgão que vai apresentar uma determinada neoplasia. Disseminação hematogênica: é a via preferencial dos sarcomas, sendo o fígado (recebe a veia porta) e pulmões (sangue de todo o corpo) os principais órgãos de predileção. Disseminação por esfoliação (por cavidades corporais): a metástase pode ocorrer por implantação pelas cavidades corporais (saco pericárdico, espaço pleural, cavidade peritoneal, etc.). A principal via de disseminação pelas cavidades corporais ocorre pela cavidade peritoneal (principalmente em tumores de ovário e apêndice). O ovário é um órgão que está livre dentro do próprio peritônio, daí que é facilmente disseminado. CLASSIFICAÇÃO TUMORAL O câncer é classificado de acordo com o tipo de célula normal que o originou, e não de acordo com os tecidos para os quais se espalhou. Isso é o que pode se chamar de classificação primária. Pelo que se sabe sobre classificação oma MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 4 www.medresumos.com.br Carcinomas: São os tipos mais comuns de câncer, originando-se de células que revestem o corpo, incluindo a pele (ectodermais) e uma série de revestimentos internos (endodermais), como os da boca, garganta, brônquios, esôfago, estômago, intestino, bexiga, útero e ovários, e os revestimentos dos dutos mamários, próstata e pâncreas. Há também os carcinosarcomas, tumores geralmente de alta malignidade, derivados de dois tipos de tecidos embrionários e os teratomas, derivados de três tipos de tecidos embrionários. Em outras palavras, são tumores de células originadas a partir do ectoderma e do endoderma embrionário. Mestastizam mais comumente por via linfática (gânglios e, em segundo lugar, vísceras e ossos). Sarcomas: Originam-se de tecidos de suporte em vez dos de revestimento, tais como ossos, tecido gorduroso, músculo e tecido fibroso de reforço, encontrados na maior parte do corpo. Portanto, diferentemente dos carcinomas, os sarcomas são tumores de células originadas a partir do mesoderma embrionário. Metastizam mais comumentepor via hematológica (direcionando-se para órgãos ricamente vascularizados, como pulmão, cérebro, fígado, rins, ossos, etc.). Linfomas: Originam-se de células conhecidas como linfócitos, encontradas em todo o organismo, particularmente em glândulas linfáticas e sangue. Os linfomas são divididos em Hodgkin e não-Hodgkin, de acordo com o tipo de célula afetada. Leucemia: Este câncer origina-se de células da medula óssea que produzem as células sanguíneas brancas. Na leucemia ocorre uma concentração muito elevada de glóbulos brancos (de cerca de 7,5.103/mm3 para 105- 106/mm3) causando problemas nos quais as células anormais não funcionam apropriadamente, além de restringirem o espaço da medula óssea para que novas células sejam produzidas. Mielomas: Malignidades nas células plasmáticas da medula óssea que produzem os anticorpos. Tumores das células germinativas: Desenvolvem-se a partir de células dos testículos e/ou dos ovários, responsáveis pela produção de esperma e óvulos. Melanomas: Originam-se das células da pele que produzem pigmento, os melanócitos. Gliomas: Originam-se a partir de células do tecido de suporte cerebral ou da medula espinhal. Raramente ocorre metástase. Neuroblastomas: Tumor geralmente pediátrico (8 milhões de crianças até 15 anos de idade por ano; 80% dos casos com até 4 anos de idade) derivado de células malignas embrionárias advindas de células neuronais primordiais, desde gânglios simpáticos até medula adrenal e outros pontos. FATORES CARCINOGÊNICOS A causa básica do câncer é o dano em genes específicos, o qual pode ser herdado ou adquirido. No entanto, é curioso observar que alguns indivíduos que vivem no mesmo ambiente desenvolvem câncer e outros não. O risco para câncer depende, evidentemente, da interação entre fatores herdados e componentes ambientais. Em relação às causas do meio ambiente, observa-se que a exposição continuada a certos agentes ambientais faz com que o risco do indivíduo para desenvolver câncer se altere, por estes possuírem propriedades carcinogênicas. Por exemplo, o cigarro, o pó de urânio, asbestos, todos implicados diretamente no câncer de pulmão. Dentre os principais fatores ambientais predisponentes ao câncer, temos: Tabagismo: o fumo é o fator carcinogênico que mais diretamente se mostra implicado no desenvolvimento de vários cânceres, como de pulmão, de laringe, de boca, de faringe, de esôfago, de bexiga e de pâncreas. Descobertas recentes mostram que componentes do cigarro interferem no supressor tumoral proteína p53, considerada a guardiã do genoma -, explicando o envolvimento do fumo em diferentes cânceres. Alcoolismo: o consumo de bebidas alcoólicas pode atuar como um potencializador dos efeitos do tabaco, contribuindo para o câncer de boca, faringe, esôfago e laringe. O consumo de álcool também tem sido relacionado ao câncer de fígado, mama, cólon e reto. Nutrição e obesidade: dietas ricas em gorduras, com excesso de calorias, consumo de carne vermelha e aumento de peso têm sido implicados na carcinogênese do intestino grosso. Dietas contendo fibras solúveis, presentes em frutas, verduras e certos grãos (como aveia) são importantes, por exemplo, na redução da carcinogênese do cólon. Radiação ultravioleta e ionizante: a radiação ultravioleta de raios solares é apontada como a principal causa de câncer de pele, incluindo o melanoma maligno. Os efeitos deletérios dos raios ionizantes ocorrem em pessoas expostas a doses altas ou moderadas de radiação, por motivos médicos, ocupacionais ou militares. Poluição: são inúmeras as substâncias poluentes implicadas na etiologia do câncer. Hidrocarbonetos policíclicos, arsênicos inorgânicos, gás randônico, substâncias halogenadas encontradas na água e o uso indiscriminado de organofosforados e organoclorados utilizados na agricultura são apontados como a causa de 4% de mortes por câncer na atualidade. Ocupação: a exposição a carcinógenos ocupacionais é responsável por 5% das mortes por câncer. Os efeitos deletérios destas exposições tornam-se mais graves devido ao grande número de indivíduos expostos. Vírus: os vírus mais implicados na carcinogênese são: vírus Epstein-Barr (no linfoma de Burkitt e no câncer nasofaríngeo), o papiloma vírus humano (no câncer de colo uterino), o vírus de hepatite B (no câncer de fígado) e o vírus de células T tipo I, na leucemia de células T e no linfoma. O vírus da imunodeficiência humana (HIV) está relacionado a uma predisposição ao sarcoma de Kaposi e ao linfoma não-Hodgkin. MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 5 www.medresumos.com.br Alterações hormonais: há muito, os hormônios são objetos de estudo na carcinogênese humana, apesar de serem considerados, de uma forma geral, não mutagênicos. O estrogênio natural 17 beta-estradiol (E2) e o estrogênio sintético (DES) aumentam a incidência de tumores mamários, pituitários, uterinos, cervicais, vaginais, linfoides e de testículos em camundongos. Os estrogênios promoveriam ainda o crescimento do câncer de mama já estabelecido e níveis farmacológicos de progesterona induziriam sua remissão. Envelhecimento GRADUAÇÃO E ESTADIAMENTO DO CÂNCER O estadiamento é uma avaliação clínica capaz de fornecer uma noção da extensão da neoplasia para cada caso, auxiliando em condutas e definindo prognósticos. Segundo a UICC (União Internacional Contra o Câncer) os objetivos do estadiamento são: Ajudar o médico no planejamento do tratamento do câncer; Dar alguma indicação do prognóstico; Ajudar na avaliação dos resultados de tratamento; Facilitar a troca de informações entre os centros de tratamento; Contribuir para a pesquisa contínua sobre o câncer humano. De uma forma mais específica, o estadiamento pode ser clínico, por imagem e por avaliação patológica. Sendo assim, o estadiamento clínico é essencial para selecionar e avaliar o tratamento adequado para aquele câncer pré- avaliado, enquanto que o estadiamento histopatológico fornece dados mais precisos para avaliar o prognóstico do câncer. Portanto, quando um câncer é detectado, os exames de estadiamento ajudam o médico a planejar o tratamento adequado e a determinar o prognóstico da doença. Como já foi mencionado, são exames que são realizados para determinar a localização do tumor, o seu tamanho, sua disseminação para estruturas próximas e para outras partes do corpo. O estadiamento é fundamental para se determinar a possibilidade de cura. O estadiamento pode utilizar outros exames como: cintilografias, estudos contrastados, tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) para determinar se houve disseminação do câncer. Para avaliação histopatológica, a core biopsy é o procedimento mais utilizado. O estágio geralmente leva em conta o tamanho do tumor, o quão profundo ele está penetrado, se já invadiu órgãos adjacentes, e quantos linfonodos entraram em metástase e se ele está espalhado em órgãos distantes. Portanto, o estadiamento do câncer é importante porque o estágio no diagnóstico é um importante indicativo de sobrevivência, sendo os tratamentos geralmente mudados de acordo com o estágio. Para isso, temos três parâmetros a serem avaliados: T tamanho do tumor (T0 T4) N nível de comprometimento dos linfonodos (N0 N3) M metástases (M0 M1) Existem vários sistemas para estadiamento de câncer, sendo o mais simples deles o que classifica as neoplasias malignas em: Estágio Local ou Inicial: determina o local em que a doença se encontra localizada. Geralmente, restrita ao órgão de origem, sem metástases (filiais). É em grande parte curável com medidas locais, como cirurgia ou irradiação. Estágio Regional: o câncer estende-se para fora do órgão de origem, mas mantém proximidade, como em linfonodos (gânglios), por exemplo. Muitas vezes curável com medidas locais (cirurgia e irradiação) e, às vezes, necessitando de tratamento conjunto com a quimioterapia, em geral, após a cirurgia (quimioterapia adjuvante).Estágio Regional Extenso: estende-se para fora do órgão de origem, atravessando vários tecidos. É geralmente impossível de ser removido cirurgicamente, devido ao comprometimento de estruturas anatômicas nobres como artérias, nervos e órgãos. O tratamento local ou sistêmico depende das características do tumor. Em geral, não tem bom prognóstico, todavia o uso de quimioterapia pré- operatória (neoadjuvante) pode reduzir o tamanho destes tumores permitindo que eles sejam retirados por meio de cirurgia, melhorando o prognóstico e aumentando as chances de cura. MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 6 www.medresumos.com.br Estágio Avançado: disseminado pelo corpo através de metástases. Pode envolver múltiplos órgãos. Raramente curável, salvo alguns tipos de neoplasias que respondem muito bem à quimioterapia convencional ou mesmo a quimioterapias de alta dosagem. EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER A epidemiologia tem fundamental importância para oncologia. Toda a propedêutica no tratamento, prognóstico e cura de um paciente portador de uma determinada neoplasia é baseada nas evidências. A tabela abaixo indica a incidência e principais causas de morte por câncer nos homens, nas mulheres e, por fim, nestes dois grupos concomitantemente, segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), excluindo-se os tumores de pele não-melanoma (que são, de longe, o tipo de câncer mais comum na raça humana). Tumores mais incidentes Mundo Geral: 1) Pulmão 2) Mama 3) Colorretal Homens 1) Pulmão 2) Próstata 3) Colorretal Mulheres 1) Mama 2) Colorretal 3) Pulmão Brasil Geral 1) Próstata 2) Mama 3) Colorretal Homens 1) Próstata 2) Pulmão 3) Colorretal 4) Estômago Mulheres 1) Mama 2) Colorretal 3) Colo uterino 4) Tireoide/Pulmão Note que, para os homens, o câncer de pulmão é a principal causa de morte, sendo seguido do câncer de estomago e câncer de próstata. Nas mulheres, o câncer de mama é a principal causa de morte, sendo seguida pelo câncer de estomago e cólon. Nos últimos anos, a estatística mudou um pouco para as mulheres: as neoplasias de estomago constituem na quinta mais comum (mama, colo uterino, cólon e pulmão) e a quarta causa de óbitos por neoplasias. Note a importância do câncer de estômago para ambos os sexos, de modo que, quando avaliadas as principais causas de mortes nos dois sexos, concomitantemente, observamos o câncer de estomago, seguido de pulmão e cólon. Na infância, o padrão epidemiológico dos tumores muda completamente. De um modo geral, da neoplasia mais prevalente para a menos prevalente, temos: (1) leucemias; (2) tumor cerebral (consiste no tumor sólido mais frequente); (3) linfoma; (4) neuroblastoma (que acomete, principalmente, a glândula suprarrenal); tumor de Wilms (tumor renal); (6) tumor ósseo. De um modo geral, em torno de um ano de idade, podemos encontrar, muito facilmente, os seguintes tumores: retinoblastoma, neuroblastoma, hepatoblastoma, tumor de células germinativas; crianças acima de 1 ano de idade tendem a apresentar leucemia, tumor de sistema nervoso central, neuroblastoma, tumor de células germinativas; em torno dos 12 anos, encontramos: osteossarcoma, tumor muscular (rabdomiossarcoma), tumor de células germinativas, tumor cerebral, leucemias, etc. MEIOS DE DIAGNÓSTICO DO CÂNCER A avaliação de um câncer começa com a história e o exame físico. Em conjunto, esses procedimentos ajudam o médico a avaliar o risco de câncer apresentado por um indivíduo e a decidir quais são os exames necessários. Geralmente, como parte de um exame físico de rotina, deve ser realizada uma investigação dos cânceres de tireoide, de testículos, de boca, de ovários, de pele e de linfonodos. Tumores que mais matam Mundo Geral: 1) Pulmão 2) Estômago 3) Fígado 4) Colorretal Homens 1) Pulmão 2) Fígado 3) Estômago Mulheres 1) Mama 2) Pulmão 3) Colorretal Brasil Geral 1) Pulmão 2) Estômago 3) Mama Homens 1) Pulmão 2) Próstata (1º no NE) 3) Estômago Mulheres 1) Mama 2) Pulmão 3) Colorretal MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 7 www.medresumos.com.br Os exames de detecção precoce tentam identificar o câncer antes de ele produzir sintomas. Quando um exame de detecção precoce é positivo, serão necessários outros exames para a confirmação do diagnóstico. O diagnóstico de câncer deve sempre ser estabelecido com absoluta certeza e, para isto, é geralmente necessária a realização de uma biópsia. Também é essencial se determinar o tipo específico de câncer. Quando um câncer é detectado, os exames para determinar o seu estágio ajudam a determinar a sua localização exata e se ele disseminou (produziu metástases). O estadiamento também ajuda os médicos a planejarem o tratamento adequado e a determinar o prognóstico. Em até 7% dos pacientes com câncer, os exames identificam metástases antes mesmo da identificação do câncer original. Algumas vezes, o câncer original pode não ser descoberto. Entretanto, os médicos geralmente conseguem identificar o tipo do tumor primário realizando uma biopsia da metástase e examinando o tecido ao microscópio. Apesar disso, nem sempre a identificação é fácil ou segura. Em suma, o diagnóstico do câncer pode ser feito pelos seguintes meios: Diagnóstico clínico: por meio da anamnese e exame físico. Histopatológico: por meio de uma biópsia. Cirúrgico: como é feito o diagnóstico de tumores de ovário. Por imagem: a associação de métodos de exames complementares tais como radiologia geral, ultrassonografia, tomografia computadorizada e a ressonância magnética, apesar dos altos custos apresentados, quando bem indicados, tem melhorado consideravelmente o diagnóstico, o estadiamento e, consequentemente, o prognóstico de determinadas lesões. Laboratorial: é feito, principalmente, por meio de marcadores tumorais que apresentem sensibilidade e especificidade suficientes para, sozinho, atuar nas seguintes fases: triagem, diagnóstico, prognóstico, monitoramento do tratamento. TRATAMENTO DO CÂNCER O tratamento eficaz do câncer deve visar não somente o tumor primário, mas também os tumores que podem ter se disseminado para outras partes do corpo (metástases). Por essa razão, a cirurgia ou a radioterapia (que são considerados tratamentos locais) de áreas específicas do corpo é frequentemente combinada com a quimioterapia, que afeta todo o organismo. Mesmo quando a cura é impossível, os sintomas frequentemente podem ser aliviados com a terapia paliativa, melhorando a qualidade e a sobrevida do indivíduo. TRATAMENTO CIRÚRGICO Antes do advento da radioterapia e da quimioterapia, a cirurgia era a única possibilidade de terapia do câncer. Eram realizadas amplas ressecções, pois se imaginava que a neoplasia maligna representava exclusivamente um problema local. As primeiras alusões à cirurgia para tratamento de câncer datam de 1600 a.C. e são encontradas nos manuscritos de Edwin Smith. A era moderna da cirurgia abdominal começou nos Estados Unidos quando Ephrain McDowell ressecou um tumor de ovário, em 1809. Com o surgimento da anestesia e antissepsia, houve um grande desenvolvimento de procedimentos cirúrgicos agressivos para o tratamento de câncer. De um milhão de americanos que apresentaram câncer em 1988, 64% foram submetidos à cirurgia e 62% desse grupo foram curados. O tratamento e o prognóstico são em grande parte determinados pelo estudo da gravidade e da disseminação do câncer, através de um processo denominado estadiamento. Podemos dividir a cirurgia oncológica em vários grupos: Cirurgia preventiva (ou profilática): tem a finalidade de impedir que uma célula com potencial de malignidade consiga transformar-se, extirpando-a ou evitando-a que ela continue entrando em contato com agentes cancerígenos. Cirurgia diagnóstica: é fundamental para o planejamento terapêutico dos tumores malignos, o que torna a biópsia um dos procedimentos mais importantes da cirurgia oncológica. Na maioria das vezes, o diagnostico é feitoantes do procedimento cirúrgico terapêutico; em outras ocasiões, a biópsia, o diagnóstico histopatológico e a cirurgia são realizados no mesmo procedimento. Cirurgia com finalidade curativa ou paliativa: a cirurgia com finalidade curativa trata da doença localizada e deve ser associada a outros procedimentos terapêuticos (radioterapia, quimioterapia, endocrinoterapia e bioterapeutica). A cirurgia paliativa é o procedimento realizado sem a finalidade curativa, mas apenas para melhorar a qualidade de vida e a sobrevida do paciente, pois a doença já estaria disseminada. Considera-se que a cirurgia é a modalidade terapêutica mais eficaz dos tumores considerados sólidos . Ressecção de metástases e recidivas: procedimentos realizados com finalidade curativa. Cirurgia reconstrutora: é um procedimento realizado, geralmente, por um cirurgião plástico, podendo ocorrer sincronicamente à cirurgia oncológica ou metacronicamente. É um tipo de cirurgia necessária e de fundamental importante, tendo em vista o grau de extensão de muitas cirurgias oncológicas. RADIOTERAPIA A radioterapia tem a finalidade curativa (que visa ao controle do tumor com doses radicais), paliativa (que visa à redução do tumor sem pretensão de controle) e remissiva (que visa o alívio de compressão de estruturas neurológicas, vias aéreas, vísceras ocas, controle de sangramento, prevenção de fraturas, etc). A radioterapia pode ser realizada por MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 8 www.medresumos.com.br meio da teleterapia (em que a fonte radioativa é aplicada relativamente distante do paciente) e a braquiterapia (em que a fonte radioativa é, literalmente, introduzida no paciente). Em resumo, a radiação destrói preferencialmente as células que se dividem rapidamente. Geralmente, isto significa câncer, mas a radiação também pode lesar tecidos normais, especialmente os tecidos nos quais as células normalmente se reproduzem rapidamente, como a pele, os folículos capilares, o revestimento dos intestinos, os ovários ou os testículos e a medula óssea. A definição e direcionamento precisos da radioterapia protegem tanto quanto seja possível as células normais. As células que possuem um suprimento adequado de oxigênio são mais suscetíveis aos efeitos lesivos da radiação. As células mais próximas do centro de um tumor grande, frequentemente possuem um mau suprimento sanguíneo e níveis baixos de oxigênio. À medida que o tumor diminui, as células sobreviventes parecem obter um melhor suprimento sanguíneo, que pode torná-las mais vulneráveis à próxima dose de radiação. A divisão da radiação em um a série de doses aplicadas durante um período prolongado aumenta os efeitos letais sobre as células tumorais e diminui os efeitos tóxicos sobre as células normais. As células têm a capacidade de autorreparação após serem expostas à radiação. O plano terapêutico visa a reparação máxima das células e tecidos normais. Geralmente, a radioterapia é realizada com um equipamento denominado acelerador linear. Os raios são direcionados com bastante precisão sobre o tumor. O modo como os raios irão afetar de modo adverso os tecidos normais depende do tamanho da área que está sendo irradiada e de sua proximidade com esses tecidos. Por exemplo, a irradiação de tumores da cabeça e do pescoço frequentemente causa inflamação das membranas mucosas do nariz e boca, resultando em feridas e ulcerações. A radiação sobre o estômago ou o abdômen frequentemente causa inflamação do estômago (gastrite) e da parte inferior do intestino (enterite), resultando em diarreia. MEDICAMENTOS ANTINEOPLÁSICOS Um medicamento antineoplásico ideal deveria destruir as células cancerosas sem lesar as células normais. No entanto, este tipo de medicamento não existe. Entretanto, apesar da margem estreita entre o benefício e a lesão, muitos indivíduos com câncer podem ser tratados com medicamentos antineoplásicos (quimioterapia) e alguns são curados. Atualmente, os efeitos colaterais da quimioterapia podem ser minimizados. Os medicamentos antineoplásicos são agrupados em várias categorias: Quimioterápicos antineoplásicos: os principais agentes agrupam-se em: antimetabólicos (atuam inibindo a fase S ou interfase; Ex: citarabina, fluoropirimidinas), alcaloides de plantas (Ex: vincristina, vimblastina e navelbine), agentes alquilantes (operam através da ligação com átomos de carbono; Ex: mostarda nitrogenada ou gás hilariante); agentes antibióticos (provém de fungos; Ex: bleomicina e derivados da antraciclina). A quimioterapia para o tratamento do câncer pode ser curativa, paliativa, adjuvante, neoadjuvante ou sinergista, Imunoterápicos (Ex: a própria vacina da BCG pode tratar carcinomas na bexiga in situ): a imunoterapia necessariamente deve ser vinculada a conceitos tais como oncogênese, mecanismos de defesa do sistema imunológico para combate ao câncer, imunodiagnóstico e possibilidade atual e futura de imunomudolação. O sistema imune é estimulado principalmente pelos antígenos celulares. A imunoterapia utiliza técnicas como os modificadores de respostas biológicas, a terapia com linfócitos assassinos e a terapia humoral (com anticorpos) para estimular o sistema imune do corpo contra o câncer. Essas técnicas têm sido utilizadas no tratamento de uma série de diferentes cânceres como, por exemplo, o melanoma, o câncer de rim, o sarcoma de Kaposi e a leucemia. Hormonioterápicos (Ex: prednisona, anastrosol): a hormonioterapia é realizada em tipos de câncer com hormoniodependência (no câncer de mama e na célula mamária normal, por exemplo, o estrógeno e a prolactina são agentes responsáveis pela mitose celular, servindo como cofator na gênese do câncer de mama; com isso, o uso do anti-hormonal Tamoxifen, na dose de 20 mg/dia, gera uma resposta terapêutica considerável no tratamento deste tipo de câncer). Anticorpos monoclonais (Ex: transtuzumab). TERAPIA COMBINADA Para alguns cânceres, a melhor terapia é uma combinação de cirurgia, radiação e quimioterapia. A cirurgia e a radioterapia tratam o câncer que se encontra confinado localmente, enquanto a quimioterapia destrói as células cancerosas que escaparam para além da região local. Às vezes, a radioterapia ou a quimioterapia são administradas antes da cirurgia (para diminuir a massa tumoral) ou depois dela (para destruir as células cancerosas remanescentes).A quimioterapia combinada com a cirurgia melhora as chances de sobrevida dos indivíduos com câncer de cólon, câncer de mama ou câncer de bexiga que se disseminou para os linfonodos regionais. Algumas vezes, a cirurgia e a quimioterapia conseguem curar o câncer de ovário avançado. O câncer de reto tem sido tratado com êxito com a quimioterapia e a radioterapia. No câncer de cólon avançado, a quimioterapia realizada após a cirurgia pode prolongar a sobrevida livre de doença. Aproximadamente 20 a 40% dos cânceres de cabeça e de pescoço são curados com a quimioterapia seguida por radioterapia ou cirurgia. Para aqueles que não são curados, esses tratamentos podem aliviar os sintomas (terapia paliativa). A cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia têm papeis importantes no tratamento do tumor de Wilms e dos rabdomiossarcomas embrionários. No tumor de Wilms, um câncer de rim infantil, a cirurgia visa remover o câncer primário, mesmo se tiver havido disseminação de células tumorais para locais distantes do rim. A quimioterapia é MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 9 www.medresumos.com.br iniciada no momento da cirurgia e a radioterapia é realizada posteriormente, para tratar áreas localizadas de doença residual. Infelizmente alguns tumores (p.ex., de estômago, de pâncreas ou de rim) respondem apenas parcialmente à radioterapia, à quimioterapia ou a uma combinação das duas. Não obstante, essas terapias podem aliviar a dor causada pela compressão ou os sintomas decorrentes da infiltração do tumor nos tecidos circunjacentes. PRINCIPAIS EFEITOS COLATERAIS DO TRATAMENTO Quase todos os indivíduos submetidosà quimioterapia ou à radioterapia apresentam certos efeitos colaterais, sendo os mais comuns a náusea, o vômito e a contagem baixa de células sanguíneas. Os indivíduos submetidos à quimioterapia frequentemente apresentam perda de cabelo. A redução dos efeitos colaterais é um aspecto importante da terapia. Náusea e Vômito: Geralmente, a náusea e o vômito podem ser evitados ou minimizados com medicamentos (antieméticos). A náusea pode ser reduzida sem o uso de medicamentos, através da ingestão de pequenas refeições frequentes e evitando-se alimentos ricos em fibra, que produzem gases ou que estejam muito quentes ou muito frios. Pancitopenia: A citopenia, uma deficiência de um ou mais tipos de células sanguíneas, pode ocorrer durante a terapia antineoplásica. Por exemplo, um indivíduo pode apresentar quantidades anormalmente baixas de eritrócitos (anemia), de leucócitos (neutropenia ou leucopenia) ou de plaquetas (trombocitopenia). Geralmente, a citopenia não precisa ser tratada. No entanto, quando a anemia é grave, pode ser realizada a administração de uma transfusão de concentrado de eritrócitos (hemácias, glóbulos vermelhos). De modo similar, quando a trombocitopenia é grave, pode ser realizada a transfusão de plaquetas para minimizar o risco de sangramento. Um indivíduo com neutropenia (quantidades anormalmente baixas de neutrófilos, um tipo de leucócito) apresenta um maior risco de infecção. É por essa razão que uma febre superior a 38oC em um indivíduo com neutropenia é tratada como emergência. É investigada a presença de uma infecção, podendo ser necessária a instituição de uma antibioticoterapia e inclusive de hospitalização. Os leucócitos são raramente transfundidos porque eles sobrevivem apenas algumas horas e produzem muitos efeitos colaterais. Em seu lugar, determinadas substâncias (Ex: fator estimulador dos granulócitos) podem ser administradas para estimular a produção de leucócitos. Outros Efeitos Colaterais Comuns: A radioterapia ou a quimioterapia podem causar inflamação ou mesmo úlceras nas membranas mucosas (p.ex., revestimento da boca). As úlceras bucais são dolorosas e podem tornar a alimentação difícil. Uma variedade de soluções orais (geralmente contendo um antiácido, um anti-histamínico e um anestésico local) pode reduzir o desconforto. Em raras ocasiões, deve ser instituído um suporte nutricional através de uma sonda que é colocada diretamente no estômago ou no intestino delgado ou através de uma veia. Vários medicamentos podem reduzir a diarreia causada pela radioterapia sobre o abdome. MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 1 www.medresumos.com.br PRINCÍPIOS DE RADIOTERAPIA Radioterapia é o método de tratamento das neoplasias malignas que utiliza os efeitos das irradiações eletromagnéticas no controle da evolução dos tumores. É, portanto, uma das modalidades de tratamento do câncer, em que se faz uso de radiações ionizantes, tais como: raios-X, raios gama, elétrons, prótons, nêutrons; com a finalidade de erradicar completamente o tumor, sem ocasionar sequelas quer de ordem anatômica ou funcional para os órgãos ou tecidos normais da vizinhança. É um tipo de tratamento para patologias oncológicas que dura, na maioria das vezes, cerca de 2 meses (35 a 40 dias úteis), com retornos a cada 10 dias para a avaliação médica do resultado do tratamento. A radioterapia tem a finalidade curativa (que visa ao controle do tumor com doses radicais), paliativa (que visa à redução do tumor sem pretensão de controle) e remissiva (que visa o alívio de compressão de estruturas neurológicas, vias aéreas, vísceras ocas, controle de sangramento, prevenção de fraturas, etc.). Os efeitos biológicos da radiação se fazem por deposição de energia. Estes efeitos ocorrem, de início, principalmente na molécula de água, produzindo fenômenos de quebra de molécula com liberação de íons (H2O H+ OH-). Estes radicais reagem com componentes nobres da célula (as moléculas de RNA e DNA) produzindo alterações de menor e maior importância que podem ser letais à célula, impedindo a sua capacidade de divisão. O efeito da radiação guarda relação íntima com as diversas fases do ciclo celular, sendo a fase de mitose e o final da fase G2 de sensibilidade maior. Os efeitos indesejáveis que acontecem com o decorrer ou após os tratamentos radioterápicos são dependentes da dose, do volume e o tecido irradiado. Os tecidos de proliferação rápida (que é uma característica das células tumorais) como o hematopoiético e o epitelial são os principais acometidos pela radiação (e pela quimioterapia), causando as seguintes complicações: leucopenia, mucosite, dermatite actínica e alopecia. Deve-se atentar para tumores de cabeça e pescoço, onde é muito comum e bastante relatado quadros de xerostomia em pacientes submetidos à radioterapia devido ao acometimento da glândula parótida. Outra consequência da radiação focada na cabeça e pescoço é a irradiação das papilas gustativas e, com isso, a alteração do paladar (todo alimento passa a ter um gosto salgado), que, somada à anorexia da própria patologia, aumentam os transtornos ao paciente. Os tecidos orgânicos normais (íntegros) apresentam uma limitação quanto à radiação que for fornecida: observa-se que, no caso de lesões cancerosas abdominais, os rins apresentam limite de radiação de 3000 cGy (centiGray), o fígado apresente limite de 2400 cGy e medula com limite de 4000 cGy. O intestino delgado, por sua vez, é uma estrutura bastante sensível e de difícil isolamento quando se diz respeito à radioterapia. Em casos de radiação da cavidade abdominal, é comum que aconteça o aumento do peristaltismo, com consequente diarreia e sangramento retal. Os doentes, nestes casos, passam a apresentar desidratação e desnutrição severa. É necessário, portanto, a confecção de blocos de chumbo que protejam as áreas sensíveis e desviem o feixe radioativo apenas para a lesão. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA RADIOTERAPIA A radioterapia não difere das demais modalidades médicas quanto a sua origem. Teve inicio na base do empirismo, pois não se dispunha de conhecimentos de Física Médica e Radiobiologia. Os erros físicos e biológicos oriundos da falta de tais conhecimentos muitas vezes causaram danos aos pacientes. Os principais parâmetros de avaliação do tratamento eram as manifestações cutâneas que alguns pacientes apresentavam como resposta ao tratamento (hiperemia, eritema, descamação seca ou úmida, ulceração, etc.). Com isso, na época em que se iniciou o uso da radiação para fins terapêuticos, o aparelho disponível não tinha um poder penetrante, afetando apenas a pele e, por causa disso, concluiu-se que a dose máxima tolerável era aquela que gerava eritemas acentuados na pele do paciente. Contudo, na maioria das vezes, esse eritema não correspondia à dose de radiação tumoricida e, em consequencia disto, ocorriam as recidivas por subdosagem ou a necrose da pele por super dosagem. Contudo, a radioterapia vem evoluindo muito desde a descoberta dos raios X por Roentgen, da radioatividade por Becquerel e o primeiro elemento radioativo o rádio pelo casal Curie. As principais fontes de radiação são os aparelhos de R-X para terapia superficial e semiprofunda e os isótopos radioativos, emissores de irradiação gama (Cobalto60, Césio137, Irídio192, Rádio226 e Iodo125). A partir da década de 50, foram desenvolvidos equipamentos to ajudaram na evolução da radioterapia. A evolução progressiva da física médica e da eletrônica permitiu o desenvolvimento de equipamentos para obtenção de irradiações (fótons e elétrons) de alto poder de penetração nos tecidos; são os aceleradores lineares de partículas, dotadas de sistemas comandados para o posicionamento dos pacientes e direcionamento do feixe de irradiação por mais pontos de entrada. A irradiação com elétrons (irradiação corpuscular) pode ser obtida com emissores de elétrons (partícula beta) e também pelos aceleradores lineares com produção de elétrons. A evoluçãoda física médica e da radiobiologia nos permite, atualmente, uma forma mais orientada e direcionada de radioterapia por meio dos mais variados tipos de tratamento. Além disso, permite conhecer três fenômenos distintos que acontecem quando há interação entre a radiação e a matéria. Dentre eles, temos: Arlindo Ugulino Netto. ONCOLOGIA 2016 MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 2 www.medresumos.com.br O fenômeno físico, em que duas fases são observadas: (1) a fase de excitação, em que o elétron é excitado e passa de uma camada de energia mais interna para uma mais externa; e (2) uma fase de ionização, em que é o elétron é ejetado da eletrosfera e passa a funcionar como um radical livre, que interage e altera a forma molecular do tumor. No fenômeno químico, observamos a quebra da molécula da água em íons de hidrogênio e radicais de hidroxidrila (ou o inverso). Pode haver a recombinação dessas moléculas para formar H2O novamente ou pode acontecer do aparecimento do composto H2O2 (peróxido de hidrogênio ou água oxigenada), substancia altamente oxidante que, ao se combinar com substancias do tumor, modificaria sua constituição molecular e, consequentemente, alteraria as etapas da divisão celular. Os radicais gerados, os íons e o agente oxidante poderão ainda se combinar com substâncias importantes das células tumorais como o RNA, DNA e enzimas, fazendo com que ocorram modificações na estrutura nuclear e enzimática das células que compõe o tumor. No fenômeno biológico, podemos observar as seguintes fases: (1) morte imediata da célula, devido à absorção de grande quantidade de partículas radioativas nas células, ocasionando a destruição de todos os constituintes celulares (esta fase não ocorre em finalidade terapêutica, mas apenas em acidentes nucleares); (2) atraso do crescimento celular, devido aos danos maciços no citoplasma; (3) alterações da motilidade celular, devido ao impacto que ocorre nos centros motores; (4) supressão da reprodução celular, devido à destruição do centríolo celular (responsável pela formação do fuso celular, importante componente durante a divisão celular); (5) anomalias abortivas da divisão celular, devido à destruição de grande quantidade de cromatina nuclear; (6) má formação hereditária, devido à lesão própria que ocorre no segmento do DNA. Trata- se de um evento importante, principalmente, para pessoas que trabalham com material radioativo e pode passar para gerações subsequentes. OBS1: Na época em que não se tinha conhecimento desses fenômenos, os profissionais de saúde trabalhavam com o rádio-226 protegido por uma caixa de platina, que barrava a disseminação da radiação secundária deste elemento. Algumas vezes, contudo, ocorria um vazamento dessas cápsulas e o Rádio se transformava em radon, um gás altamente tóxico, o que causou a morte de um grande número de técnicos. O Rádio foi então substituído pelo Césio, principalmente devido à meia vida longa do rádio (que é de 1622 anos, isto é, um tubo com 10mg de rádio demoraria 1622 anos para chegar a 5mg). Para a maior segurança desses técnicos, o Césio foi substituído pelo Cobalto (com meia vida de 5 anos). Atualmente, utilizam-se alguns equipamentos com os quais o médico nem entra em contato por ser guiado por controles remotos. ESQUEMA DE TRATAMENTO POR RADIOTERAPIA Diante destes conhecimentos preliminares, a instituição de um esquema de tratamento por radiação, está na dependência da associação de vários fatores relacionados diretamente com o paciente, com o tumor, com o tipo de material radioativo ou equipamento a ser utilizado. No que diz respeito ao doente, temos que considerar o seu estado geral e a idade, principalmente. Em relação ao tumor, sua localização, tipo histológico e o estadiamento da doença. Na dependência do tipo histológico, a resposta à radiação se fará satisfatória ou não. Existem tumores sensíveis e tumores resistentes ao efeito da radiação. Daí o conceito de radiosensibilidade e radiocurabilidade. Nem sempre os tumores sensíveis são os tumores curáveis, da mesma forma, nem sempre os tumores resistentes são os tumores incuráveis. Em 1912, dois pesquisadores Franceses chamados Bergonié e Tribondeau, estudando cobaias de laboratório, observam que as células germinativas eram altamente sensíveis à radiação. Com isso, estudaram a fundo os resultados de suas pesquisas e formularam um postulado sobre a Quanto mais primitiva for a célula, mais sensível ela é ao efeito da radiação e quanto mais diferenciada mais resistente ela é ao efeito da radiação classificações quanto ao grau de sensibilidade dos tumores foram propostas e a mais aceita é a classificação de Desjardin que, em ordem decrescente de sensibilidade, temos: 1. Linfócitos maduros (ver OBS²). 2. Polimorfonucleares 3. Células epiteliais (ver OBS³) 4. Células endoteliais dos vasos, pleura e peritônio. 5. Célula muscular. 6. Ossos 7. Célula nervosa (ver OBS4) OBS²: Há dois tipos de linfomas clássicos (Hodgkin e não-Hodgkin). Apesar de serem da mesma linhagem histológica, o comportamento é diferente, pois biologicamente são distintos. O linfoma de Hodgkin é radiocurável, ao passo em que o não-Hodgkin é não-curável, apesar de serem da mesma linhagem histológica (tecido linfoide). OBS³: O tumor basocelular de pele é curável por tratamento cirúrgico com radioterapia adjuvante. As lesões iniciais de carcinoma epidermoide de prega vocal e de colo do útero são curáveis, tanto pela radiação quanto pela ressecção cirúrgica. No entanto, apesar de serem da mesma origem histológica (tecido epitelial), o carcinoma epidermoide do esôfago e do pulmão não é curável. Conclui-se que, além da característica histológica tumoral, o tratamento depende da MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 3 www.medresumos.com.br biologia e do comportamento tumoral em cada órgão. Em geral, os tumores de células epiteliais são de média sensibilidade. OBS4: A maioria dos tumores do sistema nervoso central são radiorresistentes. Contudo, o medulobastoma, que não tem cura, apresenta sensibilidade ao efeito da radiação. OBS5: Nem sempre os tumores radiossensíveis são curáveis, do mesmo modo que, os tumores radiorresistentes nem sempre são incuráveis. Algumas vezes, o médico depara com o mesmo caso clínico de dois pacientes, inclusive com o mesmo estadiamento, mas com respostas diferentes. A resposta ao tratamento depende, quase sempre, da resposta imunológica do paciente. FONTES DE RADIAÇÃO Elementos radioativos naturais: Radio-226, em forma de tubos e agulhas. Não é mais utilizado atualmente, mas foi amplamente utilizado na época de ouro da radioterapia. Elementos radioativos artificiais: há uma gama de aparelhos radioativos artificiais, que não somente são utilizados na radioterapia, mas também na medicina de uma maneira geral. o Cobalto-60 (Co60): em forma de tubos, agulhas ou fontes para unidades de cobalto. o Césio-137 (Cs137): em forma de tubos, agulhas ou fontes para unidades de césio. Tem meia vida de 30 anos. o Estrôncio-90 (Sr90): em forma de placas oftalmológicas e dermatológicas, para os tratamentos com radiação beta (betaterapia) e em forma de coloide. Tem meia vida de 29 dias. o Estrôncio-89 (Sr89): em forma de solução que serve para tratar metástase óssea disseminada. o Ouro-198 (Au198): em forma de sementes ou coloide. o Iodo-131 (I131): em forma de coloide. Foi utilizado por muito tempo pra realização de cintilografia, principalmente, para tireoide. Atualmente, é utilizado para o tratamento de câncer de tireoide. Tem meia vida de 8 dias. o Iodo-125 (I125): em forma de sementes. Existe, para o tratamento de câncer de próstata, a implantação permanente de semente de iodo. o Irídium-192 (Ir192): em forma de fios, fontes e sementes. Aparelhos produtores de radiação o Aparelhos de radioterapia superficial e semi-profunda, cuja energia oscila entre 50KV e 400KV, chamados também de radioterapia convencional ou Ortovoltagem. o Aceleradores de partículas (megavoltagem), cuja energia oscila entre 1MEV e 50MEV (milhões de eletronvolts). Dentre estes aparelhos de alta energia temos: Aparelho de Van-der-Graaf: foi o primeiro tipo de acelerador a ser desenvolvido. Betatron: aparelho que não teve uma boa aceitação comercial. Ciclotron: existe ainda na forma experimental que usa radiação através de nêutrons rápidos. A blindagem utilizada para a construção de uma sala para suportar este tipo de acelerador deveria apresentar cerca de 5m de concreto, não sendo viável o seu custo operacional (que é cerca de U$ 200.000.000,00). Não há perda de energia em calor: toda a energia que entra é transformada em radiação. Acelerador linear: são braços robóticos que se movimentam sob controle de um profissional médico. A sua tecnologia é bastante avançada e de alto custo. MODALIDADES DE RADIOTERAPIA Existem duas formas básicas de aplicação de radioterapia: a teleterapia e a braquiterapia. Contudo, o tratamento do câncer deve ser encarado de forma multidisciplinar: cirurgia, quimioterapia, radioterapia, fisioterapia, imunoterapia, etc. Na teleterapia, a fonte de irradiação produz um feixe de raios que é emitido pelo equipamento à distancia variável de 1 a 100 cm do paciente e é dirigida ao tumor. Os principais aparelhos são os de R-X convencional, os aceleradores lineares e as bombas de cobalto. Na teleterapia, isto é, radioterapia a distancia, o doente fica na mesa do equipamento, com uma certa distância da fonte utilizada, como as unidades de cobalto ou acelerador linear. A teleterapia pode ser convencional ou Radioterapia de Alta Precisão, onde tratamentos sofisticados como Radioterapia Conformacional ou por estereotaxia, são utilizados em algumas patologias, como tumores cerebrais de pequeno tamanho (até 4cm), alterações vasculares cerebrais, em tumores da próstata, reto etc., usando meios auxiliares de imagem, como CT, Ressonância Magnética, PET-CT e sistemas de planejamento tridimensional, computadorizado. No Hospital MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 4 www.medresumos.com.br Sírio Libanês de São Paulo, já é de uso terapêutico a radioterapia em quarta dimensão que, em tempo real, se obtém a imagem do tumor e a evolução de seu tratamento. A teleterapia, em resumo, pode se apresentar das seguintes formas: (1) radioterapia convencional, através dos aceleradores lineares ou do cobalto; (2) a radioterapia de alta precisão, conhecida como conformacional-3D (tridimensional); (3) radiocirurgia por estereotaxia; (4) readioterapia guiada por imagem em tempo real (radioterapia em 4D); (5) radioterapia robótica. Na braquiterapia (do grego, braqui = curto), o isótopo radioativo emissor gama é colocado em contato direto com o tumor (intracavitário ou intersticial). É usada no tratamento dos tumores mais acessíveis ao radioterapeuta, como as neoplasias malignas do colo de útero, boca e pele. Atualmente, os isótopos mais usados neste tipo de tratamento são o Césio-137 e o Irídio-192. A braquiterapia tem a vantagem de irradiar o tumor com doses tumoricidas, dando proteção aos órgãos e estruturas que o envolvem, pela absorção progressiva da irradiação emitida com o aumento da distancia da fonte. Com a sofisticação das técnicas, consegue-se o acesso da braquiterapia a tumores situados profundamente, como próstata, bexiga, pulmão e rinofaringe. A braquiterapia pode ser de baixa taxa de dose (LDR) ou de alta taxa de dose (HDR). Até 1996, o Hospital Napoleão Laureano fez uso da braquiterapia com baixa taxa de dose, em que se utiliza Radio-226, Césio-137 e Cobalto-60. Na alta taxa de dose, se utiliza Iridium-192. A braquiterapia é basicamente uma monoterapia para câncer de próstata e de colo uterino. OBS6: Doses de radiação. O conceito de dose é a quantidade de radiação a ser administrada ao paciente com a finalidade de destruir o tumor. A unidade física para isto é o cGy (centiGray), que significa a dose de radiação a ser absorvida no tecido. Quando medida no ar, a unidade é o roetgen e quando medida em outro material (água, por exemplo), a unidade é o próprio Gray. É medida em quantidade de energia depositada no meio pelo feixe de irradiação: 1 gray corresponde à joule/Kg do material. Os isótopos radioativos são medidos quanto à sua atividade: número de átomos desintegrado por segundo. OBS7: Algumas patologias apresentam um determinado tempo ideal de tratamento radioterápico, isto é, tempo necessário para destruir o tumor. No caso de câncer de colo uterino, o tempo ideal é de 52 dias. Epidemiologicamente, a cada dia que se passe após esses 52 dias, há uma perda de 1% de chances de sobrevida. Uma das principais causas de afastamento de data limite de tratamento por radioterapia são as alterações hemodinâmicas, principalmente, contagem de hemoglobina e leucócitos. Quando o nível de Hb é menos que 10g/dL, é necessário realizar uma recuperação das condições hemodinâmicas do indivíduo. OBS8: No tratamento radioterápico, é comum o termo área de sombra para designar aquela periferia que margeia a lesão (sendo este o foco) que geralmente é irradiada de forma não-terapêutica, uma vez que, estaria sadia, teoricamente. Quanto mais direcionado for o foco da irradiação, menor a área de sombra e melhor seria para o paciente, uma vez que se estaria evitando a irradiação de áreas normais, evitando, assim, eventuais mutações. MODALIDADES DE TRATAMENTO RADIOTERÁPICO O tratamento do câncer é estabelecido por planos terapêuticos, com o uso isolado ou com a associação multidisciplinar da cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e imunoterapia. As associações terapêuticas são baseadas principalmente no tipo, na localização, forma de disseminação, estadiamento clínico e patológico do tumor. Conforme o objetivo dos resultados, a radioterapia em especial, tem a finalidade curativa (que visa ao controle do tumor com altas doses radicais), paliativa (que visa à redução do tumor sem pretensão de controle) e remissiva (que visa ao alívio da compressão de estruturas neurológicas, vias aéreas, vísceras ocas, controle de sangramento, prevenção de fraturas, etc.). Radioterapia radical (curativa): é a forma de radiação que tem por finalidade erradicar de vez o tumor, gerando a cura. O câncer tem cura em mais de 70% dos casos quando diagnosticado precocemente. Paliativa: favorece a regressão do tumor e diminuição dos sintomas, o que prolonga a vida do paciente e proporciona o seu conforto físico e bem estar. Representa mais de 70% dos tratamentos radioterápicos no Brasil, onde o diagnóstico de câncer é, na maioria das vezes, feito tardiamente. Isto porque ainda existe uma cultura de esconder a doença. Pré-operatória: tem a finalidade de diminuir o volume tumoral e tornar móveis tumores fixos, facilitando o acesso do cirurgião para a abordagem terapêutica. Radioterapia complementar: complementa um tratamento previamente instituído, sendo utilizado, portanto, no pós-operatório e pós-quimioterapia. Radioterapia profilática: é feita, por exemplo, na irradiação do SNC de crianças portadoras de leucemia linfoide aguda, com finalidade de impedir o aparecimento da chamada meningite leucêmica. O tratamento da leucemia é feito por quimioterapia. Contudo, para evitar o acometimento do SNC durante a fase de remissão clínica e hematológica, a radioterapia é feita para evitar o surgimento de sintomas. Radioterapia intra-operatória: muito comum nos anos 80 e que está voltando à ativa. É bastante utilizada para o tratamento de tumor de estômago. MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 5 www.medresumos.com.br EFEITOS DE IRRADIAÇÃO As diferenças de respostas entre o tecido normal e o tecido tumoral dependem de fatores como velocidade de crescimento, tipo do tumor, grau de indiferenciação, tamanho do tumor, oxigenação do tecido tumoral, entre outros. Esta diferença de resposta com menor efeito lesivo da radiação sobre as células tumorais comparada aos efeitos nos tecidos normaisconstitui o que chamamos ganho terapêutico. Conforme o grau de resposta das neoplasias à irradiação, podemos classificá-las em neoplasias de alta, média e baixa radiossensibilidade. Tumores radiossensíveis: linfomas de Hodgkin e não-Hodgkin, os tumores da infância (tumor de Wilms), o tumor de Ewing, os seminomas, etc. Tumores de média sensibilidade: carcinomas epidermoides e adenocarcinomas. Tumores de baixa radiossensibilidade: sarcomas e melanomas. PLANEJAMENTO RADIOTERÁPICO Representa as atividades do médico radioterapeuta e do físico em irradiações, juntamente com a avaliação do caso clínico em sintonia com o cirurgião e o oncologista clínico. A localização e a extensão confirmadas e presumidas da doença são determinantes. Os recursos da propedêutica devem minimizar erros de avaliação. São definidos: área a ser irradiada, dose, o numero de campos de entrada do feixe, uso de filtros de compensação, proteções e limites de dose. A simulação é o passo seguinte, antes de se iniciar o tratamento do paciente. EFEITOS BIOLÓGICOS DA IRRADIAÇÃO Os efeitos biológicos da radiação se fazem por deposição de energia. Estes efeitos ocorrem, de início, principalmente na molécula de água, produzindo fenômenos de quebra de molécula com liberação de íons (H2O H+ OH-). Estes radicais reagem com componentes nobres da célula (as moléculas de RNA e DNA) produzindo alterações de menor e maior importância que podem ser letais à célula, impedindo a sua capacidade de divisão. O efeito da radiação guarda relação íntima com as diversas fases do ciclo celular, sendo a fase de mitose e o final da fase G2 de sensibilidade maior. EFEITOS COLATERAIS DAS IRRADIAÇÕES Os paraefeitos indesejáveis que acontecem com o decorrer ou após os tratamentos radioterápicos são dependentes da dose, do volume e do tecido irradiado. Os tecidos de proliferação rápida como o hematopoiético e o epitelial são os responsáveis pelas complicações agudas: leucopenia, mucosite e dermatite actínica que são reversíveis com o término do tratamento. Os efeitos colaterais tardios dependem da resposta tardia das células aos efeitos da irradiação, do comprometimento vascular da microcirculação dos tecidos irradiados e de outros efeitos, como o trauma (contuso, cirúrgico e infeccioso). São genericamente chamados de fibrose ou necrose por irradiação, podendo cursar com formação de estenoses e fístulas. PRINCIPAIS INDICAÇÕES CLÍNICAS AO TRATAMENTO RADIOTERÁPICO Câncer de pele. Nos carcinomas basocelular e espinocelular, como opção de tratamento nos tumores iniciais (T1 e T2), com resultados iguais à cirurgia e bons resultados cosméticos. É contraindicada nos tumores de membros inferiores, sobre úlceras e cicatrizes de queimaduras. O tratamento radioterápico é indicado no sarcoma de Kaposi e na micose fungoide. Câncer do colo do útero. Associado à cirurgia nos Estádios Clínicos (EC) I e IIa. Tratamento exclusivo nos EC IIIa e IIIb, com intenção curativa. No EC IV, como forma de tratamento paliativo. Câncer de mama. Nos EC I e II, no tratamento conservador, associado à cirurgia. Adjuvante à cirurgia, EC III operável, combinado à quimioterapia. Indicado como tratamento paliativo nas recidivas, metástases ósseas e cerebrais. Câncer de pulmão. Nos tumores inoperáveis e irressecáveis. Adjuvante na cirurgia, nos tumores operáveis. Câncer do trato gastrintestinal. No câncer de esôfago, como tratamento exclusivo ou associado à cirurgia; no câncer de reto, associado à cirurgia e no câncer do canal anal, associado à quimioterapia. Além das lesões cancerígenas mais graves previamente citadas, a radioterapia ainda pode ser utilizada no tratamento de várias lesões benignas. Papilomas e queloides por meio de beta-terapia. Pterigio. É um tipo de carnosidade que nasce na cerótica. Apresenta crescimento gradual e avança até a área da córnea. Ocorre um quadro irritativo severo na região ocular que piora diante da claridade e poeira. É feito a beta- terapia. Herpes Zoster. Doença de Peyronie. É a deposição de fibroblastos em cima do corpo cavernoso do pênis. Paciente jovem com esta doença não apresentar ereção devido ao quadro doloroso intenso quando estimulado. O tratamento pode ser feito por infiltração de corticoide e, em casos mais rebeldes que não são responsivos ao tratamento MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 6 www.medresumos.com.br farmacológico adequado, lança mão de radioterapia, visando proteger os testículos para evitar a infertilidade do paciente. Adenoma hipofisário. Depois de ter sido realizada uma curetagem do tumor, a radiação é feita para evitar o crescimento do tumor. Exoftlamia do hipertireoidismo. Bursites, principalmente da articulação escapulo-umeral. OBS9: Cerca de 2/3 dos tumores malignos apresentarão indicação de radioterapia para pelo menos uma das fases da doença. OBS10: Hemangioma ósseo ocorre quando estruturas tuberculares se formam nos ossos vertebrais. Não apresenta tratamento cirúrgico. Sua principal consequência clínica é o caráter de dor localizada. A radioterapia funciona como esclerosante. A dose de radiação é a mesma que se faz quando ocorre metástase óssea. Faz-se irradiação do paciente em 20 sessões e, geralmente, não há lesão isolada (ocorre comprometimento, em geral, de 3 a 4 vértebras). MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 1 www.medresumos.com.br CÂNCER DE COLO UTERINO O câncer de colo uterino é um dos mais frequentes dos tumores malignos ginecológicos, contudo, é facilmente acessível ao diagnóstico precoce e, condicionado pela sua histologia e tipo de disseminação linfática, é passível a um tratamento curativo. É justamente a prevenção e o diagnóstico precoce as duas únicas maneiras possíveis de diminuir a incidência e reduzir as taxas de mortalidade. No Brasil e países subdesenvolvidos, o câncer do colo uterino encontra-se disparado em primeiro lugar, entre todos os casos do aparelho genital (cerca de 15% dos cânceres que ocorrem no sexo feminino), e também em primeiro lugar entre todos os cânceres da mulher, na maioria das cidades brasileiras. Em certas regiões do Nordeste, a incidência é ainda mais elevada: Pernambuco apresenta uma taxa bruta de 8,3 a cada 100.000 habitantes. Contudo, a mortalidade pelo câncer do colo uterino tem caído consideravelmente nos países desenvolvidos nos últimos 40 anos graças ao aumento significativo de casos em que o mesmo é detectado precocemente, ainda nas fases pré-malignas. O avanço do exame citológico preventivo de Papanicolau foi, sem dúvida, o principal responsável por esta redução, não só pela sua eficácia, mas também pela facilidade de seu emprego e por seu baixo custo. O colo uterino corresponde a porção do útero que dá acesso ao canal vaginal, tendo em média 4 cm de extensão até a altura do istmo. Ele é revestido de forma ordenada por várias camadas de células epiteliais pavimentosas, que ao sofrerem transformações intra-epiteliais progressivas, podem evoluir para uma lesão invasiva em um período de 10 anos (o que não explica bem o fato de que, nos últimos anos, a incidência em adolescentes ter aumentado muito). Na maioria dos casos, a evolução do câncer é lenta, passando por fases pré-clínicas detectáveis e curáveis. HISTÓRIA NATURAL E PADRÕES DE DISSEMINAÇÃO DO TUMOR Geralmente, o tumor se origina da junção escamo-cilíndrica do cérvice e é precedido por displasia e câncer in situ. Caso esta lesão não seja detectada, quando as células malignas rompem a membrana basal para entrar no estroma, ocorre o câncer invasivo em um intervalo de 10 anos. Com o crescimento contínuo, a lesão torna-se visível e envolve progressivamente mais tecido cervical com invasão dos espaços linfovasculares. Os tumores invasivos podem apresentar um caráter vegetante ou infiltrativo. Quando os tumores são vegetantes, crescem em direção à vagina, podendo ocupá-la totalmente e ser visível mais facilmente. Quando são infiltrativos, destroem o colo e penetramna cavidade, podendo ocupar até a região do istmo uterino. Muitas vezes, a paciente pode advir ao médico por queixa de sangramento e, ao exame, não se consegue observar massa tumoral. Neste caso, se a paciente apresentar lesão do canal cervical, impreterivelmente, o médico não conseguirá alcançar tal área. Por esta razão, toda paciente em menopausa que apresente quadros de sangramento, até que se prove o contrário, deve apresentar câncer do endométrio ou canal cervical, sendo necessário realizar curetagem de prova para envio do material ao patologista. OBS1: Os oncologistas costumam referenciar três lesões neoplásicas de fácil diagnóstico: o câncer de pele, tumores da cavidade oral e tumor de colo uterino. FATORES PREDISPONENTES Exposição ao HPV, em especial os de alto risco (16,18, 33, 35 e 38): 75% dos casos de colo uterino tem relação com o HPV, sendo este, então, o principal fator de risco para o câncer de colo uterino. Inicio da atividade sexual precoce, antes dos 16 anos: quanto mais cedo o início da atividade sexual acontecer, maior será a chance de desenvolver agressões ao epitélio e um processo inflamatório ginecológico, que podem repercutir, em um tempo não muito longo, em lesão maligna. Multiparidade: quanto maior o número de filhos, mais propenso a chance de desenvolver câncer de colo uterino. Principalmente, o tumor se desenvolve a partir de partos mal assistidos, como aqueles realizados por parteiras. Nestes casos, quando há lesão do colo, dificilmente será feita a colorrafia (sutura da lesão do colo), o que leva a uma cicatrização por segunda intenção, gerando uma área desvitalizada e sem irrigação. Com o advento de traumas ou partos subsequentes, os processos inflamatórios vão se instalando em locais já previamente alterados do ponto de vista histológico, servindo como uma área de propensão ao câncer de colo uterino. Múltiplos parceiros: principalmente, aqueles parceiros não circuncisados. Em alguns países, regidos pela lei de suas religiões (como o Judaísmo), os homens são circuncisados ainda crianças. Por esta razão, o câncer de colo uterino e de pênis nos países que adotam este tipo de cultura religiosa é pouco frequente. Isso se deve ao fato de que o esmegma (substancia lipídica lubrificante produzida por células da glande peniana) apresenta alguns compostos (histona e porfirina) que agem como substâncias cancerígenas. Arlindo Ugulino Netto. ONCOLOGIA 2016 MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 2 www.medresumos.com.br Fatores socioeconômicos, educacionais e culturais: a maioria dos pacientes de baixa renda apresenta receio ao exame clínico, principalmente, quando se trata de sangramento intermenstrual, o que dificulta o diagnóstico. Substância cancerigêna do esmegma e sêmen (histona e porfirina) Infecções ginecológicas não tratadas convenientemente Pólipo cervical Fatores genéticos SINTOMAS O sintoma mais acusado pela paciente é uma perda sanguínea vaginal começando com uma sinusorragia, com aumento gradativo do sangramento, que é proporcional ao crescimento da tumoração, podendo chegar a um quadro de hemorragia. Quando o tumor já é avançado, aparece um corrimento seroso definido como água de carne, fétido devido à necrose e à infecção da tumoração. Contudo, muitas mulheres com diagnóstico de câncer cervical em estágio inicial apresentam-se assintomáticas. Muitas vezes, quando sintomática, há uma semelhança com a patologia benigna. Para evitar erros devido essa semelhança com neoplasia benigna, deve-se realizar esfregaços de Papanicolau de rotina, para então abordar o diagnóstico correto do que se trata. Em resumo, as principais manifestações clínicas de pacientes sintomáticas são: Corrimento de odor fétido; Sangramento intermenstrual; Dispareunia (dor ao ato sexual); Sinusorragia (sangramento durante o ato sexual): pode ser causada por lesões durante o coito ou devido à neovascularização tumoral. Dor epigástrica e dor pélvica aparecem quando o tumor está em fase mais avançada. Edema dos membros inferiores também caracteriza fase avançada da doença e é causado por obstrução do fluxo linfovascular. ROTINA DIAGNÓSTICA Para um diagnóstico fiel de tumor no colo do útero, devemos avaliar os seguintes parâmetros: História Clinica: uma boa história clínica auxilia o encontro dos sintomas previamente relatados e favorece o diagnóstico desse tumor de forma efetiva. No diagnóstico clínico, observamos ao exame especular um colo grande na maioria das vezes com uma tumoração abrolhante e, em menor incidência, uma lesão endofítifca ou infiltrativa. Ao toque vaginal, além de percepção da tumoração, com sua irregularidade e consistência endurecida, faz-se a exploração da vagina para verificação de invasão tumoral. O toque retal é de primordial importância para verificação de invasão tumoral em toda a extensão do colo uterino, e principalmente para comprovação de invasão aos paramétrios. Exame físico-ginecológico: neste momento, deve-se realizar o toque vaginal, toque retal, exame de fundo vaginal dos dois lados e o exame especular. É necessário avaliar o aspecto e a extensão da lesão. Exame citológico (Exame de Papanicolau): deve-se realizar análise do material celular em todas as mulheres com vida sexual ativa entre 25 e 59 anos. Este teste deve ser repetido anualmente. A citologia deve ser feita anualmente e após 3 resultados negativos, realizar a cada 3 anos ou a critério medico. Mulheres submetidas a Histerectomia total por doença benigna não necessitam de rastreamento anual. Mulheres acima de 30 anos com 3 citológicos normais, podem aumentar o intervalo de rastreamento de acordo com orientações do seu medico. Isso não se aplica a pacientes com HIV e imunodeficiência. Mulheres com mais de 70 anos e 3 citológicos normais e nenhum anormal nos últimos 10 anos, pode descontinuar o rastreamento. Colposcopia e teste de Schiller: é o teste para avaliar o nível da lesão e a extensão das células neoplásicas quanto às camadas histológicas do colo uterino. Neste teste, aplica-se lugol com iodo em cortes histológicos do colo uterino e, se positivo para as lesões neoplásicas, não se observa coloração (Schiller Positivo). Isto porque o iodo apresenta afinidade pelo glicogênio presente nas células do epitélio cervical normal (que, quando coradas, apresentam uma coloração tipo café-com-leite, refletindo em Teste de Schiller Negativo). Contudo, como as células repletas de glicogênio são gradativamente substituídas pelas células parabasais (devido ao processo de MEDRESUMOS 2016 ONCOLOGIA 3 www.medresumos.com.br desdiferenciação), o iodo não consegue reagir com o glicogênio. Os locais que não se coram com iodo refletem, portanto, a ausência de células do tecido normal (que eram repletas de glicogênio). Biopsia: deve ser utilizada para comprovação do tipo histológico e do grau histológico. Deve-se realizar biópsia de modo dirigido para aquelas regiões que refletiram em teste de Schiller Positivo, de modo que os quatro quadrantes do colo sejam biopsiados. O local de coleta das células do colo uterino deve ser selecionado pela presença de sangramento, o que indica tecido vivo. As áreas que apresentam necrose apresentariam um resultado falso negativo. Radiografia de Tórax: este exame é válido para detectar possíveis disseminações para o pulmão. Ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética. Enema Opaco: exame que foi substituído pela colonoscopia. Cistoscopia e Urografia: seriam exames de rotina obrigatória, mas que são substituídos pela ultrassonografia. Esses exames são importantes devido à possibilidade de compressão do ureter unilateral ou bilateral, podendo causar hidronefrose (o que caracteriza o estádio IIIb da doença). Retossigmoidoscopia e colonoscopia Tomografia, ressonância e ultrassonografia Hemograma: serve como exame para avaliar a taxa de hemoglobina para pacientes que serão submetidas à radioterapia. Pacientes com hemoglobina
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