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Como o setor privado atua no SUS

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Como o setor privado atua no SUS? 
A parceria público-privada (PPP) atua no SUS de diversas formas e, em 2020, somava 60,5% das instituições ligadas ao sistema de saúde pública. Algumas delas são: estabelecimentos filantrópicos (como as Santas Casas), compras de serviços oferecidos por empresas, Organizações Sociais (OS) ou Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), entre outras.  
Neste tipo de participação, é determinada uma verba pública para pagamento dos serviços, que são entregues para a população de forma gratuita, assim como os prestados pela rede pública de saúde.  
Normalmente, a contratação é feita para especialidades não disponíveis na rede pública, o que possibilita que o paciente seja atendido da forma que necessita, com os custeios pagos pela gestão pública. Ela é feita através de chamada pública ou credenciamento.  
Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, alguns leitos de UTI foram contratados e custeados pelo Governo Federal, com valores pré-definidos em todo o território nacional.  
Ajuda de empresas privadas durante a pandemia 
Ainda no contexto da pandemia, empresas privadas também fizeram um movimento de solidariedade e realizaram doações para melhoria do colapso do sistema público de saúde. Foram diversas iniciativas, que ofereceram desde itens básicos até insumos hospitalares.  
Por que a participação da iniciativa privada no SUS é importante? 
Apesar de ser um sistema de saúde, como dito anteriormente, completo e complexo, o SUS ainda possui falhas que fazem com que o serviço prestado não alcance o patamar esperado, como é o caso de falta de medicamentos, aparelhos, profissionais e a lotação e filas de espera para marcação de consultas e exames, além de procedimentos mais urgentes.  
A participação do setor privado no SUS, neste contexto, é uma opção para melhorar alguns dos maiores desafios citados. A alternativa permite que demandas com urgência sejam resolvidas com mais facilidade e rapidez, evitando maiores problemas.  
Além disso, serviços contratados de outras empresas, como os de tecnologia, também possibilitam a melhoria para muitos dos desafios, como: a humanização e digitalização de atividades de rotina, inserção e conferência de dados no prontuário do paciente, marcação de consultas e exames, entre outros.  
O que diz a constituição e Ministério da Saúde? 
Na rede pública, os termos utilizados para obtenção de serviços da iniciativa particular são contratação e contratualização. Os dois conceitos estão amparados pela Constituição Federal, no artigo 199. Ele diz respeito a possibilidade complementação da iniciativa privada ao SUS.  
A lei diz que o gestor pode complementar os serviços oferecidos pela saúde pública quando houver insuficiência para atendimento para a população e, como resolução, ele pode buscar a iniciativa privada tendo em mente os princípios e diretrizes do SUS. 
Ministério da Saúde: manual de contratação 
O Ministério da Saúde dispõe, ainda, de um Manual de Orientações para Contratação de Serviços de Saúde, que exemplifica diversos tipos, como:  
· Convênio com entidades privadas. 
· Licitação em que as entidades apresentam seus preços para prestação do serviço, vencendo a que apresentar o menor valor. 
· Dispensa de licitação, quando apenas uma empresa privada oferece o tipo de serviço na região, ou em casos de urgência ou emergência. 
· Inexigibilidade, quando não é possível criar uma competição entre as empresas prestadoras do serviço.
Participação da iniciativa privada na gestão pública de saúde 
Neste artigo, você conferiu que é possível que a iniciativa privada complemente a gestão pública de saúde. No entanto, é preciso observar legislações e manuais, como o do Ministério da Saúde.  
Também foi observado que a junção entre público e privado é benéfica, desde que sejam observadas as circunstâncias e real necessidade do investimento.  
argumento central é de que o setor privado é mais eficiente que o setor público por ter donos, os quais, sendo ciosos com a valorização de seus patrimônios, estarão atentos para minimizar desvios e desperdícios. Assim, produzirão bens e serviços com menores custos, os quais, devido à concorrência, efetiva ou potencial, serão passados aos preços, beneficiando aos consumidores.
Grande parte do público tem acreditado nessa narrativa, por isso precisamos relativizá-la. O setor público também pode e deve atenuar desvios e desperdícios, com sistemas de controle que incluem controladorias, tribunais de contas e Ministério Público, assim como elevar a eficiência de seus trabalhadores, com programas de incentivos e possibilidades de punição. Em relação a empresas públicas bem administradas, os menores custos das privadas viriam, principalmente, dos salários mais baixos e não seriam repassados integralmente aos seus preços. Na verdade, são muito pouco repassados, podendo os preços serem até aumentados, em setores sem concorrência e sequer ameaças, cujos produtos sejam essenciais e sem substitutos viáveis, como energia elétrica, água, gás de cozinha, serviços de entrega em locais remotos.
Vários defensores das privatizações têm, ainda, motivações adicionais, como as grandes “tacadas” possibilitadas por cada processo de privatização, seja em termos de propinas a políticos e autoridades envolvidas, seja pelos ganhos exorbitantes decorrentes de vendas desses ativos públicos a preços muito abaixo de uma avaliação adequada. Ainda que a narrativa da maior eficiência seja relativizada e as “tacadas” nos processos de privatização sejam evitadas, outros elementos, ainda mais importantes, precisam ser considerados.
A maior desvantagem das empresas públicas é a possibilidade de serem utilizadas em barganhas políticas, servindo de cabides de emprego, de instrumentos para desviar recursos e favorecer correligionários e apoiadores. Muitos desses expedientes são difíceis de evitar, por mais e melhores que sejam os sistemas de controle, restando, como solução, a privatização. Contudo, em muitos casos, não vale à pena esta solução final, sendo melhor ir enfrentando os problemas. Seria o caso de empresas estratégicas, seja para a manutenção e ampliação do estado de bem-estar social, seja para promover o desenvolvimento econômico.
Serviços como de educação, de saúde, de entregas, de fornecimento de energia elétrica, de crédito, geram lucratividade para atrair o setor privado até uma escala que não alcança muitos indivíduos e comunidades que poderiam ser beneficiadas. Eletrificação e serviços de correios em locais distantes e pouco desenvolvidos, por exemplo, não geram retorno atrativo para o setor privado, mas não apenas melhoram diretamente a qualidade de vida dos beneficiados quanto viabilizam empreendimentos nas comunidades beneficiadas que favorecem menor dependência de assistência social.
Os defensores das privatizações indiscriminadas argumentam que essa elevação de escala pode ser conseguida com uma regulação adequada, prevendo financiamento específico, com alguma modalidade de subsídio, público e de clientes com maior capacidade de pagamento. Nessa linha, as dificuldades inerentes ao setor público seriam trocadas pelas dificuldades com agências reguladoras e com o atendimento das políticas do governo por parte da empresa privatizada. São políticas que tendem a se alterar a cada governo, podendo envolver grandes investimentos e mudanças operacionais, tornando-se inviável exigir o seu cumprimento pelas privatizadas. Enfim, em muitos casos, é essencial manter a empresa controlada pelo Estado.

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