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CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 1 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB APOSTILA Direito Civil 02 Direito Processual Civil 76 Direito Penal 128 Direito Processual Penal 172 Direito Constitucional 224 Direito Administrativo 259 Direito do Trabalho 298 Processo do Trabalho 343 http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 2 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Direito Civil I - BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto a essa primeira classificação os bens se dividem em: móveis ou imóveis; infungíveis ou fungíveis; inconsumíveis ou consumíveis; indivisíveis ou divisíveis e singulares ou coletivos. Vamos à primeira delas: 1 - BENS QUANTO À MOBILIDADE Segundo essa classificação os bens se dividem em móveis e imóveis. A) BENS IMÓVEIS (arts. 79/81 CC) São aqueles que não podem ser removidos, transportados, de um lugar para o outro, sem a sua destruição. Podem ser divididos em: • por natureza -o solo e tudo quando se lhe incorporar naturalmente (árvores, frutos pendentes), mais adjacências (espaço aéreo, subsolo). Lembramos que a propriedade do solo abrange o espaço aéreo e o subsolo. Pergunto: o dono do solo será, também, o dono do subsolo? Resposta para o Direito Civil: SIM. O dono do solo é também o dono do subsolo, especialmente para construção de passagens, garagens subterrâneas, porões, adegas etc. No entanto esta regra pode sofrer algumas limitações. Pelo artigo 176 da Constituição Federal as jazidas, os recursos minerais e hídricos constituirão propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, ficando sob o domínio da União. Mas, convenhamos, é difícil qualquer um de nós comprar um terreno e nele “achar” uma mina de ouro ou de diamantes ou um lençol petrolífero. No entanto, se isso ocorrer, você não será dono deste recurso mineral. A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União. Todavia a própria Constituição garante ao dono do solo a participação nos resultados da lavra. • por acessão física, industrial ou artificial (acessão quer dizer aumento, acréscimo de uma coisa a outra) -tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo, não podendo removê-lo sem destruição, modificação ou dano (ex.: sementes plantadas, edifícios, construções – pontes, viadutos, etc.). É bom que nós acrescentemos: não perdem o caráter de imóvel (ou seja, continuam sendo imóveis): a) edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local. b) materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. • por acessão intelectual -o que foi empregado intencionalmente para a exploração industrial, aformoseamento e comodidade. São bens móveis que foram imobilizados pelo proprietário. É uma ficção jurídica (ex.: máquinas, tratores, veículos, animais, etc.). Obs: O enunciado 11 da 1ª jornada de Direito Civil preceitua haver desaparecido a categoria de imóvel por acessão intelectual. No entanto, alguns autores, como Flavio Tartuce e Pablo Stolze, discordam. Entendem estes professores, é bom frisar, de forma minoritária, que nada impede que um bem seja visto por mais de um prisma de classificação. Majoritariamente, entretanto, o Código Civil atual não acolhe mais essa divisão. Seguindo a doutrina moderna sobre o tema, outros autores preferem qualificar os bens imóveis por acessão intelectual como pertença, onde a coisa deve ser colocada a serviço do imóvel e não da pessoa, constituindo, portanto, a categoria de bem acessório. A pertença pode ocorrer na hipoteca, que abrange os bens móveis dentro de um imóvel (ex.: hipotecar uma fazenda juntamente com os bois). Vejam que a imobilização não é definitiva neste caso; o bem poderá voltar a ser móvel, por mera declaração de vontade. • por disposição legal -tais bens são considerados como imóveis, para que possam receber melhor proteção jurídica. São eles: * os direitos reais sobre os imóveis (ex.: direito de propriedade, de usufruto, uso, a habitação, a servidão, a enfiteuse). * o penhor agrícola e as ações que o asseguram. * o direito a sucessão aberta, ainda que a herança seja formada apenas por bens móveis. É considerada aberta a sucessão no instante da morte do de cujus; a partir de então, seus herdeiros poderão ceder seus direitos hereditários, considerados como imóveis. Atenção!!! As jazidas e as quedas d’água com aproveitamento para energia hidráulica são considerados bens distintos do solo onde se encontram (artigos 20, inciso IX e 176 da Constituição Federal), conforme vimos no item anterior. B) BENS MÓVEIS (arts. 82/84 CC) São aqueles que podem ser removidos, transportados, de um lugar para outro, por força própria ou estranha, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Podemos classificá-los em: http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 3 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB • por natureza -coisas corpóreas são aquelas que podem ser transportadas sem a sua destruição, por força própria ou alheia. Força alheia – móveis propriamente ditos - carro, cadeira, livro, jóias, etc. Força própria – semoventes – bois, cavalos, carneiros, animais em geral. Observações: - Os materiais de construção enquanto não forem nela empregados são bens móveis. As árvores enquanto ligadas ao solo são bens imóveis por natureza exceto se se destinam ao corte (convertem-se, neste caso, em móveis por antecipação). • por antecipação -a vontade humana mobiliza bens imóveis em função da finalidade econômica (ex.: árvores, frutos, pedras e metais aderentes ao imóvel, são imóveis; separados para fins humanos, tornam-se móveis). • por determinação legal -direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes (ex.: propriedade, usufruto, etc.). - direitos e obrigações e as ações respectivas. - energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico (prevista também no artigo 155, § 3º do Código Penal). Da mesma forma o gás canalizado. - direitos autorais (é um dos exemplos mais importantes, por ser considerado um bem incorpóreo também). - propriedade industrial – direitos oriundos do poder de criação e invenção (patentes de invenção, marcas de indústria, etc.). - quotas e ações de sociedades. Vale lembrar que o art. 83, I, CC considera móvel, por força de lei, as energias que tenham valor econômico. Ex: natureza jurídica do sêmen do boi – é bem móvel, pois é energia biológica que tem valor econômico. Observação Importante: Os navios e aeronaves são bens móveis ou imóveis? A doutrina diz que eles são bens móveis sui generis. Sempre que doutrina não consegue definir algo com exatidão, utiliza essa expressão em latim: sui generis. No caso dos navios (e também das aeronaves) realmente não há uma resposta objetiva para eles. Apesar de serem fisicamente bens móveis (pois podem ser transportados de um local para outro; encaixam, portanto, no conceito de bens móveis), são tratados pela lei como imóveis, necessitando de registro especial e admitindo hipoteca. O navio tem nome e o avião marca. Ambos têm nacionalidade. Podem ter projeção territorial no mar e no ar (território ficto). Alguns autores os consideram como quase pessoa jurídica, no sentido de se constituírem num centro de relações e interesses, como se fossem sujeitos de direitos, embora não tenham personalidade jurídica. E vocês podem estar pensando... muito bem... e se cair no concurso o que eucoloco?? Em tese a questão não pode cair assim, de forma direta: “o navio é um bem móvel ou imóvel”. Aliás, já vi essa questão cair algumas vezes, mas nunca desta forma direta. Sempre tem algo que deve ser analisado com maior profundidade, como por exemplo, o fato de recair hipoteca (que é um instituto típico de imóveis). O conselho que dou é analisar todas as alternativas com muito cuidado. Dentre as alternativas haverá uma que melhor se adapte ao que eu estou dizendo. Em resumo os navios e as aeronaves, fisicamente são bens móveis, mas eles têm uma disciplina jurídica como se imóveis fossem. Consequência prática da distinção: Imóveis ≠ Móveis. – A classificação dos bens em imóveis ou móveis tem uma razão de ser. E essa classificação é de suma relevância, principalmente em relação à Parte Especial do Código (veremos mais adiante no Direito das Coisas). Assim, os bens imóveis se distinguem dos móveis pela: forma de aquisição, necessidade de outorga, prazos de usucapião e os direitos reais. Todos estes temas são muito importantes. Portanto, vejamos item por item: a) Formas de aquisição da propriedade – a principal forma de adquirir a propriedade dos bens móveis é com a tradição (essa palavra vem do latim tradere, que significa entregar; traditio = entrega do bem), ou seja, somente com a entrega do bem, adquire-se a propriedade de bens móveis. Outras modalidades: usucapião, achado de tesouro, ocupação (assenhoramento do bem: caça, pesca, invenção) etc. Já os bens imóveis são adquiridos com o Registro ou transcrição do título da escritura pública no Registro de Imóveis. Lembrem-se que a alienação de imóveis com valor superior a 30 salários mínimos exigem escritura pública (vejam o que diz o art. 108 CC). b) Outorga Os bens imóveis não podem ser alienados, hipotecados etc. por pessoa casada sem a outorga (uma espécie de autorização ou anuência ou mesmo ciência) do outro cônjuge, exceto na separação absoluta de bens. Os bens móveis não necessitam de outorga. Assim, mulher pode vender seu carro, jóias, ações de uma sociedade anônima sem autorização do marido. Vou dar um exemplo que pode causar surpresa em alguns alunos. E este exemplo costuma cair muito. Digamos que uma mulher tenha comprado e registrado um imóvel em seu próprio nome. Lógico, este imóvel é só dela!!! Posteriormente ela se casa pelo regime da comunhão parcial de bens. O imóvel continua sendo só dela!!! Passado um ano do casamento ela deseja vender esse imóvel. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 4 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Pergunto: Ela precisa da autorização do marido (apesar do imóvel ser somente dela)? Resposta= SIM!!! Ela precisa da chamada..... outorga marital. A lei obriga essa outorga (que somente é dispensável no regime da separação total). Continuo a perguntar: E se o marido não quiser fornecer a outorga? Resposta= Simples. O imóvel é somente dela e continua sendo dela. Mas ela precisa da outorga e o marido não fornece. Portanto a mulher pode pedir ao Juiz, em uma petição bem simples, relatando o ocorrido. E o Juiz então dará uma ordem para a escritura ser lavrada (e também o registro posterior), sem a sua anuência. É o que chamamos de “suprimento da outorga”. Se a situação fosse invertida (o imóvel é do marido e ele precisa vender), o fato seria o mesmo, ou seja, o marido necessitaria da outorga. Porém em cada caso a outorga recebe um nome diferente. Assim, a outorga pode ser: • marital -marido concede à mulher, ou seja, o bem é da mulher e o marido assina também os documentos de venda do imóvel. • uxória -mulher concede ao homem; a mulher assina a documentação (uxor – em latim quer dizer mulher casada). 2 - BENS QUANTO À FUNGIBILIDADE (art. 85 CC) Essa classificação resulta da individualização do bem, ou seja, de sua quantidade e da sua qualidade. A pergunta é: um bem pode ser substituído por outro? Se eu tomar um bem emprestado posso devolver outro? Resposta – Depende. Por isso classificamos os bens em infungíveis ou fungíveis. Vejamos: A) INFUNGÍVEIS São os que não podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, qualidade e quantidade. São bens personalizados, individualizados (ex.: imóveis; carro; um quadro famoso etc.). B) FUNGÍVEIS São os que podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, qualidade e quantidade (ex.: uma saca de arroz, uma resma de papel, dinheiro etc.). Para facilitar um pouco nosso estudo, costumo sempre deixar bem claro: - Os bens imóveis só podem ser infungíveis. - Os bens móveis podem ser fungíveis ou infungíveis. Todos os bens imóveis são personalizados (pois há uma escritura, um número, possuem um registro etc.), daí serem todos infungíveis, pois estão totalmente individualizados. Porém é possível que sejam tratados como fungíveis (ex.: devedor se obriga a fazer o pagamento por meio de três lotes de terreno, sem que haja a precisa individualização deles; o imóvel nesse caso não integra o negócio pela sua essência, mas pelo seu valor econômico). Já os bens móveis são, em regra, bens fungíveis, mas podem também ser infungíveis (ex.: o cavalo de corrida Furacão ou o cavalo de passeio Sossego; um quadro pintado por Renoir; os veículos automotores pois possuem número de chassis, de motor etc. que os personalizam e os diferenciam dos demais). A fungibilidade pode ser da natureza ou da vontade das partes. Uma moeda ou um selo, como regra são bens fungíveis. Podem, no entanto, se tornar infungíveis para um colecionador. Uma cesta de frutas é fungível, mas pode se tornar infungível se ela for emprestada apenas para ornamento de uma festa (chamamos neste caso: comodatum ad pompam vel ostentationem) para ser devolvida posteriormente. A obrigação de fazer pode ser infungível (Ex.: contrato “Z”, pintor famoso, para pintar um quadro; a atuação de “Z” é personalíssima – no caso de recusa, transforma-se em perdas e danos) ou fungível (pode ser realizada por qualquer pessoa; ex.: engraxar sapato, pintar uma parede). Consequências práticas • A locação, o comodato e a locação são contratos de empréstimo (conforme veremos na aula sobre contratos). No entanto: O mútuo é um contrato que se refere ao empréstimo apenas de coisas fungíveis, ou seja, o devedor pode devolver outra coisa, desde que seja igual. Já o comodato é um contrato de empréstimo gratuito de coisas infungíveis. E a locação é um empréstimo oneroso de bens infungíveis. Nestes dois últimos contratos a pessoa deve devolver o mesmo bem. Mas, conforme já disse, veremos isso de forma mais minuciosa na aula sobre contratos. • O credor de coisa infungível não pode ser obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa (art. 313 do CC); ou seja, ele tem o direito de receber a mesma coisa que emprestou. FATOS E ATOS JURÍDICOS Já estudamos que existem os sujeitos de Direito (que são as pessoas). Existem, também, os objetos do Direito (que são os bens). Veremos o elemento que estabelece a ligação; o vínculo entre as pessoas tendo como objeto os bens. Esse elemento é o que chamamos de relação jurídica. As relações jurídicas têm como fonte geradora os fatos jurídicos. Há sempre um fato que antecede o surgimento de um direito subjetivo. Fato, portanto, é um evento, um acontecimento. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 5 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB O tema “Fatos e Atos Jurídicos” deve ser visto devagar. Por isso, desmembramos esse tema em duas partes. Esta primeira é uma aula introdutória. Os alunos costumam achar essa primeira parte “meio chata”. Mas ela é imprescindível. Vou tentar torná-la mais agradável... Hoje, o que veremos é baseda matéria, que será importantíssima no futuro, quandoanalisaremos o Direito das Obrigações, os Contratos etc. Os Fatos, Atos e Negócios Jurídicos são pontos fundamentais para entender as próximas aulas. Leiam e releiam com todo amor e carinho este início. Depois daremos a segunda parte da aula. Vocês verão como ficará mais fácil entender. Falaremos agora de alguns conceitos, classificações, e, principalmente, na teoria do fato jurídico. Depois, passaremos para uma parte mais dinâmica, onde veremos o Negócio Jurídico e seus elementos constitutivos, além da ineficácia do Negócio Jurídico. Comecemos, então. Inicialmente, temos que diferenciar um fato comum de um fato jurídico. Há fatos que não interessam ao Direito. Exemplo: quando uma pessoa passeia por um jardim, está praticando um fato comum, que não sofre a incidência do Direito. Se essa pessoa,porém, andar sobre um gramado proibido, causando danos, o fato que era comum passará a interessar ao Direito. Assim, observem a seguinte classificação: • Fato Comum -ação humana ou fato da natureza que não interessa ao Direito. Não estudaremos isso, pois, como disse, não interessa ao Direito. • Fato Jurídico (em sentido amplo – lato sensu) - acontecimento ao qual o Direito atribui efeitos. Ex.: no contrato de locação, locador e locatário ficam vinculados um ao outro. Desse vínculo surgem direitos e deveres para ambas as partes. Assim, por enquanto, o que nos interessa estudar é o Fato Jurídico. Este sim causará reflexos no campo do Direito. Baseado no foi dito acima, podemos conceituar os fatos jurídicos como sendo os acontecimentos, previstos em norma de direito, em razão dos quais nascem, modificam- se, subsistem e extinguem-se as relações jurídicas. Para efeito de memorização dos elementos do Fato Jurídico que veremos, costumo usar em sala de aula a expressão A.R.M.E. (Aquisição, Resguardo, Modificação e Extinção) de Direitos. Aquisição de Direitos - é a conjunção dos direitos com seu titular. Dessa forma, surge a propriedade quando o bem se subordina a seu titular. (ex: quando eu acho uma coisa abandonada ou quando eu compro um determinado objeto de um amigo etc.). Os direitos podem ser adquiridos de forma originária ou derivada: a) Originária -o direito nasce no momento em que o titular se apropria do bem de maneira direta, sem a participação de outra pessoa (ex.: pescar um peixe em alto- mar, ocupar coisa abandonada etc.). b) Derivada -se houver transmissão do direito de propriedade, existindo uma relação jurídica entre o anterior e o atual titular (ex.: vender um carro ou um imóvel a outra pessoa). A aquisição ainda pode ser gratuita (não há contraprestação – ex.: doação) ou onerosa (há uma contraprestação – ex.: compra e venda, troca). Resguardo (proteção ou defesa) de Direitos - para resguardar seus direitos, o titular deve praticar atos conservatórios como: protesto; retenção -possuidor de boa- fé que fez benfeitorias necessárias e úteis na coisa alheia (art. 1.219 CC); arresto -apreensão judicial de coisa litigiosa ou de bens para a segurança da dívida; sequestro -depósito judicial da coisa litigiosa para garantia do direito. Há também a defesa preventiva: a) extrajudicial -a cláusula penal em um contrato (trata-se da multa contratual); o sinal (que também é chamado de arras, ou seja, um adiantamento); a fiança etc., são medidas que servem para proteger meus direitos. b) judicial -são as ações judiciais para proteção de direitos: Mandado de Segurança (protege direito líquido e certo); Interdito Proibitório (é uma ação possessória, conforme veremos no Direito das Coisas). Ação é o meio que o titular do direito tem para obter a atuação do Poder Judiciário, no sentido de solucionar litígios relativos a interesses jurídicos (art. 3º do C.P.C. - “Para propor ou contestar uma ação é necessário ter legítimo interesse econômico ou moral”). Nós sabemos que no Brasil não podemos fazer “justiça pelas próprias mãos”, sob pena de cometermos um crime (exercício arbitrário das próprias razões). Se uma pessoa me deve seis meses de aluguel eu não posso ir até a casa dele e “dar uns tapas” no devedor. Não! Eu devo entrar com uma ação de despejo por falta de pagamento. No entanto, admite-se, excepcionalmente, a autodefesa ou autotutela no caso de legítima defesa da posse (art. 1.210, §1º do CC), penhor legal etc. Veremos isso em outras aulas mais para frente. Modificação (ou transformação) de Direitos - os direitos podem sofrer modificações em seu conteúdo, seu objeto e em seus titulares, sem que haja alteração em sua substância. A modificação do direito pode ser objetiva ou subjetiva: a) Objetiva - atinge a qualidade ou quantidade do objeto ou o conteúdo da relação jurídica (ex.: o credor de uma saca de feijão aceita o equivalente em dinheiro). b) Subjetiva - substituição do sujeito ativo ou passivo, podendo ser inter vivos ou causa mortis (ex.: morre o titular de um direito e este se transmite aos seus sucessores). No entanto, há direitos que não comportam modificação em seu sujeito por serem personalíssimos. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 6 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Extinção de Direitos – observem, com atenção, as hipóteses de extinção de direitos: • perecimento do objeto (anel que cai em um rio profundo e é levado pela correnteza) ou perda de suas qualidades essenciais (campo de plantação invadido pelo mar). • renúncia - quando o titular de um direito, dele se despoja, sem transferi-lo a quem quer que seja; ele abre mão de um direito que teria (ex: renúncia à herança). • abandono – intenção do titular de se desfazer da coisa não querendo ser mais seu dono. • alienação – que é o ato de transferir o objeto de um patrimônio a outro, de forma onerosa ou gratuita. • falecimento do titular, sendo direito personalíssimo, e por isso, intransferível. • confusão – numa só pessoa se reúnem as qualidades de credor e devedor. • prescrição ou decadência -analisaremos mais adiante, ainda na aula de hoje. Bem, com isso encerramos esta parte bem introdutória sobre o Fato Jurídico e seus elementos (A.R.M.E.). Vejamos agora uma Classificação dos Fatos Jurídicos. Podemos dizer que o Fato Jurídico se divide em Natural (fato da natureza) e Humano (praticado por nós, os seres humanos). Cada um destes possui uma subdivisão. Observe o esquema abaixo. Este esquema é de extrema importância. Daqui para frente (inclusive na próxima aula) vamos analisar cada item deste esquema. Portanto, sempre que estiver em dúvida sobre o assunto tratado, retorne a este esqueminha. Fato Jurídico Natural (ou Fato Jurídico em Sentido Estrito) • Ordinário – normalmente ocorre • Extraordinário – caso fortuito ou força maior Fato Jurídico Humano (ou simplesmente ATO) Veremos estes temas abaixo na próxima aula. Por enquanto, é importante que se saiba: • Ato Jurídico em Sentido Amplo (ou Voluntário): - Ato Jurídico em Sentido Estrito – os efeitos são os impostos pela lei (ex; reconhecimento de filho); não há regulamentação da autonomia privada. - Negócio Jurídico – os efeitos são os desejados pelas partes (ex: contratos); há autonomia privada. • Ato Ilícito (ou Involuntário): - Civil - Penal - Administrativo Caros alunos. Muito cuidado aqui. Algumas questões costumam cair sobre o gráfico acima. E isso causa certa confusão ao aluno. Querem um exemplo? Duas indagações (responda sem olhar o esqueminha): O Ato Ilícito é um Ato Jurídico? O Ato Ilícito é um Fato Jurídico? Resposta: basta analisar o esquema com atenção (agora dê uma olhada) que iremos concluir que o Ato Ilícito é um Fato Jurídico (humano), porém não é um Ato Jurídico!!! Continuemos. O primeiro item do quadro que iremos analisar na aula de hoje é o Fato Jurídico em Sentido Estrito, que a doutrina também chama de Fato Jurídico Stricto Sensu ou Fato Natural (sãotodas expressões sinônimas). Pois bem. Fato Natural é o acontecimento que ocorre independente da vontade humana e que produz efeitos jurídicos, criando, modificando ou extinguindo direitos. Podem ser classificados em: Ordinário -O que há de mais certo em nossa vida?? A morte. Ela ocorrerá independente de nossa vontade. Portanto é um fato natural. Lógico que estou falando da morte por causas naturais (costumo brincar – a morte morrida). Pois um homicídio (brincando ainda – a morte matada) é um ato ilícito. Da mesma forma são Fatos Jurídicos Naturais Ordinários: o nascimento, a maioridade, o decurso de tempo que juridicamente se apresente sob a forma de prazo (intervalo de dois termos), a usucapião (essa matéria é vista no Direito das Coisas, quando o edital exigir esse item), a prescrição e a decadência etc. Estes últimos temas são importantíssimos e serão analisados de forma autônoma, ainda nesta aula. Extraordinário -são causas ligadas ao caso fortuito (causa desconhecida - ex.: explosão de uma caldeira em uma usina) ou à força maior (conhece-se a causa, fato da natureza - ex.: raio que provoca incêndio). Há uma imprevisibilidade. Em ambos o caso se configura uma inevitabilidade do evento e ausência de culpa pelo ocorrido. A partir deste ponto vamos nos ater ao Fato Jurídico Humano, que é o acontecimento que depende da vontade humana (há quem diga que o termo ‘vontade humana’ seria uma redundância, pois somente o homem teria ‘vontade’; no entanto o termo tem sido aceito normalmente), abrangendo tanto os atos lícitos como os ilícitos. Eu diria que a aula de hoje é mais “light” do que a anterior; esta é menos teórica. Portanto, antes de começar a aula propriamente dita eu sempre relembro meus alunos que este é um curso para Concursos Públicos. Assim, não se perca em detalhes em episódios que podem ocorrer em sua http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 7 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB vida e em casos particulares, mas que não trazem repercussão para uma prova de um concurso. O importante é conhecer os institutos. Por outro lado, apesar de mais dinâmica, esta é uma aula mais longa... Vamos ao que interessa: Como vimos, o Fato Jurídico Humano pode ser subdividido. Vamos analisar as particularidades desta subdivisão: 1 - ATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO (também chamado pela doutrina de voluntário). Pode ser classificado em: • Ato Jurídico em Sentido Estrito (ou meramente lícitos) -se objetivar a mera realização da vontade do agente (perdão, reconhecimento de filho, confissão etc.). A vontade é importante para a realização do ato, mas não o é quanto à produção dos efeitos, que decorre da lei. • Negócio Jurídico -se procura criar normas para regular interesses das partes, harmonizando vontades que, na aparência, parecem antagônicas (testamento, contrato, adoção etc.) e que se subordinam às disposições comuns. A ação humana visa alcançar um fim determinado. 2 – ATO ILÍCITO (também chamado de ato jurídico involuntário) -se acarretar consequências jurídicas alheias à vontade do agente. O ato ilícito, embora seja um fato jurídico (pois causa repercussão no direito) não é ato jurídico, pois a característica essencial do ato jurídico é que este tem de ser lícito. Não esqueça!!! ATO JURÍDICO ≠ ATO ILÍCITO O ato ilícito não é espécie de atos jurídicos. O legislador os colocou a parte, o ato ilícito foi tratado como categoria própria, razão porque se emprega a expressão ato jurídico somente para ações lícitas. Autores como Silvio Venosa e Machado Neto têm visão própria da matéria. Sucede que Flavio Tartuce, Fernando Simão, Pablo Stolze, Vicente Rao e Zeno Veloso entendem que o ato lícito é categoria separada da do ato jurídico. Particularmente também concordo, entendo que a ação humana lícita é o ato jurídico, e a ação humana ilícita é o ato ilícito. Tanto que são trazidas separadamente no Código. Obs.: Gera confusão chamar o ato ilícito de ato jurídico, apesar de gerar efeito jurídico. Portanto, ao tratar do nome ato jurídico, refira-se apenas aos atos lícitos, enquanto que os atos ilícitos são englobados como ações humanas lícitas. Em uma brilhante analogia, o Professor Zeno Veloso, fala da Andorinha. Diz o grande civilista: “só porque duas aves tem asas não significa que ambas são andorinhas; da mesma forma, só porque os dois atos produzem efeitos jurídicos, não significa que atos lícitos e ilícitos sejam jurídicos.” Vamos, então, analisar o ato jurídico em sentido estrito e o negócio jurídico, que são espécies do gênero ato jurídico em sentido amplo. Lembrando que Negócio Jurídico é o tema mais importante, conforme veremos. ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO No Ato Jurídico em Sentido Estrito há uma realização de vontade do agente, mas suas consequências são as previstas em lei e não as que porventura queiram as partes. O ato jurídico em sentido estrito gera consequências jurídicas previstas em lei e não pelas partes interessadas. Ex: reconhecimento de filho. Digamos que uma pessoa teve um filho fora do casamento. O pai quer apenas reconhecer o filho. Mas com o reconhecimento surgem efeitos legais, obrigatórios, mesmo que não desejados pelo agente, como direito ao nome, poder familiar, obrigação de prestar alimentos, direitos sucessórios etc. Assim, reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato não dependem da vontade da pessoa que fez o reconhecimento, mas da lei. Assim, o ato jurídico em sentido estrito é o que gera consequências jurídicas previstas em lei, independente da vontade das partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. O ato jurídico em sentido estrito, referido no sucinto e solitário artigo 185 do CC, traduz: Ato jurídico realizado voluntária e conscientemente, cujo efeito está previsto unicamente na lei e só nela pode se basear. O ato jurídico em sentido estrito, também chamado de ato não-negocial traduz um simples comportamento humano, voluntário e consciente, cujos efeitos estão predeterminados na lei. Não existe liberdade ou autonomia privada para a escolha dos efeitos jurídicos (não há liberdade negocial, nem liberdade volitiva), uma vez que estão preestabelecidos na própria lei. São desprovidos de carga negocial. EFEITOS Não há autonomia privada ou liberdade nos atos jurídicos no que tange a escolha dos efeitos do ato realizado (não há liberdade negocial, nem liberdade volitiva). A lei diz qual é o efeito. Sendo, portanto, desprovidos de carga negocial. Importante!!! Pontes de Miranda, baseado no direito alemão, e Marcos Bernardes de Melo perceberam que o sistema do fato jurídico faltava uma categoria, que ficaria entre o fato da natureza e as ações do homem. Essa categoria é o ato- fato jurídico. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 8 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB O ato-fato jurídico, categoria não explicitamente prevista no CC, consiste em um comportamento que, embora derive da atuação humana, é desprovido de vontade consciente em direção ao resultado que se pretenda atingir. Nomenclatura do ato-fato jurídico: ATO porque proveniente do homem. FATO porque desprovido de consciência. JURÍDICO porque produz efeitos jurídicos. Daí, ato-fato jurídico. Para que seja ação humana, deve ter carga de voluntariedade. Se o comportamento é humano, mas é desprovido de vontade e consciência, sendo instintivo ou reflexo, não se encaixa como ação humana, mas se encaixa no conceito de ato-fato. EXEMPLOS - O descobrimento de um tesouro; - A especificação (transformação da matéria-prima em obra final) realizada por um enfermo mental. Um incapaz cria uma obra de arte em escultura ao manusear a argila paracomer. Ele, apesar de não realizar um ato consciente, realizou um ato humano que tem efeitos na esfera jurídica. Assim é ato-fato. Qual é a natureza jurídica da venda de um doce a uma criança de 5 anos de idade? Entendimento 1: É um contrato de compra e venda. É um contrato nulo (pela incapacidade do agente), mas socialmente aceito. Para um menor de 16 anos, faz mais sentido, pois o jovem já tem carga negocial. Entendimento 2: Para Jorge Cesar Ferreira, com base em Pontes de Miranda, a venda de um doce a uma criança enquadra-se melhor na noção de ato-fato (não há necessidade de consciência para prática do ato). A criança não tem consciência nem vontade, mas gera efeitos jurídicos, por isso há ato-fato. NEGÓCIO JURÍDICO Conceito Negócio Jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido amplo. É o ato destinado à produção de efeitos jurídicos, desejados pelo agente e tutelados pela lei. É toda ação humana, de autonomia privada, com o qual o particular regula por si os próprios interesses, há uma composição de interesses. Objeto O negócio jurídico típico é o contrato. Num contrato as partes contratantes acordam que devem conduzir-se de determinado modo, uma em face da outra (ex.: contrato de locação, de compra e venda etc.). O negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas têm para realizar seus interesses. Lembrem-se que o contrato é um Negócio Jurídico Bilateral. Nos entanto, o Negócio Jurídico pode ser também Unilateral, como no caso do Testamento. Distinção – Negócio Jurídico e Ato Jurídico em Sentido Estrito Vamos reforçar a idéia: não devemos confundir negócio jurídico com o ato jurídico em sentido estrito. Este não é exercício de autonomia privada. Logo, o interesse objetivado não pode ser regulado pelo particular e a sua satisfação se concretiza no modo determinado pela lei. Já no negócio jurídico, o fim procurado pelas partes baseia-se na autonomia da vontade privada. O negócio leva em consideração o fim procurado pela parte ou partes e a esse fim a ordem jurídica adapta os efeitos. Classificação dos Negócios Jurídicos Segundo a melhor doutrina, os Negócios Jurídicos podem ser classificados em: 1 - Quanto à manifestação de vontade: • Unilaterais - quando a declaração de vontade emana de uma ou mais pessoas, mas na mesma direção colimando um único objetivo; o ato se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade (ex.: testamento, renúncia, desistência, promessa de recompensa etc.). Subdividem-se em receptícios (a declaração tem de se tornar conhecida do destinatário para produzir efeitos - Ex.: revogação de mandato, ou seja, de uma procuração; se eu revogo uma procuração eu devo comunicar às pessoas a quem eu outorguei poderes. Portanto é um ato unilateral – só depende da minha vontade – mas eu devo comunicar a outra parte a minha decisão. Outro exemplo:escolha nas obrigações alternativas) ou não receptícios (o conhecimento por parte de outrem é irrelevante – Ex.: testamento – quando eu faço o meu testamento, nada mais precisa ser feito; não preciso comunicar ninguém desse fato, renúncia de herança). • Bilaterais – quando a declaração de vontade emana de duas manifestações de vontade, em sentido oposto, mas coincidentes sobre o objeto Ex: perdão, contratos (compra e venda – comprador e vendedor; locação – locador e locatário etc.). Podem ser simples (benefício a uma das partes e encargo à outra – ex.: doação) ou sinalagmáticos (vantagens e ônus a ambas as partes – ex.: locação, compra e venda). Veremos melhor esse item na aula sobre contratos. • Plurilaterais - contratos que envolvem mais de duas partes (ex.: contrato de sociedade com mais de dois sócios). 2 - Quanto às vantagens: http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 9 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB • Gratuito - só uma das partes aufere vantagem, não havendo contraprestação; são atos de liberalidade (ex.: doação simples, comodato). • Oneroso - ambos os contratantes possuem ônus e vantagens recíprocas (ex.: locação, compra e venda etc.). 3 - Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos: • Inter vivos - destinados a produzir efeitos durante a vida dos interessados (ex.: locação, compra e venda, mandato, casamento etc.). • Causa mortis - emitida para a criação do direito após a morte do declarante (ex.: testamento, codicilo, legado etc.). 4 – Quanto a seus efeitos: • Constitutivos – se sua eficácia se opera ex nunc (se efetiva a partir do momento da conclusão – ex.: compra e venda). • Declarativos – se sua eficácia é ex tunc (só se efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a declaração de vontade – ex.: divisão de condomínio, reconhecimento de filho etc.). 5 - Quanto à subordinação: • Principais - têm existência própria e não dependem de qualquer outro (ex.: compra e venda, locação). • Acessórios - têm a sua existência subordinada à do contrato principal (ex.: fiança, cláusula penal etc.); não têm existência jurídica autônoma (“o acessório segue o principal”). 6 - Quanto às formalidades: • Solenes (formais) - obedecem a uma forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem (ex.: casamento, testamento etc.). • Não solenes (forma livre) - a lei não reclama formalidades para seu aperfeiçoamento (ex.: locação, compra e venda de bens móveis etc.). 7 – Quanto às pessoas: • Impessoais – independe de quem sejam as partes (ex: contrato uma pessoa para pintar um muro; qualquer pessoa pode fazer isso; não há uma habilidade especial para isso). • Intuitu personae – o ato se realiza em função das qualidades especiais de uma pessoa (ex.: outorgo mandato à pessoa de minha confiança; desejo ser operado por cirurgião de minha confiança etc.). 8 – Quanto à causa: • Causais – estão vinculados a uma causa (ex.: o registro da escritura de um imóvel está sempre ligado à existência da escritura de compra e venda deste imóvel; se a compra e venda for defeituosa, o registro também o será). • Abstratos – estão desvinculados de qualquer outro negócio (ex.: compro uma casa pagando com um cheque; a emissão deste é desvinculada; se a compra e venda for considerada nula, o cheque continuará valendo, principalmente se estiver nas mãos de terceiros). ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Alguns elementos do negócio jurídico são chamados de essenciais porque constituem elementos de existência e validade. Outros são chamados de acidentais, pois são requisitos de eficácia do negócio. Vamos apresentar um esquema para melhor classificar os elementos constitutivos. Depois vamos analisá-los um a um. Porém, antes falaremos dos planos de existência, validade e eficácia do negócio jurídico. Subdivisões do negócio jurídico em Planos de Análise (Existência, Validade e Eficácia). Foram estudados por Pontes de Miranda e Marcos Bernardes de Melo. PLANO DE EXISTÊNCIA - É plano substantivo do negócio. - Estuda os elementos constitutivos ou requisites de existência do negócio jurídico. - Vários autores têm resistência a esse plano de existência. - O Código Civil não o prevê, mas isso não significa que ele deve ser negado. Requisitos de existência sem os quais o negócio jurídico não é nada. Elementos que compõe a estrutura do negócio jurídico. Se faltar qualquer requisito ele será inexistente. O legislador não tratou na parte geral sobre esse plano, no entanto a doutrina o reconhece. O juiz pode reconhecer a inexistência de ofício. * Os autores que não defendem a existência desse plano, entendem que nesses casos o negócio é nulo. Requisitos existenciais do negócio: 1. A manifestação de VONTADE (vontade interna + vontade externa): faltando a manifestação de vontade o negócio é inexistente (não é nulo e sim inexistente). Se a vontade consciente estiver neutralizada, ou seja, se faltarvontade, não há negócio. Exemplo: coação física. OBSERVAÇÃO: No que tange a manifestação de vontade, o silêncio pode como tal ser compreendido? “Quem cala consente”, http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 10 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB esse ditado popular tem respaldo no Direito Civil? Ou seja, o silêncio, ausência da manifestação de vontade, gera efeitos jurídicos? Resposta: Em linha de princípio, lembra-nos Caio Mario, que em regra, o silêncio é a ausência de manifestação de vontade. No entanto, excepcionalmente, nos termos do art. 111, seguindo os sistemas como o alemão e o inglês, em situações especiais admite que o silêncio possa traduzir vontade. “Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. Exemplo: O art. 539 do CC estabelece que na doação pura o silêncio traduz aceitação. CUIDADO!! No dolo, o silêncio pode significar o negócio viciado. Veremos depois que o silêncio pode também significar quebra de boa-fé objetiva por dolo negativo (art. 147 do CC). 2. AGENTE (EMISSOR DA VONTADE): todo negócio jurídico para existir pressupõe um agente emissor da vontade. Faltando o agente não há negócio. 3. OBJETO: sem o objeto o negócio não existe. Ex: Contrato de mútuo de dinheiro mútuo feneratício. 4. FORMA: sem uma forma o negócio também não existe. Forma significa, segundo Vicente Ráo, o meio pelo qual a vontade se exterioriza, ou seja, o revestimento exterior da vontade. A forma não se confunde com a vontade externa. A forma é um meio pelo qual se declara a vontade. A forma integra o negócio como revestimento exterior da vontade, ou seja, é um meio pelo qual a vontade se manifesta. Pode ser manifestada pela forma escrita, pela forma oral, pela mímica etc. Admitem-se formas variadas. IMPORTÂNCIA DA FORMA: Se o negócio existe, analisamos agora o Plano de Validade do negócio. PLANO DE VALIDADE - É analisado no art. 104, CC, que para alguns autores é artigo incompleto, como Marcos Bernardes de Melo. Plano qualificativo do negócio. Esse plano de validade não estuda a estrutura. Estudam-se os pressupostos de validade, que dão aptidão para gerar efeitos no negócio jurídico. Faltando pressuposto de validade o negócio é inválido (nulo ou anulável). OBS: os vícios do negócio jurídico atuam no plano da validade. O Plano de existência integra os elementos subjetivos do negócio. O plano de validade estuda os pressupostos que qualificam o negocio para que ele possa gerar efeitos, ou seja, basta que se conheça os elementos de existência e os qualifique. SÃO PRESSUPOSTOS DE VALIDADE: 1. VONTADE + livre e de boa-fé A vontade deve ser totalmente livre e de boa- fé. Observe que estou qualificando o negócio. 2. AGENTE + capaz e legitimado 3. OBJETO + lícito + possível + determinado / determinável. Em geral, na doutrina civilista, licitude significa legalidade e adequação ao padrão médio de moralidade. 4. FORMA + livre ou prescrita em lei No direito brasileiro, a regra é o Princípio da liberdade da forma nos negócios jurídicos (art. 107 do CC). A forma, de per si, é elemento de existência. A lei tanto pode exigir a forma para efeito de prova do negócio jurídico (art. 227, CC – negócio Ad probationem), como também poderá exigir a forma como elemento de validade do próprio negócio (art. 108, CC – negócio solene ou Ad solemnitatem). Há situações em que o legislador exige determinada forma, especialmente a pública. Se faltar a forma prescrita em lei, o negócio não é valido. Art. 108, CC. Se a venda, a hipoteca, a doação ou qualquer negócio for superior a 30 salários mínimos, deverá ser feita escritura no tabelionato. Sendo que o valor base para isso é o valor que as partes declarem no contrato, não o valor usado pela Prefeitura para calculo de IPTU (conforme enunciado 289, 4ª Jornada de Direito Civil). QUESTÃO DE CONCURSO: Se o objeto do negócio for ilícito. O negócio é invalido, pois apesar de ter objeto, ele não tem a qualificação da licitude. IMPORTANTE: São defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo, simulação. Esses efeitos interferem no plano de validade e não no plano de existência. A vontade existe, mas é prejudicada. Na coação física, o negócio é inexistente, pois não há vontade. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 11 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Na coação moral, o negócio é existente, porém inválido, pois ela não é livre. É captada de má-fé a vontade, não sendo válido o negócio, no caso do vendedor enganar o comprador dizendo que se trata de carne bovina enquanto se trata de carne de gato. Obs.: Alguns autores na linha de Orlando Gomes, afirmam que a licitude pressupõe, também, subsunção a um padrão médio de moralidade. (Se a banca for mais conservadora, em princípio, é bom defender isso) Se o objeto for considerado ilícito, o negócio existe, mas é inválido. Ex: “negócio jurídico ” na contratação de serviços de prostituta, pois não se adéqua a um padrão médio de moralidade. Se a banca for mais progressista, admite-se a licitude do objeto. IMPORTANTE: REGRA - Princípio da liberdade da forma Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Há situações que a lei exige a forma escrita para efeito de prova do negócio (art. 227). Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. Apesar da regra, a lei pode prescrever a forma como requisito de validade (art. 108). Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Ex: Compra e venda: instrumento público acima de 30 salários mínimos. ** Promessa de compra e venda: pode ser instrumento privado. Sendo que o valor base para isso é o valor que as partes declarem no contrato, não o valor usado pela Prefeitura para calculo de IPTU (conforme enunciado 289, 4ª Jornada de Direito Civil). Obs.: A promessa de compra e venda, pode ser feita por instrumento particular, não importa o valor. PLANO DE EFICÁCIA Estuda os elementos que interferem nos efeitos jurídicos do negócio, ou seja, na eficácia do negócio. Estuda-se: 1. Condição 2. Termo 3. Modo ou encargo Nessa tripartição (Existência, Validade e Eficácia), tem-se a teoria do negócio jurídico. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS I – Essenciais – dizem respeito à validade do negócio A) Gerais 1 – Capacidade das Partes 2 – Objeto Lícito, Possível, Determinado ou Determinável 3 – Consentimento B) Especiais – forma prescrita ou não defesa em lei II – Naturais – efeitos decorrentes do negócio jurídico III – Acidentais – dizem respeito à eficácia do negócio 1 – Condição 2 – Termo 3 – Modo ou Encargo I - ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS Como vimos acima, os requisitos de validade do negócio jurídico são: capacidade das partes (elemento subjetivo), objeto lícito, possível, determinado ou determinável (elemento objetivo), consentimento e forma prescrita ou não defesa em lei (artigo 104 do C.C.). Os três primeiros são gerais, comuns a todos os Negócios Jurídicos.Já o último (forma) é especial, diz respeito à apenas alguns contratos. Por isso será analisado em item autônomo. Vamos nos ater agora aos Elementos Essenciais Gerais. A) CAPACIDADE DO AGENTE Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a capacidade do agente é indispensável. Os artigos 3º e 4º do Código Civil nos apresentam o rol das pessoas absoluta ou relativamente incapazes. Já analisamos quem são essas pessoas. É imprescindível o conhecimento dessa matéria para a compreensão do que falaremos a seguir. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes (embora possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo absolutamente incapaz sem representação é nulo. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 12 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Já o ato realizado pelo relativamente incapaz sem assistência é anulável. Lembrando que o vício da incapacidade é um instrumento a favor do incapaz. Incapacidade • Absoluta → falta de representação – ato nulo • Relativa → falta de assistência – ato anulável Recordando, também que as pessoas jurídicas são representadas, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente, por seus órgãos (pessoas naturais que exprimem a sua vontade). Trata-se de uma representação imprópria. Espécies de Representantes: a) Legais – a norma jurídica confere poderes para administrar bens alheios (ex.: pais, tutores e curadores, em relação aos bens dos filhos, pupilos e curatelados). b) Judiciais – nomeados pelo Juiz para exercer certo cargo no foro ou no processo (ex.: síndico, inventariante etc.). c) Convencionais – através de mandato, expresso ou tácito, verbal ou escrito. B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL Para que o negócio jurídico se repute perfeito e válido, deverá versar sobre objeto lícito, conforme a lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem pública e à moral (ex.: na locação de um imóvel, este é o objeto do contrato). Se ilícito o objeto, nulo será o negócio jurídico (ex.: compra e venda de objeto roubado). Além disso, deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar prestações impossíveis, também será anulado; a impossibilidade pode ser jurídica ou física (ex.: venda de herança de pessoa viva; ir à lua e voltar em 2 horas etc.). Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, determinável, ou seja, deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem existir critérios que permitam sua futura individualização (indicação de gênero e quantidade, ainda que não seja mencionada a qualidade). Falta de objeto lícito e possível -negócio nulo. C) CONSENTIMENTO A manifestação de vontade exerce papel importante no negócio jurídico, sendo um elemento básico. É necessário que esta vontade seja espontânea, livre de qualquer vício. O consentimento pode ser expresso (se declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita) ou tácito (se resultar de um comportamento do agente que demonstre, implicitamente, sua anuência), desde que o negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma expressa. Assim, o silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os usos o autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111 CC). É o que acontece com a doação pura, onde o silêncio do beneficiário é considerado como aceitação. Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem (art. 112). Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113). Trata-se de referência à boa fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, de acordo com a lealdade, honestidade, confiança etc. Finalmente o artigo 114 estabelece que os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. DEFEITOS Defeito é todo vício que macula o ato jurídico, tornando-o passível de anulação. Pode ser grave (vicia o ato de forma definitiva) ou leve(pode ser remediado pelo interessado). Podemos dizer que um ato é válido, quanto ao consentimento, se “eu faço algo que eu queria fazer e isto não prejudica ninguém”. Às vezes eu posso fazer algo que eu não queria fazer (e quantas vezes isso ocorre conosco ...); quero comprar algo e me engano... ou sou enganado. Outras vezes quero fazer algo e faço exatamente aquilo que eu queria fazer. Mas o que fiz afeta a terceiros, prejudicando essas pessoas, que não foram partes do negócio principal, mas que foram lesados com a minha conduta. Em qualquer uma das duas situações surgem os defeitos relativos à vontade. Assim: Se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico será viciado ou deturpado, tornando-se anulável, se no prazo decadencial de 04 anos for movida ação de anulação. São os chamados vícios de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes casos há uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada. Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando normalmente, havendo até correspondência entre a vontade interna e a manifestação, mas, no entanto, ela desvia-se da lei ou da boa-fé infringindo a lei e prejudicando terceiros; também são passíveis de anulabilidade. São os vícios sociais (simulação e fraude contra credores). Vamos mais uma vez, apresentar um esquema para melhor classificar os defeitos relativos à vontade. Depois vamos analisá-los um a um. DEFEITOS 1 - Ausência de Vontade -Negócio Nulo http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 13 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB 2 - Vícios de Consentimento - Erro ou Ignorância, Dolo, Coação, Lesão e Estado de Perigo. 3 - Vícios Sociais -Simulação e Fraude contra Credores ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144 CC) Erro é a noção falsa que se tem de um objeto ou de uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se em falso juízo ou engano. A ignorância é o completo desconhecimento acerca do objeto. Só é anulável se o erro ou a ignorância for essencial, conforme veremos. O erro é um registro falso. A pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Pode ser cometido por conta própria. O Código Civil equipara o erro à ignorância quanto aos efeitos; as consequências são idênticas no campo do direito. O erro pode ser classificado em: A) ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL (escusável e real) - quando se refere à natureza do próprio ato; recai sobre circunstâncias e aspectos principais, relevantes do negócio. Pode ser classificada: • no próprio negócio (ex.: dou como empréstimo e a pessoa recebe como doação; quero vender, mas acabo doando). • sobre o objeto principal da declaração de vontade ou sobre alguma qualidade a ele essencial (ex.: pensa-se comprar ouro e compra-se liga de cobre, compro cavalo de carga pensando se tratar de “puro-sangue” etc.). • sobre a qualidade essencial da pessoa: 1- Casamento: a) identidade do outro cônjuge sobre a sua honra, boa fama etc. (ex.: casar-se com pessoa e descobrir depois se tratar de criminoso procurado, viciado em tóxicos etc.). b) ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave, transmissível. 2 - Testamento: - deixo uma joia para X, que salvou minha vida. Descobre-se que foi Z e não X quem salvou minha vida (o erro quanto ao fim colimado ou por falsa causa só vicia a declaração de vontade, quando expresso como razão determinante). • erro de direito– O erro de direito é o engano quanto à existência ou interpretação da norma jurídica. Como regra ele não admite escusa, não pode ser alegado. No entanto admite-se o erro de direito (e anula-se o ato jurídico) se o ato não implica em recusa à aplicação da lei e for o motivo único ou principal do Negócio Jurídico (art. 139, III, CC). Isto é, não pode o ato recair sobre a norma cogente (impositiva, de ordem pública), mas tão-somente sobre normas dispositivas. “Ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando que não a conhece” - Princípio da Obrigatoriedade - O erro, como regra, recai sobre uma situação de fato (o contrato, o objeto, a pessoa etc.). É o erro de fato sobre uma situação concreta. Já o erro de direito é aquele que diz respeito à existência de uma norma jurídica, supondo-se que a lei não existe ou que não esteja em vigor. Ex: firmar um contrato de locação com base na lei antiga, pensando que ainda está vigorando. Importante - Só o erro substancial, essencial, escusável, real, anula o negócio jurídico. O erro deve ser de tal forma que, caso a verdade fosse conhecida, o ato não seria realizado. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade do contrato pode ser condenado a ressarcir os danos que causar à outra parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu consentimento. B) ACIDENTAL -concernente às qualidades secundárias ou acessórias da pessoa ou do objeto. Não vicia o ato; este continua válido, produzindo efeitos, por não incidir sobre a declaração de vontade. Ex: compro um carro de número de série diferente; compro uma casa pensando que tem quatro janelas, mas só tem três; doei um relógio a uma pessoa pensando ser ela solteira, mas é casada etc. Também o chamado erro de cálculo (inexatidão material) não é causa de anulação do negócio, mas de retificação (art. 143 CC). Erro X Vício Redibitório Essa é uma distinção muito importante. Já vi cair esta distinção em diversas ocasiões em concursos e, de fato, confunde um pouco o candidato. O vício redibitório, como veremos em aula posterior (contratos), é o defeito oculto na coisa, que a torne imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminua o valor. Não há qualquer erro no momento da celebração do negócio; o que há é um defeito no objeto (e não na vontade do adquirente), que não foi notado, já que era oculto. No erro há um engano por parte do adquirente; é um vício de ordem subjetiva, pois foi a vontade que foi viciada pela falsa percepção da realidade, não havendo vício no objeto. DOLO (arts. 145 a 150 CC) Dolo é o artifício empregado para enganar alguém. O dolo, o agente emprega artifícios manobras ardilosas ou maliciosas, para levar alguém à prática de um ato que o prejudica, beneficiando o autor do dolo ou terceiros. Requer a vontade de enganar alguém (a doutrina chama isso de animus decipiendi). http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 14 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB O dolo pode ser classificado em: • Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam) -é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, acarretando, então, a anulabilidade do negócio jurídico. É preciso que haja uma relação de causa e efeito entre a indução do erro e a prática do negócio • Dolo Acidental (dolus incidens) - leva a vítima a realizar o negócio, porém em condições mais onerosas, não afetando sua declaração de vontade. O negócio teria sido praticado de qualquer forma, embora de outra maneira. Não anula o negócio, apenas obriga a satisfação de perdas e danos ou uma redução da prestação acordada. O dolo ainda pode ser classificado em: • Dolus Bonus (dolo bom) - é um comportamento tolerado nos meios comerciais. Consiste em reticências, exageros nas boas qualidades da mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a finalidade de prejudicar ninguém. Não é anulável, desde que não venha a enganar o consumidor, mediante propaganda abusiva. • Dolus Malus (dolo mau) -consiste em manobras astuciosas para enganar alguém e lhe causar prejuízo. É anulável. O dolo mau pressupõe: - prejuízo para o autor do ato; - benefício para o autor do dolo ou terceiro. O dolo ainda pode ser: • Positivo (ou comissivo) -ação dolosa, artifícios positivos (ex.: falsas afirmações sobre a qualidade da coisa). • Negativo -omissão dolosa, ocultação de algo que a parte contratante deveria saber (ex.: seguro de vida omitindo doença grave e vem a falecer dias depois) assim, mesmo o silêncio pode ser mecanismo de atuação dolosa. Observações: • Dolo x Erro - o erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem que a outra parte tenha concorrido para isso; o dolo é intencionalmente provocado na vítima pelo autor do dolo. • Dolo recíproco -quando ambas as partes agem com dolo, configurando-se torpeza bilateral, ocorre a neutralização do delito. Não haverá a anulação. O ato é válido. • Não se admite invocação do dolo para se anular casamento. COAÇÃO (arts. 151 a 155 CC) Coação é a pressão física ou moral exercida sobre alguém para obrigá-lo a praticar determinado ato. Na coação o agente sofre intimidação, oferecendo-se ao paciente duas alternativas: emitir declaração de vontade que não pretendia originalmente ou não o fazer e sofrer as conseqüências decorrentes da concretização de uma ameaça ou de uma chantagem. Espécies: • coação física (vis absoluta) -é o constrangimento corporal que retira toda capacidade de querer, implicando ausência total de consentimento, acarretando nulidade do ato (ex.: amarrar a vítima, segurar sua mão e fazê-la assinar contrato). • coação moral (vis compulsiva) -atua sobre a vontade, sem aniquilar-lhe o consentimento, pois conserva ela uma relativa liberdade, podendo optar entre a realização do negócio que lhe é exigido e o dano com que é ameaçada (ex.: se não assinar o contrato, vou incendiar sua casa; vou estuprar sua mulher, vou mostrar uma foto sua em uma situação constrangedor etc.). COAÇÃO a) Física – não há consentimento algum – ausência de vontade – ato inexistente. b) Moral – há um consentimento viciado – ato anulável Requisitos para anulação • causa determinante do negócio jurídico - nexo causal entre o meio intimidativo e o ato realizado pela vítima. • temor justificado - como a morte, cárcere privado, desonra, mutilação. O grau de ameaça deve ser apreciado pelo Juiz. • dano iminente - suscetível de atingir a pessoa da vítima, sua família, seus bens etc. • dano grave e sério - ameaça deve ser grave (se a ameaça for indeterminada ou impossível não é capaz de anular o ato) e séria, capaz de assustar a vítima (ou paciente). Observação – O dano pode atingir pessoa não pertencente à família da vítima, hipótese em que o Juiz decidirá com equidade, se houve ou não a coação. A coação exercida por terceiro, ainda que dela não tenha ciência o contratante, vicia o negócio (anulável). Se a coação exercida por terceiro for previamente conhecida pela parte a quem aproveitar, esta responderá solidariamente com aquele por todas as perdas e danos (art. 154 CC). Excluem a coação • ameaça do exercício normal de um direito (ex.: se você não pagar a dívida, vou protestar o título e requerer sua falência; a pessoa que casa para extinguir ação penal, http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 15 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB por ter mantido relações sexuais com menor de 16 anos, não poderá alegar coação etc.). • simples temor reverencial -o receio de desgostar os pais, ou pessoas a quem se deve respeito e obediência é incapaz de viciar o negócio. ESTADO DE PERIGO (art. 156 CC) Configura-se o estado de perigo quandoalguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa (art. 156 do CC). A vítima não errou, não foi induzida a erro ou coagida, mas pelas circunstâncias de um caso concreto, foi compelida a celebrar um negócio extremamente desfavorável. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do contratante o Juiz decidirá segundo as circunstâncias. A pessoa temerosa de grave dano moral ou material (situação equiparada ao estado de necessidade, mas que com ele não se confunde), acaba assinando contrato, mediante prestação exorbitante (ex.: pai que tendo filho sequestrado, vende suas jóias por valor muito inferior ao mercado; vítima de acidente automobilístico que assume obrigação exagerada para ser salva de imediato; É necessário que a outra parte tenha conhecimento da situação de desespero do primeiro e se aproveite dessa situação. A sanção é a anulação – arts. 171, II e 178, II do CC (prazo de 04 anos). A anulação se dá pela ofensa ao senso de justiça que deve estar presente nos contratos em razão da sua função social; a parte agiu contra o princípio da boa fé objetiva, pois se aproveitou da situação de necessidade para tirar vantagem do negócio. LESÃO (art. 157 CC) Este instituto visa proteger o contratante em posição de inferioridade ante o prejuízo por ele sofrido na conclusão do contrato, devido a desproporção existente entre as prestações. Decorre do abuso praticado em situação de desigualdade, punindo a chamada “cláusula leonina” e o aproveitamento indevido na realização do contrato (ex.: pessoa está em vias de ser despejado e, premido pela necessidade de abrigar sua família e não ver seus bens deixados ao relento, acaba realizando outro contrato por valor muito acima do mercado, negócio esse que, se tivesse condição de meditar, jamais faria). O art. 157 do CC prescreve que ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que o contrato foi celebrado. Requisitos: • Objetivo – manifesta desproporção entre as prestações recíprocas. • Subjetivo – dolo de aproveitamento, de necessidade, de inexperiência alheia ou premente necessidade, levando-a a realizar negócio prejudicial. A sanção é a anulação – arts. 171,II e 178, II do CC (prazo de 04 anos). Não se decretará a anulação do negócio se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito (lesão especial ou qualificada). Estado de Perigo x Lesão – diferença básica Enquanto no estado de perigo o contratante, entre as consequências do grave dano que o ameaça e o pagamento de uma quantia exorbitante, opta pelo último (com a intenção de minimizar ou sanar o mal), na lesão o contratante, devido a uma necessidade econômica, realiza negócio desproporcional; há uma situação dehipossuficiência de uma das partes e aproveitamento desta circunstância pela outra. SIMULAÇÃO (art. 167 CC) Simulação é a declaração enganosa da vontade, visando a obter resultado diverso do que aparece, com o fim de criar uma aparência de direito, para iludir terceiros ou burlar a lei (ex.: faço contrato de compra e venda objetivando, na verdade, fazer uma verdadeira doação). O novo Código Civil não trata mais a simulação como um defeito social; atualmente a colocou em outro capítulo, referente à invalidade do negócio jurídico, que acarreta a nulidade do ato. No entanto a doutrina ainda a classifica como vício social. Na simulação há um desacordo entre a vontade declarada e a vontade interna e não manifestada. As partes fingem, criando uma aparência, uma ilusão externa, que oculta a real intenção dos contratantes. Na simulação as duas partes contratantes estão combinadas e destina-se a iludir terceiros. Só vicia o ato quando houver intenção de prejudicar terceiros ou violar disposição de lei. A despeito do novo Código, a doutrina continua classificando a simulação da seguinte forma: 1) Absoluta -a declaração enganosa de vontade exprime um negócio jurídico, mas não há intenção de realizar negócio jurídico algum (ex.: proprietário de uma casa alugada que, com a intenção de facilitar o despejo contra seu inquilino, finge vendê-la a terceiro; emissão de título de crédito que não representa qualquer negócio feito por um dos cônjuges para prejudicar outro na partilha numa separação). 2) Relativa -uma pessoa, sob a aparência de um negócio fictício, pretende realizar outro, que é o verdadeiro e diverso, no todo ou em parte, do primeiro. Há dois contratos: a) o simulado (aquele que se declara, mas não se quer); b) o dissimulado (aquele que traduz a vontade real das partes). http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 16 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB O que a lei determina é que o negócio dissimulado será mantido, desde que válido na forma e na substância. Ex.: pai deseja doar um imóvel a um de seus filhos, mas não quer que este bem seja trazido à colação quando de sua morte. Simula, então, uma compra e venda. Neste caso, se forem obedecidos os requisitos legais da doação (negócio dissimulado, pois esta era a real intenção do pai desde oinício), ela será mantida. Note que neste caso o bem doado deve sair da parte disponível do patrimônio do pai. Ou seja, ao contrário do que se pensa, um pai pode favorecer mais um filho em detrimento de outro. Mas isso deve ser feito por meio de um testamento e dentro da chamada “parte disponível” do pai. Pelo artigo 167, §2º a simulação ainda pode ser: a) subjetiva (por interposta pessoa ou ad personam) -se a parte contratante não for o indivíduo que tira proveito do negócio. É o testa-de-ferro ou o homem de palha (ex.: pessoa vende objeto à outra, para que esta transmita a terceiro, sendo que a intenção era transferir para o terceiro desde o início). b) objetiva (ou simulação de conteúdo) -relativa à natureza do negócio pretendido, ao objeto ou a um dos elementos contratuais (ex.: doação de homem casado à amante, dando-se a aparência de compra e venda; passar escritura por preço inferior ao do negócio real para burlar o fisco; colocar data diversa no documento etc.). c) inocente – quando não existir intenção de violar a lei ou de lesar outrem, devendo ser tolerada (ex.: pai que simula venda a filho único, mas na verdade doou o bem; pessoa sem herdeiros necessários que simula venda a terceiro, a quem se pretende deixar um legado etc.). d) maliciosa – envolve o propósito de prejudicar terceiros ou de burlar o comando legal, viciando o ato que perderá a validade, sendo nulo. A doutrina vem entendendo que o Código Civil não mais distingue a simulação inocente da maliciosa, pois ambas produzem o mesmo resultado: nulidade do negócio simulado. Observações Importantes 1 – Estabelece o artigo 168 e parágrafo único do CC que as nulidades do artigo 167 podem ser alegadas por qualquer interessado ou pelo Ministério Público. Devem ser pronunciadas pelo Juiz, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes. 2 – A nulidade do ato simulado não pode prejudicar terceiros de boa fé que tenham negociado com um dos simuladores (art. 167, §2º CC). Simulação X Reserva mental Na reserva mental há a emissão de uma declaração unilateral de vontade não desejada nem em seu conteúdo nem em seu resultado; o agente quer algo e o declara, conscientemente, coisa diferente. Ex.: uma pessoa que empresta dinheiro a alguém que está desesperado. Na verdade ela não quer fazer um contrato de mútuo (empréstimo), e sim ajudar a pessoa, enganando-a. Na verdade ela quer ajudar a pessoa doando o dinheiro. Assim, finge que está emprestando,mas ela sabe que o devedor não terá condições de lhe pagar o empréstimo. Portanto o “empréstimo”, na verdade foi “a fundo perdido”. Outro exemplo: pessoa se casa, não com o intuito de contrair matrimônio, mas sim para não ser expulsa do País etc.). O art. 110 do CC prescreve: “a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”. A reserva mental pode ser fraudulenta ou inocente, se houver ou não intenção de prejudicar. Lembrando que na simulação há consenso entre os simuladores. Observação: Nos termos do enunciado 294 da 4ª Jornada de Direito Civil, sendo a simulação causa de nulidade do negócio jurídico, pode uma das partes alegá-la contra a outra. Apesar de sabermos que não é dado alegar a própria torpeza em juízo, a nulidade é tão grave que pode até ser reconhecida de ofício. Ou seja, como a simulação gera a nulidade absoluta do negócio, considerando-se que o negócio nulo pode ser inclusive reconhecido de ofício pelo juiz, qualquer dos simuladores poderá impugnar o negócio em juízo. Ver enunciado 294 da 4º jornada: “Sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por uma das partes contra a outra”. Ou seja, negócio nulo pode ser arguido por qualquer pessoa, e inclusive de ofício pelo juiz. O que é contrato de vaca-papel? Conceito: trata-se de um contrato agrário (de parceria pecuária) que, em verdade, mascara (dissimula) um empréstimo a juros extorsivos. É um contrato simulado. O STJ já pronunciou que o contrato de vaca-papel é simulado (RESP 441903 – SP). O que é reserva mental? A reserva mental se configura quando o agente emite declaração de vontade resguardando o íntimo propósito de não cumprir o efeito jurídico pretendido. Qual é a consequência jurídica que decorre da manifestação da reserva, ou seja, o que se dá quando a outra parte toma conhecimento da reserva? 1ª corrente doutrinária – defendida pelo Ministro Moreira Alves e adotada no art. 110 do CC: sustenta que tomando ciência da reserva a outra parte o negócio se torna http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 17 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB inexistente. Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvose dela o destinatário tinha conhecimento. 2ª corrente doutrinária: afirma que manifestada a reserva e dela tomando conhecimento a outra parte o negócio torna- se inválido (por dolo ou simulação). FRAUDE CONTRA CREDORES (arts. 158 a 165 CC) Constitui fraude contra credores a prática maliciosa, pelo devedor, de atos que desfalcam seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios. Ressalvadas as hipóteses de credores com garantia real (conforme veremos na aula sobre Direito das Coisas, mas já adiantando alguns exemplos: penhor, hipoteca e anticrese) os demais credores estão em idênticas condições no recebimento de seus créditos. Se o patrimônio do devedor não for suficiente para o pagamento de todos os credores haverá um rateio (chamado pela doutrina, especialmente no D. Comercial, de par conditio creditoris). E, no caso do devedor praticar atos com a finalidade de frustrar o pagamento devido, ou tendentes a violar a igualdade entre os credores, ocorrerá a fraude contra credores. Observe que não é a vontade que se encontra viciada; o vício reside na finalidade ilícita do ato (portanto é um vício social). Elementos: • objetivo (eventus damni) -ato prejudicial ao credor, por tornar o devedor insolvente. • subjetivo (consilium fraudis) -má-fé -intuito deliberado de prejudicar, com a consciência de que de seu ato advirão prejuízos. São suscetíveis de fraude: • a título gratuito -doação de bens, perdão (remissão) de dívidas. Ex: estou devendo uma determinada importância e não desejo pagá-la. Tenho bens para saldar minha dívida. Então começo a “doar” meus bens. Basta a prática de um desses atos em estado de insolvência, para se presumir a fraude. Não se exige má-fé. O ato pode ser anulado pelos credores quirografários. • a título oneroso -se oneroso, sai um valor do patrimônio do devedor (ex.: imóveis) mas entra outro (dinheiro). Desde que insolvente ou for notória a insolvência (ex.: já havia protestos contra o devedor), ou há presunção (juris tantum – admite prova em contrário) de que irá dissipar o que recebeu (ex.: venda do único imóvel além do bem de família em data próxima do vencimento das obrigações e não há outros bens para solver o débito; parentesco próximo, amizade íntima, o preço vil, etc.). Será reputada uma venda fraudulenta se não houver dinheiro suficiente para pagar o credor. Se houver sobra patrimonial que permita honrar seus débitos, não haverá fraude contra credores. Se o comprador não tinha como saber o estado de insolvência do vendedor (estava de boa fé) não se anula o negócio (protege-se o comprador). • pagamento antecipado das dívidas -por si só não é fraude. Mas se o devedor insolvente paga dívida ainda não vencida em detrimento de outras que já se venceram, frustrando a igualdade entre os credores, há fraude contra credores, sendo o primeiro pagamento anulado. Conceitos – Algumas palavras que falamos acima são importante para o entendimento da matéria: • Credor quirografário (do grego chirografo – chiro – mão; grafo - grafia - escrito = escrito à mão, assinado) -é o credor sem garantias especiais. Ele conta apenas com a garantia comum a todos os credores: o patrimônio do devedor. • Insolvência -é um estado de fato e ocorre quando a soma do patrimônio ativo do devedor é inferior à do passivo; o valor das dívidas excede o valor dos bens. Ação Pauliana (ou revocatória) • os atos eivados de fraude contra credores são anuláveis através de ação própria, chamada de pauliana; é uma ação declaratória de ineficácia do negócio. Deve ser proposta pelos credores quirografários (e que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta) contra o devedor insolvente e também contra a pessoa que celebrou negócio jurídico com o fraudador ou contraterceiros adquirentes que hajam procedido de má fé (há um litisconsórcio passivo necessário). • O principal efeito desta ação é revogar o negócio lesivo aos interesses dos credores, repondo o bem no acervo sobre o qual se efetuará o concurso de credores. O prazo decadencial para o ajuizamento da ação é de 04 anos a contar da celebração do negócio. Portanto, a ação judicial que visa impugnar o negócio fraudulento pelo credor preexistente é a Ação Pauliana ou Ação Revocatória. Trata-se de uma ação pessoal (por isso que não há exigência de outorga uxória) e o prazo decadencial para se propor essa ação é de 4 anos. A legitimidade ativa para propor a Ação Pauliana é do credor preexiste (ele é o prejudicado). Obs.: Em geral, é o credor preexistente sem garantia (quirografário) que tem interesse e legitimidade ativa na Ação Pauliana. Sucede que, nos termos do parágrafo 1º do art. 158, fica claro que também o credor preexistente com garantia pode manejar a Ação Pauliana, se a garantia se tornou insuficiente. Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 18 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. § 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. O réu é o devedor insolvente, aquele que realizouo ato fraudulento. Nos termos do art. 161, o terceiro só deverá integrar a lide no pólo passivo se tiver atuado de má-fé. Se o terceiro estiver de boa-fé ele não integra o pólo passivo. E credor terá que buscar outros bens do devedor. NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA NA AÇÃO PAULIANA 1ª corrente: a doutrina, tradicionalmente (Moreira Alves, Clóvis Beviláqua, Nelson Nery e diversos outros autores), sustenta, na forma do art. 165, que a sentença na Ação Pauliana é desconstitutiva–anulatória. O negócio fraudulento é inválido – nulo. É a corrente do Código. Dica!!!Uma banca de civilistas provavelmente cobraria esta corrente. Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada. 2ª corrente: essa corrente defendida por Yussef S. Cahali, Frederico Pinheiro, Teori Zavascki, discorda da teoria anulatória e sustenta que, em verdade, a sentença Pauliana é simplesmente declaratória da ineficácia relativa do negócio fraudulento. Vide RESP 506312 – MS, é um RESP flagrantemente contra legem. Esse REsp vai de encontro a 1ª corrente. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALÍNEA C. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO DISSÍDIO. FRAUDE CONTRA CREDORES. NATUREZA DA SENTENÇA DA AÇÃO PAULIANA. EXECUÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIRO. DESCONSTITUIÇÃO DE PENHORA SOBRE MEAÇÃO DO CÔNJUGE NÃO CITADO NA AÇÃO PAULIANA. 1. O conhecimento de recurso especial fundado na alínea c do permissivo constitucional exige a demonstração analítica da divergência, na forma dos arts. 541 do CPC e 255 do RISTJ. 2. A fraude contra credores não gera a anulabilidade do negócio — já que o retorno, puro e simples, ao status quo ante poderia inclusive beneficiar credores supervenientes à alienação, que não foram vítimas de fraude alguma, e que não poderiam alimentar expectativa legítima de se satisfazerem à custa do bem alienado ou onerado. 3. Portanto, a ação pauliana, que, segundo o próprio Código Civil, só pode ser intentada pelos credores que já o eram ao tempo em que se deu a fraude (art. 158, § 2º; CC/16, art. 106, par. único), não conduz a uma sentença anulatória do negócio, mas sim à de retirada parcial de sua eficácia, em relação a determinados credores, permitindo-lhes excutir os bens que foram maliciosamente alienados, restabelecendo sobre eles, não a propriedade do alienante, mas a responsabilidade por suas dívidas. 4. No caso dos autos, sendo o imóvel objeto da alienação tida por fraudulenta de propriedade do casal, a sentença de ineficácia, para produzir efeitos contra a mulher, teria por pressuposto a citação dela (CPC, art. 10, § 1º, I). Afinal, a sentença, em regra, só produz efeito em relação a quem foi parte, "não beneficiando, nem prejudicando terceiros" (CPC, art. 472). 5. Não tendo havido a citação da mulher na ação pauliana, a ineficácia do negócio jurídico reconhecido nessa ação produziu efeitos apenas em relação ao marido, sendo legítima, na forma do art. 1046, § 3º, do CPC, a pretensão da mulher, que não foi parte, de preservar a sua meação, livrando-a da penhora. 5. Recurso especial provido. Fraude contra credores e Fraude à execução - Distinção Não podemos confundir tais institutos. Fraude à execução ou fraude de execução é um instituto do Direito Processual Civil. Fraude contra credores é defeito no Negócio jurídico; fraude à execução é incidente processual. Ocorre quando, ao tempo da alienação do bem, já corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência. O devedor já havia sido citado para ação (de conhecimento ou execução) em que o autor persegue o recebimento de seu crédito. Na fraude à execução não precisa o credor mover ação pauliana, uma vez que o ato não é apenas anulável, mas ineficaz perante o processo de execução. A fraude à execução é um ato atentatório à dignidade e administração da justiça e pode ser declarada ineficaz e reconhecida no próprio processo de execução. Art. 593 do C.P.C. – “Considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens: II – quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência”. Os bens penhorados podem (como regra) ser vendidos, desde que o comprador tenha ciência e aceite o fato da penhora. Mas independentemente dessa venda os http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 19 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB bens penhorados continuam gravados e vinculados ao processo de execução. A fraude à execução é mais grave porque desrespeita a administração da Justiça, uma vez que, no caso, já existe demanda proposta contra o devedor apta a reduzi-lo à insolvência. A fraude a execução é tão grave que não exige matéria específica, o juiz pode trazê-la de ofício. O devedor já está sendo processado e ainda pratica os atos de dilapidação de seu patrimônio. É importante que haja apenas o processo, podendo ser até de conhecimento (não precisa ser de execução). Ver a Súmula 375, STJ. Súmula: 375. O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. A fraude à execução éinstituto processual, podendo o juiz pronunciar a sua nulidade absoluta de ofício (resguardado o direito de defesa) e se configura quando já existe contra o devedor demanda capaz de reconhecer ou reduzi-lo a insolvência. A vítima da fraude à execução é o processo. Já na fraude contra credores, ainda não existe demanda instaurada contra o devedor (ver RESP 684925 – RS). Não há ainda processo contra o devedor. A grande vítima da fraude contra credores é o credor pré-existente. A ação judicial que pode ser proposta para impugnar o negócio fraudulento é a Ação Pauliana. Fraude contra credores X Simulação A diferença básica reside no fato de que enquanto na simulação a alienação é fictícia, na fraude contra credores a alienação é real. II - ELEMENTOS ESSENCIAIS ESPECIAIS Já vimos todos os elementos essenciais gerais. Veremos agora os especiais, que são as formas prescritas ou não defesas em lei. Forma é o meio pelo qual se externa a manifestação de vontade nos negócios jurídicos; é o conjunto de formalidades, solenidades, para que o ato tenha eficácia jurídica. Forma prescrita ou não defesa em lei Em regra a vontade pode se manifestar livremente, não havendo uma forma especial, podendo-se recorrer à palavra falada, escrita, ao gesto e até mesmo ao simples silêncio. Art. 107 CC: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. Todavia, em casos determinados, para maior segurança das relações jurídicas, a lei prescreve a observância de forma especial. Forma especial (ou solene) é o conjunto de solenidades que a lei estabelece como requisito para a validade de determinados atos jurídicos. Tem por finalidade garantir a autenticidade do ato, facilitando sua prova e assegurando a livre manifestação de vontade das partes. Não confundir forma com prova. Enquanto a primeira serve para indicar a vontade interna do agente, a segunda demonstra a existência do ato. Nulo é o negócio jurídico quando não se revestir da forma prescrita em lei ou quando preterir alguma solenidade que a lei considere essencial para sua validade (art. 166, V, do CC). Desobediência à forma prevista = nulidade do ato Ante o que foi aqui falado, concluímos que os negócios jurídicos podem ter: 1 – Forma Livre (ou geral) – para os contratos não formais ou consensuais - qualquer meio de exteriorização da vontade (desde quenão prevista forma especial):palavra escrita ou falada, gestos e até mesmo o silêncio (ex.: admite-se a forma verbal para a doação de bens móveis de pequeno valor – art. 541 CC - ; mandato – art. 656 -, mútuo etc.). 2 – Forma Especial (ou solene) – para os contratos formais ou solenes - conjunto de formalidades que a lei estabelece como requisito para a validade de certos atos. Citamos como exemplos os mais importantes: • casamento -rito adequado • pactos antenupciais – escritura pública • herança e legado – testamento • adoções -registro de pessoas naturais • compra e venda e doações de imóveis – escritura pública e registro • bem de família – escritura pública • testamento – por escrito, rito adequado e número de testemunhas determinado • hipoteca -registro de imóveis • criação de fundação – escritura pública ou testamento • reconhecimento de filho havido fora do casamento – no próprio termo do nascimento, por escritura pública ou particular, por testamento ou manifestação expressa e direta perante o Juiz. Com isso terminamos a análise dos Elementos Essenciais (gerais e especiais), que dizem respeito à validade do Negócio Jurídico. Veremos agora os Elementos Naturais (que são bem simples e dizem respeito aos efeitos do Negócio) e logo a seguir os Elementos Acidentais, que dizem respeito à eficácia do Negócio Jurídico. Vamos a eles. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 20 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB III - ELEMENTOS NATURAIS São os efeitos decorrentes do contrato, sem que seja necessária a menção expressa, pois a norma jurídica já determina as consequências jurídicas. Exemplos: em uma compra e venda os elementos naturais são: obrigação de pagar (comprador) e obrigação de entregar a coisa (vendedor); além disso há a responsabilidade pela evicção (é a perda da coisa em virtude de sentença judicial, como veremos na aula sobre Direito das Coisas) pelo vendedor etc. Em um contrato de locação há a obrigação do locador de entregar o bem locado. Por outro lado olocatário deverá pagar pontualmente os aluguéis. Enfim, cada parte deverá cumprir o disposto nas cláusulas do contrato. Ou seja, cumprir as obrigações que assumiu. IV - ELEMENTOS ACIDENTAIS (arts. 121/137 CC) Os elementos acidentais do negócio jurídico são as cláusulas que se lhe acrescentam com o objetivo de modificar uma ou algumas de suas consequências naturais, ou seja, na geração dos efeitos jurídicos que lhe sejam próprios. São elementos ditos acidentais porque o ato negocial pode estar perfeito sem eles; sua presença é dispensável para a existência do negócio. São declarações acessórias de vontade. Um contrato pode ter ou não esses elementos. São eles: • Condição • Termo • Modo ou Encargo A) CONDIÇÃO Condição é a cláusula que subordina o efeito do ato jurídico a evento futuro e incerto (ex.: eu lhe dou o meu carro, se eu ganhar na loteria). Antes de se realizar a condição, o ato é ineficaz. Os requisitos para a condição são a futuridade e a incerteza. O titular de direito eventual (seja a condição suspensiva ou resolutiva) pode exercer os atos destinados à conservação do direito (ex.: requerer inventário, pedir caução etc.). A condição pode ser classificada: 1 – Modo de Atuação: (é a que tem maior incidência nos concursos); • Suspensiva (art. 125 CC) -é a condição cuja eficácia do ato fica suspensa até o evento futuro e incerto; protela-se, temporariamente, a eficácia do negócio (ex.: dou-te um carro se ganhares a corrida). - enquanto não se verifica a condição ela é chamada de pendente. - a ocorrência da condição se chama de implemento. - quando a condição não é realizada, chama-se frustração. Pendente a condição, não há direito adquirido, mas umdireito eventual (ex.: Fulano doa a Sicrano um objeto sob uma condição suspensiva. Antes doimplemento desta, sicrano vende o bem a beltrano; a venda é nula). Com o implemento da condição aperfeiçoa-se o ato negocial de forma retroativa, desde a celebração (efeito ex tunc), exceto nos contratos reais (que necessitam da entrega ou do registro). • Resolutiva (art. 127 CC) -subordina à ineficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto. É a condição cujo implemento extingue os efeitos do ato (resolver = extinguir). Ex.: deixo de te dar uma mesada se repetires de ano. Enquanto a condição não se realizar, vigorará o negócio jurídico. Verificada a condição, extingue- se o direito (Ex.: empresto-lhe uma casa para você nela você residir enquanto for solteiro. Isto quer dizer que no dia em que se casar perderá o direito de usar a casa). 2 – Participação dos Sujeitos: • casual - se depender de força maior ou um acontecimento fortuito; ao acaso (ex.: eu lhe darei um anel de brilhantes se chover amanhã – chover amanhã é um acontecimento futuro e imprevisível). • potestativa - se decorrer da vontade de uma das partes. Subdivide-se em: - puramente potestativa - quando decorre de um capricho ou arbítrio do proponente; decorre da vontade absoluta de uma das partes, segundo um critério exclusivo de sua conveniência (ex.: eu lhe darei um carro se eu levantar o braço, ou se eu quiser). São proibidas – art. 122 CC. - meramente (ou simplesmente) potestativa ⎯depende da prática de algum ato do contraente e de um fator externo (ex.: eu lhe darei uma joia se você cantar bem; ou passar num concurso; eu lhe pagarei quando revender a coisa etc.). Um dos contratantes tem poder sobre a ocorrência do evento, mas não absoluto, pois depende, ainda, de fatores ligados ao outro contratante. Neste caso a cláusula é válida. 3 – Quanto à Possibilidade: • física e juridicamente possível - é a que pode ser realizada conforme as leis físico-naturais e as normas jurídicas. • física e juridicamente impossível - é a que não se pode efetivar por ser contrária à natureza (ex.: eu lhe darei um carro se você filtrar toda a água do mar) ou à ordem legal (ex.: eu lhe darei um carro se você renunciar à pensão alimentícia). Importante: http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 21 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Invalidam os Negócios Jurídicos: as condições físicas e juridicamente impossíveis, quando suspensivas (art. 123, I CC). Condições Inexistentes: impossíveis quando resolutivas e as de não fazer coisa impossível (art. 124 CC). 4 – Quanto à Licitude: • lícita - não for contrária à lei, permitida pelo direito. • ilícita - condenada pela norma jurídica, pela ordem pública, pela moral e pelos bons costumes (ex.: eu lhe darei uma joia se me deixar viver em adultério; ou, se você mudar de religião, não se casar etc.). A condição perplexa (priva de todo efeito o ato – ex.: vendo-lhe uma casa, se você nunca a ocupar) é considerada ilícita. Cuidado - Invalidam o Negócio Jurídico as condições ilícitas ou de fazer coisa ilícita (conforme o art. 123, II CC). Condições não aceitas pelo nosso direito: • não se casar - não pode haver essa condição; porém é aceita se for da seguinte maneira: eu lhe darei um apartamento se você não se casar com Paulo, ou se você casar com Leandro, ou se você permanecer em estado de viuvez (embora esta última hipótese seja polêmica e não aceita totalmente) etc. • exílio - ou morada perpétua em determinado lugar (porém nada impede de condição de que vá morar em outro lugar, como no interior do Estado). • religião - a condição para mudança de religião atenta contra a liberdade de consciência assegurada pela Constituição. • profissão - não pode haver condição para que não se exerça determinada profissão, porém pode haver para que se siga um certa profissão (ex.: se você se formar em direito, eu lhe darei meu anel de grau). • aceitação ou renúncia de herança – este atodeve ser puro e simples, sem condições (veremos esse assunto com mais profundidade no Direito das Sucessões). • reconhecimento de filhos, emancipação – também não pode haver qualquer condição para se reconhecer um filho (ex: eu o reconheço como meu filho, desde que você aceite não receber pensão alimentícia ou renuncie o direito de eventual herança); ou emancipação (eu emancipo você, desde que não se case). Observação – É preciso que não haja interferência maliciosa de qualquer dos interessados no desfecho da situação prevista. Se um dos contratantes interferir (dolosamente, intencionalmente) na ocorrência do evento, para que ele se realize ou não, a penalidade é de que se considere realizado o fato no sentido oposto daquele pretendido pelo agente malicioso (art. 129 CC). Ex.: dou-lhe certa importância em dinheiro se o motorista chegar no local combinado até o meio dia; se a outra parte aprisiona o motorista para que ele não chegue no horário previsto, reputa-se verificada a condição, pois a mesma foi maliciosamente obstada pela parte contrária. B) TERMO Termo é o dia em que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico. Subordinando-se a um evento futuro e certo (embora a data possa ser indeterminada). O termo pode ser classificado em: • inicial ou suspensivo – (dies a quo) -se fixar o momento em que a eficácia do negócio deve iniciar, retardando o exercício do direito (ex.: a locação terá início dentro de dois meses). O termo inicial não suspende a aquisição do direito, que surge imediatamente, mas só se torna exercitável com a superveniência do termo (suspende o exercício, mas não a aquisição do direito). O exercício do direito fica suspenso até o instante em que o acontecimento futuro e certo, previsto, ocorrer. • final ou resolutivo (dies ad quem) -se determinar a data da cessação dos efeitos do negócio, extinguindo as obrigações (ex.: a locação se findará no prazo de 5 anos). Antes de chegar o dia estipulado para seu vencimento, o negócio, subordinado a um termo final vigorará plenamente e seu titular poderá exercer todos os direitos dele provenientes. • certo -quando estabelece uma data do calendário (ex.: a locação terá início no dia 1º de janeiro do próximo ano). • incerto -se se referir a um acontecimento futuro, mas com uma data incerta (ex.: lhe darei um imóvel quando fulano falecer (o evento é futuro e certo -pois a morte é sempre certa ⎯porém a data é incerta). Não confundir termo com prazo. Prazo é o lapso de tempo compreendido entre a declaração de vontade e a superveniência do termo em que começa o exercício dodireito ou extingue o direito até então vigente. Ou seja, prazo é o intervalo entre o termo inicial e o termo final. É contado por unidade de tempo (hora, dia, mês e ano), excluindo-se o dia do começo (dies a quo) e incluindo-se o dia do vencimento (dies ad quem), salvo disposição legal ou convencional em contrário. Regras: • Se o vencimento se der em feriado ou domingo, prorroga- se até o primeiro dia útil subseqüente. • Meado considera-se, em qualquer mês, o seu 15º dia. • Nos testamentos presume-se os prazos em favor do herdeiro. Nos contratos, em proveito do devedor (salvo se do teor do instrumento ou das circunstâncias resultar que se estabeleceu em benefício do credor, ou de ambos os contratantes). C) ENCARGO OU MODO http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 22 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Encargo ou modo é a cláusula acessória, em regra, aderente a atos de liberalidade inter vivos (doação) ou causa mortis (herança, legado), que impõe um ônus ou uma obrigação à pessoa contemplada pelos referidos atos (ex.: doo um terreno à municipalidade para que nele seja edificado um hospital; dou-lhe dois terrenos desde que em um seja construída uma escola etc.). Também poderá ser instituído nas declarações unilaterais de vontade (ex.: promessa de recompensa). O benefício vem acompanhado de um ônus, um encargo (que será menor que o benefício, caso contrário seria uma contraprestação). O artigo 136 do CC dispõe que o encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito (ex.: aberta a sucessão o domínio e a posse dos bens transmitem-se desde logo aos herdeiros nomeados, com a obrigação de cumprir o encargo; se este não for cumprido a liberalidade será revogada). Se o objeto for ilícito ou impossível, é tido como não escrito (art. 137 CC). É importante não confundir os três conceitos (condição, termo e encargo). INEFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO Vimos até agora os Elementos Constitutivos do Negócio Jurídico (Essenciais, Naturais e Acidentais). A partir daqui veremos o que causa a Ineficácia do Negócio Jurídico, que é o último tópico dessa nossa aula (muito embora já tenhamos visto hoje muitas causas de nulidade e anulabilidade do Negócio Jurídico). É o último tópico, porém, muito importante. Para a realização de um ato jurídico, a lei civil impõe que sejam observados determinados preceitos. Em alguns casos, os atos praticados pelas partes podem não produzir os efeitos desejados, posto que realizados em desacordo com o ordenamento jurídico. Segundo a doutrina tradicional a expressão ineficácia (ou invalidade) é empregada para designar o negócio que não produziu os efeitos desejados pelas partes. O grau de invalidade do negócio depende da natureza da norma ofendida. Assim, Abrange ele: • Inexistência • Nulidade Absoluta (nulo) ou Relativa (anulável) 1 - Ato Inexistente - é o inidôneo à produção de efeitos jurídicos (ex.: compra e venda na qual não se estipulou preço; ou não há objeto etc.). Não é necessária a declaração da ineficácia por decisão judicial, porque o ato jamais chegou a existir. Não se invalida o que não existe. Costuma-se dizer: ato inexistente é o nada. O vício é tão sério que o ato é considerado como inexistente. 2 - Nulidade – de uma forma ampla é a sanção imposta pela lei que determina a privação de efeitos jurídicos do ato negocial, praticado em desobediência ao que ela prescreve. Para que se possa declarar um negócio jurídico nulo ou anulável, é preciso que ele ao menos tenha entrado (embora com vícios) no mundo jurídico para surtir os efeitos manifestados. Duas são as espécies de nulidades: nulidade absoluta e nulidade relativa (ou anulabilidade). a) Nulidade Absoluta – o ato não produz qualquer efeito por ofender gravemente princípios de ordem pública. O ato é absolutamente inválido; não precisa ser anulado, pois já nasce nulo; o Juiz somente declara o ato nulo, podendo fazê-lo de ofício (ex officio). A declaração de nulidade é uma penalidade ao desrespeito da norma. Os atos nulos não podem ser convalidados, nem ratificados. Também não se convalescem pelo decurso de tempo. Não produzem efeito algum. Ex.: venda de imóvel por contrato particular; venda realizada por absolutamente incapaz; objeto ilícito ou impossível etc. b) Nulidade Relativa – o ato é anulável e, enquanto não for declarado tal pelo Juiz, produz efeitos. A lei oferece aos interessados a alternativa de requerer a sua anulação ou deixar que produza seus efeitos normalmente. A anulação só atinge os atos após a declaração de anulação. A parte precisa requerer a anulação; o Juiz não reconhece de ofício. O ato anulável pode ser convalidado, salvo direito de terceiro. Os efeitos já produzidos permanecem válidos. O ato anulável prende-se a uma desconformidade que a norma considera menos grave, pois viola preceitos individuais, provocando uma reação menos extrema. Convalidar é a sanar o defeito que inquina o ato. A convalidação pode se dar: a) pela ratificação (ou confirmação) do ato de forma expressa ou tácita; b) pelo decurso de tempo (ex.: decadência). Ex.: venda realizada sob coação, ou por pessoa relativamente incapaz sem assistência etc. Esquema apregoado pela doutrinatradicional Ato nulo: Efeito ex tunc. Retroage à data da celebração do negócio nulo. Efeitos contra todos. Matéria de ordem pública. Ato anulável Efeito ex nunc. Não retroage. Declarado anulado, opera efeitos a partir da anulação. Efeitos entre as partes contratantes. Matéria de ordem privada. Ex nunc – significa de agora em diante; portanto quando se diz que algo tem efeito ex nunc, quer se dizer que os efeitos são daqui para frente, ou seja, não retroagem. Lembre-se ex nunc – nunca retroage. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 23 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Este é um “macete” muito usado pelos alunos. No entanto cuidado: nunc não significa nunca. Nunc Significa agora, no momento presente (portanto, de agora em diante). A dica é só para ajudar uma melhor associação. Ex tunc – desde então, desde aquele momento. Lembre-se ex tunc – tudo; tunc – trás, vai para trás. Ou seja, o ato retroage à data da celebração, como se ele não tivesse existido. Cuidado novamente: tunc significa então, desde então. São nulos os atos: • quando praticados por absolutamente incapaz (ex.: venda realizada por menor de 16 anos). • quando for ilícito ou impossível o objeto (ex.: contrato para levar a Júpiter). • quando não se revestir da forma prescrita em lei (ex.: pacto antenupcial feito por contrato particular). • quando for preterida solenidade essencial (ex.: testamento sem testemunhas). • quando o negócio jurídico for simulado (art. 167 CC) – no entanto o mesmo subsistirá no que se dissimulou, se for válido na forma e substância. • quando a lei declarar nulo ou lhe negar efeito (ex.: casamento de pai com filha adotiva; cláusula que permite ao credor ficar com o imóvel hipotecado). São anuláveis os atos: • por incapacidade relativa do agente, sem assistência de seus representantes (ex.: venda feita por pródigo). • por vício resultante de erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo ou fraude contra credores (ex.: venda sob coação moral; com erro essencial, etc.). • por falta de legitimação (ex.: venda de imóvel sem outorga do outro cônjuge). • se a lei assim o declarar (ex.: art. 496 – É anulável a venda de ascendente para descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido; art. 550 – É anulável a doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice de adultério pelo outro cônjuge ou seus herdeiros, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal). Observação – Sendo o Negócio Jurídico Nulo ou Anulável é imprescindível a manifestação do Poder Judiciário a esse respeito; ou seja, é o juiz que irá declarar o ato nulo ou anulável. Regras Comuns à Nulidade e à Anulabilidade • A nulidade parcial de um ato não prejudicará na parte válida, se destacável (princípio da conservação do negócio jurídico). Ex.: nulidade de cláusula de fiança não anula o contrato de locação. • A nulidade relativa do instrumento não induz à do ato se este puder ser provado por outro meio. Ex.: anulação de contrato de locação não anula a própria locação, que pode ser provada por recibos e testemunhas. • A nulidade da obrigação principal implica a nulidade das acessórias. O contrário não. Ex.: nulidade de cláusula onde se estabelece a locação residencial porque o locatário é menor invalida todas as outras cláusulas, inclusive a fiança. Já a nulidade no contrato de fiança não atinge o contrato de locação, propriamente dito. • Tanto a nulidade como a anulabilidade aniquilam o ato. A situação deve retornar ao estado anterior e, se não puder se restabelecer à situação anterior cabe indenização. Nulidade X Ineficácia Nulidade é um vício intrínseco ou interno do ato jurídico. Na ineficácia o ato jurídico é perfeito entre as partes, mas fatores externos impedem que produza efeito em relação a terceiros (ex.: alienação de bens pelo falido após a decretação da falência). CONVERSÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO O Código Civil admite a conversão do negócio jurídico nulo em outro de natureza diferente (art. 170): “Se o negócio jurídico nulo contiver requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade”. Ex.: partes celebram contrato de compra e venda de um imóvel por meio de instrumento particular; o negócio seria nulo pois exigiria que fosse feito por instrumento público. No entanto é possível salvá-lo, aplicando a teoria da conservação, mediante atividade de requalificação: basta considerá-lo como sendo uma promessa de compra e venda (e não um contrato de compra e venda propriamente dito). É necessário que os contratantes queiram o outro contrato, se souberem da nulidade do que celebraram. A vontade das partes, no caso concreto estaria preservada e o negócio requalificado seria válido, pois o compromisso não exige a forma pública. Em Processo Civil, o aproveitamento do negócio ou do procedimento é muito usado. No Direito Civil, a Conversão é uma das únicas formas de se salvar o negócio nulo. Trata-se de uma medida sanatória, por meio da qual aproveitam-se os elementos materiais de um negócio inválido, convertendo-o em outro negócio válido e de fins lícitos. Karl Larenz tratou dessa conversão. Converter o negócio não é confirmá-lo, mas sim pegar o negócio nulo, aproveitar o que puder, e transformar em negócio válido e lícito. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 24 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB IMPORTANTE!! A nulidade pode ter efeitos no Direito Civil por meio desse instituto. No Processo Civil, a nulidade também gera efeitos. ELEMENTOS DA CONVERSÃO DO NEGÓCIO Para haver a conversão, são necessários dois elementos: 1) Elemento material – é o aproveitamento do suporte fático do primeiro negócio. 2) Elemento imaterial – é a intenção dos declarantes no sentido da conversão (se as partes houvessem previsto a nulidade, teriam celebrado um negócio convertido). PREVISÃO LEGAL: Art. 170, CC. EXEMPLO Contrato de compra e venda de imóvel, nulo por vício de forma, pode ser convertido em uma promessa de compra e venda. Obrigações Contraídas por Menores • As obrigações contraídas por menores entre 16 e 18 anos são anuláveis se contraídas sem assistência de seus representantes (os quais devem intervir pessoalmente nos atos). • Os menores devem ser assistidos por curadores quando intervierem em atos nos quais há conflito de interesse com seus representantes. Ex.: pai e filho, este menor, com 17 anos, querem vender imóvel que possuam em condomínio. O filho deve ser assistido por curador. • Quanto aos atos ilícitos em que forem culpados, os menores entre 16 e 18 anos, são equiparados aos maiores. • O menor entre 16 e 18 anos não pode eximir-se de uma obrigação e invocar a sua idade, se dolosamente a ocultou, ou se espontaneamente se declarou maior ao assumir sua obrigação. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - PARTE GERAL (arts. 233 a 420) Caros alunos, iniciamos agora uma nova etapa em nossos estudos. Até agora analisamos a Parte Geral do Código Civil. Lógico que adiantamos muitos assuntos da Parte Especial. Sempre fizemos questão de dizer que ao analisarmos a Parte Geral já estávamos vendo muita coisa referente à Parte Especial do Código. Dizíamos que iríamos aprofundar mais determinados temas em aulas vindouras. Pois agora é hora de entrarmos nestes assuntos em definitivo. Entraremos, pois, na Parte Especial do Código Civil, formada pelo: Direito das Obrigações, onde veremos também os Contratos em sua parte geral e a Responsabilidade Civil. Lembrem-se que o Código Civil possui mais um item importante, o Direito de Empresa. Porém esse tema, apesar deestar contido no Código Civil, pertence ao Direito Comercial e não é aprofundado neste nosso curso. Iniciaremos, então, a análise da Parte Especial com a aula: Direito das Obrigações – Parte Geral. Para isso é necessário que o aluno tenha uma boa base do que foi falado anteriormente. Hoje tratamos de um ponto importante. É uma aula longa. Com muitos pontos a serem abordados. No entanto não é difícil. Portanto se o aluno tiver qualquer dúvida, retorne às aulas anteriores. Comecemos. Todo direito encerra sempre uma idéia de obrigação. Podemos dizer que não existe direito sem obrigação e nem obrigação sem o correspondente direito. Podemos assim, conceituar obrigação como sendo a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor, e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio. Confere-se assim ao sujeito ativo o direito de exigir do passivo o cumprimento de determinada prestação. Vejam que o conceito é longo, possui diversos elementos. Portanto vamos analisá-los um por um. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS São Elementos Constitutivos das Obrigações: • Subjetivo (Ativo e Passivo) • Objetivo • Vínculo 1 - Elemento Subjetivo – são os sujeitos (ou partes) de uma obrigação: • Sujeito Ativo -é o credor, o beneficiário da obrigação; é a pessoa (física ou jurídica) a quem a prestação (positiva ou negativa) é devida, tendo, para isso, o direito de exigi-la. • Sujeito Passivo -é o devedor; aquele que deve cumprir a obrigação, efetuar a prestação. Observação – é possível que os pólos (passivo e/ou ativo) sejam ocupados por uma ou várias pessoas (naturais ou jurídicas) ou que haja alteração de um dos sujeitos (ex.: sub-rogação, ou seja transferência do crédito ou da dívida, conforme veremos adiante). 2 - Elemento Objetivo (ou material) – é o objeto de uma obrigação: O objeto da obrigação é a prestação http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 25 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB (positiva ou negativa), que pode consistir em dar, fazer ou não fazer. Deve ser lícita, possível(física e juridicamente), determinada ou determinável e economicamente apreciável. É admissível a obrigação que tenha por objeto um bem não econômico, desde que seja digno de tutela o interesse das partes. Veremos isso mais adiante. 3 - Vínculo Jurídico É o elo que sujeita o devedor a determinada prestação (positiva ou negativa) em favor do credor. É o liame legal que une o devedor ao credor. Abrange o dever da pessoa obrigada (chama-se isso de debitum) e sua responsabilidade em caso de não cumprimento (obligatio). Exemplo: podemos dizer que um contrato de locação de uma casa (ou qualquer outro contrato) é o vínculo. É este contrato que irá ligar o locador (proprietário), o locatário (inquilino) e o bem que está sendo alugado. Vejam que locador e locatário fazem parte do Elemento Subjetivo. A casa é o Elemento Objetivo. E o contrato é o Vínculo. FONTES DAS OBRIGAÇÕES Fonte é uma expressão figurada, indicando o elemento gerador, o fato jurídico que deu origem ao vínculo obrigacional. Podemos reconhecer como fontes de obrigações: • Lei – fonte primária ou imediata de obrigações (“Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de... Lei”). • Negócio Jurídico Bilateral – Duas pessoas se obrigam. Ex: Contratos - na compra e venda uma pessoa se obriga a pagar o preço e a outra a entregar a coisa; na locação ocorre o mesmo etc. • Negócio Jurídico Unilateral – Ato unilateral de vontade. Apenas uma pessoa se obriga. Ex.: na promessa de recompensa, eu coloco uma faixa na rua “perdeu-se cachorrinho... recompensa-se bem” (quem já não viu uma faixa dessa? – pois isso é uma declaração unilateral de vontade; é uma promessa de recompensa; apenas uma pessoa está se obrigando). Outros exemplos: o testamento, um título ao portador etc. • Atos Ilícitos – Dever de reparar eventuais prejuízos sofridos. Ex.: danos causados por acidente de veículos. Já vimos isso na aula passada. Apenas para recordar: quem comete ato ilícito (arts. 186 e 187 CC) fica obrigado a reparar o dano (art. 927 CC). Portanto o ato ilícito é fonte de obrigação também. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES De acordo com a importância e aplicabilidade prática, podemos classificar as obrigações em diversas categorias. Como vocês já puderam perceber, gosto, inicialmente, de fazer a classificação geral. Depois vou explicando item por item, bem devagar. CLASSIFICAÇÃO I – QUANTO AO OBJETO A) Positivas 1 – Obrigação de Dar a) coisa certa b) coisa incerta 2 – Obrigação de Fazer a) fungível b) infungível B) Negativas 1 - Obrigação de Não Fazer II – QUANTO A SEUS ELEMENTOS A) Simples - um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto. B) Compostas – Pluralidade de Objetos ou Sujeitos. 1 – Pluralidade de Objetos a) cumulativa b) alternativa 2 – Pluralidade de Sujeitos - Solidariedade a) ativa b) passiva III – Quanto aos Elementos Acidentais • puras e simples • condicionais • a termo • modais IV – Outras Modalidades • líquidas ou ilíquidas • divisíveis ou indivisíveis • de resultado, ou de meio, ou de garantia • instantâneas, fracionadas, diferidas ou de trato sucessivo • principais ou acessórias • propter rem • naturais http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 26 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB I - OBRIGAÇÃO POSITIVA DE DAR Obrigação de dar é aquela pela qual o devedor se compromete a entregar alguma coisa (transferindo a propriedade, a posse ou apenas o uso de uma coisa). Também é chamada de obrigação de prestação de coisa. Ela pode ser de dar a coisa certa (ex.: uma jóia, um carro etc.) ou incerta (ex.: a obrigação de dar um boi, dentre uma boiada). Vejamos cada uma delas. A) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA (arts. 233/242 CC) O devedor se obriga a dar uma coisa individualizada (ex.: a vaca Mimosa ou o cavalo Furacão), podendo ser móvel ou imóvel. O credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa. O devedor somente se desonera da obrigação com a entrega do bem que foi contratado. Abrange a obrigação de transferir a propriedade (ex.: compra e venda), entregar a posse (ex.: locador ou comodante que deve entregar a coisa) e restituir (ex.: locatário ou comodatário de devolver a coisa quando termina o contrato). Essa obrigação abrange os acessórios, salvo se as partes estipularem de modo diverso (art. 233 CC). Cumpre- se a obrigação mediante a tradição (que significa entrega da coisa na compra e venda ou restituição no caso do comodato). Até a entrega da coisa esta pertence ao devedor. Consequências jurídicas da perda da coisa antes da tradição: a) sem culpa do devedor (caso fortuito, força maior) – resolve-se a obrigação, para ambas as partes, que voltam à situação primitiva; se o vendedor já recebeu o preço da coisa que pereceu, sem culpa sua, deve devolvê-lo com correção monetária. b) com culpa do devedor – indenização pelo valor da coisa mais perdas e danos. Consequências jurídicas da deterioração (destruição parcial) da coisa antes da tradição: a) sem culpa do devedor – resolve-se a obrigação, com restituição do preço mais correção monetária ou abatimento proporcional no preço. b) com culpa do devedor – resolve-se a obrigação em perdas e danos; recebimento da coisa no estado em que se achar mais abatimento proporcional no preço. Atenção!!! No caso de devolução de bens (que se encontram com outrem – ex.: comodato), aplica-se a regra res perit domino (a coisa perece para o dono). Esta é uma frase em latim muito conhecida no mundojurídico. Se a obrigação for de restituir coisa certa e esta se perder antes da tradição, sem culpa do devedor, sofrerá o credor a perda e a obrigação se extinguirá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Cômodos – é um termo usado pela doutrina. Cômodos são as vantagens produzidas pela coisa. Até a tradição a coisa pertence ao devedor, com seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá pedir aumento no preço (ex.: uma pessoa vende uma vaca, que antes da entrega deu uma cria; o devedor ou não entrega o filhote, ou o entrega com aumento de preço – este é um exemplo clássico que costuma cair em concursos). Quanto aos frutos, os percebidos pertencem ao devedor; os pendentes pertencem ao credor. B) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA (arts. 243/246 CC) Coisa incerta indica que a obrigação tem objeto indeterminado (o objeto é indicado de forma genérica no início da obrigação), no entanto deve ser indicada, ao menos pelo gênero e quantidade, faltando determinar a qualidade (ex.: entregar dez bois = já há determinação quanto ao gênero - bois - e quanto à quantidade - dez - falta individualizar quais os bois que serão entregues). Assim, coisa incerta não quer dizer qualquer coisa, mas coisa indeterminada, porém suscetível de determinação futura. Por isso a indeterminação é relativa. Não se admite a indeterminação absoluta, pois inviabilizaria o futuro cumprimento da obrigação. Lembrem- se de que qualquer vício no objeto (objeto impossível, ilícito etc.) torna nulo o contrato. Reveja isso na aula de Fatos e Atos Jurídicos. Se o bem ainda não foi determinado, um dia haverá a sua individualização. Essa individualização se faz pela escolha. O ato unilateral de escolha chama-se concentração (mais um termo que não está prevista no Código, mas que costuma cair em concursos), que se exterioriza pela pesagem, medição, contagem etc. Escolha e concentração são termos sinônimos. A lei fala em escolha, mas costuma cair concentração nos concursos. A escolha cabe, em regra ao devedor, salvo se for estabelecido de modo diverso no contrato (neste caso, por exceção, a escolha caberá ao credor ou a uma terceira pessoa estranha ao negócio). Realizada a escolha acaba a incerteza; a obrigação de dar a coisa incerta transforma-se em obrigação de dar a coisa certa. No momento da escolha o devedor (ou quem o contrato determinar) pode escolher qualquer bem? Não! Vejam a regra que nosso Código estabeleceu: Na falta de disposição contratual, estabelece a lei que o devedor não poderá dar a coisa pior, nem ser obrigado a prestar melhor (art. 244 do CC). Obrigação Pecuniária Obrigação pecuniária ou obrigação de solver dívida em dinheiro é uma espécie de obrigação de dar que abrange prestação em dinheiro, reparação de danos e pagamento de juros. O pagamento em dinheiro será feito em moeda corrente no lugar do cumprimento da obrigação http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 27 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB e pelo valor nominal, ou seja, em real (que é nossa unidade monetária atual), segundo o art. 315 do CC. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira (obrigação valutária – valutaria = valuta = divisa, moeda estrangeira), salvo os contratos etítulos referentes à importação e exportação (art. 318 do CC). Assim, se cair alguma questão da possibilidade de pagamento de dívidas em dólar, ou ouro, a resposta é que não pode (salvo contratos especiais, contratos estes que não estão previstos no Código Civil). Na obrigação pecuniária o devedor sofrerá com as conseqüências da desvalorização da moeda, mas pode-se incluir em algumas convenções cláusula de atualização da prestação. II - OBRIGAÇÃO POSITIVA DE FAZER (arts. 247/249 CC) Obrigação de Fazer consiste na prestação de um serviço ou ato positivo (material ou imaterial) do devedor (ex.: trabalho manual, intelectual, científico ou artístico etc.). Também é chamada de obrigação de prestação de fato. A impossibilidade do devedor de cumprir a obrigação de fazer, bem como a recusa em executá-la, acarretam o inadimplemento contratual (que significa o não cumprimento do contrato). Se o próprio devedor criou a impossibilidade, responderá ele por perdas e danos. A recusa voluntária induz culpa. Se não houver culpa (força maior ou caso fortuito) resolve-se a obrigação sem indenização (ex.: cantor que ficou afônico). Repõem-se as partes no estado anterior da obrigação. Espécies: • Obrigação de Fazer Fungível – lembrem-se da aula sobre bens; fungível quer dizer que pode haver a substituição do bem. No caso das obrigações quer dizer que a prestação do ato pode ser realizada pelo devedor ou por terceira pessoa (ex.: obrigação de pintar um muro - em tese qualquer pessoa pode pintar um muro, por isso é uma obrigação fungível). Se houver recusa ou mora (que á a demora) no cumprimento da obrigação, sem prejuízo da cabível ação de indenização por perdas e danos, o credor pode mandar executar o serviço à custa do devedor. O credor está interessado no resultado da atividade do devedor, não se exigindo capacidade especial deste para realizar o serviço. • Obrigação de Fazer Infungível – a prestação só pode ser executada pelo próprio devedor; não há a possibilidade de substituição da pessoa que irá cumprir a obrigação, pois esta pessoa, contratualmente falando, é insubstituível (ante a natureza da prestação ou disposição contratual). Ex.: contrato artista famoso para pintar um quadro; ou um cirurgião famoso para realizar uma operação, ou um advogado famoso para fazer um Júri etc. A obrigação de fazer infungível também é chamada de prestação intuitu personae. A recusa ao cumprimento da obrigação resolve-se, tradicionalmente, em perdas e danos (art. 247 CC), pois não se pode constranger fisicamente o devedor a executá-la. No entanto, atualmente, admite-se a execução específica da obrigação. Isto é, pode ser imposta pelo Juiz, uma multa periódica (chamada de astreinte – trata-se mais uma expressão criada pela doutrina e não prevista no Código, mas que pode cair em concursos; aliás já vi cair muito, mas em Processo Civil). Astreinte é uma expressão francesa; trata-se de uma multa. Lembrando que esta é um tema do Direito Processual Civil e não do Direito Civil. Mas como já vi cair em concursos e sempre alguém me pergunta algo sobre ele, vamos falar um pouquinho deste instituto. Podemos conceituá-lo com sendo uma penalidade imposta ao devedor, mediante ação (daí ser processual civil), consistente em uma prestação periódica, que vai sendo acrescida enquanto a obrigação não é cumprida, ainda que não haja no contrato a cláusula penal. Está previsto no artigo 461 e seu §4º do C.P.C. O Juiz concede prazo para o devedor cumprir a obrigação. Não o fazendo deverá pagar multa diária até o seu cumprimento. Pela recente reforma do Código de Processo Civil, atualmente há a possibilidade do juiz fixar astreintes ou preceito cominatório nas obrigações de fazer, não fazer e também para a obrigação de dar coisa certa, conclusão retirada dos artigos 461-A e seu §3º e 621, parágrafo único, do C.P.C. em vigor. Tal regra, segundo a melhor doutrina, não vale para a obrigação de dar coisa incerta, para a obrigação de pagar quantia em dinheiro e para a obrigação de restituir dívida em dinheiro, isso por falta de previsão legal no caso concreto. O inadimplemento de emitir declaração de vontade (ex.: compromisso de compra e venda) dá ensejo à propositura de ação de adjudicação compulsória. A decisão judicial supre a vontade da parte inadimplente. Observação: As diferenças entre a obrigação de dar e fazer repousam no fato de que na obrigação de dar o devedor não precisa fazê-la previamente, enquanto na obrigação de fazer o devedor deve confeccionar a coisa para depois entregá-la. Além disso, na obrigação de dar,que requer a tradição, a prestação pode ser fornecida por terceiro, estranho aos interessados, enquanto nas de fazer, em princípio,o credor pode exigir que a prestação seja realizada exclusivamente pelo devedor. III - OBRIGAÇÃO NEGATIVA DE NÃO FAZER (arts. 250/251 CC) Obrigação de não fazer é aquela pela qual o devedor se compromete a não praticar certo ato que poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado (ex.: proprietário se obriga a não edificar a certa altura para não obstruir a visão do vizinho; inquilino se obriga a não trazer animais domésticos para o cômodo alugado etc.). Se http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 28 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB praticar o ato que se obrigou a não praticar, tornar-se-á inadimplente e o credor pode exigir o desfazimento do que foi realizado. Há casos em que somente resta o caminho da indenização (ex.: pessoa se obriga a não revelar um segredo industrial). É sempre pessoal e só pode ser cumprida pelo próprio devedor. IV - OBRIGAÇÕES QUANTO A SEUS ELEMENTOS Trata-se de uma outra espécie de classificação. No tocante a esta classificação as obrigações podem ser divididas em: 1 - OBRIGAÇÕES SIMPLES (ou singulares) - são as que se apresentam com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto, destinando-se a produzir um único efeito. É bem simples = um credor, um devedor e um objeto. Ex. “A” empresta para “B” a quantia de cem reais. Só isso. Pela facilidade, dificilmente cai em concurso. 2 - OBRIGAÇÕES COMPOSTAS (complexas ou plurais) - são as que se apresentam com pluralidade de objetos (obrigações cumulativas ou alternativas) ou pluralidade de sujeitos (obrigações solidárias). Vamos falar das duas situações: a) OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS (ou conjuntivas) - são as compostas pela multiplicidade de objetos; o devedor deve entregar dois ou mais objetos, decorrentes da mesma causa ou mesmo título (ex.: obrigação de dar um carro e um apartamento). O inadimplemento deuma envolve o descumprimento total; o devedor só se desonera cumprindo todos os objetos. b) OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS (ou disjuntivas – arts. 252/256) - também são compostas pela multiplicidade de objetos, porém estes estão ligados pela disjuntiva “ou”, podendo haver duas ou mais opções. O devedor se desonera com o cumprimento de qualquer uma das prestações. Deve-se entregar uma coisa ou outra (ex.: obrigo-me a entregar um touro ou dois cavalos). Há uma variante, não prevista pela lei, mas aceita pela doutrina, que é a obrigação facultativa, em que a obrigação inicialmente é simples, mas há a possibilidade para o devedor em substituir o objeto (ex.: agência de viagens que oferece determinado brinde, mas se reserva no direito de substituí-lo por outro). Nas obrigações alternativas, a escolha, em regra, pertence ao devedor, se o contrário não for estipulado no contrato. Comunicada a escolha (lembrem-se, chamada também de concentração), não se pode mais modificar o objeto. Se uma das prestações não puder ser objeto de obrigação, ou se tornar inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra. Se a impossibilidade for de todas as prestações, resolve-se (extingue-se) a obrigação. Se houver culpa, mas cabia-lhe (ao devedor) a escolha, ficará obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou (mais perdas e danos). Se a escolha era do credor, pode ele exigir o valor de qualquer das prestações (mais perdas e danos). Não esqueça!!! Qual é a diferença da obrigação alternativa e obrigação facultativa? Na obrigação alternativa a obrigação nasce com objetos múltiplos. A obrigação facultativa não tem objeto múltiplo, porquanto o seu objeto é único e simples. Todavia, faculta-se ao devedor, na oportunidade do pagamento substituir a prestação devida por outra. Segundo Orlando Gomes em sua obra Obrigações, Ed. Forense, o credor não pode exigir do devedor o cumprimento da prestação facultativa. O autor observa que se o objeto é único e principal se a obrigação perece, a relação acaba, não cabendo ao credor exigir a prestação facultativa. c) OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS (arts. 264 a 285 CC) - ocorrem quando há pluralidade de credores ou devedores (ou de ambos), sendo que eles têm direitos ou obrigações pelo total da dívida. Havendo vários devedores cada um responde pela dívida inteira, como se fosse um único devedor. O credor pode escolher qualquer um e exigir a dívida toda. Se houver vários credores, qualquer um deles pode exigir a prestação integral, como se fosse único credor (art. 264 CC). • Solidariedade Ativa - pluralidade de credores (ex.: conta bancária “e/ou” qualquer correntista é credor solidário dos valores depositados e pode exigir do banco a entrega de todo o numerário; mandato outorgado a vários advogados, sendo que qualquer um deles pode exigir os honorários integralmente do cliente). • Solidariedade Passiva - pluralidade de devedores (ex.: o credor pode demandar tanto o devedor principal, como o seu avalista, pois ambos são devedores solidários). • Solidariedade Mista (ou recíproca) - pluralidade de devedores e de credores. Regra básica – Isso é muito importante. Vejo esta frase cair com freqüência nos concursos: “A solidariedade não se presume, resultando da lei ou da vontade das partes” (art. 265 CC). 1 - Solidariedade Ativa Aplicam-se as seguintes regras na solidariedade ativa: • cada um dos credores pode exigir a prestação por inteiro (art. 267 CC); também poderá promover medidas assecuratórias do direito do crédito e constituir o devedor em mora, sem o concurso dos demais credores. • qualquer co-credor poderá ingressar em juízo; mas só poderá executar a sentença o próprio credor-autor, e não outro estranho á lide. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 29 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB • se um dos credores se tornar incapaz, este fato não influenciará a solidariedade. • enquanto não for demandado por algum dos co- credores, o devedor pode pagar a qualquer um (art.268 CC). • o pagamento feito a um dos credores extingue inteiramente a dívida, o mesmo ocorrendo em caso de novação, compensação e remissão. • a conversão da prestação em perdas e danos não extingue a solidariedade; os juros de mora revertem em proveito de todos os credores. • o credor que tiver remitido (perdoado) a dívida ou recebido o pagamento responde aos outros pela parte que lhes caiba (art. 272 CC). Extinção • Se os credores desistirem dela pactuando que o pagamento da dívida será pro rata (rateio, cada um será responsável por sua quota). • Se um dos credores falecer seu crédito passará a seu herdeiro sem a solidariedade (salvo se a prestação for indivisível). 2 - Solidariedade Passiva Aplicam-se as seguintes regras na solidariedade passiva: • o credor pode escolher qualquer devedor para cumprir a prestação; pode exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente o valor da dívida comum; no primeiro caso, os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto (art. 275 CC). • morrendo um dos devedores, cada herdeiro só responde por sua quota da dívida, salvo se indivisível a obrigação; todos os herdeiros reunidos são considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores (art. 276 CC). • o pagamento parcial feito por um devedor ou a remissão (perdão da dívida) obtida só aproveitam aos demais devedores pelo valor pago ou relevado (art. 277 CC). • nenhuma cláusula estipulada entre um devedor e o credor pode agravar a situação dos demais devedores, sem o consentimento deles (art. 278 CC). • impossibilitando-se a prestação: a) sem culpa dos devedores – extingue a obrigação; b) por culpa de um devedor – a solidariedadecontinua para todos, que continuam com a obrigação de pagar; mas só o culpado responde por perdas e danos (art. 279 CC). • todos os devedores respondem pelos juros de mora, ainda que a ação tenha sido proposta contra um, mas o culpado responde aos outros pelo acréscimo (art. 280 CC). • propondo a ação contra um devedor, o credor não fica inibido de acionar os demais (art. 281 CC). • o devedor pode opor as exceções pessoais e as comuns a todos; não pode opor as pessoais de outro devedor. • se o credor renunciar à solidariedade em favor de um ou de alguns devedores, só poderá acionar os demais abatendo o valor do débito a parte ou àqueles correspondentes, entretanto, se um dos co-obrigados for insolvente, o rateio da obrigação atingirá também o exonerado da solidariedade. • o devedor que paga toda a dívida tem o direito de regresso, isto é, pode exigir a quota dos demais, rateando-se entre todos o quinhão do insolvente, se houver; presumem-seiguais as partes de cada devedor; essa presunção admite prova em contrário. • se a dívida interessa apenas a um dos devedores, responde este perante quem a paga. Extinção •Morrendo um dos co-devedores, desaparece a solidariedade em relação a seus herdeiros, embora continue a existir quanto aos demais co-obrigados. •Renúncia total do credor. Observação – Se um devedor solidário for demandado sozinho em um processo de conhecimento, poderá trazer os demais devedores a este processo, utilizando-se do chamamento ao processo, que é uma forma de intervenção de terceiros, a fim de que a sentença disponha sobre a responsabilidade de todos os envolvidos. Questões especiais envolvendo solidariedade passiva: 1) Para parcela da doutrina, Silvio Venosa e também Guillermo Borda, diferenciam obrigação solidária de obrigação “in solidum”. A obrigação “in solidum” é aquela em que os devedores estão vinculados pelos mesmo fato, embora não exista solidariedade entre eles. Os devedores estão vinculados ao mesmo fato, mas não há solidariedade entre eles – um terceiro causou incêndio na casa de João. Este terceiro deve indenizar João por todo dano que cometeu. Pelo mesmo fato, a seguradora também pode ser chamada no limite do contrato a indenizar João. O incêndio é a conseqüência de um fato ilícito. Assim, O mesmo fato obriga um terceiro e a seguradora. A seguradora não é solidária com o terceiro, embora estejam vinculados ao mesmo fato. 2) Não se pode confundir a remissão (perdão) com a renúncia à solidariedade. Esse tema é tratado nos arts. 277 e 282 do CC e nos Enunciados 349 a 351 da 4ª Jornada de Direito Civil. Uma coisa é o credor perdoar a própria dívida. E outra coisa é dizer: “eu não te perdôo, mas eu dispenso a solidariedade”. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 30 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB A renúncia da solidariedade não é perdão da dívida, ele só renuncia a solidariedade em face do devedor, que continua vinculado à obrigação, mas só continua obrigado a sua quota, ele não terá que responder pela totalidade do débito! O perdão de um dos devedores não vincula os outros, que permanecem solidariamente vinculados pelo restante (excluída a quota parte daquele que foi perdoado). O enunciado 349 da 4ª Jornada firmou a idéia de que, em havendo renúncia à solidariedade, os outros devedores continuam solidariamente vinculados abatido do débito a parte correspondente ao devedor beneficiado. 3) A obrigação de pagar alimentos e a solidariedade do estatuto do idoso. A obrigação de pagar alimentos, para a doutrina em geral, é conjunta, ressalvada a hipótese prevista no estatuto do idoso (RESP 775565 – SP). No caso do idoso há uma solidariedade passiva (pode pular o filho e ir direto ao neto) é uma forma de proteção ao idoso. Não é como a criança, que há uma ordem de cobrança. O próprio STJ (REsp 775565 – SP), à luz do Estatuto do Idoso, já apontou no sentido de haver uma solidariedade passiva em favor do idoso credor de alimentos. 4) Acidente de trânsito e solidariedade entre proprietário e condutor de veículo. Há decisões do STJ nesse sentido. O STJ, no REsp 577.902-DF, seguindo a linha de outros julgados, admite solidariedade passiva entre o proprietário e o condutor do veículo. Existe entendimento no STJ (RESP 577902 – DF) no sentido de haver solidariedade passiva entre o proprietário e o condutor do veículo pelo fato da coisa ilícita. CRÍTICA: Se a pessoa é habilitada, deveria haver transferência do poder de comando sobre a coisa. V - OUTRAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO Obrigações de Resultado – quando só se considera cumprida com a obtenção de um resultado (ex.: contrato de transporte - levar o passageiro a seu destino são e salvo). É possível a demonstração de que o resultado não foi alcançado por fator alheio à atuação do devedor (ex.: caso fortuito, força maior, culpa exclusiva do credor etc.). Obrigações de Meio – quando o devedor só é obrigado a empenhar-se para conseguir o resultado, mesmo que este não seja alcançado (ex.: advogado em relação ao cliente, deve se esforçar para ganhar a causa, mesmo que a perca). Se o resultado visado não for alcançado só poderá ser considerado o inadimplemento do devedor se se provar a sua falta de diligência. Atenção!!! Obs.: O cirurgião plástico (cirurgia estética), embora médico, assume obrigação de resultado (AgRg no RESP 256174-DF). Ver julgado do STJ: AgRg no Ag 1.132.743/RS. O STJ diz: regra geral é obrigação de meio, salvo a cirurgia plástica embelezadora. CUIDADO! Na cirurgia reparadora obrigação é de meio! Obs.: A cirurgia de miopia a laser traduz obrigação de meio ou de resultado? A maioria da jurisprudência, especialmente no TJMG, afirma que na cirurgia de miopia a laser é obrigação médica de meio. Só há espaço para Responsabilidade Civil, em caso de piora da visão. Cirurgia estética – obrigação de resultado. Cirurgia reparadora – obrigação de meio. Obrigações Líquidas – são aquelas certas quanto à existência e determinadas quanto ao objeto (ex.: entregar uma casa; entregar R$100,00 etc.). Nelas se acham especificadas, de modo expresso, a quantidade, a qualidade e a natureza do objeto devido. O inadimplemento de obrigação positiva e líquida constitui o devedor em mora. Obrigações Ilíquidas – são aquelas incertas quanto à sua quantidade; dependem de apuração prévia, posto que o montante daprestação é incerto. Quando o montante da prestação for incerto ou indeterminado, não podendo ser expressa por algarismo ou cifra, a obrigação é chamada de ilíquida. Para que a obrigação ilíquida seja cobrada, é necessário antes que seja tornada líquida (certa e determinada). Sem a liquidação o credor não terá como cobrar seu crédito. Para tornar-se a obrigação líquida, mister se faz que haja uma apuração antecipada. Esta apuração realiza-se através de liquidação de sentença que fixa o respectivo valor, em moeda corrente, a ser pago ao credor. A liquidação das obrigações pode ser realizada por convenção das partes, por disposição legal ou de forma judicial. Esta última é a forma mais comum para a apuração do montante devido pelo obrigado. Obrigações Divisíveis (art. 257) – são as que comportam fracionamento, quer quanto a prestação, quer quanto ao próprio objeto sem prejuízo de sua substância ou de seu valor. Obrigações Indivisíveis (art. 258) – ocorrem quando a prestação é única. Devido à convenção das partes (ex.: pagamento à vista) ou, dada a natureza do objeto (ex.: um cavalo), não admite cisão na prestação. Ainda que o objeto seja divisível (ex.: dinheiro), não pode o credor ser obrigado a receber em partes, se assim não se ajustou. Regras aplicáveis às obrigações indivisíveis: • Havendo dois ou mais devedores cada um será obrigado pela dívida toda. O devedor que paga a dívida inteira sub-roga-se nodireito do credor, havendo ação de regresso em relação aos demais coobrigados. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 31 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB • Havendo pluralidade de credores, o devedor ou devedores somente se desobrigarão pagando: a todos conjuntamente; ou a um dos credores, dando este caução de ratificação dos outros credores. • Caso somente um dos credores receba toda a dívida, os demais poderão exigir deste a parte que lhes cabia. • No caso de remissão (perdão) por parte de um dos credores, a obrigação não ficará extinta em relação aos demais, que poderão exigir as suas cotas, descontada a parte remitida. • Caso a obrigação seja convertida em perdas e danos perderá o seu caráter de indivisível. • As obrigações de dar e fazer podem ser divisíveis ou indivisíveis. As de não fazer somente indivisíveis. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES Obrigações Puras e Simples – não estão sujeitas a nenhum elemento acidental, como a condição, o termo ou o encargo. Obrigações Condicionais – são as que contêm cláusula que subordina seu efeito a evento futuro e incerto. Obrigações a Termo – são aquelas que contêm cláusula que subordina seu efeito a evento futuro e certo. Obrigações Modais – são as oneradas de um encargo, um ônus à pessoa contemplada pela relação jurídica (ex.: dou-lhe dois terrenos, mas em um deve ser construída uma escola). Obrigações Principais - são as que independem de qualquer outra para ter validade (ex.: compra e venda, locação etc.). Obrigações Acessórias - tem sua existência subordinada a outra relação jurídica (ex.: fiança, cláusula penal, etc.). A extinção, ineficácia, nulidade ou prescrição da obrigação principal reflete-se na acessória. Lembre-se da regra segundo a qual o acessório segue a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica). O inverso, porém, não é verdadeiro, pois se houver algum vício na obrigação acessória, em nada afetará a principal. Obrigações Instantâneas – são as que são cumpridas no momento em que o negócio é celebrado (ex.: compra e venda à vista). Obrigações fracionadas – quando o objeto do pagamento é fracionado em prestações. A obrigação de pagar o preço é uma só, mas a execução de cada uma delas é feita ao longo do tempo (ex.: compro um terreno por 10 mil, pagando mil por mês, durante dez meses). Obrigações diferidas – quando a execução é realizada por um único ato, em momento posterior ao surgimento da obrigação (ex.: compra e venda com pagamento à vista, mas a entrega da coisa se dará em 30 dias). Obrigações de trato sucessivo (ou periódicas) – são as que se resolvem em intervalos regulares ou não de tempo (ex.: obrigação do inquilino em pagar aluguel; do condômino em pagar as despesas condominiais). Quando uma parcela é paga a obrigação está quitada. Mas neste instante inicia-se a formação de outra prestação que deverá ser paga no fim do período. Obrigações Propter Rem - são obrigações híbridas – parte direito real, parte direito pessoal. Recaem sobre uma pessoa, por força de um direito real (ex.: obrigação de um proprietário de não prejudicar a segurança, sossego e saúde dos vizinhos; a do condômino de contribuir para a conservação da coisa comum ou de não alterar a fachada externa do edifício; adquirente de imóvel hipotecado de pagar o débito que o onera etc.). O exemplo mais comum é o do condômino que, devendo contribuições condominiais, vende sua unidade; a pessoa que adquiriu o apartamento não devia nada ao condomínio, mas quando se torna proprietário assume as dívidas do bem, inclusive as contribuições passadas e não pagas pelo antigo proprietário (art. 1.345 do CC). O adquirente, no entanto, tem direito de regresso contra o alienante. Trata-se, portanto de obrigação que acompanha a coisa. Vai aqui um conselho de ordem prática, para nosso dia-a-dia. Se você for comprar um apartamento, exija do vendedor uma declaração do síndico do prédio de que ele (vendedor) está quite com as obrigações condominiais. Essa simples declaração pode evitar grandes dissabores no futuro. Obrigações Naturais (também chamadas de imperfeitas ou incompletas) – são aquelas em que o credor não pode exigir judicialmente a prestação do devedor; não há direito de ação para isso, por lhe faltar a garantia, a sanção. No entanto, em caso de pagamento por parte do devedor capaz, é considerado válido e irretratável. Ex.: dívida prescrita (já vimos isso: se alguém pagar uma dívida prescrita, valeu o pagamento); dívidas resultantes de jogo e aposta não permitidos legalmente (814 e 815 CC – mesma coisa: não é obrigatório o pagamento de dívida de jogo; mas se pagar, valeu); mútuo feito a menor sem a prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver etc. CLÁUSULA PENAL Cláusula penal é a penalidade imposta pela inexecução parcial ou total da obrigação (infração contratual) ou pela mora (demora) no cumprimento da obrigação. É pactuada pelas partes no caso de violação do contrato, motivo pelo qual é também chamada de multa contratual (ou pena convencional). Trata-se de obrigação acessória que visa garantir o cumprimento da obrigação principal, bem como fixar o valor de eventuais perdas e danos em caso de descumprimento. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 32 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Por ser acessória, no caso de nulidade do contrato principal elatambém será nula. Mas se somente ela for nula, não atinge o contrato principal. Funções • Coerção - intimida o devedor a saldar a obrigação principal para não ter que pagar a acessória; possui caráter preventivo, pois reforça o vínculo obrigacional. • Ressarcimento - pré-fixação das perdas e danos no caso de inadimplemento da obrigação; caráter repressivo. Espécies A cláusula penal pode se classificada em: • Compensatória – estipulada para a hipótese de total inadimplemento (inexecução) da obrigação – art. 410 CC. • Moratória – destinada a evitar o retardamento culposo no cumprimento da obrigação ou em segurança especial de outra cláusula determinada – art. 411 CC. Limite O limite da cláusula penal é o valor da obrigação principal. Tal valor não pode ser excedido e se isso acontecer o Juiz determina a sua redução. No entanto algumas leis limitam o valor da cláusula penal moratória: 10% da dívida ou do valor da prestação em atraso no compromisso de compra e venda de imóveis loteados; 2% da dívida em contratos sob a égide do Código de Defesa do Consumidor. Se houver cumprimento parcial a pena pode ser reduzida proporcionalmente (art. 413 - Princípio da Função Social do Contrato). Cláusula Penal X Perdas e Danos Diferem-se porque na cláusula penal o valor é antecipadamente pactuado pelos próprios contratantes. Nas perdas e danos o valor será fixado pelo Juiz com base nos prejuízos alegados e provados (dano emergente e lucro cessante). Cláusula Penal X Arras Cláusula penal é exigível em caso de inadimplemento ou mora; as arras (vamos ver melhor esse assunto depois – por enquanto fiquem com um sinônimo de arras = sinal) são pagas porantecipação. Cláusula penal pode ser reduzida pelo Juiz; arras são pactuadas livremente pelas partes. Cláusula Penal nas Obrigações Indivisíveis e Divisíveis Referindo-se à obrigação indivisível, e existindo mais de um devedor, incorrendo um devedor em falta, todos estarão incorrerão na pena (ex.: dois locatários do mesmo imóvel; se um deles infringir o contrato, os dois são penalizados). Referindo-se à obrigação divisível, e existindo mais de um devedor, incorrendo um em falta, só ele responde e incorre na pena (ex.: dois compradores de uma boiada, metade para cada um, atrasando um no pagamento quanto a sua cota, só ele responde pela penalidade).PERDAS E DANOS (arts. 402/405 CC) Constituem o equivalente do prejuízo ou dano suportado pelo credor, em virtude do devedor não ter cumprido, total ou parcialmente a obrigação, expressando- se em uma soma de dinheiro correspondente ao desequilíbrio sofrido pelo lesado. Aquele que causa prejuízo a alguém pelo descumprimento de um contrato ou pela prática de um ato ilícito, deve reparar o dano. A indenização por perdas e danos abrange: • Dano Positivo ou Emergente – prejuízo real e efetivo no patrimônio do credor. • Dano Negativo ou Lucro Cessante ou Frustrado – lucro que ele deixou de auferir, em razão do descumprimento da obrigação pelo devedor. • Nexo de Causalidade entre a inexecução da obrigação pelo devedor e o prejuízo; assim é necessário que haja uma relação de causa e efeito entre o fato e os danos sofridos. Ex.: o condutor de um veículo particular abalroa um outro veículo, dirigido por um taxista. Este pode reclamar não só os danos no veículo (danos emergentes), como o que deixou de ganhar com as eventuais “corridas” que faria enquanto seu carro foi para a oficina (lucros cessantes). As perdas e danos também incluem atualização monetária segundo índices oficiais, cláusula penal (se houver previsão no contrato), juros, custas, despesas processuais e honorários advocatícios. Os juros de mora devem ser contados desde a citação inicial no processo. DOS EFEITOS DAS OBRIGAÇÕES Constituída a obrigação, deverá ser cumprida, de modo que o credor poderá exigir a prestação e o devedor terá o dever de efetuá-la. O Código Civil estabelece algumas regras gerais sobre a extinção das obrigações, e sobre as conseqüências de sua inexecução, que é o descumprimento da obrigação ou inadimplemento. Regra geral: “A obrigação, não sendo personalíssima, opera entre as partes e entre seus herdeiros”. Isto quer dizer que, como regra, as obrigações se transferem aos herdeiros (se transmitem aos sucessores em caso de morte do devedor) que deverão cumpri-las, salvo quando se tratar de obrigação personalíssima, isto é, contraída em atenção às qualidades especiais do devedor http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 33 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB (ex.: obrigação de um pintor famoso que faleceu sem realizar a obra – é uma obrigação personalíssima que não se transmite aos herdeiros). EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES As obrigações se extinguem, em regra, pelo seu cumprimento. Com ele o sujeito passivo se libera da obrigação. O Código chama esse ato de pagamento, ou seja, execução voluntária da obrigação. O pagamento não consiste apenas na satisfação de uma obrigação em dinheiro; o conceito de pagamento abrange qualquer cumprimento voluntário da obrigação. O pagamento pode ser direto ou indireto (ex.: dação em pagamento, novação, compensação, etc.). Além disso também pode ser por via judicial (execução forçada). Finalmente pode haver a extinção da obrigação sem pagamento (ex.: prescrição, implemento de condição ou advento de termo). Vamos fazer aqui um gráfico sobre a Extinção das Obrigações e iremos apreciar item por item bem devagar, como temos feito desde o início de nossas aulas. Extinção das Obrigações 1 – Pagamento Direto – Execução Voluntária 2 – Formas Especiais de Pagamento a) Pagamento por Consignação b) Pagamento com Sub-rogação c) Imputação ao Pagamento 3 – Pagamento Indireto a) Dação em Pagamento b) Novação c) Compensação d) Confusão e) Transação * f) Compromisso (arbitragem)* * Observação – O atual Código Civil não considera mais a Transação e o Compromisso (arbitragem) como formas de pagamento indireto, mas sim como contratos típicos ou nominados. No entanto, feita a advertência e para fins didáticos, continuamos tratando do assunto neste tópico, posto que continuam sendo formas de extinção de obrigações. 4 – Extinção sem Pagamento a) Prescrição b) Advento do Termo c) Implemento de Condição d) Remissão 5 – Judicial – Execução Forçada 1 – PAGAMENTO (arts. 304 e seguintes CC) As obrigações extinguem-se principalmente pelo pagamento. Pagamento (do latim pacare, que significa apaziguar) é sinônimo de solução, cumprimento, adimplemento, implemento, execução, satisfação de qualquer espécie de obrigação. A) SOLVENS - É a pessoa que deve pagar; é o devedor. Podem pagar, além do devedor: • qualquer pessoa interessada na extinção da dívida (ex.: fiador, avalista, herdeiro, etc.). Essa pessoa se sub-roga nos direitos docredor, sendo-lhe transferidos todos os direitos, ações e garantias do primitivo credor. • terceiro não interessado, se o fizer em nome e por conta do devedor (como procurador). Se pagar em nome próprio, tem direito de reembolso pelo devedor (ação de in rem verso). O credor não pode recusar o pagamento de terceiro, mesmo o desinteressado (salvo se houver cláusula expressa proibindo, ou nas obrigações intuitu personae). Também é inoperante a oposição do devedor ao pagamento de sua dívida por terceiros. B) ACCIPIENS - É a pessoa a quem se deve pagar; é o credor. O credor não é obrigado a aceitar pagamento parcial. O pagamento deve ser feito ao: • credor • representantes do credor (pais, tutores, curadores, mandatários, etc.) • sucessores do credor (ex.: herdeiro, legatário, etc.). Fora daí, o pagamento só vale se o credor ratificar (confirmar) o recebimento ou se este, comprovadamente, reverter em seu proveito. O pagamento também não valerá se: a) o devedor efetua o pagamento a credor incapaz de quitar (ex.: absolutamente incapaz); b) o credor estiver impedido legalmente de receber (ex.: crédito penhorado). Lembrem-se do brocardo: "Quem paga mal ... paga duas vezes" Objeto e Prova do Pagamento (arts. 313/326 CC) O objeto do pagamento é a prestação. A entrega, quando é feita em dinheiro faz-se em moeda corrente e pelo valor nominal (princípio do nominalismo). Para se evitar os efeitos da inflação foi muito comum aos credores a aplicação de índices de correção monetária que podiam ser aplicados sem limite temporal. A legislação atual declarou “nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção monetária de periodicidade inferior a um ano”. A lei 9.069 proíbe o pagamento em moeda estrangeira (salvo nos contratos referentes a importação e exportação). Antes http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 34 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB da lei era comum e até admitida por nossos Tribunais a estipulação contratual em moeda estrangeira, devendo serefetuada a conversão de seu valor para moeda nacional na ocasião do pagamento. Pelo princípio da justiça contratual pode o Juiz corrigir o valor da prestação, para mais ou para menos, quando verificar que há uma desproporção significativa entre o valor vigente quando do negócio e aquele verificado quando do cumprimento da obrigação. O devedor que paga tem direito à quitação (recibo), fornecida pelo credor. A quitação é prova de pagamento; é um documento pelo qual o credor reconhece que recebeu o pagamento e exonera o devedor da obrigação. Se o credor promover a cobrança judicial da dívida, cabe ao devedor o ônus de demonstrar que o pagamento foi realizado. A quitação deve ter os elementos do artigo 320 do CC. Se o credor não der a quitação, o devedor pode exigi-la judicialmente. Cabe ação de consignação em pagamento (veremos isso logo mais adiante) quando o credor se recusa ou dificulta o cumprimento da prestação, quando o credor for desconhecido ou ausente, ou quando ocorrer dúvida sobre quem deva receber. A quitação da última prestação ou quota periódica faz presumir a quitação das anteriores, salvo prova em contrário (ex.: o pagamento da despesa condominial do último mês não presumea quitação dos meses anteriores). Lugar do Pagamento (arts. 327/330 CC) Lugar do Pagamento é o local do cumprimento da obrigação. Em regra o lugar do pagamento é estipulado no próprio título constitutivo do negócio jurídico (princípio da liberdade de escolha). Ou seja, o próprio contrato estipula o domicílio onde devem se cumprir as obrigações e se determina a competência do juízo onde eventual ação será proposta em caso de descumprimento do contrato. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir que o credor renunciou ao previsto no contrato. Se o pagamento consistir na entrega de imóvel (ou em prestações relativas a imóvel), este deverá ser feito no lugar onde estiver situado o bem. Sobre o local do pagamento existem duas situações. Uma quando se paga no domicílio do devedor (quérable) e outra quando se paga no domicílio do credor (portable). 1 - Quérable (ou quesível – do verbo latino quaerere – procurar – o credor “procura” o devedor para receber) - quando o pagamento se faz no domicílio do devedor. Quando não houver nada estipulado, há uma presunção de que o pagamento é quesível (é a regra geral), uma vez que deve ser procurado pelo credor no domicílio do devedor, salvose o contrato, nas circunstâncias, a natureza da obrigação ou a lei impuserem em contrário. 2 - Portable (portável) – quando se estipula expressamente que o local do cumprimento da obrigação é o domicílio do credor; o devedor deve levar e oferecer o pagamento nesse local (o devedor porta o título e o paga no domicílio do credor). Observação - Meus amigos e alunos. Eu também já prestei alguns concursos de grande porte. Por isso também senti certa dificuldade quanto a este tema. Fazia muita confusão entre “quérable” e “portable”. Por isso comecei a fazer o seguinte “esqueminha”: = Q.D. - P.C. = (quérable → devedor; portable → credor). Tempo do Pagamento (arts. 331/333 CC) O momento em que se pode reclamar a dívida chama-se vencimento, que é o momento a partir do qual se verifica a exigibilidade da obrigação (princípio da pontualidade). A data do pagamento pode ser fixada livremente pelas partes. O credor não pode cobrar antes, nem o devedor pagar após a data prevista (sob pena de mora). O devedor também não pode forçar o credor a receber antes do vencimento. Salvo disposição em contrário, não se ajustando época para pagamento, o credor pode exigi-lo imediatamente. O Código Civil prevê algumas hipóteses em que o credor pode cobrar a dívida antes de vencida. Assim: • abertura de concurso creditório (ou seja uma ação de execução) contra o devedor. Ex: “A” deve para diversas pessoas. As dívidas começaram a vencer. O primeiro credor ingressa com uma ação. A dívida de “A” para com você é a última a vencer. Não é razoável esperar que todas as dívidas vençam para só aí você também entrar com ação. Neste caso, você pode cobrar essa dívida, mesmo que ainda não vencida. • se os bens dados em garantia real para você (ou seja, hipoteca, penhor e anticrese) forem penhorados em execução por outro credor. Se isso ocorrer, você perdeu a garantia, por isso você também pode cobrar de forma antecipada. • cessarem ou tornarem-se insuficientes as garantias reais ou fidejussórias e o devedor se negue a reforçá-las. Lembrando: Garantia Real é o Penhor, Hipoteca e Anticrese. Garantia Fidejussória é a garantia pessoal, ou seja, fiança e aval. Falaremos melhor desses temas em outras aulas (Direito das Coisas). COMPRA E VENDA (arts. 481 a 532 CC) CONCEITO Contrato de compra e venda é aquele pelo qual um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro lhe pagar o preço em dinheiro (art. 481 CC). http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 35 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Inicialmente é importante deixar uma coisa bem clara: o contrato de compra e venda não transfere o domínio (ou seja, a propriedade). A propriedade é transferida pela tradição (em relação aos bens móveis) ou pelo registro do título aquisitivo no cartório de Registro de Imóveis (em relação aos bens imóveis). O contrato de compra e venda dá aos contratantes tão somente um direito pessoal, gerando ao vendedor a obrigação de transferir o domínio. Caso o vendedor não entregue a coisa vendida, o contrato será resolvido nos termos do inadimplemento das obrigações de dar (que vimos na aula anterior). Concluindo: não é o contrato que transfere a propriedade da coisa. A propriedade é transferida pela tradição ou registro. O contrato somente cria a obrigação de uma transferência da coisa. CARACTERÍSTICAS Na aula passada vimos a classificação genérica dos contratos. Eles podem ser unilaterais ou bilaterais; onerosos ou gratuitos; comutativos ou aleatórios, etc. Na aula de hoje vamos aplicar a teoria da aula passada. Ou seja, cada contrato será enquadrado em uma classificação específica. Vou fazer isso com todos os contratos que veremos. Logo a seguir vou explicando as características especiais do contrato em análise. Dessa forma, o Contrato de Compra e Venda pode ser classificado com sendo: • Bilateral ou sinalagmático ⎯ cria obrigações para ambos os contratantes, que serão ao mesmo tempo credores e devedores, uns dos outros. • Oneroso ⎯ ambas as partes auferem vantagens patrimoniais de suas prestações. • Comutativo (regra) ⎯ objeto certo e seguro com equivalência das prestações e contra-prestações. Admite-se que seja Aleatório ⎯ depende de um evento incerto. • Consensual (regra) ⎯ forma-se apenas pelo mútuo consenso dos contraentes. Admite-se a forma solene em algumas situações ⎯ além do consentimento, a lei exige uma forma especial para a sua manifestação (ex: escritura pública para a compra de bens imóveis). • Translativo do domínio ⎯ embora a propriedade só seja transferida com a tradição ou com a transcrição (registro), serve como título adquirendi, isto é, serve como fato gerador da transmissão da propriedade; cria a obrigação para a transferência da coisa. ELEMENTOS São elementos dos contratos de compra e venda, além dos comuns a todos os atos jurídicos e a todos os contratos: a) coisa; b) preço e c) consentimento (res, pretium et consensus). ejamos cada um desses elementos. A) COISA (res) OU OBJETO ⎯ é o objeto da compra e venda, seja ela corpórea (móveis ou imóveis) ou incorpórea (direitos de invenção, de propriedade literária, científica ou artística). A coisa objeto da compra e venda: • deve ser disponível ou estar in commercium, uma vez que sua inalienabilidade impossibilitaria a sua transmissão ao comprador, como nas hipóteses de bem de família, bem público, bem gravado com cláusula de inalienabilidade, bem desapropriado, etc. • pode se referir a coisa futura como ocorre nos contratos aleatórios (ex: frutos de uma colheita esperada), embora deva ser individualizada no momento de sua execução (coisa determinada ou determinável). B) PREÇO (pretium) ⎯ é a quantia em dinheiro que o comprador é obrigado a pagar pela coisa; é o valor da compra e venda. A lei diz que deve ser pago em dinheiro (art. 481 CC). Todavia, nada impede que o valor expresso em dinheiro seja pago por coisas representativas de dinheiro (cheque, nota promissória, duplicata, etc.). Se constituir numa coisa por outra, não haverá compra e venda, mas sim uma permuta (que também veremos logo adiante). O preço deve ser certo e fixado de comum acordo pelas partes. É nulo o contrato em que o preço pode ser fixado ao livre arbítrio de uma das partes (art. 489 CC). Todavia, o preço pode ser fixado: • no futuro, ao arbítrio de terceiro (art. 485 CC) que os contratantes designarem no contrato ou prometerem designar. Neste caso, se o terceiro não aceitar a incumbência, o contrato será considerado sem efeito (nulo), salvo se as partes concordarem, no contrato, emdesignar outra pessoa; • à taxa de mercado ou da bolsa, em certo e determinado dia e lugar. Não sendo venda à crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço (art. 491 CC). C) CONSENTIMENTO ⎯ é o acordo de vontade entre os contratantes sobre a coisa, o preço e as demais condições do negócio (observação - com relação ao consentimento, se alguém ficou com alguma dúvida, releia a aula referente aos Fatos e Atos Jurídicos - 2a Parte). EFEITOS DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA A) Tradição ⎯ obrigação do vendedor de entregar a coisa com todos os seus acessórios, transferindo ao adquirente a propriedade. Geralmente a tradição é efetiva ou real. Mas em certos casos pode ser simbólica, como a entrega de algo que represente a coisa (ex: as chaves do carro). B) Garantia ⎯ o vendedor deve garantir a qualidade e o bom funcionamento da coisa alienada (garantia contra vícios aparentes ou redibitórios) e assegurar ao proprietário a propriedade (garantia contra a evicção). Os vícios aparentes poderão ser reclamados dentro do prazo decadencial de 30 (produtos não duráveis) ou 90 dias (produtos duráveis), contados da entrega do produto. Se o http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 36 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB vício for oculto o prazo computa-se no instante em que o defeito se evidenciar. C) Riscos ⎯ relacionam-se com a responsabilidade, caso a coisa ou preço não seja pago. Determina o art. 492 do CC que até o momento da tradição os riscos da coisa correm por conta do vendedor e os do preço por conta do comprador. Assim, temos como regras: • risco da coisa ⎯ se o bem vier a se perder ou a se deteriorar, por caso fortuito ou força maior, até o momento da entrega (tradição), o vendedor sofrerá as conseqüências, devendo restituir o preço, se já o havia recebido; se o fato se der após a tradição, sem culpa do vendedor, este terá direito ao preço. • risco do preço ⎯ se o preço se perder ou se degradar antes da tradição, o comprador sofrerá o risco; se isso ocorrer após o pagamento, o vendedor arcará com o prejuízo. Exceções: • Se a coisa, para ser entregue, necessitar de ser contada, pesada, medida ou assinalada, desde o momento em que tiver sido colocada à disposição do comprador, por sua conta correm os riscos. • Correm por conta do comprador os riscos das coisas que já tiverem sido colocadas à sua disposição no tempo, lugar e pelo modo ajustados, se o comprador estiver em mora para as receber. D) Despesas⎯ é aquilo que se gasta para a transferência do bem. Temos como regras em relação às despesas (art. 490 CC): • da tradição - são por conta do devedor (ex: de carreto, frete, corretagem, comissão, etc.). • da escritura - são por conta do comprador (além dos impostos sobre transmissão da propriedade, registro, etc.). E) Certidões Negativas de Impostos ⎯ a lei determina que em toda escritura da transferência de imóveis serão transcritas as certidões de se acharem eles quites com a Fazenda Federal, Estadual e Municipal, de quaisquer impostos a que possam estar sujeitos. Isto é, quando se compra um imóvel deve ser apresentado, no momento do registro, uma certidão de que aquele imóvel está quite de todo e qualquer imposto. Chamamos este documento de Certidão Negativa de Impostos. Por outro lado, existe a regra de que os ônus dos impostos sobre prédios se transmitem aos adquirentes, exceto se constarem da escritura pública as certidões de recebimento, pelo fisco, dos impostos devidos. Desta forma, o adquirente do imóvel pode ser exonerado de exibir certidão negativa de débito fiscal a que possa estar sujeito o bem adquirido, de responsabilidade por dívida anterior do imóvel por impostos. PROIBIÇÃO DE VENDA • a lei civil proíbe que os ascendentes vendam aos descendentes quaisquer bens, sem que haja o consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante, salvo se casado sob o regime de separação obrigatória de bens (art. 496 e seu parágrafo único do CC), sob pena de anulação do ato. Essa venda poderia simular uma doação em prejuízo dos demais herdeiros. Esse éum dos itens mais exigido nos concursos. Muito cuidado, então. Por isso repito, perguntando: Um pai pode vender um imóvel para um de seus filhos? Resposta: ⎯ Pode, mas com o consentimento de todos os outros filhos e também da esposa do pai (que é o alienante), sob pena de anulação posterior da venda. Esta pessoa pode ser a mãe do comprador ou outra mulher (ex: o pai se divorciou ou ficou viúvo e se casou novamente). Como isso se dá na prática? ⎯ No dia marcado para se fazer a escritura, todos vão ao Cartório. A venda é realizada pelo pai. Mas todos os demais assinam a escritura, dando o seu ciente e anuência com a venda. • uma pessoa casada (exceto no regime de separação absoluta de bens) não poderá alienar ou gravar de ônus (ex: hipotecar) os bens imóveis do seu domínio sem a autorização do outro cônjuge (art. 1.647 CC). Veremos isso na aula sobre Direito de Família. • os consortes (marido e mulher) não poderão, em regra, fazer contrato entre si, pois a compra e venda entre marido e mulher está proibida (na comunhão universal ter-se-á uma venda fictícia, pois os bens do casal já são comuns e ninguém pode comprar o que já lhe pertence). PROIBIÇÃO DA COMPRA Não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: • pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração. A lei receia que estas pessoas se façam prevalecer de sua posição especial para lograrem vantagem em detrimento dos titulares dos bens que guardam ou administram. • pelos servidores públicos, os bens da união, dos Estados e dos Municípios, que estiverem sob sua administração direta ou indireta, aplicando-se a mesma disposição aos juízes, arbitradores, ou peritos que, de qualquer modo, possam influir no ato ou no preço da venda. • pelos juízes, empregados da Fazenda, secretários de tribunais, escrivães e outros oficiais da Justiça, os bens ou direitos, sobre que se litigam em tribunal, juízo, ou conselho, no lugar onde esses funcionários servirem ou a que se estender sua autoridade. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 37 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB • pelos leiloeiros e seus prepostos quanto aos bens de cuja venda estejam encarregados e corretores das Bolsas quanto aos bens a eles confiados. • o proprietário de coisa alugada, para vendê-la deverá dar conhecimento do fato ao inquilino, que terá direito de preferência (veremos isso melhor ainda na aula de hoje) para adquiri-la em igualdade de condições com terceiros. • o condômino, enquanto pender o estado de indivisão, não poderá vender a sua parte a estranho, se o outro condômino a quiser (art. 504, 1ª parte do CC). Trata- se também do direito de preferência do condômino sobre a venda de bem indivisível. O condômino a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, no prazo de seis meses. Veremos mais adiante, na aula sobre o Direito das Coisas que o condomínio pode ser classificado em: a) pro indiviso (quando o bem se encontra não dividido entre os vários proprietários, de modo que cada um apenas possui parte ou fração ideal) ou b) pro diviso (quando apesar de possuírem em condomínio, cada condômino já tem a sua parte delimitada e determinada). Nesta última hipótese, cada condômino pode vender sua parte a terceiro sem oferecer aos outros condôminos. No caso do condomínio ser pro indiviso, e o bem for indivisível, cada condômino só pode vender sua parte a estranhos se antes oferecer aos outros condôminos (como dissemos, háo direito de preferência). CLÁUSULAS ESPECIAIS À COMPRA E VENDA Um contrato de compra e venda, desde de que os contraentes consintam, pode vir acompanhado de cláusulas especiais, que não retiram sua essência, mas alteram sua fisionomia. A doutrina costuma chamar estas cláusulas especiais de pactos adjetos à compra e venda. Pacto= acordo; Adjeto de adjetivo, de qualidade ou acessório do principal. São elas: a retrovenda; a venda a contento; a preempção; a venda com reserva de domínio e a venda sobre documentos. Vamos analisá-los um a um: 1 - Retrovenda (arts. 505 a 508 CC) Retrovenda é o direito que tem o vendedor de readquirir o imóvel que vendeu, dentro de certo prazo, restituindo ao comprador o preço recebido, mais as despesas feitas pelo comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias (art. 505 CC). A retrovenda é uma condição resolutiva. Eu vendo um imóvel para você. Posteriormente você deve revendê-la para mim pelo mesmo preço. Na prática ela não é usada. A propriedade resolúvel se extinguirá no instante em que o alienante exercer seu direito de reaver o bem. O prazo máximo decadencial é de três anos. Este prazo é improrrogável, ininterrupto e insuscetível de suspensão. No caso de não se estipular o prazo, este será considerado como sendo de três anos. Na hipótese de se estipular prazo maior, este será considerado não escrito e fica valendo os três anos. Vencido o prazo e não exercido o direito, a venda se torna irretratável. 2 - Venda a contento e Venda sujeita a prova (arts. 509 a 512 CC) Venda a contento consiste na hipótese de venda feita sob condição suspensiva. Neste caso, a venda não se aperfeiçoa enquanto o comprador não se declara satisfeito. Exemplo: A vende para B uma certa quantidade de vinho, entregando-a, sendo que a conclusão do negócio fica na dependência de B manifestar sua aceitação, após provar o produto. Enquanto o comprador não manifestar sua vontade, suas obrigações são de mero comodatário. É o que nós costumamos dizer na prática "satisfação garantida... ou o seu dinheiro de volta". Até esse ato a coisa pertence ao vendedor. Pode haver uma cláusula de manifestação tácita. Ex: se você não se manifestar em 30 dias, estamos entendendo que você está satisfeito e não poderá mais reclamar. Não havendo prazo estipulado para a manifestação do comprador, o vendedor terá direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o faça em prazo improrrogável. Ocorre a venda sujeita a prova quando o vendedor apresenta ao comprador amostras que indiquem a qualidade do produto a ser vendido. Neste caso, entende-se que o vendedor assegura ter a coisa vendida as qualidades por ele apresentadas. Ex: você prova um copo de vinho e o acha excelente. Compra uma caixa deste produto. Mas as demais garrafas não são tão boas quanto àquela que você provou. Na hipótese da coisa não apresentar as qualidades explicitadas pelo vendedor, será ela enjeitada, aplicando-se as regras do vício redibitório (art. 510 CC). 3 - Preempção, preferência ou prelação (arts. 513 a 520 CC) O contrato de compra e venda pode conter a cláusula segundo a qual o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa objeto do contrato (móvel ou imóvel), se caso o comprador for vendê-la a terceiro ou dá-la em pagamento, para que o comprador use de seu direito de prelação na compra. O preço será "tanto por tanto", isto é, o valor que seria pago pelo terceiro. Cuidado para não confundir o direito de preempção (preferência) com a retrovenda. Nesta última a pessoa é obrigada (num prazo de até três anos) revender a coisa para quem lhe vendeu inicialmente, sendo que o preço é o mesmo que ela pagou (mais despesas de transferência). No direito de preempção, quando eu for revender a coisa (se um dia eu for revendê-la), devo oferecer primeiro ao primeiro vendedor. E o preço será o de mercado, ou seja, o http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 38 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB mesmo valor que o terceiro interessado pagaria se ele fosse comprar a coisa. É muito parecido. Mas existem diferenças. E o examinador gosta de confundir tais institutos. O direito é intransmissível, isto é, não se pode ceder a terceiros e nem passar aos seus herdeiros, sendo personalíssimo (art. 520 CC). Prazo para o exercício da preempção: a) se a coisa for móvel, não poderá exceder 180 dias. b) se for imóvel, não poderá exceder 02 anos. Obs. - não sendo fixado um prazo determinado, o direito de preempção caducará em 03 dias se for móvel, ou 60 dias se for imóvel. Se o comprador alienar a coisa sem ter dado ciência ao vendedor do preço e das vantagens que por ela lhe ofereceram, responderá por perdas e danos. Se o adquirente também estiver de má-fé, responde solidariamente (art. 518 CC). Como regra o direito de preferência decorre do contrato. Mas em algumas situações é a lei que o prevê. Assim, têm direito de prelação (ou preferência) legal: • o dono de bem desapropriado (trata-se do direito de retrocessão, previsto no art. 519 CC) - ou seja, se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriando o direito de preferência, pelo preço atual da coisa. • o condômino de bem indivisível - um condômino só pode vender sua parte a estranhos, se oferecer primeiro a outro condômino, nas mesmas condições. O condômino preterido poderá, depositando o peço, requerer para si a coisa vendida a estranhos, se o fizer no prazo (decadencial) de 180 dias. • o locatário em relação ao bem locado - o art. 27 da Lei 8.245/91 prevê que o locatário tem preferência para adquirir o imóvel locado, em igualdade de condições com terceiros, nos casos de venda ou promessa de venda. O locatário deverá exercer este direito no prazo (decadencial) de 30 dias. Se o locador não respeitar o direito de preferência, há duas opções para o locatário preterido: reclamar perdas e danos ou depositar o preço (e demais despesas do ato de transferência) e haver para si o imóvel locado. Nesta última hipótese deve requerer no prazo de 06 (seis) meses, a contar do registro do ato no cartório de imóveis, desde que o contrato de locação esteja averbado pelo menos 30 dias antes da alienação, junto à matrícula do imóvel. 4 - Reserva de domínio (arts. 521 a 528 CC) Ocorre a reserva de domínio quando se estipula em contrato de compra e venda de coisa móvel infungível (regra), que o vendedor reserve para si a propriedade do bem, até o momento em que se realize o pagamento integral do preço, quando o negócio terá eficácia plena. O vendedor transfere ao comprador a posse da coisa, mas conserva a propriedade até o pagamento (art. 521 CC). Exemplo: Eu vendo um carro para você em dez prestações; transfiro a posse para você. Mas a propriedade continua sendo minha. Quando você pagar o preço integralmente eu transfiro a propriedade para você em definitivo. É um contrato formal, que deve ser feito sempre por escrito. Para valer contra terceiros (erga omnes) deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos. A doutrina predominante considera-o como sendo uma venda sob condição suspensiva, em que o evento futuro e incerto é o pagamento integral do preço; suspende-se a transmissão da propriedade até que se tenha o implemento da condição, isto é, o pagamento integral do preço ajustado. Efetuado o pagamento, a transferência do domínio opera-se automaticamente. Se o comprador não pagar as prestações no vencimento, poderá o vendedor: • pleitear a rescisão do contrato, reintegração de posse da coisa, devolvendo as prestações pagas (deduzidasas despesas); • mover ação pleiteando a cobrança das prestações vencidas e vincendas, pois o atraso de uma prestação acarreta no vencimento antecipado das demais. Observação - o vendedor poderá dispor da coisa somente com expressa autorização do vendedor. 5 - Venda sobre documentos (arts. 529 a 532 CC) Esta prática vem sendo usada em negócios de importação e exportação, ligando-se à técnica de pagamento denominada crédito documentado (trust receipt). Substitui-se a tradição da coisa, pela entrega de seu título representativo ou outros documentos exigidos no contrato. O pagamento, como regra, deverá ser efetuado na data e local da entrega dos documentos. Ainda não vi cair tal instituto em nenhum concurso... DOAÇÃO (arts. 538 a 564 CC) CONCEITO Doação é o contrato pelo qual uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra, que os aceita. Exige-se, para tanto, o animus donandi, ou seja, a vontade de se fazer uma liberalidade espontânea. PARTES Doador ⎯ é a pessoa que doa. Donatário ⎯ é a pessoa que recebe o bem objeto da doação. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 39 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB CARACTERÍSTICAS • Contrato unilateral e gratuito ⎯ requer intervenção de duas partes contratantes. No entanto, apenas o doador assume a obrigação de transferir bens ao donatário (apenas uma é devedora), não havendo contraprestação por parte do donatário. A doação é ato de liberalidade. Todavia, pode ser estipulado um encargo, caso o doador vincule o donatário a determinado ônus. Exemplo: eu lhe dou um terreno, desde que você plante determinada cultura ou construa uma casa etc. • Supõe a aceitação ⎯ o contrato de doação só se aperfeiçoa com a aceitação do bem por parte do donatário; portanto é um negócio receptício (quer dizer, exige a manifestação de vontade da outra parte: ou seja, a aceitação). Referida aceitação pode ser expressa ou tácita. Neste último caso o doador marca um prazo para que o donatário recuse a doação e ele não se manifesta neste prazo. A aceitação precisa ser expressa se a doação for com encargos. • Forma ⎯ como regra, trata-se de um contrato solene, pois o art. 541 CC impõe uma forma que deverá ser respeitada, sob pena de não valer o contrato. É obrigatória a forma escrita, uma vez que se exige instrumento público ou particular. Excepcionalmente admite-se a forma verbal (seguida de tradição), para os bens móveis de pequeno valor. É necessária a forma de escritura pública para imóveis, sujeita à transcrição no Registro Imobiliário. • É ato inter vivos ⎯ Não existe doação para após a morte (caso contrário estaríamos diante de uma cláusula testamentária, conforme veremos em aula específica mais adiante). CAPACIDADE ATIVA PARA DOAR Para que a doação seja válida, além dos elementos genéricos e comuns a todos os negócios jurídicos, ainda é imprescindível observar os seguintes requisitos: • Os absoluta ou relativamente incapazes não podem (em regra) doar, nem mesmo por meio de representantes legais, visto que tais liberalidades não são feitas no interesse do representado. O pródigo (pessoa que dissipa seus bens; dilapida seu patrimônio) pode doar, desde que assistido por seu curador, que dará ou não sua anuência para o ato. • Os cônjuges, sem a devida outorga (exceto no regime da separação absoluta), estão impedidos de fazer doação, não sendo remuneratória, com os bens e rendimentos comuns, ou dos que possam integrar futura meação. • O cônjuge adúltero não pode fazer doação a seu cúmplice, sob pena de anulabilidade (pleiteada pelo outro cônjuge ou seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal). • Os consortes (marido e mulher) não podem fazer doações entre si se o regime for da comunhão universal; se outro for o regime, não havendo disposição em contrário, nada obsta a doação, importando em adiantamento do que lhes couber por herança (art. 544 CC). • As pessoas jurídicas de direito privado podem fazer e receber doações. • O falido não pode fazer doações porque perdeu a administração de seus bens e isso lesaria seus credores. • Os ascendentes não podem fazer doações a seus filhos, pois isto importaria em adiantamento da legítima. Nula será toda cláusula que possa vir alterar as normas de direito sucessório. Exemplo: um pai não pode doar todos os seus bens para um dos filhos, deixando os outros sem nada (a não ser que haja uma deserdação, que veremos na aula sobre Direito das Sucessões). Explicarei melhor esse ponto logo adiante, ainda na aula de hoje. REQUISITOS OBJETIVOS PARA A DOAÇÃO Inicialmente é necessário que a coisa esteja in commercium. Esta coisa pode se referir a bem móvel ou imóvel; corpóreo ou incorpóreo; presente ou futuro etc. Além disso, deve ser observado: • Uma pessoa não pode doar todos os seus bens, sem reserva de parte ou renda suficiente para sua subsistência (art. 548 CC). Nula será tal doação. Mas a proibição será eliminada se o doador se reservar o usufruto dos bens. Exemplo: uma pessoa, já com 80 anos, deseja doar todos os seus bens em vida, para evitar "confusão" após a sua morte. Ele não pode fazer a doação pura e simples. Qual a solução? Ele doa os bens e no mesmo instrumento se reserva no direito de usufruto. Desta forma ele perde a propriedade dos bens, mas continua a usufruir (morar ou alugar) o mesmo. • Se com a doação o doador ficar insolvente (passivo maior que o ativo - em outras palavras tem mais dívidas do que patrimônio), os credores prejudicados poderão anulá-la, pois neste caso pode ter ocorrido a fraude contra credores (caso tenha ficado com alguma dúvida, releia este ponto na aula referente aos Fatos e Atos Jurídicos). • Nula será a doação da parte excedente do que poderia dispor o doador em testamento (havendo herdeiros o testador só poderá dispor de metade da herança - art. 1.789 e 1.846 CC), preservando-se, assim, a legítima dos herdeiros. Haverá nulidade da doação inoficiosa (segundo dicionário Aurélio - aquilo que prejudica, sem razão conhecida; nociva) apenas na porção excedente à legítima de seus herdeiros. Veremos melhor este ponto na aula sobre Direito das Sucessões. DOAÇÃO A INCAPAZES http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 40 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB As pessoas que não podem contratar (os incapazes, relativa e absolutamente) podem aceitar doações puras (isto é, sem encargos ⎯ art. 543 CC). A doação feita ao nascituro é válida, desde que aceita pelos pais (art. 542 CC). Trata-se de caso de ato jurídico sujeito a condição suspensiva, pois a doação somente se efetivará se houver o nascimento com vida do nascituro. Caso ele nasça morto (natimorto), o contrato será considerado ineficaz. Igualmente válida será a doação feita em contemplação de casamento futuro e referente aos filhos futuros do casal. ESPÉCIE DE DOAÇÃO • Pura e simples ou típica ⎯ é aquela feita por mera liberalidade; quando não se impõe nenhum ônus, nenhuma restrição ao donatário, que desfrutará amplamente do bem recebido, sem qualquer limitação. • Condicional ⎯ quando surte efeitos somente a partir de determinado momento ou ao findar uma determinada situação (lembrem-se que condição se subordina a ocorrência de um acontecimento futuro e incerto). Exemplo:doação feita subordinando-se a realização de um casamento. Neste caso há uma condição suspensiva: a doação só terá efeito se o casamento se realizar. Se for o caso, retorne à aula sobre Fatos e Atos Jurídicos. • A termo ⎯ quando contém um termo inicial ou final (lembrem-se que o termo se subordina à ocorrência de um evento futuro e certo). Exemplo:Doeium sítio a João, que terá o direito de usá-lo durante dez anos; após esta data o direito de usar passará a ser de Antônio. • Com encargo ou modal ou onerosa ⎯ quando o doador impõe ao donatário alguma incumbência em seu benefício, em proveito de terceiro ou de interesse geral. Exemplo: Doei um terreno com a obrigação de o donatário ali construir uma escola; doei uma casa com a obrigação de se colocar os impostos em dia etc. • Remuneratória ⎯ é aquela que tem por finalidade recompensar serviços ou favores prestados pelo donatário ao doador. Esta doação não é tida como gratuita, mas onerosa. Exemplo: Doação de um leitão ao médico que tratou do doador sem nada cobrar. Na verdade a parte que corresponde à retribuição do serviço prestado é pagamento; só será doação, propriamente dita, quanto à parte que exceder o valor desse serviço. • Com cláusula de reversão ⎯ o doador estipula que se o donatário morrer antes dele, os bens doados retornarão ao patrimônio do doador (não seguindo, assim, o caminho natural da sucessão, que seria rumo ao patrimônio dos sucessores do donatário). Não prevalece a cláusula de reversão em favor de terceiro (art. 547 CC), ou seja, o doador não pode, por exemplo, estipular que caso João morra este bem vá para o patrimônio de José. • Doação conjuntiva ⎯ é aquela feita em comum a mais de uma pessoa, sendo distribuída por igual entre os diversos donatários, exceto se o contrato estipulou o contrário (art. 551 CC). Caso os beneficiários sejam marido e mulher, falecendo um deles, terá o cônjuge sobrevivente o direito de acrescer à sua parte a do falecido. DOAÇÃO A FILHOS - IMPORTANTE É permitida a doação de bens dos pais aos filhos. E não é imprescindível a autorização dos outros filhos para esta doação. No entanto, "a doação de ascendente a descendente, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança" (art. 544 CC). Exemplo: Um homem viúvo possui três imóveis do mesmo valor e três filhos. Pergunto: ele pode doar um imóvel a um dos filhos? Necessita de autorização dos outros filhos? Resposta = O pai pode fazer a doação do bem sem autorização dos demais filhos. No entanto, quando esse pai falecer, esta situação será levada em consideração no inventário. Aquele filho que recebeu a doação não terá mais direito à herança. Houve o que chamamos de adiantamento da parte que lhe era cabível, ou seja, adiantamento da legítima. Portanto os outros dois imóveis serão divididos entre os outros dois filhos. Outra pergunta: E se o pai der dois imóveis a um dos filhos? Resposta: neste caso a doação de um dos imóveis será válida, pois está dentro de sua parte disponível. Mas o outro não. Nesse caso, a doação que ultrapassou a parte disponível é considerada nula. Por ocasião da morte do doador, se faz necessário que os bens recebidos pelos filhos sejam arrecadados no inventário, para nova conferência, por meio da colação. Colação consiste na arrecadação dos bens recebidos pelos herdeiros do de cujus, quando este ainda vivia, trazendo-os todos para o processo de inventário, a fim de serem submetidos à divisão do juízo do inventário. Todavia, pode ocorrer que a doação tenha sido feita saindo os bens da parte disponível de seu patrimônio, dispensando-se expressamente o donatário da colação. Neste caso, a doação não importa em adiantamento da legítima. REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO A doação é um contrato e, como tal, uma vez aperfeiçoado, só pode ser rescindido pela vontade de ambas as partes ou pela presença de algum vício, gerando nulidade ou anulabilidade (ex: coação, estado de perigo, não se respeitar a forma adequada, etc). Todavia, a doação, também poderá ser revogada nas seguintes hipóteses: A) Pela ingratidão. Isto ocorrerá se o donatário: • atentar contra a vida do doador. • cometer, contra o doador, ofensa física. • injuriar ou caluniar o doador. • podendo ministrá-los, recusar alimentos ao doador. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 41 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB A revogação deve ser pleiteada dentro do prazo decadencial de um ano, a partir do conhecimento do fato que a autorizar pelo doador, mediante ação judicial. Esse direito é personalíssimo (art. 560 CC), ou seja, somente o doador pode revogar uma doação. Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidão do donatário (art. 556 CC). A revogação não prejudica os direitos adquiridos de terceiros (art. 563 CC). Isto é, revogada a doação, os bens voltam ao patrimônio do doador, respeitados, porém, os direitos dos terceiros. Se o donatário já vendeu um bem, o terceiro não fica prejudicado; o preço recebido pelo donatário deve voltar para o doador. Não se revogam por ingratidão as doações: • puramente remuneratórias. • oneradas com encargo. • que se fizerem em cumprimento de obrigação natural (dívidas de jogo ou prescritas). • feitas para determinado casamento. B) Pelo descumprimento do encargo imposto (se houver) - a doação onerosa poderá ser revogada pela inexecução de um encargo, desde que o donatário incorra em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinalando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida (art. 562 CC). FIANÇA (arts. 818 a 839 CC) CONCEITO Fiança (ou caução fidejussória) é a promessa feita por uma ou mais pessoas, de garantir ou satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor o seu efetivo cumprimento (art. 818 CC). No direito brasileiro temos duas espécies de contratos de caução ou garantia: 1. Garantia Real - lembrando que res significa coisa; ou seja, a coisa garante a dívida. Ex: penhor, hipoteca, anticrese e alienação fiduciária (veremos todos estes itens em aulas posteriores). 2. Garantia Fidejussória - é a garantia pessoal (ex: fiança e aval). Como se vê, a fiança parte do gênero dos contratos de caução ou garantia. É negócio entabulado entre credor e fiador; portanto o devedor (afiançado) não é parte na relação jurídica fidejussória. A fiança pode ser dada a qualquer tipo de obrigação, seja ela de dar (coisa certa ou incerta), de fazer ou de não fazer. CARACTERÍSTICAS • Acessório - não existe a fiança sem que haja um contrato, onde se encontra a obrigação que está sendo garantida pela fiança. Exemplo:José contrata um mútuo (empréstimo) de dinheiro com um Banco (contrato principal). Pedro, seu fiador, assume obrigação acessória de quitar a dívida, caso José não pague (fiança - contrato acessório). Como o acessório segue o principal (accessorium sequitur principale), se o contrato principal for nulo, nula também será a fiança (art. 824 CC). No entanto a recíproca não é verdadeira. Além disso, abrange todos os acessórios da dívida principal (juros, cláusula penal, despesas judiciais, etc.). A fiança pode ser de valor inferior da obrigação principal; no entanto nunca poderá ser superior ao valor do débito principal, nem ser mais onerosa do que ele, sob pena de ser reduzida ao nível da dívida afiançada (art. 823 CC). • Unilateral - gera obrigação apenas para o fiador que se obriga para com o credor, mas este nenhum compromisso assume em relação àquele. • Gratuito - como regra, o fiador não recebe remuneração; apenas ajuda o devedor. No entanto nada obsta que se pactue certa remuneração, muito comum em contratos bancários, em que os bancos assinam termos de responsabilidade em favor de seus clientes, em troca de uma porcentagem sobre o montante garantido. • Forma escrita - a forma da fiança é obrigatoriamente escrita (art. 819 CC), por instrumento público ou particular e assinada, não se admitindo a fiança verbal, ainda que com muitas testemunhas. Fiança não se presume; é contrato solene. Elapode ser realizada no próprio instrumento do contrato principal. • Não admite interpretação extensiva - a fiança sempre será interpretada restritivamente, isto porque é contrato benéfico. O fiador responde por aquilo que efetiva e expressamente consignou no instrumento. Se alguma dúvida surgir, interpreta-se favoravelmente ao fiador. Exemplo: se concedida para garantir aluguel, não se estende a danos causados no prédio por eventual incêndio. Se concedida para garantir aluguel, não se estende a pagamentos de impostos etc. • Não se estende além do tempo convencionado - para prorrogar-se a fiança, caso o contrato se prorrogue, exige-se disposição expressa a esse respeito. Costuma-se dizer: "a fiança não se estende de uma coisa para outra, de uma pessoa para outra, de um tempo para outro". • Subsidiária - o fiador só se obriga se o devedor principal ou afiançado não cumprir a prestação devida, a menos que se tenha pactuado a solidariedade. Nesse caso o http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 42 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB fiador assume a posição de co-devedor (sem desnaturar a fiança). • Súmula 214 do Superior Tribunal de Justiça - Se houver alguma modificação ou aditamento no contrato principal e o fiador não foi consultado para esta alteração, não pode ele ser responsável. Nestes termos é o teor da Súmula: "o fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu". SUBSTITUIÇÃO O credor pode exigir a substituição do fiador se este (art. 826 CC): a) Se tornar insolvente (não tiver bens para responder pela obrigação assumida). b) Se tornar incapaz (foi acometido de alguma doença mental). CONDIÇÕES PARA SER FIADOR Para ser fiador, é necessário que a pessoa: • Seja idônea (moral e financeiramente). • Resida no mesmo município onde tenha que prestar fiança (será mais fácil avisá-lo do inadimplemento do devedor). Podem ser fiador Todas as pessoas maiores ou emancipadas, que tenham a livre disposição de seus bens e preencham os requisitos descritos acima. Não podem ser fiador • Os menores de 18 anos, mesmo emancipados. Nem mesmo se os pais os representarem ou assistirem. A emancipação confere o direito de administrar seus negócios; a fiança é uma obrigação por dívida alheia. • Os pródigos, sem assistência do curador. • Os absolutamente incapazes, mesmo que representados por seus curadores. • O cônjuge, sem o consentimento do outro (outorga uxória ou marital), exceto no regime da separação total de bens. Se for dada fiança sem outorga, será anulável. O prazo para anular esta fiança é de quatro anos, a partir da dissolução da sociedade conjugal. • O analfabeto, a não ser que o faça por procurador constituído por instrumento público, com poderes especiais. • Certas pessoas em razão de seu ofício (tesoureiros, leiloeiros - Dec. nº 2.198/32, tutores, curadores, etc.). FIANÇA DE OBRIGAÇÃO NULA As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança. Assim, sendo nula a obrigação principal, nula também será a fiança. Ex: fiança dada em contrato de locação assinado por absolutamente incapaz, interditado por ter doença mental. FIANÇA DE OBRIGAÇÕES CONTRAÍDAS POR MENOR Vimos acima que as obrigações nulas não são suscetíveis de fiança. No entanto, se a fiança foi dada tendo- se em vista uma obrigação contraída por pessoa menor de idade (até 18 anos), embora a obrigação principal seja nula ou anulável (conforme a hipótese), mesmo assim prevalece a fiança. Trata-se de uma exceção, conforme estipula o art. 824 do CC. Exemplo: menor de 16 anos assina contrato de locação; o contrato é considerado nulo; mesmo assim, prevalece a obrigação do fiador quanto aos aluguéis não pagos pelo menor. O mesmo ocorre se a pessoa for menor de 18, porém maior de 16 anos (relativamente incapaz - anulável). FIANÇA A MÚTUO CONTRAÍDO POR MENOR Se a fiança se referir a contrato de mútuo contraído por menor, sendo nulo ou anulado o contrato de mútuo, nula também será a fiança. Esta é uma exceção à regra acima (trata-se, portanto de uma exceção da exceção). É o que determina o parágrafo único do art. 824 CC. Exemplo: menor toma dinheiro emprestado e terceira pessoa assina o contrato como fiador. Declarado nulo ou anulado o contrato de mútuo, exonera-se também o fiador. BENEFÍCIO DE ORDEM É o direito assegurado ao fiador de exigir do credor que acione, em primeiro lugar, o devedor principal, isto é, que os bens do devedor principal sejam executados antes dos seus (art. 827 CC). A invocação desse benefício deve ser manifestada expressamente. Não pode o fiador socorrer-se deste benefício se renunciou o benefício, ou se se obrigou como principal pagador (ou devedor solidário), ou se o devedor for insolvente ou falido. BENEFÍCIO DE DIVISÃO Havendo mais de um fiador garantindo a mesma obrigação, estes são solidários entre si, aplicando-se-lhes as regras das obrigações solidárias. Todavia, podem os fiadores, entre si, prever expressamente no contrato de fiança, que se utilizarão o benefício de divisão, isto é, de que a obrigação entre eles seja divisível. Assim, cada fiador só responderá pela parte que, em proporção, lhe couber no pagamento (art. 829 e parágrafo único CC). SUB-ROGAÇÃO O fiador que pagar integralmente a dívida ficará sub-rogado nos direitos do credor, mas só poderá demandar http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 43 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB a cada um dos outros fiadores pela respectiva cota (art. 831 CC). Recordando: sub-rogar significa estar no lugar de. Sub- rogação nos direitos do credor significa que o fiador que paga passa a ocupar o lugar do credor, assumindo-lhe todos seus direitos, inclusive o de executar o devedor, ou os outros fiadores. O fiador pode cobrar do devedor as perdas e danos que sofrer em razão da fiança. RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS Os herdeiros do fiador respondem quanto às obrigações assumidas pelo de cujus em razão de fiança. Mas a responsabilidade da fiança não pode ultrapassar as forças da herança e se limitará até a data da morte do fiador. Exemplo: Se A é fiador de B, referente à locação de imóvel, e B deve os meses de julho a dezembro, no valor de 100 por mês, sendo que A falece em setembro e só deixa de herança 500, os herdeiros só serão responsáveis por 300, porque o limite foi a data da morte do fiador. Se A só tivesse deixado 200 de herança, os herdeiros só responderiam por 200. EXTINÇÃO DA FIANÇA São hipóteses de extinção da fiança: • Por vontade do fiador, quando tiver assinado o contrato de fiança sem limitação de tempo. Neste caso, a exoneração pode ser por ato amigável entre o fiador e o credor ou por decisão judicial. • Pela morte do fiador. • Por anulação judicial, nos casos de anulabilidade dos atos jurídicos em geral (falta de legitimação, vícios do ato jurídico, etc.). • Se, sem o consentimento do fiador, o credor conceder moratória ao devedor; • Se, por algum fato causado pelo credor, tornar-se impossível a sub-rogação do fiador nos seus direitos e preferências. Exemplo: credor levanta hipoteca que garante a dívida, sendo que por isso o fiador não pode se sub-rogar no direito de executar aquela hipoteca. • Se o credor, em quitação amigável, aceitar do devedor objeto diverso do que venha a perdê-lo por evicção (perda da coisa em virtude de sentença judicial e sentença anterior). Exemplo: A, credor, aceita do devedor um terreno para quitar a dívida, em lugar de pagamento em dinheiro (novação). Se A vier a perder este terreno, mesmo por evicção, o fiador está liberado. • Se o fiador indicar bens do devedor para serem executados em primeirolugar, demorando-se o credor a executá-los, e caindo, posteriormente, o devedor em insolvência, libera-se o fiador. AVAL O aval, a exemplo da fiança, é uma garantia pessoal, em que uma pessoa (o avalista) obriga-se a pagar a dívida de outrem (o avalizado). O avalista é devedor solidário (diferentemente da fiança em que o fiador é devedor subsidiário). O aval é figura do direito cambiário, isto é, uma garantia própria dos títulos de crédito (letra de câmbio, nota promissória, etc.). O aval importa na responsabilidade autônoma do avalista, independente da validade da obrigação garantida. Para dar o aval, basta que o avalista aponha sua assinatura, de próprio punho, ou mesmo através de procurador, no título. ATO ILÍCITO - RESPONSABILIDADE CIVIL Meus alunos e amigos. Antes de começar a aula propriamente dita, preciso dar um aviso importante. Como vocês notaram do título da aula, hoje falaremos sobre Ato Ilícito e Responsabilidade Civil. Às vezes um edital pede apenas o Ato Ilícito, outras vezes pede apenas a Responsabilidade Civil. Mas é claro que está implícito que cairão na prova os dois temas, pois os mesmos são conexos entre si. Muito comum, também, o edital, que normalmente segue a ordem do Código Civil, pedir o Ato Ilícito num primeiro momento, depois pedir outros temas e somente lá no meio do edital ou no seu final, voltar para pedir o tema Responsabilidade Civil. E sabem por que isto? Porque as matérias estão dispostas em partes diferentes do nosso Código. O Ato Ilícito está previsto nos artigos 186 até 188 do CC (eles são poucos, mas são importantíssimos). Mas não teria lógica estudar apenas esses poucos artigos. Por isso devemos relacioná-los com a Responsabilidade Civil, que está prevista nos artigos 927 a 943 (e, se incluirmos o tema ‘indenização’ – que também será visto – a previsão se estende até o artigo 954). Ou seja, para que nosso estudo seja completo devemos saber qual a importância do Ato Ilícito (que ainda pertence à Parte Geral do Código Civil) e a sua relação com a Responsabilidade Civil (que já integra a Parte Especial). Estar com Código Civil em mãos para o acompanhamento desta aula é de suma relevância, pois nós vamos estudar os dois temas hoje. Embora, sempre que necessário, irei transcrever alguns artigos de maior relevância. Comecemos. CONCEITO DE ATO ILÍCITO Ato ilícito (art. 186 do CC) é o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando o direito. Praticado o ato ilícito, causando prejuízos a outrem, cria-se o dever de reparar o dano (moral ou patrimonial). Por isso o http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 44 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB ato ilícito é considerado também como uma “fonte de obrigação” (art. 927 do CC). Vejam que logo de início já relacionamos dois artigos dispostos em lugares bem diferentes do Código: quem pratica ato ilícito (artigo 186) tem a obrigação de reparar o dano (art. 927). O ato ilícito é considerado como fato jurídico (em sentido amplo – lembrem-se do ponto e do gráfico que forneci sobre os Fatos Jurídicos – se o aluno ficou com alguma dúvida retorne a esta aula), produzindo efeitos jurídicos. Esses efeitos não são desejados pelo agente, mas impostos pela lei (por isso são chamados de involuntários). Há infração de um dever e imputação de um resultado. O ato ilícito pode ser: civil, penal ou administrativo. Lógico que nesta aula vamos nos ater apenas ao ilícito civil, porém sempre acabamos falando das outras matérias, pois são conexas. Há casos em que a conduta ofende à sociedade (ilícito penal) e ao particular (ilícito civil), acarretando dupla responsabilidade (ex.: lesões corporais - o fato é típico, está descrito no Código Penal, logo é um ilícito penal. Por outro lado, causando danos à vítima o agente é obrigado a reparar esses danos na ordem civil, trata-se, portanto, de um ilícito civil também). À vezes atinge também o Direito Administrativo, havendo uma tripla responsabilidade. Exemplo: O peculato é um crime, pois está tipificado no Código Penal (artigo 312); é também um ilícito civil, podendo a pessoa ser responsabilizada pelo Estado e compelida a ressarcir o dano que causou. Além disso, cometendo peculato, houve uma “quebra de confiança” por parte da Administração Pública em relação a este funcionário, devendo o mesmo responder a processo administrativo e podendo perder o cargo (ser demitido). Assim o agente, com apenas uma conduta, ofende a três instituições (Penal, Civil e Administrativo), podendo (ao menos em tese) responder a três processos distintos, cada um com objetivos diferentes. Importante - A responsabilidade penal é pessoal e intransferível; a responsabilidade civil é patrimonial e em algumas hipóteses pode ser transferida, conforme veremos. Vamos, logo de início fazer um importante “resuminho” do que já vimos: • Ato ilícito é a conduta humana que fere direitos subjetivos privados; está em desacordo com a ordem jurídica, violando um direito subjetivo individual. • A conseqüência do ato ilícito é a obrigação de indenizar (art. 927 CC). • Ato ilícito é um fato jurídico, mas não é um ato jurídico, pois para que seja jurídico é necessário que seja lícito. RESPONSABILIDADE CIVIL A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar, determinada pessoa, de observar um preceito normativo que regula a vida. Nota-se então as duas espécies de responsabilidade civil: 1 - A responsabilidade civil contratual está situada no âmbito da inexecução obrigacional. Como se sabe, as cláusulas contratuais devem ser respeitadas, sob pena de responsabilidade do que as descumprir. O contrato traz em seu conteúdo uma obrigação assumida, podendo o seu descumprimento gerar perdas e danos. Os fundamentos jurídicos principais dessa modalidade de responsabilidade civil estão no artigo 389 do Código Civil, quando a obrigação assumida for positiva; e no artigo 390 do Código Civil, quando se tem uma obrigação negativa. 2 - Já a responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana relaciona-se ao desrespeito ao direito alheio e às normas que regram a conduta, representando qualquer inobservância de um preceito legal. A responsabilidade extracontratual é também conhecida por responsabilidade aquiliana, tendo em vista que a Lex Aquilia de Danno cuidou de estabelecer, no Direito Romano, as bases jurídicas dessa espécie de responsabilidade civil. Seu fundamento jurídico encontra-se hoje no artigo 186 do Código Civil. Resumindo a) Responsabilidade contratual – surge pelo descumprimento de uma cláusula do contrato; b) Responsabilidade aquiliana (ou extracontratual) – deriva de inobservância de qualquer outro preceito legal. TEORIAS Existem duas teorias sobre responsabilidade civil, que veremos com detalhes. Primeiro falaremos sobre os aspectos gerais de cada uma delas. Depois vamos nos ater à que foi adotada pelo nosso Código: • Teoria da Responsabilidade Subjetiva • Teoria da Responsabilidade Objetiva A) TEORIA DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA Segundo esta teoria, haverá responsabilidade por indenização somente se houver culpa do agente. É a regra do Direito Civil brasileiro que adotou a Teoria da Culpa. Cuidado – quando eu falo em culpa, as pessoas lembram de imediato de uma imprudência ou negligência. Não é bem assim. Não é só isso. A Teoria da Culpa está se referindo a culpa em sentido amplo, que abrange o dolo e a culpa em sentido estrito. Assim culpa (em sentido amplo) é o gênero. E as espécies são Dolo e Culpa (em sentido estrito): ♦ Dolo é o pleno conhecimento do mal; o agente deseja as conseqüências maléficas (dolo direto) ou assume o risco de produzi-las (dolo eventual). http://www.unisate.com.br/ CURSOALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 45 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB ♦ Culpa (em sentido estrito) é a violação de um dever que o agente poderia conhecer e acatar. Portanto, pela Teoria da Responsabilidade Subjetiva, haverá indenização toda vez que o agente tenha praticado o ato danoso porque o conhecia e o quis (dolo direto), como também quando o agente, embora não o conhecesse e não o quisesse, tenha agido por negligência ou imprudência ou violado norma que podia ou devia conhecer e acatar (culpa em sentido estrito). Prevalece a teoria da previsibilidade. Se o ato era previsível (para a pessoa diligente, prudente e conhecedora da norma), então haverá culpa para o agente (ex.: se bato na traseira do carro de terceiro, presume-se a culpa, porque há regra pela qual se deve guardar distância e dirigir com atenção. Se o dentista trata mal um dente, por falta de conhecimento que devia ter, agiu com culpa. O mesmo se diga de um advogado que perde uma causa por falta de preparo profissional). Classificação da Culpabilidade (em sentido amplo – ou lato sensu) A principal classificação acerca da culpabilidade é (reforçando o que já foi dito): • culpa contratual - resulta da violação de um dever inerente a um contrato (ex.: o inquilino que não paga o aluguel; o empregado que deixa de cuidar dos animais; o depositário que não conserva o bem, professor que não vem dar aula, etc.). • culpa extracontratual ou aquiliana - resulta da violação de um dever fundado em princípios gerais do direito, como o respeito às pessoas e aos bens alheios; deriva de infração ao dever de conduta (dever legal) imposto pela lei (ex.: motorista em excesso de velocidade provoca atropelamento). Praticado um ilícito civil derivado de um contrato (culpa contratual) ou de um dever legal (aquiliana), surge a obrigação de indenizar. Porém, no primeiro caso a responsabilidade é determinada como conseqüência da inexecução de um contrato, sendo que o lesado só necessita demonstrar o descumprimento do contrato (nesse caso a culpa é presumida). Já na segunda hipótese a responsabilidade se funda na inobservância de um dever genérico (art. 186 do CC) e o lesado deve comprovar o elemento subjetivo. Desta forma a diferença primordial reside no ônus da prova: na responsabilidade contratual não se exige qualquer prova enquanto na extracontratual é necessário que se prove a culpa do réu. Consequências Havendo dano decorrente do ato ocorrido com culpa do agente, haverá obrigação de indenizar o lesado. B) TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA Por esta teoria, não se verifica a existência de culpa do agente. Fundada na Teoria do Risco, a responsabilidade objetiva independe da culpa. Verifica-se só a existência de uma conduta, do dano e a relação de causalidade entre eles, decorrendo daí a obrigação de indenizar (ex.: responsabilidade do hoteleiro pelo furto de valores praticados por empregados contra hóspedes). Pelo simples fato de o empregado se ferir em serviço há a responsabilidade de indenização a ser paga pelo seguro, que não examina se houve culpa ou não do dono do serviço. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos (concessionárias e permissionárias) têm responsabilidade civil: respondem pelos danos causados pela atividade administrativa, independentemente de culpa de seus funcionários, inclusive no que se refere à culpa anônima ou do serviço. (art. 37, §6º da CF). Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, do tipo objetiva, isto é, não é necessário provar se houve culpa do funcionário. Basta a lesão ao particular, sem culpa deste. Há que se provar a conduta (positiva ou negativa), a lesão e o nexo causal. Atualmente, vigora sobre o assunto a teoria do risco administrativo, que equivale a uma responsabilidade objetiva mitigada, uma vez que pode ser afastada ou diminuída pela culpa exclusiva ou concorrente da vítima, o que não ocorre na responsabilidade objetiva plena ou integral (risco integral). Elementos • existência de uma conduta positiva (ação) ou negativa (omissão); • dano (patrimonial ou moral); • relação de causalidade – nexo causal entre a conduta e o dano. TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL Nosso Código Civil adotou como regra a Teoria de Responsabilidade Subjetiva, prevista no artigo 186, que diz: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Cuidado porque há exceções a esta regra, conforme veremos logo adiante. Isto é, há casos em que o próprio Código Civil (que adotou a teoria da responsabilidade subjetiva) admite a aplicação da responsabilidade objetiva. Elementos Indispensáveis 1 - Conduta (fato lesivo) -causada por uma ação (conduta positiva) ou omissão (conduta negativa), voluntária (dolo) ou por negligência ou imprudência (modalidades de culpa). A regra é a ação. Já para a configuração da omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado fato, a prova http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 46 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB de que a conduta não foi praticada (omissão) e a demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado. Na responsabilidade subjetiva a conduta compreende: a) Dolo - violação intencional, voluntária (observem que o Código Civil utiliza essa última palavra), do dever jurídico; o agente quer o resultado (dolo direto) ou assume o risco de produzi-lo (dolo eventual). b) Culpa - não há deliberação, intenção de violar o dever jurídico, mas este acaba sendo violado por: • Imprudência - é a prática de um fato perigoso (ex.: dirigir veículo em rua movimentada em excesso de velocidade). • Negligência -é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado (ex.: deixar arma de fogo ao fácil alcance de uma criança). • Imperícia -falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão (também caracteriza a culpa, embora não esteja expressa no art. 186 CC). É o médico, dentista, engenheiro, etc. que, em face de um desconhecimento ou falta de prática, no desempenho de suas funções, venham a causar dano a interesses jurídicos de terceiros. Para o Direito Civil não importa se o autor agiu com dolo ou culpa; as conseqüências serão as mesmas: reparação do dano, indenização dos prejuízos. 2 - Ocorrência de um Dano (eventus damni) -para que haja pagamento de indenização, além da prova de culpa ou dolo na conduta, é necessário comprovar o dano patrimonial ou extrapatrimonial (moral). • Dano Moral - em sentido próprio refere-se ao abalo dos sentimentos de uma pessoa, provocando-lhe dor, tristeza, desgosto, depressão etc.; em sentido impróprio ou amplo, abrange a lesão de todos e quaisquer bens ou interesses pessoais (exceto econômicos), como a liberdade, o nome, a família, a honra, a integridade física etc. No dano moral não se pede um preço para a sua dor, mas um meio para atenuar, em parte, as conseqüências do dano emocional de uma pessoa. Vejam o que diz o Art. 5º, X da Constituição Federal de 1988: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente da sua violação” (vide também o inciso V). O Código Civil não traz critérios para a quantificação da indenização por dano moral. Deve o Magistrado fixá-la analisando a extensão do dano, as condições econômicas dos envolvidos e o grau de culpa do agente. Não se avalia mediante simples cálculo, mas visando compensar a sensação de dor da vítima. A compensação em dinheiro deve representar uma satisfação capaz de anestesiaro sofrimento impingido. Tem finalidade compensatória e punitiva. • Dano Patrimonial compreende: a) dano emergente -efetiva diminuição do patrimônio da vítima; qual o prejuízo efetivamente suportado, o ela perdeu; b) lucro cessante -o que ela deixou de ganhar. Obs. – Se o dano patrimonial e o moral decorrem do mesmo fato serão cumuláveis as indenizações. Atenção!!! A despeito do requisito da certeza o que falar de uma perda de uma chance no direito civil? Essa teoria relativiza a certeza do dano. Doutrina que nasce na França (Livro: responsabilidade civil do advogado pela perda de uma chance – Sérgio Novaes Dias). Conceito da teoria da perda de uma chance: segundo Fernando Gaburri, a perda de uma chance pode ser indenizável por afastar uma expectativa ou probabilidade favorável ao lesado. O que indeniza na perda de uma chance não é o dano certo, e sim a probabilidade que se perde. Não é a mesma situação da perda de um dano específico. Ex: aluno que estuda um ano para o ITA e o motorista perde o caminho ocasionando a perda da prova. Ex: Advogado que não faz recurso. A indenização em uma perda de uma chance deve ser reduzida, pois o que se está indenizando é a perda de uma probabilidade. A perda de uma chance não significa indenização integral. Pode ser mitigada. No STJ, notório é o REsp 788.459 BA, no qual o cidadão participava de um programa de perguntas e respostas. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO. IMPROPRIEDADE DE PERGUNTA FORMULADA EM PROGRAMA DE TELEVISÃO. PERDA DA OPORTUNIDADE. 1. O questionamento, em programa de perguntas e respostas, pela televisão, sem viabilidade lógica, uma vez que a Constituição Federal não indica percentual relativo às terras reservadas aos índios, acarreta, como decidido pelas instâncias ordinárias, a impossibilidade da prestação por culpa do devedor, impondo o dever de ressarcir o participante pelo que razoavelmente haja deixado de lucrar, pela perda da oportunidade. 2. Recurso conhecido e, em parte, provido. O CC 02 regula o dano no art. 944. Se o dano foi de R$1500, pago o mesmo valor de indenização (Princípio neminem laedere). Sendo o dano culposo ou doloso. Não importa se atuou com dolo ou culpa no Direito Civil. O que importa aqui é a extensão do dano. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 47 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. Entretanto, há um redutor indenizatório baseado no grau de culpa do réu. Assim, se o réu causou prejuízo mas atuou com culpa branda, o juiz poderá reduzir o valor indenizatório. Assim, o § único do art. 944 consagrou, com base no Princípio da equidade, um redutor indenizatório favorável ao réu que atue com grau de culpa reduzida. QUESTÕES DE CONCURSO 1) Existe diferença entre dano reflexo e dano indireto? Sim. Dano reflexo ou em ricochete: atinge pessoa próxima diretamente ligada à vítima principal. Desenvolvido pela doutrina francesa, o dano reflexo se configura quando o prejuízo atinge por via obliqua pessoa próxima à vítima do ato ilícito. Ex: o filho que perde o pai sofre dano reflexo, pode pleitear prejuízo ao dano causado ao pai. O pai é que sofre o dano direto. Não confundir dano reflexo com dano indireto: Dano reflexo: tem-se 2 vítimas – vítima primária e vítima secundária (pai e filho) Dano indireto: neste tipo de dano, a mesma vítima pode sofrer uma cadeia de prejuízos. Segundo Fernando Gaburri, consistem em “uma cadeia causal de prejuízos”. Ex. cidadão vendeu uma vaca com aftosa. A vaca que foi comprada infectou mais 3 vacas do rebanho do comprador. Houve dano indireto – cadeia de prejuízos para a mesma vítima – que já sofreu o dano inicial de comprar animal doente. 2) O que se entende por dano “in re ipsa”? Dano “in re ipsa” (no campo do dano moral): é o dano presumido que dispensa a prova em juízo. Vg. negativação indevida no SPC e no SERASA, é o dano típico de dano “in re ipsa”. Dano que dispensa prova. Jurisprudência. O STJ tem entendimento no sentido de que “devedor com vários registros em cadastro de proteção ao crédito não tem direito a indenização por dano moral. RESP 1002985 e 775.766/PR, 357.404/RJ e ainda, com a aplicação da teoria, a Súmula 403, STJ. S. 403 do STJ – Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. Também gera dano “in re ipsa” a ausência de notificação para efeito de inscrição no sistema de proteção ao crédito. Súmula 359 do STJ Cabe ao órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição Essa súmula aponta quem tem legitimidade para inscrição do devedor. Quem tem a obrigação de comunicar, à luz do princípio da boa-fé, é o sistema de proteção ao crédito. Quem responde por dano moral é o sistema de proteção ao crédito. 1. Subsistência do dano: para o dano ser indenizável ele deve ser subsistente. O dano que já foi recomposto (ou reparado) não é passível de indenização. Nem todo dano é indenizável. Dor de fim de afeto não é indenizável, pois não há violação jurídica. Dor de fim de namoro não é indenizável, não é violência à norma jurídica. 3 - Nexo de Causalidade -a responsabilidade civil não pode existir sem a relação de causalidade entre o dano e a conduta ilícita do agente. Se houve dano, mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade, não havendo a obrigação de indenizar. Não há esse nexo se o evento se deu por culpa exclusiva da vítima (ex.: passageiro desce de veículo em movimento) ou por caso fortuito ou força maior. TEORIAS DO NEXO DE CAUSALIDADE: 1. TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES ou “CONDITIO SINE QUA NON”: essa teoria afirma, segundo o pensamento filosófico de Von Buri, que tudo que concorra para o resultado é causa. Esta teoria não diferencia os antecedentes do resultado danoso. Ou seja, todo e qualquer antecedente fático é causa. O defeito da teoria é o super dimensionamento das causas, podendo chegar até Adão e Eva como os causadores dos malefícios da humanidade. Deve-se ter um critério de limitação, para não ser levado ao infinito. Essa teoria não é muito acolhida no direito civil. 2. TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA – essa teoria, baseada na filosofia de Von Kries, é mais refinada, pois para essa segunda teoria nem todo antecedente que concorra para o resultado é causa. Causaé apenas o antecedente abstratamente idôneo à deflagração do resultado. É uma teoria mais reflexiva, pois se deve decidir http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 48 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB quais daquelas causas são mais idôneas para produção do resultado. Vg. o disparo da arma é uma causa idônea para o homicídio. Vg. cidadão que está no aeroporto e tem uma dor de barriga. O cidadão está usando o banheiro e um outro coloca durepox na maçaneta, ficou preso no banheiro, perdeu o avião, pegou o próximo e o avião que pegou caiu e morreu. Para a 1ª teoria o fato “trancar alguém no banheiro” é causa. Para a 2ª teoria, “trancar alguém no banheiro”, não é causa adequada a morte do cidadão. Esta segunda teoria é forte no direito brasileiro, defendida por Sérgio Cavalieri Filho e também adotada pelo código da Argentina. Essa teoria prevalece na doutrina clássica. 3. TEORIA DA CAUSALIDADE DIRETA E IMEDIATAou DA NECESSARIEDADE DO DANO - defende essa teoria Gustavo Tepedino e Pablo Stolze. Essa teoria é mais objetiva, é mais fácil de aplicar. Conceito: essa terceira teoria sustenta que causa é apenas o antecedente fático que determina o resultado danoso como conseqüência sua direta e imediata. É como se houvesse um vínculo imediato entre a causa e o resultado. Ex: um homem deu um soco no rosto de Tício. Uma ambulância levou Tício ao hospital, mas antes de chegar capotou e Tício morreu de traumatismo craniano o que o levou a morte. Quem deu o soco no rosto não deu causa direta e imediata da morte da vítima! Obs.: Gustavo Tepedino e Carlos Roberto Gonçalves defendem esta teoria O artigo do CC que regula o nexo causal é o art. 403. Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. O STJ no RESP 686.208, Relator Ministro Luiz Fux ao decidir que a suspensão de medicamento determinou direta e imediatamente a perda de um rim de um paciente teria abraçado essa teoria (ver também o RE 130764 do STF). Responsabilidade Objetiva no Código Civil Conforme dissemos acima, embora o Código Civil tenha adotado como regra a teoria subjetiva, há diversos dispositivos em que a responsabilidade é objetiva. Assim, haverá obrigação de reparar o dano (independentemente de culpa) nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Ex.: os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação (art. 931 CC), do dono de animais (art. 936 CC), dono de prédios em ruína (art. 937 CC), do habitante da casa da qual caírem coisas (art. 938 CC), acidentes do trabalho, etc. Analisaremos esses itens logo mais adiante. Além disso, há também responsabilidade dos fornecedores de produtos e serviços nas relações de consumo (art. 14 da Lei de Defesa do Consumidor - CDC). A Lei de Direito Ambiental também fornece exemplos de responsabilidade objetiva como um meio de se coibir danos ao meio ambiente. Como se sabe esta lei prevê até mesmo situações em que a Pessoa Jurídica pode cometer crime ao meio ambiente e responder por esta conduta na esfera penal. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR Já sabemos o que é um ato ilícito na esfera do Direito Civil. Vamos ver agora o que obriga uma pessoa a reparar os prejuízos que sua conduta causou. Ora, autor de um ato ilícito terá sim a responsabilidade pelo prejuízo que causou, devendo indenizá-lo. Assim determina o art. 927 do CC: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. A obrigação de indenizar decorre da inobservância do dever geral de não causar danos a outrem. Os bens dos responsáveis pela ofensa ou violação do direito de outrem, ficarão sujeitos à reparação do dano patrimonial ou moral causado. Se a ofensa tiver mais de um autor todos responderão solidariamente pela reparação (art. 942). O titular da ação pode propô-la contra um ou todos os responsáveis pelo ato ao mesmo tempo. Aquele que pagar a indenização terá direito de regresso contra os demais, para reaver o que desembolsou. Isto é o que chamamos de solidariedade. Voltaremos ao tema na aula sobre o Direito das Obrigações ABUSO DE DIREITO O Código Civil atual adotou, em seu artigo 187, a Teoria do Abuso de Direito como Ato Ilícito. É uma grande inovação e uma boa “dica” para se pedir em concurso, dada a novidade. Ampliou-se a noção de ato ilícito, para considerar como objeto da responsabilidade civil também aquele ato praticado com abuso de direito, ou seja, o ato originariamente lícito, mas exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes. RESPONSABILIDADE POR ATOS DE TERCEIROS O art. 932 do CC discrimina diversas hipóteses de responsabilidade civil por atos praticados por terceiros: • Os pais são responsáveis pelos atos praticados pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia (ex.: pai permite que filho dirija sem habilitação; havendo um acidente, o pai responde; filho que http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 49 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB comete delitos como lesão corporal, furto, etc.). Pelo art. 928 CC o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de o fazer ou não dispuserem de meios suficientes. A redação do artigo “é meio inversa”. Na verdade o que o legislador quis dizer é que o responsável pelo menor responde pelos atos (civis). Se eles (os pais) não dispuserem de meios suficientes (não têm dinheiro) aí quem irá responder é o próprio menor. Resumindo – o pai responde. Se não puder, responde o menor (que terá então uma responsabilidade subsidiária). A indenização será eqüitativa e não será devida se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependam. • O tutor e o curador são responsáveis pelos pupilos e curatelados que estiverem nas condições anteriores. • O empregador ou comitente, são responsáveis pelos atos de seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho ou em razão dele. • Os donos de hotéis, hospedaria, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, são responsáveis pelos atos danosos praticados pelos seus hóspedes, moradores e educandos. A pessoa jurídica que exercer exploração industrial terá responsabilidade presumida pelos atos lesivos de seus empregados. Com isso terá de vigiá-los, instruí-los e selecioná- los, reparando os prejuízos que causarem no exercício de suas funções (responsabilidade objetiva). Observação – As pessoas acima arroladas, ainda que não haja culpa de sua parte (responsabilidade objetiva) responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (art. 933). Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for seu ascendente, absolutamente ou relativamente incapaz (art. 934). EXCLUSÃO DE ILICITUDE Podem ocorrer casos em que a pessoa pratica uma ação e a sua conduta causa uma lesão a terceiros e mesmo assim aquela pessoa não terá cometido ato ilícito (e, por isso, não será responsabilizado). O que pode ter ocorrido no caso? Pode ter ocorrido o que chamamos de “causas de exclusão da ilicitude”. São elas (art. 188 do CC): • legítima defesa -uso moderado de meios necessários para repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem (legítima defesa de terceiros). Ex.: Se uma pessoa, A, agredir outra, B, visando sua morte injustamente, esta última tem o direito de se defender, utilizando, para tanto, os meios necessários. Nesta hipótese, quem deu causa à reação (A) não pode exigir indenização de B. Se na defesa contra a agressão, B atingir uma terceira pessoa, C, esta terá direito de solicitar indenização de quem a agrediu, B, ficando esta com direito de regresso contra quem deu causa a todo evento (A). O Código Civil também reconhece a legítima defesa da posse (art. 1.210, §1º). • exercício regular de um direito reconhecido -se alguém no uso normal de um direito lesar outrem não terá qualquer responsabilidade pelo dano, por não ser um procedimento ilícito. Ex.: credor que penhora bens do devedor; credor que protesta um título de crédito vencido e não pago; concorrente que se estabelece na mesma rua, etc. Só haverá ato ilícito se houver abuso de direito (ex.: vizinho que produz em sua residência ruído que exceda à normalidade). • estado de necessidade -deterioração ou destruiçãode coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente (ex.: na iminência de ser colhido por um caminhão, ou de atropelar um pedestre, arremesso meu carro contra o portão de uma casa alheia destruindo-o; mato o cão do vizinho atacado por hidrofobia e que ameaça várias pessoas). O ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Aplica-se a mesma regra da legítima defesa: se o prejudicado é o ofensor nada lhe será devido. Quando o prejudicado não é o ofensor, pode pedir indenização ao autor do ato (ainda que o ato tenha sido lícito) e este tem direito de regresso contra o ofensor. • ausência de nexo de causalidade - não há responsabilidade se não houver uma relação de causa e efeito entre o dano e a ação ou omissão do agente. • culpa exclusiva da vítima - também não haverá responsabilidade se o evento ocorreu por culpa exclusiva da vítima. Atenção, se a culpa da vítima foi concorrente (ou seja, tanto o agente como a vítima tiveram culpa) a indenização será cabível, mas será reduzida proporcionalmente. Portanto, havendo culpa concorrente, haverá responsabilidade e indenização, porém de forma reduzida • caso fortuito - é o acontecimento imprevisível; força maior – o que é impossível de ser evitado e cujo evento não depende do agente (ex.: uma tempestade, um terremoto). EFEITOS CIVIS DA DECISÃO PROFERIDA NO JUÍZO CRIMINAL Regra Geral Prevê nosso Código que a responsabilidade civil é independente da criminal (art. 935 do CC). Como vimos uma http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 50 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB pessoa que comete um ilícito pode sofrer dois processos (um civil para reparação do dano e outro penal). Às vezes até três processos (também o administrativo). E a regra é que as decisões tomadas em um processo não vinculam os outros. Porém, como veremos, esta não é uma regra absoluta. Como quase tudo, esta regra possui exceções. Vigora em nosso direito o princípio da independência da responsabilidade civil em relação à penal. Embora a regra seja a independência das esferas, não se pode mais questionar no juízo cível algumas questões, quando elas já se encontrarem decididas no juízo criminal (art. 63 do Código de Processo Penal). Basicamente são duas as hipóteses que, decididas no juízo criminal, não se discute mais no cível: • a existência do fato, isto é, a ocorrência do crime e suas conseqüências (engloba-se aqui eventual excludente de criminalidade, como veremos); • ou de quem seja o seu autor, ou seja, a autoria do delito. Consequências • A sentença condenatória criminal, que reconhece a autoria e o fato delituoso, não pode mais ser discutida no cível. Nem a que reconhece excludente de ilicitude como a legítima defesa, estado de necessidade, etc. • A sentença absolutória criminal negatória do fato e/ou da autoria não pode mais ser discutida no juízo cível. • Se a sentença absolutória do juízo criminal não concluiu categoricamente sobre o fato ou a autoria (ou seja, é uma absolvição por falta de provas), pode a matéria ser discutida novamente no cível. Isso porque as provas que são frágeis para uma condenação criminal (e, por causa disso, o juiz absolveu o réu por falta de provas) podem ser suficientes para uma condenação na esfera do direito civil. Aqui a regra da independência é aplicada em sua integridade. • Pessoa que foi reconhecida como penalmente inimputável (ex.: doente mental) pode ser obrigada à reparação de danos na esfera civil. Cai na regra que vimos acima de que o responsável pelo inimputável, responde civilmente por seus atos. • Questões sobre o estado das pessoas (solteira, casada, viúva, etc) e sobre a propriedade, se discutidas no cível em primeiro lugar, estas devem prevalecer. A decisão do cível será transportada para o juízo criminal. Ex. Um sujeito está respondendo por crime de bigamia (casou duas vezes) na esfera penal. Esse sujeito alega que seu primeiro casamento era nulo. Ora, a nulidade de um casamento não pode ser declarada por um juiz criminal. Ele suspende o processo criminal e a questão (da anulação ou não do primeiro casamento) é discutida no juízo cível. Decidida a questão, o processo criminal volta a tramitar. TRANSMISSIBILIDADE Em caso de responsabilidade civil, vindo a falecer o responsável pela indenização e como seus bens passam a seus herdeiros, estes, dentro das forças da herança, deverão reparar o dano ao ofendido (art. 943 CC). Se o lesado (a vítima) vier a falecer a ação de indenização poderá ser intentada por seus herdeiros. PRAZO O atual Código estabelece prazo prescricional de 03 (três) anos para a propositura da ação de reparação de danos (artigo 206, §3º, inciso V do CC). Esse é um dos principais prazos prescricionais. É um dos que mais caem em concursos. Portanto, guardem bem. DANOS CAUSADOS POR ANIMAL O art. 936 do CC prevê que o dono do animal ou o seu detentor será responsável pelos danos causados por ele, a não ser que prove que: • o guardava e o vigiava com o cuidado necessário; • o animal foi provocado; • houve imprudência do ofendido; • o fato resultou de caso fortuito ou força maior. QUESTÃO ESPECIAL DE CONCURSO. De quem é a responsabilidade civil por acidente envolvendo animal na estrada? Em caso de acidente de trânsito por conta de animal na pista há entendimento no STJ, no REsp 438.831/RS, no sentido de reconhecer a responsabilidade do Estado. Estabeleceu a regra de que poderá haver responsabilidade civil subjetiva do Estado por omissão em fiscalizar e sinalizar rodovia federal (se estende a rodovia estadual). Responsabilidade do Estado por omissão é subjetiva. Ex: Demandar o Estado por vacas que saíram de uma fazenda e causaram acidente na estrada. Cabe ao Estado ação regressiva contra o fazendeiro. Em se tratando de rodovia gerenciada por concessionário de serviço público (rodovia pedagiada ou privatizada), a responsabilidade da concessionária é objetiva com base no Código de Defesa do Consumidor (REsp 647.710/RJ). DANOS CAUSADOS POR PRÉDIOS EM RUÍNA O dono do edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta (art. 937 CC). A jurisprudência estendeu esta responsabilidade a qualquer dano advindo de edifícios e não só de prédios em ruínas. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 51 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB DANOS POR COISAS LANÇADAS DAS CASAS Prevê o Código Civil que aquele que habitar (proprietário, locatário, comodatário, usufrutuário, etc.) uma casa ou parte dela responde pelos danos provenientes das coisas que dela caírem ou forem lançadas (sólidas ou líquidas) em lugar indevido (art. 938). Não importa que o objeto tenha caído acidentalmente, pois a ninguém é lícito pôr em risco a segurança alheia. Também é chamada de responsabilidade effusis et dejectis. Como curiosidade, conto sempre aos alunos, uma passagem típica do “Brasil Colonial”, que li em um livro: na ocasião não tínhamos a rede de esgoto que temos hoje. E as “Ordenações Filipinas”, que vigoravam na ocasião, possuía um dispositivo que obrigava as pessoas de, antes de jogar qualquer coisa à rua, gritasse por três vezes “água vai...”. Atualmente isso mudou. Hoje nada pode ser jogado (e mesmo ‘cair sem querer’) das janelas. Atualmente este dispositivo é mais comum em cidades que têm muitos apartamentos. Uma pessoa que deixa um vaso na janela. Um dia chove forte, venta e o vaso cai. Mesmo que diga que “não teve culpa”, vai responder pelo dano que causar. RESPONSABILIDADE POR COBRANÇA DE DÍVIDANÃO VENCIDA O credor que demandar o devedor antes do vencimento da dívida estará agindo de má-fé, devendo por isso esperar o tempo que faltava para o vencimento, descontar os juros correspondentes e pagar as custas em dobro (art. 939 CC). RESPONSABILIDADE POR COBRANÇA DE DÍVIDA JÁ PAGA Aquele que cobrar dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que lhe for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado, e, no segundo caso, o equivalente ao que exigiu (art. 940 CC). RESPONSABILIDADE DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS Prevê o artigo 951 do Código Civil que o profissional da área de saúde somente terá responsabilidade se provada a sua culpa por imprudência, negligência ou imperícia (responsabilidade subjetiva). Isso porque, regra geral, tais pessoas assumem obrigação de meio (ou de diligência). É a regra contida também no Código de Defesa do Consumidor (art. 14, §4º - Lei nº 8.078/90), que prevê a responsabilidade subjetiva do profissional liberal como exceção responsabilidade sem culpa das empresas prestadoras de serviços e fornecedoras de produtos. INDENIZAÇÃO (arts. 944 a 954 CC) A indenização será medida pela extensão do prejuízo causado. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o Juiz promover a redução eqüitativa do montante indenizatório. Se a vítima concorreu, culposamente, para a ocorrência do evento danoso, a indenização será fixada levando-se em conta a gravidade de sua culpa em relação à do lesante. Se a quantia indenizatória a que tem direito o lesado não puder ser expressa por um algarismo ou cifra, necessita de prévia apuração do valor das perdas e danos. Para essa apuração será realizado um processo chamado de liquidação da sentença, que fixará o valor em moeda corrente a ser pago ao credor. Há casos em que a lei determina como será feito o cálculo. Vejam bem: a lei apenas determina o quê será levado em conta para o cálculo. O nosso Código não fez uma tabela de indenização: Homicídio se paga “X”, Lesão corporal se paga “Y”. Não! Não é uma tabela de indenização, porque “cada caso é um caso”. Imagine um pai de família que foi morto e essa pessoa deixou esposa grávida e um outro filho recém nascido. É uma situação. Agora imagine um caso em que a pessoa que foi morta possui um filho, maior de idade, que vive com a mãe em outro Estado. Neste caso o filho até teria direito a indenização, mas de forma bem diferente (e logicamente com valores menores) do que no primeiro caso. Assim o que se leva em conta: Homicídio - a indenização consiste, sem excluir outras reparações: a) no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; b) na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima. Lesão ou outra ofensa à saúde - o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez. Usurpação ou esbulho do alheio - além da restituição da coisa, a indenização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o devido a título de lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar o seu equivalente ao prejudicado. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa, estimar-se-á ela pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto que este não se avantaje àquele. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 52 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Injúria, difamação ou calúnia - a indenização consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao Juiz fixar, eqüitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso. Ofensa à liberdade pessoal - a indenização consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal: a) o cárcere privado; b) a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé; c) a prisão ilegal. DIREITOS REAIS CONCEITO. Até o início do século XX, preferia-se a expressão direito das coisas. E hoje a expressão mais consagrada é a de direitos reais. Os direitos reais traduzem o conjunto de normas e princípios reguladores das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem, segundo uma finalidade social. Pessoa Direito real = Relação jurídica real: é vertical Coisa O direito das obrigações é horizontal: Credor devedor O professor Arruda Alvim aponta importantes características da relação real (dos direitos reais), exemplos: Legalidade ou tipicidade (os direitos reais estão previstos na lei, não se pode criar ou inventar outros direitos); Eficácia erga omnes (os direitos reais são oponíveis a qualquer pessoa); Publicidade (os direitos reais são públicos, mormente os imóveis em que há o sistema de registro); Seqüela (significa que se pode perseguir o que é seu). POSSE Teorias explicativas da posse Essas duas teorias têm a mesma base: direito romano. O direito alemão absorve o direito romano e reconstrói o direito da posse. Teoria subjetiva (SAVIGNY): Para Savigny, o conceito de posse seria decomposto em animus (a intenção de ter a coisa para si) e corpus (a apreensão física da coisa). Teoria objetiva (IHERING): Ihering, por sua vez, em sua teoria simplificada da posse, de maneira mais objetiva afirma que o corpus pode ser um elemento implícito, de maneira que a posse seria apenas a exteriorização da propriedade, ou seja, possuidor seria aquele que objetivamente se comportasse como proprietário, imprimindo destinação econômica à coisa. Exercício de poder da propriedade. Ao longo do séc. XX, doutrinas sociológicas da posse foram se desenvolvendo (Hernandez Gil, Raymond Saleilles) forçando uma reconstrução das teorias clássicas na perspectiva do Princípio da função social. Segundo a professora Mariana Santiago a teoria de Savigny influenciou especialmente a França, Portugal, Itália, Espanha. Já a teoria de Ihering influenciou especialmente Alemanha, Suíça, China e México. O código civil brasileiro, em seu artigo 1196 abraça a teoria objetiva de Iheringreconstruída com base no princípio da função social. Teoria de Ihering com finalidade sociológica. Qual teoria foi adotada pelo CC brasileiro? Nosso Código Civil foi muito influenciado pela teoria de Ihering. Da leitura do art. 1196 concluimos haver sido adotada a teoria objetiva de Ihering, porém reconstruída na perspectiva da função social. Mas, não é correto dizer que Savigny nada represente. Em determinados pontos do sistema, nota-se a sua influência a exemplo da exigência do animus para a usucapião. Ex: o locador exerce o poder de propriedade porque frui aluguéis. A posse, portanto, é o exercício de fato, pleno ou não dos direitos de propriedade. A doutrina de Savigny, posto sem influência tão profunda de Ihering em nosso código, interfere em alguns importantes pontos, a exemplo da exigência do animus domini para a usucapião da propriedade. Qual é a natureza jurídicada posse? http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 53 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Segundo o Ministro Moreira Alves, em seu tratado dedicado a posse – Ed. Forense, haveria basicamente 2 correntes: 1ª Teoria. A posse seria um direito de natureza real (direito subjetivo) (Ihering, Teixeira de Freitas). 2ª Teoria. A posse seria um fato tutelado pelo Direito, ou seja, a posse é um fato cujos efeitos são reconhecidos pelo Direito (Direito = sistema, ordenamento jurídico) (Marcel Planiol, Geraldo Vilaça). 3ª Teoria. A posse teria como natureza jurídica um Fato + direito. A posse é um fato protegido pelo direito (fato tutelado pelo direito). VIDE A PALAVRA “FATO” NO ART. 1196. A posse ontologicamente é um fato, dela decorrem direitos. A posse em si é um fato, que não impede que ela produza efeitos jurídicos. Tanto é que no art. 1225 do CC no rol de direitos reais não está arrolada a posse! Portanto, a posse não é um direito real para o Direito brasileiro. A posse, de per si, não é direito real, mas sim um fato que cria direitos e é protegido pelo Direito. Existe posse de direitos? Obs.: Excepcionalmente, deve-se admitir a posse de direito, como se deu na Súmula 193 do STJ (Posse de direito de uso). Com base nessa Súmula pode-se usucapir linha telefônica em razão da posse de direito de uso. Questões especiais de concurso O que é fâmulo ou servidor ou gestor da posse? Fâmulo da posse é também chamado de servo da posse ou gestor da posse. Trata-se do mero detentor da coisa, aquele que conserva a posse em nome de outrem (art. 1198 do CC). Tem animus detinendi. É o detentor (serve a posse). Ex: Motorista particular, bibliotecário, caseiro. Não pode ser considerado possuidor. Há no STJ entendimento no sentido de que ocupação de área pública é mera detenção e não possessão (RESP 489732-DF). A matéria não é pacífica. Crítica: o bem público pode ser possuído, não pode ser usucapido! O que é constituto possessório? Cláusula constituti. Trata-se da operação jurídica que altera a titularidade na posse, de maneira que aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome alheio. Ex: Pedro possui uma casa em seu nome, Felipe compra a casa, mas no contrato Pedro continua como inquilino. O que é traditio breve manu? É o contrário do constituto possessório, ou seja, opera-se quando aquele que possuía em nome alheio passa a possuir em nome próprio. Vg. o inquilino que possui em nome alheio e compra a casa, passa a possuir em nome próprio. A traditio longa manu é uma espécie de tradição simbólica. Vg. fazendeiro que indica o gado que vai entregar de longe, é como se estivesse fazendo a tradição na hora. O que é auto tutela da posse? Trata-se de meio legítimo de defesa, exercido segundo o princípio da proporcionalidade, em duas situações, previstas no §1º do art. 1210 do CC. A auto tutela é uma justiça com as próprias mãos segundo o princípio da propriedade. Revela-se por meio da legítima defesa e o desforço incontinente. O que é patrimônio de afetação? Tem a ver com alienação fiduciária. Segundo o professor Hercules Aghiarian este “sistema de direito real de garantia” vincula um conjunto de bens ao empreendimento realizado pelo incorporador visando a garantir maior segurança jurídica de possuidores e proprietários no mercado imobiliário (a lei que disciplinou o patrimônio de afetação no Brasil foi à lei 10931/04). Existe posse de direitos? Pode-se possuir direitos, ou só se pode possuir coisas? Menezes Cordeiro em sua obra (A posse: perspectivas dogmáticas atuais), corretamente, afirma que a posse só surge no domínio das coisas corpóreas, podendo ser aplicada em outros campos apenas em situações justificáveis. A posse incide em coisas tangíveis (código da Grécia). É o melhor entendimento = a posse refere-se a coisas. No entanto, como vimos, podemos apontar uma situação excepcional de posse de direitos na súmula 193 do STJ. É a posse de um direito que leva ao usucapião. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE A) Quanto ao exercício, a posse pode ser DIRETA ou INDIRETA. Posse direta: é aquela que o possuidor tem contato material com a coisa. Ex: Inquilino, locatário, comodatário. O possuidor direto tem direito de ação possessória contra o possuidor indireto. 1. Posse indireta: já na indireta, o possuidor, embora materialmente afastado da coisa, exerce poderes de propriedade. Ex: locador (não tem contato material com a coisa, embora exerça poder de propriedade). Se o locador estiver enchendo o caso (turbando) o locatário poderá manejar ações possessórias. O que é composse? A composse traduz o exercício simultâneo da posse, podendo ser “pro diviso” ou “pro http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 54 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB indiviso” (lembra o condomínio, mas esse é o exercício simultâneo da propriedade). “Pro diviso” = cada um possui uma área. “Pro indiviso” = a área é possuída conjuntamente. Art. 1199 do CC. Haverá composse, nos termos do art. 1199, quando duas ou mais pessoas exercerem posse ao mesmo tempo sobre coisa indivisível. A composse “pro indiviso” é aquela em que os possuidores indistintamente exercem posse sobre a área. A composse “pro diviso” é aquela em que os possuidores fizerem uma divisão fática para melhor utilizar a coisa. Se 3 pessoas tem o direito de posse sobre a coisa indistintamente. Ainda que a posse seja conjunta e juridicamente os 3 tenham direito sobre tudo, se eles quiserem dividir a área entre eles para viabilizar a utilização, a composse é “pro diviso”. B) Quanto a existência de vício, nos termos do art. 1200 do CC, a posse pode ser JUSTA ou INJUSTA: 1. Justa: a posse que não for violenta, clandestina ou precária. 2. Injusta: a posse que for violenta, clandestina ou precária. Durante o tempo que se processa o ato de violência ou de clandestinidade, não existe posse por parte dos invasores. Cessada a violência ou clandestinidade, o invasor que usou de violência ou clandestinidade exerce posse injusta. Quando o invasor exerce posse, a partir do momento que cessa a violência, o invasor exerce uma posse injusta porque deriva da violência. Posse injusta: posse nova (cabe liminar se tiver até um ano e dia) ou velha (rito ordinário, cabendo a antecipação dos efeitos da tutela). Se ingressa com a possessória no prazo de ano e dia, a posse é nova cabendo a liminar. Mas passado ano e dia, a posse do invasor não se torna justa. O prazo ano e dia é para verificar se a posse é velha ou nova (se cabe ou não liminar). Se ingressar com ação possessória, não tem mas direito a ação liminar possessória, mas ainda pode convencer. O direito a liminar nas ações possessórias (interdito proibitório, reintegração de posse e manutenção de posse): só existirá se a agressão a posse datar de menos de ano e dia. Se a posse é superior ano e dia a posse não se torna justa, o que o proprietário não terá mais é a possibilidade de concessão liminar (caberá, entretanto, antecipação de tutela). Passado o ano e dia, o proprietário continua tendo o direito de se defender, embora não tenha mais direito a liminar. Se o proprietário não ingressar com ação possessória ou reivindicatória e o possuidor foi possuindo, ele (o possuidor) poderá usucapir a área. Usucapindo a área ele torna legítima a sua posse. “A concessão da posse precária é lícita.” Isso porque a posse precária é uma posse concedida a título de favor, como se dá no comodato. Nessa linha, nada há de ilícito em sua concessão (Clóvis Beviláqua). A concessão da posse precária é lícita. Entretanto, exigida a devolução da coisa pelo titular do direito, havendo recusa injustificada dopossuidor, em evidente quebra da confiança, a posse exercida passará a ser injusta pelo vício da precariedade. Denomina-se interversão da posse (enunciado 237 da 3ª Jornada de Direito Civil) a situação em que o até então mero possuidor afronta o proprietário como se ele mesmo fosse o dono da coisa. Pode até justificar a usucapião. Qual é a diferença entre a posse precária lícita e a precariedade como vício da posse? A concessão da posse precária é lícita, na medida em que se entende a posse precária como a posse de favor (vg. emprestar o apartamento – posse de favor é uma posse precária). No momento em que o que exercia a posse de favor e se recusa em devolver a coisa enfrentando o proprietário, quebrando a confiança da posse de favor surge a precariedade como vício da coisa. A partir desse momento a posse passa a ser posse injusta. Em síntese: A concessão de uma posse precária, a título de favor é perfeitamente lícita, a exemplo no que se dá no comodato; no entanto, no momento em que reclamada a devolução da coisa, o possuidor em quebra de confiança recusar-se a efetivá-la, atuando como se ele fosse o proprietário (interversão da posse), surge o vício da precariedade exercendo-se a partir dali posse injusta. Enunciado 237 da 3ª jornada de direito civil. Nos inventários, o herdeiro que esteja possuindo imóvel a título de favor, quando notificado a devolvê-lo, caso não o faça passa a exercer posse injusta, podendo até mesmo usucapir o bem. C) Quanto ao elemento subjetivo (ou psicológico): a posse pode ser de BOA ou de MÁ-FÉ, art. 1201 do CC. 1. Boa-fé: a posse é de boa-fé quando o possuidor ignora o vício que macula a sua posse (haverá em seu favor presunção relativa de boa-fé caso detenha justo título). O possuidor de boa-fé desconhece o vício da sua posse. Permanece em um estado de inocência. 2. Má-fé: já o possuidor de má-fé tem ciência do vício que macula a sua posse. O que se entende por justo título? Tradicionalmente, a doutrina brasileira costumava a apontar que justo título seria o título hábil a transferência da posse e da propriedade, embora http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 55 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB portador de vício. Vg. formal de partilha viciado, escritura pública viciada. Em uma perspectiva social da posse, nos termos do Enunciado 303 da 4ª jornada de direito civil, não se deve dar intelecção formal ao conceito de justo título, reclamando a análise do caso concreto: “considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse”. Ex: recibo de caderno referente à compra de fazenda. CUIDADO!! Não confundir posse justa e injusta com posse de boa-fé e de má-fé!! Em geral, a posse injusta é de má-fé e a justa é de boa-fé. Todavia, tais critérios não são idênticos. Por exemplo, nos termos do art. 1203, CC, poderá haver uma posse injusta de boa-fé na transmissão de uma herança. Toda posse injusta é posse de má-fé? Pode ter posse de boa-fé injusta? Excepcionalmente, podemos ter posse injusta e de boa- fé, como também podemos ter uma posse justa e de má-fé. Art. 1203 do CC. Quando se adquire uma posse por herança se recebe com as mesmas características que a posse tinha antes. Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. Ex: Posse injusta de boa-fé: avó que com violência ocupou uma fazenda. Falsificou no cartório como se a posse fosse dele. É uma posse injusta. O neto adquiriu sem saber. Então quando o herdeiro sem saber recebe uma posse injusta a posse continua injusta. Flávio Tartuce e José Simão dão o exemplo de uma posse justa de má-fé. Ex: locatário que pretende usucapir imóvel no curso do contrato. A posse é justa pois deriva do contrato de locação. Ex: Posse justa de má-fé: contrato de locação, posse justa! No entanto o locatário está possuindo o imóvel com a intenção de usucapir. É má-fé. É justa. ATENÇÃO!! Qual é a diferença de jus possidendi X jus possessionis: O jus possidendi é o direito à posse, derivado de um título de propriedade (deriva de um título de domínio!). Já o jus possessionis é o direito derivado da posse, independentemente de título, permitindo inclusive proteção possessória. É o direito da posse que decorre do fato da posse. Não tem o título da posse. Ler os seguintes artigos do Código Civil: Quem pode adquirir a posse (art. 1205 do CC). Modos de perda da posse (art. 1223 do CC). EFEITOS DA POSSE Alguns efeitos da posse serão vistos em momento oportuno (usucapião como, por exemplo, a usucapião). EFEITOS: - Percepção de frutos e produtos - Autotutela da posse - Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa - Indenização pelas benfeitorias realizadas. 1. Percepção dos frutos e produtos: Obs: fruto não é igual a produto. Fruto: é espécie de bem acessório, uma utilidade renovável que a coisa principal gera e cuja percepção não diminui a sua substância. Ex: laranja. O laranjal não vai diminuindo. Bezerra, a vaca tem potencial para gerar mais bezerros. Produtos manufaturados de uma fábrica. Fruto civil: aluguel, juro. Produto: os produtos são utilidades que não se renovam cuja percepção diminui a substancia da coisa principal. Vg. petróleo. Ouro, minério. Ex: fazenda que eu pensava ser minha e que possuía minérios. Quando descobri que não era, precisei devolver a propriedade e devolver os minérios colhidos, pois a lei (art. 1214). As regras no que tange aos frutos estão previstas explicitamente nos artigos 1214 a 1216 do CC. A depender da boa ou da má-fé do possuidor, nos termos dos arts. 1214 a 1216, os efeitos jurídicos referentes aos frutos poderão variar. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Fruto percipiendo – é aquele que deveria ter sido colhido e não foi. Em geral, quando o possuidor foi citado da ação reinvidicatória ele deixa de ter boa-fé. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos percebidos e colhidos. Ele pagará indenização pelo fruto que deveria ter colhido e não colheu, são os chamados frutos percipiendos. Os frutos pendentes também serão devolvidos com a coisa principal. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 56 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB OBS: quanto aos produtos, nos termos do art. 1232 do CC, e em uma interpretação literal, o possuidor deverá restituí-los ao verdadeiro proprietário, esteja o possuidor de boa-fé ou não. Em uma segunda linha de pensamento, em uma perspectiva sócio-econômica e em respeito a boa-fé do possuidor, este não poderá ser constrangido a restituir os produtos extraídos até o dia que tomou ciência do vício que macula a sua posse. A segunda análise tem uma perspectiva mais valorativa da posse. Vg. carvão mineral retirado durante 2 anos de uma propriedade cuja posse foi adquirida por herança. Os artigos do CC falam de frutos. No caso do carvão mineral trata-se de produto! Se uma prova der uma questão envolvendo produto, tem-se 2 linhas a seguir. Não se pode determinar uma corrente majoritária. Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem. 2. AUTOTUTELA DA POSSE Trata-se de meio legítimo de auto-defesa, a ser exercido segundo o Princípio da proporcionalidade, operando-se em duas situações: a) Legítima defesa (Está sendo turbado) b) Desforço incontinenti (já foi esbulhado) c) Art.1210, §1º, CC. Trata-se de meio legítimo de defesa, exercido segundo o princípio da proporcionalidade, em duas situações, previstas no §1º do art. 1210 do CC. A auto tutela é uma justiça com as próprias mãos segundo o princípio da propriedade. Revela-se por meio da legítima defesa e o desforço incontinente. 3. Indenização pelas Benfeitorias realizadas: Quanto as benfeitorias realizadas, regulam a matéria os artigos 1219 a 1222 do CC. Possuidor de boa-fé: - Benfeitoria necessária ou útil direito de indenização e de retenção (enquanto a indenização devida não for paga). - Benfeitoria voluptuária se não for paga pelo proprietário, o possuidor de boa-fé poderá levantá-la, ou seja, retira-la (Jus tolendi), desde que o faça sem danificar a coisa principal. Possuidor de má-fé: - Benfeitorias necessárias só o direito deindenização (não poderá reter o imóvel). - Benfeitorias úteis e voluptuárias não terá qualquer direito. Obs.: O art. 35 da lei 8245/91, norma especial aplicável Possuidor de boa-fé Possuidor de má-fé Benfeitorias necessárias Direito de indenização e retenção. Só indenização (não tem direito de retenção) Benfeitorias úteis Direito de indenização e retenção. ---- Benfeitorias voluptuárias Jus tolendi (direito de retira- lo do imóvel, sem danificar a coisa principal) ----- O possuidor de boa-fé tem o direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis. Também tem direito de levantar as benfeitorias voluptuárias (dá prazer, embeleza), além disso, tem direito de reter o valor das úteis e necessárias até ser indenizado. O único direito que o possuidor de má-fé tem é de receber as benfeitorias necessárias. O possuidor de má-fé pelas benfeitorias necessárias não tem direito de retenção. O artigo 35 da lei do inquilinato (lei 8245/91) ao regular as benfeitorias, estabelece a possibilidade de o próprio contrato trazer regramento específico, inclusive cláusula de renúncia, afastando as normas legais. Art. 35: “Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas são indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção”. A súmula 335 do STJ estabelece que nos contratos de locação é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção. 4. Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa: Ex: Você compra um carro sem saber que é roubado. Você bate o carro. O dono pede de volta o carro. Você deverá indenizá-lo? Essa matéria é regulada pelo artigo 1217 e 1218 do CC. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 57 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Nos termos do artigo 1217 do CC, o possuidor de boa-fé somente responderá pela perda ou deterioração da coisa quando houver atuado com culpa ou dolo. Dar causa significa agir com culpa ou dolo. Vg de dolo: queimada para pasto do gado que se alastrou e queimou floresta da propriedade. Nos termos do art. 1217, o possuidor de boa-fé só responderá quando atuar com culpa ou dolo. Já o possuidor de má-fé responde inclusive se o dano for acidental. Flávio Tartuce e José Simão, afirmam no caso do art. 1218 do CC que a responsabilidade do possuidor de má- fé é objetiva. Responde pelo ônus da coisa ainda que acidentais (dolo, culpa, caso fortuito ou coisa maior). DIREITO DE FAMÍLIA 1. Introdução constitucional do direito de família Nossa Constituição, art. 226, ao considerar a família base da sociedade, consagrou uma cláusula aberta, inclusiva e não-discriminatória. Considerando-se a abertura constitucional do conceito de família, podemos concluir que não apenas as entidades expressamente reguladas (casamento, união estável, núcleo monoparental) mas também outras formas de arranjo familiar merecem a tutela jurídica. A nossa Constituição diz que a família é a base da sociedade e reconhece várias formas de família: casamento, união estável e monoparental. A Constituição Federal brasileira especialmente em seu art. 226 consagrou explicitamente 3 formas de família. a) A família derivada do casamento. b) A família derivada da união estável. c) A família monoparental (um dos pais e sua prole). A nossa constituição significou um grande divisor de águas, pois anteriormente à constituição de 88 o direito de família era extremamente conservadora. Só se reconhecia a família decorrente do casamento. A igreja era a grande legitimadora da família – reconhecimento do casamento como rótulo tradutor da família. No decurso do século XX, o casamento foi passo a passo deixando de ser a única modalidade de arranjo familiar. Quem contribuiu muito para as outras modalidades de arranjo familiar foi o divórcio. Na Alemanha apenas em 2006 houve o reconhecimento de igualdade dos alimentos dos filhos havidos no casamento e fora dele. Segundo o professor Paulo Lôbo, o art. 226 da CF, na mesma linha do jurista Luiz Roberto Barroso, consagra o sistema aberto e inclusivo no conceito de família. Alguns autores como o professor Álvaro Vilassa e Flávio Tartuce são mais comedidos nesse sistema. Para o professor Paulo Lôbo o sistema é aberto: para além dos 3 núcleos constitucionais consagrados, outros arranjos familiares também tem dignidade constitucional a exemplo a união homoafetiva. Ex: madrinha que criou afilhado e irmão que criou outro. São hipóteses que se incluem na possibilidade de arranjo familiar. Não há como negar que esses arranjos sejam família. É um sistema aberto! 2. Conceito e Características da família CONCEITO DE FAMÍLIA A família, base da sociedade, é um ente despersonificado consistente em base de existência moldada pelo vínculo da afetividade. Obs.: A lei Maria da Penha em seu art. 5º traduz a dimensão aberta do conceito ao admitir como membros da família pessoas não aparentadas entre si. Família é ente despersonalizado, base da sociedade modalidade pelo vínculo da afetividade, não cabendo ao Estado aprioristicamente defini-la, mas sim protegê-la – Savatoer Mazeaud. A pessoa é um ente despersonificada moldada pela afinidade. Não cabe ao Estado conceituá-la e se o fizer é em um sistema aberto e não exaustivo. O que é princípio da intervenção mínima no direito de família? Significa que o Estado não pode interferir coercitivamente na tessitura familiar (não pode interferir no núcleo da família). Vg. planejamento familiar a constituição diz que o Estado não pode interferir no planejamento familiar. Vg. O Estado não pode sancionar o casal se tiver havido relativização recíproca da fidelidade (poli amorismo). CARACTERÍSTICAS DA FAMÍLIA Socioafetiva. Família é um conceito socioafetivo. O que molda o conceito de família é o afeto. Não é a técnica da lei que criará ou definirá a família, a lei apenas reconhece aquilo que o afeto já constituiu. Eudemonista. Esta característica, decorrência do próprio princípio da função social da família, visa assegurar que os integrantes de um núcleo familiar possam realizar os seus projetos de vida na busca da sua felicidade pessoal. O conceito de família é um conceito eudemonista. Eudemonismo foi uma filosofia grega que sustentava que a busca do ser humano na terra era a busca da felicidade. Significa que a função social da família é criar a ambiência propícia para que cada um dos seus membros possa a luz da dignidade humana realizar-se como pessoa buscando a sua http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 58 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB felicidade. Ex: aplicação prática: durante décadas a família era um ambiente de opressão (estabilidadedo casamento a qualquer custo independentemente da realização pessoal de cada membro). Anaparental. Isso significa que o núcleo familiar deve abranger também pessoas que não guardem vínculo técnico de parentesco entre si. A família é anaparental. Significa que a família pode ser composta por pessoas que não guardem tecnicamente vínculo parental entre si. Ex: tia de coração. Prima que não é prima, mas foi criado com você. Não há hierarquia entre os arranjos de família! Família não é pessoa jurídica e sim um ente social. Obs.: Vale lembrar que o Princípio da intervenção mínima do direito de família (art. 1513, CC) proíbe que o Estado exerça interferência indevida no âmbito familiar. O planejamento familiar deve ser incentivado, mas não pode ser imposto. 3. Casamento O casamento traduz a união formal entre homem e mulher, calcada nos Princípios da afetividade e da isonomia, visando constituir uma comunhão plena de vida (art. 1511, CC). Classicamente dizia Lafayette Pereira que o casamento era uma união eterna com promessa recíproca de fidelidade. O casamento sob o prisma jurídico não se traduz pela indissolubilidade (indissolubilidade do matrimônio não existe mais desde 1967). O nosso sistema admite o divórcio. Segundo Van Wetter, o casamento traduz a união do homem e da mulher com o objetivo de constituição de família formando uma comunidade de existência notabilidade pela solenidade. Já no art. 1511 do CC consagrou-se explicitamente o princípio constitucional da isonomia entres os cônjuges. 3.1. PLANO DE EXISTÊNCIA DO CASAMENTO Natureza jurídica: 1ª Corrente. Corrente publicista. O casamento é um ato administrativo. Essa corrente não vingou. 2ª Corrente. O casamento é instituto privatista, apesar de ser regulado por normas de ordem pública. Essa corrente prevaleceu. Dentro dessa corrente existem os autores contratualistas e os não-contratualistas. - Não-contratualistas - Contratualistas. Silvio Rodrigues, Rosenvald, Pablo Stolze. Quanto à natureza jurídica ver os apontamentos da aula de contratos! Desde Clóvis Beviláqua, passando por Silvio Rodrigues e Orlando Gomes, é forte a corrente que sustenta ser o casamento um contrato especial do direito de família. O casamento é um contrato, mas não um contrato qualquer. É um contrato especial porque o núcleo do casamento é o núcleo de qualquer contrato, a saber: o consentimento. Requisitos do casamento: Requisitos de EXISTÊNCIA do casamento. No plano de existência, para existir o casamento deve conjugar 3 requisitos: 1. Diversidade de sexos. Na união estável, não se tem esse requisito, por ser instituição informal não tendo as mesmas formalidades e requisitos que o casamento exige. No Brasil, não há norma proibitiva explícita ao casamento entre pessoas do mesmo sexo como se dá no art. 1628 do Código de Portugal. Todavia, em nosso sistema, a diversidade de sexos é aceita por princípio e deriva do próprio sistema regulatório do casamento (arts. 1514, 1517, 1565). Assim, por conta do formalismo típico do casamento (ausente na união estável), seria recomendável uma lei que disciplinasse o casamento entre pessoas do mesmo sexo (a exemplo da Lei espanhola de 1º de julho de 2005). 2. Consentimento. Art. 1538, I, CC 3. Celebração por autoridade materialmente competente. Se a autoridade não possui competência para celebrar o casamento, ele não existe. CUIDADO!! É diferente o caso de autoridade competente para celebrar o casamento em uma comarca, mas não o tem em outra. Assim, apesar de ter competência material, não tem competência territorial. O que faz o casamento ser anulável. Em nosso pensar, casamento celebrado por quem não tenha competência material ou jurisdição é inexistente (delegado de polícia que celebra casamento), mas, se a incompetência é simplesmente relativa o matrimônio é anulável (art. 1550, VI, CC). Com base no Princípio da boa-fé e à luz da teoria da aparência, o art. 1554, CC reconhece efeitos ao matrimônio celebrado por aquele que não tinha competência legal para fazê-lo. Esse efeito é preservado graças à boa-fé dos noivos que não sabiam da incompetência do celebrante. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 59 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB FAMÍLIA CASAMENTÁRIA: É forte no Brasil a corrente doutrinária segundo a qual o casamento seria um contrato especial de direito de família (Clóvis Beviláqua, Orlando Gomes, Silvio Rodrigues). Cuida-se de corrente preponderante. Há quem discorde, afirmando ser um negócio complexo, já que há a participação do juiz. O professor critica fortemente, já que o juiz apenas chancela o ato matrimonial. Orlando Gomes observa que casamento é um contrato à medida que seu núcleo é o consentimento. Pressupostos existenciais do casamento: A – É o consentimento. B – É a diversidade de sexos. Caio Mário afirma ser princípio do direito brasileiro. C – A celebração por autoridade materialmente competente. O desrespeito a essa norma faz com que o casamento seja INEXISTENTE. Se uma autoridade relativamente incompetente realizar um casamento, na forma do artigo 1.550, VI, será INVÁLIDO (é o caso do juiz de paz que realiza casamento em local diverso de sua atribuição – ausência de competência territorial). Art. 1.550. É anulável o casamento: VI - por incompetência da autoridade celebrante. OBS.: a inexistência do casamento pode ser evitada, à luz da TEORIA DO FUNCIONÁRIO DE FATO (decorrência da teoria da aparência). Vide artigo 1.554. CAPACIDADE PARA O CASAMENTO OU CAPACIDADE NÚBIL O artigo 1.517 equiparou as idades para casamento do homem e da mulher. Em que circunstâncias admite-se casamento abaixo dos 16 anos? Diante da recente reforma penal torna-se mais difícil a autorização para casamento abaixo da idade mínima, muito embora, à luz do caso concreto, verificando- se, não apenas a aquiescência dos pais e da vítima, mas também a sua maturidade mormente por conta da atipicidade no campo penal (Nestor Távora). Se os pais negarem o consentimento ou discordarem, o juiz pode suprir essa autorização. Mesmo consentindo, pode-se revogar essa autorização até o dia do casamento. É possível casamento abaixo da idade núbil? Vide artigo 1.520. O artigo 107 do CP, que trata de extinção da punibilidade, sofreu derrogação pela lei 11.106/05, excluindo o casamento como causa de extinção da punibilidade em caso de crime sexual sem violência física (era o caso típico do estupro com violência presumida). OBS.: Embora o casamento não seja mais causa explícita de extinção da punibilidade, em havendo matrimônio, podemos concluir, caso não haja violência real, ter havido renúncia ou perdão da vítima. DEVERES MATRIMONIAIS Deveres do casamento: Previstos no artigo 1.566. CUIDADO!! Se há justificativa ou decisão conjunta, é possível morarem separados. A medida cautelar de separação de corpos suspende o dever de coabitação, geralmente manejada pela mulher. Para parcela da doutrina esse dever de coabitação envolve também o debitum conjugale, ou seja, dever de prestar relação sexual. Entretanto, vários autores hoje em dia negam a existência de tal dever. IMPORTANTE! AC 70016807315 III - mútua assistência; Material e moral. É dever que sobrevive ao divórcio. IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos. Por conta do grande avanço tecnológico dos últimos anos, programas eletrônicos criam comunidades virtuais, a exemplo do “Second life”, que, imitando a vida, permitem a criação de universo paralelo e famílias digitais. Na ótica do Direito de família, a noção de fidelidade é ampla se confundindo inclusive com a lealdade. A doutrina brasileira vem admitindo, na linha da jurisprudência, a possibilidade de ser reconhecer responsabilidadecivil por infidelidade, mesmo virtual, dada a inequívoca agressão a direito da personalidade. NOIVADO Antes. O noivado é a fase dos esponsais, quando os noivos podem aquilatar suas afinidades e gostos para que possam se casar. Hoje. O noivado não é entendido como um contrato, mas sim como uma promessa séria de casamento, cujo descumprimento injustificado, à luz do Princípio da boa-fé, pode evidenciar abuso de direito com a consequente responsabilidade civil do infrator (REsp 251689/RJ, AC 0282469-5/TJPR). INTERESSANTE!!Se não houver fundamento para o exercício tardio do direito, caberá responsabilização. IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 60 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Os impedimentos matrimoniais consistem em requisitos de validade e eficácia do casamento. Para se casar, é preciso passar por procedimento de habilitação. No CC 16, o art. 183, incs. I a VIII, disciplinava os impedimentos ou dirimentes absolutos (nulo). Os impedimentos ou dirimentes relativos estavam previstos nos incisos IX a XII (anulável). Os impedimentos impedientes ou proibitivos estavam previstos no art. 183, inc. XIII a XVI (casamento válido mas com sanção patrimonial). No CC 02, adota-se fórmula diferente para categorizar, pois no CC 16 em um só artigo traziam-se os três tipos de impedimento. Impedimentos. No novo CC, os antigos impedimentos absolutos são tratados como impedimentos, geram a nulidade do casamento e estão previstos no art. 1521, CC. Causas de anulação. Os antigos impedimentos relativos, com alguma modificação, são tratados no novo código como causas de anulação do casamento (art. 1550, CC), tendo obviamente a mesma conseqüência dos anteriores. Causas suspensivas. Os impedimentos proibitivos, com alguma modificação, são tratados no Código novo como causas suspensivas do casamento (art. 1523, CC). A violação dessas causas suspensivas gera sanção patrimonial, que é a imposição do regime de separação obrigatória de bens. IMPEDIMENTOS. Impedimentos matrimoniais: Vide artigo 1521, que correspondem aos antigos impedimentos (ou dirimentes absolutos) do código de 1.916. Havendo violação de impedimento matrimonial, o casamento é considerado NULO, de forma ABSOLUTA (1548). Obs. Nesse rol de impedimentos, não existe mais o dos adúlteros, previsto no CC/16. O adultério não figura mais como impedimento matrimonial. CAUSAS DE ANULAÇÃO Causas de anulação do casamento (1550): Tornam o casamento anulável. OBS.: Deve-se ficar atento às situações de erro essencial, causas de anulação do casamento, previstas nos artigos 1556 e 1557 do CC. A impotência para gerar filhos não anula o casamento. OBS.: Seguindo o alagoano Pontes de Miranda e o cearense Clóvis Beviláqua, o melhor entendimento é no sentido de que a sentença anulatória do casamento tem EFEITOS “EX TUNC”, ou seja, retroativos. Orlando Gomes discorda (minoritário). ATENÇÃO!! O que é casamento putativo (“putare”, do latim imaginar)? É uma ficção jurídica, explicada pela teoria da aparência. É o casamento nulo ou anulável, cujos efeitos jurídicos são preservados em face dos filhos e do cônjuge de boa-fé. É regulado no artigo 1.561 do CC. O juiz protege quem estava de boa-fé. O princípio da boa-fé objetiva não se limita à seara contratual, alcançando também as relações familiares. CAUSAS SUSPENSIVAS As causas suspensivas do casamento retiram o direito de se escolher o regime de bens, sendo obrigatória a submissão ao regime legal de separação obrigatória de bens. Não invalidam o casamento, mas o tornam irregular. Vale dizer, quem casar em violação a causa suspensiva está obrigado a se submeter ao REGIME DE SEPARAÇÃO LEGAL (OBRIGATÓRIA) DE BENS. Vide artigo 1523. 1. NULIDADE DO CASAMENTO Art. 1548, CC. Art. 1549, CC. A nulidade do casamento não deve ser reconhecida de ofício pelo Juiz. 2. CASAMENTO ANULÁVEL Art. 1550, CC Pode ser anulado o casamento sem que os cônjuges saibam da revogação de mandado. Obs.: Os prazos para anulação do casamento estão previstos no art. 1560, CC. Existe grande controvérsia na doutrina no que tange aos efeitos da sentença anulatória de casamento. Efeitos das sentenças: A sentença que declara a nulidade absoluta de um casamento é ex tunc. Autores como Orlando Gomes e Maria Helena Diniz sustentam que a sentença anulatória tem eficácia para o futuro (ex nunc). Todavia, outros autores como Flávio Tartuce, José Simão e Zeno Veloso afirmam que a retroatividade de efeitos é para o passado (ex tunc). http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 61 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB É difícil se afirmar qual a melhor teoria, a jurisprudência não é definida. Em que situações um casamento pode ser anulado por vício de vontade? Art. 1556 a 1558, CC. Embargos 70001036425 Casamento Putativo (livro de Cahali) Conceito. Trata-se, nos termos do art. 1561, CC, de um casamento inválido (nulo ou anulável) contraído de boa- fé por um ou ambos os cônjuges. Por conta da putatividade, os efeitos jurídicos desse casamento devem ser preservados em favor do cônjuge de boa-fé, a exemplo do regime de bens e do direito aos alimentos. Existe controvérsia doutrinária a respeito da preservação ou não dos efeitos jurídicos do casamento putativo por manifestação de ofício do juiz. FORMAS ESPECIAIS DE CASAMENTO - Casamento por procuração. Art. 1542, CC. - Casamento em caso de moléstia grave. Art. 1539, CC. - Casamento nuncupativo (in extremis, in artículos mortis). Art. 1540, CC. - Casamento espírita ou cardecista. Art. , CC. Após profunda polêmica, o TJBA, julgando o MS 34739-8/2005 admitiu a validade jurídica do casamento celebrado em centro espírita. Ao encontro desta tese, o professor Dalmo Dalari, em parecer jurídico (material de apoio), observa que o IBGE, em pesquisa, apontou o espiritismo como uma das religiões brasileiras, não havendo, ademais, lei brasileira alguma que defina requisitos para autoridade religiosa celebrante. Vale lembrar que separação judicial, divórcio, alimentos e união homoafetiva integram a grade do intensivo II. UNIÃO ESTÁVEL Art. 226, §3º, CF – transforma o concubinato em entidade familiar, chamando-o de união estável. Leis que regulamentam esse comando constitucional: Lei 8.971/94 e Lei 9.278/96. Obs. Pessoas impedidas, em regra, não podem constituir união estável, salvo a pessoa casada desde que separada de fato. O que é união estável putativa? É a relação de concubinato entre pessoas impedidas de constituir união estável, a despeito da boa-fé de uma ou ambas as partes. O STJ no resp 789.293/RJ não aceitou a aplicação da teoria. União estável X terceiro de boa-fé – em união estável vige, em regra, o regime de comunhão parcial de bens. Por conta da vulnerabilidade do credor de boa-fé (Arnoldo Wald), é razoável sustentar-se a sua tutela, cabendo ao companheiro prejudicado Obs. Recentemente o STJ, em noticiário de 30.09.09, firmou entendimento de que o espólio é parte legítima para figurar no pólo passivo de ação de reconhecimento e dissolução de união estável (REsp 1080614). O REsp 758548/MG admitiu partilha de valores sacados de FGTS no período da união estável. O Poliamorismo ou Poliamor é uma situação de flexibilização recíproca da fidelidade, em que os partícipes da relação aceitam uma abertura de outros relacionamentos paralelos afetivos. Isso se dá quando o casal admite relacionamentos de afeto paralelos. RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE AFETO. No Direito anglo-americano, a admissibilidade da Responsabilidade Civil nas relações afetivas deu-se na Inglaterra especialmenteem 1962, e os EUA também passaram a admitir a possibilidade de um cônjuge propor ação contra o outro por dolo ou culpa. Aplica-se às relações de família princípios de responsabilidade civil. 1. Responsabilidade Civil no casamento e na união estável Se houver lesão a Direito da personalidade, no casamento ou na união estável, a reparação do dano moral é juridicamente possível. No que tange ao casamento inclusive, existe antigo precedente do próprio STJ (REsp 37051/SP). 2. Responsabilidade Civil por abandono afetivo na filiação. Os tribunais superiores, a despeito da razoabilidade da tese que sustenta o escopo pedagógico da responsabilidade civil por abandono na filiação, tem recusado este entendimento de maneira a reconhecer na perda do poder familiar a única conseqüência possível em face do pai ou da mãe que abandonam seus filhos (REsp 757.411/MG, RE 567.164). MEDIDAS DE DESCASAMENTO: 1 – Separação judicial. 2 – Divórcio. Atenção!!! Com a entrada em vigor da Emenda nº 66, o § 6º do art. 226 passou a ter a seguinte redação: "Art. 226 (...) § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio." http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 62 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Suprimiram-se, assim, os requisitos da prévia separação judicial ou de fato. Persiste o divórcio, mas agora sem necessidade do preenchimento de tais requisitos. Fica claro que a reforma em tela nada mais fez do que facilitar a dissolução do matrimônio, deixando de condicionar o divórcio à prévia separação judicial ou de fato. Em outras palavras, a Emenda nº 66 não excluiu a possibilidade de separação judicial (litigiosa ou consensual); apenas – e isso resta claro da redação de sua epígrafe - disciplinou de forma diversa o instituto do divórcio. No entanto, para a doutrina majoritária, com a entrada em vigor da Emenda nº 66, o § 6º do art. 226 passou a ter a seguinte redação: "Art. 226 (...) § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio." Assim, constata-se duas modificações de impacto: 1) fim da separação judicial; 2) extinção do prazo mínimo para a dissolução do vínculo matrimonial. Portanto, segundo doutrinadores de peso, com a nova disciplina normativa do divórcio, encetada pela Emenda Constitucional em tela, perdem força jurídica as regras legais sobre separação judicial, instituto que passa a ser extinto no ordenamento brasileiro, seja pela revogação tácita (entendimento consolidado no STF), seja pela inconstitucionalidade superveniente pela perda da norma validante (entendimento de Paulo Lobo, Pablo Stolze e Gustavo Tepedino). 4. DAS FORMAS DE DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO Sob o amparo de uma sociedade conservadora e influenciada pela Igreja, principalmente a Católica, o casamento foi considerado por muito tempo indissolúvel, o que impossibilitava àqueles que contraiam núpcias a possibilidade de desfazer a união, que era considera eterna. 4.1 Histórico da dissolução do casamento no Brasil No Brasil, o instituto que primeiro tratou da dissolução do casamento foi o desquite, seja ele consensual ou litigioso, que se encontrava regulamentado basicamente nos artigos 315 a 328 do CC/16. Contudo, tal instituto admitia somente o término da sociedade conjugal, mantendo-se íntegro o vínculo, o que impossibilitava aos cônjuges contrair novas núpcias isto porque, naquela época, o vínculo conjugal, se válido, somente terminava com a morte de um dos cônjuges, conforme preceituava o art. 315: Art. 315. A sociedade conjugal termina: [...] III. Pelo desquite, amigável ou judicial. Parágrafo único. O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges, não se lhe aplicando a presunção estabelecida neste código, art. 10, segunda parte. Nesse sentido leciona Stolze (2010, p. 39): Nessa fase, há apenas o desquite, instituto de influência religiosa que gerava somente a dissolução da sociedade conjugal, com a manutenção do vínculo conjugal e a impossibilidade jurídica de contrair formalmente novas núpcias, o que gerava tão só “famílias clandestinas”, destinatárias do preconceito e da rejeição social. Verifica-se, portanto, que o Código Civil de 1916, considerava o casamento indissolúvel, uma vez que permitia apenas a dissolução da sociedade conjugal, mantendo-se o vínculo. A indissolubilidade do casamento possuía também previsão constitucional, conforme se pode verificar nas Constituições Brasileiras de 1934, 1937, 1946 e 1967. Todavia, a Emenda Constitucional (EC) nº. 09 de 28 de junho de 1977 deu nova redação ao art. 167, § 1º da Constituição Federal de 1967, e pôs termo a indissolubilidade do vínculo, nos seguintes termos: “o casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que haja prévia separação judicial por mais de três anos”. Na esteira da Emenda Constitucional nº. 09/1977 foi editada a Lei 6.515 de 26 de dezembro de 1977, que regulamentou, em sede infraconstitucional, o divórcio, razão pela qual é conhecida como Lei do Divórcio. Essa lei passou a regular os casos de dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, revogando as disposições contidas no Código Civil de 1916. Ressalta-se que para que fosse aprovada a Lei do Divórcio, necessário se fez manter o desquite previsto no Código Civil de 1916, porém com a sua nomenclatura alterada para separação, seja ela consensual ou litigiosa, mantendo-se a mesma característica: dissolução apenas da sociedade conjugal. Contudo, a referida lei foi além, uma vez que em seu bojo autorizou a dissolução de todo o vínculo conjugal através do divórcio, isto é, colocou termo a todos os direitos e deveres recíprocos entre os cônjuges, autorizando, inclusive, novo casamento. Sendo assim, àquelas pessoas que se encontravam separadas judicialmente (antigo desquite) por mais de três anos, poderiam requerer a qualquer tempo a sua conversão em divórcio, uma vez que esta permissiva encontrava-se amparada no art. 25 da Lei 6.515/77. Tal lei ainda autorizou o divórcio direto se as partes estivessem separadas de fato, com início anterior a 28 de junho de http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 63 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB 1977, desde que completados cinco anos, conforme redação dada pelo art. 40. Cumpre esclarecer que apesar da lei em comento ter previsto a possibilidade dos cônjuges se divorciarem, tal pedido só poderia ser formulado uma única vez, conforme redação do art. 38, o que mais tarde foi revogado pela Lei 7.841/89, sendo permitido o divórcio sem limitação de quantidade, ou seja, quantas vezes fossem necessárias. A Constituição Federal de 1988, em muito contribuiu para o Direito de Família, principalmente no tocante a dissolução do casamento, uma vez que em seu art. 226, § 6º reduziu o lapso temporal da conversão da separação em divórcio de três para um ano, e, além disso, estabeleceu a possibilidade do divórcio direto, se comprovada à separação de fato por mais de dois anos. O Código Civil de 2002 não trouxe nenhum avanço significativo com relação ao tema, desperdiçando o legislador uma excelente oportunidade de extinguir a separação judicial, que não mais se justificava e nem se justifica no atual estágio da sociedade. 4.2. Divórcio e Separação pela via extrajudicial – Lei 11.441/07 A Lei 11.441 de 04 de janeiro de 2007 acrescentou o art. 1.124-A ao Código de Processo Civil e possibilitou, além de outros, a realização da separação e do divórcio, via administrativa, ou seja, pelo cartório através de escritura pública, sem que haja homologação judicial, o que representa um avanço no Direito de Família. Pablo Stolze explica que “a nova legislação trouxe agilidade e economia [...],facilitando o procedimento”. Desta forma, alguns requisitos devem ser observados para que as partes possam usufruir desse novo sistema. O primeiro deles é a presença obrigatória de advogado. Além do mais, tanto o processo de separação quanto o de divórcio devem ser consensuais, devendo ambas as partes recusar a reconciliação. Um ponto crucial para decretação da separação e do divórcio extrajudiciais é a ausência de filhos menores ou incapazes, uma vez que, nestes casos, é imprescindível a intervenção do Ministério Público. Ressalta-se que a presença das partes neste procedimento é dispensável, podendo as mesmas se fazer representar por mandatário constituído, através de instrumento público com poderes especiais. No tocante a separação, é licito as partes o restabelecimento da sociedade conjugal, mesmo que a separação tenha se dado judicialmente. E ainda, poderá a separação ser convertida em divórcio, obedecido os requisitos legais, inclusive se tal conversão decorrer de sentença judicial. Já com referência ao divórcio, desde que observadas às exigências previstas na lei, poderá o mesmo ser decretado. Importante ressaltar que se já proposta a ação judicial, os cônjuges podem a qualquer momento optar pela escritura, podendo suspender o processo por trinta dias ou desistir da via judicial. Desta forma, conclui-se que a finalidade da Lei 11.441/07 é simplificar os processos de separações e divórcios, evitando desnecessária intervenção judicial, uma vez que as partes estão em total acordo. 4.3 A separação – Antes do advento da EC 66/2010 A separação judicial é uma medida preparatória para o divórcio e tem o condão de apenas dissolver a sociedade conjugal, mantendo o vínculo matrimonial, o que impede novo casamento. Por esta razão, necessário se faz, antes de adentrar no mérito da discussão, apresentar a diferença entre dissolução da sociedade conjugal e do vínculo conjugal, para melhor compreensão do tema. Pereira assim esclarece: “A extinção da sociedade conjugal não pressupõe o desfecho do vínculo matrimonial; ela põe termo às relações do casamento, mas mantém intacto o vínculo, o que impede os cônjuges de contrair novas núpcias”. E ainda, Diniz (2004, p. 230): “Percebe-se que pode haver dissolução da sociedade conjugal sem a do vínculo matrimonial, mas todo rompimento do vínculo acarreta, obrigatoriamente, o da sociedade conjugal”. Em outras palavras, com o processo de separação judicial apenas desaparece a sociedade conjugal, terminando os deveres de fidelidade recíproca, coabitação e o regime de bens, permanecendo o óbice de convolar novas núpcias, o que será possível apenas com a dissolução do vínculo conjugal. De acordo com o vigente Código Civil, duas são as formas de separação judicial: Consensual e Litigiosa. A separação consensual, também conhecida como amigável ou por mútuo consentimento ocorre quando os cônjuges decidem, de comum acordo, dar fim a sociedade conjugal. O procedimento judicial da separação judicial está disciplinado no Código de Processo Civil (CPC), nos arts. 1.120 a 1.124-A, devendo o mesmo ser observado, sob pena de nulidade. Oportuno citar o art. 1.574 do CC: “Dar-se-à a separação judicial por mútuo consentimento dos cônjuges se forem casados por mais de um ano e o manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente homologada a conversão”, que faz concluir que o único requisito para concessão da separação judicial consensual, além do mútuo http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 64 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB consentimento é que os separandos estejam casados por mais de um ano. Conclui-se que nesta modalidade de separação não há a necessidade de demonstrar os motivos que levaram o casal a querer se separar, bastando apenas à duração de um ano do casamento e é claro, conforme já dito, o mútuo consentimento. Vale ressaltar que, conforme exposto acima, a separação consensual poderá ser realizada via administrativa, desde que não haja filhos menores ou incapazes. Já a separação judicial litigiosa ocorre quando apenas um dos cônjuges formula o pedido, imputando ao outro grave violação dos deveres conjugais ou a insuportabilidade da vida em comum, é o que dispõe o art. 1.572 do CC. Diniz (2004, p. 268) aduz: “Permite o art. 1.572 do Código Civil a separação judicial a pedido de um dos cônjuges, mediante processo contencioso, qualquer que seja o tempo de casamento, estando presentes hipóteses legais, que tornam insuportável a vida em comum”. A doutrina criou três espécies de separação litigiosa, quais sejam: separação sanção, separação falência e separação remédio. A separação sanção ocorre quando há ocorrência de conduta culposa, encontrando-se prevista no art. 1.572 do CC, “qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum”. Nessa linha de raciocínio, Diniz (2004, p. 169) afirma que a separação litigiosa como sanção “se dá quando um dos consortes imputar ao outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres matrimoniais e torne insuportável a vida em comum”. Ressalta-se que o art. 1.573 do CC, dispõe alguns motivos que podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida, quais sejam: adultério, tentativa de morte, sevícia ou injúria grave, abandono do lar conjugal, condenação por crime infamante e conduta desonrosa, podendo o juiz considerar outras situações que tornem insuportável a vida em comum. A separação falência se caracteriza quando um dos cônjuges comprova a ruptura da vida em comum há mais de um ano, conforme disciplina o art. 1.572, § 1º do Código Civil. Diniz (2004, p. 275) explica que a separação litigiosa como falência […] se efetivava quando qualquer dos cônjuges provasse a ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituição, não importando a razão de sua ruptura, sendo, ainda, irrelevante saber qual dos consortes foi culpado pela separação, legalizando tão-somente uma separação de fato. Por fim, a separação remédio que se dá quando o outro cônjuge estiver acometido de doença mental grave, manifestada após o casamento, sendo improvável a sua cura e que possua mais de dois anos de duração (art 1.572, § 2º do CC). Já com relação aos efeitos da separação, destaca- se como principal a dissolução da sociedade conjugal a partir do trânsito em julgado da sentença que a julgou (separação litigiosa) ou homologou (separação consensual), além do mais os efeitos da separação judicial irão incidir não apenas sobre a pessoa do cônjuge, mas também na pessoa dos filhos e em relação aos bens. Sobre os efeitos da separação judicial em relação aos cônjuges, Diniz (2004, p. 282-283) explicita os principais efeitos: 1) Pôr termo aos deveres recíprocos do casamento, coabitação, fidelidade e assistência imaterial (CC, art. 1.576), separando, materialmente, os consortes que, em conseqüência, deixam de residir na mesma casa (CC, art. 1.575, 1ª parte), readquirindo os ex-cônjuges o direito de fixarem sozinhos seu domicílio; 2) Impedir o cônjuge de continuar a usar o nome do outro, se declarado culpado pela separação litigiosa [...], caso em que voltará a usar o sobrenome de solteiro, desde que isso seja expressamente requerido pelo vencedor e não se configurem os casos do art. 1.578, I a III, do Código Civil [...]; 3) Impossibilitar a realização de novas núpcias, pois a separação judicial é relativa, já que não dissolve o vínculo. Há impedimento matrimonial, uma vez que o separado não pode casar, por ser pessoa já casada (CC, art. 1.521, VI); 4) Autorizar a conversão em divórcio, cumprido um ano do trânsito em julgado da sentença que decretou a separação judicial [...],ou da decisão concessiva da medida cautelar da separação de corpos [...]; 5) Proibir que a sentença que decretar ou homologar a separação judicial de empresário e o ato de reconciliação sejam opostos a terceiros, antes arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis (CC, art. 980). A separação judicial também produz efeitos com relação aos filhos, principalmente no tocante a guarda destes, a qual será disciplinada livremente se for o caso de separação consensual, ou em se tratando de separação litigiosa, será conferida àquele que apresentar melhores condições de exercê-la. Além do mais, é perfeitamente aceitável que a guarda seja compartilhada. Ainda com relação à guarda dos filhos, será assegurado ao genitor que não possua esta, o direito a visitas. Outro efeito da separação judicial perante os filhos é o dever dos genitores de garantir aos filhos menores e aos maiores inválidos o sustento, mediante o pagamento de pensão alimentícia. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 65 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB No tocante aos efeitos com relação aos bens, tem-se como principal a extinção do regime de bens estabelecido pelos cônjuges, acarretando a liquidação e partilha do patrimônio comum, devendo ser observado o regime de bens adotado pelo casal. 4.4 O divórcio – Antes do advento da EC 66/2010 Divórcio é a completa ruptura da sociedade conjugal e do vínculo matrimonial, que torna o divorciado livre para a celebração de novo casamento civil”. São duas as modalidades de divórcio existentes no ordenamento jurídico pátrio: divórcio direto, que independe de prévia separação judicial e o divórcio indireto, também conhecido por divórcio por conversão, o qual é realizado após prévia separação judicial, ressaltando que ambas as modalidades de divórcio admitem a forma consensual ou litigiosa, conforme for o caso. O divórcio na modalidade direta é aquele que não depende de prévia separação judicial, bastando para a sua decretação à comprovação da separação de fato por mais de dois anos. É o que dispõe o art. 1.580, § 2º do CC: Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que houver decretado a separação judicial, ou da decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos, qualquer das partes poderá requerer a sua conversão em divórcio. [...] § 2º O divórcio poderá ser requerido, por um ou por ambos os cônjuges, no caso de comprovada separação de fato por mais de dois anos. Sendo assim, verifica-se que o divórcio direto pressupõe a existência de prévia separação de fato e que esta separação tenha duração superior a dois anos, não importando a causa. Oportuno salientar que o prazo de dois anos deve ser contínuo, isto é, sem interrupções, uma vez que a cada interrupção o prazo começará a fluir novamente. Ressaltando-se que neste prazo de dois anos o casal se limitou a encontros esporádicos os quais não caracterizam reatamento, não há que se falar em interrupção do prazo. O divórcio indireto ou por conversão poderá ser requerido por qualquer dos consortes se houver decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que decretou ou homologou a separação judicial (art. 1.580 do Código Civil), não havendo espaço para discussão da culpa. Em sua forma consensual, basta que haja acordo de vontade entre os nubentes e que tenha decorrido o lapso temporal exigido, qual seja, um ano; e em sua forma litigiosa o único requisito a ser preenchido é a decorrência do período de um ano. Os efeitos do divórcio, nas palavras de Diniz (2004, p. 308-312), são: 1) Dissolve definitivamente o vínculo matrimonial civil e faz cessar os efeitos civis do casamento religioso que estiver obviamente transcrito no Registro Público (Lei. 6.515/77, art. 24; CC, art. 1.571, § 1º); 2) Põe fim aos deveres recíprocos dos cônjuges; 3) Extingue o regime patrimonial de bens, procedendo à partilha conforme o regime [...]; 4) Faz cessar o direito sucessório dos cônjuges, que deixam de ser herdeiros um do outro, em concorrência ou na falta de descendente e ascendente; 5) Possibilita novo casamento aos que se divorciam [...], observando-se o disposto no art. 1.523, III e parágrafo único, do Código Civil; 6) Não admite reconciliação entre os cônjuges divorciados, de modo que se quiserem restabelecer a união conjugal só poderão fazê-lo mediante novo casamento (Lei n. 6.515/77, art. 33); 7) Possibilita pedido de divórcio sem limitação numérica [...]; 8) Põe termo ao regime de separação de fato se tratar de divórcio direto; 9) Substitui a separação judicial pelo divórcio, se indireto, alterando o estado civil das partes que de separadas passam a ser divorciadas; 10) Permite que os ex-cônjuges, embora divorciados, possam adotar conjuntamente criança, contanto que concordem sobre guarda e regime de visitas, desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal (CC, art. 1.622, parágrafo único) [...]; 11) Mantém o dever de assistência por parte do cônjuge que teve a iniciativa da ação do divórcio por ruptura da vida em comum por mais de um ano e por grave doença mental [...]; 12) Subsiste a obrigação alimentícia para atender às necessidades de subsistência do ex-consorte [...]; 13) Não faz perder o direito ao uso do nome do cônjuge, salvo se, no divórcio indireto, o contrário estiver disposto em sentença de separação judicial [...]; 14) Outorga ao ex-cônjuge o direito a um terço do FGTS, na hipótese do outro ser demitido ou aposentar-se, se assegurado em sentença do divórcio [...]. Ademais, o art. 1.579 do CC esclarece que o divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos, acrescentando em seu parágrafo único que o novo casamento de qualquer dos pais, ou de ambos, não poderá importar restrições aos direitos e deveres em relação aos filhos. E ainda, o art. 1.581 do CC dispõe que o divórcio poderá ser concedido sem que haja prévia partilha de bens. Por fim, cabe salientar que ao ser decretado ou homologado por sentença a separação judicial ou o divórcio, ambos devem ser levados ao Registro Público competente para as devidas anotações, para que produzam os efeitos legais. 5. O NOVO DIVÓRCIO NO BRASIL 5.1 Um pouco da história da Emenda Constitucional nº 66 de 13 de julho de 2010 A Emenda Constitucional nº. 66, promulgada em 13 de julho de 2010, deu nova redação ao art. 226, § 6º da http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 66 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB CF e suprimiu o requisito da prévia separação judicial por mais de um ano ou a exigência da separação de fato por mais de dois anos para a decretação do divórcio. Sendo assim, é cabível que um casal contraia matrimônio em um dia e se divorcie no dia seguinte (ou até mesmo nas horas seguintes). Nesse sentido, Stolze e Gagliano (2010, p. 60) aduzem que “o divórcio passa a caracterizar-se, portanto, como um simples direito potestativo a ser exercido por qualquer dos cônjuges, independentemente da fluência de prazo de separação [...]”. Verifica-se que tal Emenda causou uma enorme revolução no direito brasileiro, mais especificamente no Direito de Família, ao extinguir o instituto da separação do ordenamento jurídico brasileiro, extinção esta que vem suscitando uma série de debates jurídicos. A Emenda nº 66 / 2010 “resultou da iniciativa de juristas do Instituto Brasileiro de Família (IBDFAM), abraçada pelo Deputado Antônio Carlos Biscaia (PEC 413/2005) e reapresentada posteriormente pelo Deputado Sérgio Barradas Carneiros (PEC 33/2007)”. (STOLZE; GAGLIANO, 2010, p. 49). As Propostas de Emenda Constitucional (PEC) possuíam a seguinte redação, no seu texto original: “Art.226 [...] § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio consensual ou litigioso, na forma da lei. (NR)” Stolze e Gagliano (2010, p. 50-51), em sua obra, citam as justificativas apresentadas por ambos os Deputados quando da apresentação das PEC’s, para melhor compreensão do tema: A presente Proposta de Emenda Constitucional nos foi sugerida pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família, entidade que congrega magistrados, advogados, promotores de justiça, psicólogos, psicanalistas, sociólogos e outros profissionais que atuam no âmbito das relações de família e na resolução de seus conflitos. Não mais se justifica a sobrevivência da separação judicial, em que se converteu o antigo desquite. Criou-se, desde 1977, com o advento da legislação do divórcio, uma duplicidade artificial entre dissolução da sociedade conjugal e dissolução do casamento, como solução de compromisso entre divorcistas e antidivorcistas, o que não mais se sustenta. Impõe-se a unificação no divórcio de todas as hipóteses de separação dos cônjuges, sejam litigiosos ou consensuais. A Submissão a dois processos judiciais (separação judicial e divórcio por conversão) resulta em acréscimos de despesas para o casal, além de prolongar sofrimentos evitáveis. Por outro lado, essa providência salutar, de acordo com valores da sociedade brasileira atual, evitará que a intimidade e a vida privada dos cônjuges e de suas famílias sejam revelados e trazidos ao espaço público dos tribunais, como todo o caudal de constrangimentos que provocam, contribuindo para o agravamento de suas crises e dificultando o entendimento necessário para a melhor solução dos problemas decorrentes da separação. Levantamentos feitos das separações judiciais demonstram que a grande maioria dos processos são iniciados ou concluídos amigavelmente, sendo insignificantes os que resultaram em julgamentos de causas culposas imputáveis ao cônjuge vencido. Por outro lado, a preferência dos casais é nitidamente para o divórcio que apenas prevê a causa objetiva da separação de fato, sem imiscuir-se nos dramas íntimos; Afinal, qual o interesse público relevante em se investigar a causa do desaparecimento do afeto ou do desamor? O que importa é que a lei regule os efeitos jurídicos da separação, quando o casal não se entender amigavelmente, máxime em relação à guarda dos filhos, aos alimentos e ao patrimônio familiar. Para tal, não é necessário que haja dois processos judiciais, bastando o divórcio amigável ou judicial (PEC 413/2005, Deputado Antônio Carlos Biscaia). Verifica-se que por tratarem do mesmo assunto, ambas as propostas tramitaram conjuntamente. Já no Senado Federal, receberam o número 28/2009, e tiveram a expressão “na forma da lei”, constante no texto original da proposta, eliminada, para que assim não houvesse qualquer regulamentação por meio de lei ordinária, passando a apresentar a seguinte redação: “o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”. Esta supressão foi amplamente recebida pela doutrina: aprovar uma Emenda simplificadora do divórcio com o adendo ‘na forma da lei’ poderia resultar em um indevido espaço de liberdade normativa infraconstitucional, permitindo interpretações equivocadas e retrógradas, justamente o que a Emenda quer impedir”. (STOLZE; GAGLIANO, 2010, p. 54). Sendo assim, pode-se concluir que o divórcio, a partir da EC 66/2010 poderá ser pleiteado sem a necessidade do implemento de prazos, uma vez que os mesmos, conforme redação no novo texto constitucional, foram suprimidos. Sobre o tema, Dias (2010, p. 77) salienta que: Após a Emenda Constitucional 66/10, o divórcio pode ser requerido a qualquer tempo. No mesmo dia ou no dia seguinte ao casamento. Acabou o desarrazoado prazo de espera, pois nada justifica impor que as pessoas fiquem dentro de uma relação quando já rompido o vínculo afetivo. E continua: “Agora o único modo de dissolver o casamento é por meio do divórcio, quer de forma consensual [...], quer por meio de ação litigiosa.” 5.2 Extinção do instituto da separação judicial Como se sabe, a separação judicial é medida que dissolve apenas a sociedade conjugal, isto é, põe fim apenas a determinados deveres, tais como o de fidelidade recíproca e coabitação, bem como ao regime de bens, permanecendo, contudo o vínculo conjugal, vínculo este que impede os separados de contrair novas núpcias. Pois bem. Com a promulgação da Emenda Constitucional nº. 66/2010 a separação judicial foi banida, sendo tal pedido (de separação) juridicamente impossível. Isto porque, “não podem seguir tramitando demandas que buscam uma resposta não mais contemplada no ordenamento jurídico”, afirma Dias (2010, p. 105). Além do http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 67 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB mais, a EC 66/2010 veio para acabar com a dicotomia: dissolução da sociedade (separação) e do vínculo (divórcio) conjugal, permanecendo apenas este último. Dias (2010, p.105), sendo categórica afirma que a EC 66/10 “entrou em vigor imediatamente, pondo fim a todas as demandas de separação judicial [...] tramitando em juízo ou requeridas extrajudicialmente”. “Finalmente acabou a inútil, desgastante e onerosa separação judicial” (DIAS, 2010, p. 14). Cabe ressaltar que, conforme já mencionado, a extinção do instituto da separação vem causando grandes debates, porém a corrente majoritária vem sustentando que a separação judicial foi extinta do ordenamento jurídico brasileiro. Nesse sentido, Dias (2010, p. 27) afirma que “como o tema é novo, a maioria dos textos são os publicados em jornais ou estão disponíveis na internet. Mas a grande maioria de quem escreveu sobre a novidade sustenta que acabou a separação judicial”. Stolze e Gagliano (2010, p. 56) aduzem que “a partir da promulgação da Emenda, desapareceu de nosso sistema o instituto da separação judicial, e toda legislação que o regulava, por conseqüência, sucumbiu, sem eficácia, por conta de uma não recepção”. Na mesma linha de pensamento, Dias (2010, p. 25): “atualmente o sistema jurídico conta com uma única forma de dissolução do casamento: o divórcio. O instituto da separação judicial simplesmente desapareceu”. Oportuno esclarecer que a maioria dos autores que sustentam a permanência do instituto da separação, seja ela judicial ou extrajudicial, se embasam no fato de que a Emenda Constitucional precisa ter regulamentação em sede infraconstitucional. Todavia, “bom não esquecer que a Constituição Federal ocupa o ápice do ordenamento jurídico. Assim, a alteração superveniente de seu texto enseja a automática revogação da legislação infraconstitucional incompatível”. (DIAS, 2010, p. 30). Além do mais, como no bojo do texto constitucional foi mantida a palavra “pode”, há autores que sustentam que a separação ainda persiste, não sendo extinta, podendo as partes optarem por este caminho (da separação). “A conclusão é para lá de absurda”. (DIAS, 2010, p. 30). Conclui-se, portanto, que a separação judicial não mais existe no direito brasileiro, isto porque, “pensar e sentido contrário seria prestigiar a legislação infraconstitucional, em detrimento da nova visão constitucional, [...].” (SLTOZE; GAGLIANO, 2010, p. 59). Stolze e Gagliano (2010, p. 56) analisam a extinção do instituto da separação judicial sob três primas: Sob o prisma jurídico, com o divórcio, não apenas a sociedade conjugal é desfeita, mas também o próprio vínculo matrimonial, permitindo-se novo casamento; sob o viés psicológico, evita-se a duplicidade de processos – e o strepitus fori – porquanto pode o casal partir direta e imediatamente para o divórcio; e, finalmente, até sob a ótica econômica, o fim da separação é salutar, já que, com isso, evitam-se gastos judiciais desnecessários por conta da duplicidade de procedimentos.Com relação aos processos de separação judicial em curso, em que não tenha havido prolação de sentença, deverá o juiz oportunizar aos interessados, no caso de separação judicial consensual, ou à parte autora, no caso de separação judicial litigiosa, mediante a concessão de prazo, a adaptação ao disposto no §6º do art. 226 da Constituição Federal, e no caso de recusa ou inércia, o feito será extinto sem resolução do mérito, conforme entendimento de Stolze e Gagliano (2010, p.140). Entendimento diverso é o de Dias (2010, p.133) O jeito menos burocrático é intimar as partes para que manifestem expressamente a discordância com a decretação do divórcio, com a alerta de que, se ficarem em silêncio, isso significará que concordam com o decreto do divórcio. Assim, quem concorda não precisa sequer se manifestar. Percebe-se, que em ambos os entendimentos, não há como prosseguir com a ação de separação, seja ela consensual ou litigiosa, devendo o procedimento se adequar ao novo texto constitucional. No caso das pessoas já separadas judicialmente, estas deverão enfrentar novo processo judicial, uma vez que apesar da Emenda Constitucional nº. 66 / 2010 ter banido a separação, não se pode, automaticamente, considerá-las divorciadas. Stolze e Gagliano (2010, p. 139) explicam que entender o contrário, geraria grave insegurança jurídica, o que não é permitido, uma vez que não se pode “modificar uma situação jurídica consolidada segundo as normas vigentes à época da sua constituição, sem que tivesse havido manifestação de qualquer das partes envolvidas”. Importante salientar que a comissão de senadores que analisa o projeto de reforma do CPC, cogita a possibilidade de retirar do novo texto os dispositivos concernentes a separação, para que o novo código se adéque a EC 66/2010, estabelecendo o mesmo para o Código Civil. “O relator-geral da PLS 166/10, senador Valter Pereira (PMDB-MS), está preocupado em adequar os dois códigos à EC 66, informou o seu assessor [...]. Segundo ele, o Ministério da Justiça já sugeriu essa reformulação.”[1] Dias (2010, p. 119), dispõe duas alternativas possíveis aqueles que não quiserem optar pelo divórcio, preferindo seguir a antiga forma paulatina de rompimento do matrimônio, http://www.unisate.com.br/ http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5961#_ftn1 CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 68 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB “tanto a mera separação de fato como a separação de corpos têm os mesmos efeitos da antiga separação judicial. Ambas rompem a sociedade conjugal, fazendo cessar os deveres de coabitação e fidelidade recíproca, bem como acabam o regime de bens, ensejando incomunicabilidade patrimonial”. A separação de fato e a separação de corpos são medidas que não se confundem, isto porque a primeira se constitui pela cessação da vida em comum, enquanto a segunda recebe a chancela estatal. “Assim, quando o casal tiver dúvidas sobre se deseja se divorciar ou não, a separação de fato ou de corpos produz todos os efeitos da extinta separação judicial”. (DIAS, 2010, p. 120). 5.3 Aspectos processuais do novo divórcio O art. 100, I do Código de Processo Civil determina que o foro competente para ação de separação ou da conversão desta em divórcio é o do domicílio da mulher, dispondo, portanto, a mulher de foro privilegiado. Contudo, “com o justo avanço dos direitos da mulher em nosso país, na perspectiva constitucional da isonomia, preceito normativo que pretenda a fixação de foro apenas levando em conta o sexo de uma das partes é anacrônico, injusto, senão surreal”, defendem Stolze e Gagliano (2010, p. 132). Verifica-se que o que deve caracterizar a fixação do domicílio é a hipossuficiência e não a condição sexual. Desta forma, não há que se falar em foro privilegiado da mulher, havendo “[...] de se observar a regra geral de foro de domicílio do réu (art. 94 do CPC) [...].” (STOLZE; GAGLIANO, 2010, p. 132). Oportuno salientar que a incompetência em razão do foro não pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, por se tratar de competência relativa. Assim, caberá a parte interessada se manifestar. No tocante a legitimidade, o art. 1.582 do CC determina que o pedido de divórcio somente competirá aos cônjuges. Essa determinação se dá em virtude do caráter personalíssimo da ação de divórcio. No parágrafo único do mesmo dispositivo, é autorizado ao curador, ao ascendente e ao irmão tal legitimidade, desde que o cônjuge seja considerado incapaz. Muito discutida é a legitimidade do Ministério Público, defendendo Dias (2010, p. 79) que é perfeitamente aceitável, isto porque “ainda que não tenha sido lembrada pelo legislador civil, sua legitimidade é assegurada na lei processual (CPC 82 I e II)”. Flávio Tartuce e José Fernando Simão, explicam muito bem o tema: Assim como a ação de separação judicial, a ação de divórcio é personalíssima, pois o seu pedido somente cabe aos cônjuges (art. 1.582 do CC). Mas no caso de incapacidade do cônjuge para propor a ação (exemplo: cônjuge interditado), a lei prevê a legitimidade do curador do ascendente ou do irmão. Discute-se a legitimidade do MP em casos tais, já que a lei não prevê nesse dispositivo especial. Visando afastar essa dúvida, o PL 6.960/2002 pretende introduzir a legitimidade do Ministério Público. Em relação aos documentos e provas com a simplificação do procedimento, isto é, com a não mais exigência de prazos para concessão do divórcio, o único documento a ser juntado é a Certidão de Casamento. Por óbvio, caso as partes pretendam realizar a partilha e resolver assuntos relacionados aos filhos, deverão juntar os documentos comprobatórios do patrimônio comum e a Certidão de Nascimento, respectivamente. Além do mais, afirma Dias (2010, p. 77), que é indispensável que na ação de divórcio – seja consensual, seja litigiosa – reste decidida a guarda dos filhos menores ou incapazes, o valor dos alimentos e o regime de visitas, por aplicação analógica ao que é determinado quanto a separação (CPC, 1.121). Mesmo não existindo a separação, o procedimento persiste para o divórcio. “Tudo isso, obviamente, sem deixar de levar em consideração os requisitos do art. 282 do vigente Código de Processo Civil.” (STOLZE; GAGLIANO, 2010, p. 136). Conforme disciplina o art. 1.581 do CC, o divórcio poderá ser concedido sem que haja prévia partilha de bens. Contudo, enquanto não houver a partilha de bens entre os divorciados, e um deles ou ambos resolvam se casar, o regime obrigatório a ser adotado é o regime da separação total de bens, uma vez que a não realização da partilha constitui suspensão para o casamento, conforme se depreende nos arts. 1.523, III e 1.641 do CC. Sobre a reconciliação do casal após o ajuizamento da ação de divórcio, será perfeitamente cabível, se a sentença não tiver sido prolatada, mediante a desistência do pedido, que acarretará a extinção do processo sem resolução do mérito. Entretanto, Stolze e Gagliano (2010, p. 138) explicam que: se as partes reconciliarem após o trânsito em julgado, ou seja, após o reconhecimento jurídico definitivo do divórcio, nada mais poderá ser feito senão contrair novas núpcias com o mesmo cônjuge, não havendo limites, como dito, para o ato de casar com a mesma pessoa (desde que atendidas as regras de validade do matrimônio). No tocante ao rito processual, o divórcio atenderá as regras do procedimento de jurisdição voluntária, conforme arts. 1.103 e seguintes do CPC, se consensual. Caso o divórcio seja litigioso, obedecerá as regras do procedimento ordinário, previstas nos arts. 282 e seguintes do CPC. 5.4 Dos efeitos do divórcio após EC 66/201010 http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 69XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Com relação ao uso do nome a partir da EC 66/2010, Dias (2010, p. 133) defende que “com o fim da separação também acabou a odiosa prerrogativa de o titular do nome impor que o cônjuge que o adotou seja condenado a abandoná-lo. Não mais continuam em vigor os artigos 1571,§ 2º e 1.578 do Código Civil”, isto porque não há mais espaço para se discutir a culpa. Já Stolze e Gagliano (2010, p. 110) adotam um posicionamento diferenciado do citado, ao afirmar que o uso do nome só não será perdido caso as partes convencionarem, isto porque no caso de divórcio litigioso a regra será no sentido de que haverá a perda, salvo se alguma das hipóteses do art.1.578 se configurar. Deste modo, por ser um tema novo, a jurisprudência irá tratar de disciplinar tal assunto no decorrer dos anos. Concernente a guarda dos filhos, “há de se levar em conta o interesse existencial da prole, e não a suposta responsabilidade daquele que teria dado causa ao fim do casamento.” (STOLZE; GAGLIANO, 2010, p. 103). Desta forma, a guarda dos filhos será concedida ao cônjuge que apresentar melhores condições exercê-la. Sobre o efeito gerado sobre a prestação alimentícia diz Stolze e Gagliano (2010, p. 111), “se não existe fundamento para discussão da culpa em sede de separação e divórcio, as regras do Código Civil atinentes ao pagamento de pensão alimentícia, que levem em conta esse elemento subjetivo, deverão sofrer o impacto da emenda”. E prosseguem, afirmando que “com o fim da aferição da culpa na seara do descasamento, a fixação dos alimentos devidos será feita com amparo na necessidade ou vulnerabilidade do credor, na justa medida das condições econômicas do devedor”. Constata-se que mesmo anteriormente ao advento da EC 66/2010, os alimentos já eram fixados com base no binômio possibilidade/necessidade, não estando embasados na constatação ou não da culpa. Um aspecto importante a ser citado é a questão da tipologia do divórcio, após a edição da Emenda, único meio de se dissolver o casamento. Isto porque, “não remanescem, [...] as expressões ‘divórcio direto’ e ‘divórcio indireto’, uma vez que todo divórcio passou a ser direto, com a extinta separação [...]”. (STOLZE; GAGLIANO, 2010, p. 64). Além do mais, “até a utilização da expressão ‘divórcio direto’, [...], soa redundante, por não mais remanescer a tipologia do antigo divórcio indireto”, explicam Stolze e Gagliano (2010, p. 64). Sendo assim, o ordenamento jurídico, passou a contar apenas com o divórcio, seja ele consensual ou litigioso, podendo ainda, ser judicial ou extrajudicial, conforme for o caso. É de bom alvitre explicitar que com o desaparecimento do instituto da separação, acabou-se também a possibilidade de sua conversão em divórcio, cabendo somente a decretação do divórcio. “Encontrando-se em andamento o procedimento de conversão da separação em divórcio, em vez da extinção de plano do processo, cabe ao juiz, simplesmente decretar o divórcio”, explica Dias (2010, p. 134). 5.5 Divórcio extrajudicial “De fato, extinta a figura da ‘separação’ (em qualquer modalidade, seja litigiosa ou consensual), não há falar mais, também, em separação extrajudicial”, explicitam Stolze e Gagliano (2010, p. 69). Sendo assim, a Lei 11.441/07 agora apenas trata, com referência a dissolução do casamento, sobre o divórcio. Deve-se observar que, “estando em andamento o procedimento extrajudicial da separação, cabe ao notário certificar as partes da impossibilidade de ser lavrada a escritura”. (DIAS, 2010, p. 132). Caso não haja concordância dos cônjuges no tocante ao divórcio, “não pode o tabelião elaborar a escritura de separação. O ato é nulo”, explica Dias (2010, p. 132). Além do mais, conforme já citado, como não mais existe a separação, não há que se falar em sua conversão em divórcio, razão pela qual “em vez de ser lavrada escritura de conversão, impositivo que o ato notarial seja de divórcio”, elucida Dias (2010, p. 134). Importante destacar que a EC 66/2010 em nada alterou as questões de natureza procedimental, devendo, portanto, serem observadas as mesmas regras. 6. ESPÉCIES DE CASAMENTO 1 – Casamento por procuração (artigo 1542). 2 – Casamento “in articulo mortis” ou “in extremis” (em evidente risco de vida). Também denominado de casamento nuncupativo. - Art. 1.540. 3 – Casamento em caso de moléstia grave (artigo 1534). 7. REGIME DE BENS Trata-se do estatuto patrimonial do casamento, regido pelos princípios da liberdade de escolha, da variabilidade e, com o Código Civil, da mutabilidade. O Enunciado 331 da IV Jornada de Direito Civil admite a mescla de regimes. Espécies de regimes (artigo 1639): 1 – COMUNHÃO PARCIAL. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 70 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB 2 – COMUNHÃO UNIVERSAL. 3 – SEPARAÇÃO DE BENS: CONVENCIONAL e OBRIGATÓRIA. 4 – PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS. O pacto antenupcial é contrato solene, registrado no cartório de imóveis, condicionado ao casamento. Desde 1977, as regras do regime da comunhão parcial de bens são supletivas aos demais regimes. Obs.: Em determinada hipótese, a lei impõe o regime da separação obrigatória ou legal (artigo 1641). Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; (artigo 1523) II - da pessoa maior de sessenta anos; III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. REGIME DE SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA Significa que cada um fica com apenas seus bens. Para abrandar o rigor da separação obrigatória, o STF editou a súmula 377. No regime de separação legal de bens, comunicam- se os adquiridos na constância do casamento. Destacar, entretanto, que essa súmula não transformou o regime de separação obrigatória em regime da comunhão parcial de bens, apenas trazendo para a separação obrigatória um princípio da comunhão parcial. A grande novidade do CC, no que tange ao regime de bens, foi a possibilidade de sua mudança no curso do casamento. § 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. Não pode haver litígio. O pedido deve ser de comum acordo, de forma motivada, devendo haver preocupação em não prejudicar direitos de terceiro. É o juiz da Vara de Família que determina a alteração do regime, e não o do Registro Público, já que se está alterando o status de casado. O Código Civil de 1916 tem eficácia para reger as relações jurídicas decorrentes de casamento firmado antes do CC, já que quem se casou à época aderiu ao regime de bens do Código revogado. Art. 2.039. O regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do Código Civil anterior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916, é o por ele estabelecido. Entretanto, nada impede a mudança de regime de bens para quem se casou sob a vigência do CC de 1916. O STJ já firmou entendimento no sentido de que é possível a mudança do regime de bens para casamentos anteriores ao CC (REsp 730.546/MG e REsp 821.807/PR). COMUNHÃO PARCIAL DE BENS (é o regime geral supletivo) Vide artigos 1.658 a 1.661. Nesse regime, preserva-se o patrimônio pessoal individual anterior ao casamento, formando-se um patrimônio comum de bens adquiridos no curso do matrimônio, nos termos do CC. “É a separação do passado e a comunhão do futuro.” Em geral, na comunhão parcial, integram o patrimônio comum os bens adquiridos onerosamente por um ou ambos os cônjuges, na constância do casamento. Contrário senso, os bens anteriores e os adquiridos gratuitamente na constância do casamento não se comunicam. Art. 1.659. Excluem-seda comunhão: Na comunhão parcial, se a aquisição do bem decorrer de causa anterior ao casamento, não haverá meação. Art. 1.660. Entram na comunhão: I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; II - os bens adquiridos por fato eventual (EX.: LOTERIA), com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; SÓ NÃO ENTRA QUANDO FOR A FAVOR DE UM SÓ. IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge (RENDA DE ALUGUEL, v.g.), percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. O STJ vem entendendo que crédito de salário deve ser dividido. OBS.: No REsp 421.801/RS, o STJ, “contra legem”, admitiu a divisão de crédito trabalhista (provento pessoal). COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS Segundo Arnaldo Rizzardo, na comunhão universal, opera-se uma fusão entre os bens trazidos pelo homem e pela mulher, formando uma única massa. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 71 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte. Na comunhão universal, bem recebido por doação ou por herança entra na massa. SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS É escolhida no pacto antenupcial (registrado no Cartório de Imóveis). Cada cônjuge tem patrimônio separado. É regulada nos artigos 1687 e 1688. “O que é dele é dele, o que é dela é dela”. Às vezes, é muito rígido. Não se aplica ao caso a súmula 377 do STF. Se o casal adquiriu bem a título oneroso, a interpretação do Código NÃO permite a divisão de patrimônio comum, circunstância que pode ser flexibilizada pelo juiz no caso concreto. Deve-se indenizar o outro cônjuge para evitar o enriquecimento sem causa. REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS No regime de participação final, criado na Costa Rica e adotado na Alemanha, França, Espanha, Argentina e Brasil, cada cônjuge possui patrimônio próprio, como se fosse uma separação de bens, mas, em caso de dissolução da sociedade conjugal (conceito de separação judicial), será feita a partilha do patrimônio comum adquirido pelo casal, a título oneroso (artigo 1.672 e ss.). Só se partilha o que for adquirido pelo casal a título oneroso. A doutrina brasileira é unânime em afirmar que essas regras são extremamente problemáticas e confusas. Autorização conjugal ou outorga uxória: No regime de participação final, regra geral, deve haver outorga uxória, ressalvada a hipótese do artigo 1656. 8. UNIÃO HOMOAFETIVA Desde 1979, a homossexualidade deixou de ser doença, devendo-se evitar a palavra homossexualismo. O transexualismo é doença neurológica (CID F64.0). Uma primeira corrente doutrinária, predominante no STJ (REsp 502995/RN e REsp 323370/RS), sustenta que o núcleo homoafetivo não é familiar, mas apenas uma mera sociedade de fato. A Vara competente deve ser a Cível, de acordo com essa corrente. Uma segunda corrente (Maria Berenice Dias, Giselda Hironaka) tem sustentado que o núcleo homoafetivo é sim um núcleo familiar, de maneira que se deve aplicar por analogia as regras da união estável. Divergências doutrinárias a parte, todos os 10 Ministros votantes no julgamento da ADPF 132 e da ADI 4277 manifestaram-se pela procedência das respectivas ações constitucionais, reconhecendo a união homoafetiva como entidade familiar e aplicando à mesma o regime concernente à união estável entre homem e mulher, regulada no art. 1.723 do Código Civil brasileiro. Assim, o STF considerou que a união homoafetiva é, sim, um modelo familiar e a necessidade de repressão a todo e qualquer tipo de discriminação. Com a decisão emanada do Supremo Tribunal Federal brasileiro, diz Gustavo Tepedino, outra saída agora pode ser vislumbrada para os casais do mesmo sexo que desejem contrair matrimônio: a conversão da união estável em casamento. Não se trata de nenhuma fórmula mágica ou ginástica hermenêutica. É uma solução muito simples, oriunda da legislação positiva brasileira.” O art. 226, § 3º da Carta Magna brasileira assevera que para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Na legislação infraconstitucional, o Código Civil determina, em seu art. 1.726 que "a união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil". Ao julgar procedentes as duas ações constitucionais, o STF deu ao art. 1.723 do Código Civil brasileiro interpretação conforme à Constituição para apartar qualquer entendimento que obste o reconhecimento da "união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. Assim, restaram, para todos os fins de direito, as uniões homoafetivas equiparadas às uniões heteroafetivas. Desta forma, é de clareza meridiana o entendimento de que a união estável – seja hetero ou homoafetiva – poderá ser convertida em casamento observado o disposto no art. 1.726 do CC. Foi exatamente o argumento utilizado pelo STJ, em decisão inédita, tomada no dia 25 de outubro de 2011. A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria, proveu recurso de duas mulheres que pediam para ser habilitadas ao casamento civil. Seguindo o voto do relator, ministro Luis Felipe Salomão, a Turma concluiu que a dignidade da pessoa humana, consagrada pela Constituição, não é aumentada nem diminuída em razão do uso da sexualidade, e que a orientação sexual não pode servir de pretexto para excluir famílias da proteção jurídica representada pelo casamento. O ministro Marco Buzzi. acompanhou o voto do relator, que reconheceu a possibilidade de habilitação de pessoas do mesmo sexo para o casamento civil. Para o relator, o legislador poderia, se quisesse, ter utilizado expressão restritiva, de modo que o casamento entre http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 72 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB pessoas do mesmo sexo ficasse definitivamente excluído da abrangência legal, o que não ocorreu. Por consequência, o mesmo raciocínio utilizado, tanto pelo STJ quanto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da união estável, deve ser utilizado para lhes franquear a via do casamento civil, mesmo porque é a própria Constituição Federal que determina a facilitação da conversão da união estável em casamento”, concluiu Salomão. O art. 42,§ 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece como requisito para a adoção conjunta que os candidatos sejam unidos pelo matrimônio ou vivam em união estável, comprovada a estabilidade da família. A união homoafetiva foi equiparada à união estável para todos os efeitos. Portanto, qualquer impedimento legal que se vislumbrasse, já não cabe mais dentro do ordenamento brasileiro hodierno. 9. DOS ALIMENTOS Cabe ação monitória no direito de família? A posição é defendida na revista do IBDFAM 22 por Fabiana e Teobaldo Spengler na linha de pensamento de Rolf Madaleno. É sim possível, especialmente para a cobrança de crédito alimentar prescrito. O prazo para cobrar é de 2 anos. Se perder o prazo da pretensão, pode-se ingressar com a monitória que, segundo o professor, deve respeitar o prazo de 2 anos (essa parte é discutível). A jurisprudência tem deferido, em algumas circunstâncias, prisão domiciliar aos avós devedores de alimentos. Destacar que não é sanção penal,em que pese alguns juízes utilizarem-se de normas da LEP. O que é paternidade alimentar? Os defensores dessa tese afirmam que, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o genitor (biológico), ainda que vencido pela paternidade afetiva de outrem, pode ser compelido a prestar alimentos. “O pai biológico será pai, para o direito de família, apenas para o fim alimentar.” UNIÃO ESTÁVEL E DIREITO DA AMANTE Outrora, a união estável era tratada como concubinato. Acontece que essa expressão tem carga pejorativa muito grande, já que se origina da expressão latina “cum cubere”, que significa dormir com. O CC/16 sempre discriminou a concubina, já que só reconhecia o casamento como forma legítima de família. O direito previdenciário foi o primeiro ramo do direito a proteger a figura da companheira, ao admiti-la a se inscrever na Previdência Social. O CC, como primeiro passo no reconhecimento dos direitos da companheira, admitiu que ela tivesse direito a indenização por serviços prestados (domésticos, em geral). Entre o final da década de 40 e o começo da década de 60, a jurisprudência começou a evoluir ao afirmar que a companheira merecia mais - não mais como mera prestadora de serviço, mas agora como sócia do companheiro. Vide súmula 380 do STF – teoria da sociedade de fato. Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum. Essa ação tramitava em vara cível, já que não se reconhecia a relação concubinária como família. Somente com a CRFB/88 (§3º do artigo 226), que a companheira passou a ser admitida como integrante de um núcleo familiar. A companheira tem direito, portanto, a alimentos, a regime de bens, à herança. Após a Constituição, duas leis regulamentam a união estável (8.971/94 e 9.278/96). Não se exige tempo mínimo de convivência para a configuração da união estável, bem como não se exige prole. Também não é indispensável a convivência “more uxório”, ou seja, a coabitação, a moradia sobre o mesmo teto, já que a união estável é informal. A união estável pode ser configurada entre pessoas desimpedidas ou, ainda que impedidas, ao menos separadas de fato. Se estiver em união estável, haverá efeitos de ordem pessoal e patrimonial. O que é o contrato de namoro? Qual a sua natureza jurídica? Cuida-se de uma declaração negocial que visa a afirmar a idéia, em Livro de Nota de tabelião, de que a relação vivida pelos declarantes é instável, de simples namoro. Visa a evitar a incidência das normas da união estável. Esse contrato de namoro vale como documento de simples intenção das partes, mas não tem o condão de afastar as regras da união estável. Segundo VENOSA, a união estável é um fato da vida, não pode um contrato afastá-lo por simples manifestação de vontade. Suas regras são de ordem pública. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 73 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB E quanto ao regime de bens? Como fica o regime na união estável? Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito (DENOMINADO DE CONTRATO DE CONVIVÊNCIA) entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. O contrato de convivência não cria a união estável; apenas disciplina regras patrimoniais. Havendo conflito entre terceiro de boa-fé e um dos companheiros, Arnoldo Wald e Humberto Theodoro Júnior sustentam que se deve tutelar o terceiro de boa-fé, cabendo ao companheiro prejudicado ação regressiva contra o outro. O que é união estável putativa? Consiste na situação em que companheiro de boa- fé é vítima de união estável paralela. Essa tese, defendida pela doutrina (Marco Aurélio Viana), não tem sido acatada pelo STJ (REsp 789.293/RJ). Concubina ou amante tem direitos? A concubina ou amante, para a doutrina majoritária, que parte da premissa de nosso sistema monogâmico, não tem direitos de família, admitindo apenas o amparo obrigacional à amante (direito à indenização; eventualmente partilha de bem que ajudou a comprar, em vista do enriquecimento sem causa). O que é concubinato consentido? É aquele em que uma concubina sabe e consente a respeito da existência da outra. O TJ/RS, ao enfrentar caso concreto, determinou a divisão do patrimônio. 10. GUARDA A guarda de que trataremos não é a prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, como medida de colocação em família substituta. Conceito: a guarda, decorrência do poder parental (familiar), traduz um complexo de direitos e obrigações em face do menor, especialmente de assistência moral e material. Nem sempre os pais detêm a guarda, que pode ser concedida outra pessoa, membro da família ou não. Ao deferir a guarda, o juiz deve observar o interesse existencial do menor (respeito da dignidade da pessoa humana). A guarda pode ficar com terceiro, como avó, irmão mais velho, tio; ou seja, deve-se observar o interesse existencial do menor. Não havendo acordo, com quem ficará a guarda? Com quem apresente melhores condições morais e psicológicas para o exercício da guarda. O CC/02, nessa área, coaduna-se com os princípios da CRFB/88. Vide parágrafo 5 do artigo 226 da CRFB/88. Na antiga lei do divórcio, tendo outro paradigma, o cônjuge inocente ficava com a guarda. No plano jurídico, não há primazia da mãe. Há, basicamente, quatro modalidades de guarda. 1 – GUARDA UNILATERAL: é ainda a mais comum. É deferida a uma pessoa, em geral à mãe ou ao pai, cabendo ao outro direito de visitas e períodos de férias. 2 – GUARDA ALTERNADA: na guarda alternada, o menor, em períodos sucessivos e pré-determinados, permanece na guarda do pai ou da mãe. É pouco usada. No período de guarda da mãe, por exemplo, cabe ao pai o direito de visita. 3 – ANINHAMENTO OU NIDAÇÃO: neste tipo de guarda, o menor permanece no mesmo domicílio, variando apenas a presença dos pais. A criança permanece em um domicílio só. Sem aplicação prática. 4 – GUARDA COMPARTILHADA OU CONJUNTA (Waldyr Grisard Filho): a guarda conjunta ou compartilhada, segundo Maria Berenice Dias, tem assento no parágrafo 5 do artigo 226 da Constituição, quando firma a isonomia entre os pais. § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. Não tem sede em artigo específico no Código Civil. Nesta modalidade, não há exclusividade, uma vez que os pais compartilham a guarda, tendo cada qual co- responsabilidade pelo menor. Na guarda compartilhada, não há exclusividade de guarda a um dos pais. Essa modalidade não pode ser aplicada se houver litígio. Não deve ser imposta, mas requerida pelos pais (pressupõe harmonia). Havendo litígio, o juiz deve optar pela guarda unilateral. 11. FILIAÇÃO Não existe mais discriminação entre família legítima e ilegítima (a Constituição prevê mais de um núcleo familiar), em virtude do princípio da isonomia. O CC/02 mantém a presunção relativa de paternidade para pessoas casadas (artigo 1.597). Vide artigo 1.609. As características do reconhecimento voluntário estão descritas no material de apoio. Obs.1: Há entendimento de que se pode haver reconhecimento de filho por procuração, com base no artigo 59 da Lei de Registros Públicos. Obs.2: Menor relativamente incapaz precisa de assistência para reconhecer filho? Negativo, já que não está celebrando negócio jurídico, mas apenas reconhecendo um fato. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 74 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Obs.3: Se menor absolutamente incapaz gerar um filho, é mais seguro defender a tese de que o registro dacriança depende de autorização do juiz (Maria Berenice Dias). Vide artigo 1.614. Obs.: Existe precedente no STJ (REsp 601997/RS) no sentido de considerar imprescritível a ação de impugnação. Cuida-se de jurisprudência “contra legem”. Esse prazo, segundo os Ministros, afrontaria o princípio da verdade material. O professor salienta que a ausência de prazo pode ferir a paternidade afetiva. Reconhecimento judicial de filiação: Ao se falar em ações de filiação, a ação de investigação de paternidade é a mais importante, embora não seja a única. Exemplo: ação de anulação de registro, para quem incorreu em erro, não havendo prazo. Ação investigatória de paternidade é imprescritível, sendo a legitimidade ativa do suposto filho ou do Ministério Público. É ação personalíssima, nos termos do artigo 1.606. Obs.: Em caráter excepcional, o STJ admitiu, no REsp 603.885, que netos pudessem investigar relação avoenga. Se o pai morreu, os netos têm direito de saber quem é o avô. Se o pai não quis ser reconhecido, os netos possam querer, ajuizando a ação, a fim de investigar a ação avoenga. A investigatória de paternidade é proposta contra o suposto pai, se ele for morto, a investigatória é proposta contra seus herdeiros (não é contra o espólio). Sabe-se, ainda, que no campo da instrução probatória, o exame de DNA é a principal prova na investigatória de paternidade. O réu não pode ser constrangido a realizar exame de DNA. Vide súmula 301do STJ. Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade. Essa presunção relativa ficou muito clara no REsp 557.365/RO (“ficar é indício de paternidade”). No caso de investigação de paternidade, em sendo provida, os alimentos são devidos desde a citação. Vide súmula 277 do STJ. Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação. Segundo a doutrina e a jurisprudência, na investigatória, não tendo havido produção do exame de DNA, a sentença NÃO TRANSITA MATERIALMENTE EM JULGADO (vide REsp 300.084/GO e REsp 226.436/PR). Mesmo fora do prazo, admite-se a propositura da ação rescisória. O exame de sangue exclui a paternidade, mas não a afirma. PATERNIDADE SÓCIO-AFETIVA: Cuida-se de tese construída à luz do princípio da afetividade, e como decorrência da desbiologização do direito de família (JOÃO BATISTA VILELA), sustenta o reconhecimento oficial do vínculo da filiação com base em valores e sentimentos construídos ao longo do tempo. O direito de família passa a se preocupar com direitos meta-individuais. Ser genitor não é o mesmo que ser pai. Pode acontecer que a paternidade do coração prevaleça sobre a biológica. Há quem defenda a investigação de paternidade sócio-afetiva (José Carlos Diógenes). No STJ, há precedente favorável à tese da filiação sócio-afetiva (REsp 119.346/GO), muito embora recente julgado, publicado em 4/6/2.007, REsp 833.712/RS, demonstra haver ainda resistência à teoria. DIREITO DAS SUCESSÕES CONCORRÊNCIA SUCESSÓRIA O NCC, no artigo 1845, elevou o cônjuge à categoria de herdeiro necessário. Hoje, são herdeiros necessários (têm direito à legítima): descendente, ascendente e cônjuge. Meação não é herança, é direito próprio, de acordo com o regime de bens. Inicialmente, deve-se atentar para a data do óbito, a fim de saber qual Código aplicar. Se em comunhão universal ou separação obrigatória, o cônjuge não concorre com os descendentes. “O cônjuge sobrevivente, nos termos do artigo 1829, I, não concorrerá com os descendentes se foi casado em regime de: comunhão universal de bens, separação obrigatória de bens e em comunhão parcial de bens, desde que o falecido não deixou bens particulares.” “Contrário senso, o cônjuge sobrevivente concorrerá com os descendentes nestes casos: (i) se foi casado em separação convencional de bens (observar a contradição), participação final nos aquestos ou em comunhão parcial de bens, desde que o falecido deixou bens particulares.” Obs.: A doutrina tem criticado (Miguel Reale, Judith Martins Costa – volume 24 da Revista Trimestral do Direito Civil) a falha do legislador ao admitir que o cônjuge sobrevivente casado em separação convencional possa concorrer com os descendentes do falecido. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 75 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Caso em comunhão parcial, o cônjuge sobrevivente terá direito de concorrer apenas nos bens particulares ou em todos os bens do falecido? Primeira corrente (esmagadora) sustenta que só haverá direito sobre os bens particulares do falecido. Foi adotada no Enunciado 270 da Terceira Jornada de Direito Civil. Adotam-na Giselda Hiranaka, Zeno Veloso, Eduardo de Oliveira Leite, Holf Madaleno, Sebastião Amorim, Euclides de Oliveira, Mário Delgado. Segunda corrente (minoritária) sustenta que, em uma interpretação sistemática, se o direito incidir apenas nos bens particulares, o cônjuge sobrevivente poderá ficar em situação pior do que a companheira. Perfilham-na Francisco Cahali, Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Inácio de Carvalho Neto, Maria Helena Diniz e Ana Luiza Nevaris. De que maneira se calcula o direito concorrencial do cônjuge em face dos descendentes? O cálculo do direito concorrencial do cônjuge é feito nos termos do artigo 1832 do CC. Nos termos do artigo 1832, concorrendo com descendentes comuns, o cônjuge sobrevivente terá direito a no mínimo 25% da herança. Se tiver mais de 4 filhos, o cônjuge terá mais direitos que os descendentes comuns. É claro que, se concorrer com descendentes exclusivos do falecido, não haverá direito ao piso mínimo de 25%. E se a viúva concorrer com filhos comuns e exclusivos? Terá direito ao piso mínimo de 25%? A esmagadora parte da doutrina responde que o cônjuge sobrevivente NÃO TERÁ DIREITO AO PISO MÍNIMO. Pensa assim Inácio de Carvalho Neto, Caio Mário, Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Érika Fugi, Mário Delgado, Zeno Veloso. Alguns autores entendem (minoritária) sustentam que a viúva tem direito sim 25%. Pensam assim Silvio Venosa, Francisco Cahali, Giselda Hironaka. A segunda classe na sucessão legítima é a dos ascendentes. Art. 1.829, CC. Qualquer que seja o regime de bens, o cônjuge sobrevivente concorrerá com o ascendente. Não havendo descendentes, a herança sobe para os ascendentes, concorrendo a viúva, qualquer que seja o regime de bens. O direito da viúva concorrendo com os ascendentes do falecido é previsto no artigo 1837, CC. E se não houver ascendente, a herança será deferida ao cônjuge sobrevivente (1829, III), SEM PREJUÍZO DO DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. Esse direito está previsto no artigo 1831, CC. O Enunciado 271 da Terceira Jornada admite que o cônjuge renuncie ao direito real de habitação, por inventário ou escritura pública, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança. O antigo usufruto vidual (da viúva) não mais existe. Vide artigo 1830, CC. Se a afetividade do cônjuge faliu, não há porque ter direito patrimonial. Cuida-se de norma muito criticada. O artigo 1829, IV, diz quem herda se não houver cônjuge. Se não houver colaterais, os bens serão arrecadados pelo Estado. Há basicamente dois tipos de parentescos – o natural e o por afinidade. O natural é o co-sanguíneo. O parentesco na linha reta vai até o infinito; a cada linha, acrescenta-se um grau. Em direito civil (inclusive para efeitos sucessórios), o parentesco colateral só vai até o quarto grau. Vide artigo 1839, CC. O parentesco por afinidade é travado por um cônjuge ou um companheiro e com os parentes do outro. Entre cônjuges não há parentesco. Sogra e enteada são seus parentes em linha reta por afinidade. No parentesco por afinidade, na linha reta, é infinito. Cunhadaé parente por afinidade na linha colateral. Pode-se casar com cunhada. Com sogra não. Cunhado de um e cunhada de outra: em direito civil não há concunhado. Não há relação de parentesco entre parentes por afinidade. Vide artigo 1841. Os irmãos bilaterais herdam o dobro do que cabe ao irmão unilateral. Obs.: Vale lembrar que, nos termos do artigo 1843, concorrendo tio e sobrinho, a preferência é deste último (a relação é de seu tio com seu sobrinho). Se habilitarem no meu inventário meu tio e meu sobrinho, terá preferência meu sobrinho. DIREITO SUCESSÓRIO DA COMPANHEIRA Previsto no artigo 1790 do CC. E SE A COMPANHEIRA VIÚVA CONCORRER COM FILHOS COMUNS E SÓ DELES? Previsão legal nos incisos I e II do art. 1.790, CC: “I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles” http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 76 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB O “caput” do artigo 1790 limitou o direito da companheira viúva apenas aos bens adquiridos onerosamente durante a união estável. Não se confunde com meação (meação não é herança). E o direito real de habitação? A companheira viúva também tem? A lei anterior da união estável (9.278/96) admitia o direito de habitação da companheira viúva. O NCC não disse nada a respeito. Direito Processual Civil COMPETÊNCIA É a quantidade de poder atribuída a um determinado ente (órgão). É a medida do poder que cabe a algum ente. Logo, é uma limitação do poder. Nesse contexto, fala-se em competência legislativa, administrativa e jurisdicional. Cuidaremos da competência jurisdicional (civil). A competência, assim, é a distribuição de funções entre os diversos órgãos estatais. Assim, o órgão estatal somente pode exercê-lo nos limites de sua competência. A competência jurisdicional civil é a quantidade de poder jurisdicional atribuída a um determinado órgão. E observa os seguintes princípios: a) Princípio da tipicidade: a competência está prevista na legislação. É o legislador (sentido amplo) que determinará a competência. O fato dela ser típica não significa que ela tenha de ser expressa. Admite-se a chamada competência implícita. Ex: a Constituição Federal não diz que cabe ao STF julgar os embargos de declaração de seus julgados. Mas se ele não os julgar quem julgaria. O silêncio constitucional impõe que se descubra de quem é a competência. Não pode haver vácuo de competência. Algum órgão deve ser competente. Esta é a denominada competência implícita (IMPLIED POWER); b) Princípio da indisponibilidade: o órgão jurisdicional não pode se abster de proferir julgamento em ações de sua competência. O órgão jurisdicional não pode negar ou exigir a competência de outrem (ex: não pode escolher qual processo irá julgar). O legislador pode dar uma maior flexibilidade, permitindo que elas sejam modificadas sobre determinadas circunstâncias. Porém, quem determina esta modificação é o legislador, e não o titular do poder. REGRA DA COMPETÊNCIA DA COMPETÊNCIA (em alemão Kompetenzkompetenz): todo órgão jurisdicional tem a competência de examinar a sua própria competência. Também chamada de competência mínima (atômica). É o mínimo de competência que o órgão jurisdicional tem. TODOS JUÍZES TÊM. FORUM SHOPPING: fato da vida; que consiste na escolha do foro competente pelo autor; o autor escolhe o foro competente quando há vários foros igualmente competentes. Tem-se várias opções. Ex: lesão x honra x site x aconteceu em qualquer lugar do mundo. Logo, permite-se propor ação em qualquer lugar do mundo em que o site pode ser acessado. Pode-se demandar em qualquer lugar. As pessoas em regra buscam o país em que a jurisprudência é mais favorável aos pedidos de indenização por dano moral. O que não pode haver é o abuso deste direito de escolha. Ex: escolhe um foro que em nada lhe aproveita, mas em tudo prejudica o réu. Há um abuso, porque não traz nada de especial ao demandante e só prejudica o réu. A doutrina desenvolveu uma teoria para combater esta forma de abuso, a saber, FORUM NON CONVENIENS, a qual serve para afastar o abuso do FORUM SHOPPING, se a escolha não for conveniente é abusiva e o juiz pode recusar. Trata-se de teoria doutrinária do Direito da Escócia (civil Law). O STJ já tratou do assunto e não acatou este princípio, mas com certeza sua posição será modificada, pois a fundamentação deste argumento do STJ foi fraca, pois não levou em conta o princípio da boa-fé. DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA A distribuição de competência é tarefa do legislador. A primeira distribuição é constitucional, que criou 5 justiças: Justiça Federal, Justiça Estadual, Justiça Eleitoral, Justiça Militar e Justiça do Trabalho. J. FEDERAL, J. TRABALHISTA, J. MILITAR , J. ELEITORAL e J. ESTADUAL – competência residual – será de competência desta tudo aquilo que não for das supramencionadas justiças. Existe uma questão teórica sobre tal divisão. Vejamos: Imagine um juiz federal julgando uma causa militar. Perceba que é um juiz que não tem competência nos termos da CF. Falta competência no nível constitucional. A competência da Justiça Estadual é residual. O constituinte cuidou de enumerar a competência das demais, deixando a Justiça Estadual com uma competência residual. Todas as demais justiças são bancadas pela União, salvo a justiça militar estadual. O juiz sem competência prevista na CF profere decisões nulas ou inexistentes? Imagine um juiz do trabalho julgando uma causa eleitoral. Segundo Ada Pelegrine, esta decisão é inexistente, pois é uma decisão proferida em desrespeito a regra constitucional (ele é um não-juiz). Contudo, segundo a doutrina majoritária, trata-se de caso de invalidade da decisão, ou seja, a decisão é nula, que existe, porém, é viciada. Na decisão nula, é cabível ação rescisória. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 77 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Após a distribuição constitucional, há a distribuição feita pela lei infraconstitucional. As leis federais e estaduais seguem a distribuição da competência em partes menores, até chegar ao regimento interno de um tribunal. A competência é determinada pela lei, mas o tribunal pode distribuí-la internamente por meio de seu regimento interno. O regimento interno recebe a competência que foi atribuída a determinado tribunal, distribuindo internamente. Ele não pode criar uma hipótese de competência, invadir o âmbito da reserva legal. Pode distribuí-la internamente pelos órgãos do tribunal. Tal distribuição é feito em abstrato (normas gerais que se aplicam a todas as pessoas). A lei não identifica o juiz da causa. Distribui sempre no plano geral e abstrato, assim, é preciso CONCRETIZAR a competência. Após a análise de todas estas normas, haverá condição de definir qual juiz é competente para julgar a causa. Examinando somente as leis (abstratas), não há como definir o órgão julgador competente, sendo preciso concretizá-las. Daí surge um fenômeno, a saber: DETERMINAÇÃO OU FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA É preciso determinar ou fixar a competência para identificar qual órgão irá julgar determinada causa, pois apenas com a lei não é possível determiná-la. A fixação ocorre por meio do art. 43 do NCPC. Quando se dá a fixação da competência? Ocorre no momento do registro ou da distribuição da petição inicial onde se determinará o juízo competente para julgar a causa, sendo indispensável saber quando haverá o registro ou a distribuição da exordial. O momento de fixação da competência é um de dois: ou é da data da distribuiçãoou a data do registro nos casos em que só houver um juízo no foro. Se há uma vara, um só juiz não há o que distribuir, logo, valerá a data do registro. Se houver mais de vara uma competente, a fixação dar-se-á com a distribuição. Fixada a competência, os fatos supervenientes não terão aptidão para que o processo saia do juízo. Trata-se de uma regra de estabilidade do processo, evitando que o processo fique transitando entre juízos. É o fenômeno denominado perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdiciones). A regra da perpetuação tem duas exceções, ou seja, há dois fatos supervenientes que têm aptidão para quebrar a perpetuação da jurisdição, fazendo com que a causa saia daquele juízo e vá para outro, quais sejam: 1º) nos casos de supressão do órgão judiciário/desaparecimento do órgão (ex: extinção do tribunal de alçada; extinguiu–se a vara); e 2º) também quebra a perpetuação a alteração superveniente de competência absoluta, antes de proferida a sentença. Nos processos em que já havia sentença, o fato superveniente não incorre na quebra da perpetuação. Em caso de alteração de competência material do cível para o juízo trabalhista, a apelação será encaminhada ao TRT? Não, tendo em vista que já houve prolação de sentença pelo juiz singular cível, podendo somente ser reformada pelo TJ. Obs.: tal questão aflorou após EC45. CLASSIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA 1. Competência originária e competência derivada Competência originária é a competência para conhecer e julgar as causas em primeiro lugar. A regra é a de que os juízos singulares (de primeira instância) tenham competência originária. Entretanto, há casos excepcionais em que uma demanda deve ser proposta originariamente perante o STF, STJ, TJ ou TRE, p. ex. O tribunal tem competência originária, embora seja excepcional (ex: julgar ação rescisória). Competência derivada é a competência para julgar a causa em nível de recursos recebendo a causa em um segundo momento (derivadamente). A regra é a de que a competência derivada seja dos tribunais. Excepcionalmente, porém, o juiz de 1º grau pode ter competência derivada. Citemos dois casos de tal exceção: 1º Embargos de declaração. Os embargos de declaração constituem exceção a regra da competência derivada, tendo em vista que o juiz singular julgara recurso interposto contra sua decisão; e 2º Execuções fiscais de pequeno valor até 50 ORTN (aproximadamente R$ 500,00), em que o recurso contra sentença é julgado pelo próprio juiz que proferiu a sentença (art. 34 e p. 2º, da Lei 6.830/80). OBS.: no JEC o recurso é de competência da turma recursal, que é composta por juízes. Este caso seria uma exceção a regra? Não, pois o órgão com competência recursal é a turma recursal, e não o juiz singular. A competência é primordialmente derivada para os recursos. Já para o mandado de segurança seria originária. 2. Competência absoluta e relativa Regras de competência absoluta: - São regras criadas para atender o interesse público, e, assim, não podem ser alteradas pela vontade das partes. E também não permite a modificação por conexão ou continência. - O desrespeito a estas regras gera a incompetência absoluta. Esta, por sua vez, pode ser conhecida ex officio ou pela provocação de qualquer das partes, por qualquer forma e enquanto estiver pendente o processo. Após o fim da ação, é cabível rescisória. - Essa alegação feita pelas partes, pode se dar por qualquer forma ou meio, não havendo forma pré-estabelecida (ex: http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 78 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB escrita, oral etc.). Porém, apesar desta possibilidade, lembrar que o meio e o momento adequado para se alegar incompetência absoluta será em preliminar de contestação. Regras de competência relativa: - São regras criadas para atender o interesse particular, e, portanto, podem ser alteradas pela vontade das partes. - A incompetência relativa não pode ser reconhecida ex officio (Súmula 33 do STJ =A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.); somente o réu poderá alegá- la. O réu deve alegá-la em preliminar de contestação, sob pena de preclusão, logo, o seu silêncio significará a aceitação do juízo. O juízo incompetente torna-se competente. A jurisprudência do STJ já admitia, ainda na vigência do CPC/73, a alegação de incompetência relativa nas preliminares da contestação, desde que não cause prejuízo ao autor. Todavia, atualmente, a questão já está pacificada, tendo o NCPC incorporado a jurisprudência do STJ. O MP pode alegar incompetência relativa, caso seja o réu incapaz. Princípio dacompetência sobre a competência (Kompetenzkompetenz) significa a possibilidade de todo o juiz para julgar a sua própria competência / incompetência. Na incompetência absoluta, o juiz o faz de ofício. Na incompetência relativa, o juiz deve ser provocado. A incompetência não gera a extinção do processo, mas sim a remessa dos autos para outro juízo, salvo (logo, gerará a extinção sem julgamento de mérito): matéria ser de competência dos juizados especiais; e competência internacional (ex: não há a possibilidade do juiz brasileiro remeter os autos ao juízo do México, ocorrendo a extinção do processo). Incompetência absoluta: gera a remessa dos autos ao juízo competente. Com o NCPC, não haverá mais a nulidade dos atos decisórios, pois o novel legislador processual incorporou ao texto legal o instituto da “translatio iudicii”, segundo o qual os atos decisórios terão seus efeitos conservados até serem revogados ou modificados pelo juízo competente. Art. 64, § 4o Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. Incompetência relativa: os atos decisórios não são anulados e gera tão-somente a remessa dos autos para o juízo competente. A possibilidade de alteração da competência relativa pelas partes pode ocorrer de duas formas: a) tácita, em que o réu não se opõe e gera alteração da competência; b) expressa, que ocorre por meio do foro de eleição (também denominado foro contratual). O que é o foro de eleição? É uma cláusula contratual escrita de um negócio jurídico, na qual os negociantes/as partes escolhem o foro onde causas relacionadas aquele negócio devem ser ajuizadas. Se houver foro de eleição, estas ações deverão ser interpostas no local escolhido. Não se pode escolher o juízo na cláusula de foro de eleição, apenas o território (logo, errado dizer fórum, o correto é dizer foro). Assim, as partes podem modificar a competência relativa, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações. Entretanto, a eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. Observar, todavia, que antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. Uma vez citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão. Portanto, aos contratos de adesão, sempre que a cláusula de eleição de foro for abusiva, cabe ao réu alegar tal abusividade a fim de que o juiz repute a cláusula ineficaz. Competência ABSOLUTA RELATIVA Critérios - Funcional - Material - Valorativo - Territorial Interesses protegidos - Interesse público. - Interesse privado. Derrogabilidade (possibilidade de abrir mão) - Não. - Sim (podem eleger o foro). Conhecimento pelo juiz da violação (quando a regra for violada) - Poderá conhecer de ofício e a qualquer tempoou grau de jurisdição. - Só pode ser conhecida mediante provocação das partes (Súmula 33 do STF). Momento e modo adequado de alegação - Na preliminar de contestação. - Na preliminar de contestação. Violação Remessa dos autos ao juízo competente Remessa dos autos ao juízo competente. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 79 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO / DE DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA Existe uma sistematização antiga (clássica) dos critérios de competência, que se divide em três: 1) Critério objetivo; 2) Critério funcional; e 3) Critério territorial. 1. Critério objetivo O critério objetivo é aquele que leva em consideração, para distribuir a competência, a demanda (problema que foi levado ao Judiciário). A parte pode demandar um despejo, uma cobrança, uma separação etc. É objetivo, pois toma por base um dado objetivo que é a demanda. A demanda, que é a provocação ao Judiciário, é composta por três elementos: a) partes; b) pedido; e c) causa de pedir. Qualquer desses elementos pode ser levado em consideração para fins de distribuição da competência (três sub-critérios de distribuição de competência). Os sub-critérios da competência são: a) em razão da pessoa (partes); b) em razão do valor da causa (pedido); e c) em razão da matéria (causa de pedir). A vara privativa da Fazenda Pública foi criada em razão da pessoa; a presença do ente público é um dado relevante para definição da competência. É o que acontece também com as demandas que envolvem um ente federal. Há a súmula 206 do STJ que precisa se examinada Suponha o Estado-membro demandado em comarca com vara única (não possua vara da Fazenda Pública) que requer o envio dos autos para comarca que possua vara privativa. Isso não deve prosperar, e o STJ entende que a vara privativa em comarca vizinha não altera competência territorial da comarca que possui vara única. Obs.: a criação de uma vara privativa não atrairá para ela causas que estão noutra comarca. O pedido determina o valor da causa, em razão disso, criou-se outro critério de competência em razão do valor da causa. Quando se diz que o juiz fixou a competência em razão do valor, entende-se que ele utilizou o sub-critério do pedido (valor da causa). Tradicionalmente, a competência em razão do valor da causa seria uma competência relativa. Seria uma opção para a parte ir para uma vara estabelecida em razão da causa. Ademais, se o juiz extrapolasse o teto que foi estabelecido, seria absolutamente incompetente (ex: causa com valor de 60 salários interposto na vara com causas até tal valor). Contudo, a lei dos juizados especiais mudou tal sistemática. Pessoa que vai para o juizado pleiteando mais que o teto fixado (40 salários mínimos), terá do juiz só o limite estabelecido na lei. Assim, o JEC não é incompetente e sim a pessoa que renuncia ao valor excedente. OBS.: a lei dos juizados federais e juizados estaduais da fazenda pública inexiste opção. Onde houver juizado instalado deve ir pra lá. Caso de competência absoluta. Enfim, se o valor da causa estiver dentro do teto, cabe ao demandante escolher o juízo competente (ex: causa de 30 salários mínimos pode ser proposta perante a vara comum ou JEC). No JEC, se a causa tiver valor acima do teto, o julgador não discutirá a competência, entendendo que o autor renunciou o excedente. O que a sentença exceder no valor do teto, será ineficaz. Se a causa esta dentro do teto de 40 salários mínimos, o demandante poderá optar pelo JEC. No JEF, as causas que estão dentro do limite de 60 salários mínimos, devem ser processadas necessariamente nos juizados federais. Não há uma opção, mas sim uma imposição, bem como no caso da lei dos juizados estaduais da fazenda pública. A competência definida pela causa de pedir (em razão da matéria) leva em consideração a natureza jurídica da relação discutida. A causa trabalhista, por exemplo, é da competência da Justiça do Trabalho. A ação de divórcio é da competência da vara da família. A competência em razão da matéria é SEMPRE absoluta. E da pessoa? Enfim, a competência objetiva (pessoa, matéria e valor) é sempre uma competência de vara (ex: vara dos juizados especiais, vara da fazenda, vara de família). 2. Critério funcional No processo há diversas funções que devem ser exercidas pelo órgão jurisdicional. Quando o legislador distribui essas funções entre vários órgãos jurisdicionais, fala-se em competência funcional (competência originária e derivada são exemplos de competência funcional, a qual é absoluta). São funções exercidas dentro da ação (competência funcional): a) receber a petição inicial; b) instruir a ação; c) julgar a sentença, recurso, reconvenção e a cautelar; d) executar; e) declarar a inconstitucionalidade de lei pelo controle difuso etc. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 80 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB A competência funcional pode ser visualizada em duas dimensões: a) dimensão vertical; e b) dimensão horizontal. A competência funcional em dimensão vertical é visualizada entre instâncias; em instâncias diversas. A diferença entre instâncias gera visualização de competência funcional (ex: competência originária e derivada são espécies de competência funcional em uma perspectiva vertical). Também chamada de competência em razão da hierarquia (=vertical). A competência funcional em dimensão horizontal é uma distribuição que se faz na mesma instância, no mesmo nível hierárquico, no mesmo nível se distribui a competência. Ex: no processo penal, o juiz singular pronuncia o plenário do júri condena e o juiz- presidente dosa a pena. São funções exercidas na mesma instância. 3. Competência territorial É aquele que identifica em que lugar (comarca) a causa deve ser processada. A competência territorial é, em regra, relativa e, assim, há casos em que a competência é territorial, mas é absoluta, sendo exceção a regra. Assim, ao longo do tempo, o legislador passou a criar regras de competência territorial absoluta. Por vezes, o legislador erra em confundir a competência territorial absoluta com a funcional. Exemplo clássico de tal confusão é o art. 2º da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85), as ações serão propostas no foro do local onde ocorreram os danos, cujo juiz tiver competência funcional para processar a causa. A competência da ação coletiva no local do dano é de competência absoluta. O legislador, para não chamar de competência territorial, chamou de competência funcional ACP é competência territorial absoluta (mas fala-se em competência funcional). Após, o ECA, nos termos do art. 209, dispôs que as ações serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, cujo juiz terá competência absoluta. Neste dispositivo, o legislador não chamou de competência funcional. Aqui não se comete o erro da lei de ACP. Aqui há um aprimoramento nítido. Segundo o art. 80 do Estatuto do Idoso (10.741/2003), as ações serão propostas no foro domicílio do idoso cujo juízo terá competência absoluta. Este dispositivo, em sua literalidade, deve ser aplicada em ações coletivas. Contudo, a interpretação mais correta parece ser aquela em que o idoso poderá optar pela interposição da ação individual em seu domicílio. O direito, quando protege o indivíduo, oferece uma opção ao beneficiário, e não uma imposição. O parâmetro a ser seguido é o CDC (art. 101, inc. I - ..a ação pode ser proposta no domicílio do consumidor...). Também é o caso do alimentando. Agora vejamos as regras básicas de competência previstas no NCPC: a) domicíliodo réu (art. 46 do NCPC); e b) foro da situação da coisa (art. 47 do NCPC). Aqui temos situações em que o autor não pode optar, ele tem de propor a ação na situação da coisa. Nestas sete situações acima, o foro da situação da coisa é hipótese de competência absoluta. Ações reais imobiliárias – foro da situação do imóvel – foro “rei sitae” . Foros concorrentes: lugar da coisa, domicílio do réu ou eleição. Usufruto e enfiteuse a situação da coisa será relativa. Exemplo de ações reais: Ação publiciana: ação pela qual se reivindica um bem de que se afirma proprietário, mas a pessoa não tem o título de propriedade. É ação reivindicatória sem título. CONFLITO DE COMPETÊNCIA Inicialmente, cabe lembrar e dominar cada região a fim de resolver de pronto as questões de conflito de competência na prova. TRF5ª Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco (SEDE), Alagoas. TRF4ª Rio Grande do Sul (SEDE), Santa Catarina e Paraná. TRF3ª São Paulo (SEDE) e Mato Grosso do Sul. TRF 2ª Rio de Janeiro (SEDE) e o Espírito Santo. TRF 1ª os demais 14 estados que ficaram de fora, quais sejam: Piauí, Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, DF (SEDE), Tocantins, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá e Rondônia. Conflito de competência? É uma situação em que dois ou mais órgãos jurisdicionais discutem em torno da competência para julgar uma ou mais causas, podendo ser positivo (para julgar a causa) ou negativo (para não julgar a causa). O conflito é um incidente processual de competência originária de um tribunal (sempre será resolvido por um tribunal). O conflito é um incidente que pode ser provocado: pelas partes, http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 81 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB pelo MP, ou pelos próprios órgãos conflitantes. Se o MP não for o proponente, deverá intervir obrigatoriamente no incidente. É um caso de intervenção obrigatória do MP. Não existe conflito se houver diferença hierárquica ente os conflitantes. Se um dos conflitantes revisa a decisão do outro, não há que se falar em conflito, prevalecendo a palavra do hierarquicamente superior (ex: não existe conflito entre o STF e os demais tribunais). Contudo, há conflito entre TJ (SP) e juiz do RJ do TJ de lá, por exemplo. Competência para examinar o conflito de competência. Competências do STF, STJ, TRFs/TJ. Método para decorar: STF e TRFs e TJs. Competência do STF : SÓ julga conflito de Tribunal superior. Competência do TRF e TJ: só julgam conflitos de JUÍZES vinculados ao mesmo tribunal. Se tiver tribunal participando do conflito, a competência é do STJ. Se for juízes de tribunais diferentes, quem julga é STJ. OBS.: pegadinha de concurso juiz estadual investido de função federal conflito entre o juiz federal VS o juiz estadual investido de jurisdição federal. Quem julga tal conflito? Depende. Se estiverem vinculados ao mesmo TRF – este julgará, caso contrário será o STJ. Por fim, citou a: Súmula 3 do STJ. Compete ao tribunal regional federal dirimir conflito de competência verificado, na respectiva região, entre juiz federal e juiz estadual investido de jurisdição federal. E também a súmula 348 e o RE 590.490: O STJ, no Informativo 406, aplicou o entendimento do STF (RE 590409) e, contrariando a sua própria Súmula de nº 348, acolheu Embargos com efeitos infringentes para se declarar incompetente para resolver conflito de competência entre Juizados Especiais Federais e Juiz Federal de 1º grau de Jurisdição da mesma Seção Judiciária. Assim, ratifica a posição do STF no mencionado RE, entendendo que o competente é o próprio Tribunal Regional Federal. Veja abaixo a ementa do julgado: PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - AGRAVO REGIMENTAL - COMPETÊNCIA DO STJ PARA PROCESSAR E JULGAR O CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - JUIZADO ESPECIAL FEDERAL E JUÍZO COMUM FEDERAL - RE 590.409 - ACLARATÓRIOS ACOLHIDOS - REMESSA DOS AUTOS AO TRF DA 4ª REGIÃO. 2. O Supremo Tribunal Federal ao julgar recurso extraordinário 590.409, pendente de publicação, reconheceu que o STJ é incompetente para dirimir os conflitos de competência entre Juizado Especial Federal e Juízo Federal Comum da mesma sessão jurisdicional, uma vez que essa competência é do respectivo Tribunal Regional Federal. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para reconhecer a incompetência deste Tribunal e determinar a remessa dos autos ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região para o deslinde do conflito. Destaque-se que o STJ deverá reformular, em breve, a súmula supramencionada. CONEXÃO E CONTINÊNCIA Havendo duas causas pendentes iguais, surge o fenômeno da litispendência. Existe outro sentido da palavra litispendência, significando o período de tempo que se compreende o nascimento e a morte do processo, isto é, a vida do processo (o fluir da existência do processo se chama litispendência). É correto afirmar que o recurso prolonga a litispendência, pois ele evita que o processo se extingue. A junção de processos conexos ou continentes é facultativa, observando-se a conveniência e a economia processual. Entre os extremos pode surgir a seguinte relação: duas causas independentes, distintas, mas que possuem relação entre si. Existe um nexo entre elas. Conexão e continência é um vínculo que aproxima duas causas distintas entre si. Se fossem iguais seria litispendência. Se não tivesse vínculo seria irrelevante. Só pode falar de conexão se não houver litispendência. CONEXÃO Há possibilidade de haver causas não iguais, porém, que guardam alguma semelhança ou vínculo entre si. Este fato é denominado de conexão. A conexão é a relação entre processos/causas distintas que guardam entre si algum vínculo. Trata-se de um fato processual relevante. A conexão reúne causas distintas com trâmite em juízos diferentes, para que um mesmo juízo processe e julgue. Um juízo adquire competência para julgar uma causa, fazendo com que outro a perca. A causa sai de um juízo e vai para o outro. Um juízo perde a competência para julgar a causa. E outro ganha a competência para julgar a causa conexa. Tal competência nova, a que surge, é ABSOLUTA. A conexão tem o propósito de economia processual e de evitar decisões contraditórias entre juízos.A conexão é causa de modificação de competência RELATIVA. Se ambos os juízes tiverem competência absoluta, ainda que haja conexão, não haverá reunião de processos! OBS.: conexão é um fato. É a semelhança de causas pendentes. Os efeitos da conexão são outros: reunião e processamento simultâneo. A conexão propriamente dita não é a mera reunião dos processos, sendo esta os efeitos ou consequências daquela. A importância desta distinção é a de que pode haver conexão sem haver reunião de processos. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 82 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Ex1: ação cível e ação de família; Ex2: competência funcional entre juiz singular e tribunal; e Ex3: se uma das causas já foi julgada. Súmula 235 do STJ. A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado. A conexão muda uma regra de competência relativa e muda a competência para um juízo em que as causas serão reunidas, daí surge uma regra de competência absoluta. Assim se faz necessário distinguir a alegação de incompetência relativa X da alegação de conexão. Enfim, são institutos diversos e não se deve confundi-los. Alegar modificação de competência relativa em razão da conexão não é a mesma coisa que alegar a incompetência relativa (dizer que o juiz não tem competência relativa). Alegação de modificação de competência relativa