Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 1 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB APOSTILA Direito Civil 02 Direito Processual Civil 76 Direito Penal 128 Direito Processual Penal 172 Direito Constitucional 224 Direito Administrativo 259 Direito do Trabalho 298 Processo do Trabalho 343 http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 2 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Direito Civil I - BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS Quanto a essa primeira classificação os bens se dividem em: móveis ou imóveis; infungíveis ou fungíveis; inconsumíveis ou consumíveis; indivisíveis ou divisíveis e singulares ou coletivos. Vamos à primeira delas: 1 - BENS QUANTO À MOBILIDADE Segundo essa classificação os bens se dividem em móveis e imóveis. A) BENS IMÓVEIS (arts. 79/81 CC) São aqueles que não podem ser removidos, transportados, de um lugar para o outro, sem a sua destruição. Podem ser divididos em: • por natureza -o solo e tudo quando se lhe incorporar naturalmente (árvores, frutos pendentes), mais adjacências (espaço aéreo, subsolo). Lembramos que a propriedade do solo abrange o espaço aéreo e o subsolo. Pergunto: o dono do solo será, também, o dono do subsolo? Resposta para o Direito Civil: SIM. O dono do solo é também o dono do subsolo, especialmente para construção de passagens, garagens subterrâneas, porões, adegas etc. No entanto esta regra pode sofrer algumas limitações. Pelo artigo 176 da Constituição Federal as jazidas, os recursos minerais e hídricos constituirão propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, ficando sob o domínio da União. Mas, convenhamos, é difícil qualquer um de nós comprar um terreno e nele “achar” uma mina de ouro ou de diamantes ou um lençol petrolífero. No entanto, se isso ocorrer, você não será dono deste recurso mineral. A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União. Todavia a própria Constituição garante ao dono do solo a participação nos resultados da lavra. • por acessão física, industrial ou artificial (acessão quer dizer aumento, acréscimo de uma coisa a outra) -tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo, não podendo removê-lo sem destruição, modificação ou dano (ex.: sementes plantadas, edifícios, construções – pontes, viadutos, etc.). É bom que nós acrescentemos: não perdem o caráter de imóvel (ou seja, continuam sendo imóveis): a) edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local. b) materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. • por acessão intelectual -o que foi empregado intencionalmente para a exploração industrial, aformoseamento e comodidade. São bens móveis que foram imobilizados pelo proprietário. É uma ficção jurídica (ex.: máquinas, tratores, veículos, animais, etc.). Obs: O enunciado 11 da 1ª jornada de Direito Civil preceitua haver desaparecido a categoria de imóvel por acessão intelectual. No entanto, alguns autores, como Flavio Tartuce e Pablo Stolze, discordam. Entendem estes professores, é bom frisar, de forma minoritária, que nada impede que um bem seja visto por mais de um prisma de classificação. Majoritariamente, entretanto, o Código Civil atual não acolhe mais essa divisão. Seguindo a doutrina moderna sobre o tema, outros autores preferem qualificar os bens imóveis por acessão intelectual como pertença, onde a coisa deve ser colocada a serviço do imóvel e não da pessoa, constituindo, portanto, a categoria de bem acessório. A pertença pode ocorrer na hipoteca, que abrange os bens móveis dentro de um imóvel (ex.: hipotecar uma fazenda juntamente com os bois). Vejam que a imobilização não é definitiva neste caso; o bem poderá voltar a ser móvel, por mera declaração de vontade. • por disposição legal -tais bens são considerados como imóveis, para que possam receber melhor proteção jurídica. São eles: * os direitos reais sobre os imóveis (ex.: direito de propriedade, de usufruto, uso, a habitação, a servidão, a enfiteuse). * o penhor agrícola e as ações que o asseguram. * o direito a sucessão aberta, ainda que a herança seja formada apenas por bens móveis. É considerada aberta a sucessão no instante da morte do de cujus; a partir de então, seus herdeiros poderão ceder seus direitos hereditários, considerados como imóveis. Atenção!!! As jazidas e as quedas d’água com aproveitamento para energia hidráulica são considerados bens distintos do solo onde se encontram (artigos 20, inciso IX e 176 da Constituição Federal), conforme vimos no item anterior. B) BENS MÓVEIS (arts. 82/84 CC) São aqueles que podem ser removidos, transportados, de um lugar para outro, por força própria ou estranha, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Podemos classificá-los em: http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 3 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB • por natureza -coisas corpóreas são aquelas que podem ser transportadas sem a sua destruição, por força própria ou alheia. Força alheia – móveis propriamente ditos - carro, cadeira, livro, jóias, etc. Força própria – semoventes – bois, cavalos, carneiros, animais em geral. Observações: - Os materiais de construção enquanto não forem nela empregados são bens móveis. As árvores enquanto ligadas ao solo são bens imóveis por natureza exceto se se destinam ao corte (convertem-se, neste caso, em móveis por antecipação). • por antecipação -a vontade humana mobiliza bens imóveis em função da finalidade econômica (ex.: árvores, frutos, pedras e metais aderentes ao imóvel, são imóveis; separados para fins humanos, tornam-se móveis). • por determinação legal -direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes (ex.: propriedade, usufruto, etc.). - direitos e obrigações e as ações respectivas. - energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico (prevista também no artigo 155, § 3º do Código Penal). Da mesma forma o gás canalizado. - direitos autorais (é um dos exemplos mais importantes, por ser considerado um bem incorpóreo também). - propriedade industrial – direitos oriundos do poder de criação e invenção (patentes de invenção, marcas de indústria, etc.). - quotas e ações de sociedades. Vale lembrar que o art. 83, I, CC considera móvel, por força de lei, as energias que tenham valor econômico. Ex: natureza jurídica do sêmen do boi – é bem móvel, pois é energia biológica que tem valor econômico. Observação Importante: Os navios e aeronaves são bens móveis ou imóveis? A doutrina diz que eles são bens móveis sui generis. Sempre que doutrina não consegue definir algo com exatidão, utiliza essa expressão em latim: sui generis. No caso dos navios (e também das aeronaves) realmente não há uma resposta objetiva para eles. Apesar de serem fisicamente bens móveis (pois podem ser transportados de um local para outro; encaixam, portanto, no conceito de bens móveis), são tratados pela lei como imóveis, necessitando de registro especial e admitindo hipoteca. O navio tem nome e o avião marca. Ambos têm nacionalidade. Podem ter projeção territorial no mar e no ar (território ficto). Alguns autores os consideram como quase pessoa jurídica, no sentido de se constituírem num centro de relações e interesses, como se fossem sujeitos de direitos, embora não tenham personalidade jurídica. E vocês podem estar pensando... muito bem... e se cair no concurso o que eucoloco?? Em tese a questão não pode cair assim, de forma direta: “o navio é um bem móvel ou imóvel”. Aliás, já vi essa questão cair algumas vezes, mas nunca desta forma direta. Sempre tem algo que deve ser analisado com maior profundidade, como por exemplo, o fato de recair hipoteca (que é um instituto típico de imóveis). O conselho que dou é analisar todas as alternativas com muito cuidado. Dentre as alternativas haverá uma que melhor se adapte ao que eu estou dizendo. Em resumo os navios e as aeronaves, fisicamente são bens móveis, mas eles têm uma disciplina jurídica como se imóveis fossem. Consequência prática da distinção: Imóveis ≠ Móveis. – A classificação dos bens em imóveis ou móveis tem uma razão de ser. E essa classificação é de suma relevância, principalmente em relação à Parte Especial do Código (veremos mais adiante no Direito das Coisas). Assim, os bens imóveis se distinguem dos móveis pela: forma de aquisição, necessidade de outorga, prazos de usucapião e os direitos reais. Todos estes temas são muito importantes. Portanto, vejamos item por item: a) Formas de aquisição da propriedade – a principal forma de adquirir a propriedade dos bens móveis é com a tradição (essa palavra vem do latim tradere, que significa entregar; traditio = entrega do bem), ou seja, somente com a entrega do bem, adquire-se a propriedade de bens móveis. Outras modalidades: usucapião, achado de tesouro, ocupação (assenhoramento do bem: caça, pesca, invenção) etc. Já os bens imóveis são adquiridos com o Registro ou transcrição do título da escritura pública no Registro de Imóveis. Lembrem-se que a alienação de imóveis com valor superior a 30 salários mínimos exigem escritura pública (vejam o que diz o art. 108 CC). b) Outorga Os bens imóveis não podem ser alienados, hipotecados etc. por pessoa casada sem a outorga (uma espécie de autorização ou anuência ou mesmo ciência) do outro cônjuge, exceto na separação absoluta de bens. Os bens móveis não necessitam de outorga. Assim, mulher pode vender seu carro, jóias, ações de uma sociedade anônima sem autorização do marido. Vou dar um exemplo que pode causar surpresa em alguns alunos. E este exemplo costuma cair muito. Digamos que uma mulher tenha comprado e registrado um imóvel em seu próprio nome. Lógico, este imóvel é só dela!!! Posteriormente ela se casa pelo regime da comunhão parcial de bens. O imóvel continua sendo só dela!!! Passado um ano do casamento ela deseja vender esse imóvel. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 4 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Pergunto: Ela precisa da autorização do marido (apesar do imóvel ser somente dela)? Resposta= SIM!!! Ela precisa da chamada..... outorga marital. A lei obriga essa outorga (que somente é dispensável no regime da separação total). Continuo a perguntar: E se o marido não quiser fornecer a outorga? Resposta= Simples. O imóvel é somente dela e continua sendo dela. Mas ela precisa da outorga e o marido não fornece. Portanto a mulher pode pedir ao Juiz, em uma petição bem simples, relatando o ocorrido. E o Juiz então dará uma ordem para a escritura ser lavrada (e também o registro posterior), sem a sua anuência. É o que chamamos de “suprimento da outorga”. Se a situação fosse invertida (o imóvel é do marido e ele precisa vender), o fato seria o mesmo, ou seja, o marido necessitaria da outorga. Porém em cada caso a outorga recebe um nome diferente. Assim, a outorga pode ser: • marital -marido concede à mulher, ou seja, o bem é da mulher e o marido assina também os documentos de venda do imóvel. • uxória -mulher concede ao homem; a mulher assina a documentação (uxor – em latim quer dizer mulher casada). 2 - BENS QUANTO À FUNGIBILIDADE (art. 85 CC) Essa classificação resulta da individualização do bem, ou seja, de sua quantidade e da sua qualidade. A pergunta é: um bem pode ser substituído por outro? Se eu tomar um bem emprestado posso devolver outro? Resposta – Depende. Por isso classificamos os bens em infungíveis ou fungíveis. Vejamos: A) INFUNGÍVEIS São os que não podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, qualidade e quantidade. São bens personalizados, individualizados (ex.: imóveis; carro; um quadro famoso etc.). B) FUNGÍVEIS São os que podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, qualidade e quantidade (ex.: uma saca de arroz, uma resma de papel, dinheiro etc.). Para facilitar um pouco nosso estudo, costumo sempre deixar bem claro: - Os bens imóveis só podem ser infungíveis. - Os bens móveis podem ser fungíveis ou infungíveis. Todos os bens imóveis são personalizados (pois há uma escritura, um número, possuem um registro etc.), daí serem todos infungíveis, pois estão totalmente individualizados. Porém é possível que sejam tratados como fungíveis (ex.: devedor se obriga a fazer o pagamento por meio de três lotes de terreno, sem que haja a precisa individualização deles; o imóvel nesse caso não integra o negócio pela sua essência, mas pelo seu valor econômico). Já os bens móveis são, em regra, bens fungíveis, mas podem também ser infungíveis (ex.: o cavalo de corrida Furacão ou o cavalo de passeio Sossego; um quadro pintado por Renoir; os veículos automotores pois possuem número de chassis, de motor etc. que os personalizam e os diferenciam dos demais). A fungibilidade pode ser da natureza ou da vontade das partes. Uma moeda ou um selo, como regra são bens fungíveis. Podem, no entanto, se tornar infungíveis para um colecionador. Uma cesta de frutas é fungível, mas pode se tornar infungível se ela for emprestada apenas para ornamento de uma festa (chamamos neste caso: comodatum ad pompam vel ostentationem) para ser devolvida posteriormente. A obrigação de fazer pode ser infungível (Ex.: contrato “Z”, pintor famoso, para pintar um quadro; a atuação de “Z” é personalíssima – no caso de recusa, transforma-se em perdas e danos) ou fungível (pode ser realizada por qualquer pessoa; ex.: engraxar sapato, pintar uma parede). Consequências práticas • A locação, o comodato e a locação são contratos de empréstimo (conforme veremos na aula sobre contratos). No entanto: O mútuo é um contrato que se refere ao empréstimo apenas de coisas fungíveis, ou seja, o devedor pode devolver outra coisa, desde que seja igual. Já o comodato é um contrato de empréstimo gratuito de coisas infungíveis. E a locação é um empréstimo oneroso de bens infungíveis. Nestes dois últimos contratos a pessoa deve devolver o mesmo bem. Mas, conforme já disse, veremos isso de forma mais minuciosa na aula sobre contratos. • O credor de coisa infungível não pode ser obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa (art. 313 do CC); ou seja, ele tem o direito de receber a mesma coisa que emprestou. FATOS E ATOS JURÍDICOS Já estudamos que existem os sujeitos de Direito (que são as pessoas). Existem, também, os objetos do Direito (que são os bens). Veremos o elemento que estabelece a ligação; o vínculo entre as pessoas tendo como objeto os bens. Esse elemento é o que chamamos de relação jurídica. As relações jurídicas têm como fonte geradora os fatos jurídicos. Há sempre um fato que antecede o surgimento de um direito subjetivo. Fato, portanto, é um evento, um acontecimento. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 5 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB O tema “Fatos e Atos Jurídicos” deve ser visto devagar. Por isso, desmembramos esse tema em duas partes. Esta primeira é uma aula introdutória. Os alunos costumam achar essa primeira parte “meio chata”. Mas ela é imprescindível. Vou tentar torná-la mais agradável... Hoje, o que veremos é baseda matéria, que será importantíssima no futuro, quandoanalisaremos o Direito das Obrigações, os Contratos etc. Os Fatos, Atos e Negócios Jurídicos são pontos fundamentais para entender as próximas aulas. Leiam e releiam com todo amor e carinho este início. Depois daremos a segunda parte da aula. Vocês verão como ficará mais fácil entender. Falaremos agora de alguns conceitos, classificações, e, principalmente, na teoria do fato jurídico. Depois, passaremos para uma parte mais dinâmica, onde veremos o Negócio Jurídico e seus elementos constitutivos, além da ineficácia do Negócio Jurídico. Comecemos, então. Inicialmente, temos que diferenciar um fato comum de um fato jurídico. Há fatos que não interessam ao Direito. Exemplo: quando uma pessoa passeia por um jardim, está praticando um fato comum, que não sofre a incidência do Direito. Se essa pessoa,porém, andar sobre um gramado proibido, causando danos, o fato que era comum passará a interessar ao Direito. Assim, observem a seguinte classificação: • Fato Comum -ação humana ou fato da natureza que não interessa ao Direito. Não estudaremos isso, pois, como disse, não interessa ao Direito. • Fato Jurídico (em sentido amplo – lato sensu) - acontecimento ao qual o Direito atribui efeitos. Ex.: no contrato de locação, locador e locatário ficam vinculados um ao outro. Desse vínculo surgem direitos e deveres para ambas as partes. Assim, por enquanto, o que nos interessa estudar é o Fato Jurídico. Este sim causará reflexos no campo do Direito. Baseado no foi dito acima, podemos conceituar os fatos jurídicos como sendo os acontecimentos, previstos em norma de direito, em razão dos quais nascem, modificam- se, subsistem e extinguem-se as relações jurídicas. Para efeito de memorização dos elementos do Fato Jurídico que veremos, costumo usar em sala de aula a expressão A.R.M.E. (Aquisição, Resguardo, Modificação e Extinção) de Direitos. Aquisição de Direitos - é a conjunção dos direitos com seu titular. Dessa forma, surge a propriedade quando o bem se subordina a seu titular. (ex: quando eu acho uma coisa abandonada ou quando eu compro um determinado objeto de um amigo etc.). Os direitos podem ser adquiridos de forma originária ou derivada: a) Originária -o direito nasce no momento em que o titular se apropria do bem de maneira direta, sem a participação de outra pessoa (ex.: pescar um peixe em alto- mar, ocupar coisa abandonada etc.). b) Derivada -se houver transmissão do direito de propriedade, existindo uma relação jurídica entre o anterior e o atual titular (ex.: vender um carro ou um imóvel a outra pessoa). A aquisição ainda pode ser gratuita (não há contraprestação – ex.: doação) ou onerosa (há uma contraprestação – ex.: compra e venda, troca). Resguardo (proteção ou defesa) de Direitos - para resguardar seus direitos, o titular deve praticar atos conservatórios como: protesto; retenção -possuidor de boa- fé que fez benfeitorias necessárias e úteis na coisa alheia (art. 1.219 CC); arresto -apreensão judicial de coisa litigiosa ou de bens para a segurança da dívida; sequestro -depósito judicial da coisa litigiosa para garantia do direito. Há também a defesa preventiva: a) extrajudicial -a cláusula penal em um contrato (trata-se da multa contratual); o sinal (que também é chamado de arras, ou seja, um adiantamento); a fiança etc., são medidas que servem para proteger meus direitos. b) judicial -são as ações judiciais para proteção de direitos: Mandado de Segurança (protege direito líquido e certo); Interdito Proibitório (é uma ação possessória, conforme veremos no Direito das Coisas). Ação é o meio que o titular do direito tem para obter a atuação do Poder Judiciário, no sentido de solucionar litígios relativos a interesses jurídicos (art. 3º do C.P.C. - “Para propor ou contestar uma ação é necessário ter legítimo interesse econômico ou moral”). Nós sabemos que no Brasil não podemos fazer “justiça pelas próprias mãos”, sob pena de cometermos um crime (exercício arbitrário das próprias razões). Se uma pessoa me deve seis meses de aluguel eu não posso ir até a casa dele e “dar uns tapas” no devedor. Não! Eu devo entrar com uma ação de despejo por falta de pagamento. No entanto, admite-se, excepcionalmente, a autodefesa ou autotutela no caso de legítima defesa da posse (art. 1.210, §1º do CC), penhor legal etc. Veremos isso em outras aulas mais para frente. Modificação (ou transformação) de Direitos - os direitos podem sofrer modificações em seu conteúdo, seu objeto e em seus titulares, sem que haja alteração em sua substância. A modificação do direito pode ser objetiva ou subjetiva: a) Objetiva - atinge a qualidade ou quantidade do objeto ou o conteúdo da relação jurídica (ex.: o credor de uma saca de feijão aceita o equivalente em dinheiro). b) Subjetiva - substituição do sujeito ativo ou passivo, podendo ser inter vivos ou causa mortis (ex.: morre o titular de um direito e este se transmite aos seus sucessores). No entanto, há direitos que não comportam modificação em seu sujeito por serem personalíssimos. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 6 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Extinção de Direitos – observem, com atenção, as hipóteses de extinção de direitos: • perecimento do objeto (anel que cai em um rio profundo e é levado pela correnteza) ou perda de suas qualidades essenciais (campo de plantação invadido pelo mar). • renúncia - quando o titular de um direito, dele se despoja, sem transferi-lo a quem quer que seja; ele abre mão de um direito que teria (ex: renúncia à herança). • abandono – intenção do titular de se desfazer da coisa não querendo ser mais seu dono. • alienação – que é o ato de transferir o objeto de um patrimônio a outro, de forma onerosa ou gratuita. • falecimento do titular, sendo direito personalíssimo, e por isso, intransferível. • confusão – numa só pessoa se reúnem as qualidades de credor e devedor. • prescrição ou decadência -analisaremos mais adiante, ainda na aula de hoje. Bem, com isso encerramos esta parte bem introdutória sobre o Fato Jurídico e seus elementos (A.R.M.E.). Vejamos agora uma Classificação dos Fatos Jurídicos. Podemos dizer que o Fato Jurídico se divide em Natural (fato da natureza) e Humano (praticado por nós, os seres humanos). Cada um destes possui uma subdivisão. Observe o esquema abaixo. Este esquema é de extrema importância. Daqui para frente (inclusive na próxima aula) vamos analisar cada item deste esquema. Portanto, sempre que estiver em dúvida sobre o assunto tratado, retorne a este esqueminha. Fato Jurídico Natural (ou Fato Jurídico em Sentido Estrito) • Ordinário – normalmente ocorre • Extraordinário – caso fortuito ou força maior Fato Jurídico Humano (ou simplesmente ATO) Veremos estes temas abaixo na próxima aula. Por enquanto, é importante que se saiba: • Ato Jurídico em Sentido Amplo (ou Voluntário): - Ato Jurídico em Sentido Estrito – os efeitos são os impostos pela lei (ex; reconhecimento de filho); não há regulamentação da autonomia privada. - Negócio Jurídico – os efeitos são os desejados pelas partes (ex: contratos); há autonomia privada. • Ato Ilícito (ou Involuntário): - Civil - Penal - Administrativo Caros alunos. Muito cuidado aqui. Algumas questões costumam cair sobre o gráfico acima. E isso causa certa confusão ao aluno. Querem um exemplo? Duas indagações (responda sem olhar o esqueminha): O Ato Ilícito é um Ato Jurídico? O Ato Ilícito é um Fato Jurídico? Resposta: basta analisar o esquema com atenção (agora dê uma olhada) que iremos concluir que o Ato Ilícito é um Fato Jurídico (humano), porém não é um Ato Jurídico!!! Continuemos. O primeiro item do quadro que iremos analisar na aula de hoje é o Fato Jurídico em Sentido Estrito, que a doutrina também chama de Fato Jurídico Stricto Sensu ou Fato Natural (sãotodas expressões sinônimas). Pois bem. Fato Natural é o acontecimento que ocorre independente da vontade humana e que produz efeitos jurídicos, criando, modificando ou extinguindo direitos. Podem ser classificados em: Ordinário -O que há de mais certo em nossa vida?? A morte. Ela ocorrerá independente de nossa vontade. Portanto é um fato natural. Lógico que estou falando da morte por causas naturais (costumo brincar – a morte morrida). Pois um homicídio (brincando ainda – a morte matada) é um ato ilícito. Da mesma forma são Fatos Jurídicos Naturais Ordinários: o nascimento, a maioridade, o decurso de tempo que juridicamente se apresente sob a forma de prazo (intervalo de dois termos), a usucapião (essa matéria é vista no Direito das Coisas, quando o edital exigir esse item), a prescrição e a decadência etc. Estes últimos temas são importantíssimos e serão analisados de forma autônoma, ainda nesta aula. Extraordinário -são causas ligadas ao caso fortuito (causa desconhecida - ex.: explosão de uma caldeira em uma usina) ou à força maior (conhece-se a causa, fato da natureza - ex.: raio que provoca incêndio). Há uma imprevisibilidade. Em ambos o caso se configura uma inevitabilidade do evento e ausência de culpa pelo ocorrido. A partir deste ponto vamos nos ater ao Fato Jurídico Humano, que é o acontecimento que depende da vontade humana (há quem diga que o termo ‘vontade humana’ seria uma redundância, pois somente o homem teria ‘vontade’; no entanto o termo tem sido aceito normalmente), abrangendo tanto os atos lícitos como os ilícitos. Eu diria que a aula de hoje é mais “light” do que a anterior; esta é menos teórica. Portanto, antes de começar a aula propriamente dita eu sempre relembro meus alunos que este é um curso para Concursos Públicos. Assim, não se perca em detalhes em episódios que podem ocorrer em sua http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 7 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB vida e em casos particulares, mas que não trazem repercussão para uma prova de um concurso. O importante é conhecer os institutos. Por outro lado, apesar de mais dinâmica, esta é uma aula mais longa... Vamos ao que interessa: Como vimos, o Fato Jurídico Humano pode ser subdividido. Vamos analisar as particularidades desta subdivisão: 1 - ATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO (também chamado pela doutrina de voluntário). Pode ser classificado em: • Ato Jurídico em Sentido Estrito (ou meramente lícitos) -se objetivar a mera realização da vontade do agente (perdão, reconhecimento de filho, confissão etc.). A vontade é importante para a realização do ato, mas não o é quanto à produção dos efeitos, que decorre da lei. • Negócio Jurídico -se procura criar normas para regular interesses das partes, harmonizando vontades que, na aparência, parecem antagônicas (testamento, contrato, adoção etc.) e que se subordinam às disposições comuns. A ação humana visa alcançar um fim determinado. 2 – ATO ILÍCITO (também chamado de ato jurídico involuntário) -se acarretar consequências jurídicas alheias à vontade do agente. O ato ilícito, embora seja um fato jurídico (pois causa repercussão no direito) não é ato jurídico, pois a característica essencial do ato jurídico é que este tem de ser lícito. Não esqueça!!! ATO JURÍDICO ≠ ATO ILÍCITO O ato ilícito não é espécie de atos jurídicos. O legislador os colocou a parte, o ato ilícito foi tratado como categoria própria, razão porque se emprega a expressão ato jurídico somente para ações lícitas. Autores como Silvio Venosa e Machado Neto têm visão própria da matéria. Sucede que Flavio Tartuce, Fernando Simão, Pablo Stolze, Vicente Rao e Zeno Veloso entendem que o ato lícito é categoria separada da do ato jurídico. Particularmente também concordo, entendo que a ação humana lícita é o ato jurídico, e a ação humana ilícita é o ato ilícito. Tanto que são trazidas separadamente no Código. Obs.: Gera confusão chamar o ato ilícito de ato jurídico, apesar de gerar efeito jurídico. Portanto, ao tratar do nome ato jurídico, refira-se apenas aos atos lícitos, enquanto que os atos ilícitos são englobados como ações humanas lícitas. Em uma brilhante analogia, o Professor Zeno Veloso, fala da Andorinha. Diz o grande civilista: “só porque duas aves tem asas não significa que ambas são andorinhas; da mesma forma, só porque os dois atos produzem efeitos jurídicos, não significa que atos lícitos e ilícitos sejam jurídicos.” Vamos, então, analisar o ato jurídico em sentido estrito e o negócio jurídico, que são espécies do gênero ato jurídico em sentido amplo. Lembrando que Negócio Jurídico é o tema mais importante, conforme veremos. ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO No Ato Jurídico em Sentido Estrito há uma realização de vontade do agente, mas suas consequências são as previstas em lei e não as que porventura queiram as partes. O ato jurídico em sentido estrito gera consequências jurídicas previstas em lei e não pelas partes interessadas. Ex: reconhecimento de filho. Digamos que uma pessoa teve um filho fora do casamento. O pai quer apenas reconhecer o filho. Mas com o reconhecimento surgem efeitos legais, obrigatórios, mesmo que não desejados pelo agente, como direito ao nome, poder familiar, obrigação de prestar alimentos, direitos sucessórios etc. Assim, reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato não dependem da vontade da pessoa que fez o reconhecimento, mas da lei. Assim, o ato jurídico em sentido estrito é o que gera consequências jurídicas previstas em lei, independente da vontade das partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. O ato jurídico em sentido estrito, referido no sucinto e solitário artigo 185 do CC, traduz: Ato jurídico realizado voluntária e conscientemente, cujo efeito está previsto unicamente na lei e só nela pode se basear. O ato jurídico em sentido estrito, também chamado de ato não-negocial traduz um simples comportamento humano, voluntário e consciente, cujos efeitos estão predeterminados na lei. Não existe liberdade ou autonomia privada para a escolha dos efeitos jurídicos (não há liberdade negocial, nem liberdade volitiva), uma vez que estão preestabelecidos na própria lei. São desprovidos de carga negocial. EFEITOS Não há autonomia privada ou liberdade nos atos jurídicos no que tange a escolha dos efeitos do ato realizado (não há liberdade negocial, nem liberdade volitiva). A lei diz qual é o efeito. Sendo, portanto, desprovidos de carga negocial. Importante!!! Pontes de Miranda, baseado no direito alemão, e Marcos Bernardes de Melo perceberam que o sistema do fato jurídico faltava uma categoria, que ficaria entre o fato da natureza e as ações do homem. Essa categoria é o ato- fato jurídico. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 8 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB O ato-fato jurídico, categoria não explicitamente prevista no CC, consiste em um comportamento que, embora derive da atuação humana, é desprovido de vontade consciente em direção ao resultado que se pretenda atingir. Nomenclatura do ato-fato jurídico: ATO porque proveniente do homem. FATO porque desprovido de consciência. JURÍDICO porque produz efeitos jurídicos. Daí, ato-fato jurídico. Para que seja ação humana, deve ter carga de voluntariedade. Se o comportamento é humano, mas é desprovido de vontade e consciência, sendo instintivo ou reflexo, não se encaixa como ação humana, mas se encaixa no conceito de ato-fato. EXEMPLOS - O descobrimento de um tesouro; - A especificação (transformação da matéria-prima em obra final) realizada por um enfermo mental. Um incapaz cria uma obra de arte em escultura ao manusear a argila paracomer. Ele, apesar de não realizar um ato consciente, realizou um ato humano que tem efeitos na esfera jurídica. Assim é ato-fato. Qual é a natureza jurídica da venda de um doce a uma criança de 5 anos de idade? Entendimento 1: É um contrato de compra e venda. É um contrato nulo (pela incapacidade do agente), mas socialmente aceito. Para um menor de 16 anos, faz mais sentido, pois o jovem já tem carga negocial. Entendimento 2: Para Jorge Cesar Ferreira, com base em Pontes de Miranda, a venda de um doce a uma criança enquadra-se melhor na noção de ato-fato (não há necessidade de consciência para prática do ato). A criança não tem consciência nem vontade, mas gera efeitos jurídicos, por isso há ato-fato. NEGÓCIO JURÍDICO Conceito Negócio Jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido amplo. É o ato destinado à produção de efeitos jurídicos, desejados pelo agente e tutelados pela lei. É toda ação humana, de autonomia privada, com o qual o particular regula por si os próprios interesses, há uma composição de interesses. Objeto O negócio jurídico típico é o contrato. Num contrato as partes contratantes acordam que devem conduzir-se de determinado modo, uma em face da outra (ex.: contrato de locação, de compra e venda etc.). O negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas têm para realizar seus interesses. Lembrem-se que o contrato é um Negócio Jurídico Bilateral. Nos entanto, o Negócio Jurídico pode ser também Unilateral, como no caso do Testamento. Distinção – Negócio Jurídico e Ato Jurídico em Sentido Estrito Vamos reforçar a idéia: não devemos confundir negócio jurídico com o ato jurídico em sentido estrito. Este não é exercício de autonomia privada. Logo, o interesse objetivado não pode ser regulado pelo particular e a sua satisfação se concretiza no modo determinado pela lei. Já no negócio jurídico, o fim procurado pelas partes baseia-se na autonomia da vontade privada. O negócio leva em consideração o fim procurado pela parte ou partes e a esse fim a ordem jurídica adapta os efeitos. Classificação dos Negócios Jurídicos Segundo a melhor doutrina, os Negócios Jurídicos podem ser classificados em: 1 - Quanto à manifestação de vontade: • Unilaterais - quando a declaração de vontade emana de uma ou mais pessoas, mas na mesma direção colimando um único objetivo; o ato se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade (ex.: testamento, renúncia, desistência, promessa de recompensa etc.). Subdividem-se em receptícios (a declaração tem de se tornar conhecida do destinatário para produzir efeitos - Ex.: revogação de mandato, ou seja, de uma procuração; se eu revogo uma procuração eu devo comunicar às pessoas a quem eu outorguei poderes. Portanto é um ato unilateral – só depende da minha vontade – mas eu devo comunicar a outra parte a minha decisão. Outro exemplo:escolha nas obrigações alternativas) ou não receptícios (o conhecimento por parte de outrem é irrelevante – Ex.: testamento – quando eu faço o meu testamento, nada mais precisa ser feito; não preciso comunicar ninguém desse fato, renúncia de herança). • Bilaterais – quando a declaração de vontade emana de duas manifestações de vontade, em sentido oposto, mas coincidentes sobre o objeto Ex: perdão, contratos (compra e venda – comprador e vendedor; locação – locador e locatário etc.). Podem ser simples (benefício a uma das partes e encargo à outra – ex.: doação) ou sinalagmáticos (vantagens e ônus a ambas as partes – ex.: locação, compra e venda). Veremos melhor esse item na aula sobre contratos. • Plurilaterais - contratos que envolvem mais de duas partes (ex.: contrato de sociedade com mais de dois sócios). 2 - Quanto às vantagens: http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 9 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB • Gratuito - só uma das partes aufere vantagem, não havendo contraprestação; são atos de liberalidade (ex.: doação simples, comodato). • Oneroso - ambos os contratantes possuem ônus e vantagens recíprocas (ex.: locação, compra e venda etc.). 3 - Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos: • Inter vivos - destinados a produzir efeitos durante a vida dos interessados (ex.: locação, compra e venda, mandato, casamento etc.). • Causa mortis - emitida para a criação do direito após a morte do declarante (ex.: testamento, codicilo, legado etc.). 4 – Quanto a seus efeitos: • Constitutivos – se sua eficácia se opera ex nunc (se efetiva a partir do momento da conclusão – ex.: compra e venda). • Declarativos – se sua eficácia é ex tunc (só se efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a declaração de vontade – ex.: divisão de condomínio, reconhecimento de filho etc.). 5 - Quanto à subordinação: • Principais - têm existência própria e não dependem de qualquer outro (ex.: compra e venda, locação). • Acessórios - têm a sua existência subordinada à do contrato principal (ex.: fiança, cláusula penal etc.); não têm existência jurídica autônoma (“o acessório segue o principal”). 6 - Quanto às formalidades: • Solenes (formais) - obedecem a uma forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem (ex.: casamento, testamento etc.). • Não solenes (forma livre) - a lei não reclama formalidades para seu aperfeiçoamento (ex.: locação, compra e venda de bens móveis etc.). 7 – Quanto às pessoas: • Impessoais – independe de quem sejam as partes (ex: contrato uma pessoa para pintar um muro; qualquer pessoa pode fazer isso; não há uma habilidade especial para isso). • Intuitu personae – o ato se realiza em função das qualidades especiais de uma pessoa (ex.: outorgo mandato à pessoa de minha confiança; desejo ser operado por cirurgião de minha confiança etc.). 8 – Quanto à causa: • Causais – estão vinculados a uma causa (ex.: o registro da escritura de um imóvel está sempre ligado à existência da escritura de compra e venda deste imóvel; se a compra e venda for defeituosa, o registro também o será). • Abstratos – estão desvinculados de qualquer outro negócio (ex.: compro uma casa pagando com um cheque; a emissão deste é desvinculada; se a compra e venda for considerada nula, o cheque continuará valendo, principalmente se estiver nas mãos de terceiros). ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Alguns elementos do negócio jurídico são chamados de essenciais porque constituem elementos de existência e validade. Outros são chamados de acidentais, pois são requisitos de eficácia do negócio. Vamos apresentar um esquema para melhor classificar os elementos constitutivos. Depois vamos analisá-los um a um. Porém, antes falaremos dos planos de existência, validade e eficácia do negócio jurídico. Subdivisões do negócio jurídico em Planos de Análise (Existência, Validade e Eficácia). Foram estudados por Pontes de Miranda e Marcos Bernardes de Melo. PLANO DE EXISTÊNCIA - É plano substantivo do negócio. - Estuda os elementos constitutivos ou requisites de existência do negócio jurídico. - Vários autores têm resistência a esse plano de existência. - O Código Civil não o prevê, mas isso não significa que ele deve ser negado. Requisitos de existência sem os quais o negócio jurídico não é nada. Elementos que compõe a estrutura do negócio jurídico. Se faltar qualquer requisito ele será inexistente. O legislador não tratou na parte geral sobre esse plano, no entanto a doutrina o reconhece. O juiz pode reconhecer a inexistência de ofício. * Os autores que não defendem a existência desse plano, entendem que nesses casos o negócio é nulo. Requisitos existenciais do negócio: 1. A manifestação de VONTADE (vontade interna + vontade externa): faltando a manifestação de vontade o negócio é inexistente (não é nulo e sim inexistente). Se a vontade consciente estiver neutralizada, ou seja, se faltarvontade, não há negócio. Exemplo: coação física. OBSERVAÇÃO: No que tange a manifestação de vontade, o silêncio pode como tal ser compreendido? “Quem cala consente”, http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 10 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB esse ditado popular tem respaldo no Direito Civil? Ou seja, o silêncio, ausência da manifestação de vontade, gera efeitos jurídicos? Resposta: Em linha de princípio, lembra-nos Caio Mario, que em regra, o silêncio é a ausência de manifestação de vontade. No entanto, excepcionalmente, nos termos do art. 111, seguindo os sistemas como o alemão e o inglês, em situações especiais admite que o silêncio possa traduzir vontade. “Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. Exemplo: O art. 539 do CC estabelece que na doação pura o silêncio traduz aceitação. CUIDADO!! No dolo, o silêncio pode significar o negócio viciado. Veremos depois que o silêncio pode também significar quebra de boa-fé objetiva por dolo negativo (art. 147 do CC). 2. AGENTE (EMISSOR DA VONTADE): todo negócio jurídico para existir pressupõe um agente emissor da vontade. Faltando o agente não há negócio. 3. OBJETO: sem o objeto o negócio não existe. Ex: Contrato de mútuo de dinheiro mútuo feneratício. 4. FORMA: sem uma forma o negócio também não existe. Forma significa, segundo Vicente Ráo, o meio pelo qual a vontade se exterioriza, ou seja, o revestimento exterior da vontade. A forma não se confunde com a vontade externa. A forma é um meio pelo qual se declara a vontade. A forma integra o negócio como revestimento exterior da vontade, ou seja, é um meio pelo qual a vontade se manifesta. Pode ser manifestada pela forma escrita, pela forma oral, pela mímica etc. Admitem-se formas variadas. IMPORTÂNCIA DA FORMA: Se o negócio existe, analisamos agora o Plano de Validade do negócio. PLANO DE VALIDADE - É analisado no art. 104, CC, que para alguns autores é artigo incompleto, como Marcos Bernardes de Melo. Plano qualificativo do negócio. Esse plano de validade não estuda a estrutura. Estudam-se os pressupostos de validade, que dão aptidão para gerar efeitos no negócio jurídico. Faltando pressuposto de validade o negócio é inválido (nulo ou anulável). OBS: os vícios do negócio jurídico atuam no plano da validade. O Plano de existência integra os elementos subjetivos do negócio. O plano de validade estuda os pressupostos que qualificam o negocio para que ele possa gerar efeitos, ou seja, basta que se conheça os elementos de existência e os qualifique. SÃO PRESSUPOSTOS DE VALIDADE: 1. VONTADE + livre e de boa-fé A vontade deve ser totalmente livre e de boa- fé. Observe que estou qualificando o negócio. 2. AGENTE + capaz e legitimado 3. OBJETO + lícito + possível + determinado / determinável. Em geral, na doutrina civilista, licitude significa legalidade e adequação ao padrão médio de moralidade. 4. FORMA + livre ou prescrita em lei No direito brasileiro, a regra é o Princípio da liberdade da forma nos negócios jurídicos (art. 107 do CC). A forma, de per si, é elemento de existência. A lei tanto pode exigir a forma para efeito de prova do negócio jurídico (art. 227, CC – negócio Ad probationem), como também poderá exigir a forma como elemento de validade do próprio negócio (art. 108, CC – negócio solene ou Ad solemnitatem). Há situações em que o legislador exige determinada forma, especialmente a pública. Se faltar a forma prescrita em lei, o negócio não é valido. Art. 108, CC. Se a venda, a hipoteca, a doação ou qualquer negócio for superior a 30 salários mínimos, deverá ser feita escritura no tabelionato. Sendo que o valor base para isso é o valor que as partes declarem no contrato, não o valor usado pela Prefeitura para calculo de IPTU (conforme enunciado 289, 4ª Jornada de Direito Civil). QUESTÃO DE CONCURSO: Se o objeto do negócio for ilícito. O negócio é invalido, pois apesar de ter objeto, ele não tem a qualificação da licitude. IMPORTANTE: São defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo, simulação. Esses efeitos interferem no plano de validade e não no plano de existência. A vontade existe, mas é prejudicada. Na coação física, o negócio é inexistente, pois não há vontade. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 11 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Na coação moral, o negócio é existente, porém inválido, pois ela não é livre. É captada de má-fé a vontade, não sendo válido o negócio, no caso do vendedor enganar o comprador dizendo que se trata de carne bovina enquanto se trata de carne de gato. Obs.: Alguns autores na linha de Orlando Gomes, afirmam que a licitude pressupõe, também, subsunção a um padrão médio de moralidade. (Se a banca for mais conservadora, em princípio, é bom defender isso) Se o objeto for considerado ilícito, o negócio existe, mas é inválido. Ex: “negócio jurídico ” na contratação de serviços de prostituta, pois não se adéqua a um padrão médio de moralidade. Se a banca for mais progressista, admite-se a licitude do objeto. IMPORTANTE: REGRA - Princípio da liberdade da forma Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Há situações que a lei exige a forma escrita para efeito de prova do negócio (art. 227). Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. Apesar da regra, a lei pode prescrever a forma como requisito de validade (art. 108). Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Ex: Compra e venda: instrumento público acima de 30 salários mínimos. ** Promessa de compra e venda: pode ser instrumento privado. Sendo que o valor base para isso é o valor que as partes declarem no contrato, não o valor usado pela Prefeitura para calculo de IPTU (conforme enunciado 289, 4ª Jornada de Direito Civil). Obs.: A promessa de compra e venda, pode ser feita por instrumento particular, não importa o valor. PLANO DE EFICÁCIA Estuda os elementos que interferem nos efeitos jurídicos do negócio, ou seja, na eficácia do negócio. Estuda-se: 1. Condição 2. Termo 3. Modo ou encargo Nessa tripartição (Existência, Validade e Eficácia), tem-se a teoria do negócio jurídico. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS I – Essenciais – dizem respeito à validade do negócio A) Gerais 1 – Capacidade das Partes 2 – Objeto Lícito, Possível, Determinado ou Determinável 3 – Consentimento B) Especiais – forma prescrita ou não defesa em lei II – Naturais – efeitos decorrentes do negócio jurídico III – Acidentais – dizem respeito à eficácia do negócio 1 – Condição 2 – Termo 3 – Modo ou Encargo I - ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS Como vimos acima, os requisitos de validade do negócio jurídico são: capacidade das partes (elemento subjetivo), objeto lícito, possível, determinado ou determinável (elemento objetivo), consentimento e forma prescrita ou não defesa em lei (artigo 104 do C.C.). Os três primeiros são gerais, comuns a todos os Negócios Jurídicos.Já o último (forma) é especial, diz respeito à apenas alguns contratos. Por isso será analisado em item autônomo. Vamos nos ater agora aos Elementos Essenciais Gerais. A) CAPACIDADE DO AGENTE Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a capacidade do agente é indispensável. Os artigos 3º e 4º do Código Civil nos apresentam o rol das pessoas absoluta ou relativamente incapazes. Já analisamos quem são essas pessoas. É imprescindível o conhecimento dessa matéria para a compreensão do que falaremos a seguir. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes (embora possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo absolutamente incapaz sem representação é nulo. http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 12 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB Já o ato realizado pelo relativamente incapaz sem assistência é anulável. Lembrando que o vício da incapacidade é um instrumento a favor do incapaz. Incapacidade • Absoluta → falta de representação – ato nulo • Relativa → falta de assistência – ato anulável Recordando, também que as pessoas jurídicas são representadas, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente, por seus órgãos (pessoas naturais que exprimem a sua vontade). Trata-se de uma representação imprópria. Espécies de Representantes: a) Legais – a norma jurídica confere poderes para administrar bens alheios (ex.: pais, tutores e curadores, em relação aos bens dos filhos, pupilos e curatelados). b) Judiciais – nomeados pelo Juiz para exercer certo cargo no foro ou no processo (ex.: síndico, inventariante etc.). c) Convencionais – através de mandato, expresso ou tácito, verbal ou escrito. B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL Para que o negócio jurídico se repute perfeito e válido, deverá versar sobre objeto lícito, conforme a lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem pública e à moral (ex.: na locação de um imóvel, este é o objeto do contrato). Se ilícito o objeto, nulo será o negócio jurídico (ex.: compra e venda de objeto roubado). Além disso, deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar prestações impossíveis, também será anulado; a impossibilidade pode ser jurídica ou física (ex.: venda de herança de pessoa viva; ir à lua e voltar em 2 horas etc.). Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, determinável, ou seja, deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem existir critérios que permitam sua futura individualização (indicação de gênero e quantidade, ainda que não seja mencionada a qualidade). Falta de objeto lícito e possível -negócio nulo. C) CONSENTIMENTO A manifestação de vontade exerce papel importante no negócio jurídico, sendo um elemento básico. É necessário que esta vontade seja espontânea, livre de qualquer vício. O consentimento pode ser expresso (se declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita) ou tácito (se resultar de um comportamento do agente que demonstre, implicitamente, sua anuência), desde que o negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma expressa. Assim, o silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os usos o autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111 CC). É o que acontece com a doação pura, onde o silêncio do beneficiário é considerado como aceitação. Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem (art. 112). Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113). Trata-se de referência à boa fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, de acordo com a lealdade, honestidade, confiança etc. Finalmente o artigo 114 estabelece que os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. DEFEITOS Defeito é todo vício que macula o ato jurídico, tornando-o passível de anulação. Pode ser grave (vicia o ato de forma definitiva) ou leve(pode ser remediado pelo interessado). Podemos dizer que um ato é válido, quanto ao consentimento, se “eu faço algo que eu queria fazer e isto não prejudica ninguém”. Às vezes eu posso fazer algo que eu não queria fazer (e quantas vezes isso ocorre conosco ...); quero comprar algo e me engano... ou sou enganado. Outras vezes quero fazer algo e faço exatamente aquilo que eu queria fazer. Mas o que fiz afeta a terceiros, prejudicando essas pessoas, que não foram partes do negócio principal, mas que foram lesados com a minha conduta. Em qualquer uma das duas situações surgem os defeitos relativos à vontade. Assim: Se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico será viciado ou deturpado, tornando-se anulável, se no prazo decadencial de 04 anos for movida ação de anulação. São os chamados vícios de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes casos há uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada. Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando normalmente, havendo até correspondência entre a vontade interna e a manifestação, mas, no entanto, ela desvia-se da lei ou da boa-fé infringindo a lei e prejudicando terceiros; também são passíveis de anulabilidade. São os vícios sociais (simulação e fraude contra credores). Vamos mais uma vez, apresentar um esquema para melhor classificar os defeitos relativos à vontade. Depois vamos analisá-los um a um. DEFEITOS 1 - Ausência de Vontade -Negócio Nulo http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 13 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB 2 - Vícios de Consentimento - Erro ou Ignorância, Dolo, Coação, Lesão e Estado de Perigo. 3 - Vícios Sociais -Simulação e Fraude contra Credores ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144 CC) Erro é a noção falsa que se tem de um objeto ou de uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se em falso juízo ou engano. A ignorância é o completo desconhecimento acerca do objeto. Só é anulável se o erro ou a ignorância for essencial, conforme veremos. O erro é um registro falso. A pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Pode ser cometido por conta própria. O Código Civil equipara o erro à ignorância quanto aos efeitos; as consequências são idênticas no campo do direito. O erro pode ser classificado em: A) ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL (escusável e real) - quando se refere à natureza do próprio ato; recai sobre circunstâncias e aspectos principais, relevantes do negócio. Pode ser classificada: • no próprio negócio (ex.: dou como empréstimo e a pessoa recebe como doação; quero vender, mas acabo doando). • sobre o objeto principal da declaração de vontade ou sobre alguma qualidade a ele essencial (ex.: pensa-se comprar ouro e compra-se liga de cobre, compro cavalo de carga pensando se tratar de “puro-sangue” etc.). • sobre a qualidade essencial da pessoa: 1- Casamento: a) identidade do outro cônjuge sobre a sua honra, boa fama etc. (ex.: casar-se com pessoa e descobrir depois se tratar de criminoso procurado, viciado em tóxicos etc.). b) ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave, transmissível. 2 - Testamento: - deixo uma joia para X, que salvou minha vida. Descobre-se que foi Z e não X quem salvou minha vida (o erro quanto ao fim colimado ou por falsa causa só vicia a declaração de vontade, quando expresso como razão determinante). • erro de direito– O erro de direito é o engano quanto à existência ou interpretação da norma jurídica. Como regra ele não admite escusa, não pode ser alegado. No entanto admite-se o erro de direito (e anula-se o ato jurídico) se o ato não implica em recusa à aplicação da lei e for o motivo único ou principal do Negócio Jurídico (art. 139, III, CC). Isto é, não pode o ato recair sobre a norma cogente (impositiva, de ordem pública), mas tão-somente sobre normas dispositivas. “Ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando que não a conhece” - Princípio da Obrigatoriedade - O erro, como regra, recai sobre uma situação de fato (o contrato, o objeto, a pessoa etc.). É o erro de fato sobre uma situação concreta. Já o erro de direito é aquele que diz respeito à existência de uma norma jurídica, supondo-se que a lei não existe ou que não esteja em vigor. Ex: firmar um contrato de locação com base na lei antiga, pensando que ainda está vigorando. Importante - Só o erro substancial, essencial, escusável, real, anula o negócio jurídico. O erro deve ser de tal forma que, caso a verdade fosse conhecida, o ato não seria realizado. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade do contrato pode ser condenado a ressarcir os danos que causar à outra parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu consentimento. B) ACIDENTAL -concernente às qualidades secundárias ou acessórias da pessoa ou do objeto. Não vicia o ato; este continua válido, produzindo efeitos, por não incidir sobre a declaração de vontade. Ex: compro um carro de número de série diferente; compro uma casa pensando que tem quatro janelas, mas só tem três; doei um relógio a uma pessoa pensando ser ela solteira, mas é casada etc. Também o chamado erro de cálculo (inexatidão material) não é causa de anulação do negócio, mas de retificação (art. 143 CC). Erro X Vício Redibitório Essa é uma distinção muito importante. Já vi cair esta distinção em diversas ocasiões em concursos e, de fato, confunde um pouco o candidato. O vício redibitório, como veremos em aula posterior (contratos), é o defeito oculto na coisa, que a torne imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminua o valor. Não há qualquer erro no momento da celebração do negócio; o que há é um defeito no objeto (e não na vontade do adquirente), que não foi notado, já que era oculto. No erro há um engano por parte do adquirente; é um vício de ordem subjetiva, pois foi a vontade que foi viciada pela falsa percepção da realidade, não havendo vício no objeto. DOLO (arts. 145 a 150 CC) Dolo é o artifício empregado para enganar alguém. O dolo, o agente emprega artifícios manobras ardilosas ou maliciosas, para levar alguém à prática de um ato que o prejudica, beneficiando o autor do dolo ou terceiros. Requer a vontade de enganar alguém (a doutrina chama isso de animus decipiendi). http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 14 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB O dolo pode ser classificado em: • Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam) -é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, acarretando, então, a anulabilidade do negócio jurídico. É preciso que haja uma relação de causa e efeito entre a indução do erro e a prática do negócio • Dolo Acidental (dolus incidens) - leva a vítima a realizar o negócio, porém em condições mais onerosas, não afetando sua declaração de vontade. O negócio teria sido praticado de qualquer forma, embora de outra maneira. Não anula o negócio, apenas obriga a satisfação de perdas e danos ou uma redução da prestação acordada. O dolo ainda pode ser classificado em: • Dolus Bonus (dolo bom) - é um comportamento tolerado nos meios comerciais. Consiste em reticências, exageros nas boas qualidades da mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a finalidade de prejudicar ninguém. Não é anulável, desde que não venha a enganar o consumidor, mediante propaganda abusiva. • Dolus Malus (dolo mau) -consiste em manobras astuciosas para enganar alguém e lhe causar prejuízo. É anulável. O dolo mau pressupõe: - prejuízo para o autor do ato; - benefício para o autor do dolo ou terceiro. O dolo ainda pode ser: • Positivo (ou comissivo) -ação dolosa, artifícios positivos (ex.: falsas afirmações sobre a qualidade da coisa). • Negativo -omissão dolosa, ocultação de algo que a parte contratante deveria saber (ex.: seguro de vida omitindo doença grave e vem a falecer dias depois) assim, mesmo o silêncio pode ser mecanismo de atuação dolosa. Observações: • Dolo x Erro - o erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem que a outra parte tenha concorrido para isso; o dolo é intencionalmente provocado na vítima pelo autor do dolo. • Dolo recíproco -quando ambas as partes agem com dolo, configurando-se torpeza bilateral, ocorre a neutralização do delito. Não haverá a anulação. O ato é válido. • Não se admite invocação do dolo para se anular casamento. COAÇÃO (arts. 151 a 155 CC) Coação é a pressão física ou moral exercida sobre alguém para obrigá-lo a praticar determinado ato. Na coação o agente sofre intimidação, oferecendo-se ao paciente duas alternativas: emitir declaração de vontade que não pretendia originalmente ou não o fazer e sofrer as conseqüências decorrentes da concretização de uma ameaça ou de uma chantagem. Espécies: • coação física (vis absoluta) -é o constrangimento corporal que retira toda capacidade de querer, implicando ausência total de consentimento, acarretando nulidade do ato (ex.: amarrar a vítima, segurar sua mão e fazê-la assinar contrato). • coação moral (vis compulsiva) -atua sobre a vontade, sem aniquilar-lhe o consentimento, pois conserva ela uma relativa liberdade, podendo optar entre a realização do negócio que lhe é exigido e o dano com que é ameaçada (ex.: se não assinar o contrato, vou incendiar sua casa; vou estuprar sua mulher, vou mostrar uma foto sua em uma situação constrangedor etc.). COAÇÃO a) Física – não há consentimento algum – ausência de vontade – ato inexistente. b) Moral – há um consentimento viciado – ato anulável Requisitos para anulação • causa determinante do negócio jurídico - nexo causal entre o meio intimidativo e o ato realizado pela vítima. • temor justificado - como a morte, cárcere privado, desonra, mutilação. O grau de ameaça deve ser apreciado pelo Juiz. • dano iminente - suscetível de atingir a pessoa da vítima, sua família, seus bens etc. • dano grave e sério - ameaça deve ser grave (se a ameaça for indeterminada ou impossível não é capaz de anular o ato) e séria, capaz de assustar a vítima (ou paciente). Observação – O dano pode atingir pessoa não pertencente à família da vítima, hipótese em que o Juiz decidirá com equidade, se houve ou não a coação. A coação exercida por terceiro, ainda que dela não tenha ciência o contratante, vicia o negócio (anulável). Se a coação exercida por terceiro for previamente conhecida pela parte a quem aproveitar, esta responderá solidariamente com aquele por todas as perdas e danos (art. 154 CC). Excluem a coação • ameaça do exercício normal de um direito (ex.: se você não pagar a dívida, vou protestar o título e requerer sua falência; a pessoa que casa para extinguir ação penal, http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 15 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB por ter mantido relações sexuais com menor de 16 anos, não poderá alegar coação etc.). • simples temor reverencial -o receio de desgostar os pais, ou pessoas a quem se deve respeito e obediência é incapaz de viciar o negócio. ESTADO DE PERIGO (art. 156 CC) Configura-se o estado de perigo quandoalguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa (art. 156 do CC). A vítima não errou, não foi induzida a erro ou coagida, mas pelas circunstâncias de um caso concreto, foi compelida a celebrar um negócio extremamente desfavorável. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do contratante o Juiz decidirá segundo as circunstâncias. A pessoa temerosa de grave dano moral ou material (situação equiparada ao estado de necessidade, mas que com ele não se confunde), acaba assinando contrato, mediante prestação exorbitante (ex.: pai que tendo filho sequestrado, vende suas jóias por valor muito inferior ao mercado; vítima de acidente automobilístico que assume obrigação exagerada para ser salva de imediato; É necessário que a outra parte tenha conhecimento da situação de desespero do primeiro e se aproveite dessa situação. A sanção é a anulação – arts. 171, II e 178, II do CC (prazo de 04 anos). A anulação se dá pela ofensa ao senso de justiça que deve estar presente nos contratos em razão da sua função social; a parte agiu contra o princípio da boa fé objetiva, pois se aproveitou da situação de necessidade para tirar vantagem do negócio. LESÃO (art. 157 CC) Este instituto visa proteger o contratante em posição de inferioridade ante o prejuízo por ele sofrido na conclusão do contrato, devido a desproporção existente entre as prestações. Decorre do abuso praticado em situação de desigualdade, punindo a chamada “cláusula leonina” e o aproveitamento indevido na realização do contrato (ex.: pessoa está em vias de ser despejado e, premido pela necessidade de abrigar sua família e não ver seus bens deixados ao relento, acaba realizando outro contrato por valor muito acima do mercado, negócio esse que, se tivesse condição de meditar, jamais faria). O art. 157 do CC prescreve que ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que o contrato foi celebrado. Requisitos: • Objetivo – manifesta desproporção entre as prestações recíprocas. • Subjetivo – dolo de aproveitamento, de necessidade, de inexperiência alheia ou premente necessidade, levando-a a realizar negócio prejudicial. A sanção é a anulação – arts. 171,II e 178, II do CC (prazo de 04 anos). Não se decretará a anulação do negócio se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito (lesão especial ou qualificada). Estado de Perigo x Lesão – diferença básica Enquanto no estado de perigo o contratante, entre as consequências do grave dano que o ameaça e o pagamento de uma quantia exorbitante, opta pelo último (com a intenção de minimizar ou sanar o mal), na lesão o contratante, devido a uma necessidade econômica, realiza negócio desproporcional; há uma situação dehipossuficiência de uma das partes e aproveitamento desta circunstância pela outra. SIMULAÇÃO (art. 167 CC) Simulação é a declaração enganosa da vontade, visando a obter resultado diverso do que aparece, com o fim de criar uma aparência de direito, para iludir terceiros ou burlar a lei (ex.: faço contrato de compra e venda objetivando, na verdade, fazer uma verdadeira doação). O novo Código Civil não trata mais a simulação como um defeito social; atualmente a colocou em outro capítulo, referente à invalidade do negócio jurídico, que acarreta a nulidade do ato. No entanto a doutrina ainda a classifica como vício social. Na simulação há um desacordo entre a vontade declarada e a vontade interna e não manifestada. As partes fingem, criando uma aparência, uma ilusão externa, que oculta a real intenção dos contratantes. Na simulação as duas partes contratantes estão combinadas e destina-se a iludir terceiros. Só vicia o ato quando houver intenção de prejudicar terceiros ou violar disposição de lei. A despeito do novo Código, a doutrina continua classificando a simulação da seguinte forma: 1) Absoluta -a declaração enganosa de vontade exprime um negócio jurídico, mas não há intenção de realizar negócio jurídico algum (ex.: proprietário de uma casa alugada que, com a intenção de facilitar o despejo contra seu inquilino, finge vendê-la a terceiro; emissão de título de crédito que não representa qualquer negócio feito por um dos cônjuges para prejudicar outro na partilha numa separação). 2) Relativa -uma pessoa, sob a aparência de um negócio fictício, pretende realizar outro, que é o verdadeiro e diverso, no todo ou em parte, do primeiro. Há dois contratos: a) o simulado (aquele que se declara, mas não se quer); b) o dissimulado (aquele que traduz a vontade real das partes). http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 16 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB O que a lei determina é que o negócio dissimulado será mantido, desde que válido na forma e na substância. Ex.: pai deseja doar um imóvel a um de seus filhos, mas não quer que este bem seja trazido à colação quando de sua morte. Simula, então, uma compra e venda. Neste caso, se forem obedecidos os requisitos legais da doação (negócio dissimulado, pois esta era a real intenção do pai desde oinício), ela será mantida. Note que neste caso o bem doado deve sair da parte disponível do patrimônio do pai. Ou seja, ao contrário do que se pensa, um pai pode favorecer mais um filho em detrimento de outro. Mas isso deve ser feito por meio de um testamento e dentro da chamada “parte disponível” do pai. Pelo artigo 167, §2º a simulação ainda pode ser: a) subjetiva (por interposta pessoa ou ad personam) -se a parte contratante não for o indivíduo que tira proveito do negócio. É o testa-de-ferro ou o homem de palha (ex.: pessoa vende objeto à outra, para que esta transmita a terceiro, sendo que a intenção era transferir para o terceiro desde o início). b) objetiva (ou simulação de conteúdo) -relativa à natureza do negócio pretendido, ao objeto ou a um dos elementos contratuais (ex.: doação de homem casado à amante, dando-se a aparência de compra e venda; passar escritura por preço inferior ao do negócio real para burlar o fisco; colocar data diversa no documento etc.). c) inocente – quando não existir intenção de violar a lei ou de lesar outrem, devendo ser tolerada (ex.: pai que simula venda a filho único, mas na verdade doou o bem; pessoa sem herdeiros necessários que simula venda a terceiro, a quem se pretende deixar um legado etc.). d) maliciosa – envolve o propósito de prejudicar terceiros ou de burlar o comando legal, viciando o ato que perderá a validade, sendo nulo. A doutrina vem entendendo que o Código Civil não mais distingue a simulação inocente da maliciosa, pois ambas produzem o mesmo resultado: nulidade do negócio simulado. Observações Importantes 1 – Estabelece o artigo 168 e parágrafo único do CC que as nulidades do artigo 167 podem ser alegadas por qualquer interessado ou pelo Ministério Público. Devem ser pronunciadas pelo Juiz, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes. 2 – A nulidade do ato simulado não pode prejudicar terceiros de boa fé que tenham negociado com um dos simuladores (art. 167, §2º CC). Simulação X Reserva mental Na reserva mental há a emissão de uma declaração unilateral de vontade não desejada nem em seu conteúdo nem em seu resultado; o agente quer algo e o declara, conscientemente, coisa diferente. Ex.: uma pessoa que empresta dinheiro a alguém que está desesperado. Na verdade ela não quer fazer um contrato de mútuo (empréstimo), e sim ajudar a pessoa, enganando-a. Na verdade ela quer ajudar a pessoa doando o dinheiro. Assim, finge que está emprestando,mas ela sabe que o devedor não terá condições de lhe pagar o empréstimo. Portanto o “empréstimo”, na verdade foi “a fundo perdido”. Outro exemplo: pessoa se casa, não com o intuito de contrair matrimônio, mas sim para não ser expulsa do País etc.). O art. 110 do CC prescreve: “a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”. A reserva mental pode ser fraudulenta ou inocente, se houver ou não intenção de prejudicar. Lembrando que na simulação há consenso entre os simuladores. Observação: Nos termos do enunciado 294 da 4ª Jornada de Direito Civil, sendo a simulação causa de nulidade do negócio jurídico, pode uma das partes alegá-la contra a outra. Apesar de sabermos que não é dado alegar a própria torpeza em juízo, a nulidade é tão grave que pode até ser reconhecida de ofício. Ou seja, como a simulação gera a nulidade absoluta do negócio, considerando-se que o negócio nulo pode ser inclusive reconhecido de ofício pelo juiz, qualquer dos simuladores poderá impugnar o negócio em juízo. Ver enunciado 294 da 4º jornada: “Sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por uma das partes contra a outra”. Ou seja, negócio nulo pode ser arguido por qualquer pessoa, e inclusive de ofício pelo juiz. O que é contrato de vaca-papel? Conceito: trata-se de um contrato agrário (de parceria pecuária) que, em verdade, mascara (dissimula) um empréstimo a juros extorsivos. É um contrato simulado. O STJ já pronunciou que o contrato de vaca-papel é simulado (RESP 441903 – SP). O que é reserva mental? A reserva mental se configura quando o agente emite declaração de vontade resguardando o íntimo propósito de não cumprir o efeito jurídico pretendido. Qual é a consequência jurídica que decorre da manifestação da reserva, ou seja, o que se dá quando a outra parte toma conhecimento da reserva? 1ª corrente doutrinária – defendida pelo Ministro Moreira Alves e adotada no art. 110 do CC: sustenta que tomando ciência da reserva a outra parte o negócio se torna http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 17 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB inexistente. Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvose dela o destinatário tinha conhecimento. 2ª corrente doutrinária: afirma que manifestada a reserva e dela tomando conhecimento a outra parte o negócio torna- se inválido (por dolo ou simulação). FRAUDE CONTRA CREDORES (arts. 158 a 165 CC) Constitui fraude contra credores a prática maliciosa, pelo devedor, de atos que desfalcam seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios. Ressalvadas as hipóteses de credores com garantia real (conforme veremos na aula sobre Direito das Coisas, mas já adiantando alguns exemplos: penhor, hipoteca e anticrese) os demais credores estão em idênticas condições no recebimento de seus créditos. Se o patrimônio do devedor não for suficiente para o pagamento de todos os credores haverá um rateio (chamado pela doutrina, especialmente no D. Comercial, de par conditio creditoris). E, no caso do devedor praticar atos com a finalidade de frustrar o pagamento devido, ou tendentes a violar a igualdade entre os credores, ocorrerá a fraude contra credores. Observe que não é a vontade que se encontra viciada; o vício reside na finalidade ilícita do ato (portanto é um vício social). Elementos: • objetivo (eventus damni) -ato prejudicial ao credor, por tornar o devedor insolvente. • subjetivo (consilium fraudis) -má-fé -intuito deliberado de prejudicar, com a consciência de que de seu ato advirão prejuízos. São suscetíveis de fraude: • a título gratuito -doação de bens, perdão (remissão) de dívidas. Ex: estou devendo uma determinada importância e não desejo pagá-la. Tenho bens para saldar minha dívida. Então começo a “doar” meus bens. Basta a prática de um desses atos em estado de insolvência, para se presumir a fraude. Não se exige má-fé. O ato pode ser anulado pelos credores quirografários. • a título oneroso -se oneroso, sai um valor do patrimônio do devedor (ex.: imóveis) mas entra outro (dinheiro). Desde que insolvente ou for notória a insolvência (ex.: já havia protestos contra o devedor), ou há presunção (juris tantum – admite prova em contrário) de que irá dissipar o que recebeu (ex.: venda do único imóvel além do bem de família em data próxima do vencimento das obrigações e não há outros bens para solver o débito; parentesco próximo, amizade íntima, o preço vil, etc.). Será reputada uma venda fraudulenta se não houver dinheiro suficiente para pagar o credor. Se houver sobra patrimonial que permita honrar seus débitos, não haverá fraude contra credores. Se o comprador não tinha como saber o estado de insolvência do vendedor (estava de boa fé) não se anula o negócio (protege-se o comprador). • pagamento antecipado das dívidas -por si só não é fraude. Mas se o devedor insolvente paga dívida ainda não vencida em detrimento de outras que já se venceram, frustrando a igualdade entre os credores, há fraude contra credores, sendo o primeiro pagamento anulado. Conceitos – Algumas palavras que falamos acima são importante para o entendimento da matéria: • Credor quirografário (do grego chirografo – chiro – mão; grafo - grafia - escrito = escrito à mão, assinado) -é o credor sem garantias especiais. Ele conta apenas com a garantia comum a todos os credores: o patrimônio do devedor. • Insolvência -é um estado de fato e ocorre quando a soma do patrimônio ativo do devedor é inferior à do passivo; o valor das dívidas excede o valor dos bens. Ação Pauliana (ou revocatória) • os atos eivados de fraude contra credores são anuláveis através de ação própria, chamada de pauliana; é uma ação declaratória de ineficácia do negócio. Deve ser proposta pelos credores quirografários (e que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta) contra o devedor insolvente e também contra a pessoa que celebrou negócio jurídico com o fraudador ou contraterceiros adquirentes que hajam procedido de má fé (há um litisconsórcio passivo necessário). • O principal efeito desta ação é revogar o negócio lesivo aos interesses dos credores, repondo o bem no acervo sobre o qual se efetuará o concurso de credores. O prazo decadencial para o ajuizamento da ação é de 04 anos a contar da celebração do negócio. Portanto, a ação judicial que visa impugnar o negócio fraudulento pelo credor preexistente é a Ação Pauliana ou Ação Revocatória. Trata-se de uma ação pessoal (por isso que não há exigência de outorga uxória) e o prazo decadencial para se propor essa ação é de 4 anos. A legitimidade ativa para propor a Ação Pauliana é do credor preexiste (ele é o prejudicado). Obs.: Em geral, é o credor preexistente sem garantia (quirografário) que tem interesse e legitimidade ativa na Ação Pauliana. Sucede que, nos termos do parágrafo 1º do art. 158, fica claro que também o credor preexistente com garantia pode manejar a Ação Pauliana, se a garantia se tornou insuficiente. Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de http://www.unisate.com.br/ CURSO ALEXANDRE TEIXEIRA – Avenida Santos Dumont, 2626 – Loja 30 – Fortaleza/CE – Fone: (85) 9.9681.5000 www.unisate.com.br 18 XXXI EXAME/1ª FASE/2019 OAB bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. § 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. O réu é o devedor insolvente, aquele que realizou
Compartilhar