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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 2 ASSISTÊNCIA SEGURA ................................................................................. 4 2.1 Ações da Opas/OMS – Brasil no movimento mundial para a Segurança do Paciente.........................................................................................................................8 2.2 Eventos adversos em diferentes níveis de atenção à saúde ................... 10 3 AMPARO LEGAL PARA ASSISTÊNCIA À SAÚDE INDÍGENA ..................... 11 4 ATENÇÃO À SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS .......................................... 17 4.1 Propostas e princípios do SUS ................................................................ 19 5 SERVIÇOS NACIONAIS DA SAÚDE INDÍGENA .......................................... 20 6 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS24 7 SITUAÇÃO ATUAL DA SAÚDE INDÍGENA FRENTE AO COVID – 19 ......... 29 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 41 3 1 INTRODUÇÃO O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 ASSISTÊNCIA SEGURA Fonte: radiopagina.com A Anvisa (2017), assim como todos os órgãos de saúde, tem se ocupado fortemente com a melhoria do cuidado prestado nos ambientes de assistência à saúde com o intuito de aprimorar a efetividade de suas ações, oferecendo um serviço de qualidade aos usuários dos serviços de saúde. No país, um marco importante na atenção à saúde foi a instituição do Programa Nacional de Segurança do Paciente, cujo objetivo é prevenir e reduzir a incidência de eventos adversos relacionados à assistência nos serviços de saúde. Estes eventos apresentam o potencial de causar danos aos pacientes e prejuízos associados aos cuidados à saúde, decorrentes de processos ou estruturas da assistência. A melhoria da segurança do cuidado em saúde reduz as doenças e danos, diminui o tratamento e/ou o tempo de hospitalização, melhora ou mantém o status funcional do paciente, e aumenta sua sensação de bem-estar. Entretanto, mesmo com as iniciativas das instituições e dos representantes mundiais, existe evidência inadequada sobre o melhor caminho para alcançar a segurança de medicação, nos complexos sistemas de saúde (RADUENZ et al., 2010 apud SANTOS et al, 2017). 5 Segundo a Anvisa (2017), a atitude para segurança do paciente repensa os processos assistenciais com a finalidade de identificar a ocorrência das falhas antes que causem danos aos pacientes na atenção à saúde. Assim, é importante conhecer quais são os processos mais críticos e, portanto, com maior probabilidade de ocorrência, para que seja possível desenvolver ações eficazes de prevenção. Sabe-se que os sistemas de serviços de saúde são complexos e têm cada vez mais incorporado tecnologias e técnicas elaboradas, acompanhados de riscos adicionais na prestação de assistência aos pacientes. Entretanto, medidas simples e efetivas podem prevenir e reduzir riscos e danos nestes serviços, tais como: mecanismos de dupla identificação do paciente; melhoria da comunicação entre profissionais de saúde; uso e administração segura de medicamentos; realização de cirurgia em local de intervenção, procedimento e paciente corretos; higiene das mãos para a prevenção de infecções e prevenção de quedas e lesões por pressão. Estas medidas realizadas de forma correta e segura, pelos profissionais de saúde, por meio do seguimento de protocolos específicos, associadas às barreiras de segurança nos sistemas, podem prevenir eventos adversos relacionados à assistência à saúde, salvando valiosas vidas. A segurança do paciente constitui um dos grandes desafios dos cuidados de saúde nos dias atuais. O reconhecimento da ocorrência de erros ou acidentes adversos com consequências graves aos doentes está levando os gestores de saúde a buscar alternativas para diminuir as situações de risco nas instituições. Frente ao exposto, torna-se fundamental que a enfermagem, como a profissão que está envolvida 24 horas na prática assistencial e gerencial, esteja alerta às medidas pertinentes à segurança do paciente (PEREIRA; SOUZA; FERRAZ, 2014 apud SANTOS et al, 2017). Cabe ressaltar conforme a Anvisa (2017), que o desafio para o enfrentamento da redução dos riscos e dos danos na assistência à saúde dependerá da necessária mudança de cultura dos profissionais para a segurança, nos próximos anos, alinhada à política de segurança do paciente, instituída nacionalmente. Desta forma, investir na mudança de sistema, no aperfeiçoamento da equipe de saúde, na utilização de boas práticas e no aprimoramento das tecnologias e melhoria dos ambientes de trabalho constitui questões primordiais para o alcance dos melhores resultados para os usuários dos serviços de saúde, família e comunidade. 6 Receber uma assistência à saúde de qualidade é um direito do indivíduo e os serviços de saúde devem oferecer uma atenção que seja efetiva, eficiente, segura, com a satisfação do paciente em todo o processo (ANVISA, 2017). O Instituto de Medicina (IOM), dos Estados Unidos da América (EUA), define a qualidade na assistência como o grau em que os serviços de saúde aumentam a probabilidade de obter os resultados desejados com o nível de conhecimento científico atual (ANVISA, 2017). Para a Anvisa (2017), a própria definição de qualidade é tema de ampla discussão em diversos seguimentos, pois traz consigo alto grau de subjetividade. Trazer esse componente para atenção à saúde é ainda mais intrigante, tendo em vista a grande quantidade de processos aos quais trabalhadores e usuários se defrontam, além dos componentes políticos e estruturais. A busca pela qualidade da atenção não é um tema novo e foi o documento publicado pelo IOM, intitulado “Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro” (To err is Human: building a safer health system), em 1999, que acrescentou a preocupação por uma das dimensões da qualidade: a segurança do paciente. A publicação constatou que entre 44.000 e 98.000 pacientes morriam a cada ano nos hospitais dos EUA em virtude dos danos causados durante a prestação de cuidados à saúde. Ainda conforme a Anvisa (2017), a notícia ganhou notoriedade e diante do cenário apresentado, governos e organizações internacionais se mobilizaram. Assim, iniciaram- se trabalhos para apoiar as estratégias nacionais e internacionais para a prevenção e a mitigação de falhas no cuidado à saúde. Em maio de 2002, a 55ª Assembleia Mundial da Saúde adotou a resolução WHA 55.18, “Qualidade da atenção: segurança do paciente”, que solicitava urgência aos Estados Membros em dispor maior atenção ao problema da segurança do paciente. A fim de nortear ações, maior conhecimento sobre o problema seria necessário. Para isso, a comunidade científica foi mobilizada a fim de conhecer os principaispontos críticos na assistência e na atenção à saúde para minimizar falhas e promover a qualidade dos serviços e a segurança dos pacientes. (...) a segurança do paciente ainda é influenciada pelos profissionais de saúde por meio da ocorrência de erros que se refletem diretamente na qualidade de vida dos clientes. Esses erros denominados eventos adversos são caracterizados como ocorrências indesejáveis, porém preveníveis, de natureza prejudicial que 7 comprometem a segurança do paciente que se encontra sob os cuidados dos profissionais de saúde (WEGNER; PEDRO, 2012 apud SANTOS et al, 2017). Como continuidade, em 2004, a 57ª Assembleia Mundial da Saúde apoiou a criação da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente para liderar no âmbito internacional os programas de segurança do paciente (ANVISA, 2017). Como caracteriza a Anvisa (2017), os objetivos principais da Aliança envolvem: Apoiar os esforços dos Estados-Membros para promover uma cultura de segurança nos sistemas de saúde e desenvolver mecanismos para melhorar a segurança do paciente; Posicionar os pacientes no centro do movimento internacional de segurança do paciente; Catalisar o compromisso político e ação global em áreas de maior risco para a segurança do paciente por meio dos desafios globais de segurança do paciente; Desenvolver normas globais, protocolos e orientações para detectar e aprender com problemas de segurança do paciente, reduzindo os riscos para os futuros usuários dos serviços de saúde; Definir soluções de segurança relevantes que estejam amplamente disponíveis para todos os Estados-Membros e que sejam de fácil implementação, de acordo com suas necessidades; Desenvolver e divulgar o conhecimento sobre saúde baseada em evidências e melhores práticas na segurança do paciente; (ANVISA, 2017). Criar consenso sobre conceitos e definições comuns de segurança do paciente e eventos adversos; Iniciar e promover a investigação nas áreas que terão maior impacto nos problemas de segurança; Explorar maneiras em que as novas tecnologias podem ser aproveitadas no interesse de cuidados mais seguros; Reunir parceiros para contribuir com o desenvolvimento do conhecimento e mobilização social; 8 Direcionar trabalho técnico para refletir as prioridades de segurança do paciente, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento (ANVISA, 2017). Durante a 27ª Conferência Sanitária Pan-Americana (CSP), em 5 de outubro de 2007, foi emitida a Resolução CSP27. R.10, Política e Estratégia Regional para a Garantia da Qualidade da Atenção Sanitária, incluindo o tema segurança do paciente. Esta resolução tratou, dentre outros, de instar os Estados-Membros a priorizar a segurança do paciente e a qualidade da atenção nas políticas de saúde e programas setoriais, incluindo a promoção de uma cultura organizacional e pessoal de segurança do paciente e da qualidade dos cuidados prestados aos pacientes (ANVISA, 2017). Esta resolução se baseou no documento apresentado em 17 de julho de 2007, ou seja, na CSP27. R.16, onde foram delineadas cinco linhas estratégicas de ação a serem implementadas na Região, a saber: Posicionar a qualidade da atenção de saúde e a segurança do paciente como prioridade setorial; Promover a participação da cidadania em temas de qualidade; Gerar informação e evidência em matéria de qualidade; Desenvolver, adaptar e apoiar a implantação de soluções sobre qualidade; Elaborar uma estratégia regional para o fortalecimento da qualidade da atenção de saúde e da segurança do paciente, com um horizonte de 10 anos (ANVISA, 2017). Desde então, esforços têm sido direcionados para posicionar a Qualidade na Atenção e a Segurança do Paciente na agenda dos governos da região, apoiando a inclusão das ações da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente (ANVISA, 2017). 2.1 Ações da Opas/OMS – Brasil no movimento mundial para a Segurança do Paciente Os chamados Desafios Globais para a Segurança do Paciente, previstos na Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, orientam a identificação de ações que ajudem a evitar riscos para os pacientes e ao mesmo tempo, norteiam os países que tenham interesse em implantá-los. O primeiro desafio global, no biênio 2005-2006, focou- 9 se nas infecções relacionadas à assistência à saúde (Iras), com o tema “Uma Assistência Limpa é uma Assistência mais Segura”. O propósito era promover a higiene das mãos como método sensível e efetivo para a prevenção das infecções. No Brasil, a Opas/OMS (Organização Pan-Americana da Saúde, da Organização Mundial da Saúde) vem trabalhando este tema em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), envolvendo ações de promoção e prevenção de infecção em serviços de saúde, desde 2007, após a assinatura da Declaração de Compromisso na Luta contra as Iras, pelo Ministro da Saúde, em 2007 (ANVISA, 2017). Em 2009, a OMS (Organização Mundial da Saúde) definiu a data de 5 de maio para instalação da Campanha Mundial de higiene das mãos. O objetivo desta jornada é convidar os países membros e os serviços de saúde a promoverem iniciativas sobre a temática higiene das mãos destinadas tanto aos profissionais de saúde como aos cidadãos. Já o período 2007 a 2008 foi marcado pelo desafio de promover a segurança dos pacientes na cirurgia. O tema “Cirurgias Seguras Salvam Vidas” apresenta o objetivo de diminuir a morbimortalidade causada pelas intervenções cirúrgicas (ANVISA, 2017). A melhoria da qualidade do cuidado e da segurança do paciente é tarefa difícil, com resultados a longo prazo que exigem envolvimento de todos os membros da organização. A avaliação das organizações de saúde é um elemento chave, mas acrescem custos não desprezíveis e ainda apresentam lacunas e desafios. Avanços são necessários, entretanto os resultados das avaliações devem ser interpretados mais como oportunidades de melhoria, em vez de considerados consequência da excelência ou insuficiência da ação de um indivíduo (Brown et al. 2008; Reason 2000 apud SOUSA; MENDES, 2019). A estratégia consistiu em definir um conjunto básico de normas de segurança dirigidas à prevenção das infecções pós-cirúrgicas, a segurança dos procedimentos anestésicos e das equipes cirúrgicas e a mensuração dos indicadores cirúrgicos. Os produtos deste biênio foram a divulgação de uma lista de verificação de segurança cirúrgica nos serviços de saúde com uma avaliação integral do paciente previamente a cada procedimento cirúrgico, em caso de cirurgia eletiva e, de acordo com a condição de cada paciente nos casos de urgência e emergência. No país, o tema do segundo desafio vem sendo desenvolvido junto à Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) e Anvisa, do Ministério da Saúde (MS) (ANVISA, 2017). 10 2.2 Eventos adversos em diferentes níveis de atenção à saúde A Anvisa (2017), alega que a OMS estima que danos à saúde ocorram em dezenas de milhares de pessoas todos os anos no mundo. Dados do IOM indicam que erros associados à assistência à saúde causam entre 44.000 e 98.000 disfunções a cada ano nos hospitais dos EUA. Diante deste cenário, outro alinhamento que vem sendo desenvolvido pela Opas/OMS envolve a sistematização, a coleta e a análise dos dados referidos aos eventos adversos que se apresentam no sistema de saúde, especialmente aqueles associados aos cuidados à saúde. Desta forma, entre 2007 e 2009, realizou-se o estudo Ibero-Americano de Eventos Adversos na Atenção (Ibeas) em cinco países da América Latina. Este estudo mostrou que 10,5 % dos pacientes hospitalizados sofrem algum tipo de EA (Evento Adverso), e destes, 58,9% poderiam ter sido evitados. O estudo apoiou de maneira decisiva a cultura da melhoria da qualidade e a segurança do paciente, além de permitir conhecer a magnitude do problema em alguns países da região. Como consequência, se incrementoua massa crítica que trabalha em prol da segurança do paciente e a melhoria da atenção. Ao longo do tempo, houve mudanças no foco central e nas dimensões da qualidade que eram privilegiados. Atualmente, observam-se a priorização da segurança e o respeito ao direito dos pacientes conjugados à preocupação com a ocorrência de eventos adversos, decisão partilhada e com prestação de contas (Leape 2008; Chassin et al. 2010; Mcclellan et al. 2010; Shortell, Casalino 2010 apud SOUSA; MENDES, 2019). Seguindo esta tendência de análise e como resposta à inquietude dos países por seguir trabalhando nesta área, iniciou-se no final de 2012, um estudo de investigação para conhecer a frequência e a evitabilidade dos eventos adversos na Atenção Ambulatorial nos Países da América Latina (Ambeas). Tendo em vista a pouca quantidade de estudos desenvolvidos neste nível de atenção à saúde e as particularidades sociais e econômicas de cada país da América Latina, entendeu-se que seria necessário mapear também na porta de entrada dos sistemas de saúde o rol de eventos adversos mais comuns. Este estudo está sendo promovido pela OPS/OMS com a participação do Brasil, Colômbia, México e Peru. O estudo piloto busca a validação de ferramentas e mobilização dos países para a questão da segurança do paciente. Foi 11 iniciado em 2012 e a previsão de publicação dos dados preliminares está prevista para 2013. Em paralelo às pesquisas desenvolvidas, por intermédio da OMS e Opas, tem-se promovido outras atividades como o desenvolvimento de sistemas de notificação de eventos adversos, com a finalidade de conhecer as causas desses eventos e propor recomendações para sua prevenção (ANVISA, 2017). Durante o desenvolvimento dessas atividades, verificou-se que são necessários mais conhecimentos acerca do tema segurança do paciente e qualidade no âmbito da América Latina e Caribe. Os sistemas de saúde devem avançar no desenvolvimento de serviços que prestem uma atenção integral de qualidade. As ações previstas na Aliança Mundial para a Segurança do Paciente podem direcionar as práticas seguras nos serviços de saúde. Está em construção uma cultura de segurança em pleno avanço que permite às organizações e seus profissionais disporem de dados e ferramentas para trabalhar em prol da melhoria da assistência à saúde. No Brasil, a Segurança do Paciente já entrou na agenda política desde a mobilização da Anvisa/MS junto à OMS para que os objetivos desejados fossem alcançados (ANVISA, 2017). 3 AMPARO LEGAL PARA ASSISTÊNCIA À SAÚDE INDÍGENA Segundo Mendes et al (2018), no Brasil, a 1ª Conferência Nacional de Proteção à Saúde Indígena (CNPSI), realizada em 1986, foi um dos primeiros momentos em que o Estado ouviu diferentes lideranças indígenas para discutir propostas relacionadas à formulação de diretrizes voltadas à saúde desses povos, assumindo como legítimas suas necessidades e especificidades e tendo como foco a APS (Atenção Primária à Saúde). Até então, a atenção à saúde indígena vinha sendo gerida sucessivamente pelos mais diversos setores e órgãos, com ações desenvolvidas a partir de uma perspectiva paliativa e atividades descontinuadas, com poucos impactos na situação de saúde. Em 1986, a I Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio estabeleceu as bases para criação de um subsistema específico para a atenção à saúde indígena e, posteriormente, a Constituição de 1988 legitimou, através do Sistema Único de Saúde (SUS), o direito da referida população à atenção de saúde de forma integral (BRASIL, 2012b; CHAVES; CARDOSO; ALMEIDA, 2006; NOVO, 2011 apud SOUZA, 2016). 12 A proposta inicial da 1ª CNPSI foi a de que a gerência da atenção à saúde indígena fosse vinculada ao Ministério da Saúde, gestor do SUS (Sistema Único de Saúde) no Brasil. Essa discussão se estendeu em uma segunda conferência, que mobilizou ainda mais os indígenas e teve a participação paritária de delegados indígenas e não indígenas. Naquele momento, a proposta estava voltada à mudança no modelo de atenção à saúde desses povos na direção de uma atenção diferenciada, com foco na APS. Em 1999, através da lei 9.836, foi instituído o SASI (Subsistema de Atenção à Saúde Indígena), passando a gestão da saúde indígena para a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). O SASI tinha como missão instituir, no âmbito territorial indígena, a APS e a continuidade da assistência nos diferentes níveis de atenção, atendendo às especificidades de cada povo (o que incluía desde questões de cunho sociocultural até aspectos logísticos e epidemiológicos), respeitando seus saberes tradicionais e garantindo a participação e o controle social no processo de gestão. Também em consonância com as diretrizes de Alma-Ata, as equipes de saúde incorporaram trabalhadores indígenas, que ocuparam as novas funções de agentes indígenas de saúde e agentes indígenas de saneamento (MENDES et al, 2018). Na visão de Mendes et al (2018), a partir da criação do SASI foi elaborada a PNASPI (Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas). Essa política deveria ser implementada de acordo com os princípios do SUS, dando ênfase à descentralização das ações e dos recursos e a universalidade, integralidade, equidade e participação social, com destaque para as questões relacionadas à diversidade cultural, étnica, geográfica, epidemiológica, histórica e política. Como modelo organizacional, foram criados os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Ao todo, são 34 no país, havendo, dentro desses, outras instâncias responsáveis pela assistência à saúde em diferentes níveis, como os polos base, as unidades ou postos de saúde e as casas de saúde indígena. A participação social se dá através dos conselhos locais – geralmente situados em uma aldeia ou grupo de aldeias em determinada terra indígena – e distritais de saúde indígena, que apoiam a regulamentação da gestão dos distritos e levam as discussões locais para as conferências distritais. A escolha dos conselheiros é feita pelas comunidades indígenas. A partir daí, as discussões se ampliam nas Conferências Nacionais de Saúde Indígena. 13 Os princípios do SUS de universalidade, autonomia e igualdade também orientam o Subsistema de Saúde Indígena a partir do momento em que, através deles, a lei propõe o acesso aos serviços de saúde a todos os indivíduos e em todos os níveis de assistência, além do direito à integridade física e moral dos indivíduos e a assistência igualitária, sem privilégios aos usuários (BRASIL, 1990, 1999b; PAIM, 2012 apud SOUZA, 2016) Ainda conforme Mendes et al (2018), durante a 4ª Conferência Nacional de Saúde dos Povos Indígenas, em 2006, foram reivindicadas melhorias na situação de saúde e questionada a gestão da FUNASA. O órgão vinha sendo alvo de duras críticas, que incluíam sucessivas denúncias de corrupção e desvios de recursos. Em uma discussão sobre o financiamento e a gestão do SASI, Garnelo e Maquiné descrevem uma lista de sites com grande volume de denúncias, incluindo grandes jornais, organizações não governamentais e órgãos estatais de fiscalização e comunicação. Como resultado, formaram-se grupos de trabalho que posteriormente impulsionaram a criação de uma secretaria diretamente ligada ao Ministério da Saúde. Em 2010, foi aprovada a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). O que sua criação traz de novo é, em última instância, a existência de um órgão responsável unicamente pela saúde indígena, que até então havia sido coordenada por setores dentro de outros órgãos ou instituições que tinham atribuições mais amplas, por vezes sequer limitadas aos povos indígenas. Nesse novo formato, contudo, não estão ausentes os desafios operacionais: Garnelo e Maquiné também apontam que, dentre as secretarias diretamente ligadas ao Ministério da Saúde, a SESAI é a única que contempla simultaneamente responsabilidadestanto pela gestão como pela execução das ações e programas de saúde, o que exige do órgão uma robusta estrutura administrativa. A 5ª Conferência, em 2013, foi a primeira subsequente à criação da SESAI. Entre as principais reinvindicações expressas nessa ocasião estava a garantia da assistência integral, para além da atenção básica. Outra reivindicação era de que a atenção primária fosse fortalecida em associação e respeitando os saberes tradicionais indígenas, o que parecia não se consolidar mesmo após a criação da secretaria. A 5ª Conferência foi objeto de críticas importantes, que indicavam limitações no controle social e na participação dos representantes indígenas e questionavam a aprovação de propostas vistas como contraditórias. 14 Compete ainda a SESAI coordenar o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. As ações de atenção integral e de educação em saúde devem garantir e respeitar as especificidades, o perfil epidemiológico, a condição sanitária de cada DSEI valorizando e considerando as ações de saúde e as práticas terapêuticas tradicionais (BRASIL, 2013 apud FAGUNDES, 2015). Mesmo com a criação e implementação da SESAI, persistem os problemas e desafios enfrentados antes pela FUNASA. Vale assinalar que a disponibilidade de recursos financeiros não se constituiu em empecilho, seja no período de gestão da FUNASA, seja após a criação da SESAI. Na verdade, as análises disponíveis sobre o financiamento do SASI mostram crescimento considerável e praticamente constante dos recursos disponíveis desde os seus primeiros anos de existência, à exceção talvez dos primeiros momentos após a criação da SESAI (MENDES et al, 2018). No entanto para Mendes et al (2018), se os dados indicam uma evolução significativa e consistente dos recursos aprovados e executados, não é possível falar em melhora proporcional dos indicadores de saúde. A despeito de uma relativa escassez de dados demográficos e epidemiológicos sobre os povos indígenas do país – quando comparados aos dados disponíveis para o restante da população brasileira – é evidente o quadro de marcantes desigualdades que persistem após quase 20 anos de existência do subsistema. Alguns importantes indicadores, como a mortalidade geral, materna, número de internações e óbitos por doenças respiratórias e doenças infecciosas e parasitárias na infância e doenças transmissíveis colocam a saúde indígena em franca desigualdade. O quadro de precariedade se confirma no Inquérito Nacional de Saúde dos Povos Indígenas, o único inquérito em saúde de abrangência nacional realizado entre esses povos. Esse inquérito registrou elevadas prevalências de anemia (atingindo, além das crianças, as gestantes) e desnutrição, principalmente entre menores de 5 anos, contrastando com a obesidade e o sobrepeso encontrados nas mulheres adultas. O perfil aponta para a importância crescente das doenças crônicas não transmissíveis para os povos indígenas (MENDES et al, 2018). O inquérito registrou ainda precárias condições sanitárias e taxas elevadas de internação de crianças por diarreia e infecções respiratórias, o que indica a baixa resolutividade das ações na APS. Outra dificuldade relacionada à implementação dessa política se refere ao uso do Sistema de Informações da Atenção à Saúde Indígena 15 (SIASI), restrito aos profissionais e gestores que o utilizam. Além da limitação de acesso às informações, destacam-se os problemas relativos à confiabilidade dos dados e à comunicação com os demais sistemas de informação do SUS. Isso dificulta o planejamento de acordo com as reais necessidades de cada local e um monitoramento que permita avaliar o desenvolvimento de ações, os avanços e limites da PNASPI e, consequentemente, a situação de saúde da população indígena. Alguns autores têm descrito a presença de estruturas de saúde precárias e insumos e equipamentos escassos que, somados à alta rotatividade de profissionais e à complexidade logística encontrada em algumas regiões, têm reflexos negativos na qualidade da prestação de serviços dentro dos territórios indígenas. Cuidados paliativos e atenção emergencial têm sido priorizados, caracterizando o enfraquecimento da APS. Em relação à alta rotatividade dos profissionais, o não estabelecimento de vínculo tende a inviabilizar o reconhecimento das especificidades culturais que permeiam o cuidado em saúde desses povos (MENDES et al, 2018). Esses conselhos devem ser ativos e propiciar o protagonismo indígena na definição de qual seja a melhor maneira de tornar concreto para essas comunidades o direito à saúde. O desafio maior é ajustar o funcionamento dos conselhos às formas do exercício do poder político no mundo indígena e dar transparência a eles quanto à forma de funcionamento das instituições de saúde (GARNELO et al., 2003 apud ABREU, 2012). A estruturação dos Conselhos de Saúde parece um ganho real dos povos indígenas no que diz respeito às diretrizes da política. A participação social tem como objetivo permitir que os indígenas se insiram nas estratégias de planejamento e avaliação dos serviços prestados a seus povos e consequentemente busquem maior resolutividade para os problemas. Porém, esse controle social enfrenta sérias barreiras para a sua real concretização, a despeito da previsão legal de instâncias de controle social no subsistema. Ainda, durante as conferências, as vozes ativas nem sempre são as dos indígenas. Cardoso e Shankland et al. relatam experiências onde os próprios indígenas julgam precária a atuação de alguns conselheiros. Um grande desafio que persiste é o da realização da diretriz que propõe a articulação entre as chamadas “medicinas tradicionais” e o sistema médico oficial (MENDES et al, 2018). 16 Análises recentes de acordo com Mendes et al (2018), sugerem que as iniciativas oficiais de incorporação das práticas e saberes nativos resultaram na constituição de dispositivos de controle pelo Estado, com uma perspectiva essencialmente integracionista. Além disso, as propostas oficiais de uma atenção diferenciada parecem ser vistas como problemáticas pelos próprios gestores, e a própria racionalidade biomédica impede a flexibilização das ações em direção ao diálogo intercultural. Embora desejável, um balanço categórico do processo de implementação da PNASPI no Brasil mostra-se pouco produtivo, e talvez nem sequer factível. Houve, por certo, avanços importantes, com ganhos reais no cenário da saúde indígena no país. No entanto, em termos gerais, os dados disponíveis seguem apontando para enormes distâncias entre o que a PNASPI prevê e a precariedade com que a mesma se concretiza no cotidiano vivido pelos povos indígenas. Se por um lado é possível afirmar que, a despeito de todas as dificuldades enfrentadas a partir da criação do subsistema de saúde indígena, a Política teve impactos positivos no cenário da saúde indígena no país, é também verdadeiro que os impactos foram limitados. Parece mais sensato, talvez, pensar em ganhos ainda parciais, em muitos aspectos positivos, mas distantes dos objetivos propostos pela PNASPI. São inegáveis progressos, como o aumento do acesso desses povos aos serviços de saúde, inclusive nas regiões mais remotas do país. O foco na APS, como propõe Alma-Ata, mesmo que frágil em sua efetivação no panorama indígena, trouxe uma importante mudança de perspectiva em relação às práticas vigentes anteriormente à incorporação da saúde indígena pelo Ministério da Saúde. A participação e o controle social avançaram significativamente, mas encontram ainda sérias barreiras à sua efetivação (MENDES et al, 2018). A estratégia de implantação da PNSPI, através dos distritos sanitários com a participação de Estados, Municípios e ONGS, é desafiadora, especialmente nestas situações em que a estratégia de implementação tem características de uma abordagem bottom-up enfatizandoos incentivos que induzem os agentes implementadores a aderir normativa e operacionalmente aos objetivos da política (SILVA; MELO 2000 apud ABREU, 2012). A gestão da SESAI ainda se mostra centralizada e limitada pelo modo como seu quadro de pessoal é composto; os problemas com a formação de profissionais para a atuação em ambientes interétnicos e a elevada rotatividade parecem muito distantes de 17 serem solucionados. Ao mesmo tempo, há que se mencionar a persistência de uma distância inaceitável entre diversos indicadores de saúde registrados entre povos indígenas e o restante da população brasileira, sendo o segmento indígena sistematicamente desfavorecido. Reflexos da manutenção dessas iniquidades em saúde estão em pauta nas discussões das conferências nacionais de saúde indígena e nos recorrentes discursos de insatisfação dos usuários com a atenção à saúde de seus povos. Apesar de a estruturação e construção da PNASPI corroborarem as propostas descritas na Declaração de Alma-Ata, pensando a APS como estratégia para viabilizar o direito à saúde através do acesso, com vistas a reduzir as desigualdades, estimulando a participação social e a formação dos profissionais, assim como a manutenção do vínculo entre esses profissionais e sua população adstrita, podemos analisar que, de maneira integral, essa APS não se efetiva (MENDES et al, 2018). 4 ATENÇÃO À SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS Fonte: minutomt.com Para os povos indígenas como caracteriza Bonin e Miotto (2015), a saúde está intimamente relacionada com a Mãe Terra e uma relação equilibrada entre os seres vivos 18 e a natureza. Desde os tempos anteriores à colonização europeia, esses povos possuem seus sistemas tradicionais de saúde indígena, que articulam os diversos aspectos da sua organização social e da sua cultura, a partir do uso das plantas medicinais, dos rituais de cura e das diversas práticas de promoção da saúde, sob a responsabilidade de pajés, curadores e parteiras tradicionais. A saúde para os povos indígenas é uma construção coletiva, conquistada através da participação e do fortalecimento do seu protagonismo e poder de decisão. Nesse sentido, os fatores determinantes da saúde indígena estão relacionados à garantia de sua plena cidadania, com autonomia, à posse dos territórios tradicionais, à integridade dos ecossistemas e à utilização dos bens naturais necessários para o Bem Viver. Na opinião de Bonin e Miotto (2015), a realidade dos povos indígenas e as políticas a serem implementadas para assegurar-lhes vida e saúde vêm sendo discutidas no Brasil há décadas. O movimento indígena e as organizações que atuam no campo da saúde têm se mobilizado incessantemente com o objetivo de exigir que o Estado brasileiro demarque as terras indígenas, condição primordial para a manutenção da vida em seu sentido pleno, e que estruture políticas de atenção diferenciada para resguardar e garantir a saúde desses povos. O fundamento principal das reivindicações relativas a uma atenção diferenciada em saúde para os povos indígenas é o texto constitucional. Com a promulgação da Constituição Federal do Brasil, em 1988, que assegura aos povos indígenas suas culturas, cosmovisões e organizações sociais, constituiu-se um outro modelo de relacionamento com eles, não mais pautado numa perspectiva integracionista e meramente assistencialista. A legislação existente responsabiliza a União pela execução das políticas a serem desenvolvidas junto aos povos e às comunidades. Foi também a Constituição de 1988 que criou o Sistema Único de Saúde (SUS), regulamentado pela Lei 8.080/90, que estabelece a vinculação da assistência em saúde ao Ministério da Saúde (MS). [...] garantir aos povos indígenas o acesso à atenção integral à saúde, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, contemplando a diversidade social, cultural, geográfica, histórica e política de modo a favorecer a superação dos fatores que tomam essa população mais vulnerável aos agravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre os brasileiros, reconhecendo a eficácia de sua medicina e o direito desses povos à sua cultura [...] (BRASIL, 2002 apud SOUZA, 2016). 19 4.1 Propostas e princípios do SUS De acordo com Bonin e Miotto (2015), com o propósito de fazer com que os diferentes modos de vida dos povos indígenas fossem respeitados, a 2ª Conferência Nacional de Saúde Indígena, realizada em 1993, em Brasília, estabeleceu quatro marcos referenciais que servem como base para a criação de uma política diferenciada de saúde: Reciprocidade possibilita pensar na busca de uma coexistência equitativa entre as comunidades indígenas e os agentes de intervenção, tanto em relação à troca de experiências como à oportunidade de decisão; Eficácia simbólica diz respeito ao modo como um sistema, processo ou ação de cura faz sentido e é considerado eficaz por uma coletividade. Desse modo, a atuação em saúde precisa ser respaldada por uma compreensão ampla do universo simbólico indígena, através da aproximação entre medicina e cultura; Integralidade está relacionada a uma visão da saúde integrada a outras dimensões da vida, e não independente ou isolada. Atuar em saúde indígena pressupõe a busca de uma visão abrangente das atuais condições de vida desses povos, considerando seus determinantes históricos, sociais, culturais e ambientais, de um modo global e criativo; Autonomia é um princípio que deve ser respeitado em todas as dimensões da atuação junto às comunidades indígenas. Em relação à saúde, refere-se à busca da autogestão pelas comunidades dos programas de saúde (BONIN; MIOTTO, 2015). Portanto, Bonin e Miotto (2015), alegam que para assegurar uma política diferenciada de atenção à saúde dos povos indígenas é preciso respeitar as formas tradicionais de explicar o adoecimento, a cura, a manutenção da vida. Mas também é preciso investir na formação de profissionais de saúde indígenas, sendo a capacitação e o acompanhamento desses profissionais respaldada, por um lado, na valorização dos saberes tradicionais da medicina indígena e, por outro, no domínio de novos conhecimentos, para que esses agentes realizem as ações concretas de prevenção, informação e atendimento nas comunidades em que atuam. 20 Embora haja um conjunto de leis e normas que asseguram um atendimento diferenciado aos povos indígenas, na prática, o que as comunidades vivenciam é a utilização extremamente polêmica e constantemente questionada dos volumosos recursos financeiros, altos índices de mortalidade infantil, graves epidemias, falta de saneamento básico e graves negligências dos poderes públicos. Como consequência desse contexto, os povos originários do Brasil convivem diariamente com muita dor, sofrimento e mortes que, muitas vezes, poderiam ser evitadas (BONIN; MIOTTO, 2015). Não se pode deixar de considerar que embora o direito à saúde tenha sido declarado pela OMS em 1948, apenas 40 anos depois, após o Movimento da Reforma Sanitária, que ocorreu no Brasil entre 1976-1988, o SUS se consolidou enquanto pauta integrante da Constituição da República de 1988, garantindo direito social a todos os brasileiros (PAIM, 2009 apud SOUZA, 2016). 5 SERVIÇOS NACIONAIS DA SAÚDE INDÍGENA Fonte: folhabv.com Segundo a Funasa (2009), diversos órgãos tiveram a atribuição de cuidar da saúde dos indígenas, que começou, oficialmente, com a criação, em 1910, do Serviço de Proteção ao Índio e Trabalhadores Nacionais (SPI). O órgão era vinculado ao Ministério 21 da Agricultura e destinava-se a proteger os índios, procurando o seu enquadramento progressivo na sociedade e o de suas terras no sistema produtivo nacional. Com o surgimento da nova legislação, incluída no capítulo V da Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990, que estabeleceu o Sistema Único de Saúde (SUS), a responsabilidade formale de toda a estrutura de Estado relacionada ao atendimento à saúde indígena, incluindo as unidades de saúde, os funcionários, as funções de confiança e os recursos orçamentários, passou a ser da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão executivo do Ministério da Saúde. Alguns estudos de avaliação apontam a gravidade da situação de saúde desse povo como, por exemplo, a questão de saneamento básico e do perfil nutricional, uma vez que as condições de insegurança alimentar e nutricional afetam sobretudo crianças, com desnutrição e outros agravos que contribuem para o aumento das taxas de morbidade e mortalidade. Já outros estudos se voltam para discorrer sobre as questões sociais e gerenciais do desenvolvimento da política, sinalizando sua evolução (CHAVES, 2006; FÁVARO et al., 2007; HAQUIM, 2008; MARTINS, 2013; VARGA et. al., 2013 apud SOUZA, 2016). A missão institucional da Fundação Nacional de Saúde compreende duas vertentes principais que se desenvolvem mediante a elaboração de planos estratégicos nos segmentos de Saneamento Ambiental e de Atenção Integral à Saúde Indígena. A Funasa é gestora do Subsistema de Saúde Indígena, na estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS). Dentre as unidades que compõem a Fundação, destacam-se, nas ações de atenção integral à saúde — e além dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas —, as 26 Coordenações Regionais (Cores), instaladas em todos os estados, com exceção do Distrito Federal, sede da Funasa. Cabe a essas Coordenações garantir o cumprimento da missão institucional, a administração de recursos humanos e bens patrimoniais, a realização de processos de licitação para aquisição de insumos e serviços que viabilizem a assistência aos povos indígenas, e a prestação de assessoria jurídica e técnica aos Dseis (FUNASA, 2009). O Departamento de Saúde Indígena (Desai) é o responsável pela gestão central do Subsistema de Saúde Indígena e a quem compete o desenvolvimento de atividades com o objetivo de racionalizar as ações implementadas pelos Dseis, que incluem a promoção de encontros macrorregionais e nacionais para avaliar o processo de implantação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Dentre as 22 atribuições do Desai estão a de promover, proteger e recuperar a saúde dos povos indígenas, segundo as peculiaridades, o perfil epidemiológico e a condição sanitária de cada comunidade; propor políticas e ações de saúde e vigilância para as populações indígenas; e apoiar a implementação de políticas e ações de educação em saúde para as populações indígenas em conjunto com a Assessoria de Comunicação e Educação em Saúde. Também é da competência do Desai planejar, coordenar, executar e fiscalizar as atividades de atendimento integral à saúde dos povos indígenas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), e planejar, coordenar e supervisionar a execução das atividades relativas a sistemas e serviços de saneamento ambiental em áreas indígenas, em articulação com o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp) (FUNASA, 2009). Como caracteriza a Funasa (2009), a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI) prevê uma atuação coordenada entre órgãos e ministérios, no sentido de viabilizar as medidas necessárias ao alcance de seu propósito. Nesse sentido, as secretarias estaduais e municipais de Saúde devem atuar de forma complementar na execução das iniciativas, em articulação com o Ministério da Saúde e a Funasa. Um dos principais critérios adotados para o cumprimento das diretrizes formuladas foi a organização dos serviços de atenção à saúde desses povos na forma de Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis). Os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis), é um modelo de organização de serviços orientado para ser um espaço etnocultural dinâmico, com foco na eficiência e na celeridade, bem de acordo com as especificidades dos povos indígenas. Existem hoje, no País, 34 Dseis — a quantidade de unidades depende, entre outros fatores, do número da população indígena nas regiões/estados — responsáveis pelo conjunto de ações técnicas e qualificadas que têm por objetivo promover a atenção à saúde e as práticas sanitárias adequadas, estimulando também o controle social. Para a definição e estruturação dos Distritos, foram realizadas reuniões com lideranças e organizações indígenas, representantes da Funai, antropólogos, universidades e instituições do governo e entidades não-governamentais que prestam serviços às comunidades indígenas, além de secretarias municipais e estaduais de Saúde. Diferentemente das Coordenações Regionais (Cores) da Funasa, os Dseis não foram divididos por estados, 23 mas, estrategicamente, por área territorial, tendo como base a ocupação geográfica das comunidades indígenas. Um exemplo dessa política ocorre em Roraima. Lá, o Dsei Yanomami também cuida dos indígenas dessa etnia que vivem no Amazonas, na divisa entre os dois estados (FUNASA, 2009). A construção desse modelo de organização dos DSEI parte da proposta de regionalização do sistema de saúde a qual deve ser entendida não apenas na ótica burocrática administrativa, mas também sob o ponto de vista de melhor distribuição técnico-espacial dos serviços de saúde numa dada área, possibilitando o acesso da população a todos os níveis de atenção. A partir dessa estrutura, os Distritos Sanitários visam atender as demandas da sociedade, negociando e pactuando com os serviços de saúde do SUS, além de contar com a participação do controle social. (ALMEIDA; CASTRO; LISBOA, 1998 apud SOUZA, 2016). Na organização dos serviços de saúde, além dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis), os Polos-Base representam outra importante instância de atendimento aos índios brasileiros. Eles são a primeira referência para os Agentes Indígenas de Saúde (AISs) que atuam nas aldeias, tanto na atenção primária como nos serviços de referência. Cada Polo-Base cobre um conjunto de aldeias. Sua equipe, além de prestar assistência à saúde, realiza a capacitação e supervisão dos AISs. Esses Polos estão estruturados como Unidades Básicas de Saúde e contam com a atuação das Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSIs) compostas, principalmente, por médicos, enfermeiros, nutricionistas, dentistas e técnicos de enfermagem, entre outros profissionais. No total, são 337 Polos-Base localizados em 432 municípios. Os agravos à saúde não atendidos nessas unidades, em função do grau de resolutividade ou de complexidade, são encaminhados para a rede de serviços do SUS mais próxima. Essa rede já tem sua localização geográfica definida e é articulada e incentivada a atender os indígenas, levando em consideração a realidade socioeconômica e cultural de cada povo (FUNASA, 2009). Os Postos de Saúde, são unidades que funcionam como apoio estratégico aos Polos-Base e são construídos de acordo com as necessidades de cada região. Podem ter uma estrutura simplificada, representando a porta de entrada na rede hierarquizada de serviços de saúde, e possuem infraestrutura física necessária para o desenvolvimento das atividades dos profissionais da área de saúde. Existem 751 postos de saúde e neles 24 são executadas atividades de atenção básica à saúde, tais como o acompanhamento de crianças e gestantes, imunização e o atendimento a casos de doenças mais frequentes, como infecção respiratória aguda, diarreia e malária. Além do acompanhamento de pacientes crônicos e de tratamentos de longa duração, também são desenvolvidas ações de primeiros socorros, de promoção à saúde e prevenção de doenças de maior prevalência. E, ainda, oficinas de educação sanitária e atividades de apoio às equipes multidisciplinares (FUNASA, 2009). A rede referenciada do SUS volta-se para atender as demandas que não são supridas nos polos-base, oferecendo a atenção de média (segunda referência) e altacomplexidade (terceira referência) através de procedimentos de referência e contra referência, oferecendo serviços diferenciados que promovam a recuperação dos pacientes indígenas (BRASIL, 2002 apud SOUZA, 2016). As Casas de Apoio à Saúde do Índio (Casais) estão localizadas em diversos municípios brasileiros. Nelas, são executados os serviços de apoio aos pacientes indígenas encaminhados à rede do Sistema Único de Saúde (SUS). As Casais foram instaladas e multiplicadas a partir da readequação das antigas Casas do Índio. Em 1999, essas unidades tiveram suas atribuições transferidas da Funai para a Funasa que, além de incorporar à sua missão a atenção integral à saúde dos índios, alterou o nome para Casa de Apoio à Saúde do Índio (Casai) e incluiu, também, novas funções. As Casais têm condições de receber, alojar e alimentar pacientes encaminhados e acompanhantes; prestar assistência de enfermagem 24 horas por dia; marcar consultas, exames complementares ou internação hospitalar; providenciar o acompanhamento dos pacientes nessas ocasiões e o seu retorno às comunidades de origem. Além disso, nas Casais são promovidas atividades de educação em saúde, produção artesanal, lazer e atividades para os acompanhantes e para pacientes em condições de participar desses eventos (FUNASA, 2009). 6 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS O objetivo desta política é garantir que os povos indígenas tenham acesso a cuidados médicos abrangentes à saúde, segundo os princípios e diretrizes de um sistema 25 único de saúde, diversidade social, cultural, geográfica, histórica e política para superar fatores que tornam esta população mais vulnerável agravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre os brasileiros, percebendo a eficácia e os direitos de seus medicamentos a cultura desses povos. De acordo com a Portaria nº 55, de 13 de abril de 2020, que trata da saúde indígena, segue as principais leis que abordam sobre a mesma: Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, a proteção e a recuperação da saúde, a organização e funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências; Considerando a Lei nº 9.836, de 23 de setembro de 1999, que estabelece o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no âmbito do Sistema Único de Saúde; Considerando a Portaria MS/GM 254/2002, que aprova a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas; Considerando o Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, que reconhece, para os fins do art. 65 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a ocorrência do estado de calamidade pública, nos termos da solicitação do Presidente da República encaminhada por meio da Mensagem nº 93, de 18 de março de 2020; Considerando Art. 40 do Decreto nº 9.795, de 17 de maio de 2019, o qual define as competências da SESAI; Considerando Art. 43 do Decreto nº 9.795, de 17 de maio de 2019, o qual define as competências dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas: Considerando a situação de pandemia da COVID-19 (novo Coronavírus); Considerando a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, que dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do Coronavírus responsável pelo surto de 2019; Considerando a Portaria GM/MS nº 454, de 20 de março de 2020, que declara, em todo o território nacional, o estado de transmissão comunitária do Coronavírus (Covid- 19); Considerando a necessidade de ampliar a força de trabalho em saúde indígena para atuação em situações de emergência em função da pandemia de COVID-19; resolve: 26 Art. 1º Fica instituída a Equipe de Resposta Rápida, no âmbito dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, para enfrentamento da pandemia de COVID-19 no Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. § 1º A Equipe de Resposta Rápida deverá permanecer contratada pelo período de 3 (três) meses, com possibilidade de prorrogação, considerando o estado de emergência de saúde pública decorrente da COVID-19. § 2º A Equipe de Resposta Rápida será implementada pela SESAI por meio: da aditivação dos convênios em vigência para possibilitar a contratação da Equipe de Resposta Rápida definida no item II; da contratação emergencial de 1 (um) médico, 2 (dois) enfermeiros e 4 (quatro) técnicos de enfermagem por equipe; de processos seletivos pelas entidades conveniadas do SASISUS; da capacitação dos profissionais da área de saúde nos protocolos oficiais de enfrentamento à COVID-19. § 3º Cada DSEI será contemplado com 1 (uma) Equipe de Resposta Rápida, podendo haver ampliação em função da situação epidemiológica da COVID-19. Art. 2º A contratação emergencial da Equipe de Resposta Rápida dar-se-á por meio das entidades conveniadas do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. § 1º As contratações deverão ser precedidas por processos seletivos, podendo-se utilizar processos seletivos já realizados (cadastro de reserva), desde que vigentes, conforme recomendações específicas encaminhadas pela SESAI aos DSEI e em cumprimento ao §1º do art. 11-B do Decreto nº 6.170/2007. § 2º O DSEI deverá instruir processo no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) sobre o processo seletivo e encaminhar ao Gabinete da SESAI, após sua realização, para autorização final. § 3º Os profissionais selecionados deverão ter dedicação exclusiva para a saúde indígena, em função do caráter específico da atividade. § 4º O profissional da área de saúde selecionado deverá apresentar, no ato da contratação, os certificados de conclusão dos seguintes cursos a distância de capacitação para o enfrentamento da COVID-19: I - Orientações Gerais ao Paciente com COVID-19 na Atenção Primária à Saúde 27 II - Prevenção e controle de infecções (PCI) causadas pelo novo coronavírus (COVID-19) III - Doenças ocasionadas por vírus respiratórios emergentes, incluindo o COVID- 19 Art. 3º O DSEI deverá capacitar a Equipe de Resposta Rápida, após sua contratação, para atuação em contexto intercultural e em relação às normas, protocolos, boletins e outros informes publicados pela SESAI e Ministério da Saúde relacionados à saúde indígena e ao enfrentamento da COVID-19. Art. 4º A atuação da Equipe de Resposta Rápida nas terras e territórios indígenas de abrangência do DSEI será definida pelo Coordenador Distrital. § 1º Caberá aos DSEI prover os equipamentos, insumos e logística necessários para atuação da Equipe de Resposta Rápida. § 2º Os integrantes das Equipes de Resposta Rápida deverão permanecer em isolamento domiciliar, na cidade sede do respectivo DSEI, a fim de estarem preparados para entrarem imediatamente em área indígena após o acionamento pelo Coordenador Distrital. § 3º Cada integrante da Equipe de Reposta Rápida deverá apresentar um Termo de Responsabilidade, devidamente assinado, de que permaneceu em isolamento domiciliar antes do ingresso em área indígena. § 4º Os integrantes das Equipes de Resposta Rápida deverão permanecer o tempo que for necessário em área indígena, conforme definido pelo Coordenador Distrital, resguardado o direito às folgas, nas ocasiões onde há pernoite na área indígena. § 5º Os DSEI deverão realizar a testagem rápida para COVID-19 dos integrantes da Equipe de Resposta Rápida antes da entrada em área indígena, de acordo com as condições estabelecidas na Nota Técnica Nº 21/2020-COGASI/DASI/SESAI/MS. § 6º As Equipes de Resposta Rápida poderão entrar em área nas seguintes situações: I- Situações de emergência ou outras situações decorrentes da pandemia; II- Surtos de Síndrome Gripal ou Síndrome Respiratória Aguda Grave. 28 § 7º As Equipes de Resposta Rápida farão jus ao recebimento de auxilio de permanência em área, quando o pernoite é realizado nas aldeias indígenas, ou ajuda de custo, quando a pernoite é realizada na sede demunicípio. § 8º As entidades conveniadas estão autorizadas a realizar o pagamento do auxílio permanência em área ou da ajuda de custo aos profissionais da Equipe de Resposta Rápida, após a expedição de Ofício pelo Coordenador Distrital, sem a necessidade de análise de pertinência pelo DASI/SESAI. Art. 5º Caberá à Equipe de Resposta Rápida: I- realizar, prioritariamente, ações relacionadas ao enfrentamento da pandemia de COVID-19; II- seguir o fluxo de notificação da COVID-19 recomendado pela SESAI e pelo Ministério da Saúde; III- elaborar relatório técnico com os registros diários das ações realizadas nas aldeias indígenas; IV- apresentar os relatórios técnicos à Divisão de Atenção à Saúde Indígena e ao Coordenador Distrital de Saúde Indígena; V- apresentar os formulários necessários para inserção dos dados no Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI); VI- realizar, em caso de necessidade excepcional, outras ações programáticas de atenção primária durante o período em que estiver em área indígena realizando ações de enfrentamento da COVID-19. Art. 6º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação. 29 7 SITUAÇÃO ATUAL DA SAÚDE INDÍGENA FRENTE AO COVID – 19 Fonte:jcam.com Do ponto de vista de Santos et al (2020), a pandemia de COVID-19, seja em escala global ou em cada um dos países e regiões onde o vírus circula, é, de nosso ponto de vista, um desses processos que pode ser interpretado como “fato ou fenômeno social total”. Nela se manifesta um amplo leque de dimensões (economia, religião, legislação, moralidade, estética, ciência), em imbricações altamente complexas. Todavia, em segmentos sociais específicos, observam-se conformações próprias. É o caso dos povos indígenas no Brasil, uma parcela da população que tem sido duramente atingida pela pandemia. A COVID-19, como “fato social total”, expõe as múltiplas dimensões e tensões provocadas pela atuação do Estado na implementação de políticas públicas dirigidas a minorias étnico-raciais no Brasil. Ficam evidentes não somente os impactos, como também as modalidades de resistência e enfrentamento do movimento etnopolítico indígena. Isso para não mencionar que as implicações da pandemia envolvem questões que, no caso dos povos indígenas, vão desde a insegurança alimentar e medo de sair das aldeias à violência simbólica de não ser possível realizar ritos funerários tradicionais, no caso de pessoas falecidas decorrentes da COVID-19. 30 A pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), cuja doença recebeu o nome de COVID-19, representa um dos problemas de saúde mais agudos e graves das últimas décadas, configurando quadro de emergência de saúde pública mundial (Lipsitch, Swerdlow e Finelli, 2020 apud HELIOTERIO et al, 2020). Para Santos et al (2020), epidemias de doenças infecciosas e parasitárias têm sido trágicas recorrências ao longo dos cinco séculos da história da relação entre os colonizadores e os povos indígenas no que é atualmente o território brasileiro. E não são eventos de um passado distante. Persistem na memória individual e coletiva de muitos povos que, não muitas décadas atrás, sofreram os efeitos de doenças associadas ao contato. Em especial na Amazônia Legal, durante a segunda metade do século XX, dezenas de povos que viviam em isolamento, ou parcialmente isolados, foram súbita e violentamente impactados por projetos desenvolvimentistas. Por terem seus territórios situados em áreas cruzadas por rodovias e rapidamente ocupadas por não indígenas, esses povos foram arrasados por epidemias de sarampo, influenza, malária e tuberculose. Centenas de indígenas morreram nos desastrosos episódios que marcaram esse momento histórico de povos. Tamanha violência ainda está presente na memória social desses povos, tanto entre os idosos, que sobreviveram às epidemias, como também nos mais jovens, que ouvem de seus avós e outros parentes mais velhos sobre o sofrimento e o desespero que atingiram as comunidades. As amargas memórias sobre as epidemias de outros tempos têm sido reavivadas pela COVID-19. Inquestionavelmente, a crise provocada pela pandemia de COVID-19 põe em evidência a maior vulnerabilidade política, social e ambiental dos povos indígenas. Em uma atmosfera cotidiana de violência e discriminação, ser indígena no Brasil implica viver sob precárias condições de saneamento e habitação; enfrentar confrontos com invasores e os danos por eles provocados em seus territórios; lidar com insegurança alimentar e falta de acesso à água potável em seu dia a dia; conviver com uma elevada mortalidade infantil; ter sua presença invisibilizada no contexto urbano; ter uma infância marcada pela desnutrição crônica, que acomete cerca de 25% das crianças indígenas menores de cinco anos no país, além de doenças infecciosas e parasitárias como diarreia e pneumonia, principais causas de adoecimento e morte da criança indígena (SANTOS et al, 2020). 31 Esses e outros exemplos apontam para profundas iniquidades em saúde, de recorte étnico-racial, prevalentes no país, alimentando as condições para “uma epidemia perfeita”, como é o caso do que ocorre atualmente face à COVID-19. Apesar da existência do Subsistema de Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde (SASI-SUS), voltado para assegurar atenção primária à saúde em territórios indígenas, a ausência de uma resposta rápida, articulada e efetiva tem levado a uma catástrofe humana. Do ponto de vista político, a COVID-19 nos povos indígenas no Brasil se tornou uma acirrada arena de disputas, que envolvem questões como disparidades nos quantitativos de casos e óbitos, segundo fontes oficiais, e os dados compilados por organizações indígenas; redução de gastos na saúde indígena pela União; embate político para aprovação de legislações, como aquele em torno da Lei no 14.021, de 2020, que criou o Plano Emergencial para Enfrentamento da COVID-19 em Territórios Indígenas (SANTOS et al,2020). A pandemia, no Brasil desvela situações históricas de negligência de políticas públicas, incluindo o subfinanciamento do sistema público de saúde, da ciência, da tecnologia e das universidades públicas, além da desvalorização do trabalho e dos trabalhadores (Cueto, 2020 apud HELIOTERIO et al, 2020). Acolhida pelo STF em julho de 2020, as discussões e medidas decorrentes da ADPF 709 se relacionam a uma multiplicidade de questões, que incluem a retirada de invasores dos territórios indígenas; a instalação de uma Sala de Situação para criação e monitoramento de barreiras sanitárias de proteção aos povos isolados e de recente contato; a extensão da atenção do SASI-SUS para populações indígenas em terras e reservas não homologadas e populações urbanas que encontram barreiras no acesso à rede SUS; a revisão do Plano de Enfrentamento à COVID-19, da União, em diálogo com indígenas e especialistas, com ações sanitárias específicas (tais como medidas preventivas e de distanciamento social culturalmente respeitosas, ampliação da testagem, qualificação e proteção dos trabalhadores, garantia da atenção primária e hospitalar adequadas), bem como a oferta e sustentabilidade da produção de alimentos, com ênfase na soberania e segurança alimentar (SANTOS et al, 2020). A lei nº 14.021, de julho de 2020 que dispõe sobre medidas de proteção social para prevenção do contágio e da disseminação da Covid-19 nos territórios indígenas; cria o Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nos territórios indígenas; estipula 32 medidas de apoio às comunidades quilombolas, aos pescadores artesanais e aos demais povos e comunidades tradicionais para o enfrentamento à Covid-19; e altera a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, a fim de assegurar aporte de recursos adicionais nas situações emergenciais e de calamidade pública. CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1º Esta Lei instituimedidas de vigilância sanitária e epidemiológica para prevenção do contágio e da disseminação da Covid-19 nos territórios indígenas, cria o Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nos territórios indígenas, prevê ações de garantia de segurança alimentar, dispõe sobre ações relativas a povos indígenas isolados e de recente contato no período de calamidade pública em razão da Covid-19, estipula medidas de apoio às comunidades quilombolas, aos pescadores artesanais e aos demais povos e comunidades tradicionais para o enfrentamento à Covid-19 e altera a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, a fim de assegurar aporte de recursos adicionais nas situações emergenciais e de calamidade pública. § 1º Estão abrangidos pelas disposições desta Lei: I - indígenas isolados e de recente contato; II - indígenas aldeados; III - indígenas que vivem fora das terras indígenas, em áreas urbanas ou rurais; IV - povos e grupos de indígenas que se encontram no País em situação de migração ou de mobilidade transnacional provisória; V - quilombolas; VI - quilombolas que, em razão de estudos, de atividades acadêmicas ou de tratamento de sua própria saúde ou da de seus familiares, estão residindo fora das comunidades quilombolas; VII - pescadores artesanais; VIII - demais povos e comunidades tradicionais. 33 § 2º As disposições desta Lei não excluem outras formas de proteção aos indígenas, aos quilombolas, aos pescadores artesanais e aos demais povos e comunidades tradicionais por ações governamentais direcionadas à prevenção e ao enfrentamento dos efeitos da Covid-19. Art. 2º Os povos indígenas, as comunidades quilombolas, os pescadores artesanais e os demais povos e comunidades tradicionais serão considerados como grupos em situação de extrema vulnerabilidade e, portanto, de alto risco e destinatários de ações relacionadas ao enfrentamento de emergências epidêmicas e pandêmicas. Art. 3º Todas as medidas e garantias previstas nesta Lei levarão em consideração a organização social, as línguas, os costumes, as tradições e o direito à territorialidade dos povos indígenas, nos termos do art. 231 da Constituição Federal, das comunidades quilombolas, nos termos do § 5º do art. 216 da Constituição Federal e do art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, dos pescadores artesanais e dos demais povos e comunidades tradicionais. CAPÍTULO II DO PLANO EMERGENCIAL PARA ENFRENTAMENTO À COVID-19 NOS TERRITÓRIOS INDÍGENAS Art. 4º Fica criado o Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nos Territórios Indígenas (Plano Emergencial), com o objetivo de assegurar o acesso aos insumos necessários à manutenção das condições de saúde para prevenção do contágio e da disseminação da Covid-19, bem como para o tratamento e a recuperação dos infectados, com observância dos direitos sociais e territoriais dos povos indígenas. Art. 5º Cabe à União coordenar o Plano Emergencial e, conjuntamente com os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as demais instituições públicas que atuam na execução da política indigenista e com a participação efetiva dos povos indígenas por 34 meio de suas entidades representativas, executar ações específicas para garantir, com urgência e de forma gratuita e periódica, as seguintes medidas, entre outras: I - acesso universal a água potável; II - distribuição gratuita de materiais de higiene, de limpeza e de desinfecção de superfícies para aldeias ou comunidades indígenas, oficialmente reconhecidas ou não, inclusive no contexto urbano; III - participação de Equipes Multiprofissionais de Saúde Indígena (EMSIs) qualificadas e treinadas para enfrentamento à Covid-19, com disponibilização de local adequado e equipado para realização de quarentena pelas equipes antes de entrarem em territórios indígenas, bem como de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados e suficientes; IV - acesso a testes rápidos e RT-PCRs, a medicamentos e a equipamentos médicos adequados para identificar e combater a Covid-19 nos territórios indígenas; V - organização de atendimento de média e alta complexidade nos centros urbanos e acompanhamento diferenciado de casos que envolvam indígenas, com planejamento estruturado de acordo com a necessidade dos povos, que inclua: a) oferta emergencial de leitos hospitalares e de unidade de terapia intensiva (UTI); b) aquisição ou disponibilização de ventiladores e de máquinas de oxigenação sanguínea; c) contratação emergencial de profissionais da saúde para reforçar o apoio à saúde indígena; d) disponibilização, de forma a suprir a demanda, de ambulâncias para transporte - fluvial, terrestre ou aéreo - de indígenas de suas aldeias ou comunidades até a unidade de atendimento mais próxima, ou para transferência para outras unidades; e) construção emergencial de hospitais de campanha nos Municípios próximos das aldeias ou comunidades com maiores números de casos de contaminação por Covid-19; VI - elaboração e distribuição, com participação dos povos indígenas ou de suas instituições, de materiais informativos sobre os sintomas da Covid-19, em formatos diversos e por meio de rádios comunitárias e de redes sociais, com tradução e em 35 linguagem acessível, respeitada a diversidade linguística dos povos indígenas, em quantidade que atenda às aldeias ou comunidades indígenas de todo o País; VII - transparência e publicização dos planos de contingência, notas e orientações técnicas, vigilância e monitoramento epidemiológico dos casos relacionados à Covid-19 em territórios indígenas; VIII - provimento de pontos de internet nas aldeias ou comunidades, a fim de viabilizar o acesso à informação e de evitar o deslocamento de indígenas para os centros urbanos; IX - elaboração e execução de planos emergenciais, bem como estabelecimento de protocolos de referência para atendimento especializado, transporte e alojamento dos indígenas; X - estabelecimento de rigoroso protocolo de controle sanitário e vigilância epidemiológica do ingresso nas terras indígenas e nas aldeias ou comunidades, preferencialmente com a disponibilização de testes rápidos para as EMSIs, com o objetivo de evitar a propagação da Covid-19 nos territórios indígenas; XI - adequação das Casas de Apoio à Saúde Indígena (Casais) para as necessidades emergenciais de acompanhamento e isolamento de casos suspeitos, confirmados e de contatos com a Covid-19, garantindo medicamentos, equipamentos de proteção individual e contratação de profissionais; XII - financiamento e construção de casas de campanha para situações que exijam isolamento de indígenas nas suas aldeias ou comunidades. § 1º Os comitês, comissões ou outros órgãos colegiados direcionados ao planejamento, coordenação, execução, supervisão e monitoramento dos impactos da Covid-19 no âmbito da saúde dos povos indígenas devem contar com a participação e o controle social indígena e de suas instâncias representativas. § 2º As medidas de isolamento e de quarentena de casos suspeitos de Covid-19 deverão considerar que os povos indígenas têm maior vulnerabilidade do ponto de vista epidemiológico e têm como característica a vida comunitária, com muitos membros convivendo em uma mesma moradia. 36 Art. 6º Nenhum atendimento de saúde ou de assistência social na rede pública pode ser negado às populações indígenas por falta de documentação ou por quaisquer outros motivos. Art. 8º O atendimento de saúde aos indígenas residentes fora das terras indígenas e àqueles povos e grupos de indígenas que se encontram no País em situação de migração ou de mobilidade transnacional provisória será feito diretamente pela rede do Sistema Único de Saúde (SUS), com as devidas adaptações na estrutura, respeitadas as especificidades culturais e sociais dos povos e observado o disposto nos §§ 1º-A, 1º-B,2º e 3º do art. 19-G da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, com exceção daqueles de aldeias ou comunidades indígenas localizadas nas áreas urbanas, para os quais o atendimento será articulado pela União com o apoio da rede do SUS. Parágrafo único. Para efeitos de comprovação documental, será aceito o Registro Administrativo de Nascimento do Indígena (Rani) ou o registro civil de nascimento com a identificação étnica expedido pelos cartórios de registro civil, conforme disposto na Resolução Conjunta nº 3 do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, de 19 de abril de 2012. CAPÍTULO III DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Art. 9º Considerada a abrangência prevista no § 1º do art. 1º desta Lei, fica instituída a garantia da segurança alimentar e nutricional aos povos indígenas, às comunidades quilombolas, aos pescadores artesanais e aos demais povos e comunidades tradicionais enquanto perdurar o estado de emergência decorrente da pandemia da Covid-19. § 2º A União disponibilizará remédios, itens de proteção individual e materiais de higiene e de desinfecção, observados os protocolos de proteção dos profissionais e dos povos indígenas, bem como as diretrizes do Plano Emergencial de que trata o Capítulo II desta Lei. 37 § 3º Os atos de distribuição de cestas básicas e de outros produtos relacionados às medidas de enfrentamento à Covid-19 nos territórios indígenas, nas comunidades quilombolas e nos territórios de pescadores artesanais e de povos e comunidades tradicionais serão preferencialmente realizados pelo Poder Público, com a participação das comunidades interessadas. § 4º A União garantirá suporte técnico e financeiro à produção dos povos indígenas, das comunidades quilombolas, dos pescadores artesanais e dos demais povos e comunidades tradicionais e ao escoamento da produção daqueles prejudicados em função da Covid-19, por meio da aquisição direta de alimentos no âmbito dos programas da agricultura familiar, assegurando a infraestrutura e a logística necessárias, de acordo com cada região. Art. 10. Serão simplificadas, para o enfrentamento à Covid-19, as exigências documentais para acesso a políticas públicas que visam a criar condições para garantir a segurança alimentar aos povos indígenas, às comunidades quilombolas, aos pescadores artesanais e aos demais povos e comunidades tradicionais. § 1º Em processos de compra pública, doação simultânea e alimentação escolar, quando a aquisição e o consumo da mercadoria ocorrerem na mesma terra indígena, fica estendido o conceito de autoconsumo, dispensando-se o atesto dos órgãos de vigilância animal e sanitária. § 2º Em processos de compra pública, doação simultânea e alimentação escolar, se houver uma única pessoa jurídica na terra indígena e se a aquisição e o consumo da mercadoria ocorrerem nessa mesma terra indígena, será dispensado o chamamento público. § 3º As Declarações de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para pessoas físicas indígenas podem ser substituídas pelas Certidões de Atividade Rural ou outros documentos comprobatórios simplificados que já sejam emitidos pelo órgão indigenista oficial. § 5º Será garantida a inclusão das comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares como beneficiárias do Programa Nacional de Reforma 38 Agrária (PNRA), assegurado o cadastramento das famílias na Relação de Beneficiários (RB), para acesso às políticas públicas. CAPÍTULO IV DOS POVOS INDÍGENAS ISOLADOS OU DE RECENTE CONTATO Art. 11. Nos casos dos povos indígenas isolados ou de recente contato, com o objetivo de resguardar seus direitos e de evitar a propagação da Covid-19, somente em caso de risco iminente, em caráter excepcional e mediante plano específico articulado pela União, será permitido qualquer tipo de aproximação para fins de prevenção e combate à pandemia. Art. 12. A União adotará as seguintes medidas: I - elaboração, no prazo de 10 (dez) dias, dos planos de contingência para situações de contato para cada registro confirmado de indígenas isolados oficialmente reconhecido pela Funai; II - elaboração, no prazo de 10 (dez) dias, dos planos de contingência para surtos e epidemias específicos para cada povo de recente contato oficialmente reconhecido pela Funai; III - quarentena obrigatória para todas as pessoas autorizadas a interagir com povos indígenas de recente contato; IV - suspensão de atividades próximas às áreas de ocupação de indígenas isolados, excetuadas aquelas de fundamental importância para a sobrevivência ou o bem-estar dos povos indígenas, na forma do regulamento; V - disponibilização imediata de testes para diagnóstico da Covid-19 e de EPIs para todos os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) que atuam em áreas onde existam registros oficiais de povos indígenas isolados ou presença de povos indígenas de recente contato. Art. 13. Fica vedado o ingresso de terceiros em áreas com a presença confirmada de indígenas isolados, salvo de pessoas autorizadas pelo órgão indigenista federal, na 39 hipótese de epidemia ou de calamidade que coloque em risco a integridade física dos indígenas isolados. § 1º As missões de cunho religioso que já estejam nas comunidades indígenas deverão ser avaliadas pela equipe de saúde responsável e poderão permanecer mediante aval do médico responsável. § 2º A vedação de que trata este artigo não se aplica aos agentes públicos, desde que observados os parâmetros de segurança epidemiológica orientados pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde. CAPÍTULO VI DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES E FINAIS Art. 17. A União poderá firmar convênio com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios para executar as medidas previstas nesta Lei, autorizados o ajuste de dotações e a transferência direta de recursos para os entes federativos. Art. 18. A Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, passa a vigorar com as seguintes alterações: ‘Art.19-E. .................................................................................................... § 1º A União instituirá mecanismo de financiamento específico para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sempre que houver necessidade de atenção secundária e terciária fora dos territórios indígenas. § 2º Em situações emergenciais e de calamidade pública: I - a União deverá assegurar aporte adicional de recursos não previstos nos planos de saúde dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena; II - deverá ser garantida a inclusão dos povos indígenas nos planos emergenciais para atendimento dos pacientes graves das Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, explicitados os fluxos e as referências para o atendimento em tempo oportuno.’ (NR) 40 ‘Art.19-G. .................................................................................................. § 1º-A. A rede do SUS deverá obrigatoriamente fazer o registro e a notificação da declaração de raça ou cor, garantindo a identificação de todos os indígenas atendidos nos sistemas públicos de saúde. § 1º-B. A União deverá integrar os sistemas de informação da rede do SUS com os dados do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. § 1º-B. A União deverá integrar os sistemas de informação da rede do SUS com os dados do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. .................................................................................................................. ‘ (NR)’ Art. 19. Em áreas remotas, a União adotará mecanismos que facilitem o acesso ao auxílio emergencial instituído pelo art. 2º da Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020, assim como aos benefícios sociais e previdenciários, de modo a possibilitar a permanência de povos indígenas,
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