Prévia do material em texto
51 6ºAula A escolarização colonial: consolidação do modelo agrário- exportador dependente (1549-1808) No decorrer desta aula, veremos sobre a Educação no Brasil colônia, os processos, a dependência da colônia sob metrópole portuguesa e uma educação dualística e elitista. Se ao término desta aula, vocês tiverem dúvidas, poderão sanar utilizando as seguintes ferramentas: “fórum”, “quadro de avisos” e “chat”. Boa aula! História da Educação 52 Objetivos de aprendizagem 1 - A representação do poder público e o processo educacional: o plano educacional e nossos primeiros educadores 2 - As questões religiosas e o pacto com o Estado, frente os interesses econômicos 3 - A fase pombalina da escolarização colonial 1 - A representação do poder público e o processo educacional Ao final desta Aula, vocês serão capazes de: • compreender a representação do poder público e o processo educacional, que prevaleceu no período do Brasil colônia com a participação dos educadores Jesuítas; • identificar as questões religiosas e o pacto com o Estado, frente os interesses econômicos; • reconhecer que tanto a fase pombalina, quanto a fase joanina, pouco avanço se teve para a escolarização colonial. O Governo Geral é o primeiro representante do poder público no Brasil Colônia, que tinha como incumbência apoiar o regime de capitanias hereditárias a fim de que o processo de colonização conseguisse um desenvolvimento normal. Seções de estudo Fonte: A educação jesuítica no Brasil colonial: adestramento aos povos indígenas . Disponível em : http:// samukalima.blogspot.com.br/. Acesso em: 17/10/2012. A organização escolar no Brasil Colônia está estreitamente vinculada à política colonizadora dos portugueses e em decorrência do estágio primitivo em que se encontravam as populações que aqui vivam – as etnias indígenas, a educação não tinha o objetivo de escolarização. A participação direta da criança nas diferentes atividades tribais era quase que suficiente para a formação necessária quando atingisse a idade adulta. A produção de mercadorias, envolviam riscos e a necessidade de capital inicial, face a esses dois elementos, surgiu assim o sistema escravocrata, submetendo índios e negros. Estes vieram satisfazer aos interesses da burguesia mercantil portuguesa, porque possibilitavam a produção a baixo custo e porque o escravo, enquanto mercadoria, era fonte de lucro, já que era ela (burguesia) que transportava. É assim que a grande produção açucareira foi a única base da economia colonial até meados do século XVII. Num contexto social com tais características, a instrução, a educação escolarizada só podia ser conveniente e interessar a esta camada dirigente (pequena nobreza e seus descendentes) que, segundo o modelo de colonização adotado, deveria servir de articulação entre os interesses metropolitanos e as atividades coloniais. Mas se for retomado o item dos “Regimentos”, ver se a clientela citada explicitamente foi a indígena, através da catequese e instrução. Os subsídios recebidos e a obrigação daí decorrente também sugerem as ideias colocadas em forma de questão, já que os jesuítas deveriam fundar colégios que recebiam subsídios do Estado português relativos a missões. Por outro lado, ao analisar o primeiro plano educacional, elaborado pelo padre Manoel da Nóbrega, percebe se a intenção de catequizar e instruir os indígenas, como determinavam os “Regimentos”; percebe-se, também, a necessidade de incluir os filhos dos colonos, uma vez que, naquele instante, eram os jesuítas os únicos educadores de profissão que contavam com significativo apoio real na colônia. O fato de este plano ter encontrado sérias resistências a partir de 1556, ano em que começam a vigorar as “Constituições da Companhia de Jesus” (<www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/ momentos/jesuitas/_private/hj.htm>), exigindo de Fonte: A educação jesuítica no Brasil colonial: adestramento aos povos indígenas . Disponível em : http:// samukalima. blogspot.com. br/. Acesso em: 17/10/2012. Figura 28 53 Nóbrega muito empenho até sua morte, em 1570, indica que ele devia entrar, de alguma forma, em choque com a orientação da própria ordem religiosa. Isto foi constatado pelo fato do plano que vigorou durante o período de 1570 a 1759 excluir as etapas iniciais de estudo, o aprendizado do canto, da música instrumental, profissional e agrícola. A orientação contida no Ratio Studiorium (saiba mais, acesse www.anpuh. uepg.br/historia-hoje/ vol1n2/ratio.htm) que era a organização e plano de estudos da Companhia de Jesus publicado em 1599, concentra sua programação nos elementos da cultura européia. O plano legal (catequizar e instruir os índios) e o plano real se distanciam. Os instruídos serão descendentes dos colonizadores. Os indígenas serão apenas catequizados. O plano de estudos foi elaborado de forma diversifi cada, com o objetivo de atender à diversidade de interesses e de capacidades. Voltado para o aprendizado do português, incluía o ensino da doutrina cristã, a escola de ler e escrever. Daí em diante, continua, em caráter opcional o ensino de canto orfeônico e de música instrumental, e uma bifurcação tendo em um dos lados o aprendizado profi ssional e agrícola e, de outro, aula de gramática e viagem de estudos à Europa. O Plano de Estudo elaborado por Nóbrega tinha em sua base o aprendizado do português, doutrina cristã, escola de ler e escrever, canto orfeônico – música instrumental, aprendizado profi ssional agrícola – gramática latina e viagem à Europa. Não tinha, inicialmente, de modo explícito, a intenção de fazer com que o ensino profi ssional atendesse à população indígena e o outro à população “branca” exclusivamente. É assim que planejara “Recolhimentos, nos quais se educassem os mamelucos, os órfãos e os fi lhos dos principais (caciques) da terra (...)” além “dos fi lhos dos colonos brancos dos povoados)” em regime de externato (Mattos, 1958, p. 84-85). 2 - As questões religiosas e o pacto com o estado, frente os interesses econômicos A catequese, do ponto de vista religioso, interessava à Companhia como fonte de novos adeptos ao catolicismo, bastante abalado com o movimento de Reforma. Do ponto de vista econômico, interessava tanto a companhia como ao colonizador, à medida que tornava o índio mais dócil e, portanto, mais fácil de ser aproveitado como mão-de-obra. A educação profissional (trabalho manual), sempre muito elementar diante das técnicas rudimentares de trabalho, era conseguida através do convívio, no ambiente de trabalho, quer de índios, negros ou mestiços que formavam a maioria de população colonial. A educação feminina restringia-se a boas maneiras e prendas domésticas. A elite era preparada para o trabalho intelectual segundo um modelo religioso (católico), mesmo que muitos de seus membros não chegassem a ser sacerdotes. Isso porque, diante do apoio real oferecido, a Companhia de Jesus se tornou a ordem dominante no campo educacional. Isto, por sua vez, fez com que os seus colégios fossem procurados por muitos que não tinham realmente vocação religiosa, mas que reconheciam que esta era a única via de preparo intelectual. Haja vista que, em determinadas épocas, a procura era tão maior que a capacidade limitada dos colégios que chegou a causar problemas, como a “Questão dos Moços Pardos”, resolvida em 1689, surge da proibição, por parte dos jesuítas, da matrícula e freqüência de mestiços “por serem muitos e provocarem arruaças”. Como eram escolas públicas, pelos subsídios que recebiam foram obrigados a readmiti-los. É interessante notar que os movimentos de Reforma e Contra Reforma ocorridos no início do século XVI criam o mesmo problema no seio do cristianismo. É assim que Portugal, entre outras nações, se considera defensor do catolicismo e estimula a atuação educacional, tanto no território metropolitanocomo no colonial, de uma ordem religiosa que se constitui para servir de instrumento de defesa do catolicismo e, conseqüentemente, de ataque a toda heresia. Nessa tarefa seus membros se dedicam por inteiro, como guerreiros de Cristo. Inácio de Loyola, o fundador, como antigo militar espanhol, chega a imprimir diretamente um regime de trabalho modelado na sua anterior forma de vida. É importante ressaltar que a formação intelectual oferecida pelos jesuítas, e, portanto, a formação da elite colonial, será marcada por uma intensa “rigidez” na maneira de pensar e, consequentemente, de interpretar a realidade. Planejaram, e foram bastante eficientes em sua execução, converter, por assim dizer, seus alunos ao catolicismo, afastando-os das influências consideradas nocivas. É por isso que dedicavam especial atenção ao preparo dos professores, que somente se tornam aptos após os trinta anos, selecionavam cuidadosamente os livros e exerciam rigoroso controle sobre as questões a serem suscitadas pelos professores, especialmente em filosofia e teologia. Um trecho de uma das regras do Ratio diz o seguinte: “Se alguns forem amigos de novidades ou de espírito demasiado livre devem ser afastados sem hesitação do serviço docente” (Paim, 1967, p. 28). História da Educação 54 No plano de Nóbrega, havia a proposição de criação de confrarias para sustento da clientela dos Recolhimentos, que teriam nos missionários os diretores espirituais e docentes e nos leigos os administradores dos bens materiais. No das “Constituições”, não só se proibia a criação destes Recolhimentos e o atendimento de sua clientela, como já foi discutido, como também ficava determinado que os bens materiais deveriam permanecer vinculados à Companhia de Jesus. E estes bens eram basicamente conseguidos com a aplicação dos recursos resultantes do “Padrão de Redízima”, colocado em execução a partir de 1564. Isto equivale a dizer que, a partir daí, 10% de toda arrecadação dos dízimos reais (impostos), em todas as capitanias da colônia e seus povoados, ficavam para sempre vinculados à manutenção e sustento dos colegas jesuíticos. Além disso, seria interessante destacar que as missões jesuíticas foram a base da economia florestal amazônica durante a primeira metade do século XVII, advindo daí grande lucro. A importância social desses religiosos chegou a tal ponto, que se transformaram na única força capaz de influir no domínio do senhor do engenho. Isso foi conseguido não só através dos colégios, como do confessionário, do teatro e, particularmente, pelo terceiro filho, que deveria seguir a vida religiosa (o primeiro seria o herdeiro, o segundo, o letrado). O número de estabelecimentos que a ordem possuía quando de sua expulsão (1759) varia segundo os autores. Para Tito Lívio Ferreira eram “vinte Colégios, doze Seminários, um Colégio e um Recolhimento Feminino (...) “(Ferreira, 1966: 218). Para Fernando de Azevedo eram “36 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, sem contar os seminários menores e as escolas de ler e escrever (...)” (Azevedo, 1944. p. 312). 3 - A fase pombalina da escolarização colonial Como já foi lembrado no item anterior, a política colonial, objetivava a conquista de um capital necessário à passagem da etapa mercantil para a industrial do regime capitalista. Foi dito também que, por razões internas e externas, Portugal, mesmo tendo se antecipado em relação à primeira etapa, não chegou à segunda. Como nação, continuava Portugal um país pobre, sem capitais, quase despovoado, com uma lavoura decadente pela falta de braços que a trabalhassem, pelas relações de caráter feudal ainda existentes, dirigido por um Rei absoluto, uma nobreza arruinada, quase sem terras e sem fontes de renda, onde se salientava uma burguesia mercantil rica mas politicamente débil, preocupada apenas em importar e vender para o estrangeiro especiarias e escravos e viver no luxo e na ostentação. Era o país uma nação em que o feudalismo se desagrega por si mesmo, sem que se consolidasse um capitalismo sobre os seus escombros (Basbaum, 1957, p.48-49). A nação que lidera este processo no transcorrer dos séculos XVI ao XIX é a Inglaterra. Esta passa a ser beneficiada pelos próprios lucros coloniais portugueses, especificamente a partir do século XVII. Com o Tratado de Methuen (1703), o processo de industrialização em Portugal é sufocado. Seu mercado interno foi inundado pelas manufaturas inglesas, enquanto a Inglaterra se comprometia a comprar os vinhos fabricados em Portugal. Canaliza-se, assim, para a Inglaterra, o capital português, diante da desvantagem dos preços dos produtos agrícolas em relação ao manufaturados. Desta maneira, enquanto uma metrópole entrava em decadência (Portugal) outra estava em ascensão (Inglaterra). O conhecimento dessas distintas situações tem importância quando se está interessado na compreensão do processo de submissão/emancipação, à medida que os objetivos coloniais também serão diferentes e acabarão por tornar tal processo mais ou menos acelerado. É importante, também, quando se está analisando as tentativas de transformação da situação portuguesa em meados do século XVIII, consubstanciadas nas “Reformas Pombalinas”, que incluem o âmbito escolar metropolitano e colonial. O marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Meio), enquanto ministro de um monarca ilustrado (D. José I), orienta se no sentido de recuperar a economia através de uma concentração do poder real e de modernizar a cultura portuguesa. Quanto ao aspecto econômico, a decadência já pode ser claramente constatada após o período de dominação espanhola de Portugal (1580-1640). Diante desta realidade, era necessário tirar o maior proveito possível da colônia. Era necessária uma intensa fiscalização das atividades aqui desenvolvidas. Para tanto, o aparato material e humano deveria ser aumentado e, ainda mais, deveria ser discriminado o nascido na colônia do nascido na metrópole, quando da distribuição dos cargos: as posições superiores deveriam ser ocupadas apenas pelos metropolitanos. Esta ampliação do aparelho administrativo e o consequente aumento de funções de categoria inferior passou a exigir um pessoal com um preparo 55 Portugal chega em meados do século XVIII com sua Universidade a de Coimbra tão medieval como sempre fora. A filosofia moderna (Descartes), a ciência físico matemática, os novos métodos de estudo da língua latina eram desconhecidos em Portugal. O ensino jesuítico, solidamente instalado, continuava formando elementos da corte dentro dos moldes do Ratio Studiorum. elementar. As técnicas de leitura e escrita se fazem necessárias, surgindo, com isto, a instrução primária dada na escola, que antes cabia à família. A mineração, com os primeiros achados no final do século XVII, neste contexto, parecia ser um acontecimento providencial: era a solução esperada. Na verdade, foi apenas esperança, já que o ouro brasileiro será, na sua parte mais significativa, canalizado para a Inglaterra, em decorrência do Tratado de Methuen e, dessa forma, impulsionará, o processo de industrialização, só que o inglês. A acordo fi rmado entre ingleses e lusitanos que estabelecia a compra dos tecidos ingleses por parte de Portugal, enquanto a Inglaterra se comprometia a adquirir a produção vinícola dos lusitanos a descoberta de ouro em terras brasileiras apareceu como uma alternativa econômica que poderia salvar os combalidos cofres da Coroa Portuguesa. Os gastos realizados com o processo de restauração da monarquia nacional (que marcou o fi m da União Ibérica), a perda de posses coloniais espalhadas pela Ásia e as oscilações do preço do açúcar no mercado europeu compunham uma série de problemas enfrentados pelo Estado lusitano naquela época. A dependência econômica de Portugal em relação aos ingleses marca um período históricoda economia europeia. Enquanto os lusitanos perdiam o antigo posto de nação rica e desenvolvida, galgado entre os séculos XVI e XVII, a Inglaterra alcançava as condições que a transformaria na maior potência econômica do mundo entre os século XVIII e XIX. é uma espécie de coletânea privada, fundamentada em experiências acontecidas no Colégio Romano e adicionada a observações pedagógicas de diversos outros colégios, que busca instruir rapidamente todo jesuíta docente sobre a natureza, a extensão e as obrigações do seu cargo. A Ratio (pronuncia-se rácio, palavra feminina latina da Foi a fi gura-chave do governo português entre 1750 e 1777. Sua gestão foi um perfeito exemplo de despotismo esclarecido, forma de governo que combinava a monarquia absolutista com o racionalismo iluminista. Aboliu também a escravatura nas Índias portuguesas, reorganizou o exército e a marinha, reestruturou a Universidade de Coimbra acabando com a discriminação dos “cristãos novos” (pelo menos em parte). Em 1759, o regime de capitanias hereditárias foi defi nitivamente extinto, com a sua incorporação aos domínios da Coroa portuguesa. Quatro anos depois, em 1763, a sede do governo-geral da colônia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, cujo crescimento sinalizava o deslocamento do eixo econômico do Nordeste para a região Centro-Sul. Com a expulsão violenta dos jesuítas do império português, o Marquês determinou que a educação na colônia passasse a ser transmitida por leigos nas chamadas Aulas Régias. Até então, o ensino formal estivera a cargo da Igreja. O ministro regulamentou ainda o funcionamento das missões, afastando os padres de sua administração, e criou, em 1757, o Diretório, órgão composto por homens de confi ança do governo português, cuja função era gerir os antigos aldeamentos. Complementando esse “pacote” de medidas, o Marquês procurou dar maior uniformidade cultural à colônia, proibindo a utilização do Nheengatu, a língua geral (uma mistura das línguas nativas com o português, falada pelos bandeirantes) e tornando obrigatório o uso do idioma português. Alguns estudiosos da história afi rmam que foi com esta medida que o Brasil deixou o rumo de ser um país bilingue. Entretanto, a Companhia de Jesus é atingida diretamente e chega a ser expulsa, em 1759. O motivo apontado era o fato de ela ser um empecilho na conservação da unidade cristã e da sociedade civil razão de Estado invocada na época porque: a) era detentora de um poder econômico que deveria ser devolvido ao governo; b) educava o cristão a serviço da ordem religiosa e não dos interesses do país. Do ponto de vista educacional, a orientação adotada foi de formar o perfeito nobre, agora negociante; simplifi car e abreviar os estudos fazendo com que um maior número se interessasse pelos cursos superiores; propiciar o aprimoramento da língua portuguesa; diversifi car o conteúdo, incluindo o de natureza científi ca; torná-los os Figura 29 - Marquês de Pombal. Disponível em http://goo.gl/ LNgrrE. Acesso em 10 ago 2010. terceira declinação) surgiu com a necessidade de unifi car o procedimento pedagógico dos jesuítas diante da explosão do número de colégios confi ados à Companhia de Jesus como base de uma expansão missionária. Constituiu-se numa sistematização da pedagogia jesuítica contendo 467 regras cobrindo todas as atividades dos agentes diretamente ligados ao ensino e recomendava que o professor nunca se afastasse em matéria fi losófi ca de Aristóteles, e teológica de Santo Tomás de Aquino A fonte das ideias aí defendidas está no movimento iluminista que toma corpo no final do século XVII e caracteriza o XVIII. A Inglaterra é o centro principal de 1680 a 1720, vindo, posteriormente, a compartilhar sua posição com a França e depois, com a Alemanha. Daí os intelectuais portugueses com tal influência serem rotulados de “estrangeirados” pelos seus oponentes. O que Pombal tenta, enquanto ministro de Estado, é tornar este programa concreto. As reformas, entre as quais as da instrução pública, traduzem, dentro do plano de recuperação nacional, a política que as condições econômicas e sociais do país pareciam reclamar” (Carvalho, 1952: 15). História da Educação 56 Surge, com isso, um ensino público propriamente dito. Não mais aquele financiado pelo Estado, mas que formava o indivíduo para a Igreja, e sim o financiado para o Estado. O Alvará de 28 6 1759 criava o cargo de diretor geral dos estudos, determinava a prestação de exames para todos os professores, que passaram a gozar do direito de nobres, proibia o ensino público ou particular sem licença do diretor geral dos estudos e designava comissários para o levantamento sobre o estado das escolas e professores. Em cumprimento a ele, neste mesmo ano foi aberto, no Brasil, um inquérito com o fim de verificar quais os professores que lecionavam sem licença e quais usavam os livros proibidos. Foram realizados concursos para provimento das cátedras de latim e retórica na Bahia, o que parece ter havido também no Rio. Foram enviados dois professores régios portugueses para Pernambuco. Daí por diante, o ensino secundário, que ao tempo dos jesuítas era organizado em forma de curso Humanidades, passa a sê-lo em aulas avulsas (aulas régias) de latim, grego, filosofia e retórica. Pedagogicamente esta nova organização é um retrocesso. Representou um avanço ao exigir novos métodos e novos livros. Para o ensino do latim, a orientação era a de ser entendido apenas como um instrumento de domínio da cultura latina e admitir o auxílio da língua portuguesa. Quanto ao grego (indispensável a teólogos, advogados, artistas e médicos), as dificuldades deveriam ser gradualmente vencidas: primeiro a leitura (reconhecer as letras, sílabas, palavras), depois os preceitos gramaticais e, por último, a construção. A retórica não deveria ter seu uso restrito ao público e à cátedra. Deveria tornar se útil ao contato cotidiano. As diretrizes para as aulas de filosofia ficaram para mais tarde e, na verdade, pouca coisa aconteceu. Diante da ruptura parcial com a tradição, este campo causou muito receio ou muita incerteza em relação ao novo. As transformações ocorridas no nível secundário não afetam, como não poderia deixar de ser, o fundamental. Ele permaneceu desvinculado A formação “modernizada” da elite colonial masculina era uma das exigências para que ela se tornasse mais eficiente em sua função de articuladora das atividades internas e dos interesses da camada dominante portuguesa. É certo que esta “nova” formação obtida por uns poucos levou alguns a participarem de movimentos que chagavam a propor a emancipação política. Mas a base do descontentamento não era fruto do contato com estas teorias iluministas e sim das mudanças que estavam ocorrendo na estrutura social brasileira, citadas anteriormente, quando da discussão do ciclo econômico da mineração. Essas teorias, com o passar do tempo, vão se caracterizar como inadequadas na interpretação e solução dos problemas internos, por serem resultado de circunstâncias especiais de determinados países europeus, e, enquanto tal, bastante artificiais também para os problemas portugueses. No governo seguinte de D. Maria I, ocorre o movimento conhecido sob o mais práticos possíveis, tais como: as obras básicas de onde estas diretrizes foram tiradas são: Verdadeiro método de estudar, de Luís A. Verney; Educação da mocidade, de Antônio N. Ribeiro, e Gramática latina, da ordem dos Oratorianos. dos assuntos problemas da realidade imediata. O modelo continuou sendo o exterior “civilizado” a ser imitado. Para maior garantia, aqueles que tinham interesse e condições de cursar o ensino superior deveriam continuar enfrentando os riscos das viagens e frequentar a Universidade de Coimbra reformada e/ou outros centros europeus. Assim, fica evidenciado que as “Reformas Pombalinas” visavam a transformar Portugalnuma metrópole capitalista, a exemplo do que a Inglaterra já era há mais de um século. Visavam, também, provocar algumas mudanças no Brasil, com o objetivo de adaptá-lo, enquanto colônia, à nova ordem pretendida em Portugal. Figura 30 - Sala de meninos. Disponível em: http://www. unicampo.br. Acesso em 29/11/2010. São exemplos de “ilustrados” que, ao retornarem, tiveram grande atuação: Francisco José Lacerda e Almeida (geólogo), Alexandre Rodrigues Ferreira (médico e naturalista), José Bonifácio de Andrade e Silva (mineralogista), Silva Alvarenga (poeta), José Joaquim de Azevedo Coutinho - fundador do Seminário de Olinda. O Seminário de Olinda foi fundado em 1800. Pretendia seguir o modelo do Colégio de Nobres, criado em Lisboa em 57 Sendo assim, o objetivo dos colonizadores era o lucro, e a função da população colonial era propiciar tais lucros às camadas dominantes metropolitanas. No entanto, para que a empresa funcionasse, estes lucros não poderiam se concentrar exclusivamente nos grupos externos citados. Uma parte pequena, é certo, deveria permanecer na colônia com a camada que dirigia internamente a atividade produtiva. O mecanismo era o seguinte: “(...) detendo a exclusividade da compra dos produtos coloniais, os mercadores da mãe pátria podiam deprimir na colônia seus preços até ao nível abaixo do qual seria impossível a continuação do processo produtivo, isto é, tendencialmente ao nível dos custos da produção; a revenda na metrópole, onde dispunham da exclusividade da oferta, garantia lhes sobre lucros por dois lados na compra e na venda” (NOVAIS, 1975, p. 21). O rápido esgotamento das matas costeiras de pau-brasil, a impossibilidade da população indígena Figura 31 - Imagem sobre o movimento viradeiro. Disponível em: books.google.com.br/ books?isbn=8585701102..., Acesso em 12/11/2010. nome de “Viradeira”, isto é, o combate sistemático ao pombalismo, a tentativa de retornar à tradição, vista, mais uma vez, como a maneira adequada de se resolverem os problemas, problemas estes que, em realidade, vão se agravando. 1761. Mesmo não chegando a concretizar esta intenção, transformou se no melhor colégio de instrução secundária do Brasil durante um certo período. Empregava métodos mais suaves, dava maior atenção à matemática e às ciências físicas e naturais. Foi responsável pela formação de uma geração de párocos mais voltados para o ambiente urbano e para os métodos expiratórios de investigação da natureza, párocos estes que tiveram acentuada infl uência na revolução pernambucana de 1817. Com o mesmo espírito é organizada a instituição do Recolhimento de Nossa Senhora, para moças. Compreenderam? Então veremos o mecanismo utilizado pela metrópole. produzir algo que interessasse ao mercado europeu, a possibilidade da existência de ouro, bem como o perigo de usurpação do território por outra potência, fizeram com que o governo português abandonasse a orientação de colonizar através da ocupação. O Brasil colônia foi marcado por três fases: Jesuítica, Pombalina e Joanina. Ainda tem alguma dúvida? Então vamos voltar à nossa fala inicial? Ainda tem alguma dúvida? Então vamos voltar à nossa fala inicial? • Jesuítica: inicia com a chegada ao Brasil em 1549 que tinha por objetivo: catequizar a população; com isso combater o avanço da (Reforma Protestante);o principal representante foi o Padre jesuíta Inácio de Loiola; a educação voltada para a transmissão do conhecimento, objetivando catequizar; lembrando que a educação era privilégio da classe burguesa. • Pombalina: aconteceu com expulsão dos Jesuítas; surge o ensino público, fi nanciado pelo estado, po- rém não em todas as cidades das províncias; e pra piorar não havia professores qualifi cados, a situação no que diz respeito a educação era caótica; simpli- fi cação e abreviação dos estudos (para a formação do trabalho e com isso obtenção de lucro por parte dos detentores do poder) a educação no Brasil, após a reforma pombalina, continuou reduzida a segun- do plano pelas classes dirigentes; e foi desse modo que chegou à independência destituído de qualquer forma organizada de educação escolar. Importante salientar que desde o início da reorganização dos estudos, e do estabelecimento das aulas de primeiras letras, de gramática, latim e grego no Rio de Janei- ro e nas principais cidades das capitanias, em 1772, meio século já havia passado até a independência em 1822. O Brasil, no entanto, ainda se encontrava sem qualquer forma organizada de educação esco- lar. Afi nal, não foi um sistema ou tipo pedagógi- co que se transformou ou se substituiu por outro, mas uma organização escolar que se extinguiu sem que essa destruição fosse acompanhada de medidas imediatas, bastante efi cazes para lhe atenuar os efei- tos ou reduzir a sua extensão. • Joanina: Proporcionou a criação do ensino su- perior no Brasil. Ensino dividido em 3 faixas: en- História da Educação 58 Artigo: Jordão, G. O mestre e a escola no período colonial brasileiro, Ano I - Nº 04 -Maio de 2002 - Quadrimestral - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178, disponível em <http://www.urutagua. uem.br//04jordao.htm.> Vale a pena Vale a pena ler sino primário, leitura e escrita e ensino secundário, aulas régias e ensino superior. Em suma, a história da educação esteve, durante o período colonial, a serviço de interesses alheios ao sentido real da ins- trução, ou seja, o da formação integral do indivíduo. Mesmo conscientes do fato de estarmos reforçando um velho conceito, sentimos a necessidade de tor- ná-lo. Importante salientar que desde o início da re- organização dos estudos, e do estabelecimento das aulas de primeiras letras, de gramática, latim e grego no Rio de Janeiro e nas principais cidades das capi- tanias, em 1772, meio século já havia passado até a independência em 1822. Resumindo Como infere Almeida e Teixeira, é fundamental ana- lisarmos que, as desigualdades econômicas e sociais se refl etem no sistema educacional, até hoje na edu- cação na educação brasileira . Assim, ao lado de uma elite bem educada, formada em boas escolas, encon- tra-se uma população analfabeta ou semianalfabeta que não conseguiu ingressar no sistema escolar ou foi dele excluída precocemente (Werebe, 1997, p. 283). Senso assim, devemos ter a capacidade de compreen- der através da história da nossa educação, o que está como “pano de fundo”, posto nas políticas educacio- nais, que tipo de educação nós educadores podemos ajudar a construir como perspectiva futura. Figura 33 - Fonte: Mineiração colonial.Disponivel em: betahistoria.wordpress.com. Acesso em: 10 out 2010. Faz-se necessário que nossas leituras sejam feitas de forma que possamos ler e fazer uma leitura refl exiva e com autonomia. 1 - A representação do poder público e o processo educacional: o plano educacional e os nossos primeiros educadores. a) A organização escolar no Brasil Colônia; b) A escolarização para atender aos interesses da camada dirigente. 2 – As questões religiosas e o pacto com o Estado, frente aos interesses econômicos. a) A catequese, do ponto de vista religioso, Os interesses da Companhia de Jesus como fonte de novos adeptos ao catolicismo; b) A importância social dos religiosos jesuítas, capaz de influir no domínio do senhor do engenho. 3 – A fase pombalina da escolarização colonial a) A política colonial objetivava a passagem da etapa mercantil para a industrial do regime capitalista; b) A formação “modernizada” da elite colonial masculina era para atender os interesses da camada dominante portuguesa. c) Com a reforma pombalina, a educação continuou reduzida a segundo plano pelas classes dirigentes. Retomando a aula Vamos encerrar esta aula. Mas perceberam quantas novas informações obtivemos? Para fi nalizar, vamos recordar? 59 História da Colônia - Período Jesuítico (1500- 1759).A EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA: PELO FIM DA VISÃO ILUMINISTA DA HISTÓRIA. <www.histedbr.fae.unicamp.br/.../ periodo_jesuitico.html>. Vale a pena acessar A Missão. Disponível em: <http://www. youtube.com/watch?v=cqcLJopZJ2A>. Acesso em 26/11/2012. Vídeo sobre história da educação - período Joanino. Disponivel em: <http://www.youtube.com/ watch?v=TJjorHIutaM>. Acesso em 26 nov 2012. Vale a pena assistir História da Educação 60 Minhas ANOTAÇÕES