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Direito Processual Civil IV - 4 - Ação de Exigir Contas e outros

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Direito PROCESSUAL civil IV
Prof.ª Vanessa de Castro
AÇÃO DE EXIGIR CONTAS 
Sempre que a administração de bens, valores ou interesses de determinado sujeito seja confiada a outrem, haverá a necessidade de prestação de contas
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Não se admite a prestação de contas se não há necessidade de aclaramento
Sem a prestação de contas, não há interesse na ação, bastando que aquele que tem o crédito a seu favor ajuíze ação de cobrança, ou aquele que tem débito ajuíze ação de consignação em pagamento
Hipóteses meramente exemplificativas
Não se admite discussões a respeito de cláusulas contratuais de sentido controverso, afastando-se do âmbito da ação de prestação de contas pretensões como a de rescisão ou resolução contratual ou de anulação de ato jurídico
O STJ não admite a cumulação de pedidos de prestação de contas e de revisão de cláusula contratual
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Exemplos de relações das quais resulta a obrigação de prestar contas:
A obrigação do tutor e do curador, pela gestão de bens e negócios do tutelado ou curatelado 
A do sucessor provisório, em relação aos bens dos ausentes
A do administrador da massa na insolvência
A do administrador de empresas, estabelecimentos e outros bens, que tenham sido penhorados
As instituições financeiras devem prestar contas dos valores depositados aos titulares dos depósitos 
Súmula 259, STJ: “A ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular da corrente bancária”
O consorciado pode exigir contas da administradora, ainda que o grupo esteja inadimplente e o consórcio ainda não esteja encerrado
O advogado deve prestar contas ao cliente, já que é mandatário deste
1. Legitimidade
Ativa: aquele que afirmar que teve seus bens, valores ou interesses administrados (art. 550, CPC)
Antes de discutir a legitimidade das contas apresentadas, deverá comprovar o dever do réu em prestá-las. 
O autor deverá demonstrar que houve recusa na prestação extrajudicial das contas, sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito por carência de ação (ausência de interesse de agir)
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Quando a própria lei exige a prestação de contas em juízo, como ocorre, por exemplo, com o inventariante, tutor e curador, naturalmente o interesse de agir é presumido
Os sócios que não têm a administração da sociedade têm legitimidade ativa para propor ação de prestação de contas contra o sócio gerente, mas, uma vez tendo ocorrida a aprovação das contas pelo órgão interno apontado pelo estatuto ou contrato social (assembleia geral ou outro órgão assemelhado), não se admitirá a demanda judicial
STJ: o mandato é contrato personalíssimo por excelência, e sendo o dever de prestar contas uma das obrigações do mandatário perante o mandante, também ele tem natureza personalíssima, sendo parte legítima para figurar no polo passivo da demanda somente a pessoa a quem incumbia tal encargo por lei ou contrato 
2. Natureza dúplice
“Art. 552, CPC.  A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial.”
Pode haver saldo credor tanto em favor do autor da ação quanto do réu
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Parcela da doutrina afirma que, mesmo na omissão do juiz na sentença em que condenar expressamente o autor ao pagamento do saldo devedor, o mero reconhecimento do saldo devedor em favor do réu já constitui em seu favor título executivo apto a ensejar a cobrança do valor pela via executiva
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3. Competência
Lugar do ato ou fato para a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios alheios (competência relativa - art. 53, IV, “b” do CPC )
Exceção: competência absoluta (funcional) do juízo que tiver nomeado o administrador (inventariante, tutor, curador ou depositário) para julgar as ações de prestação de contas propostas contra ele; haverá autuação em apenso aos autos do processo principal
4. Procedimento
Em regra, possui duas fases: 
1ª: para que juiz decida sobre a existência ou não da obrigação de o réu prestar contas. Se decidir que não, encerra-se nessa fase; mas se decidir que sim, haverá uma segunda
2ª: servirá para que o réu preste as contas, e o juiz possa avaliar se o fez corretamente, reconhecendo a existência de saldo credor ou devedor
Na petição inicial o autor deverá cumular dois pedidos: a condenação do réu a prestar as contas e a condenação do réu ao pagamento do saldo devedor a ser apurado
É admissível a formulação de pedido genérico
O autor deve detalhar as razões pelas quais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem
Citação do réu para responder no prazo de 15 dias
No prazo de resposta de 15 dias poderá o réu:
A) Apresentar as contas e não contestar
O juiz considerará superada a primeira fase e passará, desde logo, à segunda. 
O juiz ouvirá o autor sobre as contas prestadas, no prazo de 15 dias, e determinará as provas necessárias, podendo, se preciso, designar audiência de instrução e julgamento. 
Ao final, proferirá sentença, na qual decidirá se há saldo em favor de alguma das partes
B) Não contestar e nem apresentar as contas
Aplicará os efeitos da revelia, julgará antecipadamente o mérito, determinando que o réu preste ao autor as contas solicitadas, no prazo de 15 dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar. 
Por ser presunção relativa, mesmo ocorrendo a revelia é possível ao juiz determinar ao autor a especificação de provas tendentes a demonstrar a veracidade das alegações de fato constitutivas de seu direito 
C) Contestar e não apresentar as contas
Caso não concorde com o alegado dever de prestar as contas suscitado pelo autor, caberá ao réu apresentar contestação alegando a inexistência desse dever e pedir a rejeição do pedido. 
Poderá também alegar todas as matérias defensivas processuais em preliminar de contestação, juntamente com a alegação de que não tem dever de prestar as contas ou isoladamente
D) Apresentar as contas e contestar
O processo passará logo à segunda fase.
Ao apresentar as contas, o réu reconheceu a obrigação, cumprindo apenas verificar se elas estão corretas e se há saldo em favor dos litigantes
Proferida a sentença, extinguindo o processo sem a resolução do mérito ou rejeitando o pedido do autor, caberá recurso de apelação, e sendo definitiva a decisão, naturalmente não haverá segunda fase procedimental
Na hipótese de acolhimento do pedido do autor, o juiz condenará o réu a prestar as contas no prazo de 15 dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar. 
5. Decisão que Condena o Réu à Prestação de Contas
 Havia um dissenso Doutrinário e Jurisprudencial (Princípio da Fungibilidade):
Sentença ou decisão interlocutória?
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Daniel Assumpção: não se deve aguardar o trânsito em julgado da sentença, vez que enquanto pendente de julgamento recurso sem efeito suspensivo, a decisão já gera efeitos, ainda que em execução provisória
O STJ já afirmou que o réu será intimado por seu advogado da decisão, não havendo necessidade de intimação pessoal para o oferecimento das contas
Com a decisão que resolve a primeira fase, dá-se início à segunda fase do procedimento, no qual se tem como objeto a determinação de eventual saldo a ser aferido nas contas apresentadas e julgadas
Caso o réu apresente as contas no prazo legal de 15 dias, terá o autor o prazo de 15 dias para se manifestar sobre elas, exigindo o §3º do art. 550 do CPC que a impugnação das contas apresentadas pelo réu seja fundamentada e específica, com referência expressa ao lançamento questionado
Havendo necessidade de produção de prova pericial, o juiz a determinará e depois sentenciará; não havendo a necessidade de prova, o juiz julgará as contas de imediato
Não as apresentando no prazo legal, caberá ao autor fazê-lo no prazo de 15 dias, havendo previsão de sanção processual ao réu que não cumpriu sua obrigação de prestar as contas no prazo legal: não poderá impugnar as contas apresentadas pelo autor
Ainda que exista previsão expressa dessa sanção processual, o próprio art.550, §6º, CPC, prevê que o juiz, sempre que entender necessário, determinará a produção da prova pericial, de forma que a sanção processual não impede que o juiz determine de ofício a produção de prova pericial contábil referente às contas apresentadas pelo autor
A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial (art. 552 do CPC)
A condenação nos honorários advocatícios não irá superar 20% sobre o valor da causa ou da condenação 
Decisão que julga procedente primeira fase da ação de exigir contas é impugnável por agravo – STJ, maio de 2019
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JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
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Os Juizados nada mais são do que procedimentos especiais, que segue um sistema procedimental sumarizado
Trata-se de procedimento especial previsto em lei extravagante
Por intermédio da sumarização procedimental, procura-se comprimir etapas do processo com a finalidade de que a prestação jurisdicional seja mais célere
1. Fundamento legal:
Art. 98, CF. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;
§ 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal.         
Lei nº 9.099/1995 – cria os Juizados Especiais Cíveis e Criminais
Lei nº 10.259/2001 – Lei dos Juizados Especiais Federais
Lei nº 12.153/2009 – Lei dos Juizados da Fazenda Pública
2. Princípios
Princípio da oralidade
Prevalência da “palavra falada”
Ex.: art. 9º, §3º da Lei nº 9.099/95 estabelece a possibilidade de o mandato de procuração ao advogado ser conferido verbalmente quanto aos poderes gerais de foro
Ex.: art. 30 da Lei nº 9.099/95 viabiliza a apresentação da contestação na forma oral
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Princípio da economia processual 
Celeridade
Ex.: Art. 48 dispensa o relatório nas sentenças
Princípio da celeridade
Ex.: art. 10 da Lei 9.099/95, em regra, não cabe intervenção de terceiro
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Princípio da simplicidade e informalidade
Ex.: art. 13 da Lei 9.099/95, prevê que a validade do ato se verifica quando preencher a finalidade, independentemente da forma utilizada
Princípio da conciliação
A primeira audiência nos Juizados é a de conciliação
Lei nº 9.099/95 – a utilização do procedimento dos Juizados é facultativa; se a parte optar pelo JEC, caso a condenação supere o montante fixado para o Juizado, a parte, no momento da opção, renuncia ao valor excedente, no caso, ao valor que exceder a 40 salários mínimos
Para os Juizados Especiais de Fazenda Pública e Federais o rito é obrigatório para as ações que não ultrapassarem o limite de 60 salários mínimos
O Código de Processo Civil é aplicado de forma subsidiária
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AÇÕES POSSESSÓRIAS
Proteção à posse: autotutela e heterotutela (ações possessórias)
Autotutela (art. 1.210, §1º do CC): 
“O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.”
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São três as ações possessórias (ou interditos possessórios) previstos em nosso ordenamento jurídico: 
(i) reintegração de posse;
(ii) manutenção de posse;
(iii) interdito proibitório 
A ação, para ser qualificada de possessória, tem de estar fundada na posse do autor, que foi, está sendo, ou encontra-se em vias de ser agredida
Não interessa se o bem é propriedade dele, mas se ele tem ou teve a posse, e se ela lhe foi tirada de forma indevida
O que permite identificar qual a adequada é o tipo de agressão que a posse sofreu:
 (i) esbulho: pressupõe que a vítima seja despossada do bem, que o perca para o autor da agressão. 
É o que ocorre quando há uma invasão e o possuidor é expulso da coisa. 
Cabe reintegração de posse;
(ii) turbação: pressupõe a prática de atos materiais concretos de agressão à posse, mas sem desapossamento da vítima. 
Ex: o agressor destrói o muro da vítima. 
Cabe manutenção de posse;
(iii) ameaça: não há atos materiais concretos, mas o agressor manifesta a intenção de consumar a agressão. 
Ex.: se ele vai até a divisa do imóvel, e ali se posta, armado, com outras pessoas, dando a entender que vai invadir. 
Cabe interdito proibitório.
1. Peculiaridades das ações possessórias
 1.1 Fungibilidade (art. 554, CPC)
 1.2 Cumulação de pedidos (art. 555, CPC)
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Havendo nova agressão, a multa pode ser executada no mesmo processo em que foi fixada, ou há necessidade de ajuizamento de um novo, para que se prove a nova agressão? 
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1.3 Natureza dúplice (precedente do STJ)
Art. 556, CPC.  É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
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O réu pode cumular, na contestação, os pedidos indicados no art. 555, CPC. 
O réu não pode pedir liminar, já que o procedimento só permite que seja postulada pelo autor
Em regra não caberá reconvenção. Mas não se pode afastá-la quando o réu formular contra o autor algum pedido que preencha os requisitos do art. 343 do CPC, mas não esteja entre aqueles do art. 555. ex.: o réu pode reconvir para postular rescisão ou anulação do contrato
1.4 Exceção de domínio
Consiste na possibilidade de o réu defender-se, com êxito, na ação possessória, alegando a qualidade de proprietário do bem
Código Civil de 1916: longa discussão
Código Civil de 2002: não pode alegar ou se discutir propriedade, ou que o juiz julgue com base nela
Exceção: nas ações em que as partes disputam a posse com base na alegação de propriedade, ou seja, quando ambas as partes se valem do argumento de que são proprietárias para daí terem direito à posse, será não só permitida, como necessária, a discussão a respeito do direito de propriedade
1.5 Impossibilidade de, no curso das possessórias, ser intentada ação de reconhecimento de domínio (Art. 557, CPC)
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2. Competência
Bem móvel: Art. 46 do CPC (foro do domicílio do réu - competência relativa)
Bem imóvel: Art. 47 do CPC (foro do local do imóvel - competência absoluta)
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3. Legitimidade
Polo ativo: possuidor
Polo passivo: o sujeito que perpetrou à agressão à posse
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Cabe contra a Fazenda Pública, contudo há duas ressalvas:
- Art. 562, parágrafo único, CPC
- a Fazenda Pública pode dar à área ocupada uma finalidade pública, neste caso, por força do princípio da supremacia do interesse público, o possuidor e o proprietário perderão a coisa, mas serão ressarcidos pelos prejuízos que sofreram
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4. Procedimento
A reintegração e a manutenção de posse têm o mesmo procedimento previsto nos arts. 560 a 566 do CPC
Posse velha (mais de ano e dia): procedimento será o comum
Arts. 560 a 566 do CPC limita-se às ações possessórias de posse nova de bens imóveis
Especialidade: previsão de medida liminar (art. 562, CPC), após esse momento inicial o procedimento passará a ser o comum
Art. 561.  Incumbe ao autor provar:
I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração.
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A liminar será concedida sempre que dois requisitos forem preenchidos no caso concreto, sendo dispensada a demonstração do periculum in mora:
(i) demonstração de que o ato de agressão à posse deu-se há menos de ano e dia, e
(ii) instrução da petição inicial que, em cognição sumária do juiz, permita a formação de convencimento de que há probabilidade de o autor ter direito à tutela jurisdicional
Não estando a petição inicial devidamenteinstruída, o juiz poderá designar audiência de justificação prévia, com a devida “citação” do réu a comparecer a audiência (não para defesa)
STJ: é dever a designação de audiência de justificação prévia na hipótese de não conceder a liminar pleiteada, independente de pedido expresso do autor 
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Art. 559 do CPC: exigência de caução caso o autor, provisoriamente reintegrado ou mantido na posse, careça de idoneidade financeira para responder às perdas e danos do réu caso a tutela provisória seja revogada e sua efetivação tenha gerado prejuízo ao réu 
A parte será liberada da prestação de caução se comprovar ser economicamente hipossuficiente
4.1 Interdito proibitório
Natureza inibitória - evitar que a ameaça de agressão à posse se concretize
Aplica-se subsidiariamente os regramentos procedimentais das ações de reintegração e manutenção de posse
4.2 Procedimentos no litígio coletivo
Art. 565.  No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2o e 4o.

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