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PSICOPATOLOGIA GERAL Professor Tom Rodrigues AULA 5: As funções psíquicas elementares e suas alterações: Consciência, Atenção e Orientação. O que são funções psíquicas elementares? Função Psíquica é uma capacidade ou propriedade de ação de que dispõe o psiquismo no processo de captação subjetiva da realidade objetiva; Funções Psíquicas não são exclusivas ao ser humano, pois os animais superiores também são capazes de atentar, memorizar, sentir e perceber, por exemplo. O exame psíquico de uma psicopatologia semiológica tem relação direta com as funções psíquicas elementares. O que são funções psíquicas elementares? Consciência, atenção e memória são exemplos de funções psíquicas que são elementares porque são imprescindíveis para a formação de uma imagem subjetiva da realidade objetiva. As funções psíquicas elementares e suas alterações Importante ressaltar: ◦ A separação da vida e da atividade mental em distintas funções psíquicas é um procedimento essencialmente artificial (com fins didáticos e práticos); ◦ Ou seja, não existem funções psíquicas isoladas ou que se desenvolvam fora da cultura humana não há uma autonomia das funções psíquicas como se fossem processos isolados (psicologia histórico-crítica). As funções psíquicas elementares e suas alterações Importante ressaltar: ◦ Existência de correntes localizacionistas & antilocalizacionistas; ◦ De acordo com Eugen Breuler (1985, p. 16): “[...] Cada função parcial na vida psíquica e cada aspecto da realidade psíquica só existem em vinculação estreita com toda a vida e com a realidade psíquica total”. ◦ Por isso Dalgalarrondo (2008) afirma que “As alterações de funções isoladas constituem, em última análise, objeto da neurologia, da neuropsicologia ou da neurofisiologia, e não da psicopatologia” (p. 86). A CONSCIÊNCIA E SUAS ALTERAÇÕES A consciência Etimologia: ◦ Junção dos vocábulos latinos: cum (com) e scio (conhecer): indicando o caráter compartilhado do saber (sobre a realidade e sobre si mesmo) desta função. Três acepções diferentes na língua portuguesa: ◦ Definição neuropsicológica: trata-se de uma especificação neurológica dos estados da vigilância (estar vígil). ◦ Definição psicológica: trata-se do campo da consciência, da dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. (saber a si mesmo). ◦ Definição ético-filosófica: Trata-se da capacidade de tomar ciência dos deveres éticos, da noção de consciência moral. (ser consciente, ser “ético”.) A consciência Função passiva e ativa. ◦ Relação com a intencionalidade na fenomenologia de Husserl: sempre consciência de algo, ainda que de si mesmo. Para John Searle (2000), a experiência da consciência é sempre realizada em um sujeito, vivenciada na primeira pessoa; por isso sem subjetividade, não há experiência consciente. ◦ Há sempre um sentimento qualitativo especial que acompanha esta experiência. Neuropsicologia da Consciência O conceito de Sistema Reticular Ativador Ascendente (SRAA ou SARA) afirma que a capacidade de estar desperto e agir conscientemente depende da atividade do tronco cerebral e do diencéfalo; Além do SRAA, também o tálamo e as regiões do córtex parietal direito e pré frontal direito têm importância estratégica para o funcionamento da consciência; Quando lesionadas, tais regiões podem desencadear um transtorno chamado psico- orgânico. A consciência Ao voltar-se para a realidade, a consciência demarca um campo, que por sua vez contém um foco (parte central da cs) e uma margem (periferia da cs). O inconsciente Reconhecido sempre através de seus efeitos; Para Freud, há duas classes de inconsciente: o verdadeiro inconsciente e o inconsciente pré- consciente. ◦ Ao passo que o pré-cs pode ser recuperado voluntariamente, o ics não pode, pois não é necessariamente “racional” (por ser atemporal e negar contradições), sendo regido pelo princípio do prazer e pelos processos primários. ALTERAÇÕES NORMAIS DA CONSCIÊNCIA: O sono normal: 4 estágios (entre o leve e o profundo), sono REM e o sonho. ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA CONSCIÊNCIA Obinubilação: rebaixamento da CS em grau leve a moderado. Dificuldade de integrar informações sensoriais. Sopor: o sujeito só desperta com algum estímulo enérgico (sonolência). Coma: grau mais profundo do rebaixamento do nível da CS (não há resquícios da atividade consciente). Síndromes psicopatológicas relacionadas ao rebaixamentodo nível de consciência Delirium: diz respeito aos vários quadros com rebaixamento leve a moderado do nível de consciência (Não confundir com o delírio); Estado onírico: designa uma alteração da consciência na qual, paralelamente à turvação da consciência, o indivíduo entra em estado semelhante a um sonho muito vívido ◦ Relacção com substância psicoativa e delirium tremens. Alterações qualitativas da consciência Estados crepusculares: é transitório ◦ Ex: atos automáticos/violentos e episódios de descontrole emocional (causas orgânicas); Estado segundo: também transitório, há uma atividade psicomotora estranha a personalidade (causas psicogênicas); Dissociação da CS: fragmentação ou a divisão do campo da CS; Transe: sonhar acordado e sensação de fusão com o universo (diferenciar transe histérico x religioso); Estado hipnótico: CS reduzida, semelhante ao transe, técnica de concentração da atenção e de alteração induzidas; Experiência de quase morte. A ATENÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES A Atenção Pode ser definida como a direção da consciência: o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto; ◦ Relação de interdependência: A focalização e a concentração da consciência são a sua essência. ◦ A atenção se refere ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas. ◦ Levar em consideração o “hábito” e a “sensibilização” relativos ao estímulo. Conceitos da psicologia da atenção Atenção voluntária versus atenção espontânea; Sobre a direção da atenção: atenção externa versus atenção interna; Sobre a amplitude da atenção: atenção focal versus atenção dispersa; Tenacidade diz respeito à capacidade de fixar a atenção sobre determinada área ou objeto; Vigilância é a qualidade da atenção que permite a troca do foco de um objeto para outro. Atualmente, subdivide-se a atenção em quatro aspectos básicos: ◦ 1. Capacidade e foco de atenção: capacidade de concentração; ◦ 2. Atenção seletiva: a qualidade mais importante dos processos atencionais – a seletividade; ◦ 3. Seleção de resposta e controle executivo: vincula a atenção a processos cognitivos complexos que envolvem a intenção, o planejamento e a tomada de decisões; ◦ 4. Atenção constante ou sustentada (sustained attention): diz respeito à capacidade de manter a atenção ao longo do tempo; é limitida em todos os sujeitos dependendo da relação entre os estímulos-alvo e os estímulos distrativos, do nível de consciência (vigilância), da motivação e da fadiga. Cultura e atenção voluntária Anormalidades da atenção Hipoprosexia: perda básica da capacidade de se concentrar, fatigabilidade, lentificação; Aprosexia: abolição total da capacidade de atenção; Hiperprosexia: consiste em um estado da atenção exarcebada (fixação); Distração: superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos, com a inibição de tudo mais; Distraibilidade: é um estado patológico incapacidade de se deter em algo (característica do TDAH). Transtornos mentais relacionados à Atenção A atenção está quase sempre alterada em transtornos mentais graves; Transtornos do humor (depressão e transtorno bipolar), transtornoobsessivo- compulsivo (TOC), esquizofrenia e transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH) são os que mais apresentam alterações da atenção. A ORIENTAÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES A Orientação A capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente é elemento básico da atividade mental; A capacidade de orientar-se requer, de forma consistente, a integração das capacidades de atenção, percepção e memória. ◦ Por isso é importante para avalia-las! As desorientações, portanto, são contingentes à redução do nível de cs, defícit de memória, humor alterado, afetividade, pensamento alterado (delírio), inteligência ou capacidade cognitiva. A Orientação A orientação autopsíquica: é a orientação do sujeito em relação a si mesmo. A orientação alopsíquica: diz respeito à capacidade de orientar-se em relação ao mundo (quanto ao espaço – orientação espacial – e quanto ao tempo – orientação temporal). A orientação temporal é mais sofisticada que a espacial e que a autopsíquica e, por isso tende a ser prejudicada em primeiro lugar nos transtornos mentais e nos distúrbios neuropsicológicos. ◦ Só posteriormente o indíviduo se desorienta quanto ao espaço e, finalmente, quanto a si mesmo. AS VIVÊNCIAS DO TEMPO E DO ESPAÇO E SUAS ALTERAÇÕES O tempo e o espaço As vivências do tempo e do espaço constituem-se como dimensões fundamentais de todas as experiências humanas; São dimensões captadas pela capacidade de percepção do humano, e por isso avaliam disfunções da percepção e da consciência; Qualidades da vivência do tempo Tempo subjetivo (interior, pessoal) versus tempo objetivo (exterior, cronológico, mensurável). O comum descompasso entre o tempo subjetivo e o tempo objetivo pode ou não ser patológico. Anormalidades da vivência do tempo e do espaço De modo geral, a passagem do tempo é percebida como lenta e vagarosa nos estados depressivos, e rápida e acelerada nos estados maníacos. Inibição da sensação do fluir contínuo do tempo nos transtornos do humor, de ansiedade, na esquizofrênia e no TOC. Anormalidades da vivência do espaço em quadros maníacos, depressivos, paranóides e na agorafobia. Sugestões de Leitura: O desenvolvimento do psiquismo e a educação escolar: contribuições à luz da psicologia histórico cultural e da pedagogia histórico-crítica (2011) ◦ Tese de Livre-docência de Lígia Márcia Martins. Esboço de uma teoria das emoções: Jean Paul Sartre (1939/1965). Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade e psicologia histórico- cultural. ◦ Artigo de Nádia Eidt e Sandra Tuleski, 2010. Próxima Aula: Funções psíquicas elementares e suas alterações. ◦ O Pensamento e suas alterações. ◦ O Juízo de realidade e suas alterações: o delírio. Leitura obrigatória: Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais de Paulo Dalgalarrondo (2008), Capítulos DEZOITO e DEZENOVE.
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