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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP CURSO PSICOLOGIA TALIA COSTA DE SOUZA RA: N176679 PSICOPATOLOGIA MANAUS – AM 2020 LIVRO: PSICOPATOLOGIA E SEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS CAPÍTULO 11: INTRODUÇÃO ÀS FUNÇÕES PSÍQUICAS ELEMENTARES Áreas ou funções psíquicas é um procedimento essencialmente artificial. Trata-se apenas de uma estratégia de abordagem da vida mental que, por um lado, é bastante útil, mas, por outro, um tanto arriscada, pois pode suscitar enganos e simplificações inadequadas. É útil porque permite o estudo mais detalhado e aprofundado de determinados fatos da vida psíquica normal e patológica; é arriscada porque facilmente se passa a acreditar na autonomia desses fenômenos, como se fossem objetos naturais. Na prática clínica passa-se a crer que a memória, a sensopercepção, a consciência do Eu, a vontade, a afetividade, etc., são áreas autônomas e naturais, separadas umas das outras e com vida própria. Deixa-se de lembrar o que elas realmente são, isto é, construtos aproximativos da psicologia e da psicopatologia que permitem uma comunicação mais fácil e um melhor entendimento dos fatos. Que fique claro: não existem funções psíquicas isoladas e alterações psicopatológicas compartimentalizadas desta ou daquela função. É sempre a pessoa na sua totalidade que adoece. Psicopatólogo Eugène Minkowski (1966), ele questiona se o objeto da psicopatologia seria o estudo de sintomas isolados, atomizados e cindidos ou se, de fato, não seria mais adequado um projeto de estudo que vise abordar globalmente a pessoa que adoece. Para Minkowski (1966), a psicopatologia deve sempre e necessariamente estudar o homem na “primitiva solidariedade interhumana”. A psicopatologia é, impreterivelmente, uma ciência a, pelo menos, “duas vozes” (no mais das vezes, polifônica), fundamentada em determinado encontro de, pelo menos, dois seres humanos. As funções perturbadas fazem pressentir transtornos subjacentes, ligados à personalidade inteira, atingida na sua estrutura e em seu modo de existir. A psicopatologia geral dos manuais que Minkowski (1966) critica seria apenas a descrição mecânica e irrefletida dos sintomas, um exercício classificatório vazio, sem indicar o essencial, ou seja, a significação dos fenômenos. Nos transtornos mentais, não se trata apenas de agrupamentos de sintomas que coexistem com regularidade e revelam, assim, sua origem comum. Os sintomas que os compõem são ligados estruturalmente entre si. A psicopatologia, na medida em que é centrada na pessoa humana, não se desenvolve a não ser partindo de determinadas síndromes (psicopatologia sindrômica). A psicopatologia sintomática, como estudo dos sintomas isolados, não passa de uma semiologia psiquiátrica rudimentar. Há, portanto, em psicopatologia, uma relação dialética fundamental entre o conhecimento do elementar e o do global, da inserção de estruturas básicas em estruturas totalizantes, as quais redimensionam constantemente o sentido das primeiras. CAPÍTULO 12: A CONSCIÊNCIA E SUAS ALTERAÇÕES Podem-se resumir os usos do termo “consciência” em pelo menos três acepções diferentes, que implicam três definições distintas, apresentadas a seguir. A definição neuropsicológica emprega o termo “consciência” no sentido de estado vígil (vigilância), o que, de certa forma, iguala a consciência ao grau de clareza do sensório. Consciência, aqui, é fundamentalmente o estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido. Trata-se especificamente do nível de consciência. A definição psicológica a conceitua como a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento. Nesse sentido, consciência é o que se designa campo da consciência. É a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. Na relação do Eu com o meio ambiente, a consciência é a capacidade do indivíduo de entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus objetos. A definição ético-filosófica é utilizada mais frequentemente no campo da ética, da filosofia, do direito ou da teologia. O termo “consciência” refere-se à capacidade de tomar ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e os deveres concernentes a essa ética. Assim, a consciência ético-filosófica é atributo do homem desenvolvido e responsável, engajado na dinâmica social de determinada cultura. Refere-se a consciência moral, ética e política. Uma corrente filosófica que se ocupou de modo particular da consciência foi a fenomenologia, desenvolvida inicialmente pelo filósofo Edmund Husserl para ele, o fundamental da consciência é ser profundamente ativa, visando o mundo e produzindo sentido para os objetos que se lhe apresentam. Não existiria, então, uma consciência pura, pois ela é necessariamente consciência de algo. A intencionalidade, isto é, o visar algo, o dirigir-se aos objetos e sujeitos do mundo, de modo ativo e produtivo, é próprio da consciência na visão fenomenológica (Penha, 1991). Segundo John Searle, todo estado de consciência vem acompanhado de um sentimento qualitativo especial. Experimentar os estados de consciência é também algo essencialmente subjetivo. A experiência da consciência é sempre realizada em um sujeito, vivenciada na primeira pessoa. Searle (2000) afirma que sem subjetividade não há experiência consciente. Assim, os estados de consciência são experimentados como um campo de consciência unificado. Dessa forma, unidade, subjetividade e caráter qualitativo são as marcas da experiência dos estados de consciência. Segundo ele, estes são sempre vivenciados com caráter prazeroso ou desprazível, como experiências totais e globalizantes (caráter gestáltico) e com um senso de familiaridade que impregna todas as experiências conscientes (mesmo quando vejo uma casa que nunca vi antes, ainda reconheço que é uma casa; sua forma e estrutura me são familiares). Neuropsicologia Da Consciência No campo da neuropsicologia da consciência, o RDoC (sistema Research Domain Criteria) propõe sistemas reguladores relacionados ao nível de consciência (arousal), os quais são responsáveis por gerar toda a ativação dos sistemas neurais nos vários contextos da vida. Eles têm por função produzir uma regulação adequada dos estados de consciência vígil (sujeito acordado) e dos períodos de sono. Segundo o RDoC, deve-se salientar que o nível de consciência é o continuum de sensibilidade e alerta do organismo perante os estímulos, tanto internos como externos. As principais características e propriedades do nível de consciência são: 1. O nível de consciência facilita a interação da pessoa com o ambiente de forma adequada ao contexto no qual o sujeito está inserido (p. ex., em situações de ameaça, alguns estímulos podem ser ignorados, e, ao mesmo tempo, a sensibilidade para outros, mais relevantes, pode estar aumentada, expressando o chamado estado de alerta). 2. O nível de consciência adequado pode ser evocado tanto por estímulos externos ambientais como por estímulos internos, como pensamentos, emoções, recordações. 3. O nível de consciência pode ser modulado tanto pelas características dos estímulos externos como pela motivação que o estímulo implica para o indivíduo em questão. 4. O nível de consciência varia ao longo de um continuum que inclui desde o estado total de alerta, passando por níveis de redução da consciência até os estados de sono (variação normal) ou coma (variação patológica). As Bases Neuroanatômicas E Neurofuncionais Do Nível De Consciência O primeiro elemento do sistema nervoso relacionado ao nível de consciência é o chamado sistema reticular ativador ascendente (SRAA). O SRAA se origina no tronco cerebral, e sua ação se estende até o córtex, por meio de projeçõestalâmicas. Lesões ou disfunções no SRAA produzem alterações do nível de consciência e prejuízo a todas as funções psíquicas. É de fundamental importância, para a atividade mental consciente, a atividade do lobo parietal direito, o qual está intimamente relacionado ao reconhecimento do próprio corpo, dos objetos e do mundo, assim como da apreensão daquilo que, convencionalmente, se denomina realidade. Também as áreas pré-frontais são fundamentais na organização da atividade mental consciente. Por fim, reconhece-se a importância das interações talamocorticais na ativação e na integração da atividade neuronal cortical relacionada à consciência (Zeman; Grayling; Cowey, 1997). O cientista Francis Crick, que formulou, com James Watson, a tese do DNA como dupla hélice, também propôs, juntamente com o neurocientista Cristof Koc, eles propuseram que as atividades mentais conscientes emergiriam relacionadas aos disparos sincronizados dos neurônios do tálamo e das camadas quatro e seis do córtex cerebral, em ritmo de 40 vezes por segundo. Campo Da Consciência O inconsciente O conceito de inconsciente dinâmico e determinante da vida psíquica é um dos pilares mais importantes da psicanálise e da psicopatologia dinâmica com base na psicanálise. Freud chegou à conclusão, ao longo de suas investigações, de que existem duas classes de inconsciente: o verdadeiro inconsciente e o inconsciente préconsciente. O primeiro é fundamentalmente incapaz de consciência. Já o préconsciente é composto por representações, ideias e sentimentos suscetíveis de recuperação por meio de esforço voluntário: fatos, lembranças, ideias que esquecemos, deixamos de lado, mas que podemos, a qualquer hora, evocar voluntariamente Por sua vez, o inconsciente verdadeiro é muito diferente, inacessível à evocação voluntária; só tem acesso à via pré-consciente, e apenas por meio de uma técnica especial (hipnose, psicanálise, etc.) pode tornar-se consciente. A rigor, para Freud, o inconsciente verdadeiro só se revela por meio de subprodutos que surgem na consciência, as chamadas formações do inconsciente: os sonhos, os atos falhos, os chistes e os sintomas neuróticos. Alterações Normais Da Consciência Ritmos circadianos Sono O sono normal O sonho Alterações Patológicas Da Consciência Alterações patológicas quantitativas da consciência: rebaixamento do nível de consciência Perdas abruptas da consciência Síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento prolongado do nível de consciência Alterações qualitativas da consciência CAPÍTULO 13: A ATENÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES A atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto (Cuvillier, 1937). A fim de explicitar o que os mecanismos de atenção representam para o funcionamento psíquico normal. A atenção se refere, portanto, ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas. Os termos “consciência” e “atenção” estão estreitamente relacionados. A determinação do nível de consciência é essencial para a avaliação da atenção (Cohen; Salloway; Zawacki, 2006). A atenção é um construto psicológico complexo que se refere a uma variedade de componentes, sendo eles, principalmente: 1) início da atividade consciente e focalização; 2) atenção sustentada e nível de alerta (vigilance); 3) atenção seletiva ou inibição de resposta a estímulos irrelevantes; e 4) capacidade de mudar o foco de atenção (set-shifting), ou atenção alternada. O sistema Research Domain Criteria (RDoC) conceitualiza a atenção afirmando que ela engloba um conjunto de processos mentais que regulam o acesso a sistemas cognitivos de capacidades limitadas. Psicologia Da Atenção Conceitos Da Psicologia e Da Psicopatologia Clássicas Da Atenção Em relação à direção da atenção, pode-se discriminar duas formas básicas: a atenção externa, projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito, voltada para o mundo exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial, utilizando os órgãos dos sentidos. a atenção interna, que se volta para os processos mentais do próprio indivíduo. É uma atenção mais reflexiva, introspectiva e meditativa. Em relação à amplitude atencional, há a: atenção focal, que se mantém concentrada sobre um campo determinado e relativamente delimitado e restrito da consciência, atenção dispersa, que não se concentra em um campo determinado, espalhando-se de modo menos delimitado. A atenção tinha duas qualidades fundamentais: tenacidade e vigilância. A tenacidade consiste na capacidade do indivíduo de fixar e manter sua atenção sobre determinado estímulo, em um tema da conversa ou em um campo de atenção. Na tenacidade, a atenção se prende a certo estímulo, fixandose sobre ele. A vigilância é definida como o aspecto da atenção relacionado a mudança de foco, de um objeto para outro. Tais qualidades são com frequência antagônicas. A Atenção flutuante é um conceito desenvolvido por Freud (1856- 1939), relativo ao estado de como deve funcionar a atenção do psicanalista durante uma sessão analítica. Segundo Freud, a atenção do analista não deve privilegiar a priori qualquer elemento do discurso ou comportamento do paciente, o que implica deixar funcionar livremente sua própria atividade mental, consciente e inconsciente, deixando livre a atenção e suspendendo ao máximo as motivações, os desejos e os planos próprios. É um estado artificial da atenção, cultivado pela necessidade técnica do processo psicanalítico Hábito e sensibilização Um aspecto importante da atenção é o que o neurocientista e psicólogo russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) denominou “resposta de orientação”. Quando um indivíduo ou animal é exposto a um estímulo novo, há um padrão de respostas motoras, do sistema nervoso autônomo (excitação fisiológica) e da atividade elétrica cerebral, que indica que o organismo entrou em certo estado de alerta, de prontidão, para captar o estímulo e a ele responder. Se tal estímulo se dá de forma contínua ou repetitiva, ele deixa de desencadear a resposta de orientação. Esse fenômeno é denominado hábito. O fenômeno oposto é a sensibilização, que ocorre quando, devido à natureza ou ao contexto do estímulo, o organismo passa a se excitar mais e mais com a repetição do estímulo, aumentando a prontidão geral de resposta. A Neuropsicologia Contemporânea Da Atenção Os subtipos mais utilizados e estudados são: 1. capacidade e foco de atenção (atenção concentrada ou concentração) 2. atenção seletiva 3. atenção dividida 4. atenção alternada 5. atenção sustentada (sustained attention) 6. seleção de resposta e controle executivo Neuropsicologia Da Atenção Atenção e Funções Executivas Frontais As funções executivas, processadas nos lobos frontais (áreas pré- frontais), são um conjunto de habilidades cognitivas relacionadas à capacidade do indivíduo de planejar, executar e monitorar de forma flexível comportamentos com objetivos. Os déficits em funções executivas impedem o indivíduo de iniciar, parar ou mudar seus comportamentos, conforme as exigências ambientais. As funções executivas incluem processos cognitivos relacionados à ação apropriada sobre o ambiente, ou seja, processos relacionados ao agir, como planejamento da ação, início da atividade, geração de hipóteses, flexibilidade cognitiva, tomada de decisões, regulação do comportamento, julgamento, utilização de feedback e autopercepção. As funções executivas são divididas em “quentes” e “frias”: As “quentes” incluem os aspectos emocionais e volicionais como parte central de tais funções; As “frias” se referem a atividades cognitivassem envolvimento de fatores emocionais, como, por exemplo, realizar cálculos matemáticos mentalmente ou decorar números. Em neuropsicologia, a atenção é vista por alguns autores como uma função básica de apoio às funções executivas e, por outros, como parte das funções executivas. De qualquer forma, como modelo da interação entre a atenção e as funções executivas (incluindo o controle executivo), quatro componentes têm sido sugeridos: memória de trabalho; seleção competitiva (competição entrediferentes estímulos); controle sensorial top-down (do córtex pré-frontal para os processos sensoriais e de vigília) e filtros de saliência (seleção dos estímulos mais salientes). Atenção e Memória De Trabalho As relações entre a atenção e a memória de trabalho são complexas. A memória de trabalho tem um papel central em toda a cognição. Ela corresponde à habilidade de manter itens, percepções e tarefas ativos na mente (on-line), sem se apoiar em mais estímulos do mundo externo. A memória de trabalho age como um núcleo gerenciador de trabalho, no qual percepções e pensamentos, constantemente atualizados, são processados, transformados e manipulados. A velocidade de processamento é um aspecto geral de quase toda cognição humana; ela corresponde ao tempo que um indivíduo leva para realizar uma tarefa mental, da fase inicial de perceber a tarefa até sua realização completa. Na avaliação da atenção, alguns testes medem a tarefa cronometrando o tempo que o indivíduo utiliza para realizá-la, estimando, assim, a velocidade de processamento. Neuroanatomia e Redes Neurais Da Atenção A atenção resulta da interação complexa de diversas áreas corticais e subcorticais do sistema nervoso, não sendo, portanto, um processo unitário (Cohen; Salloway; Zawacki, 2006). As principais estruturas subcorticais do sistema nervoso relacionadas à atenção são: no tronco cerebral, o sistema reticular ativador ascendente (SRAA) e o locus ceruleus noradrenérgico (LCN); no diencéfalo, o tálamo; e, no telencéfalo, o corpo estriado; no nível cortical, o córtex parietal posterior direito (não dominante), o córtex pré-frontal e o giro cingulado anterior (também na região frontal), assim como estruturas do lobo temporal medial do sistema límbico. Psicopatologia Da Atenção A alteração mais comum e menos específica da atenção é sua diminuição global, a chamada hipoprosexia. Nessa condição se verifica uma perda básica da capacidade de concentração, com fatigabilidade aumentada, o que dificulta a percepção dos estímulos ambientais e a compreensão; as lembranças tornam-se mais difíceis e imprecisas, e há dificuldade crescente em todas as atividades psíquicas complexas, como o pensar, o raciocinar e a integração de informações. aprosexia a total abolição da capacidade de atenção, por mais fortes e variados que sejam os estímulos utilizados. hiperprosexia consiste em um estado da atenção exacerbada, no qual há uma tendência incoercível a obstinar-se, a deter-se indefinidamente sobre certos objetos com surpreendente infatigabilidade. Em psicopatologia, usa-se o termo distração para um sinal, não de déficit propriamente (não é anormalidade), mas de superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos ou objetos, com a inibição de tudo o mais (Nobre de Melo, 1979). A distraibilidade, diferentemente da distração, é um estado patológico que se exprime por instabilidade marcante e mobilidade acentuada da atenção voluntária, com dificuldade ou incapacidade para fixar-se ou deter-se em qualquer coisa que implique esforço produtivo. Valor Diagnóstico Das Alterações Da Atenção Essas alterações podem ocorrer tanto em distúrbios neuropsiquiátricos e neuropsicológicos como em transtornos mentais. Distúrbios Neuropsiquiátricos E Neuropsicológicos Quadros de delirium causados por distúrbios sistêmicos, neurológicos e neuropsicológicos em que se verificam diminuição do nível de consciência e déficit de atenção. No transtorno cognitivo leve (TCL) (declínio cognitivo leve), comum em idosos, verificam-se alterações da atenção relacionadas a maior demora em realizar as tarefas do dia a dia. Devido ao déficit de atenção, o indivíduo passa a cometer mais erros em suas tarefas rotineiras e a ter dificuldades na atenção dividida. Nas demências, as alterações de atenção costumam estar presentes desde as fases iniciais. Clinicamente, elas se revelam pelas marcantes perturbações do paciente em ambientes com múltiplos estímulos e nas limitações que apresenta no lidar com eventos e estímulos concomitantes Na demência de Alzheimer (DA), assim como na demência vascular (DV), os pacientes têm dificuldades em tarefas que requerem concentração e foco, assim como em atividades de controle executivo. A atenção seletiva e a atenção dividida já estão comprometidas em formas leves de DA e DV, implicando perturbação do controle executivo. O paciente geralmente tem dificuldadesmarcantes em testes que avaliam o efeito stroop (habilidade de inibir inferências cognitivas em estímulos conjuntos; ver adiante nos testes de atenção) e em testes que avaliam a atenção alternada (Kolanowski et al., 2012) Na demência frontotemporal, a atenção é consideravelmente prejudicada, podendo haver pronunciada distraibilidade, impulsividade e dificuldades com estímulos distraidores, como no Stroop test. As alterações atencionais nessa demência estão intricadamente associadas a funções executivas frontais, como memória de trabalho e planejamento. As habilidades visuoespaciais costumam estar preservadas (Caixeta, 2006). Na demência com corpos de Lewy e na demência associada à doença de Parkinson, as alterações da atenção costumam ser mais acentuadas que na DA. Na demência com corpos de Lewy, as alterações de atenção e função executivas, junto com as flutuações no nível de consciência, parecem estar implicadas na origem das alucinações visuais, encontradas em tal demência (Firbank et al., 2016). Transtornos Mentais As alterações mais frequentes da atenção são encontradas nas seguintes condições: transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), transtornos do humor (depressão e mania), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e esquizofrenia. No TDAH, transtorno bastante importante na infância e na adolescência, mas também significativamente presente em adultos, há dificuldade marcante de direcionar e manter a atenção a estímulos internos e externos, pois o paciente tem a capacidade prejudicada em organizar e completar tarefas, assim como graves dificuldades em controlar seus comportamentos e impulsos. Pessoas com TDAH têm, portanto, prejuízo relacionado à filtragem de estímulos irrelevantes à tarefa (embora seja questionável se a filtragem atencional é ou não o principal problema desses pacientes) (Cohen; Salloway; Zawacki, 2006; Matthews; Nigg ; Fair, 2014). Já os pacientes com transtornos do humor têm importantes dificuldades de concentração e atenção sustentada. Há, nos quadros maníacos, diminuição marcante da atenção voluntária e aumento da atenção espontânea, com hipervigilância e hipotenacidade. A atenção do indivíduo em fase maníaca salta rapidamente de um estímulo para outro, sem se fixar em algo. Nos quadros depressivos, com muita frequência há diminuição geral da atenção, ou seja, hipoprosexia. Em alguns casos graves, ocorre a fixação da atenção em certos temas depressivos (hipertenacidade), com rigidez e diminuição da capacidade de mudar o foco da atenção (hipovigilância). Já pessoas com TOC apresentam atenção e vigilância excessivas e desreguladas e alterações em funções executivas que geralmente se sobrepõem aos déficits atencionais. Foi identificado, no TOC, prejuízo na atenção alternada (set-shifting), no planejamento, na inibição de respostas, na memória de trabalhoe na velocidade de processamento (Abramovitch et al., 2015). Na esquizofrenia, o déficit de atenção também é muito importante inadequada filtragem de informação irrelevante é uma dificuldade comum em pacientes com o transtorno. Tais indivíduos costumam ter dificuldade em anular adequadamente estímulos sensoriais irrelevantes enquanto realizam determinada tarefa e são muito suscetíveis a distrair-se com estímulos visuais e auditivos externos. Cabe mencionar que as dificuldades atencionais relacionadas a atenção alternada (set-shifting), inibição de resposta e atenção seletiva foram correlacionadas em pacientes com esquizofrenia com a presença de sintomas positivos, como alucinações e delírios (Morris et al., 2013). REFERÊNCIAS: DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008.
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