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Mediação Ambiental e Empresarial Aula 1 - Gestão Ambiental e Políticas Públicas INTRODUÇÃO Nos últimos anos, tem ocorrido um predomínio da atenção da sociedade acerca da questão ambiental, em razão do elevado grau de degradação do meio ambiente, que vem comprometendo gravemente a qualidade de vida do planeta. Por isso, é necessário procurar caminhos sustentáveis de interação com o meio ambiente. No que diz respeito à gestão ambiental, a mediação é uma forma de possibilitar a solução de problemas e con�itos de interesse quanto ao uso e à proteção dos recursos ambientais, bem como de estimular a participação social para que as partes envolvidas no con�ito tenham a oportunidade de administrar e resolver, de modo consensual, a questão ambiental (objeto da crise). É importante estudar esse tema porque, a partir da colaboração e da execução de políticas públicas que assegurem os direitos e as garantias fundamentais previstos na atual Constituição Federal, será possível combater as agressões ao meio ambiente, que ameaçam a geração atual e as gerações futuras. OBJETIVOS Explicar os fundamentos do meio ambiente em relação à gestão ambiental. Reconhecer as estruturas legais relacionadas à gestão ambiental. Identi�car as políticas públicas na área ambiental. MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS E QUESTÕES ECOLÓGICAS Neste primeiro momento da aula, precisamos diferenciar os termos ambientalista e ecológico. De acordo com Castells (2001): AMBIENTALISTA ECOLÓGICO Comportamento coletivo que objetiva corrigir formas destrutivas no relacionamento entre o homem e a natureza, no discurso e na prática Conjunto de crenças que considera o gênero humano parte de um ecossistema mais amplo, que visa manter seu equilíbrio. Fonte da Imagem: Na maior parte do mundo, os movimentos ambientalistas surgiram no �nal dos anos 1960, a partir de uma revolução pessoal e coletiva envolvendo todas as dimensões da vida. Desses movimentos ambientalistas surgiram as contraculturas (glossário). A busca pela qualidade de vida no lugar de um padrão cada vez mais elevado e o controle do grau de interferência do homem no mundo não humano estavam no centro da agenda dos movimentos ambientalistas contraculturais. Havia uma procura pela simpli�cação da vida e pela crítica à modernidade ocidental – o modelo capitalista de consumo, o individualismo racional e a lógica de mercado. Fonte da Imagem: Conforme destaca Castells (2001), apareceram mobilizações de comunidades locais em defesa de seu espaço com a criação do movimento Não no meu quintal, em 1978, nos Estados Unidos. Esse movimento combatia a escolha de áreas habitadas por minorias e populações de baixa renda para o despejo de resíduos e a falta de transparência e participação no processo decisório sobre a utilização desses espaços. Em razão disso, “nos anos 1990, 80% dos norte-americanos e mais de dois terços dos europeus consideravam-se ambientalistas” (CASTELLS, 2001, p. 141). Nessa mesma época, surgiu o movimento de libertação dos animais de laboratório, cuja principal causa era a oposição incondicional a experiências que utilizavam animais como cobaias. Fonte da Imagem: Ainda na década de 1990, o Greenpeace (glossário) passou a compor-se de um grande número de membros (CASTELLS, 2001). Como você pôde notar, foi nesse período que ocorreu uma explosão de movimentos ambientais, os quais se re�etem até os dias de hoje. Houve uma gradativa conscientização de parte da população sobre propostas de desenvolvimento sustentável como forma de solidariedade entre as gerações. Por isso, não podemos considerar as questões ecológicas apenas como situações vinculadas ao meio ambiente, porque muitos outros aspectos estão envolvidos nessas relações. Na sociedade contemporânea, as relações sociais com o meio ambiente se tornaram ainda mais complexas a partir da globalização e do capitalismo. A globalização está diretamente relacionada às circunstâncias da vida local, embora nos passe a ideia de comunidade mundial. Isso decorre da in�uência do acesso ilimitado de informações e de como esses aspectos são recebidos por cada cultura. Já o capitalismo é multifacetado, e seu impacto pelo mundo é mais complexo. Assim, como já mencionado, as questões ecológicas não estão vinculadas apenas à relação sociedade X natureza. Fonte: Carvalho (2002) a�rma que, por meio dos movimentos ecológicos, a natureza ganha o sentido de sujeito de direito, articulando o ideal ético e político em dupla face: uma natureza interna (subjetiva) e uma natureza externa (objetiva). Quando desenvolvermos novas sensibilidades para com a natureza e percebermos as interconexões das áreas subjetiva, coletiva e ambiental, viveremos em harmonia com valores humanos e ecológicos. CRISE AMBIENTAL O progresso e sua consequente exploração de recursos naturais, cujo objetivo é o acúmulo de capital, acarretaram a crise ambiental. De acordo com Leite (2000, p. 21), essa crise pode ser considerada a situação em que: “[...] as condições tecnológicas, industriais e as formas de organização e gestão econômica da sociedade estão em con�ito com a qualidade de vida”. É a partir desse modelo de crise que devemos pensar nas relações políticas, sociais, jurídicas, culturais e econômicas como formas de transformação desse padrão de esgotamento. A ideia é buscar resultados efetivos que só serão alcançados quando nos conscientizarmos quanto à preservação ambiental. Para a existência da vida na Terra, é necessária uma rede em que o todo está relacionado com as partes, e vice-versa. A crise ambiental, que emergiu em meados do século XX e se propaga no decorrer do tempo, pode alterar as signi�cações intrínsecas dos indivíduos. Para o mundo contemporâneo, essa crise representa a grande expressão de um mal-estar vivido a partir da possibilidade real da destruição das condições de vida. Colocam-se em questão as culturas, os modos de vida e as tensões originadas dessa crise, e o meio em que vivemos é constantemente ameaçado. No campo do Direito, essa situação gerou uma ética de responsabilidade – sobre a qual discutiremos a seguir. DIREITOS SOCIAIS E DIFUSOS E MEIO AMBIENTE Historicamente, no campo jurídico dos direitos civis e políticos relacionados à liberdade, à igualdade e à propriedade – aqueles estabelecidos ao longo dos séculos XVIII e XIX –, surgiram os direitos sociais (glossário). De acordo com Rodrigues (2002), nesse contexto, a partir das barbaridades vivenciadas durante a Segunda Guerra Mundial e, principalmente, nas décadas de 1970 e 1980, foram criados os direitos difusos – também denominados direitos de solidariedade ou transindividuais –, em que o titular ultrapassava o homem individual. Nos termos de Fiorillo (2000, p. 6), o meio ambiente: “[...] possui a característica de ser indivisível. Não há como cindi-lo. Trata-se de um objeto que, ao mesmo tempo, a todos pertence, mas ninguém especí�co o possui”. Com a percepção da �nitude dos recursos naturais, surgiu a necessidade de o Direito tutelar o bem ambiental, mais efetivamente a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia), em 1972. A conferência procurou abordar temas relativos ao ambiente humano – critérios e princípios para preservá-lo e melhorá-lo –, compreendendo-o como o espaço do planeta Terra em que os seres humanos convivem uns com os outros. A Conferência de Estocolmo proclamou alguns itens importantes sobre esse ambiente e a convivência pací�ca entre humanos e nações. O documento que originou – Declaração de Estocolmo (glossário) – faz menção a assuntos importantes que são atuais ainda hoje. DIREITO AMBIENTAL Na literatura jurídica, há várias expressões para designar o Direito que trata do tema ambiental, tais como: Direito do Meio Ambiente Direito do Ambiente Direito Ecológico Direito da Natureza A mais utilizada é Direito Ambiental (glossário), que, de acordo com Akaoui (2008), não é privado nem público, e sim um direito social, acima dos demais, ou seja, um direito fundamental. A preservaçãoambiental é um direito que materializa poderes de titularidade coletiva – atribuídos amplamente a todos –, de natureza transindividual. O bem ambiental pertence à coletividade e, por isso, tem o caráter da indisponibilidade. https://www.apambiente.pt/_zdata/Politicas/DesenvolvimentoSustentavel/1972_Declaracao_Estocolmo.pdf Entre algumas leis históricas, no Brasil, a Constituição Federal (CF/1988) foi a primeira a tratar diretamente do meio ambiente em seu artigo 225 (glossário) e em diversos outros dispositivos (glossário) dispersos nesse ordenamento jurídico. O texto legal é bastante claro e atribui a todos a responsabilidade pela proteção ambiental. Os cidadãos têm papel importantíssimo em seu cumprimento e em sua �scalização. Entretanto, a obrigação maior certamente é do Estado, pois é ele que deve implantar políticas públicas em prol da coletividade. De acordo com Séguin e Carrera (2001, p. 60): “O Direito Ambiental, como ciência, dispõe de princípios próprios, inicialmente propostos por juristas alemães. Importantes documentos internacionais, agasalhados pela CF, impulsionaram a consolidação prática de princípios enunciados pela doutrina jus ambientalista. Vislumbramos os seguintes princípios: Obrigatoriedade da intervenção estatal, prevenção, poluidor-pagador, cooperação, informação e noti�cação, participação, responsabilidade da Pessoa Física/Jurídica, educação ambiental, adequação, desenvolvimento sustentado e indisponibilidade”. Os princípios que versam sobre o meio ambiente são de proteção, reforçando a ideia de que devem coexistir com os critérios de acesso à Justiça, concretizado pelos meios alternativos de solução de con�itos. Entre os princípios fundamentais mencionados, que encontram previsão constitucional, destacamos a educação ambiental (artigo 225, parágrafo 1º, da CF/1988). Esse princípio pode ser considerado mais importante do que a existência de leis sobre o meio ambiente. GESTÃO AMBIENTAL A gestão ambiental vem sendo objeto de atenção em diversos segmentos da sociedade brasileira, em razão da necessidade de oferecer soluções para o agravamento da questão ambiental e suas consequências para as futuras gerações. Antes, seu objetivo era impor limites e condições ao uso e à apropriação dos recursos naturais. Mas, agora, são as empresas que devem incorporar a dimensão ambiental em todo o seu processo produtivo, adotando práticas sustentáveis. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/gon914/galeria/aula1/docs/artigo_225.pdf A mudança nos padrões atuais de consumo está exigindo novas estratégias, em diferentes situações, de atuação do gestor ambiental. Não é apenas exclusividade do governo conduzir a administração, bem como ser responsável pelo meio ambiente e por sua boa qualidade. Também constitui dever da iniciativa privada lidar com questões como gestão socioambiental e desenvolvimento sustentável. Analisando a responsabilidade da gestão ambiental, Milaré (2011, p. 394) a�rma: “Sob o aspecto institucional, relativo aos agentes que tomam as iniciativas de gestão, vale repisar não constituir privilégio ou exclusividade dos governos conduzir a administração do meio ambiente: os segmentos organizados da sociedade têm igualmente essa vocação. A recíproca também é verdadeira: a gestão ambiental não é apanágio da empresa, porque é inerente, também, ao poder público. Entende-se, assim, que os vários agentes se complementam, cada qual em seu âmbito de ação e com seus métodos próprios”. A gestão responsável busca o equilíbrio entre as relações econômicas, ambientais e sociais, e colabora com o desenvolvimento sustentável, atendendo as necessidades das presentes e futuras gerações. O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é formado por diferentes atividades administrativas e operacionais inter- relacionadas, realizadas pela empresa para tratar dos problemas ambientais já existentes ou para evitar seu surgimento. O gerenciamento mais adotado pelas empresas tem sido a implantação de um SGA de acordo com as normas da série International Organization Standardization (glossário) (ISO 14001 (glossário)), visando à conquista de uma certi�cação. O SGA orienta a empresa na elaboração da política ambiental, na de�nição de suas estratégias e metas, levando em consideração as degradações ambientais e a legislação ambiental atual. https://www.abnt.org.br/publicacoes2/category/146-abnt-nbr-iso-14001?download=396:introducao-a-abnt-nbr-isso-10014-2015 POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE No Direito brasileiro, a de�nição de meio ambiente está descrita no artigo 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/1981 (glossário) – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente –, nos seguintes termos: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, in�uências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Sirvinskas (2005) comenta que o propósito da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) é tornar real o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado – princípio que está contido no caput do artigo 225 da Constituição Federal. Em seu artigo 2º, inciso II, a Lei nº 6.938/1981 estabeleceu a racionalização no uso dos recursos ambientais como objetivo primeiro. A partir desse momento, foi aberto espaço para a efetiva institucionalização do desenvolvimento sustentável, e foi determinada como obrigatória a implementação desse princípio de natureza econômica. Fonte: O meio ambiente é considerado um patrimônio público que deve ser protegido, o que deve ser planejado e �scalizado a partir de instrumentos adequados. De acordo com Milaré (2011), tanto a lei mencionada quanto as leis estaduais e orgânicas municipais contêm – ou podem conter – indicações de mecanismos para a implementação da política ambiental, adaptados a cada esfera político- administrativa. Saiba mais , Antes de encerrar seus estudos, clique aqui (galeria/aula1/docs/pnma.pdf) para conhecer os objetivos geral e especí�cos da PNMA. ATIVIDADE (Adaptado de: MPE-SP – Engenheiro Florestal – 2016) Um dos objetivos da PNMA é: a) Difundir tecnologias de manejo do meio ambiente, divulgar dados e informações ambientais, e formar uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico. b) Estimular a ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo. c) Promover a utilização racional e integrada dos recursos naturais, incluindo o transporte aquaviário e marítimo, com vistas ao desenvolvimento sustentável. d) Estabelecer os padrões de qualidade e de zoneamento ambiental, e de avaliação de impactos ambientais, visando ao uso racional dos recursos naturais. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/gon914/galeria/aula1/docs/pnma.pdf e) Garantir às populações tradicionais, cuja subsistência dependa da utilização de recursos naturais existentes no interior das unidades de conservação, meios de sustentação alternativos. Justi�cativa Glossário CONTRACULTURAS “[...] tentativa deliberada de viver segundo normas diversas e, até certo ponto, contraditórias em relação às institucionalmente reconhecidas pelas sociedades” (CASTELLS, 2001, p. 147). GREENPEACE Organização ambientalista transnacional que conta com a ação direta como estratégia de comunicação. DIREITOS SOCIAIS Entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, os direitos sociais determinavam garantias em face do poder público, como o direito ao trabalho, à saúde e à educação. DIREITO AMBIENTAL “[...] Direito sistematizador, que faz a articulação da legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos elementos que integram o ambiente, [que] procura evitar o isolamento dos temas ambientais e sua abordagem antagônica. Não se trata mais de construir um direto das águas, [...] da atmosfera, [...] do solo, [da �oresta], [...] dafauna ou [...] da biodiversidade. O Direito Ambiental não ignora o que cada matéria tem de especí�co, mas busca interligar esses temas com a argamassa da identidade dos instrumentos jurídicos de prevenção e de reparação, de informação, de monitoramento e de participação” (MACHADO, 2002, p. 129-130). OUTROS DISPOSITIVOS A regulamentação expressa da Constituição Federal sobre o meio ambiente inclui os seguintes dispositivos: Artigo 5º – inciso LXXIII; Artigo 23 – incisos VI e VII; Artigo 24 – incisos VI e VIII; Artigos 129, 170, 200, 216. Já a regulamentação indireta inclui os seguintes dispositivos: Artigo 20 – incisos II a XI e parágrafo 1º; Artigo 21 – incisos IX, XII (alíneas b e f), XV, XIX, XX, XXIII (alíneas a, b, e c) e XXV; Artigo 22 – incisos IV, X, XII, XVIII e XXVI; Artigo 23 – incisos II, III, IV, VI, VII, IX e XI; Artigo 24 – incisos I, VI, VII, VII e XII; Artigo 26 – incisos I, II e III; Artigo 30 – incisos VIII e IX; Artigo 43 – parágrafos 2º (inciso IV) e 3º; Artigo 49 – inciso XIV; Artigo 91 – parágrafo 1º (inciso III); Artigo 174 – parágrafo 3º; Artigo 176 – parágrafos 1º e 4º; Artigo 177 – incisos I e V e parágrafo 3º; Artigo 182 – parágrafos 1º a 4º, e incisos I, II e III; Artigo 186 – inciso II; Artigo 187 – parágrafo 1º; Artigo 200 – inciso VII; Artigo 216 – inciso I a V, e parágrafos 1º a 5º; Artigo 220 – parágrafos 3º (inciso II) e 4º; Artigo 231 – parágrafos 1º e 3º. INTERNATIONAL ORGANIZATION STANDARDIZATION Organização Internacional para Padronização – entidade de padronização e normatização criada em Genebra, na Suíça, em 1947.
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