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Análise do filme A Onda- Noelle Tavares Ferreira

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Análise do filme “A Onda”.
Noelle Tavares Ferreira (11911PSI055)
O presente trabalho tem a intenção de relacionar os conteúdos da disciplina Psicologia da Aprendizagem II com o filme “A Onda”, além de trazer aspectos do livro da Psicóloga Maria Cristina Kupfer "Freud e educação: o mestre do impossível". O filme foi lançado em 2008, com direção de Dennis Gansel, apresenta enredo baseado em fatos reais e narra a semana pedagógica de uma turma do Ensino Médio que discutiu o tema Autocracia. Ao longo da trama, o professor Rainer Wenger que conduz as aulas, mostra para os jovens como ainda é possível viverem numa ditadura nos dias atuais. Com a negação de muitos alunos, o professor propõe a criação de um movimento intitulado “A Onda”, que faz com que os alunos cheguem a um estado de alienação, resultando em uma grande tragédia. 
As relações que se estabelecem na trama nos chama a atenção, pois podemos observar que todos os acontecimentos, a partir da proposta do professor Wenger, irão girar em torno do que ocorre no ambiente escolar. Não só isso, pois para grande parte dos alunos de Wenger a escola, a Onda e as relações que se estabelecem a partir desta tornam-se elementos norteadores ou influenciadores de suas vidas. Ao analisar esse filme podemos perceber que o que se quer mostrar é a influência de um professor sobre seus alunos. E o que devemos nos questionar é: até que ponto um professor seria capaz de influenciar seus alunos? Por quê? E até que ponto essa influência é saudável? E como se dá a relação entre educandos e educadores?.
O filme em minha opinião exemplifica grandemente que os jovens em formação e desenvolvimento intelectual podem ser facilmente influenciados, a ponto de passar a seguir algo totalmente contrário às suas opiniões anteriores, que até então, estão em formação. Faz parte da função do educador direcionar esses jovens nesse sentido, entretanto, é importante saber como conduzi-lo e fazê-lo. O método adotado pelo professor Wenger para ensinar a seus alunos sobre autocracia foi a simulação de um governo ditatorial, onde ele representava o ditador e seus alunos representavam a população governada por ele. Inicialmente parece uma boa ideia, já que a partir disso ele consegue a atenção dos alunos, incluindo os que não tinham interesse pela matéria. Porém, a cada aula a simulação adquire características mais próximas de uma real autocracia e os envolvidos estavam ficando fascinados com isso. Pode-se dizer que, devido à faixa etária dos alunos e o meio em que estão inseridos (problemas escolares, sociedade e falta de um ambiente familiar estruturado), esses jovens não estavam preparados intelectualmente para serem submetidos a esse tipo de experiência, considerando que apresentam fragilidades quanto à suas formações de identidade. Embora o professor tivesse boas intenções, seria necessário que ele avaliasse as consequências e tivesse experiência e dominância do assunto, porém, nota-se inclusive, que era uma situação nova e intrigante para ele próprio
A primeira cena do filme apresenta como foco o personagem principal da história: Rainer Wenger, ouvindo e cantando a música “Rock 'n' Roll High School”, dos Ramones, enquanto dirige seu carro a caminho da escola em que trabalha como professor. Ao chegar, é informado pela coordenadora da escola que ele será o responsável por ministrar um curso sobre autocracia em um projeto com duração de uma semana, ao que ele tem uma reação negativa, já que sua vontade era ministrar o curso sobre anarquia (tema pelo qual tem um interesse pessoal). Na manhã de segunda-feira, primeiro dia do projeto, Wenger chega na sala de aula e é surpreendido com a quantidade de alunos que escolheram o tema autocracia. Logo, um deles explica que muitos não se matricularam no curso sobre anarquismo porque não gostavam do professor encarregado por ele. 
Importante fazer aqui um paralelo com um pensamento de Freud e a admiração que os alunos têm pelo professor Wenger. Freud diz que educar é transferir um legado, como de pai para filho. Partindo da suposição de que a relação pedagógica está implícita na relação humana, a educação se desenvolve muito mais pelo laço que se estabelece do que pelo conhecimento adquirido que expressamos ao outro. Nesse sentido, pensar a educação no âmbito do enlaçamento que um faz com o outro exige introduzir a subjetividade num campo em que o saber fazer normalmente se sobrepõe ao saber ser. A Partir disso, pode-se concluir que os alunos por admirarem o professor seriam mais facilmente influenciáveis e alienados, pois acreditariam e acatariam suas ideias, sem refletir sobre isso.
Para dar início à aula, o professor explica aos alunos o que é uma “autocracia” e pergunta se eles acham que outra ditadura seria possível na Alemanha. Alguns alunos respondem que não, enquanto outros acham possível, ao perceber o envolvimento da turma, o professor tem uma ideia e faz um intervalo. Quando os alunos retornam à sala, a disposição das carteiras está diferente e então, ele propõe uma experiência, que é aceita pela turma. Wenger pergunta aos alunos qual é o primeiro requisito para que uma ditadura possa se desenvolver, um dos alunos responde “uma figura central de liderança”. Para decidir quem ocuparia essa posição, foi realizada uma votação, na qual escolhem o professor e combinaram que os alunos deveriam chamá-lo de “Sr. Wegner” e precisariam pedir permissão para falar ou se levantar. Nesse momento, alguns alunos perguntam ao professor se ele não está exagerando, ao que ele responde que quem não quisesse participar não seria obrigado, contanto que saísse da sala. O aluno que sente excluído, Tim, diz que disciplina também é essencial para que uma ditadura possa acontecer, e o professor concorda, afirmando que “disciplina é poder”. No final da aula, os alunos demonstram ter gostado muito da experiência, principalmente Tim, que se destaca desde o começo por demonstrar mais entusiasmo com o curso do que os demais.
Damos destaque aqui para essa ideia de admiração, que segundo Freud pode ocorrer uma operação transferencial com o professor. Assim, o professor é convocado a ocupar um lugar que transcende a prática pedagógica, na medida em que se torna suporte dos investimentos libidinais de seu aluno, já que é objeto de uma transferência. Mais além da figura pessoal do professor, o educador vai representar, para o aluno, uma função, substituindo, nesse momento, as figuras parentais e/ou pessoas que lhe foram importantes, representando então esse lugar de saber, de idealização e de poder. 
Ora, aprender supõe sempre aprender com alguém. Esse que ensina será sempre colocado pelo aluno numa determinada posição que pode ou não proporcionar a aprendizagem, indicando que o lugar que o aluno o coloca não é apenas o daquele que ensina. É o desejo inconsciente desse aluno que está determinando o lugar a ele conferido, como uma espécie de tela onde serão depositadas projeções alheias a ele enquanto pessoa. Seguindo esse raciocínio, Nunes afirma que a autoridade do professor não é imposta ao aluno, mas outorgada ao professor pelo próprio aluno. Deste modo, podemos observar que o conceito de transferência traz de arrasto a questão do poder e autoridade (mostrado no filme) que são investidos no professor a partir do aluno, e também a de desejo tanto do aluno quanto do professor (Nunes, 2004). 
 No segundo dia, quando o professor entra na classe, os alunos o recebem dizendo, em coro: “Bom dia, Sr. Wegner!”. Surpreso com o envolvimento dos alunos, alerta: “Não vão me levar muito a sério, hein?”. Na primeira atividade do dia, propõe que todos comecem a marchar na sala, até que seus passos estejam sincronizados para mostrar o poder da união e a força de um grupo. Depois, os alunos debatem acerca do uso de uniformes e decidem que todos deverão usar uma camisa branca a partir do próximo dia. Após o intervalo, alguns alunos que estavam no grupo sobre anarquia decidem entrar para o curso de autocracia (mostrando cada vez mais a influência que o professor tinha sobre os alunos). Nodia seguinte, quarta-feira, uma das alunas, Karo, vai com uma blusa vermelha e, por estar diferente dos demais do grupo, passa a ser excluída (inclusive pelo professor). Mostrando cada vez mais o envolvimento dos alunos, os mesmos decidem nomear o grupo e escolhem, por votação, o nome “A Onda”, que mostraria que eles eram um só. Após a aula, Tim é insultado e agredido por dois alunos, mas dois jovens d’A Onda intervém e defendem o colega, que antes não recebia ajuda de ninguém (Percebemos nessa cena que o movimento passa a unir os alunos, que agora tinham algo em comum- tornando o seus envolvimentos cada vez mais complexos). Durante a noite, parte da classe se reúne para espalhar o novo símbolo d'A Onda grupo nas ruas com adesivos e pichações, não obstante em certo momento, Tim se oferece para pichar o topo de uma estrutura de metal muito alta e a escala, arriscando sua vida em nome do grupo e em nome da admiração por weger. Aqui se pode fazer um ponte no pensamento de freud, em relação a transferência, para ele o professor teria poder sobre o aluno, mas este poder não vem como a concepção que o senso comum tem da palavra poder. Este poder a qual estamos nos referindo, é calcado pelo desejo do aluno, ou seja, é ele quem deposita naquela figura, o tal "poder" ou o "suposto saber" (como vários alunos fazem durante o filme). O professor, em si, é apenas um mero objeto depositário, aquele por quem o desejo do aluno optou. Entretanto, Isso pode tornar-se complicado a partir do instante que o professor torna-se depositário de algo que pertence ao aluno, com isso, inevitavelmente tais figuras ficam carregadas de uma "importância especial", e é dessa "importância" que deriva o Poder, que indubitavelmente têm sobre o sujeito (Kupfer, 2000). Entretanto, esse poder é perigoso, principalmente se o professor não tem consciência de sua magnitude.
No quarto dia, os alunos sugerem que o grupo tenha uma saudação para se cumprimentarem e fazem um movimento com o braço que remete ao movimento de uma onda, que é aprovada pelo professor e o resto da turma. No intervalo do mesmo dia, Karo procura o professor para conversar, dizendo que a experiência está saindo do controle, e ele argumenta que ela deve mudar de sala, já que não está satisfeita. Após a aula, Wegner é chamado pela coordenadora da escola, que o surpreende quando diz ele tem seu apoio. No final da tarde, Wegner chega em casa e se assusta com Tim à sua espera, que numa atitude estranha se oferece para ser guarda-costas do professor, pois acredita que ele precisa de proteção. Com pena do aluno, deixa que ele entre em sua casa e jante com ele e com sua esposa, que se incomoda com a presença do garoto. A noite, enquanto acontece uma festa dos membros d’A Onda, Karo escreve um manifesto e distribui pela escola, para que os alunos vejam no outro dia pela manhã. Já no último dia do curso, sexta-feira, Wenger vê no jornal uma matéria com a manchete: “O que significa esse símbolo?”, seguida por uma foto estampando o símbolo d’A Onda pichado por Tim na prefeitura. No caminho para a escola, o carro do professor é atacado por anarquistas, e ele fica ainda mais assustado. Nessa manhã, ele começa a perceber que seus alunos estão levando a experiência a sério demais e, na escola, discute com a turma e ordena que escrevam em uma folha o que a experiência daquela semana significou para eles. No mesmo dia, ocorre um campeonato de pólo aquático e os alunos só permitem que entrem no estádio quem estiver uniformizado com uma camisa branca. Karo e Mona, impedidas de participar por se recusarem a usar a camisa, entram por um outro portão e distribuem panfletos de manifesto contra “A Onda” pelas arquibancadas, gritando “Parem com A Onda!”, o que causa uma briga entre os torcedores. Enquanto isso, os alunos que estão jogando pólo começam a brigar entre si, provocando um grande tumulto que resulta na suspensão do jogo. Mais tarde, o professor tem uma briga séria com sua esposa quando ela tenta alertá-lo dos perigos de sua experiência, haja vista, que ele não tinha noção do grande poder que tinha sobre seus alunos. 
Wegner assustado com as atitudes de seus alunos, convoca o grupo para uma reunião marcada para sábado, em um auditório da escola, para decidir o futuro d’A Onda. No dia seguinte, com todos os alunos reunidos, Wenger entra no auditório e começa a ler fragmentos das redações escritas pelos alunos e faz uma dramatização sem que o grupo saiba, dizendo que o projeto não pode acabar e que A Onda é a solução para o país, que se espalhará por toda Alemanha. A turma aplaude, exceto por Marco, que contesta dizendo que os alunos estão sendo manipulados por ele. Wegner ordena que os alunos levem o “traidor” para a frente do auditório e pergunta: “O que vamos fazer com o traidor?”. Um aluno responde que não sabe, pois estava apenas obedecendo o professor, e este diz: “E você o trouxe aqui somente por que eu mandei? É isso que fazem na ditadura. Entenderam o que aconteceu aqui?” Nesse momento, os alunos percebem que aquilo era uma encenação e se dão conta do quanto estavam envolvidos no movimento, perdendo a capacidade de pensar por si mesmos. O professor então retoma a questão do primeiro dia (se eles achavam que uma ditadura seria possível atualmente na Alemanha) e demonstra como aquilo que estavam vivendo era exatamente uma ditadura.
Por fim, ele pede desculpas por ter ido longe demais com o experimento. Os alunos se mostram muito perturbados com a situação, especialmente Tim. Que em um ato de desespero, saca sua arma e atira em um colega após ser provocado, enquanto falava que “A Onda era a minha vida!”. O professor, para quem agora Tim mirava a arma, tenta acalmá-lo e pede que solte o revólver e Tim obedece. Porém, quando o professor se vira de costas para socorrer o aluno ferido, pensando ter acalmado a situação, Tim coloca a arma em sua própria boca e, comete suicídio. Na cena seguinte, o professor é levado por policiais para uma viatura enquanto encara as pessoas que estão na rua da escola: a esposa, os alunos, alguns pais e a imprensa. Na cena final, o professor aparece, já na viatura, levando suas mãos à cabeça. A imagem congela com o foco em seu rosto, que carrega uma expressão de desespero, como se naquele momento ele tomasse consciência da proporção que sua experiência alcançou.
	Após o resumo do filme e alguns apontamentos psicanalíticos, pode-se agora aprofundar mais essa perspectiva psicanalítica vinculada à educação. O conhecimento a respeito da constituição do sujeito (pelos pressupostos psicanalíticos) contribui para fazer as possíveis relações entre o modo peculiar de aprender, com as experiências de natureza consciente e inconsciente da criança com os adultos significativos. Não é olhar o sujeito de aprendizagem de forma isolada (e abstrata) sobre o modo como ele aprende, mas considerar sua história com estes adultos, sua relação com o objeto do conhecimento. A partir disso, percebe-se que o professor não tratou os alunos como singulares e sim de forma abrangente, não levando em consideração suas abstrações, entendimentos e emoções particulares, e principalmente não se utilizou de pensamentos psicanalíticos. Que vão à contramão as teorias psicologizantes, que colocam os alunos como padrão, ou seja, ela se volta para o subjetivo, para o particular e principalmente a sua singularidade devido ao inconsciente que cada um possui (sendo ele único de cada pessoa).
 A Educação tem, para Freud, um papel importante, como é mostrado em um texto de 1913, que versa sobre o interesse educacional da Psicanálise, Freud escreve que os educadores precisam ser informados de que a tentativa de supressão das pulsões parciais não só é inútil como pode gerar efeitos como a neurose (caso do personagem Tim). De posse dessa informação, os educadores poderão reduzir a coerção, e dirigir de forma mais proveitosa a energia que move tais pulsões. Um exemplo disso é a importância do educador no processo de transformação da pulsão escópica (a pulsão ligada ao olhar, em curiosidade intelectual,ver o mundo, conhecer ideias), sendo que tal curiosidade desempenha um papel muito importante no desenvolvimento do desejo de saber. Desse modo, a educação desenvolve-se mais pelo laço que se estabelece com esse outro do saber do que pelo conhecimento adquirido, assim esse enlaçamento, também pulsional, exige que introduzamos na cena escolar a subjetividade de quem ensina e de quem aprende. Movimento contrário ao discurso pedagógico contemporâneo, que, por sua vez, visa esvaziar o espaço da subjetividade do professor tentando reduzi-lo a um técnico, dessubjetivado, transmissor de conhecimentos sem escolhas, história ou posições definidas.
Importante inferir, que a criança, ao chegar à escola, traz consigo uma experiência relacional vivida com a família, com um inconsciente com todas as suas frustrações e recalcamentos de seu drama interior, com seus desejos, sua história, se exprimindo pela sua simbolização. A pedagogia, portanto, poderia procurar se articular com essa expressão simbólica do aluno a partir das múltiplas situações oferecidas pelo grupo escolar e suas diferentes formas de atividade, oferecendo à criança oportunidade de verbalizar suas tensões (o que não acontece no filme). É dessa maneira que a psicanálise pode ajudar o educador, permitindo a possibilidade de uma compreensão em profundidade do sujeito, no que ele tem de mais pessoal e de mais íntimo. Para tal, é necessário que a escola não mantenha os alunos numa relação de submissão passiva à autoridade do professor, como aconteceu no filme. Este deve lembrar que as dificuldades encontradas pelo aluno, na escola, podem ser de origem afetiva e que a relação professor-aluno depende, em grande medida, da maturidade afetiva do professor (algo que o professor wenger não possui). Se esta lhe permite resolver suas próprias dificuldades, ele poderá ajudar a criança a viver e a resolver as suas (Pedroza, 2010).
Desta forma. é importante se ter essa relação professor-aluno muito saudável, haja vista que somos constantemente abordados com um sentimento de angústia, que segundo Freud é um sinal de perigo frente a uma situação de perda muito temida. Essa situação varia ao longo do desenvolvimento psíquico do sujeito: para a criança muito pequena, trata-se do perigo do desamparo, pois ela é completamente dependente da pessoa que assume a função materna. Já na primeira infância, ganha destaque o perigo da perda do amor dos pais, pois o infante percebe que seus cuidadores não estão sempre disponíveis para ele. Mais tarde, quando as crianças percebem a diferença entre os sexos, o perigo fantasiado é a ameaça de castração. Já no período de latência, com a dissolução do complexo de Édipo, a angústia é transformada em temor de ser punido pelo superego (a instância psíquica herdeira das proibições parentais), ou de perder o seu amor. A transformação final é o medo da morte enquanto temor do supereu projetado nos poderes do destino. No filme é mostrado essa prevalência de angústia e desamparo em muitos alunos e até mesmo no professor, que são refletidos em suas atitudes e ações a frente dos diversos contextos.
“No fundo, sentíamos grande afeição por eles, se nos davam algum fundamento para ela, embora não possa dizer quantos se davam conta disso. Estávamos, desde o princípio, igualmente inclinados a amá-los e a odiá -los, a criticá-los e a respeitá-los”. (Freud, 1914, citado por Marioto, 2017). Essa citação do saudoso Freud, faz alusão a transferência dualista que o professor sofre pelos alunos e é possível se ver exemplificada no filme, onde durante todo o enredo os alunos admiravão, elogiavam e até mesmo endeusavam o professor, entretanto, no final vemos nos olhos desses mesmos alunos, sentimentos de indignação, ódio e rancor. 
Em suma, podemos compreender a partir dessa discussão o quão significativo pode ser o papel de um educador. Mais do que isso, as relações que se estabelecem em sala de aula vão muito além do que é proposto ali e, portanto, como alunos ou como professores precisamos ter um olhar crítico sobre tudo o que é proposto. O filme analisado tem um final trágico que evidencia uma consequência extrema de um aprendizado/ ensino sem criticidade. Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática: “A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. (Freire, 1996, p.17).
Referências
Freire, Paulo. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. Recuperado de http://www.apeoesp.org.br/sistema/ck/files/4-%20Freire_P_%20Pedagogia%20da%20autonomia.pdf
Kupfer, M. C. M. (2000). Freud e a educação: o mestre do impossível. São Paulo: Scipione. Recuperado de http://peadrecuperacao.pbworks.com/w/file/fetch/104607070/Freud
Mariotto, R. (2017). Algumas contribuições da psicanálise à educação a partir dos conceitos de transferência e discurso. Educar em Revista, (64), 35-48. https://doi.org/10.1590/0104-4060.49816
Nunes, M. (2004). Psicanálise e educação: pensando a relação professor-aluno a partir do conceito de transferência. COLÓQUIO DO LEPSI IP/FE-USP, (5). São Paulo. Recuperado de <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000032004000100040&lng=en&nrm=abn>..
Pedroza, R. (2010). Psicanálise e educação: análise das práticas pedagógicas e formação do professor. Psicologia da Educação, (30), 81-96. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752010000100007&lng=pt&tlng=pt.

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