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1 Histórico da construção das primeiras técnicas de medida e área de aplicação da 
psicologia 
A psicologia, tal qual se concebe hoje, apresenta uma variada gama de técnicas de pesquisa. 
Partindo de modelos de natureza estritamente quantitativas, até modelos de natureza estritamente 
qualitativa, bem como pela infinidade de métodos presentes no escopo entre eles, constata-se uma 
imensa possibilidade de formas de construção de saberes nesse campo. Essa diversidade tem fruto 
na multidisciplinaridade responsável por organizar o que hoje conhecemos por ciência 
psicológica. Cabe elencar alguns marcos, nesse sentido, a fim de demonstrar as principais bases 
da psicologia e como elas determinaram métodos e técnicas de investigação que têm reflexo até 
os dias atuais. 
1.1 Psicologia Científica 
A Psicologia se estabeleceu como ciência em um cenário no qual o positivismo era o 
principal paradigma científico. Havia também forte influência do pragmatismo. Essa configuração 
impulsionou pesquisas que, embora voltadas a um caráter prático, tivessem como característica a 
possibilidade de: 
 
Considera-se o surgimento da psicologia como ciência a partir das pesquisas de Wilhelm 
Wundt, e a fundação do primeiro laboratório de pesquisa em psicologia experimental, na cidade de 
Leipzig (Alemanha), em 1875. 
Antes da inauguração do laboratório, o então estudioso da fisiologia e docente no campo, 
Wundt, começou a conceber a psicologia como uma ciência independente (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 2002). Ainda em ambiente doméstico, Wundt mantinha estudos sobre o processo 
psicológico da percepção, originando a publicação da obra “Contribuições para a Teoria da 
Percepção Sensorial” (1858 – 1862). Nessa obra, o autor utiliza pela primeira vez o 
termo psicologia experimental, enquanto descreve seus experimentos originais. 
Schultz e Schultz (2012) afirmam que a publicação da obra Princípios de Psicologia 
Fisiológica (1873 – 1874) foi um marco para a vindoura ciência psicológica, pois nela Wundt 
demarca a psicologia como munida da possibilidade de investigação científica e laboratorial. 
Ideias sobre as variáveis tempo e intensidade de reação a estímulos foram tomando espaço na 
obra de Wundt, revelando uma potencialidade da execução de pesquisas no campo psicológico 
que se assemelhavam àquelas das ciências naturais. Para Schultz e Schultz (2012, p. 81) “o espírito 
da época no campo da fisiologia e da filosofia ajudou a moldar tanto o objeto de estudo da nova 
psicologia como os seus métodos de investigação”. 
O método dominante nas pesquisas de Wundt era a introspecção. Esse método refere-se 
ao questionamento do indivíduo pesquisado sobre a experiência que ele vivencia. Para o teórico, 
só a pessoa que passa pela experiência tem condições de explicá-la – mesmo aquelas experiências 
mais básicas. O método introspectivo funciona da seguinte maneira: 
 
Wundt tinha como foco o estudo de processos da consciência e a introspecção servia como 
acesso a esses processos. Certamente, esse método recebeu inúmeras críticas, em especial 
devido ao questionamento acerca da imparcialidade daquele que fornece os dados. Estaria o 
indivíduo trazendo relatos acurados sobre o que vivenciou? Essa experiência vivenciada estaria 
ofuscada por variáveis não previstas pelo pesquisador? O pesquisador estaria compreendendo com 
clareza a descrição do indivíduo? 
Embora os questionamentos sejam relevantes, o fato é que o método introspectivo 
proporcionou à psicologia – mesmo aquela experimental, adotada primariamente por Wundt – o 
acesso a fenômenos psicológicos antes não estudados sob critério científico. Ademais, o método 
introspectivo passou a ser adotado principalmente nas pesquisas qualitativas e até os dias atuais 
possui inserção nas pesquisas, estando na base de delineamentos dessa natureza. 
Essa busca foi fundamental para a definição dos estudos no campo da psicologia que se 
sucederam. Seu impacto extrapolou o âmbito experimental e os estudos sobre processos 
psicológicos básicos. As pesquisas no laboratório de Leipzig formaram uma leva de psicólogos 
que difundiram e aprimoraram a psicologia experimental, com cunho notadamente quantitativo. 
Grande parte desses psicólogos migrou para os Estados Unidos, terra onde até hoje as pesquisas 
quantitativas no campo da psicologia são dominantes. 
A abordagem experimental foi bastante presente na psicologia, principalmente no início do 
Século XX. Sua utilização ganhou notoriedade em pesquisas clássicas da psicologia da Gestalt e 
nas pesquisas da abordagem behaviorista. Nessa última, em especial na figura de Skinner, foram 
adotados modelos quase-experimentais, que serão melhor descritos adiante. 
 
1.2 Psicometria e a criação dos primeiros testes psicológicos 
No cenário da psicologia científica, ganharam destaques os processos de testagem 
psicológica com objetivos mais funcionais. Mais do que conhecer o funcionamento mental, alguns 
teóricos focaram na aplicabilidade das mensurações em contextos como o trabalho, a clínica e a 
educação. Surgem, então, os primeiros testes psicométricos, tendo como objetivo mensurar 
processos psicológicos e realizar inferências sobre o indivíduo a partir deles. 
Anastasi (1990) define os testes psicológicos como medidas objetivas e padronizadas de 
amostras do comportamento humano. Atualmente, há diversos recursos tecnológicos para 
aplicação e análise dos testes, principalmente os psicométricos. A origem da psicometria remonta 
os primeiros passos da formulação científica da psicologia. Havia forte tendência a compreender a 
psicologia e seus fenômenos à luz da lógica aplicada nas ciências naturais. Paralelamente às 
experimentações e medições ocorridas no cenário alemão, com forte influência do laboratório de 
Leipzig, na Inglaterra, ganha destaque os trabalhos de Galton. 
Galton foi um dos pioneiros no estudo da inteligência. O teórico acreditava que 
características mentais poderiam ser transmitidas entre gerações. Nas duas últimas décadas do 
século XIX, realizou estudos com pessoas eminentes, de sucesso, e buscou traçar padrões 
hereditários que justificassem as altas habilidades. Tinha, como proposta, realizar massivamente 
exames na população inglesa, no intuito de selecionar os melhores representantes, com base nos 
resultados encontrados. A proposta de Galton foi bastante criticada, pois associa-se a ele 
o conceito de eugenia, uma vez que o critério racial era uma variável considerada em seus estudos 
que, muitas vezes, provavam a superioridade dos ditos ingleses puros (DEL CONT, 2008). 
No mesmo período, na França, Alfred Binet elaborava suas primeiras pesquisas sobre 
inteligência. Binet foi um profissional preocupado com o desenvolvimento cognitivo. Observando 
suas filhas, e posteriormente expandindo suas experimentações, formulou hipóteses sobre 
inteligência (SILVA, 2011). Teve como vislumbre a possível contribuição da psicometria com o 
aprimoramento de funções acadêmicas. 
Em 1890, em conjunto com o pesquisador Henri Beaunis, Binet reforça pesquisas sobre a 
mensuração de processos psicológicos. Os autores propõem uma bateria preliminar com foco na 
mensuração de dez diferenças individuais: 
 
 
Posteriormente, em associação com Simon, lançou a Escala Binet-Simon de Inteligência, 
que posteriormente daria origem aos testes de Quociente de Inteligência (QI). Os 
pesquisadores buscaram medir habilidades supostamente padrão para cada idade. Levando essa 
média como consideração, desenvolveram e publicaram em 1905 a primeira versão da Escala 
Binet-Simon de Inteligência, que foi refinada e atualizada nos anos subsequentes. 
1.3 Testes projetivos: medindo o abstrato 
No início do século XX, com o avançar da ciência psicológica e, essencialmente, das 
abordagens clínicas da psicologia e áreas afins – notadamente, a psicanálise – novos desafios são 
impostos aos profissionais. A medida de funções psicológicas inferiorespassa a não dar conta 
de questões mais complexas, encaradas no contexto clínico de atuação. 
Surgem, então, técnicas consideradas expressivas. Busca-se, em especial, avaliar 
conteúdos da personalidade humana que teóricos europeus – centro dessa discussão – não 
consideravam possíveis de serem acessados nas técnicas psicométricas. Silva (2010, p. 70) relata 
que alguns dos métodos expressivos buscavam acessar os significados de “expressões faciais, 
gestos, postura física e movimento, qualidade da voz e constituição corporal”. Nessa abordagem, 
a posição de passividade do aplicador não é demandada. Afinal, principalmente ao atuar na 
condição de terapeuta, a relação interpessoal entre aplicador e sujeito testado está em evidência. 
Carl Jung foi um dos primeiros a desenvolver métodos que, posteriormente, foram 
considerados projetivos. Silva (2010, p. 72) os define como: “métodos de investigação da 
personalidade que fazem uso de material ambíguo e consideram as respostas produzidas como 
singulares e determinadas pela história individual”. 
Em 1921, Hermann Rorschach apresenta um dos instrumentos que até hoje segue como 
referência na análise da personalidade humana: o Psicodiagnóstico de Rorschach. Apesar de 
também apresentar uma base estatística, o conhecido teste de Rorschach ganha notoriedade pela 
capacidade de extrair componentes da personalidade humana – inclusive inconsciente – através 
da descrição de formas vistas em manchas abstratas. 
Para além dos testes gráficos, surgem também testes baseados em histórias, como o Teste 
de Apercepção Temática (TAT), em 1935, e o teste das Fábulas de Düss, em 1950. Ambos com a 
pretensão de acessar processos inconscientes da personalidade humana a partir da narração de 
histórias despertadas por estímulos pré-definidos. 
Juntos, os testes projetivos e psicométricos representam uma forma de acesso a conteúdos 
de natureza psicológica cuja aplicação em contextos de trabalho tem sido mais adotada do que nos 
contextos de pesquisa. Entretanto, apresentam potencial em ambas as áreas e revelam muito sobre 
a evolução histórica da psicologia como ciência. 
 
 
2 Considerações sobre o método científico de pesquisa 
Antes de nos aprofundarmos no método científico e suas características, é fundamental nos 
voltarmos a debates primários acerca do conhecimento. A ciência nunca foi e não é o único meio 
de explicar o mundo. De fato, no ocidente a sua configuração – tal qual conhecemos hoje – se 
firmou apenas recentemente, com a queda da Idade Média e início da modernidade, embora suas 
bases remontem o período grego. 
Como dito, o saber científico não é o único que trouxe respostas à humanidade. 
Tradicionalmente, ao debatermos acerca do tipo de conhecimento, destacam-se quatro categorias: 
 
Senso comum: Segundo Cotrim (2002, p. 46), o “vasto conjunto de concepções geralmente 
aceitas como verdadeiras em determinado meio social recebe o nome de senso comum”. 
Tomemos como exemplo uma crença comum no interior do Nordeste brasileiro. O mês de 
março corresponde ao período que ocorre o plantio de milho. Tradicionalmente, espera-se que 
chova nos meses seguintes e a colheita estará pronta para os tradicionais pratos juninos. Esse 
conhecimento de origem popular não foi originado a partir de uma base científica, apenas da 
experiência dos sertanejos ao longo dos anos com plantio de milho em terras secas. 
O saber do senso comum tem como característica a especulação. Apesar de poder ser 
confrontado, não precisa ser testado para estar estabelecido entre uma população. Deriva 
exclusivamente da experiência e da transmissão, geralmente oral. É aprendido com o hábito e com 
o contato com a comunidade que o mantém. Geralmente é superficial e não tem nenhuma 
organização sistemática. 
Saber religioso: Os acontecimentos têm como fonte de explicação alguma doutrina, a qual 
estabelece um ou mais seres ou fenômenos com status de divindade. O saber religioso tem como 
característica o fato de ser infalível, pois suas afirmações não carecem de testagem e comprovação. 
Assim, não cabe contestação lógica fora da própria doutrina. O conhecimento religioso 
frequentemente flerta com questões morais, explicando até mesmo fenômenos naturais a partir 
dessa perspectiva. Por exemplo: ao chover bastante e inundar uma cidade, alguém pode dizer que 
foi a ira de Deus por estar entristecido com ações humanas. 
Retomando o exemplo do plantio de milho, a tradição se aprofunda um pouco na explicação 
do sucesso da colheita plantada em março. No dia 19 de março, comemora-se o dia de São José, 
no calendário católico, religião dominante no interior nordestino. Os sertanejos costumam realizar 
o plantio de milho exatamente nesse dia, acreditando que São José auxiliará na boa colheita. 
Outra característica do saber religioso é que este se vale do argumento da autoridade, seja 
uma entidade divina, ou seus representantes. Sua inserção nas ciências foi forte, a ponto de 
renomados teóricos terem se referidos a Deus como causador ou influenciador de fenômenos 
(FRANCELIN, 2004). Muitos filósofos gregos, filósofos modernos e até Newton, grande nome da 
física, chegaram a mencionar Deus como fonte de alguns fenômenos. 
Saber filosófico: O saber filosófico tem forte relação com o saber científico. A partir da 
chamada filosofia natural, muitos teóricos gregos traçaram ideias sobre o mundo natural, servindo 
de base para as atualmente conhecidas ciências naturais. Os métodos filosóficos também têm forte 
relação com a forma que as ciências caminham. A epistemologia, campo da filosofia, busca traçar 
a história das ciências, apresentando as bases filosóficas para a construção do conhecimento 
científico conforme temos contato atualmente. 
Ademais, o conhecimento filosófico se sustenta na racionalização e pode alcançar conteúdos 
que ultrapassam o limite da experimentação. Fenômenos abstratos ou intangíveis como as 
emoções e a morte foram de interesse filosófico muito antes de existirem métodos para seu estudo 
sistemático. 
Saber científico: Voltemos, uma última vez, ao exemplo da plantação de milho. A agronomia, 
como ciência, explicaria o mesmo fenômeno a partir de outra lógica. Seria possível trazer 
informações sobre o solo, a temperatura, o volume e a intermitência das chuvas no período 
assinalado para o plantio. Para chegar nesse ponto, entretanto, várias pesquisas foram feitas, 
utilizando métodos, técnicas e instrumentos próprios dessa ciência. Tudo para explicar um 
fenômeno que, no senso comum, não carece de explicação: apenas é assim. 
O conhecimento científico é aquele que busca descrever as relações entre certos fatores ou 
variáveis partindo de uma análise sistemática, metodológica: o método científico. Cozby (2003) 
descreve o método científico como: conjunto objetivo de regras para coletar, avaliar e relatar 
informações – hipóteses refutadas ou replicadas. Nas ciências psicológicas, espera-se que através 
desse método seja possível predizer acontecimentos em circunstâncias semelhantes; determinar 
as causas; e, com isso, compreender ou explicar o comportamento. Esse saber busca 
ser generalizável, com aplicações iguais em indivíduos semelhantes. 
O conhecimento científico tem como características: ser testável e, portanto, refutável. 
Nenhuma verdade científica é absoluta. Elas podem deixar de explicar fenômenos se variarmos o 
paradigma em que se encontram, ou em um mesmo paradigma, caso haja alguma comprovação 
que as refutem. 
O conhecimento científico é observável. Pode e deve ser demonstrado. O critério 
da objetividade também é relevante. Nesse critério, defendeu-se a necessidade de não haver 
interferência entre o pesquisador e o fenômeno estudado. Nas ciências humanas e sociais, diversos 
debates inflamam essa característica, pois muitos pesquisadores julgam impossível estabelecer 
imparcialidade em relação ao fenômeno estudado. 
Por fim, reitera-se que o conhecimentocientífico é sistematizado e obedece a critérios 
metodológicos que irão variar de acordo com a afinidade do pesquisador, a natureza do fenômeno 
e os objetivos da pesquisa. 
2.1 A Noção de Paradigma 
Toda ciência se estabelece e ganha força em uma comunidade científica e em um contexto 
histórico e político. Aquilo que é aceito como ciência nesse contexto deve obedecer a 
determinações muitas vezes não muito explícitas, mas contundentes. Entende-se como paradigma 
Camargo e Santos (2010) afirmam que paradigma significa padrão, modelo. Uma boa 
representação do paradigma é a metáfora da lente. O homem vê o mundo através dessa lente, 
que o permite distinguir o certo e o errado, o que é cientificamente aceito ou não pela comunidade. 
O paradigma orienta o olhar do pesquisador e da comunidade científica. 
Segundo Kuhn (1991), o paradigma se constitui como um conjunto de adesões 
conceituais, teóricas e metodológicas dentro de uma comunidade científica. A educação 
profissional permite que o cientista internalize esses pressupostos e aja dentro do modelo vigente 
muitas vezes sem ter consciência disso. Torna-se, então, mais um agente reforçador do paradigma 
em que se encontra. 
Um paradigma é substituído por um subsequente a partir de um processo de crise. Grandes 
períodos históricos geralmente apresentam séries de fatores que rompem com paradigmas 
preexistentes. Após a queda da idade média, o paradigma científico dominado pela escolástica 
dá lugar à racionalidade moderna. Outra possibilidade de quebra de paradigma é expressa 
quando um anterior não dá conta de conter uma verdade científica notadamente comprovada. Na 
física, podemos observar a quebra do paradigma newtoniano após as descobertas da física 
quântica. 
A noção de paradigma revela que, mesmo na ciência, a verdade não é absoluta, embora os 
paradigmas evoluam no sentido de buscar melhores respostas aos fenômenos estudados. Em um 
cenário no qual o princípio da verificabilidade dominava, Santos (1988) retoma o princípio da 
falseabilidade teorizado por Popper: uma proposição deve ser considerada verdadeira ou falsa 
não após o cientista chegar à conclusão de que ela foi verificada. Ao contrário, 
a refutação apresenta maior peso de resposta, pois ela é inegável. Aquilo que é tomado como 
verdade na ciência hoje pode ser refutado amanhã. Entretanto, se houver alguma refutação 
plausível a uma explicação científica até então aceita, ela deixará de ocupar seu estado de verdade. 
2.2 Métodos Indutivo, Dedutivo e Abdutivo: a Possibilidade de Inferência 
A palavra método vem do grego methodos, e significa caminho. O método é o caminho 
através do qual o pesquisador chega nos resultados. Vimos, anteriormente, que o método científico 
visa à generalização. A garantia da generalização torna possível que o conhecimento científico seja 
aplicado e replicado. 
Por exemplo, em seus estudos, Piaget descobriu que até os 11 anos de idade a criança não 
tem o raciocínio lógico abstrato desenvolvido completamente. Assim, o modelo educacional pode 
planejar estratégias de ensino para crianças de 6 anos voltadas ao desenvolvimento de estratégias 
de raciocínio mais objetivas, baseadas em objetos concretos. Não é preciso, entretanto, que se 
realize nova testagem na população de crianças da escola para poder aplicar o conhecimento 
descrito por Piaget, pois sua trajetória de pesquisas demonstra a possibilidade de tal generalização. 
Quais seriam as relações entre a generalização e a tomada de conclusões? Há basicamente 
duas formas de raciocínio lógico que podem orientar o pesquisador nesse sentido: indução e 
dedução. 
Raciocínio dedutivo: 
A partir de premissas validadas cientificamente, o pesquisador parte de verdades gerais para 
tirar conclusões sobre casos particulares. 
Por exemplo: 
 as crianças de 6 anos não desenvolveram ainda o raciocínio lógico abstrato 
(constatação geral); 
 Maria é uma criança de 6 anos (caso particular); 
 logo, Maria não desenvolveu ainda o raciocínio lógico abstrato (constatação 
específica baseada em caso particular). 
Raciocínio indutivo: 
A partir da observação de casos particulares, busca-se estabelecer uma verdade geral. 
Por exemplo: 
 foram estudadas 500 crianças brasileiras de 6 anos e elas não haviam desenvolvido 
o raciocínio lógico abstrato (observação de casos particulares); 
 logo, crianças de 6 anos não possuem raciocínio lógico abstrato. (tomada de 
conclusão geral a partir da observação de casos particulares). 
Ambos os raciocínios são complementares. As conclusões tomadas por indução podem 
servir para embasar novas deduções, por exemplo. Retomando o princípio da falseabilidade, 
notamos que ambos os raciocínios são passíveis de falha, pois basta um caso distinto do esperado 
para abalar as conclusões tomadas através desses métodos. 
Raciocínio abdutivo: 
Atualmente, pensa-se na aplicação do raciocínio abdutivo na psicologia. A abdução refere-
se a uma forma de raciocínio que busca tomar de empréstimo as vantagens dos demais métodos, 
mas sem desconsiderar a complexidade dos fenômenos. O seu foco é, para além da realização da 
inferência, narrar explicações sobre os elementos estudados. Para além da mecânica científica, a 
abdução permite a emergência do insight e da formulação de novas compreensões e hipóteses. 
Nos exemplos acima, em um método abdutivo caberiam questões como: 
 por que Maria não tem desenvolvido o raciocínio lógico abstrato? 
 caso ela tenha desenvolvido, o que a torna diferente das crianças previamente 
estudadas? 
 das 500 crianças estudadas, 1 apresentou resultados conflitantes. Quais processos 
estão envolvidos nisso? 
Nesse sentido, Gonzales e Haselager (2002, p. 22) afirmam que: 
 
Esse método, portanto, permite o avançar da ciência e abarca grande parte dos 
delineamentos adotados nas pesquisas em psicologia3 Os métodos de pesquisa em 
psicologia 
Há diversas formas de classificar as pesquisas quanto ao seu método. As pesquisas no 
campo da psicologia atualmente adotam uma grande variedade metodológica, o que permite 
múltiplas formas de enxergar os fenômenos de interesse. A seguir, serão apresentadas as 
principais classificações de pesquisa reconhecidas no cenário acadêmico. Desde já se faz a 
ressalva de que, embora as classificações sejam importantes, principalmente para fins didáticos, é 
possível que elas não sejam estanques e muitas pesquisas não se encaixem precisamente nas 
descrições apresentadas. Ao longo da leitura, busque relembrar alguns estudos com que você já 
teve contato e tente associá-los às classificações descritas. 
3.1 Classificação Quanto à Natureza da Pesquisa 
Pesquisa básica 
Também conhecidas por pesquisas puras, ou pesquisas fundamentais, elas têm como 
objetivo a geração de novos conhecimentos universais para o campo, sem explorar suas aplicações 
práticas. Na psicologia, elas são fundamentais para o reconhecimento e a ampliação do 
conhecimento sobre fenômenos psicológicos. 
Exemplo de pesquisa básica: em um estudo descrito por Myers (2014), mede-se a força de 
participantes ao puxar um cabo de guerra. A medição ocorre individualmente e, após essa etapa, 
coletivamente. Constata-se que, ao puxar o cabo de guerra com colegas, as pessoas não aplicam 
a mesma quantidade de força do que quando avaliados individualmente. Esse fenômeno ficou 
conhecido como vadiagem social. 
No estudo apresentado, o pesquisador buscou provar a existência de um fenômeno através 
de uma pesquisa básica, sem pensar sua aplicabilidade prática. Posteriormente, novos estudos 
podem ser formulados no intuito de aplicar esse conceito em situações reais. 
Pesquisa aplicada 
A pesquisa aplicada visa à solução de problemas específicos. Tem como foco a realização 
de pesquisas com finalidade aplicada, não se limitando ao estudo de fenômenos isolados. 
Como exemplo, segue o resumo do estudo de Lacerda e Costa (2013): 
 
Nesse estudo, os fenômenos violênciae ciúmes são estudados, à luz da análise do 
comportamento, em um contexto aplicado: situações de violência contra a mulher. As pesquisas 
aplicadas também permitem o aprofundamento teórico sobre um fenômeno, mas têm como partida 
o seu contexto real no mundo. Como crítica, o controle de variáveis no contexto aplicado não é o 
mesmo daquele buscado no contexto de pesquisa básica, o que pode comprometer os resultados. 
3.2 Classificação Quanto aos Objetivos 
Gil (2008) apresenta três categorias que definem a pesquisa conforme seus objetivos. 
Quanto a esse critério, a pesquisa pode ser classificada como: exploratória, descritiva ou 
explicativa. 
Pesquisa exploratória: “Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade 
com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses” (GIL, 2008, p. 41). 
Desse modo, a pesquisa exploratória permite ao pesquisador uma maior compreensão sobre um 
fenômeno em geral desconhecido ou pouco estudado pela ciência (ou pela linha teórica adotada 
pelo pesquisador). Essa pesquisa costuma ter um delineamento metodológico mais flexível, para 
permitir ao máximo a visualização dos aspectos que influenciam o fenômeno estudado. 
Gil (2008, p. 41) afirma que, em geral, pesquisas exploratórias apresentam as seguintes 
etapas: 
 
Um exemplo de pesquisa exploratória seria um estudo sobre os impactos da COVID-19 na 
saúde mental de adolescentes das grandes metrópoles brasileiras. Por ser uma temática nova e 
com pouco referencial científico, principalmente no campo da psicologia, uma pesquisa exploratória 
seria ideal. As pesquisas exploratórias têm grande potencial de abrir terreno para o 
desenvolvimento de outras pesquisas, pois revelam informações sobre diversos aspectos do 
fenômeno estudado. A pesquisa exploratória pode ser finalizada nessa fase, porém elas podem 
configurar uma etapa de estudos mais complexos. 
Pesquisa descritiva: De acordo com Gil (2008, p. 42), “as pesquisas descritivas têm como 
objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, 
então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. Uma pesquisa descritiva não se limita a 
trazer descrições literais do fato pesquisado. O pesquisador busca traçar interpretações e possíveis 
conexões sobre os elementos descritos. Portanto, ao executar uma pesquisa descritiva, o 
pesquisador detalhadamente descreve – sob uma lente teórica – um fenômeno pesquisado. 
Um exemplo de pesquisa descritiva seria um estudo sobre a prevalência do bullying em uma 
escola específica na cidade de Salvador. O pesquisador aplicaria ferramentas – de observações, 
questionários, dentre outros – para descrever a prática do bullying naquele contexto. Nesse 
processo, estabeleceria conexões e possíveis relações entre as práticas do bullying e outros 
fenômenos observados na pesquisa. 
Pesquisa explicativa: “Essas pesquisas têm como preocupação central identificar os fatores 
que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Esse é o tipo de pesquisa 
que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas” 
(GIL, 2008, p. 41). Para tanto, a pesquisa explicativa recorre às pesquisas exploratórias e 
descritivas, pois é fundamental ter o máximo de conhecimento sobre os fenômenos os quais se 
busca explicar. 
Um exemplo de pesquisa explicativa seria identificar por que crianças institucionalizadas que 
são adotadas de modo tardio possuem maiores dificuldades de adaptação nas novas famílias. 
Nesse caso, o pesquisador buscaria traçar conexões que explicassem o motivo do problema 
identificado em etapas ou estudos anteriores (crianças adotadas tardiamente têm maior 
probabilidade de apresentar dificuldades de adaptação). 
Grande parte das práticas de trabalho na psicologia partiu de pesquisas explicativas. Através 
desse tipo de pesquisa, pode-se agir de modo mais preciso sobre os fenômenos de interesse. 
3.3 Classificação Quanto à Estratégia de Observação 
A variável tempo é fundamental na definição de estudos na área da psicologia, 
principalmente quando se busca compreender a evolução temporal de processos psicológicos: 
o desenvolvimento humano. Pesquisas com a mesma metodologia podem trazer resultados 
completamente distintos a depender de como a dimensão temporal é considerada. Por exemplo, 
um estudo que mapeia as habilidades motoras trará resultados distintos se realizado com crianças 
de 2 anos e com adolescentes de 15 anos. Resultados distintos também ocorrerão caso uma 
criança de passe por esse estudo aos dois anos e, posteriormente, aos 15. A depender do objetivo 
do pesquisador e do fenômeno que ele deseja investigar, deve-se optar entre duas principais 
propostas metodológicas: transversal e longitudinal. 
Estudos transversais: são estudos que buscam investigar uma ou mais parcelas etárias sem 
realizar acompanhamento e retestagem dos casos pesquisados. 
Exemplo de estudo: 
Buscando compreender o impacto do bullying na aprendizagem, um pesquisador pode 
entrevistar estudantes de 12 anos com histórico de bullying. Caso queira enriquecer o trabalho, 
pode também entrevistar estudantes de outras idades e, com os dados em mãos, buscar traçar 
padrões e comparações entre as faixas analisadas. 
Estudos longitudinais: os mesmos indivíduos ou grupos estudados são testados mais de uma 
vez ao longo de uma faixa temporal. 
Exemplo de estudo: 
A mesma pesquisa pode ser realizada com um ou mais estudantes. Ao longo de dois anos, 
os estudantes participantes serão avaliados semestralmente em busca de respostas sobre o 
impacto do bullying no aprendizado. 
Estudos transversais têm como vantagem a redução do tempo de busca, por considerar a 
existência de participantes simultaneamente em faixas etárias distintas. Os estudos longitudinais, 
por outro lado, têm como vantagem a possibilidade de observar os mesmos casos e momentos 
distintos, trazendo análises possivelmente mais precisas sobre o fenômeno estudado. 
Cabe destacar que uma terceira metodologia tem sido adotada no campo da psicologia, 
inspirada em estudos de pesquisadores como Vygotsky: estudos microgenéticos. Esses estudos 
buscam compreender a evolução de processos ao longo do tempo, realizando análises mais 
precisas sobre as mudanças ocorridas nesse período. Digamos que o pesquisador que adota essa 
abordagem constrói, ao longo da análise, um filme com os dados coletados, podendo investigar 
cada faceta do fenômeno observado. 
Exemplo de estudo: 
Ao longo de um mês, pesquisadores acompanharão a trajetória escolar de um estudante que 
sofre bullying, buscando analisar suas relações interpessoais, desenvolvimento cognitivo e saúde 
mental através de observações e testagens constantes. 
Tais estudos permitem análises mais aprofundadas sobre como ocorrem os processos 
psicológicos investigados, já que permitem ao pesquisador identificar o momento em que pequenas 
mudanças ocorrem e tentar correlacioná-las a eventos supostos ou observados. 
Todas as metodologias apresentadas possuem vantagens e desvantagens na sua 
utilização. A natureza do fenômeno a ser estudado, o tempo e recursos disponíveis ao pesquisador, 
ou as demais decisões propostas no projeto de pesquisa vão ser cruciais para a escolha de qual 
tipo de estudo conduzir. A seguir, serão apresentados alguns dos métodos de pesquisa mais 
utilizados nas ciências do comportamento. Como exercício livre, ao longo da leitura busque 
imaginar estudos encaixados em cada método que adotem delineamentos 
longitudinais, transversais, ou microgenéticos. 
3.4 Classificação Quanto aos Procedimentos 
Para desenvolver uma pesquisa, os procedimentos metodológicos são fundamentais. Eles 
alinham precisamente qual caminho será seguido pelo pesquisador e são a estrutura de qualquer 
investigação. Entende-se como delineamento todo o desenho metodológico a ser adotado por um 
estudo científico. De acordocom Gil (2008, p. 43), “como o delineamento expressa em linhas gerais 
o desenvolvimento da pesquisa, com ênfase nos procedimentos técnicos de coleta e análise de 
dados, torna-se possível, na prática, classificar as pesquisas segundo o seu delineamento”. 
Os procedimentos são centrais para definir o delineamento de uma pesquisa. 
De acordo com a natureza do fenômeno e as escolhas do pesquisador (considerando 
disponibilidade, recursos e aproximação teórica), esses delineamentos podem seguir uma 
modalidade qualitativa, quantitativa ou mista. Novos procedimentos são formulados a todo 
momento no cenário científico, porém alguns ganharam notoriedade pela longa trajetória de 
utilização e pela qualidade dos resultados possíveis de serem alcançados. São exemplos de 
procedimentos metodológicos: 
 experimentos; 
 quase experimentos 
 levantamentos 
 pesquisa bibliográfica 
 revisão de literatura 
 pesquisa etnográfica 
 método fenomenológico 
 estudo clínico 
 método materialista histórico-dialético 
Esses e outros procedimentos metodológicos serão melhor aprofundados em unidades 
futuras. 
4 Etapas para o planejamento da pesquisa científica 
Neste tópico, debateremos algumas perspectivas sobre a construção de um projeto de 
pesquisa. Adiante, nesta disciplina, você aprenderá a elaborar um projeto de pesquisa completo e 
poderá pôr em prática os conteúdos aprendidos aqui. 
A pesquisa científica faz parte da formação do psicólogo. Nas Diretrizes Curriculares 
Nacionais (BRASIL, 2004, 2011), há diversas sugestões da importância da aproximação ao 
universo da pesquisa científica. Afinal, diplomados em psicologia são também representantes da 
ciência psicológica e é fundamental saber as etapas de construção do conhecimento que 
reproduzem. 
Outra razão que subjaz à prática de atuação. A investigação faz parte do trabalho da 
psicologia. A busca por razões, por conexões entre fenômenos e formas de solucionar problemas 
é inerente à profissão do psicólogo em todos os campos de atuação. 
Com isso, fica clara a resposta de por que fazer pesquisa? A pesquisa se inicia do interesse 
do pesquisador diante de curiosidades particulares ou de fenômenos vivenciados na academia, 
espaços de trabalho, dentre outros. Não há pesquisa sem motivação, já que o desejo de conhecer 
melhor um fenômeno impulsiona o pesquisador na sua tarefa. Pode-se compreender a construção 
sistemática de uma pesquisa em psicologia a partir das seguintes etapas: 
Etapa 1: Conhecimento prévio sobre o tema 
Mesmo nas pesquisas exploratórias, o pesquisador parte de algum conhecimento sobre a 
temática de interesse. O pesquisador parte de uma ideia inicial sobre o tema 
pesquisado (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1995). Essa ideia inicial tende a ser aprimorada na 
construção do projeto de pesquisa. A primeira etapa de qualquer pesquisa é a realização de 
uma aproximação teórica e literária sobre o tema a ser estudado. Nessa etapa, o pesquisador 
busca referenciais teóricos e, se possível, realiza coletas de dados exploratórias para refinar o 
tema preliminar. 
Essa etapa permite a determinação da justificativa da pesquisa. Ela é realmente 
necessária? Trará contribuições ao campo teórico? Tem relevância social? O pesquisador deverá 
ter essas questões em mente e, se necessário, reformular a ideia de pesquisa. 
Exemplo: Um pesquisador que trabalha como psicólogo em uma escola percebe um aumento 
nos casos de automutilação no ambiente escolar. Para compreender melhor o tema, delineia uma 
pesquisa sobre automutilação e suicídio. (Interesse). 
Releu, então, os relatórios produzidos sobre os estudantes que praticaram automutilação e 
buscou livros sobre o tema para compreender melhor esse fenômeno (Aproximação teórica). 
Com a exploração, o pesquisador nota que há poucos estudos relacionando a adoção de 
estratégias de ludicidade nas aulas com a redução de episódios de automutilação, embora haja 
trabalhos sobre ludicidade e saúde mental em geral. Busca, então, se aprofundar neste tema 
(Aprimoramento do tema de estudo). 
Esse aprofundamento inicial é fundamental para delinear melhor o objeto de estudo. Perceba 
que o pesquisador do caso apresentado parte de um interesse difuso sobre um tema até definir 
qual a especificidade que deseja compreender melhor. Esse movimento está concatenado à 
definição precisa de um problema de pesquisa. 
Etapa 2: Definição do problema de pesquisa 
Gil (2008, p. 23) define problema como: “questão não solvida e que é objeto de discussão, 
em qualquer domínio do conhecimento”. Ciente do objeto a ser pesquisado, o pesquisador deve 
elaborar um questionamento claro que ele buscará responder com o processo de investigação. Gil 
(2008) propõe que o problema tenha um caráter científico, ou seja, permita que através dele 
desemboque um método científico. 
Perguntas muito genéricas não são bons problemas de pesquisa, pois são pouco 
instrumentalizadoras para o projeto. 
Exemplos: 
 A saúde mental é importante? 
 O trabalho do professor ajuda na aprendizagem? 
 Acidentes de trânsito são influenciados por estados psicológicos? 
Dentro do cenário científico mais amplo, é possível que essas perguntas genéricas sejam 
respondidas diante do acúmulo de pesquisas em cada campo. Entretanto, cada pesquisa deve 
partir de uma delimitação que a torne exequível. É importante que o problema de pesquisa reflita 
o objeto de estudo do pesquisador, e apresente os fenômenos que poderão ser testados ou 
investigados, através do método que será adotado, traçando assim um melhor caminho para as 
etapas seguintes. Reescrevendo os problemas anteriores, algumas possibilidades seriam: 
Exemplo: 
 Qual o impacto da participação de indivíduos em grupos terapêuticos da Unidade 
Básica de Saúde X na sua qualidade de vida? 
 Como professores do primeiro ano do ensino fundamental I de escolas públicas de 
Salvador avaliam a importância da mediação no ensino de ciências? 
 Qual a relação entre os índices de atenção concentrada e acidentes de trânsito entre 
motoristas de ônibus da cidade de São Paulo em 2019? 
Ademais, para Gil (2008), ao formular um problema, o pesquisador deve se atentar aos 
seguintes critérios: 
(a) o problema deve ser formulado como pergunta; 
(b) o problema deve ser claro e preciso; 
(c) o problema deve ser empírico; 
(d) o problema deve ser passível de solução; 
(e) o problema deve ser delimitado a uma dimensão viável. 
Etapa 3: Definição da hipótese e pressupostos 
Especialmente em pesquisas quantitativas, atota-se o uso de hipóteses. A hipótese é 
uma resposta preliminar ao problema de pesquisa. Obviamente, essa resposta não parte de 
presunções rasas, mas emergem do processo de aprofundamento preliminar do pesquisador. 
O caráter essencial da hipótese é a possibilidade de sua testagem. Espera-se que o 
resultado da pesquisa determine se a hipótese é verdadeira ou falsa. Eis a divergência entre 
sua utilização em algumas pesquisas, especialmente nas qualitativas. Digamos que o problema de 
pesquisa seja: quais as implicações do isolamento social nas relações familiares brasileiras? Seria 
impossível adotar uma hipótese passível de testagem a um problema como esse, pois – embora a 
literatura possa auxiliar o pesquisador na formulação de algumas suposições – as possibilidades 
de resposta para tal questionamento são infindáveis e os resultados válidos são múltiplos. 
Digamos, entretanto, que o pesquisador formule o seguinte problema: qual o impacto da 
aglomeração com a capacidade de concentração? Nesse caso, um delineamento quantitativo seria 
ideal, pois há possibilidade de controle das duas variáveis em questão: aglomeração e 
capacidade de concentração. Uma hipótese possível e testável seria: quanto maior a 
aglomeração presente, mais baixa a capacidade de concentração do indivíduo. 
Apoiando-se no princípio da falseabilidade, todo o trabalho de pesquisa volta-se a provar 
que a hipótese é falsa. Se os resultados,por outro lado, não concluírem que a hipótese é falsa, 
considera-se a hipótese plausível. 
Na impossibilidade de formulação de hipóteses, no sentido estrito do termo, considera-se 
que todo pesquisador parte de pressupostos sobre os possíveis resultados da sua pesquisa. 
Embora os pressupostos não possam ser considerados antes da realização da pesquisa, sob o 
risco de enviesar os resultados, eles estão presentes e devem ser explicitados para maior clareza 
sobre a situação de pesquisa. 
Etapa 4: Definição dos objetivos de pesquisa 
O problema de pesquisa origina um ou mais objetivos a serem alcançados pelo pesquisador. 
São os objetivos que deverão ser alcançados através do método adotado. Observa-se, 
portanto, uma estrita relação entre objetivo e métodos. 
Por exemplo, se o objetivo de um estudo for determinar a incidência de transtornos fóbicos 
na população do bairro da Ribeira, o método deve apresentar uma abordagem quantitativa que 
revele em números tal incidência. Caso o pesquisador adote como método a realização de 
entrevistas semiestruturadas com gestores da assistência social no bairro da ribeira, não será 
possível atingir o objetivo proposto. 
Nesse sentido, Creswell (2007) afirma que a declaração do objetivo “é a declaração mais 
importante de todo o estudo, e precisa ser apresentada de maneira clara e específica”. Em artigos 
acadêmicos, os objetivos são parte fundamental a serem apresentados nos resumos, pois orientam 
toda a leitura que se seguirá. 
A declaração do objetivo costuma iniciar com verbos de ação. Há inúmeras listas de verbos 
disponíveis para tanto, porém cabe ao pesquisador estar atento sobre cada palavra usada, pois há 
o risco de o objetivo não coincidir com o método adotado. Alguns exemplos de verbo são: elucidar, 
comparar, investigar, estabelecer, constatar, identificar, inferir, descrever, etc. 
Comumente, o objetivo geral se assemelha ao problema da pesquisa. Retomando o exemplo 
apresentado anteriormente, uma boa declaração de objetivo seria: relacionar contextos de 
aglomeração com a capacidade de concentração em estudantes universitários. 
Objetivos específicos são desdobramentos do objetivo geral e devem ser descritos propondo 
parcelas de aquisições necessárias para atingi-lo. 
 
Etapa 5: Definição do método 
Nesta etapa, o pesquisador irá definir com precisão todo o procedimento metodológico que 
será adotado. Como vimos, as etapas anteriores servem de base e trazem informações relevantes 
que contribuem para essa elaboração. O pesquisador deve explicitar: 
Delineamento: inicialmente deverá ficar claro qual o delineamento metodológico a ser 
adotado. Essa parte corresponde ao núcleo de definição do método e orienta o pesquisador na 
condução da pesquisa. Será um estudo explicativo, descritivo ou longitudinal? Qualitativo ou 
quantitativo? Qual procedimento metodológico a pesquisa adotará? 
Participantes: determinar exatamente quais serão os participantes e qual o critério de 
seleção. Será uma seleção por conveniência? Será uma amostra aleatória? Será uma coorte? 
Local/cenário de pesquisa: informar qual o cenário físico onde a pesquisa ocorrerá. Em 
psicologia, essa questão é fundamental, pois um mesmo procedimento metodológico aplicado em 
espaços distintos pode gerar resultados também distintos. Exemplo: imagine uma pesquisa sobre 
violência familiar. O pesquisador pode entrevistar uma pessoa em ambiente doméstico, na escola 
ou em algum serviço público de atenção à violência. Os resultados possivelmente serão distintos, 
em especial pela disponibilidade dos participantes em dialogarem sobre o tema em cada um desses 
locais. 
Instrumentos: descreve-se quais recursos auxiliarão o pesquisador na busca pelos 
resultados: observação, diário de campo, testes e escalas, entrevistas, questionários, etc. Observe 
que todas essas parcelas são conectadas. Se o pesquisador realizará uma pesquisa narrativa, não 
cabe centrar a coleta em um instrumento puramente quantitativo. 
Procedimento de coleta: além da descrição dos instrumentos, o pesquisador deve explicitar 
como a coleta de dados ocorrerá. Será um único encontro? Há uma sequência na aplicação dos 
instrumentos? Quantos pesquisadores participarão? 
Procedimento de análise: quais ferramentas o pesquisador utilizará para interpretar os 
dados? Esses procedimentos variam bastante conforme o delineamento adotado. Em pesquisas 
quantitativas, certamente serão utilizados métodos de análise estatística. Em pesquisas 
qualitativas, o pesquisador pode recorrer a outros métodos, frequentemente centrados na 
compreensão dos discursos ou na descrição de fenômenos observados. 
No processo inicial de delimitação de um projeto de pesquisa, todas as etapas apresentadas 
são interdependentes. O pesquisador deve revisá-las após cada avanço, de modo a garantir um 
projeto com coerência interna entre métodos, objetivos e problemas, tornando a pesquisa possível 
e viável. Salienta-se que há autores que apresentam outras divisões didáticas, porém a construção 
de uma lógica e sistematização de um processo de pesquisa sempre seguirá no sentido de 
obter resposta a um problema formulado pelo pesquisador. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
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Superior. Parecer 0062/2004. Aprovado em 19/02/2004, fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais 
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BRASIL. Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Educação 
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