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AULA 4 GESTÃO DE RECOMPENSAS NO CONTEXTO GLOBAL Profª Maura Vello 02 CONVERSA INICIAL Olá! Aqui estamos para mais uma etapa desta jornada de estudos! Nossa linha de raciocínio vem se desenvolvendo sob um novo olhar acerca das relações entre pessoas e organizações e seus desdobramentos. Afinal, num mundo que se mostra em constante processo de evolução não há como não se repensar muitos dos contextos que nos envolvem, entre eles a nossa relação com o trabalho, seja como colaboradores, empregadores ou gestores. A ideia então é mudar as lentes do que vemos nas relações de trabalho, até poucos anos atrás conhecidas unicamente como processos de troca entre prestações de serviços e mão de obra por salários e remuneração. Ou seja, as pessoas entregavam o que a empresa esperava e eram remuneradas por isso. No entanto, as expectativas de ambos os lados vão bem além desse simples processo de troca. Atualmente salário e pacote de benefícos básicos (como os garantidos por lei ou por acordos coletivos sindicais entre empregados e empregadores) são o ponto de partida do mínimo esperado para que haja uma relação justa e equilibrada entre pessoas e empresas, certo? Estamos falando de uma grande parte das diversas empresas e dos mais variados ramos de atividades que se enquadram neste contexto – e sim, também estamos falando de uma boa parcela da população ativa economicamente no país. Assim, temos nos extremos diferentes desafios: numa ponta, empresas que precisam pensar novas políticas e estratégias de gestão e desenvolvimento de pessoas, incluindo as questões voltadas à remuneração e reconhecimento de pessoas que vão além das questões financeiras; e na outra ponta, as pessoas que, da mesma maneira, precisam entender que a responsabilidade de ser apto à contratação por uma organização recai sobre o indivíduo. Isso siginfica que permanecer qualificado para o mercado de trabalho é parte do processo que depende das pessoas, ou seja, entrar na era do que hoje conhecemos como empregabilidade. Mas o foco do nosso estudo nesta aula se voltará aos desafios das organizações. Veremos um pouco mais sobre as questões relacionadas às formas de remuneração e recompensa e seus métodos, a adoção de modelos de recompensa como parte do planejameto estratégico das empresas na direção de reconhecer esforços, desenvolver pessoas e atingir resultados. 03 CONTEXTUALIZANDO Vamos falar um pouco sobre vida, trabalho e realização. Hoje alguns estudos mostram que diferentes comportamentos relacionados ao trabalho e à carreira dependem da geração e das expectativas geradas e aprendidas por cada uma delas ao longo dos anos. Vamos ver isso melhor. As chamadas gerações X, Y e Z têm uma relação diferente com o mundo a sua volta, e isso inclui trabalho, a importância da carreira e satisfação pessoal, ganhos financeiros e multifuncionalidade, acúmulo de bens materiais ou experiências e conhecimentos, conexão com a segurança ou com a liberdade. Ou seja, para cada uma dessas gerações, o peso dado a esses aspectos é diferente. Vamos ver algumas das características dessas gerações, segundo Meyer (2014) para ficar mais claro: a geração X, que segundo pesquisas é representada pelas pessoas que nasceram entre os anos 1960 e 1970, são as pessoas que ainda viveram sem internet e viram o surgimento do computador pessoal, da internet, do celular, da impressora, do e-mail, das tecnologias da Era Digital. Geralmente buscavam estabilidade e o desenvolvimento de carreiras nas empresas. A geração Y é representada pelos que nasceram entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1990. Ela foi marcada pelo avanço da tecnologia, e as pessoas dessa geração são vistas como multitarefas, podendo ao mesmo tempo trabalhar em mais de um projeto. Essa é considerada a primeira geração verdadeiramente globalizada e que teve contato com a tecnologia desde a primeira infância. A geração Z é representada pelas pessoas que nasceram a partir do início dos anos 1990. São conhecidas como pessoas que não conhecem o mundo sem a tecnologia. Com relação a trabalho, a grande maioria já não acredita mais em fazer uma só coisa para o resto da vida e quer viver diferentes experiências. Agora imagine o desafio das organizações em trabalhar com essa gama de diferentes perfis comportamentais, com expectativas tão distintas em seus ambientes e internos, reconhecendo e valorizando seus profissionais, buscando desenvolver e reter talentos e ainda tendo a tarefa de transformar esse ambiente atrativo aos talentos que estão disponíveis no mercado e que possam vir a agregar valor à empresa. 04 Todo esse processo passará por valores, culturas e a forma como a empresa quer ser vista pelas pessoas no mercado, mas também passa pelos processos de gestão de remuneração, reconhecimento e recompensa, que vamos ver agora. TEMA 1 – CONCEITOS SOBRE REMUNERAÇÃO E RECOMPENSAS Vamos tratar de alguns conceitos relacionados aos sistemas de remuneração e recompensas mais usados pelas organizações e também aos processos de mudança que buscam modernizar estes sistemas para atender às novas demandas do mercado e alcançar o propósito de remunerar de forma adequada as pessoas, além de proporcionar ambiente corporativo propício ao desenvolvimento das competências exigidas tanto de colaboradores quanto da própria organização. Desta forma, o processo de construção de modelos de remuneração precisa estar alinhado ao planejamento estratégico das empresas a médio e longo prazo, bem como contemplar desempenho e competências de seus colaboradores e direcioná-los para que se chegue aos resultados esperados para a organização. Standler e Pampolini, (2014, p. 34) trazem o conceito de remuneração como sendo “o conjunto de todas as formas de pagamentos e recompensas que os trabalhadores recebem”. A remuneração é considerada pelos autores uma atividade delicada na gestão de pessoas, pois refletirá o retorno financeiro em troca do desempenho dos colaboradores de uma organização. Assim, quando uma organização desenvolve seu modelo de remuneração, ela precisa ter muito cuidado com equidade e justiça, principalmente se adotar formatos orientados para remuneração por desempenho e entrega de resultados como diferencial e fator de reconhecimento. Chiavenato (2014, p. 240) comenta que “cada colaborador está interessado em investir com seu trabalho, dedicação e esforço pessoal, conhecimento e competências desde que tenha certeza de receber uma retribuição adequada”. O autor ainda contribui dizendo que, por outro lado, empresas estão dispostas a investir em boas políticas de remuneração e recompensas para que possam receber em contrapartida a dedicação e entrega de resultados esperados. 05 Assim, o desafio das organizações está em desenvolver sistemas de remuneração e recompensas que promovam equidade, satisfação, motivação ao desenvolvimento pessoal e aos objetivos coletivos. Outra preocupação que as organizações precisam ter é em relação ao que o mercado está praticando, pois aquelas que estão desalinhadas com o que se pratica atualmente correm riscos de perder pessoas estratégicas para concorrentes – e isso pode significar perdas não apenas financeiras, mas de competências importantes para empresa. Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 242) apresentam a seguinte leitura sobre esse aspecto: Há muitas maneiras de remunerar os empregados. O processo de estabelecer níveis de remuneração pode ser complexo e envolve equilibrar o valor do trabalho para a organização, geralmente estabelecido por um processo técnico, chamado avaliação profissional, e a competitividade externa da remuneração de uma organização em relação à remuneração média em sua área de atuação, geralmente determinada por pesquisas de mercado. Os autores ainda comentam que algumas organizações preferempagar acima da média do mercado com o objetivo de atrair talentos e manter os que já estão na empresa. Por outro lado, também existem aquelas que fazem o inverso e assumem o risco de ter seus bons profissionais sendo abordados e indo para outras empresas com maiores remunerações. Nesses casos, geralmente são empresas que apresentam maior turnover, o que deveria merecer uma avaliação mais cuidadosa, pois ter de recontratar e treinar novas pessoas em curtos espaços de tempo pode gerar mais custos para empresa. Então temos aqui outra função das políticas de remuneração, relacionada a retenção e motivação de talentos geradores de competências organizacionais e capital intelectual, mas também à função de atração de novos talentos que agreguem valor para as organizações. Ainda é preciso lembrar que, em geral, a remuneração é um dos custos operacionais mais altos dentro das organizações. Assim, tais políticas de remuneração precisam ser bem planejadas e estar bem alinhadas às estratégias da empresa, para que não se tornem onerosas demais e acabem por afetar resultados. Por exemplo, um planejamento mal feito com relação à remuneração variável pode desmotivar pessoas e afetar resultados. O inverso também pode ocorrer: pagamentos de salários muito altos e variáveis com margens de crescimento dos negócios que não sejam proporcionais podem levar a resultados negativos ao final de um ano fiscal. 06 A composição da remuneração nas empresas tem seguido a linha estratégica em que é considerado o contexto organizacional como um todo. Assim, a remuneração passa a ser desenhada por meio da observação de uma série de fatores que envolvem os resultados da empresa e o quanto cada pessoa ou área colaborou para que os objetivos da empresa fossem alcançados. TEMA 2 – MÉTODOS TRADICIONAIS E MODERNOS NA COMPOSIÇÃO DE REMUNERAÇÃO As políticas ou métodos de remuneração são variados e adequados conforme a estratégia e o interesse de cada empresa. Vamos ver a seguir alguns desses métodos que norteiam as organizações no desenho das suas próprias políticas de remuneração e recompensa. O método de remuneração mais usado pelas empresas (e, obviamente, o mais tradicional) é o método funcional, também conhecido como plano de cargos e salários. Segundo Chiavenato (2009), a composição de um plano de cargos e salários partirá da análise de fatores internos e externos. Quadro 1 – Fatores influenciadores em um plano de cargos e salários Fonte: Chiavenato, 2009, p. 76. Na imagem anterior é possível observar que as organizações trabalham com fatores controlados por ela – os fatores internos, que podem ser desenhados e ajustados conforme suas necessidades e capacidades – e com fatores sobre os 07 quais não há controle direto, com os quais a organização precisa trabalhar ou aos quais deve se adequar. Em geral, referem-se a fatores legais como, por exemplo, legislação trabalhista e acordos coletivos e sindicais, ou ainda as previsões de possíveis cenários. Nesse método mais tradicional, o planejamento resultará no desenho dos principais componentes desse modelo, a seguir descritos: • Descrição dos cargos: descreve as atividades realizadas pelo colaborador. • Avaliação dos e cargos: transforma dados qualitativos das funções, como conhecimento, experiência, habilidades e capacidade para desempenhar o trabalho, em dados qualitativos para estabelecimento de valores de bases salariais. • Desenho das faixas salariais: estabelece limites mínimos e máximos de faixas de salários por cargos e hierarquias. Há ainda nessa composição fatores que a maioria das empresas adota como parte indireta da remuneração, mas que acabam compondo esse pacote. Esses fatores se referem aos benefícios incluídos pelas empresas e que podem variar, desde assistência médica, previdência privada, assistência odontológica, transporte, alimentação, creche, subsídios a estudos do colaborador e dependentes, ou até mesmo carros da empresa e moradia, em alguns casos. Até pouco tempo os pacotes de benefícios eram disponibilizados aos empregados pelas empresas sem opção de escolha, e muitas vezes alguns deles podiam não ter a mesma representatividade para as pessoas em função das suas diferentes necessidades – por exemplo, o auxílio-creche não faz o menor sentido para pessoas sem filhos. Atualmente já existem planos que permitem algumas escolhas ao colaborador, flexibilizando assim os pacotes de acordo com as suas necessidades. Apesar deste ainda ser um dos sistemas de remuneração mais usados, já se percebe sua limitação para atender a questões mais complexas e estratégicas relacionadas a remuneração e recompensas nas empresas. Assim, algumas vêm abandonando esta prática para adotar modelos mais flexíveis, como os modelos de remuneração por desempenho e competências que acabam se adequando melhor aos novos mecanismos da própria empresa e do mercado. 08 A solução é flexibilizar as formas de remuneração e reconhecimento de seus colaboradores. Assim, surgem os novos formatos e políticas mais alinhados às estratégias corporativas mais dinamizadas. Vejamos no quadro a seguir como as organizações vêm compondo as remunerações para atender a estas novas configurações de trabalho. Segundo Chiavenato (2014), a remuneração total é composta por quatro componentes: Quadro 2 – Os quatro componentes da remuneração total Fonte: Chiavenato, 2014, p. 240. Para que as organizações se adequem ao novo contexto ambiental mais dinâmico, com organizações interconectadas e globalizadas que muitas vezes estão em operação 24 horas por dia em unidades espalhadas pelos diversos continentes, emergem novas configurações de trabalho e com elas a necessidade de novos modelos de remuneração, que permitam atender às demandas das organizações na composição de salários e recompensas mais flexíveis e menos presas a padrões engessados. Obviamente, cada organização encontrará um modelo que melhor se adequa às suas necessidades e se alinha a sua estratégia, mas pode usar os conceitos para adotar um direcionamento com diferentes combinações que atendam às suas necessidades. Existem ainda outros fatores que vêm sendo observados pelas organizações, que incluem nas suas estratégias processos de reconhecimento de habilidades, competências e meritocracia, e que estão sendo usados para atribuir diferentes remunerações por meio de recompensas aos colaboradores que se destacam. Estes são apenas alguns exemplos que surgem e que vamos ver melhor a seguir. 09 TEMA 3 – A ADOÇÃO DE MODELOS DE INCENTIVO E RECOMPENSA COMO PARTE DA ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL Um dos aspectos fundamentais na adoção dos novos modelos de remuneração é a promoção da valorização dos resultados agregados por meio de desempenho, esforço e competências desenvolvidas pelas pessoas, que se traduzem em inteligência corporativa e diferencial competitivo fortalecendo e destacando a organização no mercado. Porém, é importante ressaltar que para se chegar a esses resultados o processo é longo e passa, antes de tudo, por planejamento estratégico. As políticas de remuneração e recompensa precisam estar alinhadas com as estratégias, bem como com as expectativas das pessoas que irão promover os resultados esperados. Além do alinhamento com os objetivos estratégicos das organizações é preciso também que as áreas de gestão de pessoas estejam atentas a outro aspecto fundamental: os programas de recompensa não podem e nem devem estar apenas atribuídos a ganhos financeiros. Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 176) conceituam que “o sistema de recompensa da organização influencia os tomadores de decisões ao lhes sugerir escolhas em matéria de resultados pessoais”, e estes não estão relacionados apenas a questões financeiras, mas também a incentivos mais sutis como garantias de emprego, promoçõesou alocações que promovam o desenvolvimento profissional e o reconhecimento de capacitação, bem como mecanismos que as organizações usam para reconhecer desempenhos acima do esperado. Vale ainda lembrar que o reconhecimento independe do tamanho da empresa, podendo ser promovido em qualquer nível, desde um elogio direto até a adoção de divulgações que promovam os colaboradores que se destacaram. Robbins (2004, p. 64) comenta que “para maximizar a motivação potencial decorrente do reconhecimento, uma boa forma é tornar público o nome dos que estão sendo elogiados e os motivos pelo cumprimento”. O autor cita o caso da Prudencial Insurance, que possui um programa de reconhecimento em que os seus executivos são estimulados a divulgar os destaques das suas equipes, detalhando os motivos e as conquistas alcançadas e quais recompensas foram oferecidas. Ou seja, além dos destaques e reconhecimento de chefes e colegas de trabalho, as pessoas ainda são 010 estimuladas por fatores que podem ir de elogios a mudanças de cargos, transferências, novos desafios, prêmios, entre outros. Para compreender melhor como as organizações se norteiam na composição de incentivos e recompensa, veja a seguir um mapa mental que demonstra melhor os componentes que podem fazer parte da composição e do desenho de um modelo organizacional de recompensas. Quadro 4 – Mapa mental de fatores que podem compor programas de incentivo e recompensas Fonte: Chiavenato, 2014, p. 287. O autor também reforça que existem alguns fatores-chaves que levam as organizações à adoção de modelos de recompensa como parte estratégica para atingir seus resultados. Veja: • Ampliar o nível de engajamento e responsabilidade de colaboradores e das áreas em relação aos objetivos a serem alcançados e à missão da organização, bem como ampliar seu alcance em relação à visão de futuro da empresa e de sua própria permanência na organização. • Ampliar os níveis de consciência quanto à interdependência de colaboradores e áreas, entre as próprias áreas e entre as áreas compondo 011 a organização como um todo. Ou seja, um não sobrevive sem o outro e vice-versa. • Incentivar ações que agreguem valor em todos os níveis, seja individualmente, no trabalho do colaborador, no trabalho em equipe ou nas ações da organização como um todo, sendo sempre reconhecida a excelência no que se faz em todos esses níveis. Temos então as recompensas ligadas aos fatores financeiros, como premiações por atingimento de metas ou por excelência em serviços e comissões por crescimento em vendas, aumento da produção ou dos lucros. Porém, existem ganhos que virão em outras formas não financeiras: estudiosos têm percebido que ambas apresentam valores importantes para as pessoas, e que não é apenas a questão financeira que faz a diferença. Um bom plano de incentivos e sistema de recompensas alinhado aos objetivos da organização pode ser um grande diferencial para empresas que estejam dispostas a investir em novos modelos de gestão de pessoas, voltados às suas necessidades e que promovam aqueles que de fato fazem a diferença no seu dia a dia, seja pelo desenvolvimento de competências pessoais ou pelo capital intelectual corporativo. TEMA 4 – SISTEMAS DE INCENTIVO E RECOMPENSAS Um bom plano de incentivos e sistema de recompensas alinhado aos objetivos da organização pode ser um grande diferencial para empresas que estejam dispostas a investir em novos modelos de gestão de pessoas voltados as suas necessidades e que promovam nas pessoas o pertencimento e engajamento e que percebam que de fato fazem a diferença no seu dia a dia, seja através do desenvolvimento de competências pessoais ou do capital intelectual corporativo acumulado por elas. A relação entre pessoas e organização precisa gerar uma percepção de reconhecimento e o sentimento de realização e recompensa, pois se o caminho construído por ambos os lados segue essa direção irá gerar uma relação justa de troca que se refletirá na existência de equilíbrio e justiça. Segundo Rosa (2012, citado por Martins, 2016, p. 10), atualmente a oferta de uma colocação nas organizações deve ser considerada mais do que um trabalho, levando a uma maior criatividade em relação às formas de recompensas, com o objetivo de ligar a organização e os colaboradores. Essa criatividade deve- 012 se à preocupação de oferecer as melhores condições para a atração dos melhores colaboradores nas organizações, mas isso nem sempre é fácil num mercado que se encontra em constantes alterações. Chiavenato (2014, p. 284) ressalta alguns aspectos fundamentais que devem ser levados em conta pelas organizações para uma boa implantação de um modelo de incentivo e recompensa. Vejamos: • Relação clara entre esforço e recompensa: assegurar que esforços e recompensas apresentem relações claras, ou seja, o plano de recompensa deve ser diretamente proporcional a sua produtividade, sendo ambos atingíveis. A organização deve proporcionar as condições necessárias para tanto. • De fácil compreensão: deve-se proporcionar aos colaboradores a capacidade de cálculo claro de resultados e recompensas. • Padrões justos e eficazes: os objetivos devem ser claros, específicos e justos, mas passiveis de alcance pelos colaboradores. • Garantir os padrões: os padrões devem ser vistos como um contrato formal ou psicológico com os colaboradores. • Proporcionar apoio ao plano: o plano deve receber apoio de todos os dirigentes e gestores para ter credibilidade. A percepção em relação ao valor intangível gerado pelo conhecimento e pelo trabalho desenvolvido pelas pessoas, agregando valor às organizações, já se torna um motivo forte o bastante para que esteja entre os seus principais objetivos estratégicos desenvolver um modelo de incentivo e recompensa que se alinhe a expectativas organizacionais, mas que também seja capaz de motivar, desenvolver, reter e atrair talentos. Vejamos agora alguns aspectos práticos em relação ao desenvolvimento de modelos organizacionais de recompensas. É importante ressaltar que desenvolver sistemas de recompensa é um trabalho bastante complexo e que não existem modelos prontos que se encaixem nas empresas, até mesmo porque cada empresa apresenta características próprias e o desenvolvimento de políticas de recompensas deverá se adequar aos seus interesses e aos fatores motivacionais de seus colaboradores. Em função desses aspectos teremos então as recompensas consideradas intrínsecas e extrínsecas. Segundo Atkinson et al. (2000, p. 719), temos: 013 - Recompensas Intrínsecas: Referem-se à satisfação na realização do trabalho em si, às responsabilidades e tarefas desempenhadas. Partem do próprio indivíduo e representam a sua satisfação em realizar seu trabalho e a partir dele ter oportunidades de crescimento pessoal e profissional. - Recompensas Extrínsecas: Referem-se ao reconhecimento pelo seu esforço e contribuição por parte da empresa que reconhece a importância do seu trabalho e valoriza seu trabalho e participação nos resultados. Para entender melhor, vejamos a seguir um modelo de sistema de recompensas. Quadro 3 – Modelo de sistema de recompensas Fonte: Camara, 2011, citado por Martins, 2016, p. 14. Observando o modelo acima, fica mais clara a diferença entre esses dois tipos de recompensa: enquanto as intrínsecas estão relacionadas a aspectos que estão praticamente ligados a questões de satisfação pessoal (que podem tanto ser alcançadas pelo próprio esforço como impulsionadas e motivadas por fatores vindos do ambiente), as extrínsecas estão mais voltadas às ofertas de recompensas vindas da organização, ou seja, são estímulos externos, mas impulsionam o colaborador na direção do atingimento de objetivos coletivos. 014 TEMA 5 – RECONHECIMENTO TAMBÉM É RECOMPENSA! Tratamos de diversosconceitos e aspectos relacionados ao que são considerados remuneração, incentivos e recompensas. Nesta parte final da aula, vamos tratar do reconhecimento de fato, aquele que faz com que as pessoas permaneçam numa empresa por sentirem que fazem parte dela, que fazem a diferença, aquele sentimento que muitos procuram em ter orgulho do que faz e de onde trabalham. Robbins et al. (2014, p. 64) relata que “há alguns anos realizou-se uma pesquisa de mercado com 1.500 trabalhadores de diversos segmentos, com o objetivo de detectar o que para eles, atuava como agente motivador no trabalho, A resposta? Reconhecimento, reconhecimento, reconhecimento!”. Os autores estão se referindo à Teoria do Reforço, segundo a qual recompensar um esforço por meio do reconhecimento imediato promove e reforça o comportamento, ou seja, impulsiona o colaborador na busca por melhoria contínua. Vejam que esse reconhecimento não está relacionado ao tipo de trabalho que se realiza ou ao tamanho da empresa, nem ao quanto se ganha, mas sim aos aspectos de reconhecimento – e este vem do próprio indivíduo com a sua satisfação pessoal e sua relação com o trabalho, bem como com o próprio ambiente empresarial, a cultura, as pessoas e o processo de reconhecimento e recompensa que a empresa adota. Ainda que o programa de reconhecimento não envolva valores financeiros, é importante definir algumas regras básicas para que as pessoas se sintam inseridas no contexto, entendam o processo de escolha de quem está sendo reconhecido. Assim, os autores trazidos por Walger, Viapiana e Barboza (2014, p. 102) recomendam os seguintes cuidados: Defina parâmetros - a empresa deve assegurar os parâmetros, garantindo a todos a oportunidade de participação. Conceda um prêmio mesmo que simbólico - é importante tornar o reconhecimento público, nem que seja uma divulgação dos melhores, ou até mesmo oferecer um dia de folga como recompensa. Comunique o programa - é fundamental que todos saibam e tenham clareza do programa. Vou compartilhar com vocês uma experiência pessoal que foi muito significativa e marcante para mim. Trabalhei durante muitos anos numa multinacional que todos os meses convidava os colaboradores que se destacavam em todas as unidades do Brasil 015 e em todas as áreas da organização para um almoço com o CEO e alguns diretores. Esses almoços aconteciam em diferentes restaurantes e cidades do país, sendo sempre uma surpresa para os funcionários qual seria o local do almoço em cada mês. Esse processo não representava um custo muito alto para a empresa, que era de grande porte, mas para as pessoas representava um reconhecimento bacana, pois esses eventos de reconhecimento por desempenho aconteciam sempre em lugares inesperados e geralmente muito bonitos. Além disso, os almoços tiravam as pessoas premiadas da rotina e, posteriormente ao evento, as fotos e os nomes de todos os destaques do mês eram divulgados nas várias mídias internas da empresa. As pessoas gostavam muito e se sentiam valorizadas e felizes. O reconhecimento também pode vir de forma simples. Essa mesma multinacional tinha por rotina mandar servir café da manhã em todos os seus escritórios espalhados pelo mundo, pois a empresa acreditava que esta era uma forma de reconhecer o empenho e a dedicação das pessoas à empresa. Em alguns desses cafés da manhã, os escritórios que eram destaque recebiam visitas surpresa do CEO para agradecer pessoalmente pelo empenho de todos os colaboradores. Mas o reconhecimento também vinha de forma sofisticada: quem atingia os melhores resultados de cada ano era premiado com viagens caras ao exterior, que duravam em média de 7 a 10 dias, com acompanhante e tudo pago. Neste caso você deve estar pensando: “Mas aí envolve a parte financeira”. De fato, há custo sim, mas o custo era da empresa. Aos colaboradores ficava o reconhecimento e a experiência da viagem, além de serem tratados com apreço e respeito. O processo de reconhecimento também acontece fora das empresas: pode vir dos familiares na forma de gratidão, pode vir dos amigos, da comunidade, de um estranho que você ajudou. Um filho que se forma, sabendo do sacrifício feito pelos pais para que ele pudesse chegar a essa conquista (e esses pais às vezes não tiveram a mesma oportunidade), será grato a eles, pois sabe que seus caminhos serão diferentes graças aos seus esforços. Isso parece familiar? É recompensador? Com certeza sim, para ambos os lados. Algumas realizações pessoais muito particulares podem ser tão recompensadoras quanto a que acabei de mencionar. Poderíamos elencar aqui 016 uma lista enorme delas, mas, como comentamos, são particulares, então cada um de nós terá suas prioridades. Mas uma relação comum entre nossas listas é certa: uma boa parte delas irá gerar em nós sensações de reconhecimento e recompensa que definitivamente não estão relacionadas a ganhos financeiros. Para finalizarmos, convido você a assistir ao vídeo indicado, que trata das questões de percepção do que é reconhecimento e o que ele produz nas pessoas. Acesse o vídeo: <https://youtu.be/QdnXqNkrsAE>. FINALIZANDO Chegamos ao fim de mais uma aula! Agradeço sua companhia e gostaria apenas de relembrar alguns assuntos abordados. Iniciamos falando sobre um novo olhar nas relações entre pessoas e organizações, seus desdobramentos e os desafios das organizações em desenvolver novas politicas e estratégias de gestão e desenvolvimento de pessoas, incluindo as questões voltadas a remuneração e reconhecimento de pessoas, que vão além das questões financeiras. Passamos então a tratar de alguns conceitos relacionados aos aspectos fundamentais na adoção dos novos modelos de remuneração e a promoção da valorização dos resultados agregados por meio do desempenho, esforço e competências desenvolvidos pelas pessoas. Trabalhamos com os sistemas de incentivo e recompensa e a importância de que a relação entre pessoas e organização gere uma percepção de reconhecimento e o sentimento de realização. Por fim, tratamos de alguns aspectos relacionados a reconhecimento que não estão atrelados a questões financeiras, mas à realização pessoal e ao quanto este aspecto está inserido em nosso contexto, seja no âmbito profissional ou em outras áreas da nossa vida. 017 REFERÊNCIAS ATKINSON, A. A. et al. Contabilidade gerencial. Tradução de André Olímpio Mosselman Du Chenoy Castro; revisão técnica de Rubens Famá. São Paulo: Atlas, 2000. CHIAVENATO, I. Remuneração, benefícios e relações de trabalho: como reter talentos na organização. 6. ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2009. ______. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2014. MARTINS, A. P. C. O desenho do sistema de recompensas de uma organização do setor bancário. 66 f. 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