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Tema 1 LEGISLAÇÃO APLICADA

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LEGISLAÇÃO APLICADA
AULA 1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Rosinda Angela da Silva
CONVERSA INICIAL
Neste momento, iniciamos os estudos acerca da legislação aplicada ao contexto das atividades
logísticas, considerando também noções de tributação. No entanto, devido à complexidade das
temáticas, iniciaremos a construção do conhecimento por meio dos elementos basilares.
Iniciaremos esse processo com os conceitos introdutórios e o entendimento da legislação como
elemento regulador das atividades na sociedade. Na sequência, conheceremos o que são leis e quem
as cria no Brasil e também discutiremos que, na prática, a legislação age como elemento de equilíbrio
nos negócios. Abordaremos, ainda, a contribuição da logística para a evolução do comércio e
finalizaremos com as primeiras noções de tributação.
Bons estudos!
CONTEXTUALIZANDO
Ao começarmos nossos estudos, precisamos desmistificar que legislação é assunto somente para
advogados. Essa premissa é essencial para que possamos compreender a importância em conhecer
pelo menos a legislação básica, que afeta nossa área de negócios.
Cada vez mais as empresas necessitarão de profissionais capazes de tomar decisões em
ambientes incertos, em termos de estratégia, mas extremamente regulados em termos de legislação.
São tantas leis, decretos, instruções normativas, regulamentos, medidas provisórias, emendas
constitucionais e outros, que realmente precisaríamos de muito tempo para conhecer tudo isso. No
entanto, se cada profissional se esforçar para adquirir um pouco de conhecimento sobre os aspectos
legais inerentes às suas atividades principais, certamente os erros diminuirão.
Pense que na área de logística, por exemplo, erros significam custos! Isso porque muitos erros
podem gerar multas e sobretaxas que podem ser evitadas se os colaboradores souberem o impacto
de cada falha. Cada área da logística é regida por diferentes normas e regulamentos, como no
transporte nacional e internacional, na armazenagem, na movimentação, no inventário, nos seguros,
nos contratos, entre tantos outros.
É diante desse cenário que iniciaremos os estudos da legislação aplicada, com vocabulário
acessível e convites à reflexão sobre os conteúdos apresentados.
TEMA 1 – A LEGISLAÇÃO COMO ELEMENTO REGULADOR 
Ao observarmos o comportamento da sociedade, percebemos certo padrão, não é mesmo? Isso
ocorre porque, para que as pessoas convivam umas com as outras sem conflitos, é preciso seguir
regras, normas, códigos, procedimentos, acordos e respeitar aspectos culturais da localidade onde
estão inseridas. Como exemplo, pense nos condomínios residenciais e até mesmo nos edifícios onde
centenas de pessoas dividem espaços comuns. Se não houver regulamentação (normalmente
chamado de Regulamento Interno – RI) e um síndico para organizar, é bem provável que a
convivência seja impraticável.
Créditos: ErenMotion/Shutterstock.
Nessa mesma linha, podemos traduzir isso para o cotidiano das organizações, em que as regras,
os regulamentos, a legislação, as normas e outros dispositivos auxiliam na manutenção de um
ambiente relativamente saudável para os negócios. Nesse sentido, você pode até pensar no papel do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), o qual atua para evitar que grandes empresas
se unam, formando cartéis e impossibilitando que os pequenos negócios floresçam.
É ingenuidade acreditar que a sociedade, representada pelas pessoas físicas, jurídicas e também
pelo Estado, convivam de maneira equitativa sem a necessidade da existência de regras claras e o
conhecimento das possíveis sanções ou penalidades, caso não sejam cumpridas. Por isso é
importante conhecermos nossos direitos e deveres, o que pode ocorrer por meio do estudo das
disciplinas de direito público e privado, onde os mais tradicionais são:
Figura 1 – Algumas áreas do direito
Fonte: elaborado com base em Magalhães, 2017, p. 22.
Na atualidade, temos outras áreas de extrema relevância, como: direito aduaneiro; ambiental;
comercial; do consumidor; desportivo; eleitoral; empresarial; humanos; penal; propriedade intelectual;
rural; tecnologia da informação ou digital; marítimo, contratual, imobiliário, entre outros.
Nesse momento, você se questiona: E eu preciso conhecer tudo isso? A resposta é não! No
entanto, precisa conhecer, no mínimo, os princípios gerais que regem a legislação que impacta no
seu negócio ou negócio da empresa em que você trabalha. 
1.1 PRINCÍPIOS DA CONSTITUIÇÃO
Para que a legislação seja aplicada na íntegra e de forma equitativa, é preciso que a sociedade
conheça alguns pontos basilares do direito, como os princípios e/ou fundamentos. A Constituição
Federal Brasileira, promulgada em 1988 (CF/88), traz princípios em diferentes áreas, sendo:
Princípios fundamentais
Art. 1º – “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito” (Brasil,
1988) e tem como fundamentos o que se inscreve no Quadro 1.
Quadro 1 – Incisos do Art. 1º da CF/88
 
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição.
 
Fonte: Brasil, 1988.
Igualmente relevante para nossa disciplina é o Art. 5º, que faz parte do Título II da CF/88, que
trata dos “Direitos e Garantias Fundamentais” e que, em seu Capítulo I (“Dos direitos e deveres
individuais e coletivos”), traz 78 incisos (LXXVIII), mas listaremos somente alguns:
·        Art. 5º – “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade” (Brasil, 1988), nos termos apresentados no Quadro 2.
Quadro 2 – Alguns incisos do Art. 5º da CF/88
 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer;
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
 
Fonte: Brasil, 1988.
Retornando aos princípios que estão convergentes com a nossa disciplina, ainda temos como
exemplos da CF/88, compilados por Magalhães, 2017, p. 74-77, os Princípios da Tributação e
Princípios Trabalhistas:
Princípios da tributação
Legalidade: para instituir ou aumentar o valor de um tributo é preciso uma lei ordinária ou
complementar.
Igualdade e capacidade contributiva: deve observar a capacidade econômica do
contribuinte.
Progressividade: extensão do princípio da capacidade contributiva: Considera graduação
de alíquotas de acordo com a capacidade contributiva.
Vedação do tributo com efeito de confisco ou princípio da razoabilidade da carga
tributária: não podem ser aplicados de forma excessiva que invada o patrimônio do
contribuinte.
Anterioridade do exercício financeiro: não pode ser cobrado no mesmo exercício
financeiro que a lei o criou.  Note que, no Brasil, esse exercício abrange de 1º de janeiro a
31 de dezembro, mas não quer dizer que, em outros países, seja a mesma realidade. 
Anterioridade nonagesimal: os tributos só podem começar a ser cobrados depois de 90
dias da publicação e sua vigência (noventena). Isso para que o contribuinte possa se
programar. No entanto, há exceções legais, por isso é importante sempre pesquisar sobre
qual tributo está sendo aplicado.
Irretroatividade dos tributos: a lei instituída não pode ser aplicada em fatos que já
ocorreram e já estão encerrados.No entanto, há exceções.
Imunidade recíproca: mesmo sendo de competência tributária dos entes federativos
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios), ainda assim, há casos em que a CF/88
impede a cobrança sobre patrimônio, renda e serviços uns dos outros. Ainda, há casos em
que essa imunidade recíproca é extensiva às suas autarquias, fundações instituídas e
mantidas pelo poder público (CF/88, Art.150).
Princípios trabalhistas
Proteção: considera que o trabalhador é o elo mais fraco da relação trabalhista. Nesse
caso, aplica-se a relação individual de trabalho e não às organizações como Sindicatos,
Associações, entre outros.
Norma mais favorável: entre tantas normas que podem ser utilizadas no direito
trabalhista, escolhe-se aquela que seja mais favorável ao trabalhador.
Manutenção da condição mais benéfica: caso a empresa ofereça condições de trabalho
melhores do que a legislação trabalhista exige, prevalecerá o que a empresa oferece.
Primazia da realidade: a realidade dos fatos prevalecerá e, para isso, 5 elementos fazem
parte da relação de trabalho: subordinação entre empregado e empregador;
habitualidade; pessoalidade; prestado por pessoa física; oneroso.
Continuidade da relação de emprego: regra geral do contrato de emprego é prazo
indeterminado para preservação de emprego. No entanto, na atualidade, encontram-se
contratos de emprego com prazo determinado.
Indisponibilidade de direitos: o trabalhador não pode renunciar dos seus direitos.
Intangibilidade e irredutibilidade salarial: o salário do trabalhador não pode ser reduzido
de maneira arbitrária, pois é reconhecido como sua base alimentar. No entanto, a CF/88
permite que ocorra redução desde que seja negociado de maneira coletiva.
Esses e muitos outros elementos da legislação trabalhista são as bases para os contratos de
trabalhos e muitos desses pontos oneram as folhas de pagamentos das empresas. A Reforma
Trabalhista instituída pela Lei n. 13.467/17 trouxe diversas alterações e flexibilizações aplicadas às
relações de trabalho. Como as mudanças são constantes por meio de leis complementares, decretos
e afins, é importante consultar frequentemente o arcabouço jurídico sobre os temas que impactam
nos negócios.   
1.2 DEFINIÇÃO DE LEI  
Avançando em nossos estudos sobre as bases do ordenamento jurídico brasileiro, agora
discutiremos o que são leis. Nesse sentido, observe o conceito no Quadro 3.
Quadro 3 – Definição de lei
 
“A lei, em sentido estrito, é norma jurídica geral, abstrata, impessoal, obrigatória, emanada do Poder Legislativo,
sancionada e promulgada pelo Chefe do Poder Executivo, ou seja, positivada mediante rito institucional
determinado por uma norma superior, como a Constituição”
 
Fonte: Magalhães, 2017, p. 31.
E você sabe para que servem as leis? Podemos compreender que as leis proporcionam equidade
entre os entes, pois determinam os direitos e deveres de pessoas físicas e jurídicas. Em consonância a
isso, observe o Art. 5º da CF/88, o qual esclarece que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade [...]”. 
Nesse mesmo artigo (Art.5º), encontramos outra definição interessante no inciso 2, a qual
esclarece que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da
lei”. Assim, se não somos obrigados a fazer nada que não conste nas leis, precisamos conhecê-las e
compreender o impacto de sua aplicação nas diferentes áreas das nossas vidas.
TEMA 2 – PROCESSO DE CRIAÇÃO DAS LEIS NO BRASIL 
O processo de criação das leis no Brasil segue uma hierarquia já madura e conhecida no
ordenamento jurídico, conforme a figura a seguir.
Figura 2 – Hierarquia das leis no Brasil
Fonte: elaborada com base no site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 2018.
Para compreendermos melhor cada uma dessas esferas, consultaremos os sites dos órgãos
competentes para identificar os conceitos.
2.1 HIERARQUIA DAS LEIS 
A pirâmide apresentada demonstra que a lei maior é a Constituição Federal Brasileira, no
momento, a que está vigente é a de 1988.
Constituição Federal – CF: o Brasil está em sua sétima Constituição Federal, a qual foi
promulgada em 5 de outubro de 1988, as demais foram promulgadas em 1824, 1891, 1934, 1937,
1946 e 1967. Podemos entender a Constituição Federal (CF/88) do Brasil como a lei máxima do país, e
traz em seu Art. 1º:
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a
soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e
da livre iniciativa; V - o pluralismo político”.
É na CF/88 que encontraremos os fundamentos para a criação das leis, isso significa dizer que
nenhuma lei pode ser criada em desacordo com aquilo que está descrito na nossa Carta Magna.
Créditos: lazyllama/Shutterstock.
Leis complementares: podem ser propostas pelo presidente da República, por deputados,
senadores, comissões da Câmara, do Senado e do Congresso, pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
bem como tribunais superiores, procurador-geral da República e até por cidadãos comuns. A lei
complementar fixa normas para a cooperação entre a União, os estados, o Distrito Federal e os
municípios, conforme a Constituição, mas para sua aprovação necessita da maioria absoluta tanto do
Senado quanto da Câmara dos Deputados (Brasil, 2013, p. 12).
Leis ordinárias e leis delegadas: no caso das leis ordinárias, de acordo com o site do Planalto,
são as leis mais comuns as quais são aprovadas pela maioria da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal que compareçam à votação (Brasil, 2018). Já as leis delegadas, conforme o art. 68 da CF/88,
“serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso
Nacional” (Brasil, 2013).
Medida provisória: é um instrumento com força de lei, adotado pelo presidente da República,
em casos de relevância e urgência para o país. Produz efeitos imediatos, ou seja, já vale ao mesmo
tempo em que tramita no Congresso, mas depende de aprovação da Câmara e do Senado para que
seja transformada definitivamente em lei” (Brasil, 2013).
Decretos legislativos: no caso dos decretos legislativos, eles regulam matérias de competência
exclusiva do Congresso, tais como: ratificar atos internacionais, sustar atos normativos do presidente
da República, julgar anualmente as contas prestadas pelo chefe do governo, autorizar o presidente da
República e o vice-presidente a se ausentar do país por mais de 15 dias”, entre outros (Brasil, 2013).
Resoluções: podem ser compreendidas como “deliberações”. Estão previstas no art. 59 da CF/88
e representam um “ato normativo que regula matérias da competência privativa da Casa Legislativa,
de caráter político, processual, legislativo ou administrativo” (Brasil, 2013).
Instrução normativa: consiste em:
ato normativo expedido por uma autoridade a seus subordinados, com base em competência
estabelecida ou delegada, no sentido de disciplinar a execução de lei, decreto ou regulamento,
sem, no entanto, transpor ou inovar em relação à norma que complementa. A Instrução Normativa
tipicamente visa a orientar setoriais, seccionais ou unidades descentralizadas. (Brasil, 2017, p. 29)
2.2 QUEM CRIA AS LEIS NO BRASIL? 
No Brasil, por ser um Estado Democrático de Direito, os representantes eleitos pela população,
como os vereadores, deputados e senadores, são os elaboradores das leis. Isso ocorre porque o Brasil
é composto por municípios que seguem o regramento dos seus estados (unidades da federação),
que, por sua vez, seguem o governo central (presidência da república ou também chamado: União).
O Brasil é uma República Federativa (vide Art. 1º da CF/88 mencionado anteriormente) e tem
como chefe de Estado umPresidente, o qual é eleito pelo povo, por meio de eleições diretas
realizadas a cada quatro anos, com possibilidade de uma reeleição consecutiva. 
Por Federativa, compreendemos a união dos estados em torno de uma política única, que, por
mais que tenham autonomia para criar suas leis, decretos, medidas provisórias, entre outros, não têm
o poder de se separar (indissolúvel) do país. Além disso, Estados e Municípios podem criar leis, desde
que não firam a Constituição, o que reforça a soberania do nosso modelo de governo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2020, o Brasil contava com
5.570 municípios e 27 estados (Agência IBGE, 2020), sendo que cada um cria leis dentro da sua
competência – por isso temos leis federais, estaduais e municipais.
O art. 2º da CF/88 afirma que “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Vamos a eles.
Poder Legislativo: o art. 44 da CF/88 afirma que é “Exercido pelo Congresso Nacional, que se
compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal” (CF/88, Art. 44).
No entanto, o Poder Legislativo ocorre também em outras esferas, conforme Figura 3:
Figura 3 – Esferas do Poder Legislativo
Fonte: Fonseca; Romanelli, 2013, p. 29.
Poder Executivo: no Brasil, é exercido pelo Presidente da República e sua atividade mais
preponderante é administrar o país. Essa administração consiste em decidir como gerir os recursos
captados e executar o que foi deliberado pelo legislativo, sempre em prol do povo, uma vez que ele
foi eleito pelo povo.
O Poder Executivo também ocorre nas três esferas de governo, como representado na Figura 4.
Figura 4 – Esferas do Poder Executivo
Fonte: Elaborado com base em Fonseca; Romanelli, 2013, p. 29.
Poder Judiciário: previsto pela Constituição Federal, também está regulamentado entre os arts.
92 a 126. “Tem como papel principal, julgar de acordo com a lei, os conflitos que surgirem na
sociedade. Compete ainda, interpretar as leis e aplicar o direito de acordo com os casos a ele
apresentados, por meio de processos judiciais que começam por iniciativa dos interessados” (Cartilha
do Poder Judiciário, 2018, p. 3).
Créditos: Rafastockbr/Shutterstock.
No caso do Poder Judiciário, ele existe em duas esferas, conforme representado na Figura 5:
Figura 5 – Esferas do Poder Judiciário
Fonte: Elaborado com base em Brasil, 1988.
Essa divisão dos poderes em Legislativo (fazer as leis), Executivo (aplicar as leis) e Judiciário
( julgar de acordo com as leis) não é invenção brasileira, tampouco é recente, pois foi uma proposta
do francês Charles-Louis de Secondat (Barão de Montesquieu), que publicou um livro intitulado O
Espírito das Leis, no ano de 1748. Nesse livro, Montesquieu defendeu que só o poder poderia frear o
poder, ou seja, para evitar abusos no poder, é preciso desmembrá-lo limitando a atuação de quem
estiver no cargo (Fonseca; Romanelli, 2013).
Esse modelo faz sentido quando pensamos que, se um mesmo indivíduo tem o poder de fazer a
lei, aplicá-la e julgá-la, ele se torna um absolutista. Como o Brasil é uma República Federativa e
Democrática, essa não é a nossa realidade e temos a atuação dos três poderes bem distintos em
nosso cotidiano. 
TEMA 3 – LEGISLAÇÃO COMO FATOR DE EQUILÍBRIO NOS
NEGÓCIOS
A humanidade passou por muitas fases evolutivas e, em se tratando de comércio, que está mais
ligado à nossa disciplina, os modelos iniciais eram muito simples. De forma sintética e, sem nos
prendermos às datas e países específicos, podemos entender conforme veremos a seguir.
As pessoas viviam em pequenas aldeias, muitas delas nasciam, cresciam e morriam sem nunca
ter saído da própria aldeia. Essa constatação já nos evidencia que estamos falando de muito tempo
atrás, mas que é de extrema importância para nossa disciplina, porque posteriormente,
compreenderemos o papel da Logística nessa evolução.
Pois bem, os aldeões (pessoas que viviam nessas pequenas comunidades) produziam o que o
solo e o clima permitiam para garantir a subsistência da família. Se a aldeia estivesse em terras de
algum rei, a maior parte da sua produção era entregue ao monarca, que caso não recebesse a sua
parte, mandava confiscar.
Créditos: Rudra Narayan Mitra/Shutterstock.
Quando esses aldeões tinham necessidade de coisas que não pudessem produzir por conta
própria, eles trocavam parte da sua produção com alguém que conhecesse o ofício e soubesse fazer.
Por exemplo, um aldeão produzia cadeiras e outro produzia sapatos, assim, entravam em um acordo
e trocavam algumas cadeiras por alguns pares de sapatos. Não havia leis ou contratos específicos
nesses casos e os acordos entre os dois aldeões eram garantidos pela palavra um do outro. Perceba
que, até esse momento, não havia algo que conhecemos muito e que faz parte do nosso cotidiano: a
moeda!
Esse cenário se manteve por certo tempo, mas, como tudo evolui, alguns aldeãos que tinham
tino para negociar começaram a sair de suas aldeias e procurar outras aldeias para trocar
mercadorias. Isso foi positivo no primeiro momento, mas trouxe um desafio: como determinar quanto
valia um produto? Por exemplo, quantas cadeiras valem um par de sapatos? Ou vice-versa? Nessa
fase, ainda não existia a moeda conforme conhecemos hoje e essa prática de troca foi denominada
escambo.
Observe a seguinte explicação:
esse sistema rudimentar de comércio (com base no escambo = troca de produtos) mostrou-se
limitado e insatisfatório para as crescentes demandas dos grupos humanos, agora não mais
isolados em aldeias, mas agrupados em cidades, ou Estados. Surge, assim, por meio do comércio,
uma “mercadoria” que poderia ser aceita na troca de qualquer produto, aceita como valor “padrão”
ou referência em qualquer negócio: a moeda. (Barsano; Monte; Oliveira Filho, 2015, p. 80)
Assim, podemos concluir que, no primeiro momento, o comércio ocorria dentro da própria
aldeia, depois foi se alastrando por toda a nação e finalmente, ganhou o mundo e, para isso, a
criação da moeda se tornou essencial.
Na atualidade, é muito comum conhecermos empresas que atuam em diferentes estados dentro
do mesmo país e também em diversos países pelo mundo. E, para essa realidade, houve necessidade,
além de uma moeda comum, criar regras, normas e procedimentos para que todos os envolvidos nas
negociações percebessem que havia “direitos e deveres” estabelecidos, garantindo o bom andamento
dos negócios. Tais direitos e deveres estão representados pelos contratos de compras e vendas de
mercadorias e, posteriormente, de prestação dos serviços, os quais são regidos de acordo com a
legislação pertinente. 
Em termos de legislação brasileira, temos o Código Comercial (chamado também como Novo
Código Comercial – NCC), o Código Civil (CC), o Código Tributário Nacional (CTN), o Código de
Defesa do Comercial (CDC), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o Regulamento Aduaneiro
(RA), entre tantos outros. Cada um desses dispositivos possui amparo legal e são estudados na parte
do Direito Empresarial, Administrativo, Civil, Processual e outros.
E para que serve tudo isso? Para organizar as relações comerciais e permitir que as negociações
sejam feitas dentro de princípios morais, éticos e legais.
TEMA 4 – CONTRIBUIÇÃO DA LOGÍSTICA PARA O COMÉRCIO
Por um lado, tivemos um grande avanço no campo do comércio e nas relações comerciais, que
se tornaram globais, sendo a logística essencial nesse avanço, uma vez que se mostrou a principal
ferramenta para essa evolução.
Note que, se no tema anterior, refletimos sobre um determinado momento da existência
humana, em que pequenos aldeões começaram a procurar, longe de suas casas, locais para negociar
suas mercadorias, isso significa que houve necessidade de algum tipo de transporte, não é mesmo?
Esse transporte, por mais rudimentar que fosse, permitiu que os aldeões levassem suas
mercadorias até os locais de comércio (podemos chamar isso de feiras de negócios). E, para que a
mercadoriachegasse em boas condições na feira, ele precisava ser “preparado”, ou seja, lavado,
embalado, organizado no recipiente de transporte. Além disso, o aldeão precisava anotar em
algum lugar quantos produtos estava levando à feira para negociar. Claro que isso pode não ter sido
em um livro contábil ou de gestão de estoque como conhecemos hoje, até porque, a maior parte das
pessoas não sabia ler e escrever. Ainda assim, pode ter certeza que eles tinham algum tipo de
controle, por mais rudimentar que fosse.
Créditos: Yurakrasil/Shutterstock.
Perceba que, nesse simples relato, identificamos algumas palavras-chave da Logística, como:
transporte, embalado, organizado, recipiente e anotar. Diante disso, esse movimento realizado pelos
aldeões, o qual foi amparado pela logística, fez surgir uma atividade: o comércio, e um grupo de
profissionais: os comerciantes. A partir de então, as atividades comerciais cresceram em volume,
qualidade e variedade dos produtos e serviços, além do alcance geográfico, que, por meio dos
sistemas logísticos, alcançaram o mundo.
No Brasil, temos a atividade comercial como parte do setor terciário da economia, e o grupo de
profissionais se chama comerciante/empresário, conforme definições a seguir.
Comerciante: “a pessoa física (natural) ou jurídica que, com profissionalismo, pratica de qualquer
forma atos de intermediação na distribuição de produtos ou serviços, sempre com o objetivo de
lucro (exercício do comércio)” (Barsano; Monte; Oliveira Filho, 2015, p. 81). 
Já no Código Civil, em seu art. 966, encontramos que “considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços” (Código Civil, 2002).
Essas duas definições mencionam atividades de intermediação, distribuição, produção, produtos,
circulação de bens e serviços. Esses termos, na prática, também fazem parte do contexto da Logística
e são entendidos como atos de comércio, que “são todas as atividades de intermediação na
circulação de produtos e serviços, que sejam realizados com profissionalismo (por comerciante), quer
sejam praticados por qualquer pessoa em conformidade com a legislação comercial” (Barsano;
Monte; Oliveira Filho, 2015, p. 81).
Compreende-se, portanto, que a legislação aplicada à logística advém das diversas fontes do
direito, com a preponderância do Direito Empresarial, termo que tem substituído o termo Direito
Comercial, principalmente depois do Código Civil de 2002.
TEMA 5 – TRIBUTAÇÃO COMO FONTE DE REGULAÇÃO E
ARRECADAÇÃO
Créditos: Rafapress/Shutterstock.
Um tópico que fará parte do contexto da nossa disciplina é a tributação, a qual é estudada pelo
Direito Tributário e está amparado pela Constituição Federal, nos arts. 145 a 162 e, principalmente,
pelo Código Tributário Nacional (CTN), o qual foi instituído por meio da Lei n. 5.172 de 25 de outubro
de 1966.
  No entanto, antes de estudarmos os tributos propriamente ditos, conheceremos qual a
finalidade dos tributos na economia brasileira. Certamente que você imediatamente pensou: “Ora, a
finalidade dos tributos é entregar dinheiro para o governo!” E você tem razão, mas não é apenas isso!
Então, vamos compreender melhor a finalidade dos tributos!
5.1 FINALIDADE DOS TRIBUTOS 
A finalidade do tributo pode ser entendida como uma forma que o Estado encontrou de
financiar suas atividades para retornar ao contribuinte em forma de qualidade dos serviços essenciais
à população, como: educação pública, saúde pública e segurança pública. No entanto, na prática, a
finalidade dos tributos do Estado brasileiro tem um viés mais voltado à arrecadação, chamada de
fiscal.
A fiscalidade, nesse caso, “trata-se do tributo sendo usado como ferramenta de arrecadação do
Estado. Quando temos um tributo com finalidade fiscal, estamos diante de uma ferramenta cuja
função é retirar dinheiro dos particulares e transferi-los para o Estado, a fim de financiar alguma
atividade estatal” (Hack, 2013, p. 53).
Exemplos de tributos fiscais (arrecadatórios) são o Imposto de Renda (IR), o Imposto de
Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD).
No entanto, os tributos também são utilizados pelo Estado com efeito extrafiscal, que nesse
caso, busca modificar o comportamento do mercado ou dos consumidores, afetando o interesse pela
compra. Isso significa dizer que, caso o Estado perceba alguma necessidade de fazer com que os
consumidores se desinteressem por determinado produto, ele pode aumentar as alíquotas de
determinados tributos, como exemplo temos o Imposto de Importação (II). Por outro lado, esse
mesmo mecanismo pode reduzir as alíquotas cobradas de determinados produtos visando incentivar
o consumo ou reduzir o custo de importação de algum produto que esteja faltando no país.
Créditos: Carla Nichiata/Shutterstock.
A função extrafiscal do tributo também é percebida como uma forma de intervenção na
economia e, nesse caso, é entendido como um mecanismo regulatório. Esse recurso que o Estado
utiliza está amparado pela CF/88, em seus arts. 173, 174 e 177.
Além dessas duas finalidades, temos, ainda, a parafiscalidade, que significa que o Estado cria o
tributo, mas pode delegar sua arrecadação e fiscalização a outra pessoa jurídica diferente. Como
exemplos dessa finalidade, “é comum ocorrer essa situação nas contribuições cobradas de profissões
regulamentadas por autarquias, como os Conselhos Regionais de Medicina, de Contabilidade, de
Economia, entre outros” (Hack, 2013, p. 150).
Para finalizar, é interessante compreender que essas três finalidades não são excludentes,
podendo ocorrer comutação de finalidades em um mesmo tributo.
TROCANDO IDEIAS
Após acessar os conceitos iniciais da disciplina, discuta no fórum com seus colegas a importância
de os poderes estarem divididos em três áreas bem distintas: Legislativo, Executivo e Judiciário.
NA PRÁTICA  
Orientações para realizar a atividade prática:
Leia o enunciado a seguir e responda às questões propostas.
Nesta aula, estudamos temas que são basilares para a compreensão do papel da
legislação e sua interferência na sociedade, que pode ocorrer tanto na esfera pública
quanto na esfera privada, representada, principalmente, pelas empresas. Diante
disso, analise o fragmento do texto a seguir.
No exercício de suas atribuições e obedecendo aos limites da lei, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário devem buscar realizar a finalidade do Estado, qual seja: a
construção de uma sociedade livre, justa e solidária; a garantia do desenvolvimento
nacional; a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das
desigualdades sociais e regionais; a promoção do bem de todos, afastando os
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação (Paraná, [S.d.]).
Realização das tarefas.
O fragmento do texto evidencia a importância dos três poderes na sociedade brasileira.
Considerando esse contexto, realize as atividades a seguir:
a) Explique o papel de cada um dos três poderes reconhecidos pela
Constituição Brasileira.
b) Apresente as esferas em que cada um dos três poderes ocorre.
FINALIZANDO
Assim concluímos nossa aula, a qual tinha como objetivo principal trazer os conceitos
introdutórios sobre legislação. Para isso, iniciamos o processo compreendendo a importância de
termos legislação madura e abrangente em várias áreas dos negócios.
Aprendemos, também, o que são leis e como elas são criadas no Brasil, acessando várias vezes
os artigos da Constituição Federal de 1988, que será uma das nossas principais referências durante
todos os nossos estudos. Depois disso, abordamos como a legislação auxilia no equilíbrio dos
negócios, conhecemos alguns pontos sobre a importância do comércio e o auxílio da logística, que
fez com que o comércio se tornasse uma importante área da economia. E, por fim, conhecemos as
finalidades dos tributos, de modo que já estamos prontos para entender a legislaçãotributária.
Caro estudante, esse foi apenas o começo da construção do nosso conhecimento nessa área!
Bons estudos!
REFERÊNCIAS
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https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado em 14 maio 2021.
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<https://www12.senado.leg.br/jovemsenador/home/arquivos/como-se-fazem-as-leis>. Acesso em:
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<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaGlossarioMirim/anexo/CartilhaPoderjudiciario_2409
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BRASIL. CNJ – Conselho Nacional de Justiça. Conheça a hierarquia das leis brasileiras.
Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-conheca-a-hierarquia-das-leis-brasileiras/>.
Acesso em: 14 maio 2021.
BRASIL, MJSP – Ministério da Justiça e Segurança Pública. Manual de elaboração de atos
normativos no MJSP. 2017. Disponível em: <https://www.justica.gov.br/seus-direitos/elaboracao-
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Acesso em: 14 maio 2021.
FONSECA, L. S.; ROMANELLI, S. B. Legislação aplicada à logística. Instituto Federal do Paraná,
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HACK, É. Noções preliminares de direito administrativo e direito tributário. Curitiba:
InterSaberes, 2013.
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Ciências Contábeis, Superintendência de Educação a Distância, 2017.
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<http://www.casacivil.pr.gov.br/Pagina/Organizacao-dos-Poderes>. Acesso em: 14 maio 2021.

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