Prévia do material em texto
Psicología Jurídica INTERFACE PSICOLOGIA E DIREITO Psicologia Jurídica é o campo da psicologia que agrega os profissionais que se dedicam à interação entre a psicologia e o direito. O estudo da psicologia no direito não se restringe apenas ao comportamento decorrente de uma doença mental ou no contexto da criminalidade, mas sim com o estudo das relações psicossociais enquanto fatores existentes e influentes na e da realidade social inerente a qualquer processo e espaço jurídico; De acordo com essa perspectiva, os fenômenos sociais eram categorizados e sistematizados seguindo os métodos das Ciências da Natureza com seus princípios de neutralidade, objetividade, universalismo e a-historicismo; A Psicologia Jurídica, na sua totalidade, não é apenas um instrumento a serviço do jurídico. Ela analisa as relações sociais, muitas das quais não chegam a serem selecionadas pelo legislador. Foi a partir da Lei de Execução Penal (Lei Federal n°7.210/84) que o profissional de psicologia passou a ser reconhecido legalmente pelas instituições penitenciárias; A Psicologia Jurídica hoje no Brasil se articula mais com as perspectivas teóricas da Psicologia Social do que de um Psicologia clínica; Seguindo a vertente que dialoga com a Psicologia Social, entende-se que a Psicologia Jurídica deve buscar superar “(...) a visão reducionista que muitas vezes conduz à patologização individual de casos que são na verdade sociais” Código de Ética do Psicólogo I- O Psicólogo baseará o seu trabalho no respeito à dignidade e integridade do ser humano II - O Psicólogo trabalhará visando a promover o bem estar do indivíduo e da comunidade, bem como a descoberta de métodos e práticas que possibilitem a consecução desse objetivo. III - O Psicólogo, em seu trabalho, procurará sempre desenvolver o sentido de sua responsabilidade profissional através de um constante desenvolvimento pessoal, científico, técnico e ético. IV- A atuação profissional do Psicólogo compreenderá uma análise crítica da realidade política e social. V - O Psicólogo estará a par dos estudos e pesquisas mais atuais de sua área, contribuirá pessoalmente para o progresso da ciência psicológica e será um estudioso das ciências afins. VI - O Psicólogo colabora na criação de condições que visem a eliminar a opressão e a marginalização do ser humano. VII- O Psicólogo, no exercício de sua profissão, completará a de, definição de suas responsabilidades, direitos e deveres, de acordo com os princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10. 12.1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. ATRIBUIÇÃO DO PSICÓLOGO JURÍDICO Resolução 013/2007 do Conselho Federal de Psicologia Atua no âmbito da Justiça, colaborando no planejamento e execução de políticas de cidadania, direitos humanos e prevenção da violência, centrando sua atuação na orientação do dado psicológico repassado não só para os juristas como também aos indivíduos que carecem de tal intervenção, para possibilitar a avaliação das características de personalidade e fornecer subsídios ao processo judicial; Além de contribuir para a formulação, revisão e interpretação das leis: Avalia as condições intelectuais e emocionais de crianças, adolescentes e adultos em conexão com processos jurídicos, seja por deficiência mental e insanidade, testamentos contestados, aceitação em lares adotivos, posse e guarda de crianças, aplicando métodos e técnicas psicológicas e/ou de psicometria, para determinar a responsabilidade legal por atos criminosos; Atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais, Justiça do Trabalho, da família, da criança e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e perícias, para serem anexados aos processos, a fim de realizar atendimento e orientação a crianças, adolescentes, detentos e seus familiares; • Resoluções CFP sobre o trabalho na área: ➢008/2010: atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no poder judiciário; ➢009/2010: atuação do psicólogo no sistema prisional; ➢010/2010: escuta psicológica de crianças e adolescentes. PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO há uma predominância das atividades de confecções de laudos, pareceres e relatórios, pressupondo-se que compete à Psicologia uma atividade de cunho avaliativo e de subsídio aos magistrados; Aula 3: Psicologia Jurídica e Sistema Prisional Diferenças entre Direito Penal e Criminologia: apesar de ambas estudarem o crime, o enfoque dado pelo Direito Penal é o crime como regra anormal de conduta, contra o qual se aplica o castigo e a punição. É a ciência da repressão social, através de regras punitivas que ele mesmo elabora. Já a criminologia tem como objetivo não só se preocupar com o crime, mas também de conhecer o criminoso, se propondo a refletir e elaborar estratégias de combate à criminalidade, de modo a desenvolver meios preventivos para cuidar dos delinquentes a fim de que não sejam reincidentes. A criminologia no que se refere ao estudo das vítimas dividiu a vitimização em três formas distintas: 1. Vitimização Primária: os danos decorrentes da conduta criminosa; 2. Vitimização secundária: causadas pelas instâncias de controle formal, apuração, inquérito, que possibilita a revitimização; 3. Vitimização terciária: falta de assistência e amparo por parte dos órgãos públicos. A criminologia crítica e o direito penal mínimo: avanços e retrocessos A criminologia crítica denúncia enfaticamente que o controle social é exercido por interesses de classes e que as políticas criminais são um reflexo dessa dominação capitalista da ordem social burguesa; Para os criminólogos críticos, a consequência mais tangível de tal processo é a seletividade criminal; •Nesse sentido, a criminologia crítica combate às concepções criminológicas fundadas em noções de diferenças naturais com vistas a argumentos falaciosos de defesa social para o estrito fim de subsidiar a perpetuação de desigualdades por meio do controle penal. COMO A PSICOLOGIA COMPREENDE O COMPORTAMENTO CRIMINOSO? A própria categoria de “criminoso” ou “delinquente” deve ser questionada pelo psicólogo, pois esse etiquetamento é imposto a alguém a partir de um ato que cometeu. Nada nos autorizaria etiquetar para todo o sempre alguém como uma espécie de encarnação do mal, a partir de atos por ele praticados - nessa multiplicidade que nos compõe há sempre outros “indivíduos” que podem ser potencializados. Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional Em 1984, na lei 7.210 a LEP definiu para as penitenciárias o campo de atuação do psicólogo com o dever de executar o exame criminológico e participar da CTC (comissão técnica de classificação). A LEP dividiu a atuação do psicólogo em duas partes: 1º) na atuação da Comissão Técnica de Classificação (CTC) - com o exame diagnóstico, no intuito da criação do projeto de individualização da pena; 2º) nas demonstrações do Centro de Observação Criminológico (COC) - é responsável pelo exame prognóstico, relacionado à informação sobre os fatos pertencentes ao processo de execução penal. 3) A Psicologia, não é, portanto, convocada para os cuidados no campo da saúde. Conforme já nos alertava Kolker (2011, p.239-240) “sequer está previsto na Lei de Execução Penal a assistência psicológica aos reclusos”. ➢Em 2003, a Lei Federal 10792 desvinculou a obrigatoriedade quanto à produção do exame criminológico para a instrução dos pedidos de benefícios legais. ➢ Há uma súmula de número 26 vinculada ao STF que deixa a cargo do juiz pedir ou não o exame criminológico. Essa questão fez com que muitos juízes deixassem de pedir o exame nos casos de crimes mais simples e com baixo potencial ofensivo. ➢Em 2010, o Conselho Federal de Psicologia publica a Resolução nº 9/2010, com a finalidade de regulamentar a atuação do(a) psicólogo(a) no sistema prisional, proibindo a realização do exame criminológico e a participação em instâncias e ações cujo objetivo fosse a prática punitiva e/ou disciplinar. ➢Tal resolução gerou reações de parte da categoria e parte do Judiciário, por Meio do Ministério Público do RioGrande do Sul e do Supremo Tribunal Federal que apontavam a importância da avaliação psicológica em âmbito prisional; ➢Este conflito de interesses culminou em alterações no texto apresentadas por meio da Resolução nº12/2011, ratificando a prática de perícia psicológica para subsídio de decisões judiciais, respeitando os preceitos éticos e, portanto, coibindo qualquer prática estigmatizadora, de aferição de periculosidade e prognósticos criminológicos. Posicionamento do Conselho Federal de Psicologia quanto aos Exames Criminológicos ➢ O “exame criminológico”, não pode ser considerada uma prática da Psicologia, já que este termo está muito mais afeito às ciências criminológicas, mais especificamente a uma determinada criminologia clínico-etiológica e não pertence ao universo da ciência Psicologia e nem da profissão de Psicólogo(a). ➢A Resolução n. 12/2011, veda ao psicólogo que atua nos estabelecimentos prisionais elaborar prognóstico criminológico de reincidência, a aferição de periculosidade e o estabelecimento de nexo causal a partir do binômio delito delinquente e participar de ações e decisões que envolvam práticas de caráter punitivo e disciplinar, bem como veda ao psicólogo de referência que acompanha a pessoa em cumprimento de pena ou medida de segurança a elaboração de documentos com fins de subsidiar decisão judicial durante a execução da pena do sentenciado. justificativa: • O CFP, ao entender como proibição a atuação do psicólogo nesse tipo de exame, justifica esta proibição alegando principalmente a falta de instrumentos a serem utilizado para a realização desse exame, devido às precariedades constatadas nas prisões brasileiras. Proibição do prognóstico de reincidência criminal pois de acordo com o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (Ibap), no Brasil não existem testes que possam possibilitar essa adivinhação, ao menos nenhum que seja validado pelo Ibap. (CONSELHO, 2011).