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FÍSICA - DINÂMICA EFÍSICA - DINÂMICA E TERMODINÂMICATERMODINÂMICA TERMODINÂMICATERMODINÂMICA Autor: Dr. Robyson dos Santos Machado Revisor : Rosa lvo Miranda IN IC IAR introdução Introdução Fenômenos envolvendo calor são comuns em nosso cotidiano. Desde a infância, adquirimos conhecimentos práticos, envolvendo os conceitos de temperatura e calor, e, sempre que necessário, colocamos em prática. Nesta unidade, estudaremos os mecanismos de transferência de calor e analisaremos as maneiras como um sistema pode trocar energia com a vizinhança. Vamos descobrir que esses fenômenos podem depender de características do meio ou do sistema, e que a compreensão de seus mecanismos físicos contribui para diversas áreas da engenharia: mecânica, meteorológica, biomédica, elétrica, civil etc. Começaremos estudando os fenômenos de transmissão de calor, em seguida, examinaremos o comportamento dos gases chamados ideais, para então, na segunda metade desta unidade, estudarmos as leis da termodinâmica. A propagação de calor se realiza por três processos distintos: condução, convecção e radiação. Qualquer que seja o processo, a transferência de calor ocorre de modo espontâneo, �uindo sempre do corpo de temperatura mais elevada para o de menor temperatura. Inicialmente, voltaremos nossa atenção para o processo de condução de calor; após isso, estudaremos os mecanismos da convecção e, por �m, o fenômeno da radiação. Condução de Calor A �m de compreendermos como o calor se transporta de um ponto a outro em um meio em razão de uma diferença de temperatura entre esses pontos, consideremos a extremidade de uma barra metálica em contato com o fogo, conforme ilustra a Figura 4.1. Mecanismos deMecanismos de Transferência deTransferência de CalorCalor Observações empíricas nos revelam que, apesar de somente uma extremidade da barra receber calor, este é transferido por toda a sua extensão. Um dos grandes méritos do modelo de Drude da Física do estado sólido é a explicação qualitativa para essa observação empírica (ASHCROFT; MERMIN, 2011). O modelo de Drude propõe que os átomos e os elétrons livres na extremidade em contato com o fogo adquirirão maior energia de agitação térmica. Parte dessa energia adquirida é transferida para os demais átomos e elétrons da vizinhança por colisões. Após uma colisão, o elétron vizinho emerge com uma energia apropriada à temperatura daquele local; assim, quanto maior a temperatura no local da colisão, mais energético o elétron emergirá. Desse modo, os elétrons oriundos da extremidade de maior temperatura terão energias mais elevadas do que aqueles da extremidade de baixa temperatura. Com isso, inicia-se um �uxo de energia térmica em direção à extremidade de temperatura inferior (ASHCROFT; MERMIN, 2011). Esse processo de transmissão de energia térmica descrito é chamado condução. Em substâncias no estado sólido, o calor é transferido de um ponto a outro dessa forma. Conforme descrito, os elétrons livres são essenciais “no processo de transferência de energia térmica, por isso, substâncias que não Figura 4.1 - Uma barra metálica recebendo calor em uma de suas extremidades Fonte: Elaborada pelo autor. possuem, ou possuem em pequena quantidade, estes elétrons, não são bons condutores de calor” (ASHCROFT; MERMIN, 2011, p. 23). Após análise qualitativa do processo de condução de calor, voltemos nossa atenção para a descrição quantitativa desse processo. Para isso, consideremos uma barra homogênea, que conecta dois ambientes que estão a temperaturas diferentes, conforme ilustra a Figura 4.2. A barra tem comprimento e área de seção transversal . Suponhamos que trocas de calor em sua superfície lateral são desprezíveis, isto é, a barra está termicamente isolada nas laterais. As temperaturas dos recipientes térmicos são e , tal que . Em razão da diferença de temperatura entre as extremidades da barra, haverá condução de calor através dela, a partir da extremidade esquerda, com direção à extremidade direita. Em nossa análise, vamos supor que a transmissão de calor por meio da barra ocorra em regime estacionário, ou seja, a temperatura, ao longo da barra, depende somente da posição, não do tempo. Assim, o �uxo de calor por unidade de tempo será sempre o mesmo, em qualquer seção da barra. Se em um determinado intervalo de tempo , �uir uma quantidade de calor pela barra, a taxa de condução de calor , será dada por (NUSSENZVEIG, 2002): Figura 4.2 - Dois ambientes a temperaturas diferentes são conectados por uma barra homogênea Fonte: Nussenzveig (2002, p. 173). l A T1 T2 ≫T2 T1 Δt Q Φ Ou seja, representa uma medida da energia térmica, que é transmitida por unidade de tempo (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Observe que a dimensão de é o joule por segundo ( ), de�nida como Watts ( ). Observações empíricas revelam que a taxa de transferência de calor (\Phi \) é proporcional à diferença de temperatura entre as extremidades da barra e a área da seção transversal , mas é inversamente proporcional ao comprimento da barra (NUSSENZVEIG, 2002), isto é: Introduzindo uma constante de proporcionalidade ( ), a equação (2) torna-se: A constante é característica do material de que é feito a barra, chamada condutividade térmica da substância (NUSSENZVEIG, 2002). Materiais que possuem altos valores de são bons condutores de calor. Isso signi�ca que a energia térmica é facilmente conduzida nesse meio. A tabela a seguir lista os valores de condutividade térmica de algumas substâncias. Φ = (1) Q Δt Φ Φ J/s J/s = W ( − )T2 T1 A l Φ α (2) A ( − )T2 T1 l k Φ = k (3) A ( − )T2 T1 l k k Substância Metais Aço inoxidável 14 Chumbo 35 Ferro 67 Latão 109 Alumínio 235 Cobre 401 Prata 428 Gases Ar (seco) 0,026 Hélio 0,15 k (W/m ⋅ K) Tabela 4.1 - Condutividade térmica de algumas substâncias Fonte: Halliday, Resnick e Walker (2016, p. 209). A equação (3) pode ser reescrita para a taxa de transferência de calor na direção x, por unidade de área perpendicular à direção da transferência, como: Esta razão é chamada �uxo de calor ou �uxo térmico, e a relação na equação (4) é conhecida como Lei de Fourier (INCROPERA et al ., 2008). Para um comprimento in�nitésimo do meio que conduz o calor, a lei de Fourier é apresentada da seguinte maneira: O sinal de menos é introduzido em virtude de o gradiente de temperatura ser negativo, uma vez que o calor naturalmente �ui no sentido da redução da temperatura (INCROPERA et al ., 2008). Hidrogênio 0,18 Materiais de Construção Espuma de poliuretano 0,024 Lã de pedra 0,043 Fibra de vidro 0,048 = k (4) Φ A ( − )T2 T1 l Φ/A dx = −k (5) Φ A dT dx dT/dx Convecção de Calor Nesta seção, voltaremos nossa atenção para outro processo de transmissão de calor, chamado convecção. Neste mecanismo, a transferência de energia térmica ocorre por meio do deslocamento global da própria substância. Com o intuito de compreendermos o processo de convecção, consideremos um recipiente com água, que foi colocado em contato com o fogo, conforme ilustra a Figura 4.3. A camada de água que está no fundo do recipiente recebe calor por condução. Por consequência, a temperatura dessa camada aumenta, seu volume é dilatado e a densidade diminui. Com isso, desloca-se para a parte superior do recipiente e é substituída por água mais fria e mais densa, proveniente da parte superior do recipiente (NUSSENZVEIG, 2002). saibamais Saiba mais Você já deve ter percebido que os metais bons condutores de eletricidade também conduzem bem o calor. Esse fato não é uma coincidência, pois a Lei de Wiedemann e Franz estabelece que, nos metais, a condução térmica está diretamente associada à condução de eletricidade. Acesse o link e leia mais sobre o assunto! ACESSAR https://www.if.ufrj.br/~capaz/fmc/cap6-dinamica.pdf Esse processo de circulação contínua de água mais quente para cima e mais fria para baixo segue produzindo, no líquido, as chamadas correntes de convecção.Dessa maneira, o calor é transmitido por condução às camadas inferiores e é distribuído, por convecção, para toda a massa de água, por meio de seu próprio deslocamento. A transferência de energia térmica nos �uidos, em geral, pode ocorrer por condução, mas o processo de convecção é responsável pela maior parte do calor transferido e caracteriza-se pelo fato de que a energia térmica é transferida pelo movimento do próprio �uido (NUSSENZVEIG, 2002). O fenômeno da convecção térmica pode ser observado em nosso cotidiano. Em um refrigerador, o congelador é posicionado na parte superior, para que as camadas de ar próximas percam calor, tornem-se mais densas e desloquem-se para baixo. Pelo mesmo motivo, um aparelho condicionador de ambiente é �xado na parte superior do local. Caso fosse posicionado na parte inferior, não daria origem às correntes de convecção. Os ventos, as correntes marinhas e a circulação de água quente em um sistema de aquecimento central também são exemplos de correntes de convecção (NUSSENZVEIG, 2002). Figura 4.3 - Um recipiente contendo água recebendo calor da chama Fonte: Elaborada pelo autor. Radiação Acabamos de estudar a transmissão de calor em uma substância, que pode se realizar de duas formas distintas: condução e convecção. Vimos, também, que ambos os processos necessitam de um meio material para serem concretizados. Suponhamos, agora, que uma vela acesa seja colocada no interior de um recipiente de vidro em que se fez vácuo. Se situarmos um termômetro próximo à superfície do recipiente, ele acusará um aumento de temperatura, indicando que o calor foi transmitido pelo vácuo entre a vela e o vidro. O processo pelo qual essa energia foi transmitida não pode ter sido por condução ou por convecção, uma vez que esses processos só podem ocorrer quando há um meio material pelo qual o calor é transmitido, o que não é o caso do espaço vazio entre a vela e as paredes do recipiente. Nesse caso, a transmissão de energia térmica foi realizada por um outro processo, chamado radiação térmica (INCROPERA et al., 2008). A radiação térmica é o processo pelo qual a energia térmica da matéria é emitida por meio de ondas eletromagnéticas. O termo radiação é sinônimo de emissão. Por isso, quando um corpo, no vácuo, tem sua energia interna reduzida, signi�ca que ocorreu a emissão de ondas eletromagnéticas de sua superfície, que transportam energia térmica (INCROPERA et al., 2008). Toda forma de energia emitida pelo Sol chega até a Terra por esse processo, uma vez que, entre o Sol e a Terra, existe vácuo (NUSSENZVEIG, 2002). Toda matéria com temperatura absoluta não nula emite radiação térmica (INCROPERA et al., 2008). O mecanismo por detrás dessa emissão está associado a movimentos oscilatórios dos elétrons, que constituem a matéria ou suas transições de níveis de energia: elétrons termicamente excitados, ao retornarem para seus estados fundamentais, emitem ondas eletromagnéticas (EISBERG; RESNICK, 1994). O leitor não habituado aos conceitos da ondulatória pode estar perguntando- se: o que são ondas eletromagnéticas? Chamamos de onda qualquer perturbação que se propaga de um ponto a outro em um meio, sem haver o transporte direto de matéria entre esses pontos (NUSSENZVEIG, 2002). Ondas produzidas na matéria são chamadas de mecânicas (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Ademais, há um tipo de onda que não necessita de um meio material para existir, pois é constituída de um campo elétrico e um campo magnético, daí a origem de seu nome, que é a onda eletromagnética (NUSSENZVEIG, 2002). Esse tipo de onda, bem como as mecânicas, tem a propriedade de transmitir energia. As ondas eletromagnéticas que transmitem energia capaz de alterar o estado térmico da matéria são chamadas radiação térmica (INCROPERA et al., 2008). Toda onda eletromagnética propaga-se no vácuo, com velocidade aproximada de . O que diferencia uma onda eletromagnética de outra é sua frequência de vibração e seu comprimento de onda (distância que a onda percorre durante uma vibração completa). Os principais tipos de ondas eletromagnéticas, em função do comprimento de onda, estão listados na Figura 4.4. Figura 4.4 - Espectro com as principais ondas eletromagnéticas Fonte: ÐлекÑей БезроÐ́ний / 123RF. A representação na Figura 4.4 é conhecida por espectro eletromagnético, e as ondas listadas são chamadas radiação eletromagnética. A radiação que se estende por, aproximadamente, 0,1 até 100 , corresponde à radiação térmica (INCROPERA et al., 2008). O tipo de radiação que transmite energia térmica varia com a temperatura do corpo emissor. Em temperatura ambiente, por volta de 300 K, a emissão situa-se em praticamente toda na região do infravermelho. A matéria somente emite radiação térmica na faixa do visível a temperaturas muito altas, da ordem de milhares de Kelvin (EISBERG; RESNICK, 1994). 3 × m/s108 μm μm praticar Vamos Praticar A transferência de energia térmica pode ser realizada por três processos diferentes: condução, convecção e radiação. A condução é o processo que ocorre, principalmente, em substâncias no estado sólido. Sobre esse processo de transferência de calor, assinale a alternativa correta. a) É o processo de transmissão de energia térmica feita por meio do transporte da matéria de uma região para outra. b) Na condução de calor, a energia térmica é transmitida por meio do corpo, por colisões entre elétrons e átomos vizinhos. c) É um processo que ocorre tanto no vácuo quanto em outros meios materiais. d) No processo de condução de calor, a taxa com que a energia térmica é transferida é inversamente proporcional à diferença de temperatura entre diferentes pontos do meio. e) A condução de calor por meio de uma barra sólida varia linearmente com o seu comprimento. Neste tópico, estudaremos o comportamento dos gases. A compreensão das propriedades macroscópicas de um gás possui diversas aplicações práticas na engenharia mecânica, engenharia de alimentos, meteorologia, biomedicina e nas indústrias em geral. Observações experimentais levaram ao desenvolvimento de leis que descrevem o comportamento de um gás, e a junção dessas leis resultou na chamada teoria cinética dos gases, que está no foco deste tópico. Para iniciarmos nossa análise das propriedades dos gases, consideremos um recipiente contendo um gás real (substância que a pressão e temperatura ambiente se encontra no estado gasoso) e dotado de uma tampa móvel (pistão), conforme ilustra a Figura 4.5. Teoria Cinética dosTeoria Cinética dos GasesGases Os gases reais quando submetidos a baixas pressões e temperaturas distantes de seu ponto de liquefação, comportam-se como gases ideais (NUSSENZVEIG, 2002). Dizemos que um gás é ideal quando ele se comporta conforme as leis que serão estudadas a seguir. Estudando experimentalmente o comportamento dessa massa gasosa, veri�ca-se que é possível expressar esse comportamento por meio de relações matemáticas entre sua pressão , seu volume e sua temperatura Uma vez conhecidos os valores dessas grandezas, �ca de�nido o estado (NUSSENZVEIG, 2002). Provocando uma variação nessas grandezas, esses novos valores caracterizam outro estado do gás; assim, dizemos que este sofreu uma transformação. Suponhamos que o gás representado na Figura 4.5 tenha sido submetido a uma transformação na qual sua temperatura foi mantida constante, e a pressão e o volume do gás foram as grandezas que variaram. Nesse caso, dizemos que a transformação sofrida pelo gás é isotérmica. Se medirmos a pressão e o volume do gás nessa experiência suposta, observaremos que, à Figura 4.5 - Representação de um recipiente que contém um gás ideal Fonte: Elaborada pelo autor. P V T . medida que o pistão se desloca para baixo e reduz o volume que o gás ocupa, a pressão no interior do recipiente aumenta na mesma proporção em que o volume diminui (NUSSENZVEIG, 2002). Ou seja, se a temperatura de uma dada quantidade de gás for mantida constante,o volume desse gás varia inversamente com sua pressão , isto é: Esse resultado foi descoberto empiricamente por Robert Boyle, por esse motivo, é conhecido como lei de Boyle. A representação dessa lei em um grá�co resulta em uma hipérbole denominada isoterma do gás (NUSSENZVEIG, 2002). Suponhamos, agora, que o conjunto da Figura 4.5 seja aquecido de modo que o gás comece a se expandir livremente, deslocando o pistão para cima. Numa tal situação, a pressão sobre o gás não se altera; assim, o volume varia com a temperatura enquanto a pressão se mantém constante. Uma transformação como essa é denominada isobárica. Além disso, o físico francês Jacques Charles observou que o volume do gás varia proporcionalmente a sua temperatura absoluta nessa transformação (NUSSENZVEIG, 2002). Assim: A relação da equação (7) é conhecida por lei de Charles (NUSSENZVEIG, 2002). Analogamente, se o pistão for �xado às paredes do recipiente, impedindo, agora, que o volume do gás aumente ou diminua, aquecendo-se o gás, sua temperatura e pressão aumentam na mesma proporção (NUSSENZVEIG, 2002): Essa transformação, cujo volume se mantém constante, é denominada isovolumétrica. Os resultados encontrados nas equações (6), (7) e (8) podem ser agrupados em uma única relação: T V P PV = constante(6) P × V = constante(7) V T T P = constante(8) P T cujos índices e indicam um estado inicial e �nal, respectivamente, em que o gás se encontra. Note que os resultados encontrados nas equações (6), (7) e (8) são obtidos quando aplicamos a equação (9) às suas respectivas transformações. A constante na equação (9) é encontrada aplicando-a a um mol de gás, uma vez que, para qualquer gás, o resultado é sempre o mesmo. Por isso, ela é chamada constante universal dos gases (NUSSENZVEIG, 2002). Assim, para um mol de gás, temos: Desse modo, para moles de um gás, nas mesmas condições: Que pode ser expressa na forma Que é a chamada equação de estado de um gás ideal (NUSSENZVEIG, 2002). Essa equação recebe esse nome porque de�ne um estado do gás, isto é, para uma dada massa gasosa, se medirmos sua pressão , seu volume e sua temperatura numa certa situação, o produto tem de ser igual ao produto . O valor da constante universal dos gases pode ser obtido por meio de medidas experimentais (NUSSENZVEIG, 2002), no sistema internacional de unidades (SI) seu valor é: É válido ressaltar que a equação (12) é válida para um gás ideal e pode ser aplicada, com boa aproximação, a um gás qualquer, desde que sua temperatura não seja muito baixa e a pressão não seja muito elevada. = = constante(9) PiVi Ti PfVf Tf i f R = R(10) PV T n = nR(11) PV T PV = nRT (12) P V T PV nRT R R = 8, 314 J/mol.K(13) praticar Vamos Praticar Considere um gás ideal con�nado em um recipiente de volume igual a . Após o equilíbrio, a pressão sobre o gás é e sua temperatura, . Podemos a�rmar que o número de mols desse gás é, aproximadamente: a) 0,5. b) 2,0. c) 1,5. d) 1,0. e) 1,2. 2 × 10−2 m3 1, 5 × N/105 m2 300 K Nesta seção, estudaremos as maneiras como um sistema pode trocar energia com a vizinhança. Veremos que essa troca pode se realizar de duas formas: na forma de calor e de trabalho. No entanto, antes de iniciarmos nossa análise, introduziremos um conceito fundamental no contexto da primeira lei da termodinâmica: a energia interna. Denomina-se energia interna de um corpo ou sistema a soma das diversas formas de energia que os átomos e moléculas desse corpo possuem. De modo geral, quando estamos estudando um sistema qualquer, a energia interna desse sistema, que representaremos por , corresponde à energia total existente em seu interior (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Quando um sistema vai de um estado inicial a outro estado �nal , geralmente troca energia com a vizinhança; por consequência, sua energia interna sofre variações, de modo que a variação da energia interna , será dada por: Em que e correspondem à energia interna do sistema nos estados inicial e �nal. A 1ª Lei daA 1ª Lei da TermodinâmicaTermodinâmica U i f ΔU ΔU = − (14)Uf Ui Ui Uf Consideremos, agora, um sistema formado por um gás ideal contido em um cilindro provido de um pistão que pode se deslocar livremente, conforme ilustra a Figura 4.6. Suponhamos que o gás esteja em um estado inicial , ocupando um volume inicial , quando recebe uma quantidade de calor . Em decorrência da pressão interna, o gás exerce uma força sobre o pistão, deslocando-o em uma distância . Assim, o gás realiza um trabalho ao se expandir até um estado �nal e ocupar um novo volume �nal . Se a pressão do gás permanecer constante durante a expansão, o valor da força também será, e o trabalho pode ser calculado por: Em que corresponde à área do pistão, e o produto à variação de volume do gás (veja Figura 6). Note que, quando o trabalho é realizado pelo gás, a diferença é positiva e o trabalho realizado também será. A expressão (15) pode ser utilizada, também, para calcular o trabalho realizado quando o gás sofre uma compressão isobárica. Nesse caso, a diferença será negativa, produzindo um trabalho também negativo. Nessas condições, dizemos que o trabalho foi realizado sobre o sistema (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). O trabalho realizado pelo gás é feito utilizando sua energia interna. Desse modo, na situação idealizada na Figura 4.6, o sistema recebe uma quantidade Figura 4.6 - Representação de um gás que se expande e realiza trabalho Fonte: Elaborada pelo autor. i Vi Q F ΔS τ f Vf P F τ τ = F . ΔS = PAΔS = P ( − ) (15)Vf Vi A AΔS −Vf Vi −Vf Vi de calor , que provoca um aumento em sua energia interna e realiza um trabalho , que consome sua energia interna. Assim, pelo princípio de conservação da energia, a energia interna do sistema sofrerá uma variação dada por: A equação (16) é conhecida como a 1ª lei da termodinâmica, equivale ao princípio de conservação da energia (NUSSENZVEIG, 2002) e é uma das leis fundamentais da Física. A relação na equação (16) pode ser utilizada mesmo quando o sistema cede calor à sua vizinhança, mas, nesse caso, recebe um sinal negativo, pois a liberação de calor contribui para diminuir a energia interna do sistema. praticar Vamos Praticar Na primeira lei da termodinâmica, vimos que uma forma de um sistema trocar energia com sua vizinhança é por meio da realização de trabalho. Considere um sistema formado por um cilindro, que contém um gás ideal, fechado por um pistão. Das possíveis transformações citadas a seguir, que esse sistema pode sofrer, assinale aquela que é condição obrigatória para que o gás ideal realize trabalho. a) Variação no volume do gás. b) Transformação isobárica. c) Variação na temperatura do gás. d) Recebimento de calor do meio externo. Q τ ΔU = Q − τ(16) Q e) Variação na energia interna do gás. Vimos que a 1ª lei da termodinâmica, de um modo geral, é um princípio de conservação da energia que reúne as maneiras como um sistema pode trocar energia com a vizinhança. Consoante essa lei, desde que a energia seja conservada, nada impede que um processo qualquer ocorra em sentido inverso, isto é, que seja reversível. Entretanto, observações empíricas nos revelam que muitos processos tendem a ocorrer em um único sentido, ou seja, são irreversíveis (NUSSENZVEIG, 2002). Os motivos pelos quais tais processos ocorrem, naturalmente, em um único sentido, estão relacionados à 2ª lei da termodinâmica. Essa lei tem desenvolvimento diretamente relacionado ao surgimento das máquinas térmicas, que são dispositivos capazes de transformar calor em trabalho mecânico (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). De um modo geral, as máquinas térmicas apresentam características que são comuns a todas elas. Todas operam em ciclos, isto é, retornam periodicamente às condições iniciais, e cada ciclo pode ser representado, esquematicamente, da maneira mostrada na Figura 4.7. A 2ª Lei daA 2ª Lei da TermodinâmicaTermodinâmicaEssa �gura nos indica que a máquina retira certa quantidade de calor de uma fonte quente, utiliza parte desse calor para realizar um trabalho mecânico e cede uma quantidade de calor para a fonte fria. Denomina- se rendimento de uma máquina térmica a razão entre o trabalho que ela realiza e o calor absorvido (NUSSENZVEIG, 2002): Assim, o rendimento de uma máquina térmica será tanto maior quanto maior for o trabalho que ela realiza para determinada quantidade de calor absorvido. Além disso, na Figura 4.7, pela conservação da energia, é possível concluirmos que: Figura 4.7 - Representação de uma máquina térmica qualquer Fonte: Elaborada pelo autor. Q1 τ Q2 η τ Q1 η = (17) τ Q1 Assim, a equação (17) também pode ser expressa da seguinte forma: Essa expressão nos mostra que, se , isto é, se a máquina, ao realizar um ciclo, não cedesse nenhum calor para a fonte fria, seu rendimento seria de 100%. Portanto, uma máquina térmica como essa transformaria em trabalho todo o calor absorvido da fonte quente. No entanto, se fosse possível um ciclo transformar calor totalmente em trabalho, teríamos um moto perpétuo: “a energia térmica dos oceanos ou da atmosfera constituiria um reservatório praticamente inesgotável de energia” (NUSSENZVEIG, 2002, p. 207). Nenhum procedimento físico desenvolvido até hoje é capaz de realizar tal ciclo, pois, para completá-lo, o dispositivo deverá sempre ceder parte do calor absorvido. Essa conclusão leva à 2ª lei da termodinâmica, que foi enunciada por Kelvin da seguinte forma: “É impossível realizar um processo cujo único efeito seja remover calor de um reservatório térmico e produzir uma quantidade equivalente de trabalho” (NUSSENZVEIG, 2002, p. 207). Dessa forma, o rendimento de qualquer máquina térmica deverá ser inferior a 100%. A segunda lei da termodinâmica também foi enunciada por Clausius em 1850, antes mesmo de Kelvin, mas, embora os enunciados sejam diferentes, são equivalentes (NUSSENZVEIG, 2002). Clausius enunciou da seguinte forma: “É impossível realizar um processo cujo único efeito seja transferir calor de um corpo mais frio para um corpo mais quente” (NUSSENZVEIG, 2002, p. 207). Nessa outra forma de expressar a segunda lei, o sentido natural do �uxo de calor ocorre sempre do corpo de maior temperatura para o de menor temperatura, e, com isso, a situação contrária somente seria possível se existisse um agente externo, que realizasse trabalho sobre o sistema, induzindo o �uxo no sentido contrário, que é o caso do refrigerador (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). = τ + (18)Q1 Q2 η = 1 − (19) Q2 Q1 = 0Q2 Além disso, Clausius, analisando quantitativamente as características dos processos irreversíveis, introduziu uma nova grandeza, denominada entropia (NUSSENZVEIG, 2002). O valor da entropia varia quando o sistema passa de um estado para outro, e é essa variação que é importante conhecermos, e não o valor da entropia em cada estado pelo qual o sistema passa, semelhante ao que �zemos com a energia interna na primeira lei. Para um sistema que sofre uma transformação isotérmica, absorvendo ou cedendo uma quantidade de calor , a variação da entropia do sistema é dada por (NUSSENZVEIG, 2002): Em que é a temperatura absoluta do sistema. A análise dos processos irreversíveis que ocorrem na natureza em um único sentido permite concluir que neles a entropia total sempre aumenta, isto é, . Portanto, a entropia, ao contrário de grandezas como a energia e o momento, não se caracteriza por uma lei de conservação, mas, sim, por um princípio de aumento, denominado princípio do aumento da entropia: “A entropia de um reflita Re�ita Em regiões litorâneas, o aquecimento da areia da praia durante o dia produz a chamada brisa marítima, vento que sopra do mar para a praia. Durante a noite, o sentido da brisa é invertido, dando origem à brisa terrestre. Por que esse fenômeno acontece? S ΔS = −Sf Si S ΔQ ΔS = (20) ΔQ T T ΔS ≻ 0 sistema termicamente isolado nunca pode decrescer, não se altera quando ocorre processos reversíveis, mas aumenta quando ocorre processos irreversíveis” (NUSSENZVEIG, 2002, p. 230). Assim, em todos os processos naturais irreversíveis, a entropia sempre aumenta. praticar Vamos Praticar Logo após o surgimento das máquinas térmicas, pensava-se que, operando em uma condição mínima de atrito, poderia converter em trabalho útil praticamente toda a energia térmica a ela fornecida. Com o surgimento da segunda lei da termodinâmica, vimos que essa conversão total não é possível. Com relação a essa lei podemos a�rmar que: a) O calor de um corpo com temperatura passa espontaneamente para outro corpo com temperatura se . b) Uma máquina térmica operando em ciclos pode retirar calor de uma fonte e convertê-lo integralmente em trabalho. c) Uma máquina térmica operando em ciclos entre duas fontes térmicas, uma quente e outra fria, converte parte do calor retirado da fonte quente em trabalho e o restante envia para a fonte fria. d) Se eliminarmos todo o atrito do processo, o rendimento de uma máquina será de 100%. e) Em condições ideais, o calor �ui naturalmente do corpo mais frio para o mais quente. T1 =T2 ≻T2 T1 indicações Material Complementar FILME Lord Kelvin and the French 'F' Word: the Greatest Victorian Scientist? Ano : 2017 Comentário : documentário sobre Lord Kelvin, professor que contribui muito para o desenvolvimento da termodinâmica. Para assistir ao vídeo em português, acione as legendas. TRA ILER LIVRO Fundamentos de transferência de calor e de massa Editora : LTC Autores : Frank P. Incropera, David P. Dewitt, Theodore L. Bergman e Adrienne S. Lavine ISBN : 978-8521615842 Comentário : o livro aborda os conceitos fundamentais acerca da transferência de energia térmica e matéria. Voltado a estudantes de engenharia e áreas a�ns, perfeitamente direcionado para esta disciplina. conclusão Conclusão Nesta unidade, estudamos conceitos introdutórios da termodinâmica. Na análise dos conceitos físicos, aprendemos que esses conteúdos possibilitam a compreensão dos mecanismos de transferência de calor e do comportamento dos gases. Na segunda metade, discutimos os princípios que regem as leis da termodinâmica. Vimos que a primeira lei tem como base o princípio de conservação da energia, e a segunda lei, o desenvolvimento das máquinas térmicas. Esperamos que o texto tenha contribuído para a ampliação de seus conhecimentos e estimulado a avançar ainda mais em seus estudos. referências Referências Bibliográ�cas ASHCROFT, N. W.; MERMIM, N. D. Física do estado sólido . São Paulo: Cengage Learning, 2011. EISBERG, R.; RESNICK, R. Física Quântica . 9. ed. Elsevier, 1994. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física . 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. INCROPERA, F. P. et al. Fundamentos de transferência de calor e massa . 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física básica . 4. ed. São Paulo: Blucher, 2002.