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1 Instituto Superior de Ciência e Tecnologia Alberto Chipande Faculdade de Ciências de Saúde Curso de Licenciatura em Saúde Pública Ano: 1º Turma: A Módulo: Demografia Tema A População como força de Trabalho Relação População, Economia e Saúde Discente: Bartolomeu Julai Docente: Dr. João Fernando Sadique Paulino Beira 2023 2 Índice Introdução ....................................................................................................................................... 3 Dinâmica das populações Mundial, Africana e Moçambicana ....................................................... 4 Crescimento da população em Moçambique .................................................................................. 4 Mercado do Trabalho em Moçambique .......................................................................................... 4 A organização da produção e a integração da força de trabalho ..................................................... 6 Condições sociais de trabalho, remuneração e saúde laboral ......................................................... 6 Relação da População, economia e saúde em Moçambique ........................................................... 7 População e saúde em Moçambique ............................................................................................. 10 Conclusão ...................................................................................................................................... 12 Bibliografia ................................................................................................................................... 13 3 Introdução A força de trabalho é central nos processos de acumulação capitalista. Analisar as várias formas, os padrões e as condições sociais de trabalho, e a relação entre eles, em contextos históricos específicos de acumulação é crucial para entender como a força de trabalho é integrada no sistema de acumulação de capital e as suas implicações. Entretanto, em Moçambique, este entendimento parece limitado, reflectindo a abordagem ou o método de análise dominante. Este método está assente numa visão dualista, que separa as várias formas de trabalho1 dentro da economia e a sua subordinação formal e informal ao capital; sendo esta última forma de subordinação negligenciada nos processos de acumulação de capital. Por conseguinte, o trabalho remunerado é visto como integrado nos mercados de trabalho enquanto o trabalho familiar e não remunerado, como não incluído. Este trabalho é desenvolvido dentro de um quadro de análise que se foca no estudo do sistema social de acumulação de capital em Moçambique e nas ligações, tensões e contradições que emergem, em condições históricas específicas. Estudando estruturas produtivas específicas e processos de acumulação associados a estas estruturas, o trabalho de investigação procura analisar duas questões fundamentais: (i) a lógica de acumulação de capital e de organização da produção e do trabalho, que pressupõe a extracção de mais-valia, a qual é gerada pelo trabalho e pela sua relação com o capital; (ii) a base de rentabilidade das empresas e a sua relação com diferentes formas de trabalho e a sua integração no sistema social de acumulação de capital. 4 Dinâmica das populações Mundial, Africana e Moçambicana Crescimento da população em Moçambique Nos anos de 1960 a 2022, a população em Moçambique aumentou de 7,18 milhões para 32,97 milhões de habitantes. Isto significa um aumento de 358,9 por cento em 62 anos. O maior aumento foi registado em 1993 com 4,09%. A maior queda em 1988 com -0,22%. Durante o mesmo período, a população total de todos os países do mundo aumentou 162,2 por cento. A idade média em Moçambique diminuiu em 0,26 anos de 2012 a 2021, de 17,26 a 17,00 anos (valor mediano). Cerca de 38% dos habitantes vivem nas grandes cidades do país. Esta tendência crescente de urbanização está aumentando 4,2% ao ano. Mercado do Trabalho em Moçambique A integração da força de trabalho no sistema de acumulação de capital é um processo complexo e manifesta-se de diversas formas, tendo em conta, por exemplo, a heterogeneidade e a complexidade dos mercados de trabalho, que incluem as várias formas de trabalho, tanto remuneradas como não remuneradas. Esta complexidade requer, do ponto de vista analítico, olhar para estas formas de trabalho, para as suas relações e para o seu papel nos processos de acumulação. Contudo, um problema central é que predomina, em Moçambique, uma análise dualista da economia, que olha para esta como sendo caracterizada por dois sectores diferentes, um moderno (capitalista) e outro tradicional (pré-capitalista), considerados separados um do outro. Nesta análise, existe apenas uma subordinação «formal» da força de trabalho ao capital, que só acontece no sector capitalista, não havendo ligação com outras formas de trabalho, em particular a produção agrícola familiar não remunerada, que se assumem caracterizadas por processos produtivos sem acumulação e pertencentes ao sector tradicional. Entretanto, uma análise da economia de Moçambique com enfoque no estudo do sistema social de acumulação de capital, em vários períodos e contextos da sua história, mostra que a força de trabalho se encontra organicamente integrada no sistema de acumulação de capital (Castel-Branco, 2015, 2010, 1994; O’Laughlin 1981; Wuyts, 1980). Neste sentido, não 5 coexistem dois sectores distintos (capitalista e pré-capitalista) e separados entre si (como pressupõe a análise dualista), mas sim um sistema orgânico integrado, com ligações, tensões, contradições e conflitos. Neste sistema, a base de rentabilidade do capital está assente na existência de várias formas de trabalho e na sua subordinação (formal e informal) ao capital (Castel-Branco, 1994; O’Laughlin, 1981; Wuyts, 1980; Ali, 2013). Neste sentido, o estudo dos mercados de trabalho em Moçambique tem de incluir o trabalho não remunerado, que tem sido parte fundamental da reprodução social da força de trabalho e de extracção de mais-valia absoluta pelo capital, desde o período colonial até actualmente. No período colonial, o sistema de acumulação de capital esteve assente na expropriação da força de trabalho para a extracção de mais-valia, através da integração do campesinato no mercado capitalista de trabalho e de mercadorias como fornecedor de mão-de- obra barata e produtor de matérias-primas e alimentos baratos para o capital, numa base regionalmente diferenciada (Castel-Branco, 1994). Isso só foi possível por via da manutenção do campesinato ligado à terra, que, ao mesmo tempo envolvendo-se no trabalho assalariado, produzia comida para o auto-consumo e para o mercado. A capacidade de o campesinato produzir comida para o auto-consumo e para o mercado, que dependia do salário, foi central para a reprodução da força de trabalho e para garantir a sua disponibilidade a baixo custo para o capital. Neste contexto, a rentabilidade do capital dependia do uso intensivo da força de trabalho e do pagamento de salários baixos, que era possível devido a disponibilidade e abundância da força de trabalho e do reduzido custo da sua reprodução para o capital. A manutenção do campesinato ligado à terra, ao mesmo tempo que se envolvia no trabalho assalariado, permitiu o desenvolvimento de uma força de trabalho migrante, que intercalava entre o trabalho assalariado e outras formas de trabalho, em particular a produção familiar. Os rendimentos provenientes do trabalho assalariado, para além de suprir necessidades de consumo e obrigações de pagamento de impostos, destinavam-se ao financiamentoda produção familiar, por exemplo para aquisição de meios de produção necessários à reprodução da agricultura familiar (O’Laughlin, 1981). Neste caso, o carácter migrante da força de trabalho 6 assegurava um trabalho na terra que permitia a subsistência das famílias camponesas e a sua própria reprodução, principalmente nos períodos sem emprego. Sendo assim, o trabalho assalariado e a agricultura familiar financiam-se mutuamente. Este facto mostra a relevância da interligação entre múltiplas formas de trabalho, sobretudo a integração informal da força de trabalho não remunerada nos mercados de trabalho capitalistas. A interdependência entre produção familiar e trabalho assalariado permanece na estrutura produtiva extractiva3 prevalecente em Moçambique, especializada na produção primária para exportação e com fracas ligações domésticas. A organização da produção e a integração da força de trabalho O modo como a produção é organizada em diferentes estruturas produtivas determina as necessidades de força de trabalho e a forma como esta é integrada nos processos de produção de valor e de mais-valia para o capital. A produção agro-industrial do chá, do açúcar e florestal está dividida em duas actividades principais, nomeadamente a actividade agrícola (que inclui a preparação dos campos, o plantio, a colheita e actividades de suporte, como a limpeza dos campos, a adubação, a poda, a sacha, etc.) e o processamento (que inclui as fábricas de processamento e serviços de apoio). A estrutura de organização da produção e do trabalho é similar, pelo menos na actividade agrícola, em que a força de trabalho é essencialmente recrutada nos períodos de pico da produção. Em todos os casos, os períodos de pico são geralmente caracterizados por uma intensificação do trabalho. Esta intensificação pode manifestar-se através da extensão das horas de trabalho e/ou das metas de produção, podendo implicar maior produção de valor e, por conseguinte, mais mais-valia para o capital. A intensificação do trabalho pode ocorrer também porque os trabalhadores têm a possibilidade de ganhar mais, em alguns casos ultrapassando as metas, ou de cumprir a meta rapidamente de modo a dedicarem-se a outras actividades, incluindo a produção familiar. Condições sociais de trabalho, remuneração e saúde laboral As condições de trabalho, incluindo a questão dos salários, as condições de remuneração e as de saúde dos trabalhadores são fundamentais para perceber como a força de trabalho é 7 integrada nos processos produtivos, de modo a gerar mais-valia para o capital. Mais importante ainda é como nas actuais condições sociais de trabalho nas plantações a força de trabalho pode reproduzir-se continuamente e quais são os limites dessa reprodução para a rentabilidade do capital. Como foi referido na secção anterior, no período colonial o uso intensivo da força de trabalho e o pagamento de baixos salários nas plantações constituíam a base de rentabilidade do capital, num contexto em que a forma como a força de trabalho esteve integrada no sistema de acumulação garantia as condições para a sua reprodução. Isto era possível, especialmente, pela disponibilidade de bens alimentares a baixo custo para os trabalhadores, como pela manutenção do campesinato ligado à terra, de onde se reproduzia uma força de trabalho migrante, disponível e barata para o capital. Os salários e as formas de pagamento jogam um papel central nas relações entre o capital e o trabalho nos processos produtivos das empresas agrícolas em análise. A determinação de salários com base em metas reflecte as condições de «expropriação» da força de trabalho e de rentabilidade nestas empresas, visto que nem todos os trabalhadores podem atingir as metas, o que implica pagamentos parciais e, consequentemente, irregularidade e instabilidade nos rendimentos, além de que os salários já são baixos. Além das dificuldades para atingir as metas ou empreitadas diárias, o problema da irregularidade nos rendimentos é explicado também pelo facto de os trabalhadores não poderem ter trabalho durante todos os dias do mês e todos os meses ao longo do ano. Relação da População, economia e saúde em Moçambique Economia é o conjunto de actividades desenvolvidas pelos homens visando a produção, distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de vida. Em Moçambique, a agricultura é o esteio da economia e o país tem um grande potencial de crescimento no sector. A agricultura emprega mais de 80% da força de trabalho e fornece meios de subsistência para a vasta maioria de mais de 23 milhões de habitantes. Portanto, em Moçambique, tem-se configurado uma economia de renda, fundamentado por Brito (2009), pela existência de uma economia e padrão de acumulação centrado na obtenção de rendas. Esta estrutura pode ser considerada um “capitalismo sem capitalistas11 ”, que é 8 desregulado e com acumulação não assente na capacidade de geração de riqueza com base na eficiência e na competitividade do tecido económico. Em consequência, estrutura-se um mercado, simultaneamente, liberalizado e protegido (monopólios públicos), com fortes distorções devido à persistência de assimetrias de conhecimento e informação entre os agentes económicos, com diferentes capacidades negociais devido às estruturas não concorrenciais dos mercados, dificuldade de mobilidade de bens e pessoas (devido à debilidade e escassez das redes de transporte). Acrescentam-se as intervenções desajustadas da governação (subsídios desconexos, descontinuados no tempo, de difícil exequibilidade e/ou acessibilidade, e não monitorados12), sobrevalorização da taxa de câmbio (caso de 2011, 27 meticais por dólar), investimentos públicos sem relação directa com a produção e produtividade (por exemplo, na agricultura) e novos edifícios públicos (ministérios13 e nos distritos) e outros de prioridade duvidosa e não fundamentada em estudos económicos e efeitos sociais e ambientais (por exemplo, a circular de Maputo e a ponte da Catembe). Paralelamente a estes factores, sabe-se do não-cumprimento de importantes leis, incluindo a Constituição e é conhecida, e reconhecida, a morosidade do sistema judicial na resolução de situações de conflitualidade, assim como a desadaptação/desactualização do marco jurídico às novas realidades. Como exemplo verifica-se o incumprimento do artigo 3 da Lei de Terras (Lei nº19/97) em que se prevê que a terra em Moçambique não pode ser vendida, alienada, hipotecada ou penhorada, no entanto, existe em Moçambique um mercado de terras claramente verificado em órgãos de comunicação (especialmente anúncios de compra e venda de terrenos nos jornais). Estes factos têm influência directa no ambiente de negócios e por sua vez no nível de competitividade nacional. . Moçambique é, desde Outubro de 2012, um país cumpridor dos requisitos exigidos para os membros desta iniciativa, tendo que, a partir de então, tem publicado os relatórios de pagamentos efectuados pelas companhias que exploram recursos minerais no território nacional, bem como dos valores que o Governo recebeu, (CIP, 2013a). No entanto, foi referido no estudo publicado pelo CIP (2014), que muito pouco foi feito em termos de melhoria da colocação de informação no domínio público e prestação de contas, assim como na actuação do governo na gestão do sector. 9 Este estudo refere também que, mesmo após a inclusão de Moçambique na EITI, o governo continua a agir com secretismo, a rever leis sem participação pública, bem como a fazer, abusivamente, ajustes directos de importantes projectos para a viabilização dos recursos do país. A corrupção e o fraco nível de competitividade, em particular no pilar das instituições, levam a debilidade institucional. Por exemplo, sabe-se da incapacidade da fiscalização do negócio da madeira, da caça furtiva,do garimpo, entre outras actividades, que lesa a economia moçambicana e a sua sustentabilidade e para as áreas onde existem grandes investimentos externos (hidrocarbonetos e minerais), o ordenamento jurídico não está actualizado ou sofreram alguma actualização como o caso das novas leis de minas e petróleo. Por outro lado, a instabilidade institucional avalia-se pelas variações orgânicas do quadro dirigente e técnico, pela sucessão de políticas e estratégias, entre outros aspectos16 . A debilidade institucional, como refere Mosca (2005), surge após a transição de uma economia planificada para a economia de mercado, acompanhada do processo de privatização sem estratégias alternativas, resultando numa economia desregulada e de mercado selvagem, com a conivência e suporte de um Estado concessionário de rendas e de negócios que beneficiam, de forma hierarquizada, as elites e alianças de diferentes naturezas. A intervenção do Estado na economia, com os efeitos referidos, apenas encontra coerência quando a análise se alarga às abordagens interdisciplinares e, em particular, para a abordagem de economia política. Se, em termos estritamente económicos, são evidentes incoerências e inconsistências, a política económica é explicada quando a análise coloca a hipótese de que a gestão do Estado e da macroeconomia tiveram como objectivos centrais a reprodução do poder político, a criação de grupos económicos das elites do partido Frelimo e a consequente formação das alianças políticas internas. Os parágrafos seguintes procuram fundamentar esta hipótese juntamente com os exemplos dados sobre as influências de políticas a favor das elites anteriormente. Assim se justifica, por exemplo, o aumento vertiginoso do volume de subsídios, cujos beneficiários são, principalmente, os citadinos, com o objectivo de evitar situações de tumultos e conflitualidade nos centros urbanos, tal como aconteceu em 5 de Fevereiro de 2008 e em 1 e 2 de Setembro de 2010. Pode verificar-se o crescimento acentuado da rubrica subsídios (do Orçamento Geral do Estado). 10 Pela distribuição das despesas públicas nas diferentes rubricas pode constatar-se que o Estado surge como um agente provedor dos serviços de saúde e educação e que realiza investimentos em infra-estruturas, distribui recursos em forma de subsídios. Esta expansão foi aprofundada e custeada pelos donativos, endividamento público (empréstimos externos e internos) e aumento da capacidade de colecta de impostos. No período compreendido entre 2001 e 2014, os donativos e os empréstimos (ambos externos e internos) representaram aproximadamente 50% das despesas públicas, ou seja, as receitas do Estado apenas cobrem metade das suas necessidades. Esta dependência do exterior vai para além do que se verifica no Orçamento de Estado. De acordo com Boletim Estatístico (2010-2013), a BoP tem registado superavits desde 2007. Estes saldos positivos são maioritariamente financiados por recursos externos, nomeadamente: IDE; donativos; empréstimos; e, ocasionalmente perdão de dívidas. População e saúde em Moçambique O acesso equitativo aos sistemas de saúde de boa qualidade continua a ser uma grande preocupação da política de saúde para quase todos os países africanos. A epidemia de Ébola de 2014 na África Ocidental, o surto de febre amarela em 2016 na África Central 7 ou a emergência anual de cólera na maioria dos países da África Subsaariana são alguns exemplos que ilustram o pior cenário de sistemas de saúde enfraquecidos, especialmente em áreas rurais e para os mais pobres, ilustrando a falta de coordenação entre os doadores e a ajuda internacional bem como a necessidade urgente de cobertura universal de saúde (CUS). A assistência médica universal é um dos principais contribuintes para o bem-estar de um país, pois melhora a equidade em saúde, cobrindo as necessidades de saúde de toda a população (Organização Mundial de Saúde, 2013). O acesso aos serviços de saúde de qualidade é crucial para uma saúde boa e equitativa. O sistema de saúde é um determinante social da saúde que é influenciado e influencia outros determinantes sociais. A classe social, o género, a etnia e o local de residência estão intimamente ligados ao acesso, experiências e benefícios das pessoas em relação à assistência médica (CSDH, 2008). O actual sistema de saúde em Moçambique é bastante semelhante ao da maioria dos países da África Subsaariana. É caracterizado por um nível primário com uma infraestrutura 11 muito deficiente, pessoal de saúde pouco qualificado e, infelizmente e muito mais comum do que se imagina, requisitos básicos indisponíveis como água canalizada, fornecimento de energia confiável, medicamentos, oxigénio, transporte seguro ou diagnóstico e equipamento terapêutico. Por exemplo, os dados representativos nacionais de Moçambique mostram que apenas 34% das instalações dispunham dos três equipamentos básicos da infra-estrutura: água potável, saneamento e energia. Além disso, um número limitado de 42,7% das unidades sanitárias tinha disponíveis os medicamentos prioritários Finalmente, deve-se considerar - que é o foco particular deste estudo - como as características da população, o nível socioeconómico ou a condição de género, influenciam as suas necessidades de saúde, bem como o acesso aos serviços de saúde. O sistema de saúde - incluindo o sistema público de saúde - e as características da população (por exemplo, posição socioeconómica ou outras dimensões da estratificação social) (Aday & Andersen, 1974) interagem ao tentar responder às demandas pela saúde de maneira a produzir desigualdades no acesso da população aos cuidados de saúde (Whitehead, 1992) ameaçando o objectivo de uma cobertura efectiva (Tanahashi, 1978). Do ponto de vista equitativa, o acesso aos cuidados de saúde tem que ser igual, dependendo das necessidades de saúde e independentemente de outras características sociodemográficas, garantindo que o sistema de saúde diminua, em vez de aumentar, as desigualdades sociais em saúde (Ruger, 2007). Desigualdades sociais em saúde são definidas como as diferenças em saúde que são sistemáticas, socialmente produzidas e injustas entre grupos populacionais definidos socialmente, economicamente, demograficamente ou geograficamente. 12 Conclusão A política económica durante o período em análise teve como pilares principais a captação de recursos externos através da oferta de condições económicas “generosas” e de facilitação de operação das multinacionais e de uma diplomacia inteligente na manutenção dos fluxos da cooperação. Muitas decisões e medidas foram tomadas sem bases de estudos económicos e sobre os efeitos sociais e ambientais. Em muitas ocasiões, o voluntarismo económico (“custo político”) sobrepôs-se às decisões racionais e sem previsão e tomada de medidas complementares para a implementação das decisões. Noutras ocasiões, existiram planos e estratégias elaborados pensando-se na possibilidade de obtenção de recursos financeiros adicionais da cooperação ou e investimento externo. O crescimento económico, considerado elevado e robusto, possui grandes variabilidades conjunturais de crescimento entre e em cada sector (ao longo do tempo) e existe uma tendência de desaceleração durante a última década. Verifica-se ainda que os sectores com maior peso na formação do PIB são os que menos crescem sendo verdadeiro o contrário: os sectores que actualmente menos contribuem para a riqueza nacional são os que têm crescido a ritmos mais elevados. A persistência destas tendências, a médio e longo prazo, poderá reforçar a natureza subdesenvolvida da economia e, portanto, dependente, ineficiente, pouco competitiva, com crescente pobreza e diferenciação social e territorial, aumento das economias informais e de tráficos diversos. 13 Bibliografia BESSELING,R. Mozambique – political Dynamics, Regulatory Outlook and Infrastructure Risks. www.exclusive-analysis.com. 2023. BOLETIM ESTATÍSTICO. Maputo: Banco de Moçambique, 2010-2013. BRITO, L. Moçambique: de uma economia de serviços a uma economia de renda. IDEIAS, Boletim Nº 13. Maputo. 2009. CASTEL-BRANCO, C. Recursos Naturais, Meio Ambiente e Crescimento Sustentável em Moçambique: Crítica Metodológica ao Relatório de T. Ollivier, D. Rojat, C. Bernardac e P.N. Discussion paper nº 6. 2009. CASTEL-BRANCO, C. Os Mega-projectos em Moçambique: Que Contributo para a Economia Nacional? In: Fórum da Sociedade Civil sobre Indústria Extractiva. Maputo. 2010. CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA (CIP). Contribuição da EITI para a melhoria da governação do sector extractivo ainda é modesta. Edição Nº 10/2014. 2014. CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA (CIP). Novos standars do EITI desafiam o Governo de Moçambique a dar provas de estar comprometido com a transparência. Edição Nº 16/2013. 2013a. CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA (CIP). Nomenclatura e Holding do partido Frelimo na Indústria Extrativa em Moçambique. Serviço de partilha de informação nº 1/2013. 2013b.