Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UM GUIA DE BOLSO PARA ENGENHE IROS C IV IS QUE QUEREM IN IC IAR NA CARRE IRA DE PROJETOS ESTRUTURAIS Como evitar erros graves No projeto de estruturas de concreto armado Amanda Noleto INTRO- DUÇÃO Este material foi idealizado para ser um guia para engenheiros que estão querendo adentrar na carreira de projetos estruturais em concreto armado e não tem muitos conhecimentos na área ainda. Esta é uma área que envolve muito estudo e dedicação, e não há espaço para erros como os que serão descritos aqui. Portanto, o objetivo é proporcionar, através de uma linguagem simples e esclarecedora, um “guia de bolso”, um manual que todo Projetista iniciante deve ter por perto para evitar falhas na sua jornada rumo à elaboração de projetos com excelência. ERRO Nº 1 Se você intuitivamente já imaginou as armações de uma escada convencional como mostradas na figura abaixo, tome cuidado! Esta é uma consideração muito errada que pode causar graves fissuras e até a ruptura da estrutura. DETALHAR ESCADAS IGNORANDO O EFEITO DE "EMPUXO NO VAZIO" Quando temos uma mudança na direção de estruturas armadas longitudinalmente, a armadura sofre esforços de tração que comprimem a região de concreto oposta à concavidade do vértice da mudança de direção, o que chamamos. Pareceu complicado, né? Mas as figuras abaixo ilustram isso de forma simples: Figura 1 - Detalhamento ERRADO de escada 03 Quando a mudança de direção da armação se dá com a concavidade voltada para a região de concreto, o concreto é capaz de absorver essa força de compressão sem problemas (Figura 2). Já quando acontece o contrário e a concavidade está voltada para o lado oposto (Figura 3), a única porção que pode resistir à essa compressão é a fina camada de cobrimento do concreto, que não é suficiente, ocasionando fissuras e até a ruptura. Figura 2 - Empuxo "no concreto" 04 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Figura 3 - Empuxo "no vazio" Esta é a recomendação de disposição da armação nas regiões de empuxo no vazio: 05 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Figura 4 - Detalhamento CORRETO de escada SOLUÇÃO Deve-se estender a barra inclinada até o topo oposto da laje, fazendo a dobra e respeitando os limites dos comprimentos de ancoragem. Figura 5 - Detalhe recomendado para a região de empuxo no vazio ERRO Nº 2 A atualização de 2014 da NBR 6118, nossa Norma de Projetos de Estruturas de Concreto, trouxe importantes alterações, das quais destacamos a largura mínima para pilares de 14cm ao invés de 12cm como era até então. CONSIDERAR PILARES COM LARGURA DE 12CM Na verdade, é preciso entender melhor o que a Norma prescreve sobre as dimensões dos pilares. No item 13.2.3, de forma simplificada, podemos tirar 3 considerações importantes: Figura 6 - Largura mínima de pilares segundo a atualização da NBR 6118:2014 06 1) "Qualquer que seja a forma de um pilar ou pilar- parede, não podemos ter dimensão menor que 19cm" 07 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Figura 7 - Tabela de coeficientes γn retirada da NBR 6118:2014 Parece contraditório com o que foi dito no início, mas veja o próximo item para entender. 2) "Em casos especiais, podemos ter dimensões entre 19cm e 14cm, desde que os esforços solicitantes de cálculo considerados no dimensionamento sejam multiplicados por um coeficiente γn" Ou seja, é possível considerar dimensões abaixo de 19cm, chegando até 14cm, desde que majoremos os esforços atuantes. No caso de considerar pilares com 14cm, teremos que majorar os esforços em 25%! A tabela com todos os coeficientes de majoração pode ser vista abaixo: 3) "Em qualquer caso, não se permite pilar com seção transversal de área inferior a 360 m²" 08 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Da terceira regra, que determina a área mínima da seção dos pilares, podemos fazer algumas observações importantes: a) Se considerarmos um pilar retangular com 14cm e a área mínima prescrita na Norma, sua outra dimensão mínima vai ser 26cm. Ou seja, o menor pilar retangular possível é de 14x26cm (considerando majoração dos esforços). b) O menor pilar quadrado que podemos dimensionar é um pilar de 19x19cm. Este também é o menor pilar que podemos usar sem ter que majorar os esforços. c) O menor pilar circular, de acordo com a norma, é um pilar com diâmetro de 22cm. Resumindo isso em uma tabela, temos o seguinte: 09 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Figura 8 - Resumo das dimensões mínimas dos pilares segundo a Norma SOLUÇÃO ERRO Nº 3 Esse erro pode ser cometido, assim como o anterior, ao não se atentar à mais uma atualização normativa que veio com a NBR 6118:2014. Antes dessa atualização, definíamos os cobrimentos para vigas, pilares e lajes de acordo com a classe de agressividade ambiental, e isto valia para esses elementos como um todo. Agora, temos uma outra configuração para o cobrimento quando algum desses elementos estruturais está em contato com o solo. Veja o que a tabela abaixo, que foi retirada da Norma (Tabela 7.2), prescreve sobre cobrimentos mínimos para estruturas de concreto armado: NÃO CONSIDERAR COBRIMENTO DIFERENCIADO PARA ESTRUTURAS EM CONTATO COM O SOLO Figura 9 - Tabela de cobrimentos nominais mínimos segundo a NBR 6118:2014 10 “No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45 mm” 11 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Ou seja, é muito importante atentar para o fato de que os lances dos pilares em contato com o solo e que chegam na fundação tem o cobrimento diferenciado do grupo hachurado acima. A parte destacada mostra a atualização da Norma para elementos em contato com o solo. Mas é muito importante lembrar de uma pequena observação que altera esses valores de forma mais significativa. No item “b” da Tabela 7.2, temos o seguinte: SOLUÇÃO Vamos atualizar a tabela para ficar mais claro: Figura 10 - Tabela de cobrimentos nominais mínimos atualizada 12 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Vamos ir mais a fundo e explorar mais o assunto de cobrimentos. Pois ainda temos mais 4 apontamentos que podem modificar os valores dos cobrimentos nominais a serem adotados. Iremos vê-los a seguir: OBSERVAÇÕES EXTRAS 1) Diminuir 5mm de todas as medidas da tabela quando: a) Rígido controle de qualidade e precisão na execução do projeto; Primeiro vamos esclarecer algo. Nós sempre falamos “cobrimento mínimo”, mas a tabela da Norma fala em “cobrimento nominal”. E há uma diferença entre eles. O cobrimento nominal é o cobrimento mínimo acrescido da tolerância de execução, chamada de Δc. Por padrão, considera-se essa tolerância como Δc=10mm. E essa tolerância sempre deve ser considerada, por isso o motivo de a tabela apresentar os valores para cobrimentos nominais. Ou seja, para todos os valores da tabela mostrados acima, somou-se 10mm de tolerância devido à problemas ou imperfeições de execução. Só que o item 7.4.7.4. da Norma diz o seguinte: “Quando houver um controle adequado de qualidade e limites rígidos de tolerância da variabilidade das medidas durante a execução, pode ser adotado o valor Δc = 5 mm, mas a exigência de controle rigoroso deve ser explicitada nos desenhos de projeto. Permite-se, então, a redução dos cobrimentos nominais, prescritos na Tabela 7.2, em 5 mm.” Resumindo, você pode diminuir 5mm de todos os valores da tabela se o projeto contar com um alto nível de qualidade e precisão na execução. E se você definir isso, deve explicitar essas recomendações quanto ao nível de execução de forma escrita no seu projeto. 13 Como evitar erros graves no projeto de estruturasde concreto b) Concretos de classe de resistência superior ao mínimo exigido. Abaixo segue a Tabela 7.1 da Norma que traz a correspondên- cia entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto arma- do: Figura 11 - Tabela de relação entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto segundo a Norma Para exemplificar: se estiver na classe de agressividade II e for utilizar concreto de 30 Mpa, pode-se reduzir todos os cobrimentos nominais da tabela em 5mm. 2) Para todos os reservatórios, obras de sanea- mento e similares, deve-se considerar a classe de agressividade IV. Lembre-se desse item, principalmente da parte referente à reservatórios! Em projetos de prédios é comum a necessidade de detalhar um reservatório enterrado e/ou elevado. 3) Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) para regiões de clima seco com umidade relativa do ar menor ou igual a 65% e ambientes internos secos ou revestidos de argamassa e pintura. 14 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Apesar se serem aparentemente muitas informações, elas se apresentam de forma muito intuitiva no software de cálculo estru- tural TQS. Nele, ao selecionarmos a classe de agressividade ambien- tal de acordo com o nosso projeto, automaticamente já nos dá os cobrimentos conforme a Norma vigente. Também temos a opção de marcarmos fatores atenuantes como os citados acima. Abaixo seguem imagens do programa: UTILIZANDO O SOFTWARE TQS Figura 12 - Definindo a classe de agressividade no software TQS 15 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Figura 13 - Definindo os cobrimentos mínimos no software TQS ERRO Nº 4 A NBR 6118:2014 no item 18.4.2.1 faz duas imposições impor- tantes sobre a armadura longitudinal de pilares: NÃO CONFERIR TAXA DE ARMADURA DE PILARES 16 1) O diâmetro das barras longitudinais não pode ser inferior a 10 mm nem superior a 1/8 da menor dimensão transversal. Ou seja, para pilares de 14cm, a armação permitida deve ter 10mm ≤ Φ ≤ 16mm. 2) A taxa geométrica de armadura deve ser menor que 8% da área de seção transversal de concreto. Considerando que há uma sobreposição de armadura nas regi- ões de emendas de lances de pilares por causa dos trespasses, na verdade não podemos detalhar pilares com mais de 4% de taxa de armadura (pois na emenda esse valor dobra). SOLUÇÃO Sempre lembrar de conferir essas duas coisas ao detalhar um pilar: Diâmetro das barras longitudinais: 10mm ≤ Φ ≤ menor dimensão / 8 Taxa de armadura ≤ 4% da área de concreto da seção do pilar 17 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Após lançar a estrutura e processar o edifício, devemos aces- sar a tabela de “Resumo do detalhamento” dos pilares para conferir as duas prescrições da Norma e, caso seja necessário, redimensionar os pilares caso não estejam atendendo os critérios. UTILIZANDO O SOFTWARE TQS Figura 14 - Acessando o resumo do detalhamento dos pilares no software TQS Figura 15 - Resumo do detalhamento dos pilares gerado pelo TQS A imagem acima mostra que o Pilar 1 deve ser redimensionado e recalculado para atender as prescrições da Norma. ERRO Nº 5 Ao detalhar qualquer elemento estrutural, devemos antes ima- ginar como será sua execução na obra, pois alguns detalhes depen- dem das etapas de execução. É com este raciocínio que facilmente entendemos que precisamos deixar arranques nas armaduras dos pilares a cada lance, pois eles não serão concretados de uma vez, e precisamos de uma emenda de armações para continuar a próxima etapa a cada novo lance. No caso das escadas, devemos prever arranques na viga de apoio inferior, pois ela já estará concretada quando forem montar as armações da escada. NÃO DETALHAR ARRANQUES NA ARMA- DURA DA ESCADA 18 Figura 16 - Etapas de concretagem Lajes e vigas de um pavimento são concretadas junto com a escada que chega nesse pavimento 19 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Abaixo segue um modelo de detalhamento de escada com o arranque previsto: SOLUÇÃO Figura 17 - Exemplo de detalhamento de escada com a previsão dos arranques Deve-se lembrar de colocar uma observação no detalhe de armações da viga inferior: “ver arranques no detalhamento da escada” para que o armador não esqueça de colocá-los na montagem da viga. ERRO Nº 6 Primeiro vamos lembrar o que são Estados-Limite: UTILIZAR OS ESTADOS-LIMITE E AS COM- BINAÇÕES DE AÇÕES ERRADAS NOS CÁL- CULOS E VERIFICAÇÕES 20 “Estados-Limite são situações em que a estrutura deixa de atender os requisitos necessários para seu uso de forma adequada e como foi planejada. Temos dois estados: Estado-Limite Último e Estado-Limite de Serviço” O Estado-Limite Último (ELU) é atingido quando a estrutura tem seu uso interrompido por causa de um colapso parcial ou total. É uma situação última, extremamente indesejada. Portanto: O Estado-Limite Último está relacionado à resistência da estrutura (e segurança). O Estado-Limite de Serviço (ELS) é atingido quando a estru- tura deixa de ser utilizada por causa de um mau comportamento, sem que seja necessariamente a ruína. Seria o caso de deformações excessivas que impediriam uma janela de abrir, ou fissuras grandes o suficiente para serem visíveis a olho nu e causarem desconforto ou um deslocamento excessivo fazendo as paredes da edificação trinca- rem. Portanto: O Estado-Limite de Serviço está relacionado ao de- sempenho e funcionamento da estrutura. 21 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Todos esses Estados devem ser respeitados durante o projeto estrutural, seguindo a seguinte relação: SOLUÇÃO ELU Dimensionamento das armaduras dos elementos estruturais ELSAnálise de deformações,deslocamentos e fissuras Cada Estado-Limite tem suas Combinações de Ações. Essas combinações reúnem diferentes possibilidades de associações das ações que atuam na estrutura, assim como ocorre na vida real, com seus devidos coeficientes ponderadores ou majoradores. A análise das deformações é uma etapa muito importante no projeto estrutural. Para fazer essa análise, é preciso escolher a com- binação de ações do ELS corretamente. O item 11.8.3.1 da NBR 6118:2014 classifica as combinações de serviço em três tipos: quase permanentes, frequentes e raras, sendo as duas primeiras as mais utilizadas nos edifícios de concreto armado. Combinação Quase Permanente (CQPERM) Utilizada na verificação do estado-limite de deformações excessivas Combinação Frequente (CFREQ) Utilizada no estado-limite de formação de fissuras, abertura de fissuras e vibrações excessivas 22 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Portanto, ao verificar as deformações limite da estrutura, sempre fazer através da Combinação Quase Permanente do Estado- Limite de Serviço. UTILIZANDO O SOFTWARE TQS Todos os Estados-Limite e Combinações de Ações estão con- figurados no software automaticamente conforme as prescrições da Norma. A única exceção é na análise de flechas de deformação, onde temos que manualmente selecionar a combinação correta. Mas essa seleção é bem intuitiva e teremos um aviso do programa caso a com- binação errada esteja selecionada, conforme mostram as imagens a seguir: Figura 18 - Acessando a análise de flechas no TQS 23 Como evitar erros graves no projeto de estruturas de concreto Figura 19 - Configurando a CQPERM para análise de flechas no TQS Figura 20 - Diagrama de flechas do TQS Amanda Noleto é engenheira civil com especialidade em projetos estruturais de concreto armado. Durante os últimos 5 anos fez diversos projetos de diferentes níveis de complexidade, desde casas residenciais até edifícios com mais de 30 pavimentos. Acredita que a áreade projetos estruturais em concreto armado é uma das bases da engenharia e que pode ser ensinada de forma descomplicada e prática. SOBRE A AUTORA Este ebook tem o intuito de esclarecer alguns importantes conceitos na elaboração de um projeto estrutural em concreto armado e não substitui a leitura e estudo de todas as normas pertinentes ao projeto por parte do engenheiro projetista.
Compartilhar