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EXTRAVASE AS SUAS IDEIAS 
(Oficinas de textos para alunos do bacharelado em Segurança Pública) 
 
 
 
 
 
Autoras: Profa. Dra. Danieli Machado Bezerra 
& 
Amanda Carla Sidaco Magalhães 
 
 
 
APOIO e INCENTIVO: 
 
 
 
 
 
 
 
 
Parte 1: Desenvolvendo a escrita a partir da análise de tirinhas: 
 
Disponível em: https://tirasarmandinho.tumblr.com/ 
https://tirasarmandinho.tumblr.com/
 
 
 
No ano de 2013, um homem negro foi detido em local 
próximo ao local das manifestações pela diminuição das 
tarifas de ônibus portando apenas uma garrafa de 
desinfetante e uma de água sanitária. Rafael Braga foi 
preso sob a alegação de violação do estatuto do 
desarmamento. 
 
 
 
Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-pai-do-armandinho-o-menino-de-cabelo-azul-que-reflete-sobre-
arte-a-politica-e-direitos-humanos 
 
https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-pai-do-armandinho-o-menino-de-cabelo-azul-que-reflete-sobre-arte-a-politica-e-direitos-humanos
https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-pai-do-armandinho-o-menino-de-cabelo-azul-que-reflete-sobre-arte-a-politica-e-direitos-humanos
 
 
Parem de nos matar: 
 
De fevereiro de 2019 à setembro de 2019, cinco crianças foram mortas 
em decorrência de “bala achada” durante ação policial. 
Jenifer Silene Gomes – 11 anos 
Kauê Ribeiro - 12 anos 
Kauã Rozário – 11 anos 
Kauan Peixoto – 12 anos 
Ágatha Félix – 8 anos 
 
 
 
 
 
Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-pai-do-armandinho-o-menino-de-cabelo-azul-que-reflete-sobre-arte-
a-politica-e-direitos-humanos 
O atlas da violência (pesquisa realizada pelo IPEA e pelo Fórum 
Brasileiro de Segurança Pública) divulgou os dados de que em 2017 o 
Brasil registrou 65.602 pessoas assassinadas, ou seja, uma taxa de 31,6 
mortes violentas para cada 100 mil habitantes. Dessas 65.602 pessoas 
assassinadas no país em 2017, 75,5% são pessoas negras. 
https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-pai-do-armandinho-o-menino-de-cabelo-azul-que-reflete-sobre-arte-a-politica-e-direitos-humanos
https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-pai-do-armandinho-o-menino-de-cabelo-azul-que-reflete-sobre-arte-a-politica-e-direitos-humanos
 
 
 
 
Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/4137839/ 
https://slideplayer.com.br/slide/4137839/
 
 
 Mateus Ferreira, 33 anos foi fortemente agredido por um capitão da polícia 
militar em 2017 durante um protesto contra a reforma da previdência. Ficou 
internado por 11 dias na UTI com traumatismo cranioencefálico e múltiplas 
fraturas. Em 2019 o capitão foi promovido a Major por merecimento. 
 
 
Disponível em: https://www.pinterest.ph/pin/383087512027285432/?autologin=true 
https://www.pinterest.ph/pin/383087512027285432/?autologin=true
 
 
A cada 23hs no Brasil, uma pessoa LGBTQ+ morre em decorrência da 
homofobia. 
 
Extravase aqui as suas ideias: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Parte 2: Desenvolvendo a escrita a partir da 
análise de letras de músicas: 
 
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro - O Rappa (1994) 
Tudo começou quando a gente conversava 
Naquela esquina ali 
De frente àquela praça 
Veio os homens 
E nos pararam 
Documento por favor 
Então a gente apresentou 
Mas eles não paravam 
Qual é negão? qual é negão? 
O que que tá pegando? 
Qual é negão? qual é negão? 
 
 
É mole de ver 
Que em qualquer dura 
O tempo passa mais lento pro negão 
Quem segurava com força a chibata 
Agora usa farda 
Engatilha a macaca 
Escolhe sempre o primeiro 
Negro pra passar na revista 
Pra passar na revista 
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro 
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro 
É mole de ver 
Que para o negro 
Mesmo a aids possui hierarquia 
Na áfrica a doença corre solta 
E a imprensa mundial 
Dispensa poucas linhas 
Comparado, comparado 
Ao que faz com qualquer 
Figurinha do cinema 
Comparado, comparado 
Ao que faz com qualquer 
 
 
Figurinha do cinema 
Ou das colunas sociais 
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro 
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro 
 
 
Cláudia Silva Ferreira, 38 anos. Arrastada por cerca de 250 metros por uma viatura 
da PM. 
Amarildo Dias de Souza, desaparecido na Rocinha após ser detido por policiais da 
UPP. 
53% da população carcerária no Brasil é composta por pessoas negras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Doutrina do choque – Dead Fish – 2019 
 
Na guerra não convencional 
Na doutrina do choque 
O predador neoliberal 
Faz a festa 
Do deus mercado e capital desregularizado 
Se alimentam oligarcas 
Pros senhores do mundo 
Multipolaridade 
Tirar dinheiro de suas mãos 
Reserva de petróleo 
Que não lhes cabe parte 
Necessita intervenção 
A guerra híbrida não usa força militar 
Vigia e explora pontos vulneráveis 
Pra impor ou se opor, pra tomar o poder 
Interfere no processo eleitoral 
Vulgo golpe 
Atrás do orgulho nacional 
Em nome do progresso 
 
 
O predador neoliberal 
Faz a festa 
Novo sistema laboral 
Fábrica de escravos 
Prioriza oligarcas 
Desorientação reduz a resistência 
A classe média faz sua parte 
Jogando sujo contra a corrupção 
De emergente à subserviente 
Abrindo espaço para o Chicago boy 
Privatizar todas as estatais 
Favorecer os ricos às custas dos pobres 
Eliminar programas sociais 
Arma na mão pra garantir a paz 
Do virtual ao institucional 
Destruir para lucrar com a reconstrução 
Trocar de dono 
No ponto cego está toda a população 
Meros inquilinos 
Empreendendo, pagando a conta 
Pro bem-estar de poucos 
 
 
Na guerra não convencional 
Na doutrina do choque 
O predador neoliberal 
Faz a festa 
Devorando tudo até não sobrar nada 
Capitalismo do desastre 
 
“As Guerras Híbridas são conflitos identitários provocados por agentes externos, que exploram diferenças 
históricas, étnicas, religiosas, socioeconômicas e geográficas em países de importância geopolítica por 
meio da transição gradual das revoluções coloridas para a guerra não convencional, a fim de desestabilizar, 
controlar ou influenciar projetos de infraestrutura multipolares por meio de enfraquecimento do regime, 
troca do regime ou reorganização do regime.” 
Andre Korybko 
 
Extravase aqui as suas idéias: 
 
 
 
 
 
 
 
Parte 3 – Desenvolvendo a escrita a partir de contos 
 
Conto 1: O Gato Preto- Edgar Allan Poe (resumo) 
 
O narrador do conto, era extremamente amável e ligado aos animais. Dentre os animais que 
possuía, havia um gato preto que se chamava Plutão. 
Plutão era muito companheiro do narrador, até que o mesmo veio a sofrer uma mudança brusca 
de humor e de caráter. 
Certa noite, ao retornar para casa embriagado, o homem tentou pegar o gato à força, que em um 
instinto de defesa, o feriu nas mãos. 
Tomado de raiva, o homem arrancou um dos olhos do pobre gato e posteriormente, em outro 
momento, o enforcou em um dos ramos da árvore do quintal. 
Na mesma noite do enforcamento do gato, a casa do homem e de sua esposa foi tomada por um 
incêndio e eles perderam a casa e todos os bens materiais. 
 
 
Após ter perdido tudo no incêndio, enquanto estava bebendo em um dos tugúrios da cidade, 
encontrou um gato preto muito parecido com Plutão, com exceção de uma mancha branca em seu 
peito. 
Por lhe lembrar Plutão, inclusive na falta de um dos olhos, o homem quis levar o gato pra casa, 
entretanto, passado pouco tempo, o homem começou a ter uma aversão enorme ao gato e o 
evitava a qualquer custo para que não lhe acontecesse o mesmo que aconteceu ao Plutão. 
Um dia o homem notou que a mancha no peito do gato, antes indefinida, agora possuía uma forma 
que lhe causava um horror indescritível, a mancha do gato se parecia com a forca de Plutão. 
O homem então decidiu eliminar o gato e para isso, tentou lhe acertar com um machado, no 
entanto, a esposa segurou seu pulso e o impediu de proferir o golpe contra o gato. A fúria do 
homem era tanta que ele se libertou das mãos de sua esposa e enterrou o machado em seu 
crânio. 
O gato sumiu após o homem ter assassinado a esposa,talvez por medo. Foi aí então que o homem 
resolveu sepultar a sua esposa na parede da casa, tomando o cuidado de não deixar diferença 
entre as paredes ao redor. 
Quatro dias após o assassinato de sua esposa, alguns polícias apareceram em sua casa lhe 
fazendo perguntas e revistando o local, quando estavam prestes a ir embora, um barulho que se 
parecia com um gemido e se transformou em um grito, ecoou do túmulo de sua esposa e quando 
 
 
os policiais retiraram os tijolos da parede, lá estava o cadáver da mulher se decompondo e 
coberto de sangue seco, e em cima de sua cabeça estava o gato que estregou o crime do homem 
aos policiais. 
 
Conto 2: O mineirinho – Clarice Lispector 
“Esta é a lei. Mas se há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio 
de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me 
cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e 
no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no 
décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina – porque eu sou o outro. 
Porque eu quero ser o outro.” Trecho do conto Mineirinho. 
Nessa obra, Clarice Lispector problematiza a partir de uma ocorrência policial verídica. 
Em 1 de maio de 1962, os jornais cariocas noticiaram a morte do assaltante Mineirinho, que tinha 
escapado de um Manicômio Judiciário, a pena dele era de 104 anos de reclusão. 
Ele foi encontrado morto em um local afastado com 13 tiros, não havia sangue, possivelmente ele 
não foi assassinado no local. 
 
 
Na crônica o alívio que poderia advir da segurança proporcionada pela morte de Mineirinho vai aos 
poucos, sendo transformado em falta de paz e vergonha, até atingir a transferência psicanalítica 
eu/Outro. 
Hannah Arendt em Origens do Totalitarismo afirma que a partir das Revoluções Burguesas, a 
burguesia concedeu ao Estado o monopólio da violência. Visto que no Feudalismo, a violência era 
privilégio da nobreza, pois somente ela podia portar armas e ir à guerra. 
“Porque somos os sonsos essenciais”… Fazemo-nos de bobo, dormindo em nossas casas. A fala 
humana já tinha falhado com Mineirinho. 
Dessa forma, quando o Estado faz uso de uma violência desproporcional toda a sociedade age 
junto, assim o narrador se coloca também como responsável pelos 13 tiros de Mineirinho, chegando 
ao ponto de se transformar no bandido. 
Segundo o narrador do conto, Mineirinho carrega dentro de si o medo: “um homem que mata muito 
é porque teve medo”. 
Dentro do contexto da narrativa, Mineirinho mata porque é um pária social, enquanto a Polícia que 
dispara 13 tiros contra ele, transgride o mandamento bíblico: “Não matarás”. 
 
 
O uso do diminutivo inho (Mineirinho) demonstra um traço de afetividade e proximidade do 
narrador com o bandido. Mas, a opção do narrador vai além de se aproximar desse Outro, é se 
transformar nele. 
Esse Outro aparece diversas vezes na obra de Clarice Lispector, um cego mastigando chiclete, 
uma barata no quarto da empregada e até em uma galinha. 
Em o Mal-estar da Civilização de Freud vemos que para vivermos em sociedade precisamos recalcar 
sentimentos violentos, o que Mineirinho não faz. 
No entanto, o narrador percebe que a violência de Mineiro está também presente nele e em nós: 
“Embaixo da casa está o terreno…” (inconsciente). “Tudo que nele é violência é em nós furtivo”. 
Mineirinho mesmo antes de morrer já foi desumanizado, pois já havia sido destituído de sua 
subjetividade e teve sua existência excluída dentro da sociedade de consumo. 
Dessa forma, ao deter o mal no Outro, também somos passíveis de executá-lo. 
Esse conto me lembrou essa frase de Nietzsche: “Aquele que luta com monstros deve acautelar-
se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo 
olha para você.” Para Além do Bem e do Mal. 
Disponível em: https://juorosco.blog/2017/12/03/resenha-conto-mineirinho-clarice-lispector/ 
https://juorosco.blog/2017/12/03/resenha-conto-mineirinho-clarice-lispector/
 
 
 
Conto 3: Mãos ao ato! Isso não é um assalto! – Danieli Machado 
 
Olhando a rua da janela do apartamento em que moro, presenciando o fim da tarde dentro de casa, 
com a agulha lúcida na vitrola embalando a Ópera do Malandro, criada por chico Buarque, me vem 
à lembrança recente de dois malandros que subtraíram as malas e a consequente viagem de uma 
jovem que pensava construir Belos Horizontes e sonhos compartilhados com a sua militância na 
Consulta Popular em uma semana de julho, antecipando a sua ida ao Rio de Janeiro. 
Foram-se as malas, os malandros e a reflexão de que o som elidido por eles: “ mãos ao alto! Isso é 
um assalto! Ouvidos em um instante que se configuraram em uma eternidade, através de músicas 
aliterantes em S; causa-nos nostalgia porque o malandro de Chico não é mais o mesmo. 
Não cria mais o samba e nem dança calorosamente as suas raízes, o que se ouve são tiros 
estridentes e estúpidos de armas, metralhadoras e fuzis tão comuns nos morros cariocas. 
Com as mãos, Chico Buarque se arma com vinte e seis letras de nosso alfabeto e com um violão, 
prestigia o malandro em muitas canções; e o LP ainda na vitrola, nos dá a imagem perfeita de que 
há muito tempo encantou a boemia, o samba e as mulheres. 
O chapéu que o malandro utiliza hoje não é mais enfeitado com fita de cetim colorida. O boné o 
substitui para que eles possam se esconder do mundo, praticando suas canções que nos dão medo. 
 
 
Suas vestes elegantes de linho branco são paletós importados tão peculiares em Brasília , ou, quem 
sabe, uma indumentária vestindo um cidadão comum, em qualquer esquina do Brasil . 
A capa do vinil nos trás o seu corpo, vestido de branco, deitado em um banco de uma praça qualquer 
carioca. Ele não se mostra mais, pelo contrário, se esconde no cotidiano de seus furtos pequenos 
ou grandes- assaltando bancos-. 
O cenário da ópera buarquena é a Lapa, que com o privilégio de ter os seus arcos , naquela geografia 
que só o Rio de Janeiro possui, privilegia também os desavisados que por lá também se rouba, 
porque polícia existe, mas não se sabe pra quê! Cadê? 
Nossa viajante sofre um segundo assalto na mesma Lapa do Max Overseas e Fernandes Duran; 
dando sorte ao azar; e mais uma vez, dois malandros levaram as lembranças de uma Petrópolis 
imperial. Foi real. Roubaram as imagens sem lembrar a memória. E isso é o que importa para a 
história. 
Transformaram-se em MALANDROS- homens mal- pois suas almas estão acometidas de uma 
crueldade que nem a realidade se dá conta, onde possa chegar o limite do ser humano. Não dançam 
mais o samba com elegância. Saudades do malandro do Chico. 
Em minhas mãos restou a emoção, pois delas sou escrava e as materializo brincando com as palavras 
, porque o lenço, muitas vezes, transformado em flor, em sua indumentária, só tem importância 
para reverenciar o samba sem choro. 
 
 
A vitrola ainda em sua projeção mágica, girando a obra prima do artista, sem arranhões, repete 
dando fim à trama “ E, no entanto, ele se move como prova o Galileu... E, no entanto, ele se move 
como prova o Galileu... E, no entanto, ele se move como prova o Galileu”. 
 
 
Conto 4: Perdeu! Perdeu! – Danieli Machado 
Às crianças assassinadas na escola de Realengo/RJ. 
 
Ouvi de uma criança de rua essa expressão. Subitamente ela segurou uma bolsa de uma mulher e 
saiu correndo. Assaltou!!! E com um sobressalto a dona da bolsa caía aos prantos, tentando 
entender o que lhe acontecera. 
- Perdeu! Perdeu! Frase desgastada de crianças que perambulam livremente nas ruas do Rio ou nos 
morros cariocas. Não sei o que aconteceu no Rio e me entristeço. Eram 7 horas de uma manhã fria 
de um outono que se iniciara há um mês. Outono onde sonhos pueris começam dentro de salas de 
aulas. Onde sonhos começam a ser idealizados e que transformam a vida de muitosjovens que 
poderiam ter um futuro parecido com as de muitas crianças das ruas e nas ruas. 
Fiquei pensando naquela cena e me dei conta de que aquela criança escolheu para si um presente 
trágico, forçado talvez, fruto de consequências de sua fragilidade de vida. 
 
 
Essa criança, aproximadamente aos doze anos de idade, que exprimia essa frase, Perdeu! Perdeu! 
Perdeu sim: tantas lições de casa e que aprendia na rua o que a escola não poderia lhe ensinar. 
As armas eram os lápis de cera coloridos esquecidos pelos seus sonhos, ou teriam sido sonhos 
coloridos esquecidos? As lembranças de sua professora do jardim da infância talvez tenham 
ficado apagadas com as borrachas perdidas entre os corredores da escola que frequentara. 
- Perdeu! Perdeu! 
Nessa mesma manhã. Em um subúrbio do Rio que me faz chorar agora, doze crianças, diferentes 
daquelas da rua e nas ruas, acabaram perdendo seus sonhos doces sem mordidas dadas. Perderam 
sonhos de valsas com suas possíveis canções felizes. 
Perdeu! Perdeu! Doze crianças assassinadas em uma escrita que foram interrompidas pelo destino 
trágico de uma escola invadida. 
Ficaram lápis pelo chão sem poder realizar as soluções matemáticas tão difíceis transmitidas pelo 
professor chato. Cadernos espalhados pelas cadeiras das salas de aula com caligrafias bem 
desenhadas para agradar a professorinha de redação. Borrachas que não apagarão com facilidade 
as marcas de sangue que ficaram estampadas nas paredes das salas de aulas e no chão da quadra 
de esportes. 
 
 
Nesse caso, não foi apenas a bolsa de uma mulher roubada. Foram roubadas doze mochilas com 
livros de histórias dentro. Foram encerrados capítulos inacabados de sonhos de “brasileirinhos” 
que empunhavam canetas na mão como armas de um mundo que poderia ser transformado. 
 
Extravase aqui as suas idéias: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia: 
 
BECK, Alexandre. Tirinhas Armandinho. Disponíveis 
em: https://tirasarmandinho.tumblr.com/ 
LISPECTOR CLARICE. Mineirinho. Para Não 
Esquecer. Rio de Janeiro: Rocco (1999) 
LIMA, R.A et al. Ponto Cego, Doutrina do Choque. 
Deck, 2019. 
MACHADO, Danieli. Canções em Crônicas 
Coloridas. Rio de Janeiro, Ed Multifoco, 2013 
POE, Edgar Allan. Antologia de Contos 
Extraordinários (1809-1849) (disponibilizado 
gratuitamente pela equipe LE LIVROS) 
TEJÓN, Joaquín (QUINO). Tirinha da Mafalda. 
Disponível em: http://www.mundoemmovimentos.com/2016/01 
/o-projeto-escola-livre-aprisionando-as.html. 
YUKA, Marcelo. Instinto Coletivo, Todo Camburão 
Tem Um Pouco De Navio Negreiro. Warner, 2001. 
 
	“Esta é a lei. Mas se há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o cora...
	Nessa obra, Clarice Lispector problematiza a partir de uma ocorrência policial verídica.
	Em 1 de maio de 1962, os jornais cariocas noticiaram a morte do assaltante Mineirinho, que tinha escapado de um Manicômio Judiciário, a pena dele era de 104 anos de reclusão.
	Ele foi encontrado morto em um local afastado com 13 tiros, não havia sangue, possivelmente ele não foi assassinado no local.
	Na crônica o alívio que poderia advir da segurança proporcionada pela morte de Mineirinho vai aos poucos, sendo transformado em falta de paz e vergonha, até atingir a transferência psicanalítica eu/Outro.
	Hannah Arendt em Origens do Totalitarismo afirma que a partir das Revoluções Burguesas, a burguesia concedeu ao Estado o monopólio da violência. Visto que no Feudalismo, a violência era privilégio da nobreza, pois somente ela podia portar armas e ir à...
	“Porque somos os sonsos essenciais”… Fazemo-nos de bobo, dormindo em nossas casas. A fala humana já tinha falhado com Mineirinho.
	Dessa forma, quando o Estado faz uso de uma violência desproporcional toda a sociedade age junto, assim o narrador se coloca também como responsável pelos 13 tiros de Mineirinho, chegando ao ponto de se transformar no bandido.
	Segundo o narrador do conto, Mineirinho carrega dentro de si o medo: “um homem que mata muito é porque teve medo”.
	Dentro do contexto da narrativa, Mineirinho mata porque é um pária social, enquanto a Polícia que dispara 13 tiros contra ele, transgride o mandamento bíblico: “Não matarás”.
	O uso do diminutivo inho (Mineirinho) demonstra um traço de afetividade e proximidade do narrador com o bandido. Mas, a opção do narrador vai além de se aproximar desse Outro, é se transformar nele.
	Esse Outro aparece diversas vezes na obra de Clarice Lispector, um cego mastigando chiclete, uma barata no quarto da empregada e até em uma galinha.
	Em o Mal-estar da Civilização de Freud vemos que para vivermos em sociedade precisamos recalcar sentimentos violentos, o que Mineirinho não faz.
	No entanto, o narrador percebe que a violência de Mineiro está também presente nele e em nós: “Embaixo da casa está o terreno…” (inconsciente). “Tudo que nele é violência é em nós furtivo”.
	Mineirinho mesmo antes de morrer já foi desumanizado, pois já havia sido destituído de sua subjetividade e teve sua existência excluída dentro da sociedade de consumo.
	Dessa forma, ao deter o mal no Outro, também somos passíveis de executá-lo.
	Esse conto me lembrou essa frase de Nietzsche: “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” Para Além do Bem e do Mal.

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