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Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Genética e Bioquímica Profa. Msc. Bruna Barbosa de Sousa MUTAÇÃO GÊNICA E REPARO DO DNA Podem ocorrer erros que são ou não reparados Frequência de erros Gravidade Replicação Transcrição e Tradução Repassado para as demais células Erro durante a replicação Não é corrigido Mutação no DNA Síntese de uma proteína diferente Variações no fenótipo Maléficas Evolução das espécies Mutações são fundamentais para evolução e diversidade das espécies. 1- Mutagênese 2- Reparo do DNA CONTEÚDO Conceito: Qualquer alteração no DNA durante ou após a replicação. Consequência: A mutação pode levar à formação de uma proteína variante, passível de ter propriedades distintas em consequência de sua estrutura alterada. Fonte primária da Variabilidade Genética e do Processo Evolutivo. Sem a mutação os genes existiriam apenas em uma forma. MUTAÇÃO CLASSIFICAÇÃO DAS MUTAÇÕES Quanto ao nível • Gênicas Substituição de base Deleções e adição de bases • Cromossômicas Alterações numéricas Alterações estruturais Quanto às causas • Espontâneas • Induzidas (agentes mutagênicos: álcool, cigarro, inseticidas, fungicidas...) Quanto ao tipo celular • Somáticas (doenças genéticas) • Germinativas (doenças hereditárias) Quanto às consequências • Morfológicas, bioquímicas, condicionais, reversas, perda de função, ganho de função, letais, deletérias, neutras, benéficas. Quanto ao nível • Gênicas Apenas em um gene ou poucos nucleotídeos - Substituição de base - Deleção de bases - Adição de bases • Cromossômicas Segmento do cromossomo ou cromossomo inteiro - Alterações numéricas; - Alterações estruturais; GÊNICAS ou MUTAÇÕES DE PONTO • Substituição de base • Adição de base • Deleção de base Quanto ao nível Transição: purina purina ou pirimidina pirimidina Transversão: pirimidina purina C A C G T A T G A C A T G C G T A G G A C T T C A T C C A A G T A G A T A T C A C A A G T A G A T A T C C A A G T A G A T A T C A A G T A G A T GÊNICAS • Substituição de base • Adição de bases • Deleção de bases Quanto ao nível Consequências... Mutação silenciosa (código degenerado) aaX aaX Exemplo mutação silenciosa: • ocorre quando a mutação é no terceiro nucleotídeo do códon; • não afeta a sequência de aminoácidos; • não origina fenótipo mutante. Oscilação GÊNICAS • Substituição de base • Adição de bases • Deleção de bases Quanto ao nível Consequências... Mutação silenciosa (código degenerado) aaX aaX Mutação de troca de sentido “Mutação missense” aaX aaY Substituição conservativa: aaX e aaY quimicamente similares Substituição não-conservativa: aaX e aaY quimicamente diferentes Exemplo de mutação “missense”: • mutação é, principalmente, no primeiro ou segundo nucleotídeo do códon; • muda a sequência de aminoácidos; • pode causar fenótipo mutante. Conservativa: Não-conservativa: Mutação “missense” Anemia Falciforme SINTOMAS: Cansaço, fraqueza e palidez. Hemácia em foice Hemoglobina S GÊNICAS • Substituição de base • Adição de bases • Deleção de bases Quanto ao nível Consequências... Mutação silenciosa (código degenerado) aaX aaX Mutação de troca de sentido “Missense” aaX aaY Substituição conservativa : aaX e aaY quimicamente similares Substituição não- conservativa: aaX e aaY quimicamente diferentes Mutação sem sentido “Nonsense” (término prematuro da tradução) Códon códon de parada Exemplo de mutação “nonsense”: • mutação altera para códon de parada; • síntese da cadeia é interrompida; • gera fenótipo mutante (proteína inativa - interfere no peptídeo inteiro). Substituição de base: Fenótipo Selvagem X Fenótipo Mutante GÊNICAS • Substituição de base • Adição de bases • Deleção de bases Quanto ao nível Consequências... Mutação silenciosa (código degenerado) aaX aaX Mutação de troca de sentido “Missense” aaX aaY Substituição conservativa: aaX e aaY quimicamente similares Substituição não- conservativa: aaX e aaY quimicamente diferentes Mutação sem sentido “Nonsense” (término prematuro da tradução) Códon códon de parada Consequências além do sítio de mutação: Alteração na leitura do DNA a partir do ponto de mutação Mutação de matriz de leitura “Mutação frame shift” A T C C A A G T A G A T A T C A C A A G T A G A T Exemplo de adição ou deleção de bases Mutação “frame shift” • Pode causar fenótipo mutante (perda total da função normal da proteína) , quando o número de bases inseridas ou deletadas não é múltiplo de 3. Adição de base Deleção de base Essas consequências ocorrem quando a mutação está em uma região codificante do gene! Mutação em região regulatória altera quantidade do produto gênico. Quanto às causas Ocorrem ao acaso, sem causa aparente (fatores endógenos). Ocorrem quando o organismo é exposto a um agente mutagênico (agentes exógenos). Ocorrem com maior frequência. Espontâneas Induzidas Ocorrem em qualquer local do gene regiões repetitivas (pontos quentes) Erros na replicação Lesões espontâneas Espontâneas GGGGGTGGGGGT CCCCCACCCCCCA Espontâneas Erros na replicação: Pareamento incorreto das bases nitrogenadas TAUTÔMEROS Isômeros: mesma fórmula molecular, mas ligações entre átomos estão distribuídos de forma diferente Formas tautoméricas das bases nitrogenadas: • Ceto • Amino • Iminol • Enol Pareamentos não usuais Formas usuais e tautoméricas das bases: Pareamentos usuais das bases: Amino Amino Ceto Ceto Pareamentos não-usuais das bases: As mudanças tautoméricas produzem mutação de transição: purina purina pirimidina pirimidina A G C T A* – C G* – T A – C* G – T* Mutação AT GC Mutação GC AT Mutação por mudança tautomérica nas bases do DNA Mutação GC AT Espontâneas Lesões espontâneas: • Depurinação • Desaminação • Danificação de bases por oxidação Depurinação - Mais comum; - Interrupção da ligação glicosídica entre a base e a desoxirribose, com perda de uma guanina e uma adenina do DNA (purinas) sítio apurínico; Sítio apurínico Mutação tipo transversão Desaminação - Grupo amina (-NH2) da base nitrogenada é removido; - Bases desaminadas fazem pareamento errôneo. Mutação tipo transição: pirimidina pirimidina C U C T Danificação de bases por oxidação - Espécies reativas de oxigênio (radical superóxido, peróxido de hidrogênio, radical hidroxila) provocam danos oxidativos ao DNA. Guanina Timina Pode ser pareado com Adenina 8-oxodG Timina Mutação tipo transversão: purina pirimidina G T Mutação comum em câncer Causadas por agentes mutagênicos ou mutágeno: substâncias químicas ou físicas que aumentam a probabilidade de ocorrência de mutações Agentes químicos: - Análogos de bases - Agentes alcilantes - Agentes intercalantes Agentes físicos: - Radiação ionizante - Radiação não-ionizante Induzidas Análogo de bases • Similares às bases nitrogenadas incorporadas ao DNA (substituem as bases); • Apresentam propriedades de pareamento diferentes EXEMPLO: 5-bromouracila (análogo da timina) Altera a distribuição de elétrons Mutação tipo transição: pirimidina pirimidina T 5-BU C 5-BU Agentes químicos Análogo de bases EXEMPLO: 2-aminopurina (análogo da adenina) Mutação tipo transição: purina purina A 2-AP G 2-AP Agentes químicos Agentes alcilantes • Provocamalteração de uma base adicionam grupo alcila (CnH2n+1) • Provoca malpareamento • EXEMPLO: etilmetanossulfonato (EMS) etila (C2H5) nitrosoguanidina (NG) metila (CH3) Agentes químicos Mutação tipo transição: Purina purina G A GC AT Mutação tipo transição: Pirimidina pirimidina T C AT CG Agentes químicos Agentes intercalantes • Moléculas planas capazes de intercalar entre as bases nitrogenadas do DNA; • Aumentam a rigidez e altera conformação da dupla hélice, distorcendo a molécula e rompendo o alinhamento e pareamento das bases; • Deleções ou adições de pares de bases durante replicação. • EXEMPLOS • Proflavina; • Acridina laranja; • Brometo de etídio. Agentes químicos A T C A G T T A C T T A G T C A A T G A Brometo de Etídeo: • Corante vermelho escuro; • Utilizado na Biologia Molecular em eletroforese de gel de agarose; • Sob luz UV emite fluorescência; • Agente mutagênico e carcinogênico. As adições e deleções no DNA também podem ser causadas por um alinhamento incorreto da fita molde ou da fita recém-sintetizada em uma região com regiões repetitivas... Agentes Físicos Radiação ionizante • Radiações que contêm energia suficiente para ionizar moléculas. • Exemplos: raios X e gama Glicosídica As radiações ionizantes podem causar: - Formação de tautômeros raros; - Substituição de uma base por outra; - Deleção ou adição de uma base em uma das fitas de DNA; - Inversão da sequência de pares de bases de nucleotídeos dentro da molécula de DNA; - Formação de peróxidos; - Formação de sítios apurínicos e apirimidínicos (quebra ligação glicosídica).; - Quebra de filamentos (letal). Agentes Físicos Radiação não-ionizante • Radiações com baixa energia, incapazes de formar íons. • Mas podem provocar outros efeitos biológicos como aquecimento e alteração de ligações químicas; • Exemplos: luz ultravioleta, luz visível, radiação infravermelha, microondas. LUZ ULTRAVIOLETA: forma dímeros de pirimidina (anel de ciclobutano ou fotoproduto 6-4) perturba a estrutura de dupla hélice inibindo a replicação. A luz UV pode causar: - Mutação tipo transição e transversão; - Mudança de matriz de leitura. Acidentes Radioativos (Chernobyl, Fukushima) e Bombas Radioativas Agentes Físicos Agente causador Tipo de mutação Erros de pareamento (tautômeros) Mutação de ponto Lesões espontâneas Mutação de ponto Análogos de bases Mutação de ponto Agente alcilante Mutação de ponto Agentes intercalantes Deleção e inserção Radiação ionizante (Mutação de ponto, deleção e adição) Radiação não-ionizante (Mutação de ponto, deleção e adição) Agente causador X Tipo de mutação Transversões sítios AP Quanto ao tipo celular • CÉLULAS GERMINATIVAS • CÉLULAS SOMÁTICAS Se a mutação ocorre em uma célula em divisão mitótica mutação repassada para demais células (clones mutantes) Cedo Clones mutantes Células que formam os gametas gametas mutantes Quanto ao tipo celular • CÉLULAS SOMÁTICAS Exemplo... Heterocromia de íris: - Duas íris são de cores distintas mutação ocorreu na primeira célula que originou as demais. - Apenas uma porção da íris é de cor diferente do restante mutação surgiu em um estágio mais avançado do desenvolvimento da íris. Quanto ao tipo celular • CÉLULAS SOMÁTICAS • CÉLULAS GERMINATIVAS Doenças hereditárias: repassadas de geração em geração. Doenças genéticas: Câncer Consequências... DOENÇA HEREDITÁRIA (de geração em geração) DOENÇA GENÉTICA (alterações no DNA) DOENÇA GENÉTICA DOENÇA HEREDITÁRIA Tumor O que é? É uma alteração celular, na qual um conjunto de células do organismo passam a se replicar de maneira desordenada dando origem a uma neoplasia (massa anormal de tecido). O que causa? Mutação nos proto-oncogenes e genes supressores de tumor (p53) Benigno – as células crescem lentamente e semelhante às do tecido normal (TUMOR BENIGNO). Maligno - as células multiplicam-se rapidamente, são atípicas e têm a capacidade de “invadir” outros órgãos (TUMOR MALIGNO - CÂNCER). genes responsáveis pelo crescimento celular controlado e genes que evitam que as células se repliquem descontroladamente (reparo do DNA e morte celular). Alguns proto-oncogenes conhecidos (em preto) Substituição de base Câncer de bexiga Quanto às consequências • MUTAÇÕES MORFOLÓGICAS • Afeta apenas as propriedades externas (forma, cor, tamanho). • MUTAÇÕES BIOQUÍMICAS • Perda ou mudança de alguma função bioquímica • Exemplo: fenilcetonúria, galactosemia. Fenilalanina Tirosina Galactose Glicose GALT Fenilalanina hidroxilase • MUTAÇÃO CONDICIONAL • Pode provocar fenótipo selvagem (condição permissiva) e fenótipo mutante (condição restritiva). • Exemplo: mutação sensível à temperatura (mutações em Drosophila) Drosophila selvagem 20°C (condição permissiva) Drosophila mutante 30°C (condição restritiva) • MUTAÇÃO REVERSA • O gene mutante pode voltar ao tipo selvagem. AAA (Lis) GAA (Glu) AAA (Lis) Tipo selvagem Mutante Tipo selvagem Direta Reversa • MUTAÇÃO COM PERDA DE FUNÇÃO • Produto gênico tem menor ou nenhuma função, em comparação ao gene selvagem. • Exemplo: hipercolesterolemia (mutação no gene dos receptores de colesterol) Mutação reduz em 50% o número de receptores de colesterol nível de colesterol sérico • MUTAÇÃO COM GANHO DE FUNÇÃO • Gene mutante adquire uma nova função. • Exemplo: mutação no gene da α1-antitripsina α1-antitripsina Inibidor de elastase Inibidor de trombina • MUTAÇÕES LETAIS • Mutação leva à morte do organismo • Causa primária da morte; • Causa secundária da morte (afeta a viabilidade do organismo). Selvagem Mutante Mutação afeta a plumagem de cordoniz japonês. • MUTAÇÃO NEUTRA • Os efeitos da mutação não influenciam na função do gene. • MUTAÇÃO BENÉFICA • A mutação produz alterações que beneficiam o organismo (contribuem com a adaptação dos organismos ao ambiente). EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES • MUTAÇÃO DELETÉRIA • O alelo mutante causa prejuízo ao organismo (diminuem a adaptação dos organismos ao meio ambiente). A seleção natural elimina as mutações deletérias e preserva as mutações benéficas. REPARO DO DNA Reparo do DNA Mecanismos que ajudam a manter a integridade do genoma. Reparam o dano ao DNA, reduzindo a taxa de mutação. PRINCIPAL: DNA POLIMERASE I e III As vias de reparo podem ser divididas em várias categorias: - Via de prevenção de erro; - Reversão direta do dano; - Vias de reparo por excisão; - Sistema de reparo de malpareamento. 2 O2 • + 2 H2O O2 + H2O2 + 2 OH − H2O + ½ O2 Via de prevenção de erro • Sistemas enzimáticos que neutralizam compostos potencialmente danosos antes de reagir com o DNA: - Neutralização de radicais superóxido Superóxido dismutase Catalase Reversão direta do dano • Repara uma lesão ocorrida, revertendo-a diretamente, regenerando a base normal. Exemplo: - Aciltransferases: - Removem grupos alcil inseridos por agentes alcilantes. Após remoção a enzima é inativada (reparo saturado). - Fotoliase (bactérias e eucariotos inferiores, não em humanos): - Lise do dímero de pirimidina na presença de luz visível (fotorreativação). Vias de reparo por excisão - Excisão de bases ou nucleotídeos danificados (metilação, desaminação, oxidação); - Complexos multienzimáticos que removem uma grande quantidade de lesões no DNA. 1º passo: Enzima reconhece os danos ao DNA; 2º passo: Quebra de ligação em ambos os lados da lesão e excisão das bases ou nucleotídeos que contêm a lesão; 3º passo: Polimerização da nova sequência pela polimerase de reparo e fechamento das quebras por DNAligase de reparo. Reparo por excisão de bases Citosina Uracila DNA glicosilase reconhece a base no DNA e quebra ligação N-glicosídica liberando a base alterada gera sítio apurínico ou apirimidínico (sítios AP) Uracil DNA glicosidase Endonuclease AP AP endonulease quebra ligações fosfodiéster nos sítios AP removendo o restante do nucleotídeo. AP endonuclease DNA polimerase I e DNA ligase DNA polimerase I adiciona o novo nucleotídeo e a ligase refaz a ligação fosfodiéster Reparo por excisão de nucleotídeos Endonuclease Helicase Endonulease quebra ligações fosfodiéster Helicase libera os nucleotídeos entre a incisão Endonuclease Helicase DNA polimerase I adiciona o novo nucleotídeo e a ligase refaz a ligação fosfodiéster DNA polimerase I e DNA ligase Sistema de reparo de malpareamento Reconhece erros de pareamento que ocorrem durante a replicação. 1. Reconhecer os erros de pareamento de bases; 2. Determinar qual das bases, no pareamento, é a incorreta; 3. Excisar a base incorreta e fazer a síntese de reparo. A C Reconhecer a fita recém-sintetizada! Metilação pós-replicação tardia (Adenina metilase) Metilação pós-replicação tardia Adenina metilase: metila sequências GATC alguns minutos após a replicação Replicação do DNA Sistema de reparo atua Sistema de reparo de malpareamento Endonuclease e helicase removem o segmento onde está o malpareamento DNA polimerase III sintetiza novo filamento e DNA ligase liga as fitas Adenina metilase Caso as vias de reparo não sejam suficientes para reparar a lesão MUTAÇÃO As vias de reparo têm um papel crucial na redução dos danos genéticos, eliminando erros mutagênicos potenciais. Xeroderma pigmentoso Doença resultante da deficiência da via de reparo por excisão de nucleotídeos (dímeros de pirimidina) são propensas a câncer de pele induzido por UV.