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SURGIMENTO-DA-ECONOMIA

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Criado em Segunda, 02 Abril 2012 12:56
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Artigo: "O surgimento da ciência econômica e o papel do economista"
Hoje o Economista, muitas vezes visto como o profissional das crises, destaca-se
no mundo global e instantâneo contemporâneo por sua formação holística. É ao
mesmo tempo técnico e Cientista Social. Domina matemática, estatística e
econometria tão bem quanto transita pela história, geografia, filosofia, sociologia e
política. Vai da dimensão temporal para a espacial com extrema facilidade. Enxerga
o global sem perder o olho do particular, e o particular com uma perspectiva global.
Discute e interage com questões gerais tão bem quanto é pragmático na resolução
de problemas específicos. Atua no setor privado, público ou terceiro setor. É
conhecido por ser o profissional da prosperidade, seja no âmbito micro, quando
procura melhorar o desempenho das empresas, ou no âmbito macro, quando
procura interferir na economia nacional e mundial com objetivo de acelerar o crescimento econômico
sustentado.
Os livros clássicos de introdução a economia apresentam que a etimologia da palavra economia
deriva do grego oikonomia, na qual oiko significa casa, propriedade, riqueza ou fortuna, e nomos
significa regra, lei, organização ou até mesmo gestão. Neste sentido, na Grécia Antiga a economia
era o ramo do conhecimento que cuidava da administração da comunidade doméstica, indo desde
aspectos micro relacionados ao oikos até aspectos macro relacionados à Pólis (cidade, campo ou
território). Convém ressaltar, entretanto, em que pese alguns poucos autores insistirem que
Xenofontes (430-355 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) teriam sido os autores seminais desta ciência,
que na Grécia Antiga não havia um estudo sistemático que observasse princípios autônomos neste
ramo do conhecimento. A economia era apenas um campo do conhecimento integrante da “Ciência
mãe”, a filosofia, estando integrada a um arranjo social e político mais amplo da qual não podia ser
dissociada.
Um estudo mais aprofundado sobre a etimologia da palavra economista nos revela que ela deriva do
latim oeconomus e esta do grego oikonomo, significando literalmente servo, mordomo ou
dispensador, podendo ser entendida no sentido mais usual da época como o administrador de uma
grande propriedade ou de uma instituição pública ou particular. Ou seja, em seus primórdios, na
Grécia Antiga, o economista era claramente um servidor público, entendido este como aquele que
serve aos outros ou a coisa pública. Esta visão mais de mil anos depois pode ainda ser encontrada
em São Tomaz de Aquino (1225-1274), um clássico teólogo e filósofo da Idade Média que
denominava de economos quem administrava bens, rendas e despesas do lar ou, como ele mais
usualmente utilizava, monastérios.
No ano de 1615 um autor mercantilista francês denominado Antoine de Montchrétien (1575-1621)
publicou a obra Tratado de Economia Política na qual pela primeira vez a expressão Economia
Política aparece. Esta obra é simbólica na medida em que com ela pode-se perceber que a
economia passa a figurar para os autores mercantilistas como um campo do conhecimento
relacionado à gestão do Estado, inclusa, portanto, no campo de interesse das Ciências Políticas,
sobrepujando desta forma as demais visões que denominavam este campo do conhecimento de
“Crematística” ou “Catalactica”, palavras derivadas do grego khrema e katallactein que significam
respectivamente Ciência da Riqueza e Ciência das Trocas.
Em 1755 foi publicada post-mortem a obra Ensaio sobre a Natureza do Comércio em Geral do
irlandês residente na França Richard de Cantilon (1680-1734), escrita ainda na década de 1730. A
obra de Richard de Cantilon permaneceu obscura até por volta de 1880 quando William Stanley
Jevons (1835-1882), um renomado economista da Escola Neoclássica, deu os devidos créditos ao
ineditismo deste livro destacando-o como a mais metódica e completa formulação econômica
anterior a Adam Smith, chamando o autor inclusive de primeiro economista político. De fato é
indiscutível a influencia que as idéias de Cantilon tiveram sobre as formulações da Escola Clássica, a
começar por Adam Smith, e da Escola Fisiocrata, com destaque para a teoria dos salários relativos,
a visão circular da renda, a teoria do valor da terra, o papel dos metais preciosos na economia
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internacional e a relação entre moeda e inflação.
Outra data importante para a história desta ciência é o ano de 1758 quando o autor fisiocrata francês
François Quesnay publicou o tratado Tabela Econômica mostrando pela primeira vez que a atividade
produtiva funcionava a partir de uma lógica sistêmica, com a economia nacional sendo formada por
conjuntos interdependentes (agricultura, indústria e comércio) articulados pela formação, distribuição
e consumo das riquezas.
Entretanto, o surgimento formal da Ciência Econômica é atribuído ao lançamento do livro Um
Inquérito sobre a Natureza e as Causas das Riquezas das Nações do filósofo escocês Adam Smith
no ano de 1776, obra que estabeleceu a economia como ramo do conhecimento independente da
Filosofia e da Ciência Política. Nesta obra Smith construiu um modelo abstrato e relativamente
coerente da natureza, estrutura e funcionamento do sistema capitalista, no qual havia importantes
ligações entre as principais classes sociais, os vários setores da produção, circulação e distribuição,
riqueza e renda, comércio, moeda, formação dos preços e dinâmica de crescimento econômico. Este
sistema, para Smith, poderia ser explicado por sua própria lógica interna.
Sua formulação teórica foi o reflexo de três progênies. Em primeiro lugar foi enfaticamente
influenciada pelo ambiente da Grã-Bretanha nos idos da Revolução Industrial, aonde a visão de
mundo anteriormente apregoada iria ruir em prol de uma nova sociedade regulada pelo e para o
mercado. O segundo pilar estrutural de sua análise fundamentava-se no pensamento sociológico
influenciado diretamente pela doutrina do individualismo através do pensamento de Thomas Hobbes
(1588-1679), John Locke (1632-1704), Anthony Ashley-Cooper – Terceiro Conde de Shaftesbury –
(1671-1713), Francis Hutcheson (1694-1746), BernardMandeville (1670-1733) e David Hume
(1711-1776). A terceira fonte de influência foi o iluminismo, mais especificamente a concepção de
“ordem natural” das coisas, importando a idéia de que o mundo é regido por “leis naturais” como
arquitetada por Isaak Newton (1643-1727) para as ciências naturais. Tal fenômeno filosófico
derivou-se, fundamentalmente, do surgimento na Europa do racionalismo embutido nos ideais
iluministas no qual o homem começou a buscar explicações racionais para os acontecimentos,
suplantando a idéia de “ordem natural”. Assim, influenciada pela filosofia das luzes, a sociedade
passava de uma visão de mundo teocêntrica para outra racional, visando transpor leis
comportamentais do mundo físico para o âmbito do social, dando início à Economia Política como
disciplina autônoma na qual a preocupação com a “lei natural” pressupunha a identificação de um
princípio unificador que reduzisse todos os fenômenos da vida econômica a um sistema inteligível e
coerente.
Não há dúvida que a obra de Smith apresenta um conjunto teórico mais amadurecido e consistente
que os seus antecessores, mas a alcunha de “Pai da Economia” certamente só lhe foi outorgada pelo
fato do autor de A Riqueza das Nações ter participado do movimento das luzes, ter escrito na língua
inglesa e em um período de intensas transformações pelo qual passava a Grã-Bretanha,
posteriormente batizado de Revolução Industrial, no qual se tornava fundamentala formulação de
modelos teóricos de referência que permitissem a explicação dos fenômenos econômicos e sociais.
Assim, a partir de Adam Smith a economia passou a estudar a formação, distribuição e consumo das
riquezas com base em modelos econômicos autônomos, estando este desiderato muito claro nas
formulações de autores clássicos como Thomas Robert Malthus (1766-1834), John Stuart Mill
(1806-1873), David Ricardo (1772-1823) e Jean Baptiste Say (1767-1832).
Hoje o Economista, muitas vezes visto como o profissional das crises, destaca-se no mundo global e
instantâneo contemporâneo por sua formação holística. É ao mesmo tempo técnico e Cientista
Social. Domina matemática, estatística e econometria tão bem quanto transita pela história,
geografia, filosofia, sociologia e política. Vai da dimensão temporal para a espacial com extrema
facilidade. Enxerga o global sem perder o olho do particular, e o particular com uma perspectiva
global. Discute e interage com questões gerais tão bem quanto é pragmático na resolução de
problemas específicos. Atua no setor privado, público ou terceiro setor. É conhecido por ser o
profissional da prosperidade, seja no âmbito micro, quando procura melhorar o desempenho das
empresas, ou no âmbito macro, quando procura interferir na economia nacional e mundial com
objetivo de acelerar o crescimento econômico sustentado. Entretanto, engana-se quem pensa que o
Economista é apenas um profissional da riqueza, do dinheiro. Acima de tudo o Economista é o
profissional do bem-estar social. É um interprete da sociedade que se coloca também como
importante agente de transformação da própria sociedade. Pensa, desta forma, caminhos e
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Escrito por Eduardo José Monteiro da Costa
alternativas de desenvolvimento de modo que as condições de vida da sociedade como um todo
melhorem. É o profissional que busca a prosperidade, mas não perde o foco da pobreza, da miséria
e do meio-ambiente. Pelo contrário, busca construir uma sociedade mais justa e igualitária, na qual
todos tenham acesso às condições básicas de humanização e desenvolvimento. É um profissional
que pensa o abstrato sem perder a sensibilidade do concreto. Ou seja, ser Economista não é para
qualquer um, é fundamental a existência de uma vocação para o exercício da profissão. É uma
atividade profissional das mais difíceis. E a sociedade como um todo precisa deste profissional.
____________________________
(*) Economista paraense, doutor em economia aplicada (Unicamp), professor adjunto da UFPA e
conselheiro federal. Blog: http://eduardojmcosta.blogspot.com
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