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AULA Atos jurídicos ilícitos


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DESCRIÇÃO
O ato jurídico ilícito: fundamentos, responsabilidades e imputabilidade.
PROPÓSITO
Obter conhecimento sobre o conceito, os elementos e as espécies do ato jurídico ilícito, para a
compreensão das espécies de responsabilidades previstas em nosso ordenamento jurídico e presentes na
prática profissional de diversas áreas de atuação.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste estudo, tenha em mãos um Vade Mecum que contenha legislação do
Código Civil, do Código Penal e do Código de Processo Penal.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever o conceito geral de ato jurídico ilícito
MÓDULO 2
Classificar os tipos de responsabilidades
MÓDULO 3
Identificar agentes imputáveis e inimputáveis, e os atos lesivos não considerados ilícitos
INTRODUÇÃO
Neste conteúdo, estudaremos os atos jurídicos ilícitos, previstos no Título III do Código Civil, nos artigos
186 a 188. Dessa forma, iniciaremos com as definições gerais do tema e a análise dos dispositivos
aplicáveis e das críticas em relação aos pressupostos utilizados pelo Código Civil para conceituação do ato
ilícito.
Posteriormente, o estudo se direcionará para os tipos de responsabilidades: contratual e extracontratual,
civil e penal, objetiva e subjetiva. Por fim, há a análise da imputabilidade, as hipóteses de inimputabilidade e
dos atos lesivos não considerados ilícitos pelo ordenamento jurídico.
MÓDULO 1
 Descrever o conceito geral de ato jurídico ilícito
OS ATOS ILÍCITOS DENTRO DA TEORIA DOS
FATOS JURÍDICOS
O ponto de partida para o estudo dos atos ilícitos é entender que eles, na verdade, são fatos jurídicos.
E o que são fatos jurídicos?
São aqueles eventos, oriundos da natureza ou da vontade humana, que podem repercutir na órbita
jurídica, produzindo diferentes efeitos (FARIAS; ROSENVALD; NETTO, 2020).
Ou seja, fato jurídico é aquela situação capaz de produzir efeitos (criar, modificar, substituir ou extinguir
situações jurídicas concretas), mas que, embora tenha potencial, tais consequências não decorrem
necessariamente daí.
A vida humana é constituída por uma sucessão de fatos. Aqueles relevantes o suficiente para receber tutela
jurídica recebem a denominação de “fato jurídico”. Todas as matérias do Direito tratam de fatos jurídicos. O
advogado, para propor uma ação, deve analisar se o fato trazido é jurídico, isto é, se é protegido pelo
Direito. É como se houvesse o mundo da vida (maior) e o mundo do direito (menor).
Essas concepções, jurídicas ou da vida, deverão vir caracterizadas pelas regras jurídicas, isto é, pelos
textos de lei e suas posteriores interpretações. Será o veículo normativo que atribuirá valor jurídico a um
fato da vida. Se um desses elementos que formam o direito não estiver presente, não existe direito. Se não
há fato, ou não há valoração, ou não há norma, não existe direito. Sem valoração, o fato não é mais
jurídico. A norma pode juridicizar ou desjuridicizar um fato.
Foto: Shutterstock.com
Fato jurídico é, portanto, aquele ao qual o direito atribui consequências jurídicas, em razão de valorações
das relações importantes da sociedade.
Por seu alto grau de reprovabilidade, é uma conduta que a sociedade, em comum acordo, a partir do
intermédio de seus representantes legislativos eleitos, fez constar na lei do país. Assim, uma vez
caracterizado que determinado ato é ilegal, por uma série de questões, ou apenas uma, como a pura
aceitabilidade social desses atos, certa conduta poderá receber retaliação estatal.
Dessa forma, uma mesma atitude como, por exemplo, atravessar fora da faixa de segurança para
pedestres, pode ser uma conduta considerada ilícita em um país e em outro não. De modo que, no território
que a considera ilícita existirão leis declarando a conduta ilegal e, assessorando essas leis, uma série de
outras normas que deverão resguardar a possibilidade de retaliação aos comportamentos que
desrespeitem tal comando legal.
Foto: Shutterstock.com
A partir disso, faz-se necessário dividir os fatos em dois:
Fatos lícitos
Concretizam-se em consonância com a ordem jurídica.

Fatos ilícitos
Ao se concretizarem, violam as normas jurídicas, negando o direito.
Dessa forma, o fato lícito é aquele que afirma positivamente os valores da ordem jurídica. Ou seja, ele
vai ao encontro dos valores do ordenamento jurídico como, por exemplo: a vida, a liberdade, a igualdade, a
saúde etc.
Os fatos jurídicos lícitos são subdivididos em:
Fato jurídico stricto sensu;
Ato-fato;
Ato jurídico “lato sensu”, que se subdivide em:
a) Negócio jurídico
b) Ato jurídico stricto sensu.
Os fatos acontecem no mundo da vida, e isso já ficou claro. O direito valora esses fatos como positivos ou
negativos. Os positivos são os favoráveis aos valores da ordem jurídica (lícitos) e os negativos são os
contrários aos valores (ilícitos).
 EXEMPLO
Um contrato de compra e venda de um veículo, por exemplo, é um fato jurídico lícito, contudo, a falta do
pagamento acertado neste contrato é um fato ilícito, pois viola valores do ordenamento e obrigações
contratuais.
Importante também referir que todo o ato jurídico exige, para sua licitude, a presença de uma ação
humana voluntária e consciente destinada a um resultado. Assim, é a autonomia privada que rege os
interesses e as vontades da vida em sociedade. Dessas vontades, ocorrerão fatos jurídicos, atos-fatos
jurídicos, negócios jurídicos e atos jurídicos.
Ao passo que o fato ilícito nada mais é do que o fato antijurídico, isto é, aquele acontecimento cujos
potenciais efeitos jurídicos são contrários ao ordenamento jurídico. Admitem duas classificações maiores
sendo:
Fatos ilícitos em sentido amplo
É qualquer ato contrário ao direito.

Fatos ilícitos em sentido estrito
Por estarem definidos como tais no Código Civil, a partir do art. 186.
Já os atos-fatos jurídicos são aqueles que, para existir, necessitam de um ato humano, voluntário ou não,
mas que sua existência cause consequências e reverberações na ótica jurídica.
São espécies dos atos-fatos jurídicos:
ATOS REAIS
ATOS-FATOS INDENIZATIVOS
ATOS-FATOS CADUCIFICANTES
ATOS REAIS
Fatos resultantes que importam para a configuração do fato jurídico, não o ato humano como elemento
volitivo.
ATOS-FATOS INDENIZATIVOS
Atos que, embora lícitos, causam danos involuntários a outras pessoas e resultam em um dever de
indenizar.
ATOS-FATOS CADUCIFICANTES
Atos que são praticados para que determinado direito não decaia ou prescreva. Ele é exercido no
momento, por exemplo, do ingresso de uma ação judicial antes do prazo prescricional, ou o exercício de
direito antes do prazo decadencial.
CONCEITO DE ATO ILÍCITO
O ato ilícito é a conduta realizada mediante a infração de um dever legal que resulta em dano ou prejuízo a
outrem, o que faz nascer um dever anexo, o de ressarcimento da vítima pelos danos causados. O ato ilícito
produz efeitos jurídicos, sendo estes, por sua vez, não desejados pelo agente, mas impostos pela lei. Isto é,
o ato jurídico ilícito consubstancia uma transgressão de ordem social, com repercussões jurídicas.
Dessa forma, temos que todos os crimes são ilícitos, mas nem todos os ilícitos são crimes, porquanto há
ilícitos que se constituem apenas na esfera cível, tributária, administrativa.
O art. 186 dispõe que:
“AQUELE QUE, POR AÇÃO OU OMISSÃO VOLUNTÁRIA,
NEGLIGÊNCIA OU IMPRUDÊNCIA, VIOLAR DIREITO E
CAUSAR DANO A OUTREM, AINDA QUE EXCLUSIVAMENTE
MORAL, COMETE ATO ILÍCITO”.
(LEI Nº 10.406/2002)
De modo que deverá haver ação humana, ou omissão, negligência e imprudência que resulte na violação
de direito ou dano a outra pessoa.
A ação humana pode ser positiva (ação) ou negativa (omissão). A omissão, no direito civil, só acarreta
ilicitude se a pessoa omissa tiver o dever de agir. Por exemplo, um salva-vidas é obrigado a salvar
alguém que está se afogando, porém, uma pessoa sem o dever jurídico de salvar vidas na água não
comete omissão ilícita se não tentar salvar a pessoa. No direito penal é diferente.
Tal ação humana deve ser voluntária/dolosa,ou seja, com a intenção, ou culposa, sem a intenção de
causar dano, o que significa agir com imperícia, imprudência ou negligência.
Foto: Shutterstock.com
IMPERÍCIA
Significará no fato de a pessoa que promoveu o ato lesivo não ter o domínio técnico para a prática do ato.
IMPRUDÊNCIA
Aquele que não observar os cuidados necessários (as regras de cautela) para a prática de um ato.
NEGLIGÊNCIA
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javascript:void(0)
javascript:void(0)
Se dá naquelas situações em que o agente não emprega a atenção necessária para a prática de
determinado ato, como dirigir desatento.
De modo que será não perito aquele que dirige sem a habilitação, e imprudente aquele que dirige em alta
velocidade com água da chuva na pista. Além desses exemplos, são de fácil percepção as situações
envolvendo os médicos, que podem ocorrer por qualquer uma das ações culposas descritas acima.
Vejamos os exemplos:
Um médico que deixe um bisturi ou qualquer objeto dentro de alguém após uma cirurgia age com
negligência;
Um anestesista que, sabendo que a dose deve ser X, aplica a dose Y por não ter cuidado, age por
imprudência;
Se o anestesista não soubesse qual deveria ser a dose correta, então ele seria imperito.
Foto: Shutterstock.com
Assim, o fato ilícito decorre de uma violação a uma obrigação jurídica preexistente imposta ao agente. No
entanto, o conceito de fato ilícito não está adstrito à antijuridicidade. É preciso que a conduta ou evento
contrário ao direito possam ser imputados a alguém com capacidade delitual, isto é, de praticar o ato ilícito
(MELLO, 2005). Nesse contexto, antijuridicidade e imputabilidade perfectibilizam o conceito de ilicitude.
Nesse sentido, a antijuridicidade apresenta-se como dado de natureza objetiva, ou seja, existe quando o
fato ofende direitos alheios de modo contrário ao ordenamento jurídico, independentemente da presença de
culpa.
Para auferir a antijuridicidade, basta questionar: “o que se fez?”, sem levar em consideração as condições
pessoais do ofensor e da constatação de seu erro na conduta (FARIAS; ROSENVALD; NETTO, 2020).
Contudo, o ato ilícito não se exaure com a antijuridicidade. Para estar caracterizado, o ato precisa da
presença de outro elemento, agora de índole subjetiva: a imputabilidade do agente, que diz respeito à
capacidade de compreensão do caráter ilícito da conduta que se pratica.
Em outras palavras, enquanto a antijuridicidade é um juízo sobre a conduta, a imputabilidade é um juízo
sobre o agente. Nas palavras de Farias Rosenvald e Netto (2020, p. 100): “o imputável é aquela pessoa a
quem se pode legitimamente atribuir um comportamento antijurídico”.
 EXEMPLO
Para fins didáticos, imagine uma menina de 14 anos que obtenha, às escondidas, as chaves do veículo dos
seus pais e provoque um acidente. Fatalmente estará concretizado um fato antijurídico, porém lícito, eis
que ausente o elemento subjetivo da imputabilidade.
Há ainda a possibilidade de uma pessoa imputável praticar atos desprovida dessa qualidade.
Vamos ao exemplo. O artigo 3º do Código Civil prevê a incapacidade transitória, que é a incapacidade de
entender ou querer, em razão de se estar em completa situação de embriaguez, sonambulismo, hipnose ou
narcose. Contudo, se alguém se embriaga sabendo que a embriaguez lhe provoca a tendência para causar
distúrbios e lesar pessoas e bens alheios, torna-se irrelevante a inimputabilidade no momento da prática do
ato antijurídico. Se o agente, porém, praticou o fato danoso sob a ação de hipnose involuntária, ou de
narcótico, que embora tenha ingerido voluntariamente, ignorava o efeito, aplica-se o regime da
inimputabilidade.
Antes de chegar a uma conclusão obre os fatos é necessário fazer os seguintes questionamentos:
“O que se fez?”
Vimos que devemos questionar: “o que se fez?”, a fim de auferir a antijuridicidade de um fato.
“Quem fez?”
No entanto, para averiguar a existência de fato ilícito, não basta a verificação do elemento objetivo (a
antijuridicidade), é necessário também identificar o elemento subjetivo (a imputabilidade), o que se faz
realizando a seguinte pergunta: “quem fez?”.
ATO ILÍCITO
No vídeo a seguir, a especialista Cíntia Burille vai falar um pouco mais sobre o conceito do ilícito dentro da
teoria dos fatos jurídicos. Assista:
O DANO
Para além da ação humana, do caráter antijurídico da conduta, há a necessidade da presença do vetor
“dano” para que se possa pensar na necessidade de reparação. Por exemplo, se o médico fizer tudo
errado, mas não causar nenhum dano ao paciente, não será um fato ilícito.
O dano pode ser extrapatrimonial ou patrimonial:
Dano patrimonial
Um dano patrimonial é quando o bem jurídico violado é avaliável economicamente.

Dano moral
Um dano moral, ou extrapatrimonial, é quando o bem violado não é suscetível de uma valoração
econômica.
Todas as ofensas aos direitos da personalidade, por exemplo, são danos extrapatrimoniais. Haverá um
aprofundamento acerca da responsabilidade civil posteriormente. Contudo, deve ficar claro, desde agora,
que a sanção do ato ilícito é a reparação do dano, por isso chama-se indenização. É o dever que o autor
do ato ilícito tem de indenizar a vítima. O autor do ato ilícito deve colocar a vítima na situação em que ela se
encontraria, caso não tivesse sofrido o dano.
A consequência do ato ilícito, regra geral, está no caput do art. 927. A resposta civil é a indenização. Essa
responsabilidade civil vista no art. 186 é baseada na culpa, que causa dano. Ela se chama
responsabilidade civil subjetiva, porque é fundamentada na culpa do sujeito.
A definição básica dos atos ilícitos é, portanto, relativa aos atos ilícitos lato sensu, que se subdividem em:
ATO ILÍCITO STRICTO SENSU
ATO ILÍCITO RELATIVO
ATO ILÍCITO STRICTO SENSU
Caracteriza-se pela não exigência de uma relação anterior ao acontecimento do ato entre o agente e a
vítima do dano.
ATO ILÍCITO RELATIVO
Caracterizado pela violação de um dever que emerge de uma relação jurídica, seja contratual ou decorrente
de outra relação jurídica, que não a contratual, como as protegidas pelo direito de família, gerando perdas e
danos, uma espécie de dever de indenizar.
Anexamente a essa definição, Pontes de Miranda (1977) traz duas novas formas de atos ilícitos.
OS ATOS ILÍCITOS CADUCIFICANTES
Fazem com que alguém perca o direito a algo, sem que haja o dever de indenizar por qualquer dano, mas,
tão somente, a impossibilidade do exercício de determinados atos da vida civil. Podemos pensar na perda
do direito ao convívio familiar daquele pai que é destituído do poder familiar por conta de abandono
material, afetivo ou intelectual.
ATOS ILÍCITOS INVALIDANTES
Cometidos em descompasso com requisitos exigidos por lei, como, por exemplo, a venda de herança de
pessoa viva, o contrato de promessa de entrega de saca de maconha, ou o casamento de pessoa
portadora de doença mental incapacitante.
 ATENÇÃO
A essa altura, é importante ressaltar que o ato ilícito pode ser civil, penal ou administrativo. Neste conteúdo,
a análise central será sobre o ilícito civil, bem como alguns aspectos do ilícito penal.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. QUAL DAS ASSERTIVAS ABAIXO NÃO CORRESPONDE ÀS CARACTERÍSTICAS
DO ATO JURÍDICO ILÍCITO CÍVEL:
A) Antijuridicidade.
B) Ilegalidade.
C) Imputabilidade.
D) Ilicitude.
E) Imoralidade.
2. ACERCA DA IMPUTABILIDADE, ASSINALE A ALTERNATIVA QUE INDICA
SITUAÇÃO EM QUE HÁ POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO:
A) Pessoa maior de idade, sob o efeito de drogas não alucinógenas, assina contrato de compra e venda de
imóvel.
B) Pessoa menor de idade, sob o efeito de drogas alucinógenas, maltrata psicologicamente animal
doméstico.
C) Pessoa maior de idade dirige veículo automotor após o consumo de bebida levemente alcoolizada.
D) Pessoa menor de idade, portador de doença mental incapacitante, injuria verbalmente outrem.
E) Pessoa maior de idade, sob o efeito de drogas alucinógenas, da qual não conhecia dos efeitos, conduz
veículo automotor.
GABARITO1. Qual das assertivas abaixo não corresponde às características do ato jurídico ilícito cível:
A alternativa "E " está correta.
Em que pesem todas as características apresentadas poderem caracterizar fundamentos de
incompatibilidade para com o ordenamento jurídico, nem todos os atos imorais poderão ser considerados
atos jurídicos ilícitos por esse simples fato.
2. Acerca da imputabilidade, assinale a alternativa que indica situação em que há possibilidade de
responsabilização:
A alternativa "C " está correta.
A alternativa correta conta com a única hipótese de ato jurídico ilícito praticado por pessoa imputável. Na
(a), a pessoa está sob o efeito de narcótico que não lhe torna inimputável. Na (b), por mais imoral que a
conduta possa ser, ela não é determinada como ilícita, ao menos por enquanto. Na (d,) a pessoa é
claramente inimputável, se não fosse portadora de doença, poderia responder sob os ditames do Estatuto
da Criança e do Adolescente. E, na (e), a pessoa está cometendo um ilícito, porém é inimputável, pois não
sabia dos efeitos da substância.
MÓDULO 2
 Classificar os tipos de responsabilidades
A RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil consiste na obrigação imposta a uma pessoa de ressarcir os danos injustamente
causados a outrem por fato próprio ou por fato de pessoas ou coisas que ela dependa. No entanto, toda
forma de responsabilidade civil prescinde de um comportamento danoso que viole um sistema normativo
jurídico prévio, ou seja, a responsabilização civil pressupõe a violação de uma norma preexistente.
A principal consequência da prática de um ato lesivo é a obrigação imposta, ao seu autor, de reparar o
dano, obrigação caracterizada como pessoal, resolvida em perdas e danos.
Sendo assim, ocorrendo um comportamento transgressor e a consequente violação de uma norma
preexistente, impõe-se o dever de indenizar ao causador do dano, razão pela qual se trata a
responsabilidade civil de instituto do Direito das Obrigações.
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E
EXTRACONTRATUAL
Conforme explicado, aquele que viola um sistema normativo jurídico prévio e, com isso, comete ato lesivo a
outrem, fica obrigado a indenizar. Esse dever descumprido pode ser oriundo de um contrato, ou seja, pode
ter como fato gerador uma relação jurídica obrigacional precedente, ou então pode ter como fonte uma
obrigação imposta pela própria lei ou por preceitos gerais de Direito.
Foto: Shutterstock.com
TEORIA DUALISTA DA RESPONSABILIDADE
Em razão de tal bipartição, a doutrina tradicionalmente (e adotando a chamada teoria dualista da
responsabilidade ― também acolhida pelo Código Civil) divide a responsabilidade civil em contratual e
extracontratual, ou seja, de acordo com a origem do dever descumprido.
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL OU ILÍCITO
CONTRATUAL
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Existindo uma relação obrigacional prévia, o eventual dever de indenizar será consequência do
inadimplemento, isto é, estaremos diante da chamada responsabilidade contratual ou ilícito contratual,
prevista nos artigos 389 e seguintes do Código Civil.
RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL OU AQUILIANA
Por outro lado, não havendo qualquer tipo de relação jurídica contratual entre o transgressor e a vítima, e
se o dever de indenizar surgir a partir da violação de um direito subjetivo da vítima, estaremos diante da
chamada responsabilidade extracontratual ou aquiliana, cuja previsão normativa se encontra nos artigos
927 e seguintes do Código Civil.
Atualmente, existe uma verdadeira simbiose entre os dois tipos de responsabilidade, tendo em vista a
aplicação de determinadas regras às duas modalidades.
 EXEMPLO
O Código de Defesa do Consumidor, por exemplo, ao equiparar todas as vítimas de acidente de consumo
ao consumidor, superou a clássica bipartição, no que diz respeito à responsabilidade do fornecedor de
produtos e serviços. Dessa forma, concedeu ao fornecedor um tratamento unitário, na medida em que
determinou como fundamento de sua responsabilidade a violação do dever de segurança.
Podemos citar também, como exemplos de superação da dicotomia, questões envolvendo responsabilidade
pela violação positiva do contrato, pela violação de deveres anexos, responsabilidades pré e pós-
contratuais, entre outras.
No entanto, em que pese a crítica pelos adeptos da teoria unitária ou monista, para quem não importa a
origem jurídica da responsabilidade civil, uma vez que os seus efeitos são análogos, a dicotomia ainda faz
sentido teórico e prático.
Para fins didáticos, podemos apontar outras diferenças entre as duas responsabilidades no quadro a
seguir:
Responsabilidade contratual Responsabilidade extracontratual
Na responsabilidade contratual, o inadimplemento
da obrigação presume-se culposo.
Já na extracontratual, incumbe ao lesado o
ônus de provar culpa ou dolo do agente
causador do dano.
Origina-se na convenção, ou seja, no contrato
previamente estabelecido entre o transgressor e
a vítima.
Tem origem na observância do dever
genérico de não lesar outrem.
javascript:void(0)
A capacidade sofre limitações, tendo em vista a
necessidade de os contratos serem celebrados
por pessoas capazes.
Existe maior amplitude, na medida em que os
atos ilícitos podem ser praticados inclusive
por incapazes.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
 Quadro comparativo Responsabilidade contratual x Responsabilidade extracontratual
Elaborado por Raquel Senos
Em suma: em ambas as modalidades de responsabilidade civil ― contratual e extracontratual ― existe a
transgressão de um dever jurídico preexistente, e elas têm como consequência a obrigação de reparação
do dano causado, distinguindo-se apenas no que diz respeito à origem.
Por um lado, na responsabilidade contratual, a origem se dá quando o dever jurídico estiver previsto em um
contrato firmado anteriormente pelo transgressor e pela vítima; de outro, na responsabilidade
extracontratual, quando o dever jurídico estiver previsto em lei ou no ordenamento jurídico como um todo,
derivando a responsabilidade de um dever de conduta.
RESPONSABILIDADE CIVIL E
RESPONSABILIDADE PENAL
Os atos ilícitos, ao contrário do que popularmente se imagina, não são exclusividade do Direito Penal.
Trata-se a ilicitude, basicamente, de uma contrariedade entre a conduta praticada pelo agente e a norma
jurídica, ou seja, podemos considerá-la um desrespeito ao ordenamento jurídico, razão pela qual se
depreende que atos ilícitos podem ser praticados em qualquer esfera do Direito.
A título ilustrativo, imagine que uma pessoa provoque a degradação ambiental em determinada área de
terras. Nesse caso, estaremos diante de um ilícito ambiental, passível de reparação pelo causador do dano.
Da mesma forma, aquele que descumprir deveres jurídicos estatuídos em leis fiscais estará praticando um
ilícito tributário, igualmente passível de responsabilização.
Por outro lado, aquele que, em razão de sua conduta, violar uma lei civil ou um contrato, ou seja, uma
norma jurídica de direito privado, praticará um ilícito civil. Já o ilícito penal ocorrerá na medida em que a
norma jurídica transgredida pelo agente causador do dano for de direito penal, eminentemente público.
Sendo assim, a ilicitude será civil ou penal única e exclusivamente em razão da origem da norma
transgredida, não havendo diferenciação substancial entre uma e outra modalidade.
Basicamente, a diferença entre ilícito civil e penal consiste no maior nível de gravidade, de lesividade e de
imoralidade que permeiam o último, provocando a desestruturação e o enfraquecimento da sociedade
como um todo, razão pela qual merece reprimenda mais severa.
Entretanto, uma mesma conduta praticada por determinada pessoa poderá infringir tanto normas jurídicas
civis quanto penais, caracterizando, portanto, dupla ilicitude. Imagine que alguém, ao conduzir um veículo
em uma avenida, de forma imprudente e sob o efeito de álcool, atropele e mate um pedestre.
Nesse caso, haverá duplaresponsabilização:
Criminal
Criminalmente, o condutor responderá pelo crime de homicídio e receberá a sanção penal cabível, seja ela
privativa de liberdade, seja ela restritiva de direitos;

Civil
Já no âmbito cível, será responsabilizado e obrigado a reparar o dano aos parentes da vítima.
Assim, o agente causador do dano receberá dupla sanção: uma penal, de natureza repressiva, e outra civil,
de natureza reparatória, concretizada por meio de uma indenização.
Ademais, importante destacar que toda prática de um ilícito penal desencadeia, naturalmente, a sanção
penal correspondente à infração, bem como a responsabilização civil, ou seja, a necessidade de reparação
ou compensação patrimonial pelo dano ocasionado.
Isso ocorre porque o Código Penal traz, como um dos efeitos da condenação, em seu artigo 91, inciso I, a
certeza da obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, que deverá ser pleiteada por meio da
chamada ação civil ex delicto. No mesmo sentido, dispõe o artigo 63 do Código de Processo Penal que
“transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o
efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros”.
Vejamos um outro quadro comparativo, desta vez entre a responsabilização civil e a responsabilização
penal:
RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL ― ILÍCITO RESPONSABILIZAÇÃO PENAL ― ILÍCITO
CIVIL PENAL
O mecanismo sancionatório civil é
patrimonial, ou seja, a pena é pecuniária.
Trata-se de mecanismo menos gravoso.
O mecanismo sancionatório é mais gravoso, trata-
se da liberdade, seja por pena privativa de
liberdade, seja por pena restritiva de direitos.
Não há fatos típicos (a lei não traz a
enumeração de todos os fatos que geram
dever de indenizar).
Só há crime se o fato for típico (a lei já traz
todos os fatos que são ilícitos penais).
As penas não são predeterminadas (o
quantum fica a cargo do juiz).
As penas são determinadas em seus limites (o
juiz deve-se ater aos limites fixados em lei).
Mesmo a culpa levíssima gera dever de
indenizar.
A culpa, para gerar responsabilidade penal, é
maior.
A tentativa não é punível. A tentativa é punível.
O dolo não agrava o valor da indenização. O dolo agrava a pena.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
 Quadro comparativo entre RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL x RESPONBALIZAÇÃO PENAL
Elaborado por Pedro Quintaes Peres
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA
Vimos que a responsabilidade civil carrega consigo a necessidade de reparação de um dano causado a
outrem em razão da transgressão de uma norma jurídica, seja ela contratual ou extracontratual. Vejamos a
seguir a evolução histórica da responsabilização.
BREVE HISTÓRICO DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL
Código de Hamurabi
Historicamente, a responsabilização tem origem no Código de Hamurabi, o primeiro código de leis da
história, que vigorou entre 1792 e 1750 a.C. na Mesopotâmia, quando Hamurabi governou o primeiro
Império Babilônico. Por previsão do Código, composto por 281 leis, tratava-se a vingança privada de um
direito amparado pela chamada pena de Talião, prevista na Lei das XII Tábuas, segundo a qual o causador
de um dano deveria ser punido na modalidade “olho por olho, dente por dente”, ou seja,
independentemente de culpa. Tal responsabilização não contava com a intervenção do Estado, razão pela
qual era comum a desproporcionalidade entre o dano causado e a penalização recebida pelo ofensor.
Foto: Shutterstock.com
Lex Aquilia de Damno
Posteriormente, levando em consideração as injustiças ocasionadas pela aplicação da pena de Talião,
surgiu no final do século III a.C., já no Direito Romano, a Lex Aquilia de Damno, que fixou parâmetros para
a responsabilização civil extracontratual, conferindo à pessoa vítima de um dano, considerado injusto, o
direito de obter uma indenização em dinheiro daquele que provocou o ato lesivo. Sendo assim, substituiu-
se a ideia de retribuição do mesmo mal causado pela responsabilização mediante culpa, que passou a ser
a regra e influenciou as codificações privadas modernas, entre elas, o Código Civil Francês de 1804,
chamado também de Código Napoleônico.
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RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA
Seguindo essa construção histórica, o Direito Civil brasileiro, mais especificamente no artigo 186 do Código
Civil, adotou como regra a chamada responsabilidade civil subjetiva, amparada na culpa em sentido
amplo.
Para a teoria clássica da responsabilidade civil, a prova da culpa passa a ser pressuposto necessário do
dano indenizável, incumbindo à vítima o ônus de comprovar que o dano foi causado ou por negligência,
imprudência ou imperícia (culpa stricto sensu) ou então por dolo por parte do ofensor. Em não havendo a
comprovação da culpa, não há que se falar em responsabilização civil.
Assim, para que se fale em responsabilização civil subjetiva, é necessário que estejam presentes seus
pressupostos, que são identificados a partir da literalidade do artigo 186 do Código Civil. São eles:
A CONDUTA CULPOSA DO AGENTE

O NEXO CAUSAL

O DANO
Para melhor compreensão do assunto, imagine a situação exposta anteriormente, acerca das
responsabilidades civil e penal: um motorista, ao conduzir seu veículo automotor por uma avenida, de forma
imprudente e sob o efeito de bebida alcoólica, atropela e mata um pedestre. Além da responsabilização
penal, ele poderá ser responsabilizado civilmente pelo ato ilícito praticado. Isso porque, no caso, estão
presentes os pressupostos para a responsabilização civil, uma vez que o agente praticou uma conduta
(atropelou alguém) de forma culposa, no sentido stricto sensu (pois fora imprudente ao dirigir embriagado),
sendo que, em razão de tal conduta, ocorreu um dano à vítima (nexo causal entre a conduta e o resultado
dano).
Ocorre que a evolução da sociedade, ao longo dos tempos, especialmente com a Revolução Industrial,
trouxe inúmeras consequências jurídicas, entre elas, a maior atuação estatal e o aumento da preocupação
com direitos sociais.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Precursora da industrialização e do modelo capitalista. Período em que se passou a explorar o
trabalho do homem e novos mecanismos tecnológicos começaram a ser utilizados.
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RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
A teoria clássica da responsabilidade civil, fundada na culpa, passou a não mais atender aos anseios
sociais diante do crescimento populacional e dos novos acontecimentos que surgiam. Com a finalidade de
preencher as lacunas existentes, passou-se a admitir, em certos casos, outra modalidade de
responsabilização civil, aquela que se dá independentemente de culpa do agente.
Surge então a responsabilidade civil objetiva, cuja origem se dá no Direito francês. Apesar de certa
resistência, inclusive dentro da própria França, expandiu-se e passou a ser aplicada em outros países,
entre eles o Brasil.
 EXEMPLO
A título exemplificativo, podemos citar o Decreto-lei nº 2.681/1912, que passou a prever a presunção de
culpa no transporte ferroviário, sendo que, aplicando-se a analogia, tal entendimento foi estendido
posteriormente aos outros tipos de transporte terrestre.
Na legislação contemporânea, o Código Civil passou a admitir expressamente a responsabilidade civil
objetiva, por meio do disposto no parágrafo único do artigo 927, o qual prevê que:
“HAVERÁ OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO,
INDEPENDENTEMENTE DE CULPA, NOS CASOS
ESPECIFICADOS EM LEI, OU QUANDO A ATIVIDADE
NORMALMENTE DESENVOLVIDA PELO AUTOR DO DANO
IMPLICAR, POR SUA NATUREZA, RISCO PARA OS DIREITOS
DE OUTREM”.
(LEI Nº 10.406/2002)
Sendo assim, a legislação impõe, a certas pessoas, a reparação de um dano causado sem que se verifique
o pressuposto da culpa, bastando-se a presença do dano e do nexo causal.
Uma das teorias que procuram justificar a necessidade da responsabilização civil, independentemente de
culpa, em determinadas situações, é a chamada teoria do risco. Segundo ela, toda pessoa queexerce
determinadas atividades em relação à sociedade, sejam elas perigosas ou que utilizem instrumentos que
possam provocar algum tipo de lesão por sua manipulação, cria riscos de danos para terceiros, razão pela
qual deverá obrigatoriamente reparar eventual dano, ainda que sua conduta seja isenta de culpa.
Em suma, a teoria do risco tem como postulado que todo dano é indenizável e deve ser reparado por
aquele a quem ele se liga por um nexo de causalidade, não sendo relevante a culpa por parte do
responsável.
A teoria do risco, por sua vez, é dividida em diversas modalidades, sendo as mais importantes, de acordo
com Tartuce (2020):
TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO
Adotada nos casos de responsabilidade civil do Estado, prevista no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal;
TEORIA DO RISCO CRIADO
Presente nos casos em que o agente causador do dano cria o risco, decorrente de outra pessoa ou de
determinada coisa. Como exemplo, citamos o defenestramento, ou seja, a responsabilidade do ocupante
de imóvel pelos objetos que dele caírem ou forem lançados;
TEORIA DO RISCO DA ATIVIDADE (OU RISCO PROFISSIONAL)
Nas situações em que a atividade profissional do agente provoque riscos a terceiros, seja pela sua natureza
ou pelos instrumentos a ela inerentes, conforme parte final do parágrafo único do artigo 927 do Código
Civil;
TEORIA DO RISCO-PROVEITO
Adotada nas situações em que o dano é resultado de uma atividade realizada em benefício do agente, que
proporcione lucros a este. Tais situações estão relacionadas às atividades de consumo, sendo tal
modalidade de responsabilidade civil decorrente do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990);
TEORIA DO RISCO INTEGRAL
São hipóteses ainda mais severas de responsabilidade civil objetiva, na medida em que não é possível a
alegação das excludentes de responsabilidade civil ou de nexo de causalidade. O exemplo clássico é o da
responsabilidade civil ambiental, cujo sistema normativo está previsto na Lei da Política Nacional do Meio
ambiente (Lei nº 6.938/1981).
O Código Civil traz diversas situações de responsabilidade civil objetiva, consagrando regras específicas
para cada uma delas. Por exemplo, podemos citar as hipóteses previstas no artigo 932 da codificação civil,
entre elas:
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A responsabilidade dos pais pelos atos praticados pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade
ou companhia.
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A responsabilidade dos tutores e curadores pelos atos praticados pelos tutelados e curatelados.
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A responsabilidade do empregador pelos atos do empregado, no exercício do trabalho ou em razão dele.
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A responsabilidade dos donos de hotéis, hospedarias e outros estabelecimentos do gênero, pelos atos
praticados por seus hóspedes.
Outro exemplo diz respeito à responsabilidade, prevista no art. 936 do Código Civil, por danos causados
por animais, recaindo objetivamente sobre o dono. Ainda, por exemplo, a responsabilidade civil objetiva por
danos causados por ruína de prédio ou construção (art. 937, CC), a já mencionada responsabilidade por
danos oriundos de coisas lançadas de prédios (art. 938, CC) e, por fim, a responsabilidade objetiva nos
contratos de transporte (arts. 734 e 750 do CC).
 ATENÇÃO
Em todos esses casos, reitera-se, os agentes serão responsabilizados pelos danos ocorridos ao ofendido,
independentemente de culpa stricto sensu (imprudência, negligência ou imperícia) ou dolo.
Por outro lado, de acordo com Tartuce (2020), além das situações de responsabilidade objetiva, previstas
na legislação, existem situações não previstas em lei, mas que ensejam a responsabilização do agente,
independentemente de culpa, abrindo-se espaço para doutrina e jurisprudência criarem novas hipóteses.
Fala-se, então, da chamada cláusula geral de responsabilidade objetiva, amparada na atividade de
risco, possibilitando ao juiz a análise diante do caso concreto.
Em suma, no Código Civil, a responsabilidade subjetiva subsiste como regra necessária, sem prejuízo da
adoção da responsabilidade objetiva, em variados dispositivos esparsos.
RESPONSABILIDADES SUBJETIVA E OBJETIVA
No vídeo a seguir, a especialista Cíntia Burille vai tratar das duas espécies de responsabilidade,
diferenciando-as e trazendo exemplos, além de referências às regras do Código Civil. Assista:
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA, EM RELAÇÃO À RESPONSABILIDADE:
A) O Código Civil adota como regra a responsabilidade civil objetiva.
B) As hipóteses de responsabilidade civil objetiva estão previstas somente na legislação.
C) Os pais são responsáveis pelos atos praticados pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade
ou companhia.
D) A ideia de responsabilização sem culpa surgiu com o advento da Revolução Industrial.
E) Os danos causados pelos animais recaem sobre seus donos, independentemente de culpa.
2. SÃO CARACTERÍSTICAS COMUNS ÀS RESPONSABILIDADES CONTRATUAL E
EXTRACONTRATUAL, EXCETO:
A) A existência de um dano injustamente causado.
B) A transgressão de uma norma jurídica preexistente.
C) A obrigação de reparação do dano causado.
D) A origem da norma jurídica transgredida.
E) A necessidade de existência do nexo causal entre transgressão da norma e dano causado.
GABARITO
1. Assinale a alternativa incorreta, em relação à responsabilidade:
A alternativa "B " está correta.
Assunto abordado no tópico que trata sobre responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva,
especificamente pela literalidade do art. 927, parágrafo único, do Código Civil: “haverá obrigação de reparar
o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.
2. São características comuns às responsabilidades contratual e extracontratual, exceto:
A alternativa "D " está correta.
Uma das diferenças entre as modalidades está relacionada à origem da norma jurídica transgredida.
Enquanto na responsabilidade civil contratual o dever jurídico transgredido está previsto em um contrato
previamente firmado entre ofensor e ofendido, na responsabilidade civil extracontratual, o dever jurídico
transgredido está previsto em lei ou no ordenamento jurídico como um todo.
MÓDULO 3
 Identificar agentes imputáveis e inimputáveis e os atos lesivos não considerados ilícitos
A IMPUTABILIDADE
Imputar significa atribuir responsabilidade àquele que pratique determinado ato considerado lesivo a
outrem. Imputabilidade, portanto, diz respeito à reunião de condições pessoais necessárias para que o
agente seja passível de responder pelas consequências de uma conduta por ele praticada, que seja
contrária ao dever jurídico, sendo o imputável aquele que devia e podia ter agido de outra maneira diante
da transgressão por ele praticada.
O chamado juízo de reprovação de uma conduta é composto por duas fases:
Primeiramente, o agente deve, no momento da prática do ato, ter capacidade para compreender o que está
fazendo e determinar suas ações, conforme essa compreensão.
Em segundo lugar, que a conduta praticada tenha sido contrária ao dever jurídico.
A primeira fase é a que diz respeito à imputabilidade.
Em suma: a imputabilidade é elemento que constitui o conceito de culpa, dela dependendo a existência ou
não da responsabilidade, razão pela qual ela é considerada um de seus pressupostos. Dessa forma, se
determinada pessoa pratica um ato contrário ao dever jurídico, ocasionando um dano injusto a outrem, mas
ao praticar tal ato não possui capacidade e discernimento para compreender que sua conduta é
considerada reprovável, não haverá que se falar em responsabilização.
Tem-se como elementos da imputabilidade:
A maturidade ― relacionada ao desenvolvimento mental.
A sanidade mental ― relacionada à higidez.
Dessa forma, será imputável o agente que possua a mente sã, a capacidade de compreender o caráter de
sua condutatransgressora e que possua condições de determinar suas ações de acordo com essa
compreensão.
Por outro lado, importa salientar que atos lesivos praticados por pessoas sem maturidade ou sanidade
mental não implicam, necessariamente, no desamparo à vítima do dano por aquela ocasionado, pois o
Código Civil prevê a responsabilização por terceiros em variadas hipóteses.
Como exemplo, podemos citar, mais uma vez, a responsabilidade dos pais, que responderão pelos atos
praticados pelos filhos menores; dos tutores e curadores, pelos atos praticados pelos seus tutelados e
curatelados, entre outros.
No que diz respeito à responsabilidade dos incapazes, o Código Civil de 2002 substituiu o princípio da
irresponsabilidade absoluta da pessoa privada de discernimento pelo princípio da responsabilidade
mitigada e subsidiária.
O diploma civil (Lei nº 10.406/2002) prevê, em seu artigo 928, caput, que:
“O INCAPAZ RESPONDE PELOS PREJUÍZOS QUE CAUSAR,
SE AS PESSOAS POR ELE RESPONSÁVEIS NÃO TIVEREM
OBRIGAÇÃO DE FAZÊ-LO OU NÃO DISPUSEREM DE MEIOS
SUFICIENTES.”
E, no parágrafo único, dispõe que:
“A INDENIZAÇÃO PREVISTA NESTE ARTIGO, QUE DEVERÁ
SER EQUITATIVA, NÃO TERÁ LUGAR SE PRIVAR DO
NECESSÁRIO O INCAPAZ OU AS PESSOAS QUE DELE
DEPENDEM”.
Sendo assim, caberá ao curador arcar com a indenização a fim de reparar os danos provocados a outrem
por seu curatelado. Não recairá sobre ele a obrigação apenas se não possuir patrimônio suficiente para
responder pela obrigação, portanto sua responsabilidade é objetiva. Se a vítima não conseguir receber do
curador a indenização pelo dano causado pelo curatelado, poderá o juiz condenar o curatelado, caso
possua condições financeiras, ao pagamento de uma indenização equitativa, razão pela qual a
responsabilidade é considerada subsidiária.
 ATENÇÃO
Por outro lado, se o alienado não estiver sob curatela, a reparação pelos danos por ele causados a outrem
deverá ser feita com seus próprios bens, ou seja, resolve-se fora do quadro da culpa.
RESPONSABILIDADE E MENORES
Já no que diz respeito à responsabilidade por atos praticados por menores, temos que, em regra, a
obrigação de indenizar cabe às pessoas responsáveis pelo menor, nos termos do que dispõe o artigo 932
do CC:
“SÃO TAMBÉM RESPONSÁVEIS PELA REPARAÇÃO CIVIL: I –
OS PAIS, PELOS FILHOS MENORES QUE ESTIVEREM SOB
SUA AUTORIDADE E EM SUA COMPANHIA; II – O TUTOR E O
CURADOR, PELOS PUPILOS E CURATELADOS, QUE SE
ACHAREM NAS MESMAS CONDIÇÕES.”
(LEI Nº 10.406/2002)
Em tais casos não se admite a exoneração dos pais de indenizar, provando que não foram negligentes na
guarda, uma vez que o art. 933 do Código Civil dispõe que a responsabilidade dessas pessoas é objetiva,
ou seja, não há que se falar em discussão de culpa de sua parte.
No entanto, da mesma forma como ocorre com os curatelados, o menor poderá vir a responder com os
seus próprios bens pelos danos por ele causados a outrem, aplicando-se a previsão do já analisado art.
928 do Código Civil.
Pensemos na seguinte situação:
Um adolescente de 17 anos, ao conduzir o automóvel de seu pai, perde o controle do veículo e destrói o
muro de uma residência ao colidir com ele. Em regra, os pais do jovem responderão com seu patrimônio,
ou seja, deverão pagar a indenização ao dono do imóvel destruído pelo filho.
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No entanto, caso os pais não possuam recursos financeiros para tanto, o próprio adolescente, neste caso
um relativamente incapaz, poderá ser chamado a responder pelos danos provocados com seu próprio
patrimônio, caso o tenha. Nesse caso, deverá ser a indenização equitativa, não sendo possível fixá-la, caso
a sua consequência seja a privação de recursos que promovam a subsistência do menor ou das pessoas
que dele dependem.
Importante ressaltar, todavia, que a responsabilidade sobre os atos praticados pelo filho incapaz recai
somente sobre o genitor ao qual o menor estiver sob autoridade e em companhia. Sendo assim, os pais ou
responsáveis que não exercem de fato autoridade sobre o menor causador de um dano a terceiro, embora
detenham o poder familiar, não exercem a autoridade direta e, portanto, não respondem por ele.
A título exemplificativo, colaciona-se julgado do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto:
Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade, residia
permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor – sobre quem apenas o pai exercia
autoridade de fato – não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo
considerando que ela não deixou de deter o poder familiar sobre o filho.
"Autoridade" é expressão mais restrita que "poder familiar" e pressupõe uma ordenação, ou seja, que o pai
ou mãe tenha poderes para organizar de forma mais direta e imediata a vida do filho.
(STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/12/2015).
Por outro lado, caso de emancipação voluntária do filho pelos pais, prevista no artigo 5º, parágrafo único,
inciso I, do Código Civil, todos os efeitos naturais do ato são produzidos, menos o de isentar os pais da
responsabilidade pelos atos ilícitos e danos a terceiros praticados pelos filhos, havendo, de acordo com a
doutrina majoritária, responsabilidade civil solidária entre ambos.
No entanto, o mesmo não acontece nos casos de emancipação legal, previstos nos demais incisos do
parágrafo único do referido artigo, entre eles o casamento, o exercício de emprego público efetivo, a
colação de grau em ensino superior e o estabelecimento de economia própria. Nesses casos, o
emancipado responderá sozinho pelos danos por ele causados a outrem.
ATOS LESIVOS NÃO CONSIDERADOS ILÍCITOS
Finalmente, passando ao estudo dos atos lesivos não considerados ilícitos, apesar de causarem danos e
lesões aos direitos de outrem, conforme prevê a artigo 188, incisos I e II, do Código Civil, temos:
AS EXCLUDENTES DE ILICITUDE
Constituídas pelos institutos da legítima defesa, estado de necessidade ou remoção de perigo iminente,
exercício regular de direito e o estrito cumprimento de dever legal;
AS EXCLUDENTES DO NEXO DE CAUSALIDADE
Culpa exclusiva da vítima, culpa exclusiva de terceiro, caso fortuito e força maior.
Em tais casos, mesmo diante da existência de danos, não há que se falar em ilicitude, nem em
responsabilidade civil, mas, eventualmente, os danos deverão ser reparados.
LEGÍTIMA DEFESA
A legítima defesa está conceituada no artigo 25 do Código Penal, que dispõe que:
“ENTENDE-SE EM LEGÍTIMA DEFESA QUEM, USANDO
MODERADAMENTE DOS MEIOS NECESSÁRIOS, REPELE
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INJUSTA AGRESSÃO, ATUAL OU IMINENTE, A DIREITO SEU
OU DE OUTREM.”
(DECRETO-LEI Nº 2.848/1940)
Ou seja, o agente atua defensivamente em face a uma agressão injusta (portanto ilícita), atual ou iminente.
Segundo Tartuce (2020), a análise da legítima defesa deverá ser feita de acordo com o caso concreto, não
sendo possível ao agente usar de força excessiva, ou seja, além daquela necessária para afastar o dano ou
a iminência de dano. 
A título exemplificativo, o autor refere a seguinte hipótese:
(...) se o proprietário de uma fazenda desfere tiros de arma de fogo diretamente contra invasores de seu
imóvel, não haverá legítima defesa, mas excesso no exercício da defesa (abuso de direito), estando
configurado o seu dever de indenizar. Nessa situação, não houve um exercício regular de direito, mas sim
um exercício irregular, o que tanto pode gerar abuso de direito (art. 187, CC) como ato ilícito propriamente
dito (art. 186 do CC), o que depende da análise do caso concreto. (TARTUCE, 2020, p. 666)
LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA
Temos também a chamada legítima defesa putativa, que diz respeito às situações em que o agente acredita
estar em perigo, quando na realidade ele não existe, e age de forma a defender o seu direito que imagina
estar ameaçado.
Exemplificando, imagine que alguém pense que está sendo seguido por um assaltante e, em razão disso,
atropela alguém,mas, na realidade, a pessoa que o estava “seguindo” era um conhecido que há muito
tempo não encontrava. Em tais situações, o dever de indenizar não é excluído, uma vez que somente a
culpabilidade é excluída, e não a antijuridicidade do ato.
Ainda, importante destacar que, na legítima defesa, se o ato foi praticado contra o próprio agressor, não
pode o agente ser responsabilizado civilmente pelos danos provocados. Portanto, somente na legítima
defesa real e quando praticada contra o agressor, deixa o ato de ser considerado ilícito, apesar do dano
causado, impedindo a ação de ressarcimento.
Por outro lado, se o agente, por um erro de pontaria, por exemplo, atingir uma terceira pessoa, ficará
obrigado a indenizar os danos a este provocados, uma vez que aquele que provoca dano injusto a outrem
fica obrigado a reparar o prejuízo. No entanto, em tais casos, restará ao agente o direito à ação regressiva
contra o injusto agressor.
ESTADO DE NECESSIDADE OU REMOÇÃO DE PERIGO
IMINENTE
No estado de necessidade ou remoção de perigo iminente, o agente, por força de perigo iminente e visando
à proteção de direito seu ou de outrem, provoca um dano a bem jurídico de terceiro, como a destruição ou
deterioração de coisas alheias, ou lesão à pessoa.
Importante destacar que, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 188 do Código Civil, em tais
situações:
“O ATO SERÁ LEGÍTIMO SOMENTE QUANDO AS
CIRCUNSTÂNCIAS O TORNAREM ABSOLUTAMENTE
NECESSÁRIO, NÃO EXCEDENDO OS LIMITES DO
INDISPENSÁVEL PARA A REMOÇÃO DO PERIGO.”
(LEI Nº 10.406/2002)
Da mesma forma que na legítima defesa, em havendo excessos na atuação por parte do agente, poderá
restar configurado o abuso de direito ou o ilícito propriamente dito.
Vale ressaltar que, da mesma forma que na legítima defesa, nos termos dos artigos 929 e 930 do Código
Civil, atuando em estado de necessidade ou legítima defesa, caso seja atingido terceiro inocente, o agente
deverá responder pelo ato e indenizar o ofendido, cabendo-lhe em tais casos o direito ingressar com ação
regressiva em face do verdadeiro culpado ou do agressor.
Em ambas as hipóteses há responsabilidade por ato lícito, apesar de estar em estado de necessidade ou
legítima defesa, tonando-se obrigatória a reparação do dano àquele que foi atingido pela prática do ato por
parte do agente.
EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO E O ESTRITO
CUMPRIMENTO DE UM DEVER LEGAL
O exercício regular de um direito e o estrito cumprimento de um dever legal podem ser analisados
conjuntamente (na medida em que este pode ser considerado uma espécie do primeiro), uma vez que a
pessoa que age de forma correta cumprindo seu dever legal está exercendo regularmente um direito.
O estrito cumprimento de um dever legal não está previsto expressamente no Código Civil. No entanto,
pressupõe um agente público e se trata de uma excludente de ilicitude que não necessariamente significa a
exclusão da responsabilidade civil.
Imagine um oficial de justiça que cumpre mandado de prisão, ou então um policial que, ao atuar na
ocorrência de um roubo, provoca danos a uma pessoa ou ao patrimônio de alguém. Esta atuação ocorre
dentro do cumprimento de suas funções. Tais danos serão reparados com fundamento na responsabilidade
objetiva do Estado que, para que possa cobrar regressivamente os valores dispensados do policial que
provocou o dano, deverá necessariamente provar que este agiu com culpa.
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Como exemplos de exercício regular de direito, citamos a instalação e exigência de utilização de guarda-
volumes em supermercados, a presença de portas giratórias em agências bancárias (neste caso, inclusive,
já decidiu o STJ que o mero travamento de porta giratória não gera responsabilidade civil por parte da
instituição ao cliente), a instalação de ofendículos em residências (cerca elétrica, portões pontiagudos,
cacos de vidro em muros), nada disso gerando responsabilização civil, uma vez que se trata de exercício
regular de direito.
Por fim, ressaltamos a análise das chamadas excludentes de nexo de causalidade, ou seja, aquelas que
excluem a relação de causa e efeito entre a conduta praticada pelo agente e o dano ocasionado a outrem
pela prática da conduta.
CULPA OU FATO EXCLUSIVOS DA VÍTIMA OU DE
TERCEIRO
A culpa ou fato exclusivos da vítima ou de terceiro, como o próprio nome refere, dá-se quando o dano
sofrido ocorre exclusivamente pela prática de uma conduta equivocada por parte da vítima ou de terceira
pessoa.
Como exemplo, imagine que uma pessoa ligue um aparelho cuja voltagem é de 110V em uma tomada de
220V. Na hipótese, ocorrendo a queima do eletrônico, não há que se falar em culpa do vendedor ou do
fabricante, conforme disposto nos artigos 12, § 3º, e 14, § 3º, do Código de Defesa do Consumidor.
 SAIBA MAIS
No entanto, nos casos em que a culpa é de ambos, a chamada culpa concorrente, não haverá uma
excludente, mas sim uma atenuante, minimizando a culpa de um dos envolvidos.
CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR
Por fim, o caso fortuito e a força maior são, igualmente, modalidades de exclusão da culpabilidade da
responsabilidade civil. São duas circunstâncias que ocorrem de modo desassociado de qualquer
voluntariedade humana.
Há muita celeuma acerca da questão de existir, ou não, diferença entre os dois institutos. Contudo,
podemos entender que o caso fortuito se dá quando o evento é totalmente imprevisível, como uma
pandemia, por exemplo. Ao passo que a força maior se dá com eventos inevitáveis, ainda que previsíveis.
O Código Civil trata do caso fortuito e da força maior em muitos artigos de lei, estando espraiados pelo
texto do código, com a função específica de prever, para cada tipo de descumprimento, como poderá se
imiscuir da responsabilidade pelo descumprimento.
 SAIBA MAIS
Em específico, temos os artigos 393, 399, 575, 583, 667 e 868, todos do Código Civil, como hipóteses em
que há a presença de afastamento da responsabilidade pela presença do caso fortuito e da força maior, ou
quando, ainda que haja a presença dessas circunstâncias, subsiste a responsabilização.
De qualquer modo, o caso fortuito e a força maior, a exemplos das outras modalidades de atos lesivos não
considerados ilícitos, em regra, excluem a culpabilidade daquele evento danoso, fazendo com que não se
perfectibilize a hipótese de ilícitos que deve ser alvo de reparação, por exemplo.
ATO LESIVOS NÃO CONSIDERADOS ILÍCITOS
No vídeo a seguir, a especialista Cíntia Burille vai tratar dos atos lesivos não considerados ilícitos, seus
elementos e trazer exemplos. Assista:
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) O Código Civil substituiu o princípio da responsabilidade absoluta da pessoa privada de discernimento
pelo princípio da responsabilidade mitigada e subsidiária.
B) Em regra, a obrigação de indenizar não cabe às pessoas responsáveis pela criança.
C) O emancipado voluntário, caso pratique ato lesivo a outrem, responde subsidiariamente aos seus
genitores, tutores ou curadores.
D) O emancipado obrigatório, caso pratique ato lesivo a outrem, responde subsidiariamente aos seus
genitores, tutores ou curadores.
E) Apenas o genitor que estava com a guarda momentânea de criança ou adolescente que causou evento
danoso será responsabilizado, não se responsabilizando o outro genitor.
2. ACERCA DOS ATOS ILÍCITOS NÃO CULPÁVEIS, ASSINALE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) Os atos praticados no exercício regular de um direito reconhecido constituem ato ilícito.
B) Os atos praticados em legítima defesa constituem ato ilícito.
C) É impossível o excesso de direito em circunstância que autorize o uso da força em legítima defesa.
D) Não há responsabilização do agente quando este pratica a chamada legítima defesa putativa, desde que
tenha operado a ação com boa-fé.
E) Haverá necessidade de reparação dos atos praticados em legítima defesa quando houver danos
colaterais a terceiros.
GABARITO
1. Assinale a alternativa correta:
A alternativa "E " está correta.
A alternativaA está errada, pois o princípio era o da irresponsabilidade absoluta. A alternativa B está errada
pois, via de regra, cabe às pessoas responsáveis a reponsabilidade para a indenização. A alternativa C está
errada, pois a responsabilidade é solidária. Já a alternativa D está errada porque não há responsabilidade
dos ascendentes ou responsáveis.
2. Acerca dos atos ilícitos não culpáveis, assinale a alternativa correta:
A alternativa "E " está correta.
As alternativas A e B estão erradas, pois não constituem atos ilícitos aqueles praticados em legítima defesa
ou no exercício regular de um direito reconhecido. A alternativa C está equivocada, pois pode haver sim a
descaracterização da legítima defesa para o abuso de direito. A alternativa D está errada, sendo esta
exatamente a conduta que faz incidir a legítima defesa putativa.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste conteúdo, foram abordados os tópicos acerca do estudo dos atos jurídicos ilícitos, previstos no Título
III do Código Civil, nos artigos 186 a 188. Começamos apresentando um início conceitual, desde a
formação de um ato jurídico ilícito, passando por sua aplicabilidade, com o estudo dos dispositivos
aplicáveis e das críticas em relação aos pressupostos utilizados pelo Código Civil para conceituação do ato
ilícito.
Posteriormente, apresentamos a identificação dos tipos de responsabilidades, tanto as contratuais quanto
as extracontratuais, as civis e penais, objetivas e subjetivas. E, por último, refletimos acerca de temas como
a imputabilidade, as hipóteses de inimputabilidade e as situações que podem servir para desconsiderar a
ilicitude, ou a culpabilidade, de um ato que deveria ser ilícito, mas acaba sendo escusado.
Assim, vemos a importância do conhecimento conceitual e prático nestes institutos, que, ainda que possam,
dificilmente serão aplicados diretamente em casos concretos, mas que servem de base dogmática para o
estudo de matérias como os negócios jurídicos e o direito das obrigações.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
CAVALIERI FILHO, S. Programa de responsabilidade civil. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2020. 
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N.; NETTO, F. P. B. Curso de direito civil: responsabilidade civil. 7. ed. rev.
atual. Salvador: Juspodivm, 2020. 
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N.; NETTO, F. P. B. Manual de direito civil: volume único. 2. ed. rev. atual. e
ampl. Salvador: Juspodivm, 2018. 
MELLO, M. B. Teoria do fato jurídico: plano da existência. São Paulo: Saraiva, 2005. 
PONTES DE MIRANDA, F. C. Tratado de direito privado. 4. ed. 2. tir. São Paulo: RT, 1977, Tomo I. p.
216-217. 
RIZZARDO, A. Responsabilidade civil. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. 
TARTUCE, F. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020.
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Leia os seguintes livros: 
TARTUCE, F. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020. 
ROSENVALD, N.; FARIAS, C. C. de. Curso de Direito Civil. Vol. I. Juspodivm, 2021.
CONTEUDISTA
Cíntia Burille
 CURRÍCULO LATTES
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