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Ética e responsabilidade Social - UNIDADE 3

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Responsabilidade Social nas Empresas
- UNIDADE 3
Esta unidade está organizada de acordo
com os seguintes temas:
● Tema 1 - Fundamentos e aplicações
da responsabilidade social
● Tema 2 - A crítica à
responsabilidade social
● Tema 3 - A ética e a
responsabilidade social
Fundamentos e aplicações da
responsabilidade - AULA 1
Quais as características dos três níveis de
abordagem de responsabilidade social nas
práticas empresariais?
Durante quase toda a história, as empresas
demonstraram estar conformadas apenas
com o seu papel de gerar lucros para seus
acionistas e expandir a sua própria
estrutura física e financeira, visando apenas
otimizar seu crescimento e ampliar a sua
competitividade no mercado. Algumas
ações de empresários isolados visando ao
enfrentamento da pobreza ou das más
condições de trabalho já ocorriam, mas não
em uma lógica semelhante à da atual
responsabilidade social empresarial. Em
geral, as ações de caridade não eram
sistemáticas e eram vistas como algo à
parte da gestão do negócio.
Um episódio considerado precursor da
noção de responsabilidade social foi a
disputa jurídica entre os acionistas da
indústria automobilística Henri Ford e os
Dodge, em 1916. Ford, que era o acionista
majoritário da empresa, decidiu não
distribuir parte dos lucros esperados entre
os acionistas da empresa, preferindo
revertê-los para a realização de ações
sociais, tais como o aumento de salários e
operários e a aplicação do dinheiro em um
fundo de reserva para uma possível
redução, que já era esperada, das receitas
da empresa por causa da redução de preços
de carros. Os irmãos Dodge não
concordaram com essas decisões e
processaram Ford. Eles saíram vitoriosos
dessa questão judicial. Isso porque, no
entendimento da corte de justiça de
Michigan, naquela época, a função da
corporação era o benefício de seus
acionistas, cabendo aos diretores
corporativos livre-arbítrio apenas quanto
aos meios para realizar tal função. Para os
juristas daquela época, o gestor não poderia
usar os lucros da empresa para outros fins.
Ou seja, além de não ser incentivada, as
ações que atualmente compõem a
responsabilidade social já foram
consideradas ilegais.
Como disciplina autônoma, a
responsabilidade social surge com o cunho
deste termo por Bowen, em 1953, no livro
Responsabilidade social do homem de
negócios. Na teoria abordada nesta obra, os
negócios são encarados como centros de
poder e de decisão, cujas ações afetam a
vida das pessoas em muitos aspectos, por
isso as empresas têm responsabilidade para
com toda a sociedade. Para dar conta dessa
responsabilidade e corresponder às
expectativas criadas pela sociedade, as
empresas necessitam compreender melhor
seu impacto social, também o desempenho
ético e social deve ser incorporado à gestão
de negócios, devendo ser avaliado por meio
de processos de auditorias. No campo das
práticas, porém, essa obra não impactou
instantaneamente a forma de atuar das
empresas, sendo considerada como um
precursor do movimento que apenas se
estabeleceria nos anos 1990.
As mudanças na sociedade não ocorrem de
forma passiva ou sem conflitos. Diversos
fatores de tensão social resultaram na
mentalidade atual de responsabilidade
socioambiental nas empresas. O cenário dos
anos 1960 e 1970 é de profundo
questionamento social, e lá estão as raízes
das mudanças na mentalidade empresarial.
Isso foi manifestado pela luta pelos direitos
civis, incluindo direitos trabalhistas, o
enfrentamento do racismo, o feminismo, a
nova visão sobre cidadania e exercício dessa
cidadania e o surgimento das associações
de proteção ao consumidor.
Na unidade anterior, vimos o papel de
Rachel Carson no surgimento dos
movimentos ambientalistas, que
denunciariam e lutariam contra práticas
danosas de algumas empresas. Assim como
Rachel, diversos jornalistas assumem um
papel mais rígido de investigação sobre os
danos sociais e ambientais resultantes da
ação de empresas. A divulgação desse tipo
de notícia propicia a construção da
chamada opinião pública, que seria a reação
coletiva à divulgação massiva de alguns
fatos. Tudo isso contribuiu para a
preocupação com novas posturas, não só
dos indivíduos, mas também das
organizações. Como resultado desse
caldeirão de tensões sociais, a declaração de
Dehli (1965) é responsável pelo surgimento
da ideia de que as empresas deveriam
encarar a comunidade como parte envolvida
em seus negócios, sendo ela também
responsável pela influência nos objetivos,
políticas e decisões das empresas. Ainda nos
anos 1960, os estudos de Keith Davis e os de
J. McGuire ampliam o debate acadêmico
sobre a responsabilidade social, pois esses
autores defendiam que a responsabilidade
das empresas vai além da responsabilidade
em maximizar lucros. Eles acrescentam à
responsabilidade a necessidade de uma
postura pública perante os novos recursos
econômicos e humanos da sociedade, assim
como o objetivo de mobilizar esses recursos
para interesses do coletivo, e não
simplesmente restringi-los a servir a
interesses privados de alguns indivíduos.
No ideal de preocupação com os abusos
cometidos por grandes companhias, a
Resolução nº 1.721 do Conselho Econômico e
Social da ONU, em 1972, institui o estudo
sobre a ação das multinacionais em países
pobres. Nos anos 1970, a responsabilidade
social das empresas passou a fazer parte do
debate público para enfrentamento dos
problemas sociais: pobreza, desemprego,
diversidade, distribuição de renda,
desenvolvimento, crescimento econômico,
poluição, segurança do trabalho e diversos
outros.
A partir dos anos 1970, a responsabilidade
social das empresas é vista como um
conjunto de obrigações que as organizações
deveriam colocar a serviço da comunidade.
Em 1979, Archie Carrol ampliou o conceito
de responsabilidade social para além de
gerar lucros e obedecer às leis. Isso por
meio de um modelo de quatro expectativas
básicas ou responsabilidades que
comporiam a responsabilidade social:
econômica, legal, ética e discricionária.
Vamos detalhar cada uma dessas
dimensões.
RESPONSABILIDADE ECONÔMICA: A
responsabilidade econômica das empresas
está contida na lógica do modo de produção
capitalista. Dentro desse cenário, a empresa
deve produzir e vender bens e/ou serviços
para a sociedade, conseguindo obter lucros.
No capitalismo, a empresa tem a
responsabilidade de alcançar os lucros.
RESPONSABILIDADE LEGAL: A
responsabilidade legal responderá à
expectativa da sociedade de que a empresa
realize a sua atividade econômica dentro
das regulamentações impostas pelos países.
Uma empresa deve conhecer e respeitar o
direito ambiental, assim como os direitos
trabalhistas. A empresa tem a
responsabilidade de atuar dentro do que é
permitido pela constituição federal e das
diversas leis e portarias, inclusive as
específicas para cada tipo de negócio (i.e.
regulamentação sanitária para restaurantes
ou hospitais, leis educacionais para escolas
etc.).
RESPONSABILIDADE ÉTICA: A
responsabilidade ética manifesta-se ao ir
além do campo legal. Uma empresa deve
apresentar comportamentos éticos em
relação aos negócios mesmo em questões
em que não haja exigência legal.
Lembrem-se de que uma tomada de decisão
é considerada moral quando em liberdade,
não quando é coercitiva, ou seja, não há
uma obrigação de tomá-la para evitar
punição, tomando-se a decisão por valorizar
a moral. Enquanto a responsabilidade legal
refere-se à expectativa de atuar conforme a
lei, a ética se refere à obrigação de fazer o
que é certo e justo, evitando ou
minimizando danos às pessoas.
RESPONSABILIDADE DISCRICIONÁRIA: A
responsabilidade discricionária reflete o
desejo comum de que as empresas estejam
ativamente envolvidas na melhoria do
ambiente social, engajando-se em novos
papéis sociais. Porém, diferentemente das
anteriores, isso não acontecerá para
atender a uma expectativa legal ou ética da
sociedade. A empresa atuará de forma
voluntáriaem questões que estão se
tornando estratégicas, mas que ainda não
são expectativas da sociedade. A empresa
que atinge essa dimensão é a empresa
cidadã. Doações, sejam financeiras ou não,
correspondem a esse tipo de
responsabilidade.
Com base nas dimensões propostas por
Carrol, podemos interpretar as reflexões
sobre o conceito de sustentabilidade
enunciado por Thomas Zenisek. Leia
atentamente e identifique as quatro
dimensões:
“Para uns é tomada como uma responsabilidade
legal ou obrigação social; para outros, é o
comportamento socialmente responsável em que
se observa a ética, e para outros, ainda, não passa
de contribuições de caridade que a empresa deve
fazer. Há também, os que admitem que a
responsabilidade social seja, exclusivamente, a
responsabilidade de pagar bem aos empregados e
dar-lhes bom tratamento. Logicamente,
responsabilidade social das empresas é tudo isto,
muito embora não sejam, somente, estes itens
isoladamente.”
Você percebeu que, ao mencionar “[...]
como uma responsabilidade legal”, é
invocada a dimensão legal. Ao tratar do
“comportamento responsável em que se
observa a ética”, é evidenciada a dimensão
ética. Quando situa a ideia de ir além da
caridade, surge a dimensão discricionária.
Há também elementos de sustentabilidade
econômica, exemplificada pelo “pagar bem
aos empregados”. Além de trazer as quatro
dimensões, esse pensamento informa algo
importante: a responsabilidade social não é
nenhuma das dimensões isoladamente.
A responsabilidade social pode se expressar
nas práticas empresariais em três níveis de
abordagem: obrigação social,
responsabilidade social e sensibilidade
social.
A abordagem da obrigação social se
restringe às dimensões econômica, legal e
ética. É uma forma de atuação pautada na
ideia de que a obrigação da empresa é dar
lucro, cumprindo as leis, sem danos ou
fraudes.
A abordagem de responsabilidade social
pauta as ações por metas que vão além das
econômicas, estabelecendo as metas
sociais, com destinação de recursos para
alcance dessas metas. Essa forma de
atuação não se baseia apenas em altruísmo,
mas em uma preocupação legítima do
estudo da história das organizações, que
revela que as empresas que não usam o
poder conferido pela sociedade de forma
responsável tenderão a perdê-lo a longo
prazo. Sobre isso, Fernanda Borger (2013)
discute os fatores da superação da
abordagem de obrigação social e a evolução
da abordagem de responsabilidade social. A
autora afirma que uma das grandes
questões levantadas em relação aos temas
sociais e ambientais é se estes afetam a
competitividade das empresas. Segundo a
visão clássica da empresa, incorporar as
questões sociais e ambientais além da
obrigação legal eleva os custos e reduz o
lucro das empresas. O debate sobre o
conteúdo e a extensão da responsabilidade
social nos negócios foi intenso, no sentido
de contrapor o desempenho econômico ao
social e ambiental.
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-1.htm#more-info-0
O papel das empresas incluiria lucros, mas,
em vez da maximização do lucro de curto
prazo, os negócios deveriam buscar lucros
de longo prazo, obedecer às leis e
regulamentações, considerar o impacto não
mercadológico de suas decisões e procurar
maneiras de melhorar a sociedade por uma
atuação orientada para a responsabilidade e
sustentabilidade dos negócios.
O conceito de desenvolvimento sustentável
está hoje totalmente integrado ao conceito
de responsabilidade social: não haverá
crescimento econômico em longo prazo
sem progresso social e sem cuidado
ambiental. Todos os lados devem ser vistos
e tratados com pesos iguais. Mesmo porque
são aspectos inter-relacionados. Da mesma
forma que o crescimento econômico não se
sustenta sem uma equivalência social e
ambiental, programas sociais ou ambientais
corporativos não se sustentarão se não
houver o equilíbrio econômico da empresa.
A abordagem de sensibilidade social vai
além das demandas sociais imediatas.
Empresas que atuam nessa abordagem vão
além de estabelecer metas econômicas e
sociais; elas se antecipam no enfrentamento
de problemas sociais do futuro para agir
agora e dar respostas a esses problemas.
Novamente, é o pensar a longo prazo que
determinará a sobrevivência de uma
empresa. Percebemos que as abordagens
em responsabilidade social tornam-se mais
sofisticadas quanto maior a capacidade de
antecipar questões futuras de relevância
social. Diferentemente da ideia de que atuar
com responsabilidade social é ser “uma
empresa boazinha”, o estudo das
organizações nos permite perceber que a
responsabilidade social é condição de
sobrevivência futura para a empresa. Por
isso, não pode ser encarada como um fardo,
como caridade ou como atividades para
descontrair.
Existem sete eixos ou vetores da
responsabilidade social que orientam e
direcionam o processo de gestão para o
fortalecimento da dimensão social da
empresa. Veja:
● O apoio no desenvolvimento da
continuidade em que atua: cabe à
empresa se antecipar aos problemas
que levaram ao esgotamento da sua
área de atuação e pôr em prática
ações que garantam a continuidade
dessa atividade, por meio de
inovações, inclusive tecnológicas.
● Conservação do meio ambiente: o
colapso ambiental acarretará a
extinção de diversas atividades
econômicas, levando as empresas
atuais a desaparecer. Cuidar do
ambiente é garantir a sobrevivência
das pessoas, das espécies, mas
também das práticas econômicas.
● Investimento no bem-estar dos
funcionários e dependentes em um
ambiente de trabalho agradável:
apesar de adotarem nomenclatura
de acordo com os princípios
contemporâneos da gestão
(colaboradores, associados...),
muitas empresas continuam com
práticas antiquadas quanto ao
relacionamento com seus recursos
humanos. Ter um pessoal saudável,
satisfeito e empolgado com a
empresa é também condição de
sobrevivência a longo prazo para a
organização.
● Comunicações transparentes:
obedecendo a princípios éticos, a
comunicação interna e externa deve
ser baseada em princípios morais
como o da verdade.
● Retorno aos acionistas: não apenas o
retorno financeiro, mas de
informações; a transparência é
fundamental.
● Sinergia com os parceiros: uma
empresa tem vários parceiros, por
exemplo os fornecedores. Uma
empresa deve preocupar-se em
seguir a lei e adotar posturas éticas
para com seus parceiros para
estabelecer uma relação profunda e
duradoura com eles. Lembre-se: a
sobrevivência da empresa depende
de uma rede de relações internas e
externas.
● Satisfação de clientes e
consumidores: ouvir o
cliente/consumidor, entender suas
expectativas, antecipar seus desejos,
ser sensível a causas que possam
mobilizar as pessoas a criarem
relações afetivas com o produto ou
serviço e com a marca.
Á critica a responsabilidade social -
AULA 2
Que características são importantes para o
bom profissional que atua com as questões de
responsabilidade social?
A primeira crítica à responsabilidade social
vem do próprio contexto de produção desse
conceito. Só há sentido para esse tipo de
teoria dentro do modo de produção
capitalista. Essa é uma teoria elaborada por
acadêmicos de pensamento liberal voltados
a enfrentar os problemas do capitalismo
sem questioná-lo como sistema. Com base
nos trabalhos de Ivo Tonet, podemos ter
três posições político-econômicas básicas
para encarar essas questões: conservadora,
progressista e socialista.
CONSERVADORA: A posição conservadora
não se incomoda com os problemas criados
pelo capitalismo e entende que as crises do
sistema são passageiras, podendo o
capitalismo se reinventar e sobreviver.
Nessa posição, as ideias de responsabilidade
social recebem abordagem superficial e
muitas vezes reduzidas a mera propaganda;
a finalidade das ações ainda é quase que
exclusivamente o lucro. Nessa posição,
visões ingênuas de ambiente ou da questão
social brasileira são assumidas, muitas
vezes não por desconhecimento, mas por
seu caráter simplista e por serem
facilmente transformadasem propagandas.
PROGRESSISTA: A posição progressista
atua dentro do capitalismo, mas
questionando-o. Há uma intenção de
humanizar o sistema e combater sua lógica
interna. Essa posição gera uma questão sem
resposta: é possível dentro de um sistema
que desumaniza mudar essa lógica para o
bem de todos? Para os que acreditam que a
resposta é sim, os progressistas, a
responsabilidade social se apresenta em sua
abordagem mais profunda, a de
sensibilidade socioambiental. Daí surgem
todas as ações voltadas para a promoção da
cidadania e para o desenvolvimento
sustentável. As resoluções da ONU e da
Unesco são guiadas por essa perspectiva.
SOCIALISTA: A posição socialista considera
que, por mais bem-intencionados que
alguns progressistas possam ser, é
impossível humanizar o capitalismo. Para os
que seguem essa posição, o
desenvolvimento sustentável não é possível,
pois a necessidade de lucro no capitalismo
esgota a natureza. Nessa linha, a
responsabilidade socioambiental é um
paliativo para os problemas sociais e
ambientais, sendo que cada avanço
conseguido é superado pelo agravamento da
crise do capitalismo, manifestado pelo
aumento do desemprego, da violência e da
crise ambiental. Apenas um sistema
diferente traria solução para esses
problemas.
Tomar consciência da existência dessas
posições é muito importante para o
profissional que atuará com
responsabilidade social. O bom profissional
não é aquele que segue cegamente uma
ideia, mas aquele que sabe operar com a
ideia e conhece as críticas e os limites dessa
ideia. Você pode acreditar em qualquer uma
delas. Espera-se que leia mais e aprofunde
seus conhecimentos sobre elas. Por
exigência do mercado de trabalho,
espera-se que você saiba atuar na posição
progressista, uma vez que a posição
conservadora é eticamente condenável, e a
posição socialista, em um país capitalista, só
se aplicaria a poucas organizações. Porém, o
que queremos nesse tópico é promover o
questionamento sobre suas práticas
profissionais e o alcance delas, pois isso é
fundamental para a formação intelectual do
sujeito.
A segunda crítica à responsabilidade social
surge do fato de esta se relacionar
frequentemente com concepções
superficiais sobre a crise ambiental. Reduzir
o problema ambiental a slogans como
“salvar o planeta” ou “salvar o verde” revela
o grau de infantilização de boa parte das
ações ambientais promovidas ou apoiadas
pelas empresas.
Loureiro, que é uma das maiores
referências em educação ambiental no
Brasil, divide as concepções ambientais em
naturalística, romântica e tecnicista.
Uma concepção naturalística de ambiente
separa o ser humano da natureza e entende
as ações humanas como fatores
“antrópicos” divorciados do ambiente.
Nessa linha, estão os projetos que não
valorizam as comunidades tradicionais
(indígenas, quilombolas, ribeirinhos...) e
outras comunidades mais recentes, não as
percebendo como agentes no processo de
cuidado com a natureza. Um cuidado que as
empresas devem ter é não encarar o ser
humano como inimigo do mundo natural.
Nós fazemos parte do ambiente, nossas
ações trazem consequências para toda a
cadeia de processos naturais, mas isso não
quer dizer que essas consequências devem
ser sempre negativas. Incentivamos que
você pesquise sobre as comunidades que se
dedicam à agroecologia, que é uma forma
de produzir alimentos sem agrotóxicos e
respeitando, ou melhor, cuidando, das
florestas. As agroflorestas são uma
tendência muito positiva que poderiam ser
alvo de empresas que desejassem uma real
responsabilidade ambiental. Para isso, a
empresa deve entender que os grupos
humanos precisam ser ouvidos e ter sua
cultura respeitada. Há saberes, inclusive
tradicionais, que colaboram para a
conservação do ambiente. Encarar as
pessoas mais pobres como ignorantes que
precisam de informação das pessoas mais
esclarecidas é um erro. A gestão ambiental é
um processo de troca de saberes e de
entendimentos das diferentes percepções
sobre o ambiente e seus problemas. Não
julgar as comunidades ou encará-las como
vilãs é evitar a concepção naturalística.
Outra barreira é o discurso dos seres
humanos sendo maus, e a natureza, vítima.
Esse é um discurso improdutivo. A espécie
humana sempre estará modificando a
natureza, mas essas modificações podem
seguir outros rumos, inclusive o do cuidado.
A concepção romântica sobre os problemas
ambientais é mais frequente nas abordagens
de responsabilidade ambiental. Na unidade
anterior, denominamos essas concepções
de ingênuas. O maior slogan desse tipo de
visão é: “Se cada um fizer a sua parte,
salvaremos o planeta.”
A concepção tecnicista da crise ambiental é
alimentada pelo progresso da ciência e da
tecnologia. Atualmente, muito é investido
em tecnologias para geração de energia
com menos impacto ambiental ou para a
produção mais limpa e sustentável. Os
engenheiros ambientais se dedicam a
buscar soluções menos poluentes para os
diversos tipos de indústria. Em princípio,
esse tipo de avanço pode empolgar alguém
a ponto de levar à crença de que a
tecnologia resolverá a crise ambiental. Esse
é um pensamento ingênuo, pois, apesar de
necessária, a tecnologia sustentável é
insuficiente para resolver o problema
ambiental. Placas solares, geradores eólicos,
matérias produzidas a partir de plástico que
iria para o lixo, filtros despoluidores de
água, materiais que retiram carbono da
atmosfera, tudo isso é de genuíno interesse
para a pesquisa científica e tecnológica. Os
países que investem em ciência investem
nesse tipo de pesquisa, inclusive por meio
das ações de responsabilidade
socioambiental de empresas privadas.
Porém, mesmo as instituições que realizam
essas pesquisas têm consciência de que
esse caminho ameniza problemas
ambientais, mas não consegue resolvê-los.
A terceira crítica à responsabilidade
ambiental é a visão das empresas sobre a
questão social brasileira. Enfrentar os
problemas relativos à pobreza, à
desigualdade social e à educação requer a
sensibilidade dos gestores para estudar
sobre os problemas sociais do país a partir
de referenciais acadêmicos, evitando os
“achismos” ou as concepções não
embasadas.
Um dos maiores erros é culpar o pobre por
sua própria condição de pobreza. Quantas
vezes não ouvimos sentenças desse tipo:
“Caso as pessoas se qualificarem, elas não
seriam pobres.” Essa mentalidade
culpabiliza as pessoas pelo fenômeno da
pobreza.
Vamos imaginar que todas as pessoas, ou a
maioria delas, se qualificarem; imaginando
que isso é possível, será que o mercado
absorveria essas milhares de pessoas?
Então, por que há pessoas qualificadas
desempregadas?
A educação é fundamental para a formação
do ser humano e para a preparação para o
mercado de trabalho, porém a educação não
tem o poder de fazer crescer o mercado de
trabalho. Em geral, o que acontece é o
movimento contrário: quando alguma
atividade econômica cresce no país,
começam a surgir demandas educacionais.
Toda vez que há um crescimento muito
intenso do mercado imobiliário, há um
crescimento dos cursos de engenharia e
cursos técnicos profissionalizantes que
qualificam pessoas para o mercado em
expansão. Compreender o papel da
educação é fundamental para as empresas
que investem em projetos educacionais.
É muito comum notarmos nos meios de
comunicação a visão moralista sobre a
pobreza que a simplifica e a reduz a
hipotéticas ausências de valores e atitudes
inadequadas dos(as) pobres. Essas visões
são ditas moralistas, pois moral é diferente
de moralismo. Uma posição moralista tenta
impor sua visão a todas as pessoas,
rotulando e discriminando as pessoas que
se encontram em uma condição diferente.
Nesse caso, pessoas de outra classe social
encaram as pessoas pobres como inferiores,
preguiçosas ou “sem cultura”. Esses rótulos
moralistas reduzem a questão social do
Brasil a meras atitudes individuais e
mostram um desconhecimento do próprio
conceito de cultura, que encara todo ser
humanocomo agente que vive e faz cultura.
É claro que, em uma visão moralista, só um
tipo de cultura interessa. As empresas
precisam tomar cuidado com isso, por isso
disciplinas como estudos culturais ou
cultura e contemporaneidade são muito
importantes para a formação de futuros
gestores.
Como vemos a pobreza? Como enxergamos
e pensamos esses milhões de crianças e
adolescentes pobres? Como esses sujeitos
são pensados pelos projetos de
responsabilidade social?
Geralmente, a pobreza é vista como
carência, e, consequentemente, as pessoas
pobres são encaradas como as carentes.
Porém, de que forma esse desprovimento é,
muitas vezes, entendido? Muitas vezes tem
sido compreendido como escassez de
espírito, de valores, e, inclusive,
incapacidade para o estudo e a
aprendizagem. Contudo, sabemos que, no
lugar disso, deve-se atentar para as
privações materiais que impossibilitam uma
vida digna e justa a esses sujeitos. A
sociedade tende a considerar, sobretudo,
supostas carências intelectuais e morais
que os pobres carregavam para as escolas e
para o trabalho. Essas são carências de
conhecimentos, de valores, de hábitos de
estudo, de disciplina, de moralidade. Desse
modo, reforça-se uma concepção moralista
sobre as pessoas pobres que se encontra há
muito tempo em nossa cultura política e
pedagógica: a pobreza moral dos pobres
produzindo a sua pobreza material. Ou seja,
as pessoas são pobres em termos materiais
porque antes eram pobres morais. É preciso
encarar que é a carência material que irá
desencadear todas as carências.
Por que negligenciar, minimizar a visão da
pobreza como escassez material, privação
das condições mais básicas para viver de
forma justa e digna, como ser humano?
Será que os corpos não importam? Esses
corpos precarizados pela pobreza não
interferem no processo educativo e no
trabalho? Por que resistimos a dar a
centralidade devida às bases materiais do
viver, do pensar, do ser sujeito intelectual e
moral?
Um princípio importante para repensar o
acesso à educação e o enfrentamento da
questão social é o princípio da equidade.
Equidade não é o mesmo que igualdade;
buscar equidade é buscar a justiça, é dar
suporte para aqueles que precisam mais,
pois algumas pessoas se encontram em um
estado de vulnerabilidade social tão intenso
que dar acesso a elas à educação não
garantirá a sua permanência. Poder estudar
significa ter tempo e ter alguma renda para
bancar alimentação, matérias de estudo,
moradia etc. Para algumas pessoas, isso não
é um grande problema, pois contam com o
apoio financeiro da família ou exercem
alguma atividade profissional que lhes
garante tempo e dinheiro para estudar. Essa
não é a realidade da maior parte da
população brasileira. Um dos princípios que
deveriam nortear a ética da
responsabilidade social empresarial deveria
ser a equidade. Em vez disso, muitas
organizações defendem uma visão
meritocrática, que se baseia em um
princípio de igualdade: “Oferecemos as
mesmas condições, as mesmas
oportunidades.” Essa visão só se sustenta no
mundo ideal, em que as condições de vida
das pessoas são iguais ou muito parecidas.
A ética e a responsabilidade social -
AULA 3
A ideia de lucro é inimiga da concepção atual
de responsabilidade social empresarial?
Muitas são as razões que têm impulsionado
a ética no ambiente empresarial. Venturoso
(2008) lista as mais relevantes: os altos
custos de escândalos nas (ou gerados pelas)
empresas, acarretando perda de confiança
por parte do consumidor na sua reputação;
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-4
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-4
multas elevadas por não cumprimento das
leis e normas; a desmotivação dos
empregados, entre outras. Dentro desse
quadro, podemos elencar alguns motivos
para o estabelecimento da ética
empresarial, tais como: necessidade de
recuperar a confiança na empresa; a
importância de tomar as decisões a longo
prazo; responsabilidade social das
empresas; urgência em se adotar uma ética
nas organizações que estabeleça o papel do
diretor e o meio para recuperar o espírito
comunitário face ao individualismo
crescente.
Sobre as inter-relações da ética com a
responsabilidade social, podemos dizer que
a origem está na filantropia. A filantropia
empresarial é um campo que vem ganhando
espaço cada vez maior no Brasil. No
entanto, a expressão “filantropia” está
associada a uma referência histórica
bastante negativa, sendo ligada a termos
como caridade, paternalismo e
assistencialismo. Todos esses termos
denunciam o problema ético da visão de ser
humano adotada pelas empresas. Nenhum
dos pilares éticos que sustentam esses
termos resultou em mudanças econômicas
ou sociais significativas durante toda a
história da humanidade. Pelo contrário,
podemos afirmar que esses princípios
colaboraram para a manutenção da pobreza
e das mazelas sociais.
Uma longa estrada foi percorrida desde a
antiga filantropia, que era algo como atitude
individual de um determinado empresário
que desejava ter uma boa imagem, passando
para a atual versão da responsabilidade
social, cuja ética se baseia em uma política
de toda empresa em busca da equidade.
Diversos termos novos foram utilizados
para sinalizar a escolha por uma nova ética.
Alguns chamavam de investimento social,
para não relacionar com a ideia de custo
para empresa. Outros chamariam de ação
social empresarial, mas estariam mais
focados na ação em si que na mudança de
mentalidade. Outros termos foram
participação social, participação
comunitária da empresa, desenvolvimento
social, até chegarmos à versão atual da
responsabilidade social. Os apelos morais
foram os guias da maior parte das ações
durante a história. Esses apelos se baseavam
na concepção de moral de setores mais
tradicionais da sociedade, que muitas vezes
passavam da moral para o moralismo.
Mesmo com a atual concepção de
responsabilidade social empresarial, ainda
há resquícios de uma lógica da caridade,
assistencialismo e paternalismo na atuação
de muitas empresas.
Ética e responsabilidade social no Grupo
Boticário
O Relatório de Impacto de 2020 do Grupo
Boticário mostra que a empresa reconhece
sua responsabilidade como agente de
mudança e considera seus impactos nos
âmbitos social, ambiental e econômico.
Pelo princípio ético da caridade, os cidadãos
mais afortunados de uma determinada
sociedade teriam o dever moral de ajudar
aos menos afortunados (principalmente os
https://relatoriogrupoboticario.com.br/wp-content/uploads/2021/07/RA_IMPACTO_BOTICARIO_12_0707_PORT.pdf
desempregados, os deficientes, os doentes,
os idosos e as crianças), sendo a caridade
um ato individual/ pessoal. A generosidade
deveria ser praticada por todos aqueles que
usufruem das melhores condições para
fazer isso, e essa prática não era imposta às
empresas.
Pelo princípio ético da assistência, os
indivíduos mais ricos da sociedade também
deveriam colocar o seu dinheiro ao dispor
dos mais pobres, podendo a caridade ser
exercida agora não apenas por indivíduos
isolados, mas por empresas e/ou
organizações. Nessa lógica, ajudavam-se as
populações com base em uma função
assistencialista, em que o ser humano era
visto como passivo e dependente. Essa visão
cogitava o apoio financeiro apenas de
organizações mais robustas e estáveis em
termos econômicos. Porém, a assistência
não era vista como algo consistente na
atividade empresarial, era um algo a mais
que, caso não acontecesse, não traria
grandes problemas.
Pelo princípio ético liberal, o principal
objetivo das empresas seria a obtenção de
lucros, sendo a sua mais importante missão
proceder de forma eficiente e respeitar as
leis do livre mercado. A ética liberal leva ao
extremo a ideia de autonomia individual, ao
pressupor que há direitos fundamentais que
devem ser protegidos contra os abusos de
poder político, por exemplo: direitoà vida, à
liberdade, à expressão e à propriedade. Só
que esses direitos são base para o juízo
moral, porém não são o certo ou o errado.
Logo, alguém tem o direito de agir de uma
forma, mas isso não quer dizer que agir
assim é fazer o bem. Considera-se, sob o
ponto de vista liberal, que há apenas uma, e
só uma responsabilidade social das
empresas: usar os recursos para
incrementar os lucros. Ir além disso, para os
liberais, seria ceder a um conjunto de
intenções que, em concreto, traz mais
desvantagens para a empresa do que
benefícios. O bem não pode ser exercido
para ganhar dinheiro, e as preocupações
sociais mais relevantes são de
responsabilidade do Estado ou no máximo
de cidadãos mais abastados. Sob esse
prisma, a única responsabilidade das
empresas é aumentar os lucros de seus
acionistas, sem praticar fraude ou engano
(seguindo a lei); e qualquer outro
procedimento que inclua a
responsabilização das empresas pelo
impacto social do desemprego, das
diferentes formas de discriminação ou,
ainda, da poluição ambiental não passa
apenas de uma utopia daqueles que desejam
o socialismo.
Pelo princípio ético do bem-estar social, a
função da empresa não é apenas gerar
lucro. Keith Davis estabelece cinco
princípios sobre as práticas de
responsabilidade social empresarial:
● (i) A responsabilidade social é
consequência do impacto social que
a empresa exerce sobre as
comunidades, o que significa que o
cidadão poderia responsabilizar as
empresas pelos agravamentos na
questão social provocados por elas.
● (ii) As empresas têm que se
configurar como sistemas abertos
que mantêm um conjunto de trocas
com o meio circundante, recebendo
e exercendo influência no meio.
● (iii) Quaisquer custos ou benefícios
sociais devem fazer parte da
contabilidade empresarial.
● (iv) Os custos sociais de uma
empresa devem ser transferidos
para os consumidores.
● (v) As empresas têm a obrigação
moral de enfrentar a questão social,
indo alémdo seu negócio.
Esse último princípio emerge do modelo
ético do cuidado. Fundado em uma ética do
feminino, o modelo do cuidado é a oposição
ao modelo do individualismo liberal. Aqui,
os valores tidos como femininos — empatia,
amor, compaixão e simpatia — iriam alargar
a concepção de responsabilidade, indo
muito além dos direitos individuais.
Todos esses princípios foram superados na
evolução da responsabilidade social, no
sentido de que seu exercício não seja visto
apenas pelo seu lado humanitário, mas
tendo em conta a racionalidade econômica
dos seus argumentos, sem que, todavia,
perca-se de vista o imperativo kantiano, da
ética deontológica, recordando que todos os
seres humanos têm não apenas o direito de
não ser tratados como meios, mas como fins
em si próprios.
Sobre a evolução da ética que domina a
responsabilidade social, Moura et al. (2004,
p.20) afirma:
Onde antes dominava o imperativo ‘moral’ e
da responsabilidade em face dos
trabalhadores […] agora impõe-se a ideia de
que se deve assumir a responsabilidade por
todos os problemas decorrentes da
atividade empresarial própria, não
importando a sua natureza e o seu alcance.
Isso significa ir além da caridade e passar a
ter consciência da rede de relações
complexas que envolve uma atividade
empresarial. Essa nova ética é capitalista,
portanto não nega o lucro:
“As empresas vão, apesar da sua orientação
essencial para o lucro, tomando consciência de que
a responsabilidade social tem valor econômico
direto, isto é, que a assunção de objetivos sociais e
ambientais importa para o seu sucesso e deve
fazer parte da sua estratégia econômica. (MOURA
et al., 2004, p. 24)”
Como já discutido nas unidades anteriores,
a concepção atual de responsabilidade
social empresarial não vê o cuidado com as
pessoas e com a natureza como um inimigo
do lucro, mas como uma condição
necessária à sobrevivência da empresa e do
tipo de negócio.
Podemos analisar a tragédia de
Mariana/MG, em que a falta de ética com a
sociedade e o ambiente não só destruiu a
vida das comunidades locais e devastou
ecossistemas inteiros, como também
condenou o negócio de mineração no local.
Esse episódio será sempre trazido à tona
quando se discutir a implantação de
empresas de mineração e com certeza
colocará a sociedade para lutar contra a
instalação desse tipo de empresa. A falta de
ética e responsabilidade socioambiental na
atuação empresarial pode levar ao declínio
de um tipo de negócio. Analise o que afirma
Luiz Guilherme Dias (sócio-diretor da Sabe
Consultores, consultor de empresas e
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-1
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-1
conselheiro certificado) sobre o caso da
Samarco:
Crédito: Servio Ferreira / Shutterstock.com
“A amplitude da tragédia colocou a empresa
Samarco e o Setor de Mineração no radar nacional
e mundial, motivo pelo qual resolvemos postar este
novo artigo procurando refletir se a destruição
teve causa técnica ou ética. No primeiro artigo
discutimos o Índice de Sustentabilidade
Empresarial (ISE), criado com o objetivo de ser
uma ferramenta para análise comparativa da
performance das empresas listadas na Bolsa de
Valores sob o aspecto da sustentabilidade
corporativa, além do desempenho empresarial nas
dimensões econômico-financeira, social,
ambiental e de mudanças climáticas. Nesta
ocasião, o ISE possuía em sua carteira teórica 50
ações de 40 companhias, tendo a Vale o maior peso
(12%). Poucos dias após nossa publicação o site
Plurale publicou um artigo intitulado ‘Vale está
fora do Índice de Sustentabilidade Empresarial da
BM & Bovespa de 2016’, repercutindo a nossa
manifestação assim como de outros analistas
financeiros e especialistas em sustentabilidade que
vinham cobrando um posicionamento firme da BM
& Bovespa, uma vez que a Vale tinha o maior peso
no Índice e teve a sua reputação e transparência
em xeque diante da tragédia de Mariana. (DIAS,
2015)”
Na citação acima, percebemos como a
responsabilidade socioambiental vai muito
além de uma ética de caridade, assistência,
lucro ou cuidado. É uma questão de
autopreservação da empresa, algo que nem
sempre é captado nos conceitos propostos
na literatura. Veja, por exemplo, como
Queiroz, Estender e Galvão (2014) definem a
responsabilidade socioambiental:
“Responsabilidade Social é um conjunto de ações
adotadas e realizadas pelas empresas visando o
bem-estar da sociedade, e uma maior
lucratividade, ou seja, é quando uma empresa
decide cooperar para melhoria de uma sociedade,
em um aspecto geral: educação, inclusão social,
meio ambiente, entre outras ações benéficas à
sociedade, tendo em vista os dois lados da
organização: o lado interno, que são os
colaboradores e todos que irão afetar de alguma
forma no resultado da empresa, e o lado externo,
que são as consequências das ações, as parcerias
me o ambiente em que está inserida.”
Apesar de interessante, esse conceito não
abordou a questão da própria sobrevivência
da empresa e do negócio.
Ainda sobre o caso Samarco, Guilherme
Dias continua a detalhar:
“[...] a questão da ambiguidade entre os objetivos
de longo prazo contidos na declaração de Visão da
Samarco (dobrar de valor e ser a melhor do setor)
contra as boas práticas de governança e
crescimento sustentável. Analisando o Relatório
Anual de Sustentabilidade 2014 tudo parecia estar
‘verde’, mas a realidade mostrou o ‘marrom’ da
lama que devastou a região, se arrastou por 600
km até o oceano Atlântico, deixando pelo caminho
centenas de vítimas desabrigadas. [...] em sua
história recente, a Samarco esteve envolvida em
diversos episódios causadores de danos
socioambientais nas áreas onde pratica a
atividade da mineração. Reportam-se, por
exemplo, ao menos cinco outros episódios de
rompimento de estruturas [...].”
(DIAS, 2015)
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-0
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-0https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-2
Com base na citação, questiona-se ainda
hoje se algumas empresas poderão ser
sequer responsáveis. Também se será
apenas a sua consciência social um derivado
da lei, do lucro econômico, ou da gestão
moral dos projetos em causa? Empresas que
têm o seu negócio relacionado com bebidas
alcoólicas, armas, cigarros, entre outras,
jamais podem ser consideradas cidadãs pelo
mal que causam aos cidadãos e à sociedade.
Pode um banco que estimula o
endividamento ser cidadão porque
desenvolve uma atividade de educação
financeira para pessoas da comunidade?
A fim de compreendermos melhor o papel
da ética e da moral no contexto da iniciativa
privada, citemos Adolfo Sanchez Vasquez
(1990, p. 53):
“[...] a moral é um fato histórico e, por conseguinte,
a ética, como a ciência da moral, não pode
concebê-la como dada de uma vez para sempre,
mas tem de considerá-la como um aspecto da
realidade humana mutável com o tempo [...]. O
sistema econômico no qual a força de trabalho se
vende como mercadoria e no qual vigora a lei da
obtenção do maior lucro possível gera uma moral
egoísta e individualista que satisfaz o desejo de
lucro [...] Contudo, há na moral uma função social
que não se modifica: [...] regular as ações dos
indivíduos nas suas relações mútuas, ou as do
indivíduo com a comunidade, visando a preservar
a sociedade no seu conjunto ou, no seio dela, a
integridade de um grupo social.”
❖ Documentário Memórias Rompidas
– Tragédia em Mariana
Emocionante documentário da TV
Assembleia mostra o lado humano da
tragédia de Mariana. Suas vítimas perderam
não apenas bens materiais. Foram,
sobretudo, atingidas em cada história de
vida e em muitos vínculos sociais e afetivos.
❖ Samarco: Ações em Mariana
Conheça as ações de recuperação feita pela
Samarco na tragédia de Mariana/MG.
Lembrando que a moral é um produto
cultural situado historicamente de forma
dialética, pois ela é continuamente
construída e desconstruída à medida que o
ser humano atua sobre a natureza. O
próprio ato de se apropriar da moral e
exercê-la cria as contradições que a
colocarão em xeque no futuro. Se, por um
lado, a moral capitalista é individualista, por
outro, esse mesmo individualismo é
questionado e tensionado na busca do
coletivo, nas situações em que os interesses
da sociedade são ameaçados por interesses
particulares.
Encerramento
Quais as características dos três níveis de
abordagem de responsabilidade social nas
práticas empresariais?
● Abordagem de obrigação social: se
restringe às dimensões econômica,
legal e ética. É a ideia de que a
função e obrigação da empresa é dar
lucro, cumprindo as leis sem danos
ou fraudes.
● Abordagem de responsabilidade
social: reflete as ações por metas
que vão além das econômicas,
estabelecendo as metas sociais
destinando os recursos para o
alcance para as metas.
● Abordagem de sensibilidade social:
vai além das demandas sociais
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-3
https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-3
https://www.youtube.com/watch?v=uxGORp0HGic
https://www.youtube.com/watch?v=uxGORp0HGic
https://www.youtube.com/watch?v=oUsbbOCS55k
https://www.youtube.com/watch?v=oUsbbOCS55k
imediatas, elas se antecipam no
enfrentamento de problemas sociais
do futuro para agir agora e dar
respostas a esses problemas.
Que características são importantes para o
bom profissional que atua com as questões
de responsabilidade social?
O bom profissional que atua com as
questões de responsabilidade social não é
aquele que segue cegamente uma ideia, mas
aquele que sabe operar com a ideia e
conhece as críticas e os limites, sendo
fundamental a formação intelectual do
indivíduo.
A ideia de lucro é inimiga da concepção
atual de responsabilidade social
empresarial?
Não. A concepção atual de responsabilidade
social não vê o cuidado com as pessoas e
com a natureza como um inimigo do lucro,
mas com uma condição necessária à
sobrevivência da empresa e do tipo de
negócio.
Resumo da Unidade
A responsabilidade socioambiental das
empresas não é sinônimo de caridade. Em
sua evolução histórica, a relação entre
empresa, sociedade e ambiente foi regida
por diferentes modelos éticos. Atualmente,
a responsabilidade socioambiental é vista
como necessária para a conservação da
própria empresa no mercado, não podendo
ser encarada como antagonista do lucro,
pois se dá em uma dimensão econômica em
sintonia com as dimensões ética, legal e
discricionária

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