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Responsabilidade Social nas Empresas - UNIDADE 3 Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas: ● Tema 1 - Fundamentos e aplicações da responsabilidade social ● Tema 2 - A crítica à responsabilidade social ● Tema 3 - A ética e a responsabilidade social Fundamentos e aplicações da responsabilidade - AULA 1 Quais as características dos três níveis de abordagem de responsabilidade social nas práticas empresariais? Durante quase toda a história, as empresas demonstraram estar conformadas apenas com o seu papel de gerar lucros para seus acionistas e expandir a sua própria estrutura física e financeira, visando apenas otimizar seu crescimento e ampliar a sua competitividade no mercado. Algumas ações de empresários isolados visando ao enfrentamento da pobreza ou das más condições de trabalho já ocorriam, mas não em uma lógica semelhante à da atual responsabilidade social empresarial. Em geral, as ações de caridade não eram sistemáticas e eram vistas como algo à parte da gestão do negócio. Um episódio considerado precursor da noção de responsabilidade social foi a disputa jurídica entre os acionistas da indústria automobilística Henri Ford e os Dodge, em 1916. Ford, que era o acionista majoritário da empresa, decidiu não distribuir parte dos lucros esperados entre os acionistas da empresa, preferindo revertê-los para a realização de ações sociais, tais como o aumento de salários e operários e a aplicação do dinheiro em um fundo de reserva para uma possível redução, que já era esperada, das receitas da empresa por causa da redução de preços de carros. Os irmãos Dodge não concordaram com essas decisões e processaram Ford. Eles saíram vitoriosos dessa questão judicial. Isso porque, no entendimento da corte de justiça de Michigan, naquela época, a função da corporação era o benefício de seus acionistas, cabendo aos diretores corporativos livre-arbítrio apenas quanto aos meios para realizar tal função. Para os juristas daquela época, o gestor não poderia usar os lucros da empresa para outros fins. Ou seja, além de não ser incentivada, as ações que atualmente compõem a responsabilidade social já foram consideradas ilegais. Como disciplina autônoma, a responsabilidade social surge com o cunho deste termo por Bowen, em 1953, no livro Responsabilidade social do homem de negócios. Na teoria abordada nesta obra, os negócios são encarados como centros de poder e de decisão, cujas ações afetam a vida das pessoas em muitos aspectos, por isso as empresas têm responsabilidade para com toda a sociedade. Para dar conta dessa responsabilidade e corresponder às expectativas criadas pela sociedade, as empresas necessitam compreender melhor seu impacto social, também o desempenho ético e social deve ser incorporado à gestão de negócios, devendo ser avaliado por meio de processos de auditorias. No campo das práticas, porém, essa obra não impactou instantaneamente a forma de atuar das empresas, sendo considerada como um precursor do movimento que apenas se estabeleceria nos anos 1990. As mudanças na sociedade não ocorrem de forma passiva ou sem conflitos. Diversos fatores de tensão social resultaram na mentalidade atual de responsabilidade socioambiental nas empresas. O cenário dos anos 1960 e 1970 é de profundo questionamento social, e lá estão as raízes das mudanças na mentalidade empresarial. Isso foi manifestado pela luta pelos direitos civis, incluindo direitos trabalhistas, o enfrentamento do racismo, o feminismo, a nova visão sobre cidadania e exercício dessa cidadania e o surgimento das associações de proteção ao consumidor. Na unidade anterior, vimos o papel de Rachel Carson no surgimento dos movimentos ambientalistas, que denunciariam e lutariam contra práticas danosas de algumas empresas. Assim como Rachel, diversos jornalistas assumem um papel mais rígido de investigação sobre os danos sociais e ambientais resultantes da ação de empresas. A divulgação desse tipo de notícia propicia a construção da chamada opinião pública, que seria a reação coletiva à divulgação massiva de alguns fatos. Tudo isso contribuiu para a preocupação com novas posturas, não só dos indivíduos, mas também das organizações. Como resultado desse caldeirão de tensões sociais, a declaração de Dehli (1965) é responsável pelo surgimento da ideia de que as empresas deveriam encarar a comunidade como parte envolvida em seus negócios, sendo ela também responsável pela influência nos objetivos, políticas e decisões das empresas. Ainda nos anos 1960, os estudos de Keith Davis e os de J. McGuire ampliam o debate acadêmico sobre a responsabilidade social, pois esses autores defendiam que a responsabilidade das empresas vai além da responsabilidade em maximizar lucros. Eles acrescentam à responsabilidade a necessidade de uma postura pública perante os novos recursos econômicos e humanos da sociedade, assim como o objetivo de mobilizar esses recursos para interesses do coletivo, e não simplesmente restringi-los a servir a interesses privados de alguns indivíduos. No ideal de preocupação com os abusos cometidos por grandes companhias, a Resolução nº 1.721 do Conselho Econômico e Social da ONU, em 1972, institui o estudo sobre a ação das multinacionais em países pobres. Nos anos 1970, a responsabilidade social das empresas passou a fazer parte do debate público para enfrentamento dos problemas sociais: pobreza, desemprego, diversidade, distribuição de renda, desenvolvimento, crescimento econômico, poluição, segurança do trabalho e diversos outros. A partir dos anos 1970, a responsabilidade social das empresas é vista como um conjunto de obrigações que as organizações deveriam colocar a serviço da comunidade. Em 1979, Archie Carrol ampliou o conceito de responsabilidade social para além de gerar lucros e obedecer às leis. Isso por meio de um modelo de quatro expectativas básicas ou responsabilidades que comporiam a responsabilidade social: econômica, legal, ética e discricionária. Vamos detalhar cada uma dessas dimensões. RESPONSABILIDADE ECONÔMICA: A responsabilidade econômica das empresas está contida na lógica do modo de produção capitalista. Dentro desse cenário, a empresa deve produzir e vender bens e/ou serviços para a sociedade, conseguindo obter lucros. No capitalismo, a empresa tem a responsabilidade de alcançar os lucros. RESPONSABILIDADE LEGAL: A responsabilidade legal responderá à expectativa da sociedade de que a empresa realize a sua atividade econômica dentro das regulamentações impostas pelos países. Uma empresa deve conhecer e respeitar o direito ambiental, assim como os direitos trabalhistas. A empresa tem a responsabilidade de atuar dentro do que é permitido pela constituição federal e das diversas leis e portarias, inclusive as específicas para cada tipo de negócio (i.e. regulamentação sanitária para restaurantes ou hospitais, leis educacionais para escolas etc.). RESPONSABILIDADE ÉTICA: A responsabilidade ética manifesta-se ao ir além do campo legal. Uma empresa deve apresentar comportamentos éticos em relação aos negócios mesmo em questões em que não haja exigência legal. Lembrem-se de que uma tomada de decisão é considerada moral quando em liberdade, não quando é coercitiva, ou seja, não há uma obrigação de tomá-la para evitar punição, tomando-se a decisão por valorizar a moral. Enquanto a responsabilidade legal refere-se à expectativa de atuar conforme a lei, a ética se refere à obrigação de fazer o que é certo e justo, evitando ou minimizando danos às pessoas. RESPONSABILIDADE DISCRICIONÁRIA: A responsabilidade discricionária reflete o desejo comum de que as empresas estejam ativamente envolvidas na melhoria do ambiente social, engajando-se em novos papéis sociais. Porém, diferentemente das anteriores, isso não acontecerá para atender a uma expectativa legal ou ética da sociedade. A empresa atuará de forma voluntáriaem questões que estão se tornando estratégicas, mas que ainda não são expectativas da sociedade. A empresa que atinge essa dimensão é a empresa cidadã. Doações, sejam financeiras ou não, correspondem a esse tipo de responsabilidade. Com base nas dimensões propostas por Carrol, podemos interpretar as reflexões sobre o conceito de sustentabilidade enunciado por Thomas Zenisek. Leia atentamente e identifique as quatro dimensões: “Para uns é tomada como uma responsabilidade legal ou obrigação social; para outros, é o comportamento socialmente responsável em que se observa a ética, e para outros, ainda, não passa de contribuições de caridade que a empresa deve fazer. Há também, os que admitem que a responsabilidade social seja, exclusivamente, a responsabilidade de pagar bem aos empregados e dar-lhes bom tratamento. Logicamente, responsabilidade social das empresas é tudo isto, muito embora não sejam, somente, estes itens isoladamente.” Você percebeu que, ao mencionar “[...] como uma responsabilidade legal”, é invocada a dimensão legal. Ao tratar do “comportamento responsável em que se observa a ética”, é evidenciada a dimensão ética. Quando situa a ideia de ir além da caridade, surge a dimensão discricionária. Há também elementos de sustentabilidade econômica, exemplificada pelo “pagar bem aos empregados”. Além de trazer as quatro dimensões, esse pensamento informa algo importante: a responsabilidade social não é nenhuma das dimensões isoladamente. A responsabilidade social pode se expressar nas práticas empresariais em três níveis de abordagem: obrigação social, responsabilidade social e sensibilidade social. A abordagem da obrigação social se restringe às dimensões econômica, legal e ética. É uma forma de atuação pautada na ideia de que a obrigação da empresa é dar lucro, cumprindo as leis, sem danos ou fraudes. A abordagem de responsabilidade social pauta as ações por metas que vão além das econômicas, estabelecendo as metas sociais, com destinação de recursos para alcance dessas metas. Essa forma de atuação não se baseia apenas em altruísmo, mas em uma preocupação legítima do estudo da história das organizações, que revela que as empresas que não usam o poder conferido pela sociedade de forma responsável tenderão a perdê-lo a longo prazo. Sobre isso, Fernanda Borger (2013) discute os fatores da superação da abordagem de obrigação social e a evolução da abordagem de responsabilidade social. A autora afirma que uma das grandes questões levantadas em relação aos temas sociais e ambientais é se estes afetam a competitividade das empresas. Segundo a visão clássica da empresa, incorporar as questões sociais e ambientais além da obrigação legal eleva os custos e reduz o lucro das empresas. O debate sobre o conteúdo e a extensão da responsabilidade social nos negócios foi intenso, no sentido de contrapor o desempenho econômico ao social e ambiental. https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-1.htm#more-info-0 O papel das empresas incluiria lucros, mas, em vez da maximização do lucro de curto prazo, os negócios deveriam buscar lucros de longo prazo, obedecer às leis e regulamentações, considerar o impacto não mercadológico de suas decisões e procurar maneiras de melhorar a sociedade por uma atuação orientada para a responsabilidade e sustentabilidade dos negócios. O conceito de desenvolvimento sustentável está hoje totalmente integrado ao conceito de responsabilidade social: não haverá crescimento econômico em longo prazo sem progresso social e sem cuidado ambiental. Todos os lados devem ser vistos e tratados com pesos iguais. Mesmo porque são aspectos inter-relacionados. Da mesma forma que o crescimento econômico não se sustenta sem uma equivalência social e ambiental, programas sociais ou ambientais corporativos não se sustentarão se não houver o equilíbrio econômico da empresa. A abordagem de sensibilidade social vai além das demandas sociais imediatas. Empresas que atuam nessa abordagem vão além de estabelecer metas econômicas e sociais; elas se antecipam no enfrentamento de problemas sociais do futuro para agir agora e dar respostas a esses problemas. Novamente, é o pensar a longo prazo que determinará a sobrevivência de uma empresa. Percebemos que as abordagens em responsabilidade social tornam-se mais sofisticadas quanto maior a capacidade de antecipar questões futuras de relevância social. Diferentemente da ideia de que atuar com responsabilidade social é ser “uma empresa boazinha”, o estudo das organizações nos permite perceber que a responsabilidade social é condição de sobrevivência futura para a empresa. Por isso, não pode ser encarada como um fardo, como caridade ou como atividades para descontrair. Existem sete eixos ou vetores da responsabilidade social que orientam e direcionam o processo de gestão para o fortalecimento da dimensão social da empresa. Veja: ● O apoio no desenvolvimento da continuidade em que atua: cabe à empresa se antecipar aos problemas que levaram ao esgotamento da sua área de atuação e pôr em prática ações que garantam a continuidade dessa atividade, por meio de inovações, inclusive tecnológicas. ● Conservação do meio ambiente: o colapso ambiental acarretará a extinção de diversas atividades econômicas, levando as empresas atuais a desaparecer. Cuidar do ambiente é garantir a sobrevivência das pessoas, das espécies, mas também das práticas econômicas. ● Investimento no bem-estar dos funcionários e dependentes em um ambiente de trabalho agradável: apesar de adotarem nomenclatura de acordo com os princípios contemporâneos da gestão (colaboradores, associados...), muitas empresas continuam com práticas antiquadas quanto ao relacionamento com seus recursos humanos. Ter um pessoal saudável, satisfeito e empolgado com a empresa é também condição de sobrevivência a longo prazo para a organização. ● Comunicações transparentes: obedecendo a princípios éticos, a comunicação interna e externa deve ser baseada em princípios morais como o da verdade. ● Retorno aos acionistas: não apenas o retorno financeiro, mas de informações; a transparência é fundamental. ● Sinergia com os parceiros: uma empresa tem vários parceiros, por exemplo os fornecedores. Uma empresa deve preocupar-se em seguir a lei e adotar posturas éticas para com seus parceiros para estabelecer uma relação profunda e duradoura com eles. Lembre-se: a sobrevivência da empresa depende de uma rede de relações internas e externas. ● Satisfação de clientes e consumidores: ouvir o cliente/consumidor, entender suas expectativas, antecipar seus desejos, ser sensível a causas que possam mobilizar as pessoas a criarem relações afetivas com o produto ou serviço e com a marca. Á critica a responsabilidade social - AULA 2 Que características são importantes para o bom profissional que atua com as questões de responsabilidade social? A primeira crítica à responsabilidade social vem do próprio contexto de produção desse conceito. Só há sentido para esse tipo de teoria dentro do modo de produção capitalista. Essa é uma teoria elaborada por acadêmicos de pensamento liberal voltados a enfrentar os problemas do capitalismo sem questioná-lo como sistema. Com base nos trabalhos de Ivo Tonet, podemos ter três posições político-econômicas básicas para encarar essas questões: conservadora, progressista e socialista. CONSERVADORA: A posição conservadora não se incomoda com os problemas criados pelo capitalismo e entende que as crises do sistema são passageiras, podendo o capitalismo se reinventar e sobreviver. Nessa posição, as ideias de responsabilidade social recebem abordagem superficial e muitas vezes reduzidas a mera propaganda; a finalidade das ações ainda é quase que exclusivamente o lucro. Nessa posição, visões ingênuas de ambiente ou da questão social brasileira são assumidas, muitas vezes não por desconhecimento, mas por seu caráter simplista e por serem facilmente transformadasem propagandas. PROGRESSISTA: A posição progressista atua dentro do capitalismo, mas questionando-o. Há uma intenção de humanizar o sistema e combater sua lógica interna. Essa posição gera uma questão sem resposta: é possível dentro de um sistema que desumaniza mudar essa lógica para o bem de todos? Para os que acreditam que a resposta é sim, os progressistas, a responsabilidade social se apresenta em sua abordagem mais profunda, a de sensibilidade socioambiental. Daí surgem todas as ações voltadas para a promoção da cidadania e para o desenvolvimento sustentável. As resoluções da ONU e da Unesco são guiadas por essa perspectiva. SOCIALISTA: A posição socialista considera que, por mais bem-intencionados que alguns progressistas possam ser, é impossível humanizar o capitalismo. Para os que seguem essa posição, o desenvolvimento sustentável não é possível, pois a necessidade de lucro no capitalismo esgota a natureza. Nessa linha, a responsabilidade socioambiental é um paliativo para os problemas sociais e ambientais, sendo que cada avanço conseguido é superado pelo agravamento da crise do capitalismo, manifestado pelo aumento do desemprego, da violência e da crise ambiental. Apenas um sistema diferente traria solução para esses problemas. Tomar consciência da existência dessas posições é muito importante para o profissional que atuará com responsabilidade social. O bom profissional não é aquele que segue cegamente uma ideia, mas aquele que sabe operar com a ideia e conhece as críticas e os limites dessa ideia. Você pode acreditar em qualquer uma delas. Espera-se que leia mais e aprofunde seus conhecimentos sobre elas. Por exigência do mercado de trabalho, espera-se que você saiba atuar na posição progressista, uma vez que a posição conservadora é eticamente condenável, e a posição socialista, em um país capitalista, só se aplicaria a poucas organizações. Porém, o que queremos nesse tópico é promover o questionamento sobre suas práticas profissionais e o alcance delas, pois isso é fundamental para a formação intelectual do sujeito. A segunda crítica à responsabilidade social surge do fato de esta se relacionar frequentemente com concepções superficiais sobre a crise ambiental. Reduzir o problema ambiental a slogans como “salvar o planeta” ou “salvar o verde” revela o grau de infantilização de boa parte das ações ambientais promovidas ou apoiadas pelas empresas. Loureiro, que é uma das maiores referências em educação ambiental no Brasil, divide as concepções ambientais em naturalística, romântica e tecnicista. Uma concepção naturalística de ambiente separa o ser humano da natureza e entende as ações humanas como fatores “antrópicos” divorciados do ambiente. Nessa linha, estão os projetos que não valorizam as comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos...) e outras comunidades mais recentes, não as percebendo como agentes no processo de cuidado com a natureza. Um cuidado que as empresas devem ter é não encarar o ser humano como inimigo do mundo natural. Nós fazemos parte do ambiente, nossas ações trazem consequências para toda a cadeia de processos naturais, mas isso não quer dizer que essas consequências devem ser sempre negativas. Incentivamos que você pesquise sobre as comunidades que se dedicam à agroecologia, que é uma forma de produzir alimentos sem agrotóxicos e respeitando, ou melhor, cuidando, das florestas. As agroflorestas são uma tendência muito positiva que poderiam ser alvo de empresas que desejassem uma real responsabilidade ambiental. Para isso, a empresa deve entender que os grupos humanos precisam ser ouvidos e ter sua cultura respeitada. Há saberes, inclusive tradicionais, que colaboram para a conservação do ambiente. Encarar as pessoas mais pobres como ignorantes que precisam de informação das pessoas mais esclarecidas é um erro. A gestão ambiental é um processo de troca de saberes e de entendimentos das diferentes percepções sobre o ambiente e seus problemas. Não julgar as comunidades ou encará-las como vilãs é evitar a concepção naturalística. Outra barreira é o discurso dos seres humanos sendo maus, e a natureza, vítima. Esse é um discurso improdutivo. A espécie humana sempre estará modificando a natureza, mas essas modificações podem seguir outros rumos, inclusive o do cuidado. A concepção romântica sobre os problemas ambientais é mais frequente nas abordagens de responsabilidade ambiental. Na unidade anterior, denominamos essas concepções de ingênuas. O maior slogan desse tipo de visão é: “Se cada um fizer a sua parte, salvaremos o planeta.” A concepção tecnicista da crise ambiental é alimentada pelo progresso da ciência e da tecnologia. Atualmente, muito é investido em tecnologias para geração de energia com menos impacto ambiental ou para a produção mais limpa e sustentável. Os engenheiros ambientais se dedicam a buscar soluções menos poluentes para os diversos tipos de indústria. Em princípio, esse tipo de avanço pode empolgar alguém a ponto de levar à crença de que a tecnologia resolverá a crise ambiental. Esse é um pensamento ingênuo, pois, apesar de necessária, a tecnologia sustentável é insuficiente para resolver o problema ambiental. Placas solares, geradores eólicos, matérias produzidas a partir de plástico que iria para o lixo, filtros despoluidores de água, materiais que retiram carbono da atmosfera, tudo isso é de genuíno interesse para a pesquisa científica e tecnológica. Os países que investem em ciência investem nesse tipo de pesquisa, inclusive por meio das ações de responsabilidade socioambiental de empresas privadas. Porém, mesmo as instituições que realizam essas pesquisas têm consciência de que esse caminho ameniza problemas ambientais, mas não consegue resolvê-los. A terceira crítica à responsabilidade ambiental é a visão das empresas sobre a questão social brasileira. Enfrentar os problemas relativos à pobreza, à desigualdade social e à educação requer a sensibilidade dos gestores para estudar sobre os problemas sociais do país a partir de referenciais acadêmicos, evitando os “achismos” ou as concepções não embasadas. Um dos maiores erros é culpar o pobre por sua própria condição de pobreza. Quantas vezes não ouvimos sentenças desse tipo: “Caso as pessoas se qualificarem, elas não seriam pobres.” Essa mentalidade culpabiliza as pessoas pelo fenômeno da pobreza. Vamos imaginar que todas as pessoas, ou a maioria delas, se qualificarem; imaginando que isso é possível, será que o mercado absorveria essas milhares de pessoas? Então, por que há pessoas qualificadas desempregadas? A educação é fundamental para a formação do ser humano e para a preparação para o mercado de trabalho, porém a educação não tem o poder de fazer crescer o mercado de trabalho. Em geral, o que acontece é o movimento contrário: quando alguma atividade econômica cresce no país, começam a surgir demandas educacionais. Toda vez que há um crescimento muito intenso do mercado imobiliário, há um crescimento dos cursos de engenharia e cursos técnicos profissionalizantes que qualificam pessoas para o mercado em expansão. Compreender o papel da educação é fundamental para as empresas que investem em projetos educacionais. É muito comum notarmos nos meios de comunicação a visão moralista sobre a pobreza que a simplifica e a reduz a hipotéticas ausências de valores e atitudes inadequadas dos(as) pobres. Essas visões são ditas moralistas, pois moral é diferente de moralismo. Uma posição moralista tenta impor sua visão a todas as pessoas, rotulando e discriminando as pessoas que se encontram em uma condição diferente. Nesse caso, pessoas de outra classe social encaram as pessoas pobres como inferiores, preguiçosas ou “sem cultura”. Esses rótulos moralistas reduzem a questão social do Brasil a meras atitudes individuais e mostram um desconhecimento do próprio conceito de cultura, que encara todo ser humanocomo agente que vive e faz cultura. É claro que, em uma visão moralista, só um tipo de cultura interessa. As empresas precisam tomar cuidado com isso, por isso disciplinas como estudos culturais ou cultura e contemporaneidade são muito importantes para a formação de futuros gestores. Como vemos a pobreza? Como enxergamos e pensamos esses milhões de crianças e adolescentes pobres? Como esses sujeitos são pensados pelos projetos de responsabilidade social? Geralmente, a pobreza é vista como carência, e, consequentemente, as pessoas pobres são encaradas como as carentes. Porém, de que forma esse desprovimento é, muitas vezes, entendido? Muitas vezes tem sido compreendido como escassez de espírito, de valores, e, inclusive, incapacidade para o estudo e a aprendizagem. Contudo, sabemos que, no lugar disso, deve-se atentar para as privações materiais que impossibilitam uma vida digna e justa a esses sujeitos. A sociedade tende a considerar, sobretudo, supostas carências intelectuais e morais que os pobres carregavam para as escolas e para o trabalho. Essas são carências de conhecimentos, de valores, de hábitos de estudo, de disciplina, de moralidade. Desse modo, reforça-se uma concepção moralista sobre as pessoas pobres que se encontra há muito tempo em nossa cultura política e pedagógica: a pobreza moral dos pobres produzindo a sua pobreza material. Ou seja, as pessoas são pobres em termos materiais porque antes eram pobres morais. É preciso encarar que é a carência material que irá desencadear todas as carências. Por que negligenciar, minimizar a visão da pobreza como escassez material, privação das condições mais básicas para viver de forma justa e digna, como ser humano? Será que os corpos não importam? Esses corpos precarizados pela pobreza não interferem no processo educativo e no trabalho? Por que resistimos a dar a centralidade devida às bases materiais do viver, do pensar, do ser sujeito intelectual e moral? Um princípio importante para repensar o acesso à educação e o enfrentamento da questão social é o princípio da equidade. Equidade não é o mesmo que igualdade; buscar equidade é buscar a justiça, é dar suporte para aqueles que precisam mais, pois algumas pessoas se encontram em um estado de vulnerabilidade social tão intenso que dar acesso a elas à educação não garantirá a sua permanência. Poder estudar significa ter tempo e ter alguma renda para bancar alimentação, matérias de estudo, moradia etc. Para algumas pessoas, isso não é um grande problema, pois contam com o apoio financeiro da família ou exercem alguma atividade profissional que lhes garante tempo e dinheiro para estudar. Essa não é a realidade da maior parte da população brasileira. Um dos princípios que deveriam nortear a ética da responsabilidade social empresarial deveria ser a equidade. Em vez disso, muitas organizações defendem uma visão meritocrática, que se baseia em um princípio de igualdade: “Oferecemos as mesmas condições, as mesmas oportunidades.” Essa visão só se sustenta no mundo ideal, em que as condições de vida das pessoas são iguais ou muito parecidas. A ética e a responsabilidade social - AULA 3 A ideia de lucro é inimiga da concepção atual de responsabilidade social empresarial? Muitas são as razões que têm impulsionado a ética no ambiente empresarial. Venturoso (2008) lista as mais relevantes: os altos custos de escândalos nas (ou gerados pelas) empresas, acarretando perda de confiança por parte do consumidor na sua reputação; https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-4 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-4 multas elevadas por não cumprimento das leis e normas; a desmotivação dos empregados, entre outras. Dentro desse quadro, podemos elencar alguns motivos para o estabelecimento da ética empresarial, tais como: necessidade de recuperar a confiança na empresa; a importância de tomar as decisões a longo prazo; responsabilidade social das empresas; urgência em se adotar uma ética nas organizações que estabeleça o papel do diretor e o meio para recuperar o espírito comunitário face ao individualismo crescente. Sobre as inter-relações da ética com a responsabilidade social, podemos dizer que a origem está na filantropia. A filantropia empresarial é um campo que vem ganhando espaço cada vez maior no Brasil. No entanto, a expressão “filantropia” está associada a uma referência histórica bastante negativa, sendo ligada a termos como caridade, paternalismo e assistencialismo. Todos esses termos denunciam o problema ético da visão de ser humano adotada pelas empresas. Nenhum dos pilares éticos que sustentam esses termos resultou em mudanças econômicas ou sociais significativas durante toda a história da humanidade. Pelo contrário, podemos afirmar que esses princípios colaboraram para a manutenção da pobreza e das mazelas sociais. Uma longa estrada foi percorrida desde a antiga filantropia, que era algo como atitude individual de um determinado empresário que desejava ter uma boa imagem, passando para a atual versão da responsabilidade social, cuja ética se baseia em uma política de toda empresa em busca da equidade. Diversos termos novos foram utilizados para sinalizar a escolha por uma nova ética. Alguns chamavam de investimento social, para não relacionar com a ideia de custo para empresa. Outros chamariam de ação social empresarial, mas estariam mais focados na ação em si que na mudança de mentalidade. Outros termos foram participação social, participação comunitária da empresa, desenvolvimento social, até chegarmos à versão atual da responsabilidade social. Os apelos morais foram os guias da maior parte das ações durante a história. Esses apelos se baseavam na concepção de moral de setores mais tradicionais da sociedade, que muitas vezes passavam da moral para o moralismo. Mesmo com a atual concepção de responsabilidade social empresarial, ainda há resquícios de uma lógica da caridade, assistencialismo e paternalismo na atuação de muitas empresas. Ética e responsabilidade social no Grupo Boticário O Relatório de Impacto de 2020 do Grupo Boticário mostra que a empresa reconhece sua responsabilidade como agente de mudança e considera seus impactos nos âmbitos social, ambiental e econômico. Pelo princípio ético da caridade, os cidadãos mais afortunados de uma determinada sociedade teriam o dever moral de ajudar aos menos afortunados (principalmente os https://relatoriogrupoboticario.com.br/wp-content/uploads/2021/07/RA_IMPACTO_BOTICARIO_12_0707_PORT.pdf desempregados, os deficientes, os doentes, os idosos e as crianças), sendo a caridade um ato individual/ pessoal. A generosidade deveria ser praticada por todos aqueles que usufruem das melhores condições para fazer isso, e essa prática não era imposta às empresas. Pelo princípio ético da assistência, os indivíduos mais ricos da sociedade também deveriam colocar o seu dinheiro ao dispor dos mais pobres, podendo a caridade ser exercida agora não apenas por indivíduos isolados, mas por empresas e/ou organizações. Nessa lógica, ajudavam-se as populações com base em uma função assistencialista, em que o ser humano era visto como passivo e dependente. Essa visão cogitava o apoio financeiro apenas de organizações mais robustas e estáveis em termos econômicos. Porém, a assistência não era vista como algo consistente na atividade empresarial, era um algo a mais que, caso não acontecesse, não traria grandes problemas. Pelo princípio ético liberal, o principal objetivo das empresas seria a obtenção de lucros, sendo a sua mais importante missão proceder de forma eficiente e respeitar as leis do livre mercado. A ética liberal leva ao extremo a ideia de autonomia individual, ao pressupor que há direitos fundamentais que devem ser protegidos contra os abusos de poder político, por exemplo: direitoà vida, à liberdade, à expressão e à propriedade. Só que esses direitos são base para o juízo moral, porém não são o certo ou o errado. Logo, alguém tem o direito de agir de uma forma, mas isso não quer dizer que agir assim é fazer o bem. Considera-se, sob o ponto de vista liberal, que há apenas uma, e só uma responsabilidade social das empresas: usar os recursos para incrementar os lucros. Ir além disso, para os liberais, seria ceder a um conjunto de intenções que, em concreto, traz mais desvantagens para a empresa do que benefícios. O bem não pode ser exercido para ganhar dinheiro, e as preocupações sociais mais relevantes são de responsabilidade do Estado ou no máximo de cidadãos mais abastados. Sob esse prisma, a única responsabilidade das empresas é aumentar os lucros de seus acionistas, sem praticar fraude ou engano (seguindo a lei); e qualquer outro procedimento que inclua a responsabilização das empresas pelo impacto social do desemprego, das diferentes formas de discriminação ou, ainda, da poluição ambiental não passa apenas de uma utopia daqueles que desejam o socialismo. Pelo princípio ético do bem-estar social, a função da empresa não é apenas gerar lucro. Keith Davis estabelece cinco princípios sobre as práticas de responsabilidade social empresarial: ● (i) A responsabilidade social é consequência do impacto social que a empresa exerce sobre as comunidades, o que significa que o cidadão poderia responsabilizar as empresas pelos agravamentos na questão social provocados por elas. ● (ii) As empresas têm que se configurar como sistemas abertos que mantêm um conjunto de trocas com o meio circundante, recebendo e exercendo influência no meio. ● (iii) Quaisquer custos ou benefícios sociais devem fazer parte da contabilidade empresarial. ● (iv) Os custos sociais de uma empresa devem ser transferidos para os consumidores. ● (v) As empresas têm a obrigação moral de enfrentar a questão social, indo alémdo seu negócio. Esse último princípio emerge do modelo ético do cuidado. Fundado em uma ética do feminino, o modelo do cuidado é a oposição ao modelo do individualismo liberal. Aqui, os valores tidos como femininos — empatia, amor, compaixão e simpatia — iriam alargar a concepção de responsabilidade, indo muito além dos direitos individuais. Todos esses princípios foram superados na evolução da responsabilidade social, no sentido de que seu exercício não seja visto apenas pelo seu lado humanitário, mas tendo em conta a racionalidade econômica dos seus argumentos, sem que, todavia, perca-se de vista o imperativo kantiano, da ética deontológica, recordando que todos os seres humanos têm não apenas o direito de não ser tratados como meios, mas como fins em si próprios. Sobre a evolução da ética que domina a responsabilidade social, Moura et al. (2004, p.20) afirma: Onde antes dominava o imperativo ‘moral’ e da responsabilidade em face dos trabalhadores […] agora impõe-se a ideia de que se deve assumir a responsabilidade por todos os problemas decorrentes da atividade empresarial própria, não importando a sua natureza e o seu alcance. Isso significa ir além da caridade e passar a ter consciência da rede de relações complexas que envolve uma atividade empresarial. Essa nova ética é capitalista, portanto não nega o lucro: “As empresas vão, apesar da sua orientação essencial para o lucro, tomando consciência de que a responsabilidade social tem valor econômico direto, isto é, que a assunção de objetivos sociais e ambientais importa para o seu sucesso e deve fazer parte da sua estratégia econômica. (MOURA et al., 2004, p. 24)” Como já discutido nas unidades anteriores, a concepção atual de responsabilidade social empresarial não vê o cuidado com as pessoas e com a natureza como um inimigo do lucro, mas como uma condição necessária à sobrevivência da empresa e do tipo de negócio. Podemos analisar a tragédia de Mariana/MG, em que a falta de ética com a sociedade e o ambiente não só destruiu a vida das comunidades locais e devastou ecossistemas inteiros, como também condenou o negócio de mineração no local. Esse episódio será sempre trazido à tona quando se discutir a implantação de empresas de mineração e com certeza colocará a sociedade para lutar contra a instalação desse tipo de empresa. A falta de ética e responsabilidade socioambiental na atuação empresarial pode levar ao declínio de um tipo de negócio. Analise o que afirma Luiz Guilherme Dias (sócio-diretor da Sabe Consultores, consultor de empresas e https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-1 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-1 conselheiro certificado) sobre o caso da Samarco: Crédito: Servio Ferreira / Shutterstock.com “A amplitude da tragédia colocou a empresa Samarco e o Setor de Mineração no radar nacional e mundial, motivo pelo qual resolvemos postar este novo artigo procurando refletir se a destruição teve causa técnica ou ética. No primeiro artigo discutimos o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado com o objetivo de ser uma ferramenta para análise comparativa da performance das empresas listadas na Bolsa de Valores sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, além do desempenho empresarial nas dimensões econômico-financeira, social, ambiental e de mudanças climáticas. Nesta ocasião, o ISE possuía em sua carteira teórica 50 ações de 40 companhias, tendo a Vale o maior peso (12%). Poucos dias após nossa publicação o site Plurale publicou um artigo intitulado ‘Vale está fora do Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM & Bovespa de 2016’, repercutindo a nossa manifestação assim como de outros analistas financeiros e especialistas em sustentabilidade que vinham cobrando um posicionamento firme da BM & Bovespa, uma vez que a Vale tinha o maior peso no Índice e teve a sua reputação e transparência em xeque diante da tragédia de Mariana. (DIAS, 2015)” Na citação acima, percebemos como a responsabilidade socioambiental vai muito além de uma ética de caridade, assistência, lucro ou cuidado. É uma questão de autopreservação da empresa, algo que nem sempre é captado nos conceitos propostos na literatura. Veja, por exemplo, como Queiroz, Estender e Galvão (2014) definem a responsabilidade socioambiental: “Responsabilidade Social é um conjunto de ações adotadas e realizadas pelas empresas visando o bem-estar da sociedade, e uma maior lucratividade, ou seja, é quando uma empresa decide cooperar para melhoria de uma sociedade, em um aspecto geral: educação, inclusão social, meio ambiente, entre outras ações benéficas à sociedade, tendo em vista os dois lados da organização: o lado interno, que são os colaboradores e todos que irão afetar de alguma forma no resultado da empresa, e o lado externo, que são as consequências das ações, as parcerias me o ambiente em que está inserida.” Apesar de interessante, esse conceito não abordou a questão da própria sobrevivência da empresa e do negócio. Ainda sobre o caso Samarco, Guilherme Dias continua a detalhar: “[...] a questão da ambiguidade entre os objetivos de longo prazo contidos na declaração de Visão da Samarco (dobrar de valor e ser a melhor do setor) contra as boas práticas de governança e crescimento sustentável. Analisando o Relatório Anual de Sustentabilidade 2014 tudo parecia estar ‘verde’, mas a realidade mostrou o ‘marrom’ da lama que devastou a região, se arrastou por 600 km até o oceano Atlântico, deixando pelo caminho centenas de vítimas desabrigadas. [...] em sua história recente, a Samarco esteve envolvida em diversos episódios causadores de danos socioambientais nas áreas onde pratica a atividade da mineração. Reportam-se, por exemplo, ao menos cinco outros episódios de rompimento de estruturas [...].” (DIAS, 2015) https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-0 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-0https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-2 Com base na citação, questiona-se ainda hoje se algumas empresas poderão ser sequer responsáveis. Também se será apenas a sua consciência social um derivado da lei, do lucro econômico, ou da gestão moral dos projetos em causa? Empresas que têm o seu negócio relacionado com bebidas alcoólicas, armas, cigarros, entre outras, jamais podem ser consideradas cidadãs pelo mal que causam aos cidadãos e à sociedade. Pode um banco que estimula o endividamento ser cidadão porque desenvolve uma atividade de educação financeira para pessoas da comunidade? A fim de compreendermos melhor o papel da ética e da moral no contexto da iniciativa privada, citemos Adolfo Sanchez Vasquez (1990, p. 53): “[...] a moral é um fato histórico e, por conseguinte, a ética, como a ciência da moral, não pode concebê-la como dada de uma vez para sempre, mas tem de considerá-la como um aspecto da realidade humana mutável com o tempo [...]. O sistema econômico no qual a força de trabalho se vende como mercadoria e no qual vigora a lei da obtenção do maior lucro possível gera uma moral egoísta e individualista que satisfaz o desejo de lucro [...] Contudo, há na moral uma função social que não se modifica: [...] regular as ações dos indivíduos nas suas relações mútuas, ou as do indivíduo com a comunidade, visando a preservar a sociedade no seu conjunto ou, no seio dela, a integridade de um grupo social.” ❖ Documentário Memórias Rompidas – Tragédia em Mariana Emocionante documentário da TV Assembleia mostra o lado humano da tragédia de Mariana. Suas vítimas perderam não apenas bens materiais. Foram, sobretudo, atingidas em cada história de vida e em muitos vínculos sociais e afetivos. ❖ Samarco: Ações em Mariana Conheça as ações de recuperação feita pela Samarco na tragédia de Mariana/MG. Lembrando que a moral é um produto cultural situado historicamente de forma dialética, pois ela é continuamente construída e desconstruída à medida que o ser humano atua sobre a natureza. O próprio ato de se apropriar da moral e exercê-la cria as contradições que a colocarão em xeque no futuro. Se, por um lado, a moral capitalista é individualista, por outro, esse mesmo individualismo é questionado e tensionado na busca do coletivo, nas situações em que os interesses da sociedade são ameaçados por interesses particulares. Encerramento Quais as características dos três níveis de abordagem de responsabilidade social nas práticas empresariais? ● Abordagem de obrigação social: se restringe às dimensões econômica, legal e ética. É a ideia de que a função e obrigação da empresa é dar lucro, cumprindo as leis sem danos ou fraudes. ● Abordagem de responsabilidade social: reflete as ações por metas que vão além das econômicas, estabelecendo as metas sociais destinando os recursos para o alcance para as metas. ● Abordagem de sensibilidade social: vai além das demandas sociais https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-3 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/ers/re/u3/tema-3.htm#more-info-3 https://www.youtube.com/watch?v=uxGORp0HGic https://www.youtube.com/watch?v=uxGORp0HGic https://www.youtube.com/watch?v=oUsbbOCS55k https://www.youtube.com/watch?v=oUsbbOCS55k imediatas, elas se antecipam no enfrentamento de problemas sociais do futuro para agir agora e dar respostas a esses problemas. Que características são importantes para o bom profissional que atua com as questões de responsabilidade social? O bom profissional que atua com as questões de responsabilidade social não é aquele que segue cegamente uma ideia, mas aquele que sabe operar com a ideia e conhece as críticas e os limites, sendo fundamental a formação intelectual do indivíduo. A ideia de lucro é inimiga da concepção atual de responsabilidade social empresarial? Não. A concepção atual de responsabilidade social não vê o cuidado com as pessoas e com a natureza como um inimigo do lucro, mas com uma condição necessária à sobrevivência da empresa e do tipo de negócio. Resumo da Unidade A responsabilidade socioambiental das empresas não é sinônimo de caridade. Em sua evolução histórica, a relação entre empresa, sociedade e ambiente foi regida por diferentes modelos éticos. Atualmente, a responsabilidade socioambiental é vista como necessária para a conservação da própria empresa no mercado, não podendo ser encarada como antagonista do lucro, pois se dá em uma dimensão econômica em sintonia com as dimensões ética, legal e discricionária
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