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Autoria: Georgia Maria Ferro Benetti - Revisão técnica: Mariane Paludette Dorneles Arte, Corpo e Movimento UNIDADE 3 - PRESENÇA CÊNICA E PERFORMATIVA As ações educacionais que envolvem corpo e arte são elaborações sociais com longas histórias. Embora as relações entre essas duas produções humanas (educação e arte) sejam fortes e existam há muito tempo, não são auto-evidentes, menos ainda quando recortamos o assunto pelos aspectos ligados ao corpo e movimento. Por isso, nesta unidade, estudaremos questões importantes quanto à relação entre arte, corpo e movimento, os quais têm ligação com a performatividade e presença cênica, pensando nas associações que, a partir desses pontos, podem ser estabelecidas com a área da educação. Aliás, você já se dedicou ao questionamento de quais são as relações existentes entre performance e educação? Já se interrogou sobre como esse vínculo se apresentou e se transformou ao longo da história? Sabe situar a performance no campo das práticas sociais? Seria capaz de circunscrever os contornos da performance enquanto linguagem artística? A partir de agora, refletiremos a respeito da presença cênica enquanto elemento artístico, buscando inter-relacionar modos de pensar o corpo em arte com a produção artística e performance, bem como compreender de que modo esse elemento contribuiu para que esta produza efeitos estéticos e impactos sociais. Além disso, situaremos a performance no campo das práticas sociais, envolvendo, inclusive, os aspectos ambivalentes dela. Por fim, teremos a oportunidade de navegar pelo universo que traça os contornos da performance enquanto linguagem artística, refletindo sobre como as manifestações artísticas podem ser vistas para além da subjetividade e efemeridade, considerando-a produção de conhecimento e trabalho profissional. Bons estudos! Introdução 3.1 Presença cênica como elemento artístico A relação entre corpo e arte é estreita e existe desde que a humanidade começou a se expressar por meio das linguagens artísticas. Sempre esteve vividamente marcada pela cultura e, por isso, sofre os impactos e é transformada pelo que está estabelecido e pelos movimentos do campo cultural. Assim, as linguagens artísticas e suas relações com os corpos foram se modificando. Se, antes, o corpo era tema ou instrumento do fazer arte, hoje pode ser a própria obra. Vamos, então, ao longo deste tópico, avançar nesse contexto e estudar aspectos do corpo-arte relacionados à linguagem artística da performance, principalmente aqueles relacionados ao elemento dessa linguagem, o qual é identificado como presença cênica. Acompanhe! 3.1.1 Performance enquanto prática social A presença cênica é um estado psicofísico no qual o corpo tem papel central e é a dimensão material que ancora os processos poético-comunicacionais que alguém compartilha com seus interagentes. Ferracini (2014, [s. p.]) nos explica que devemos estar atentos às definições de presença cênica, que são do tipo que centra a linguagem da performance no corpo do performer: “[…] a presença é uma habilidade técnico-corporal e energética capaz de prender a atenção do público”. Nesse sentido, ela não é algo que está no ator. Este pode realizar ações físicas que sejam o motor gerador de presença cênica, mas ela só existe se concretizar uma co-experiência da qual o público participe. O caráter de mão dupla — que é condição para a existência da presença cênica — é justamente o que a circunscreve no campo das práticas sociais. Logo, para compreendermos as condições de constituição da presença cênica enquanto elemento artístico, precisamos contextualizar a performance nesse campo. Tal contextualização é fundamental, pois os elementos da performance como linguagem artística — entre eles a presença cênica — também são práticas sociais que emergem da elaboração cultural humana que chamamos de arte. São o que são porque estão dentro de um contexto talvez não vivenciado por todos, e que por isso pode ser melhor compreendido se contrastado com outros cenários, os quais são mais familiares para a maioria das pessoas. A performance está presente em diferentes organizações de sociedade, sendo que podemos identificá-la em vários acontecimentos não artísticos. É possível dizer que nosso modo de vida está marcado por uma “performatividade cultural”, em que uma série de atividades cotidianas e laborais ocorrem envolvendo a performatividade, inclusive as atividades pedagógicas. A performatividade é um conceito essenciais dos estudos da performance. Ao longo desta unidade, você terá a oportunidade de desenvolver e aprofundar conhecimentos sobre essa elaboração teórica em particular, mas, no momento, é suficiente saber que o conceito se refere aos nossos comportamentos. Embora não sejam técnicos, não são totalmente espontâneos e carregam traços aprendidos e ensaiados para que se obtenha um efeito previamente estabelecido. Schechner e Ligiéro (2012) situam a performance utilizando uma metáfora que envolve a dupla representação de leque e rede. O leque representa relações mais amplas em termos de abrangência, porém com menos interagentes. A rede é contínua e interativa, envolvendo muitos interagentes que se influenciam mutuamente. A ilustração a seguir representa a visão do campo da performance na metáfora do leque, elaborada por Schechner. A Presença não é um Atributo do Ator, de Renato Ferracini, articula de modo excelente a relação entre corpo e presença cênica. É uma leitura muito importante para a compreensão desse vínculo e o refinamento do conhecimento do conceito de presença cênica. Clique no botão abaixo para ler o artigo na íntegra! Acesse (http://www.portal.anchieta.br/revistas-e- livros/curso_letras/sumario/sumario_renato_ferracini.pdf ) Você quer ler? O filme O Espelho tem Duas Faces, dirigido por Barbra Streisand, faz aproximações interessantes entre performance e docência. Os personagens principais são professores na mesma universidade, mas empregam performatividades bem diferentes para ministrarem suas aulas, obtendo efeitos distintos. Tire um tempo para assistir ao longa e prestar atenção nesses detalhes. Vale a pena! Você quer ver? http://www.portal.anchieta.br/revistas-e-livros/curso_letras/sumario/sumario_renato_ferracini.pdf #PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração da metáfora do leque proposta por Schechner. Trata-se de um diagrama em formato de leque, em que, na base, encontramos a palavra performance. Desta, partem linhas retas representando as hastes do leque ou raios de um semicírculo. Nos diferentes pontos que compõem o contorno semicircular da figura, de cima para baixo, temos as palavras e expressões: ritos, cerimônias; xamanismo; erupção e resolução da crise performance; performance na vida cotidiana, esportes e entretenimento; jogo; processos do fazer artístico; e ritualização. Já a figura na sequência traz a representação da metáfora da rede, em que podemos perceber alguma centralidade da linguagem do teatro. Figura 1 - Schechner situa a performance em um leque Fonte: SCHECHNER; LIGIÉRO, 2012, [s. p.]. Figura 2 - Schechner também situa a performance em uma rede Fonte: SCHECHNER; LIGIÉRO, 2012, [s. p.]. #PraCegoVer: na figura, temos um diagrama que retrata uma rede de pontos numerados interconectados de modo não uniforme. Cada ponto corresponde ao nome de um nó da rede de interagentes. Os pontos são: xamanismo pré-histórico e ritos; xamanismo histórico e ritos; origens do teatro na Eurásia, África, Pacífico, Ásia; origens do teatro europeu; teatro ambientalista contemporâneo (ponto central); psicoterapias dialógicas e orientadas para o corpo; estudos etológicos do ritual; performance na vida cotidiana; e jogo e crise comportamental. Lançando um olhar para o que estudamos até aqui, podemos dizer que, enquanto prática social, a performance aparece difusa nas atividades cotidianas e nos modos como nos organizamos para as diversas instâncias da vida. Nestas, incluem-se também o aprender e ensinar. Vale lembrar que a presença cênica é um estado que pode ser observado nãosó em situações artísticas. Nos emocionamos profundamente em situações sociais em que observamos outras pessoas atuando em papéis requeridos pela situação, como casamentos, formaturas, despedidas e competições esportivas, não é? Um exemplo foi o gesto antirracista dos atletas americanos Tommie Smith e John Carlos, que ergueram um punho cerrado, vestindo luvas pretas e calçando apenas meia, sem sapatos, nas olímpiadas de 1968 (CAPINUSSÚ, 2007), o que eternizou a estátua retratada na figura a seguir. Como podemos presenciar, situações como essa são capazes de produzir efeitos emocionais e inspirar ações. #PraCegoVer: na figura, temos a fotografia de três estátuas de bronze. A segunda, no centro, e a última, no canto direito, reproduzem o gesto antirracista de Tommie Smith e John Carlos nas Olímpiadas de 1968. Os atletas aparecem cabisbaixos, ambos com um punho erguido, vestindo luvas. A primeira estátua, no canto esquerdo da foto, traz um atleta até o peito, olhando para frente. Agora, antes de prosseguirmos com o conteúdo, vamos realizar uma atividade para fixar nossos conhecimentos? Assim, você fará uma rápida reflexão a respeito da temática e, de quebra, praticará para responder a questionamentos mais aprofundados. Confira a proposta na sequência e a resolva corretamente! Figura 3 - O gesto de Tommie Smith e Jhon Carlos ficou eternizado Fonte: John S. Quinn, Shutterstock, 2021. Respondida a questão anterior e introduzido o assunto da performance enquanto prática social, vamos passar ao estudo do caráter ambivalente da performatividade. Confira o conteúdo com atenção! 3.1.2 Caráter ambivalente da performatividade As atividades performativas são manifestações que, historicamente, marcam presença nos diversos contextos socioculturais em que se inserem. Nesse contexto, diz-se que a performance está revestida de um caráter ambivalente porque pode servir para a manutenção dos estados de coisas e tradições sociais ou para contestá-los. Conforme Schechner (2002 apud ICLE; PEREIRA, 2010), a função do teatro romano, por exemplo, era entreter e educar. Na era clássica, as pessoas iam ao teatro antes de que pudessem aprender a ler ou escrever. Dessa forma, era um dos lugares privilegiados para aprender, até porque a educação formal era bastante restrita. Na organização social da época, as pessoas aprendiam muito em rituais, porém estes tinham um caráter diferente do teatro, visto que se destinavam a produzir a obediência desejada por autoridades religiosas e políticas. Por outro lado, no teatro, as pessoas viam os personagens dos mitos vivendo a vida. Assim, conectavam-se com os problemas, os dramas e as tragédias experienciados por tais personagens, os quais podiam ser humanos ou divindades. Era uma chance de vivenciar de modo fictício situações desafiadoras e que traziam à tona sentimentos negativos do dia a dia. Se conectando com isso, a experiência tinha como consequência uma espécie de educação emocional para os sentimentos perturbadores (SCHECHNER, 2002 apud ICLE; PEREIRA, 2010). Essa educação emocional era chamada, na época, de catarse. Seu efeito era fazer acontecer o que não estava acontecendo, de fato, e produzir a liberação dos sentimentos negativos vivenciados na experiência proporcionada pelo teatro assistido, sem demandar ações concretas para equacionar as coisas como demandaria a vida vivida. Tal propósito era claro no teatro grego e nas suas duas vertentes (tragédia e comédia). Estava explicitamente representado no par de máscaras que vemos na fotografia a seguir, símbolo representativo da arte do teatro na antiguidade e que, atualmente, transformou-se em um ícone que representa o teatro de modo geral. O sentido do teatro da tragédia grega era a catarse de sentimentos. Teste seus conhecimentos (Atividade não pontuada) Richard Schechner é o estudioso que criou a proposta de um campo do saber chamado estudos da performance (performance studies), inspirado nos estudos que realizou a partir de seu contato com o antropólogo Victor Turner, em meados dos anos de 1970, de quem foi educando durante o Ensino Superior. Vale pesquisar sobre essa personalidade e se aprofundar em suas ideias! Você o conhece? #PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia com duas máscaras de bronze sobre um fundo liso na cor magenta. Elas estão separadas por uma coluna de sustentação feita do mesmo material, localizada no centro da foto. A máscara posicionada à esquerda traz uma expressão sorridente (aspecto da comédia). Já a máscara que está à direita tem aspecto tristonho (característica da tragédia). Contudo, como é de se esperar, o tempo passa e as coisas mudam. Há, assim, emergência de novas possibilidades no campo da arte. Mais recentemente, vimos surgir outras vertentes de teatro, como o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, que convoca para a ação e se inspira nas ideias pedagógicas de Paulo Freire. No caso, a ideia é colocar as pessoas em contato com modelos de ação que as auxiliem a superar possíveis situações de injustiça a que estão submetidas. Outros autores importantes do teatro, como Bertold Brecht, também têm obras que deixam explícito a sua intenção pedagógica. Entretanto, como nosso objetivo aqui é apenas trazer o tema à tona, e não esgotá- lo, recomendamos que você direcione a sua curiosidade de aprendiz para expandir seus conhecimentos sobre a relação entre teatro e educação. Afinal, uma pesquisa é sempre bem-vinda! Agora, retomando o foco na performance, importante sublinharmos que, como acabamos de estudar, ela é muito mais abrangente do que o teatro. Dessa maneira, Schechner e Ligiéro (2012) mencionam que, assim como as narrativas, as ações corporais dramáticas e poéticas também carregam esse potencial expressivo de nos despertar sentimentos e a vontade de agir. Tal reflexão é trazida para o campo da educação com bastante propriedade se pensarmos que, ao longo da história, criamos uma série de variações nos modos de tratar e pensar de nossos corpos, bem como nas formas de nos comportarmos corporalmente. Todas essas variações têm relação com os contextos sociais em que estamos inseridos (GONÇALVES, 1994). Figura 4 - As máscaras do teatro grego simbolizam a comédia e tragédia Fonte: A.B.G., Shutterstock, 2021. O livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, é umas das obras do educador que mais se destacou e ocupa um lugar no topo das mais citadas mundialmente. Integrante da vertente da pedagogia crítica, Freire traz a proposta de um novo modo de relação entre educação, seus atores e a sociedade. Vale a leitura! Você quer ler? Considerando o que estudamos até o momento, identifique situações sociais em que a presença cênica dos participantes foram impactantes e produziram forte efeito de comunicação com os espectadores. Faça um relatado sobre as situações que mais lhe chamaram atenção e, depois, compartilhe com seus colegas! Um exemplo que poderia ser considerado foi a ocasião em que Gabriela Andersen-Schiess concluiu, com muita dificuldade, a primeira maratona feminina disputada em uma olimpíada. Vamos Praticar! 3.2 Performance como elemento constituinte das linguagens artísticas A performance é uma linguagem múltipla, tão potente que encontramos dificuldade — e, talvez, impossibilidade — para elaborar definições estáveis que possam estabelecer uma compreensão de sentido único para o termo performance. Com isso, precisamos sempre contextualizá-lo. Dessa forma, quando tratamos de performance no campo da arte, estamos nos referindo às práticas poético-estéticas que têm as ações corporais como eixo (ICLE, 2010). 3.2.1 Surgimento da performance como linguagem artística: aspectos históricos Nos anos de 1960, começaram a eclodir várias manifestações de arte ao vivo com orientação de contestação política. Estas, de artes visuais e cênicas, foram identificadas com nomes distintos, como happening, instalação e body art. Elas acenderam o questionamento a respeito do que era ou não a arte. As obras que estavam sendo produzidas na época pretendiam romper com o paradigma da arte contemplativa.Eram experiências a serem vivenciadas. Consequentemente, o caráter experiencial e vivencial que tomou força do campo das artes promoveu uma aproximação entre arte e vida, modificando os modos de fazer arte que existiam até então. Surgiu daí um novo tipo de artista, cujo trabalho não era de músico, ator ou bailarino, nem se identificava com nenhuma arte específica já nomeada até o momento. Esse artista, que transformava o seu corpo em obra artística, foi chamado de performer. De acordo com Biancalana (2012), em arte, os artistas interferem no corpo-natureza, buscando construir o corpo-ofício com o objetivo de potencializar as capacidades de comunicação e expressão que serão ativadas no fazer artístico. No entanto, nos anos de 1960, a situação começa a se radicalizar, de modo que estudiosos da Teoria Artística questionaram as fronteiras entre vida e arte. 3.2.2 Do corpo-ofício ao corpo-arte Nessa época dos anos de 1960, observamos se consolidar um movimento já iniciado há décadas por artistas que enfrentaram preconceitos e tiveram sua arte posta em cheque. Esse corpo-ofício que expressa um “[…] conhecimento assimilado e transformado de fontes, de experiências, de técnicas, de tradições” (BIANCALANA, 2012, [s. p.]), liberta-se da necessidade de se manifestar por meio de acontecimentos ensaiados e técnicas específicas pré-estabelecidas, passando a valorizar a efemeridade e presença cênica, aparecendo como corpo-arte. Portanto, a performance é parte da expressão da experiência. Icle (2010) cita que é nesse campo que a performance como linguagem, da arte da performance, emerge e se circunscreve. Schechner e Ligiéro (2012) complementam que o modo como nos colocamos diante da arte também é performático e aprendido socialmente. Ele pode passar por um estágio de esfriamento e extensão das percepções e emoções decorrentes daquilo que se deu durante a performance. Dentro desse contexto, os performers buscam desenvolver elementos essenciais para comporem seus trabalhos. Entre eles, há um que parece se destacar: a capacidade de chegar a um estado psicofísico de entrega intensa, o que estabelece uma comunicação com os espectadores por meio das ações realizadas. Esse estado se chama presença cênica, como estudamos anteriormente. A intensidade dessa entrega é tamanha que capta a atenção dos espectadores e estabelece uma comunicação com eles. Alguns artistas radicalizam o programa da performance, chegando a se auto- infligirem sofrimentos e a se colocarem em risco em nome da presença cênica. Um exemplo interessante de obra que se utiliza da linguagem artística da performance é Rhythm 0 ( Ritmo 0), de 1975, executada por Marina Abramovic, artista que é considerada um ícone da performance contemporânea. Na produção, Abramović deixou seu corpo à disposição para que o público o utilizasse como suporte. Em uma mesa, a artista dispôs 72 objetos que poderiam oferecer dor ou prazer, como batom, vinho, uvas, tesoura, garfo, faca, chicote e uma arma carregada com uma bala. Todos podiam ser utilizados livremente pelo público (CARVALHO; PERUZZO; GOTTARDI, 2018). O termo performance vem do francês antigo parfournir, que significa “completar ou realizar inteiramente”, indicando o momento da expressão/comunicação que completa uma experiência. Trata-se do último momento que constitui o processo da experiência vivida (BIANCALANA, 2012). Você sabia? Figura 5 - Marina Abramovic foi a criadora de Rhythm 0 Fonte: bibiphoto, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia de Marina Abramovic. A artista aparece apenas até o começo dos ombros, olhando para a câmera, levemente virada para a direita. Ela está com o cabelo de lado, também para a direita, veste uma roupa preta e um brinco pendurado pequeno. Sua expressão é sutil. Em um primeiro momento, o público foi cauteloso, mas, conforme o tempo passou, iniciaram-se ações de violência e tortura. As roupas da performer foram rasgadas e sua pele foi perfurada. Encerrou a performance ao final de seis horas, quando foi ameaçada com a arma. O propósito era que o espectador registrasse sua ação, provocando estímulos e deixando marcas na performer. Como consequência, despertou os instintos violentos dos interagentes, os quais revelaram a tirania e o desejo de dominação que havia dentro deles — e que há em todos nós. Agora que você já começou a se familiarizar com os principais elementos da linguagem artística da performance, podemos avançar para a reflexão sobre como se dá a produção de conhecimento em arte. Porém, antes, realize a atividade proposta na sequência para colocar suas ideias em prática! Pesquise outros exemplos de performances artísticas de artistas contemporâneos e identifique o programa da performance (proposta do artista) e como se estabeleceu a comunicação com os expectadores. Reúna relatos, imagens e comentários a partir da pesquisa realizada. Depois, compartilhe com seus colegas! Vamos Praticar! 3.3 Manifestações artísticas como produção de conhecimento e trabalho profissional As manifestações artísticas não existem espontaneamente na natureza. São criações humanas e, por isso, pertencem ao âmbito da cultura. As culturas perpassam diferentes manifestações artísticas. Logo, Biancalana (2011) traz que, para compreendermos a arte como produção de conhecimento, é fundamental estudarmos a cultura e seus entendimentos teóricos, os quais vêm evoluindo com a elaboração de correntes de pensamento. Nesse sentido, nos estudos deste tópico, analisaremos elementos que nos permitem a construção dessa compreensão para avançarmos a um entendimento da construção do conhecimento em arte. Acompanhe! 3.3.1 Performance como locus de transformação No início da unidade, estudamos que a performance tem um caráter ambivalente e pode servir tanto para a manutenção quanto para a transformação do estado de coisas. Atualmente, por exemplo, a arte contemporânea tem empregado a linguagem artística da performance para fazer críticas políticas e sociais. Vamos, então, estudar os aspectos da performance que operam como locus de transformação? A transformação se dá por várias vias, mas muito fortemente pela produção de novos saberes que possam preencher o lugar dos que foram transformados. A performance é considerada uma parte expressiva da experiência vivida, considerando que as experiências são potenciais de produção de sentido que se opõem ao caráter meramente informativo. A iminência da produção de conhecimento na linguagem artística da performance, relacionado ao potencial de produção de sentidos, é consequência da abertura e receptividade durante a experiência de troca entre artista e quem o assiste. Biancalana (2011) cita que, para compreendermos a arte como produção de conhecimento, talvez precisemos superar a crença na característica aurática da arte, conforme a qual a arte está ligada ao divino e que o talento artístico é um dom. Acreditar neste geralmente significa não acreditar na possibilidade de desenvolver a capacidade artística por meio de trabalho. Assim, há uma dificuldade de enxergar a arte como produção de conhecimento. Esse pensamento tem reflexos diretos nos processos formativos e criativos. Quanto mais se acredita no dom, menos se investe na formação. Por outro lado, quanto mais não se acredita no dom, maior o investimento nos processos educativos com a ocupação dos espaços de ensino formais e informais por parte dos artistas. A produção de conhecimento por meio de manifestações artísticas, por vezes, é posta em cheque com a alegação de que se trata de um conhecimento provisório e pouco objetivo se comparado ao científico. Contudo, analisando o ponto de vista de Mostaço (2012) sobre a performance, que dá foco para o potencial epistêmico dessa linguagem artística, temos outro cenário. Segundo o autor a performance questiona e constrói conhecimentos por intermédio de três aspectos principais: caráter constitutivo, âmbito epistêmico e olhar crítico. #PraCegoVer: no quadro, temos a descrição das três dimensões da performance como locus de transformação:caráter constitutivo, que corporifica e organiza pessoas, coisas e processos com referência em normas da ordem da cultura, como leis, manuais, regras de conduta, de jogos, de brincadeiras e tecnologias; âmbito epistêmico, que promove uma união entre as dimensões humanas corpo/mente e dá valor às nossas capacidades perceptivas e aos processos comunicacionais; e olhar crítico estético e político, que costuma compor os programas performativos e provoca para interpretações de símbolos, valores, costumes e códigos, bem como o modo como eles se inserem em relações de força e poder, buscando inspirar para ações de transformação social. Com base nessas principais dimensões de construção do conhecimento em performance, podemos avançar para descobrirmos importantes conceitos que se consolidaram com o desenvolvimento teórico dos estudos da performance. Quadro 1 - Três dimensões da performance como locus de transformação Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MOSTAÇO, 2012. 3.3.2 Conceitos fundamentais nos estudos da performance Os estudos da performance dizem respeito a um campo interdisciplinar, mas que opera com alguns conceitos compartilhados pelos estudiosos da área. Conforme Icle (2010), envolvem a interseção de três campos: artes, antropologia e filosofia. Como sabemos, muitas dessas elaborações teóricas se aplicam ao fazer arte, assim como a acontecimentos da vida cotidiana. Entre a extensa teoria que já temos desenvolvida nesse campo de saber, destacamos os conceitos apresentados por Mostaço (2012): drama social, liminaridade, communitas e performatividade. O drama social é um aspecto teórico desenvolvido pela Escola de Palo Alto, na Califórnia, entre os anos de 1940 e 1950. Tem como principais representantes pensadores como Gregory Bateson, Edward T. Hall e Erwin Goffman, que observaram recortes de classes sociais, analisando suas ambiguidades, a formação de grupos, os ritos, os valores e os sistemas de legitimação. Isso, porém, feito com atenção aos fenômenos das comunicações e da transmissão de linguagens. Inclusive, se utilizou de bases da Teoria Teatral, de quem herdou termos como ator, conflito, cena, desenlace ou escuta (MOSTAÇO, 2012). A corrente do dramatismo destacou o caráter ideológico da constituição das sociedades e buscou fazer oposição a duas proposições teóricas importantes: positivista ou mecanicista e do mundo “natural”. A liminaridade, por sua vez, foi elaborada por Arnold van Gennep para descrever o estado de um indivíduo durante um rito de passagem. Foi uma das bases para que Victor Witter Turner desenvolvesse suas elaborações teóricas em que a liminaridade passou a ser referente ao que está em transição, no limiar, em condição passageira (MOSTAÇO, 2012). No âmbito social, quem está nesse estado é marginal, ou seja, encontra-se em condição inter-estrutural e fora dos quadros estáveis que compõem a sociedade e seus ritos sociais (nascimento, puberdade, casamento, trabalho, morte etc.). Temos, ainda, as communitas, um termo alternativo à palavra comunidade, escolhido para circunscrever o conceito que representa o dividir da experiência de passar por uma situação de liminaridade. Por isso, diz-se que é vivencial, horizontal e espontânea. Mostaço (2012) cita que as communitas dizem respeito ao reconhecer a sensação de algo especial no compartilhamento dividido pelos participantes e, talvez, adotar termos, sinais e comportamentos que só quem passou pela experiência pode acessar. Esse estado é, de certa forma, normativo. Victor Witter Turner foi um antropólogo nascido na Escócia que viveu no século XX. Ele desenvolveu a Teoria do Drama Social, que teve inspiração na perspectiva da manifestação artística chamada tragédia grega. Seu trabalho em antropologia é uma das bases dos estudos da performance. Você o conhece? Você sabia? Via a sociedade como uma máquina, e as pessoas como partes dessa engrenagem. Via a sociedade como expressão do mundo “natural”, funcionando com uma dinâmica de ação de forças instintivas ou leis biológicas. Positivista (mecanicista) Do mundo “natural” Essa proposição teórica foi criada para entendermos como podemos pensar na linguagem e no comportamento das tribos urbanas de skatistas, por exemplo, ou nos fãs de algum filme de culto. Isso porque ela encoraja a crítica na ordem estabelecida, visto que cria um outro “nós” dentro do grupo, o qual se opõe a quem não participa dele (MOSTAÇO, 2012). A capoeira é uma mistura de dança e luta — uma espécie de performance — que foi historicamente criminalizada no Brasil. A trajetória história da técnica de movimento (Mauss) permite que a alinhemos ao conceito de communitas, proposto por Turner. Ela é praticada em grupo, sendo que os praticantes compartilham uma série de códigos, como vestimentas, músicas, nomenclatura dos movimentos, cumprimentos e graduações conforme a evolução no aprendizado. Segundo Machado e Schualtz (2020, [s. p.]), a capoeiragem tinha uma ação política importante no final do século XIX: era um movimento de “[…] radicalidade, que busca burlar as regras dos espaços e fundar uma nova estética”. Nesse sentido, os autores analisaram o conflito polícia versus capoeiristas, sendo que, nos anos de 1890, vigorava o Decreto n. 847, de 11 de outubro de 1890, que trazia um capítulo sobre dos vadios e capoeiras, em seu artigo 402, conceituando o fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação capoeiragem (BRASIL, [1940]). Esse conflito persistiu mesmo após a descriminalização da prática. Por fim, mas não menos importante, a performatividade se refere a cenas e acontecimentos fictícios ou cênicos que conseguem impactar os espectadores, produzindo efeitos reais. É um dos aspectos mais importantes nos estudos da performance atualmente, o qual vem perpassando diversas outras linguagens de expressão artística, como a televisão, o cinema, o teatro e a dança. A performatividade opera até fora do campo artístico, em momentos ritualizados do cotidiano, como aqueles em que ouvimos um hino pátrio, colamos grau, casamos, estamos em situações formais de ensino aprendizagem etc. Ela fala das formas de ação da performance e dos recursos empregados (MOSTAÇO, 2012). Victor Turner criou uma subtendência do drama social, chamada de ritual. Nela, dramas sociais e seus ritos possuem quatro estágios: ruptura, crise, ação corretiva e regeneração. Inclusive, Turner foi professor de Richard Schechner e influenciou diretamente para a criação dos estudos da performance, conforme mencionamos anteriormente. Caso No que se refere à produção de conhecimento em artes, os processos educacionais estão apoiados na subjetividade. Os performers trabalham com a superação da objetividade para atingir o estado de presença cênica (BIANCALANA, 2011). Com a apresentação desses conceitos, pudemos situá-lo no campo da elaboração teórica dos estudos da performance. Entretanto, importante alertar novamente que, muito embora sejam conceitos centrais, esse é um campo de saber vasto, que não se restringe à uma reduzida introdução. Teste seus conhecimentos (Atividade não pontuada) O periódico Revista Brasileira de Estudos da Presença (https://www.seer.ufrgs.br/presenca) é reconhecido na área acadêmica de estudos da performance no Brasil. Por isso, para finalizarmos, escolha um artigo publicado nele e faça um resumo do texto escolhido com a extensão aproximada de 1.500 caracteres. Procure identificar referências teóricas e conceitos empregados na elaboração do texto. Vamos Praticar! Chegamos ao fim de mais uma unidade de estudos. Este material pode ter parecido um pouco mais complexo, mas a ideia foi fornecer elementos para que você pudesse refletir sobre modos de pensar o corpo em arte e suas relações com a produção artística e de conhecimento no âmbito da performance. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: Conclusão situar a performance no campo das práticas sociais; compreender a presença cênica como elemento constitutivo da linguagem artística da performance;compreender a presença cênica como elemento constitutivo da linguagem artística da performance; perceber performance e performatividade como modos de fazer e ser que têm centralidade no corpo; https://www.seer.ufrgs.br/presenca entender que a performance carrega ambivalência e tem potencial para reforçar o estado de coisas ou provocar reflexão e suscitar ações para modificá-lo. BIANCALANA, G. R. A presença performativa nas artes da cena e a improvisação. Revista Brasileira de Estudos da Presença, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 121-148, jan./jun. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbep/v1n1/2237-2660-rbep-1-01- 00121.pdf (https://www.scielo.br/pdf/rbep/v1n1/2237-2660-rbep-1- 01-00121.pdf). Acesso em: 8 jan. 2021. BIANCALANA, G. R. Performatividade: presença cênica e elementos culturais. In: VII CONGRESSO DA ABRACE, 2012, Porto Alegre. Anais eletrônicos […]. Porto Alegre: ABRACE, 2012. Disponível em: http://www.portalabrace.org/viicongresso/completos/estudosperformance/GiselaReisBian calana-Performatividade_presen__ac__nicaeelementosculturais.pdf (http://www.portalabrace.org/viicongresso/completos/estudosperformance/GiselaReisBian calana-Performatividade_presen__ac__nicaeelementosculturais.pdf). Acesso em: 8 jan. 2021. BRASIL. Decreto n. 847, de 11 de outubro de 1890. Promulga o Código Penal. Brasília: Presidência da República, [1940]. 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