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UNIDADE 1 - QUALIDADE E GESTÃO DE QUALIDADE INTRODUÇÃO Quando pensamos na realidade dentro do contexto mundial, há profundas transformações que ocorrem, o tempo todo, na verdade, mas nas últimas décadas essas mudanças têm sido aceleradas e constantes. Tais transformações abrangem tanto questões políticas, quanto econômicas e sociais, sobretudo, com mudanças significativas nas relações entre nós. Essas profundas e aceleradas transformações têm levado nações inteiras a repensarem suas estratégias e ações para a melhoria de vida de seus habitantes. Quando falamos de economia, hoje o mundo pensa em rumos para aumentar os níveis globais de competitividade. Descentralizar autoridades, hierarquias, estimular parcerias, conquistar novos mercados e novos clientes, além de manter os já clientes, são tarefas difíceis e tem fomentado muitas iniciativas interessantes para tal. Por isso, hoje em dia, uma empresa não pode se limitar apenas a fazer um produto ou oferecer um serviço, é necessário ter qualidade, comprometimento com questões socioambientais, ter uma boa relação com fornecedores, clientes etc. A fim de serem competitivas, as empresas estão recorrendo à redução de custos, aumentando produtividade e diminuindo desperdícios em detrimento às antigas práticas como o aumento de margem de lucro. Neste sentido, os Sistemas de Gestão da Qualidade surgiram como ferramenta importante no setor empresarial, independentemente da escala da produção e do seu processo. A normatização destes sistemas, no âmbito internacional, de forma a ser reconhecida mundialmente, tornou mais possível e competitiva essa relação empresarial, ajudando no rompimento de algumas barreiras comerciais, podendo facilitar negociações internacionais. A ISO 9001 vem de encontro com essa normatização, auxiliando empresas na padronização dos processos, o controle de documentos e de produção, na relação com o cliente e na preocupação com a gestão de toda a empresa. Em 2017, a norma completou 30 anos desde seu lançamento. Desde então, acompanhar as grandes mudanças na economia do país tem sido um grande desafio, tanto para quem elabora tal norma, quanto para as organizações em geral. A redução de custos, a ampliação de mercado e a constante satisfação dos clientes são objetivos constantes da estratégia a ser alcançada pelas organizações com a aplicação da ISO 9001 (ALVES, 2017). OBJETIVOS » Apresentar conceitos sobre o histórico da normatização ligada à qualidade e aos processos. » Conhecer sistemas de gestão com enfoque em processos e implantar e avaliar sistemas de gestão da qualidade mais adequados para a organização. » Apresentar a norma ABNT ISO 9001: 2015 e seus principais conceitos sobre o sistema de gestão da qualidade. » Indicar as mudanças relativas à atualização da norma ABNT ISO 9001 de 2008 para 2015. A QUALIDADE Podemos entender por qualidade, os atributos e valores agregados a um produto (ou serviço) que seja confiável, acessível (baixo custo), seguro e no tempo certo para atender as necessidades dos clientes. Segundo Campos (1992), “o verdadeiro critério da boa qualidade é a preferência do consumidor, o que garantirá a sobrevivência da empresa”. Afinal, é importante lembrar que, na busca por qualidade, há dois personagens: o produtor (organização), responsável por gerar o produto/serviço com qualidade, e o cliente/consumidor, que se butiliza destes produtos ou serviços. É a harmonia entre estes dois personagens que faz com que a qualidade esteja adquirida. Atualmente, o conceito de qualidade vem de encontro à realidade de oferta maior do que a demanda do mercado, o que torna maior as opções de escolha dos clientes e, consequentemente, este irá impor suas necessidades para ajustes de produtos e serviços aos seus desejos. Já termo qualidade total tem no seu conceito seis atributos ou dimensões que lhe dão característica de qualidade: » Qualidade intrínseca: capacidade de o produto ou serviço cumprir seu objetivo proposto. » Custo: não é suficiente ter o produto mais barato, e sim o maior valor pelo preço justo. » Atendimento: local, prazo e quantidade a serem cumpridos. » Moral: a qualidade está vinculada à responsabilidade de funcionários motivados e bem treinados, por exemplo. » Segurança: refere-se tanto a segurança física do serviço prestado/produto quanto ao seu impacto no meio ambiente, por exemplo. » Ética: regras de conduta e valores que permeiam as pessoas e os processos das organizações à sobreviver no mundo competitivo atual. A qualidade, dentro de uma organização, antes e tudo, precisa ser entendida como uma nova postura a ser desenvolvida no âmbito gerencial e repassada para toda a organização como uma filosofia com mudanças de atitude e de comportamento visando o comprometimento com o desempenho na busca do aprimoramento constante do processo e do produto ou serviço final. Tais mudanças passam por ações mais participativas, com uma estrutura mais descentralizada, por exemplo. Mas a qualidade implica também um controle de todo o processo. E controle, quando são impostos e burocráticos, pode desmotivar os colaboradores, que participam menos da responsabilidade na busca por qualidade. Por isso, o ideal é buscar a filosofia do autocontrole, na qual todos têm responsabilidades para obtenção da qualidade final do processo e do produto ou serviço, sendo este fruto de um esforço mútuo de todos os setores da organização. Dessa forma, a busca da qualidade, e – sobretudo – da implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade, torna-se um rompimento de barreiras hierárquicas e de privilégios, sendo assim um desafio que vai além de uma busca por modernização e/ ou busca por fidelização de clientes. Segundo Barçante (1998), diversos autores estudam a questão da qualidade no setor empresarial. Entretanto, possuem diversos pontos em comum no que tange o aprimoramento da qualidade: » A qualidade, enquanto busca dinâmica, exige aprimoramento contínuo. » A comunicação entre os setores é parte importante da busca por qualidade. » É necessário o envolvimento de fornecedores. » É importante a atenção da gerência como agentes de mudança e de responsabilidade. » Treinamento constante em todos os níveis da organização. HISTÓRICO DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE A produção de materiais que norteiam procedimentos em geral, sejam eles manuais, normas, instruções, entre outros, refletem a evolução do conhecimento adquirido pela sociedade como um todo, permitindo assim a utilização destes conhecimentos pelas corporações (empresas públicas e privadas, indústrias, organizações etc.) como forma de produzir, gerar produtos e serviços dentro das especificações e padrões. Afinal, as normas e os manuais são uma forma de conservar e transmitir o conhecimento adquirido ao longo do tempo (ROMAN, 2013). Desde o código de Hamurabi, do ano 2150 a.c., determinava-se que “se um construtor erguer uma casa para alguém e seu trabalho não for sólido, e a casa desabar e matar o morador, o construtor deverá ser imolado” (DIAS et al., 2009). Lembrando que a qualidade, nesse período, baseava-se na inspeção final dos produtos já acabados, conceito que perdurou durante séculos depois de Cristo. No que consiste aos estudos evolutivos da qualidade, a lógica é a mesma. Segundo Alves (2017), a sociedade sempre dependeu da qualidade, desde o início da sua história, e seu controle é antigo, especialmente a partir da evolução no processo industrial, e durante muito tempo foi realizado de forma tradicional por meio de inspeções visuais, sendo que o controle estatístico de qualidade só surgiu a partir de 1920 (ALVES, 2017). Gestão da qualidade A prática da gestão da qualidade, então, até o período que antecedeu a Revolução Industrial, era apenas pensada com uma ação de autocontrole,realizada por artesãos, enquanto desenvolviam todas as atividades de escolha de materiais, produção e comercialização, mantendo um contato direto com os clientes. Produziam-se poucas peças e as mesmas eram ajustadas manualmente a gosto do cliente. O surgimento da produção em maior escala, no início do século XX, o surgimento do Taylorismo, por exemplo, a prática de controle de qualidade mudou muito, passando a ser uma atividade externa à produção, feita por um inspetor de qualidade, separando os produtos com defeito antes de chegar nos consumidores finais. O que foi o taylorismo? Foi uma teoria criada pelo engenheiro Frederick Taylor no fim do século XIX e começo do século XX, quando, por meio de observação de trabalhadores em indústrias, constatou que a produção seria otimizada caso estes trabalhadores fossem organizados de forma hierárquica, ou seja, cada um desenvolvendo uma função específica no sistema produtivo, e no menor tempo possível, uma vez que o trabalho era monitorado pelo tempo/quantidade produzida (FREITAS, 2018). Daí surgiu o trabalho especializado, mas também o trabalho exploratório, pois os trabalhadores passaram a trabalhar mais para cumprir o tempo proposto e receber premiações e vantagens, por exemplo. Figura 1. Funções específicas executadas dentro da indústria são um símbolo do Taylorismo. Fonte: <https://4.bp.blogspot.com/-O4RZxVC_Lo8/UbnywkRI4HI/AAAAAAAAABw/J 5xWT5itNZw/s1600/cadena+de+mont+ford.jpg>. O taylorismo foi base para, anos mais tarde, Henry Ford desenvolver o sistema de linha de montagem – que começou na indústria automobilística – para gerar uma grande produção para também um intenso período de consumo. A partir da década de 1950, com as inovações tecnológicas, a prática da gestão de qualidade ganhou uma nova proporção, que envolveria toda a produção. Alguns pensadores, também chamados de mestres da qualidade, contribuíram muito para que essa mudança de postura ocorresse especialmente dentro das organizações (SILVEIRA, 2017). As contribuições de Juran Em 1950, foi publicado um importante documento sobre o assunto, o Manual de Controle da Qualidade, deste autor, o que mudou as proporções da atenção dada a qualidade, incluindo as atividades do ciclo produtivo, do desenvolvimento e o pós-vendas. Segundo Juran, para adequação do produto em uso, todos os processos, direta ou indiretamente relacionados ao ciclo produtivo, deveriam ser direcionados para o atendimento das expectativas do cliente, ou seja, o conceito de qualidade que antes era pensado ao produto final, deveria ser incorporado em todo o processo produtivo, do planejamento ao produto final vendido ao consumidor, sem esquecer do pós-vendas. Para isso ocorrer, ele propôs uma metodologia para o desenvolvimento dessas ações da qualidade, chamada de trilogia do Controle da Qualidade, como um processo cíclico de gerenciamento composto de planejamento, controle e melhoria da qualidade (SILVEIRA, 2017). Para ele, a qualidade se trata de um conjunto de atividades, como em um Espiral do Processo de Qualidade, em que há as principais atividades de uma empresa. A figura 2 ilustra a teoria de Juran e do Espiral do Processo de Qualidade. Figura 2. Espiral do progresso da qualidade. Fonte: Adaptado de Dias et al. (2009) » Pesquisa de mercado está ligado ao fornecimento de informações sobre o que o cliente deseja de fato, para que esta informação seja repassada aos desenvolvedores do produto. » Projeto e desenvolvimento do produto estão relacionados a produção baseada nas expectativas dos clientes. » Planejamento e desenvolvimento de processo são as fases de escolha dos processos de manufatura mais apropriados a esta produção. » Aquisição de materiais está ligado a criação de rede de fornecedores que também possuam qualidade de produto e de entrega. » Fabricação é o planejamento e controle de produção em si. » Inspeção e testes é o controle de qualidade de todo o processo de produção e inspeção final. » Embalagem e armazenamento, pensando já nas vendas. » Vendas e distribuição, processo importante devido ao contato com os clientes. » Instalação e colocação em operação. » Assistência técnica e serviços associados, no pós-vendas, por exemplo. Contribuições de Feigenbaun Segundo este autor, o controle de qualidade deve ser presente em todos o processo de produção, verificado, no âmbito comercial, em relação à rentabilidade, liderança de mercado, custo final e produtividade. Ele enfatiza que a qualidade não é definida pelo que é melhor, mas sim pelo que é melhor para o cliente e m relação ao preço de venda. Contribuições de Deming No fim da década de 1940, os produtos japoneses eram conhecidos no mercado internacional como de baixa qualidade. Os industriais do país, por isso, perceberam que a qualidade seria um diferencial para esse tipo de mercado, e foi neste contexto que as ideias desse pensador da qualidade mudaram completamente a indústria japonesa. Esse autor estabeleceu 14 pontos importantes sobre o tema da qualidade, propondo (SILVEIRA, 2017): 1. Estabelecimento de constância de propósitos para a melhoria do produto e do serviço, objetivando tornar-se competitivo, manter-se em atividade e gerar empregos. 2. Adoção à nova filosofia, especialmente pela administração, que deve conscientizar-se de suas responsabilidades e assumir a liderança na transformação. 3. Não dependência da inspeção para atingir a qualidade. Incorpore qualidade desde o começo do processo. 4. Abandono da prática de aprovar orçamentos com base somente no preço. 5. Melhore constantemente e continuamente cada processo. Melhorando a qualidade e a produtividade, consequentemente, os custos diminuirão. 6. Instituição de treinamento no local de trabalho. 7. Adoção e instituição da liderança, com um papel importante de ajudar as pessoas e os recursos tecnológicos a trabalharem melhor. 8. Eliminação do medo para que todos trabalhem de modo eficaz. 9. Eliminação de barreiras entre os departamentos da organização, de forma que as pessoas possam trabalhar em equipes. 10.Eliminação das metas numéricas, slogan e exortações para os trabalhadores que causem relações adversárias. 11. Eliminação das quotas numéricas e gerenciamento por objetivos. Substitua por liderança. 12. Remoção das barreiras que roubam das pessoas a satisfação e o orgulho pelo trabalho. 13. Adoção de um forte programa de educação, treinamento e automelhoria. 14. Transformação de um trabalho de todos para que todos trabalhem nisso. Além dessas recomendações, esse pensador da qualidade tem como contribuição mais importante o famoso ciclo PDCA, um método de gestão – que até vai além da qualidade. Segundo esse ciclo: » P (plan) é o planejamento da execução do trabalho a ser realizado em forma de um plano de ação, com a identificação, verificação das características e das causas principais do problema. » D (do) é a realização do trabalho. » C (check) é a verificação do cumprimento dos padrões, entre o que foi planejado para o realizado. » A (act) é a atuação sobre a diferença encontrada, caso seja encontrada (SILVEIRA, 2017). Mas falaremos mais sobre essa metodologia mais adiante. A diferença entre as propostas de Deming em relação aos pensadores da qualidade citados anteriormente é que o primeiro contribuiu para mudar toda a cultural da organização, inclusive administrativamente, enquanto os demais contribuíram mais em relação aos processos produtivos e relativos à prática do controle de qualidade em si. Para este autor, qualquer sistema pode ser melhorado, e os colaboradores são peças chaves para melhorar esse sistema junto com a gerência, ou seja, toda a gama hierárquica da organização é importante e responsável pela melhoria das atividades propostas. Contribuições de Ishikawa Com influência de Deminge de Juran, Ishikawa desenvolveu a teoria de que a qualidade total implica a participação de todos, assim como no trabalho em grupo e não individual. Para isso, ele classificou técnicas de controle estatístico em três grupos de complexidade crescente (SILVEIRA, 2017): » O primeiro grupo é formado por ferramentas necessárias para ser de conhecimento de todos da empresa e podem ser usadas nas análises e resolução de 90% dos problemas de qualidade: análise de pareto, diagrama causa e efeito, histograma, cartas de controle, folha de verificação, gráfico de dispersão e fluxograma. » O segundo grupo são os métodos estatísticos para o uso de especialistas da qualidade e por alguns gerentes responsáveis por esse quesito em sua seção, como estimativas estatísticas, projeto de experimentos e inspeção amostral. » O último grupo é formado por métodos estatísticos avançados, para uso de especialistas em qualidade, incluindo análise multivariável, técnicas de pesquisa operacional, entre outras. Falaremos, logo a seguir, da ferramenta de desenvolvimento de melhoria contínua que este autor desenvolveu, até hoje empregada e considerada uma das mais importantes ferramentas metodológicas sobre o tema. Uma vez conhecidos os principais teóricos e suas contribuições sobre a qualidade, partiremos para a compreensão dos principais indicadores de qualidade e das ferramentas para a melhoria contínua. Indicadores da qualidade Grande parte das organizações encontram dificuldades para gerenciar seus processos de forma eficiente porque não possuem bons indicadores da qualidade. Podemos definir um indicador da qualidade como uma informação bem estruturada que avalia componentes importantes de produtos, serviços ou métodos de produção. Os indicadores podem ser definidos com base quantitativa, ou seja, podem ser mensuráveis, a fim de se avaliar o impacto do produto final sobre o consumidor e o quanto as melhorias buscadas ao longo do processo são relevantes para a qualidade final do produto ou serviço em relação à opinião dos consumidores e partes interessadas como um todo. Melhoria contínua Nenhuma forma de gestão é inflexível e definitiva. Isso vale para os Sistemas de Gestão da Qualidade e nas gestões como um todo. A atualização constante é necessária para que as organizações se adequem sempre a um mercado dinâmico. Para isso, as organizações estão continuamente buscando métodos e formas de se atualizarem para procurar avançar no processo de melhoramento ou mudança. As auditorias internas são muito importantes para a melhoria contínua, uma vez que podem identificar as falhas e as oportunidades de melhoria. Mas falaremos posteriormente sobre as auditorias. Há algumas ferramentas de qualidade associadas ao processo de melhoria. Entre as principais ferramentas, estão: » Brainstorming: usado para gerar muitas ideias em um curto período de tempo, podendo ser aplicado em qualquer etapa do processo de solução de problemas, sendo fundamental na identificação e na seleção das questões a serem tratadas e na geração de possíveis soluções. » Diagrama de Pareto: tem o conceito de que, na maioria das situações, 80% das consequências são resultado de 20% das causas, o que pode ajudar a tratar não conformidades, identificar pontos de melhoria e definir que planos de ação devem ser atacados primeiro no que diz respeito a prioridade. » Histograma: usados para mostrar a frequência com que algo acontece, por meio de forma gráfica em histograma. A figura 3 a seguir ilustra um histograma: Figura 3. Exemplo simples de histograma. Fonte: própria autora. » Matriz GUTFI: podemos dizer que auxilia a priorização de resolução de problemas, classificando cada problema que você julga pertinente da organização pela ótica da gravidade (do problema), da urgência (de resolução dele) e pela tendência (dele piorar com rapidez ou de forma lenta). » Diagrama de Ishikawa: também conhecido como Espinha de Peixe, utiliza como procedimento a construção de um diagrama de consequências que começa por um evento inicial e, posteriormente, cada evento desenvolvido é questionado, possibilitando uma avaliação qualitativa e quantitativa das consequências destes, a vulnerabilidade ambiental, social ou outra. A figura 4 ilustra um exemplo de Diagrama Ishikawa: Figura 4. Diagrama Ishikawa ou Espinha de Peixe. Fonte: Rupperthal (2013). » Análise do Campo de Força: utilizada internamente nas organizações para identificar quais as forças favoráveis e contrárias a determinada mudança proposta, qual a intensidade de cada uma destas forças, definindo qual a resultante (exatamente como na Física), e reforçando as forças favoráveis à mudança, bem como administrando as forças contrárias. A figura 5 mostra um exemplo de análise de campos de força. Figura 5. Análise de Campo de Força. Fonte: Adaptado de Stonner(2016). A International Organization for Standardization (ISO), criadora de normas como a 9001, foi fundada em 1947, tornou-se a mais conhecida organização de criação de normas para o público atualmente. Mas antes dela, outras duas organizações também foram inovadoras na criação de normas internacionais. A International Electrotechnical Commission (IEC) é uma organização sem fins lucrativos que foi criada em 1906 para publicação de normas internacionais relativas às tecnologias elétricas, eletrônicas e afins. É um trabalho realizado por cerca de 20 mil especialistas, membros dos setores industriais, comércio, governo, laboratórios de pesquisa, acadêmicos e consumidores, a fim de buscar um trabalho com avaliação técnica e padronização de tais normas. A organização possui sedes em todos os continentes. Na América Latina, ela está localizada em São Paulo (IEC, 2018). É importante salientar que esta organização, atuante em nível global, junto com a ISO, cooperam-se entre elas para que todas as normas internacionais se integrem e se completem. Para que isso ocorra, há também comissões mistas entre os membros para que combinem todos os conhecimentos relevantes de especialistas que trabalham em áreas relacionadas (IEC, 2018). Antes mesmo da criação da IEC, em 1865, foi fundada a International Telecommunication Union (ITU), organização baseada na parceria público-privada desde a sua criação, que possui a colaboração de 193 países e cerca de 800 entidades do setor privado e instituições acadêmicas. Esta é a agência ligada às Nações Unidas especializada em tecnologias de informação e comunicação, ou seja, desenvolvem padrões técnicos para garantir que as redes de tecnologia se interconectem de maneira eficiente. Portanto, desde os maiores fabricantes às pequenas empresas de telecomunicações, estão presentes e representados nesta organização (ITU, 2018). Em relação especificamente à norma ISO 9001 na qual estamos tratando neste material, esta é produto resultante da evolução de normas que foram elaboradas para a segurança de instalações nucleares e artefatos militares e aeroespaciais (ROMAN, 2013). Segundo o mesmo autor, o Departamento de Defesa dos EUA, a partir de 1959, passou a exigir que os fornecedores das forças armadas tivessem um programa de qualidade, a partir da instituição da Quality Program Requirements (Requisitos de Programas de Garantia da Qualidade). Da mesma forma, essa tendência ocorria em todos os países que desenvolviam a tecnologia nuclear. Na ocasião da Guerra Fria, com a expansão das atividades militares, houve um esforço maior em desenvolver normas que dessem a credibilidade, eficácia e confiança à grande quantidade de material bélico produzido em todo o mundo e comprado pelos países em guerra. Devido a isso, surgiram as normas AQAP (Allied Quality Assurance Procedures – Procedimentos de Garantia da Qualidade da OTAN) (ROMAN, 2013). A Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN foi uma organizaçãocriada em 1949, quando do fim da Segunda Guerra Mundial e a divisão do mundo entre os países de economia capitalista, liderados pelos EUA, e os países de economia socialista, liderados pela URSS. A OTAN, então liderada pelos EUA, reunia países europeus capitalistas, neste contexto de Guerra Fria, determinando o comprometimento dos países envolvidos a ter colaboração militar entre estes, para caso de ataques dos países socialistas. Embora tenha ocorrido o declínio do sistema socialista (especialmente nos países europeus), a OTAN permaneceu enquanto acordo militar e é até hoje atuante na Europa, exercendo importante influência nas decisões políticas, inclusive (GASPARETTO JUNIOR, 2018). Isso quer dizer que as normas AQAP criadas especificamente para tratar da garantia de qualidade de artefatos militares adquiridos entre os países da OTAN ainda está vigente e atuante. Já no fim da década de 1970, a Inglaterra publicou as normas BS5750, uma evolução da citada anteriormente, mas que não se restringia somente às atividades militares. Era o caminho para que, em 1987, a ISO trouxesse a série de normas 9000, com poucas adaptações da norma anterior, mas que tiveram grande repercussão na Europa a princípio e, na década de 1990, se propagou e popularizou em todo o mundo. Segundo Roman (2013), “em 1994, ano da primeira revisão, os 73 países de maior PIB do mundo a adotaram como norma nacional”. Histórico das normalizações no Brasil É importante salientar que toda a cultura de normalização técnica no Brasil, obviamente, acompanha e acompanhou uma tendência mundial de avanços percebidos ao longo da história da ciência e da tecnologia como um todo. No Brasil, desde o final do século XIX, a relevância da tecnologia enquanto instrumento de transformação e agregação de valor a bens e serviços já era vista. A criação de um gabinete de ensaios de resistência de materiais de construção, ligado à Faculdade de Engenharia da Universidade de São Paulo, sendo que o emprego das técnicas criadas a partir desses estudos influenciou plenamente na construção de ferrovias, na engenharia civil, na mecânica, na mineração, na indústria e nas comunicações em geral. Em 1926, esse gabinete foi transformado em um importante Laboratório de Ensaios de Materiais, um dos precursores para a criação de alguns comitês técnicos que antecederam a ABNT. Fundamental no processo histórico da criação de normas no país é compreender que este processo acompanha todo o processo de criação e evolução das instituições tecnológicas. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) foi criada em 1940, como uma entidade privada sem fins lucrativos responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (NBR’s) e publicação das normas ISO. A associação atua também com avaliações de conformidade e dispõe de programas para certificação de produtos, sistemas e rotulagem ambiental. Ainda, na década de 1940, houve a criação da comissão de Organização do Centro Técnico da Aeronáutica, um dos mais importantes centros de pesquisa que culminou na criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), até hoje um conceituado local de produção tecnológica e técnica do setor, nos anos 1950. Na década de 1960, com o crescente aumento na produção de normas, foi criado o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM) no início da década e os órgãos estaduais equivalentes Instituto de Pesos e Medidas (IPEM), já no fim da década. Estes tornaram-se um importante elemento de capilarização da cultura de criação de normas. Segundo Silva (2003), “a partir dessa ação, cresceram as demandas por normas e regulamentos como preceito básico normativo para a crescente atividade de verificação de instrumentos e equipamentos utilizados no comércio e nas práticas fiscalizatórias de proteção do consumidor”. O desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro na década de 1970 foi um importante impacto no desenvolvimento de normas, uma vez que fortaleceu a presença do país nos fóruns internacionais responsáveis pela elaboração de normas internacionais para a indústria nuclear, alavancando, em especial, o controle da qualidade. Ainda na década de 1970, outro destaque foi a criação do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (SINMETRO) pela Lei no 5.966, de 11 de dezembro de 1973, sendo assim, a normalização técnica é entendida como um instrumento de competitividade, especialmente as inovações tecnológicas da indústria básica. “Já se percebia a necessidade de disciplinar, do ponto de vista qualitativo, a produção e comercialização de bens manufaturados entregues ao consumidor brasileiro, inclusive aqueles importados, os quais nem sempre atendem a requisitos mínimos e razoáveis de qualidade e segurança” (SILVA, 2003). A finalidade da lei foi formular e executar a política nacional de metrologia, normalização industrial e certificação de qualidade de produtos industriais, um sistema integrando as funções complementares da chamada Tecnologia Industrial Básica – TIB (normalização, metrologia, certificação, qualidade, propriedade industrial, posteriormente incorporando o conceito da avaliação da conformidade e as tecnologias de gestão). Nesse contexto, foi também criado o Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO), então concebido para ser o órgão normativo do SINMETRO, portanto, cabendo-lhe formular a política de metrologia, normalização e qualidade industrial, coordenando, regulamentando e supervisionando a sua execução. Esse conselho alterou as atribuições do INPM, o que culminou na criação do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), ampliando suas ações, tornando-o uma autarquia federal e gestor do SINMETRO. Ao longo das décadas de 1970 e 1980, com o desenvolvimento da capacidade tecnológica e científica do país, houve um explícito avanço na normalização técnica brasileira. Um dos grandes marcos para o avanço e fortalecimento da normalização do país foi a concessão de incentivos fiscais a empresas que auxiliassem na participação da elaboração de normas técnicas, o que permitiu que tais empresas descontassem estes gastos no seu imposto de renda. Os avanços e as conquistas foram importantes no que concerne a atividades como o credenciamento de laboratórios de calibração, por exemplo. Foi criada a Rede Brasileira de Calibração, integrada por laboratórios públicos e privados. Isso também ocorreu com laboratórios das mais diversas áreas de pesquisa e tecnologia. Afinal, o que é uma Norma Técnica? Segundo a definição internacional, uma norma técnica é um tipo de documento estabelecido a partir de um consenso entre os interessados e uma equipe de especialistas e aprovado por organismos reconhecidos – como no caso, a ISO –, que fornece diretrizes de uso comum para a atividade específica ou para seus resultados com o objetivo final de alinhamento e ordenamento de um contexto específico (MARIANI, 2006). É importante lembrar que as normas são desenvolvidas a fim de beneficiar a todos os interessados e, por isso, estes estão no processo de criação destas normas. Há normas aplicáveis para campos e setores distintos, desde processos, sistemas de gestão, até produtos, pessoas etc., para organizações das mais diversas escalas de tamanho. O QUE É A ISO? A Organização Internacional para Padronização – ISO (International Organization for Standardization) foi fundada em 1946 por representantes de apenas vinte e cinco países com o objetivo de alinhar, em nível internacional, a coordenação e unificação das normas industriais. Hoje a ISO possui representantes de mais de 150 países – e cerca de 95% do PIB mundial! – e já publicou mais de 16.500 padrões internacionais (SANTOS, 2017). Atualmente, a ISO estabelece normas em todos os campos do conhecimento, exceto nas áreas de engenharia eletrônicae elétrica, que são de responsabilidade da International Electrotechnical Commission, que já citamos anteriormente. A palavra ISO, embora se assemelhe à sigla da organização na qual foi criada – International Organization for Standardization –, é também uma alusão à palavra de prefixo grega isos, que significa igual (usada em palavras como isóbara, isonomia, entre outras), tal qual deve ser as normas em todo o mundo, conforme os princípios da organização. O nome fixo ISO evita também o uso de siglas em cada país na qual o nome da organização fosse traduzido (MARIANI, 2006). COMO AS NORMAS SÃO ELABORADAS? Elas são elaboradas a partir de um comitê formado por especialistas da área específica, que iniciam o processo de pesquisa para um projeto de atendimento à alguma necessidade específica do mercado. Para tal projeto tornar-se norma, ele deverá ser aprovado por meio de votação pelos conselheiros responsáveis da ISO. Todo esse processo de construção de uma norma demora, no mínimo, três anos de trabalho (SANTOS, 2017). A ISO deve ser elaborada conciliando o interesse dos produtores, usuários, governos e da comunidade científica na preparação de normas internacionais. Por isso, possui mais de vinte mil especialistas de todo o mundo, e que participam anualmente dos trabalhos técnicos da ISO, dos quais já resultou a publicação de mais de treze mil normas desde a fundação da organização. Os objetivos principais da normalização ISO são (PORTAL EDUCAÇÃO, 2018): » Eliminação de barreiras técnicas/comerciais, pois, com a padronização das normas, é evitada a existência de normas conflitantes para cada país, o que facilita as negociações internacionais. » Economia, proporcionando a redução na quantidade de procedimentos e redução de custos com economia de matéria-prima e utilização de recursos naturais, por exemplo. » Comunicação, melhorando a confiabilidade na organização e nas relações comerciais entre estes e seus consumidores, entre países etc. » Segurança, pois muitas normas são criadas para proteger a saúde e a segurança de funcionários e clientes de uma organização. » Proteção do consumidor, uma vez que as normas promovem a segurança e o poder do cliente de aferir a qualidade dos produtos consumidos. É importante salientar que a ISO não desenvolve uma norma por conta própria. A organização responde a uma demanda da indústria ou setor de serviço, ou a outras partes interessadas, como o próprio consumidor. Certificação É um conjunto de atividades propostas pela norma com o objetivo de atestar publicamente que determinado produto ou processo está em conformidade com os e requisitos especificados na referida norma. Quando há a certificação, é sinal que todo um processo ocorreu, não apenas a ação da certificação. Isso porque ela começa após um longo processo de conscientização da necessidade da melhoria da qualidade para o aumento da competitividade e da permanência no mercado, sobretudo. Assim, o conceito de qualidade é passado por todos os setores de uma determinada empresa, abrangendo aspectos internos e externos com fornecedores e clientes. Para a certificação propriamente dita, há desde atividades de análise de documentação, auditorias e inspeções, coletas e ensaios de produtos, realizados por empresas especializadas em certificação. No Brasil, país com uma das maiores taxas de crescimento em certificações, ela é efetuada por organismos certificadores credenciados no Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), conforme modelo do Sistema Brasileiro de Certificação (SBC). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é um dos organismos credenciados para realizar auditorias e certificações. ABNT A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) foi fundada em 1940 como entidade privada sem fins lucrativos, sendo um organismo credenciado pelo INMETRO para realizar auditorias e certificações, uma vez que é a representação brasileira na ISO e, por isso, é responsável pela produção das normas nacionais ligadas a esta. A ABNT é membro fundador da International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização – ISO), da Comisión Panamericana de Normas Técnicas (Comissão Pan- Americana de Normas Técnicas – Copant) e da Asociación Mercosur de Normalización (Associação Mercosul de Normalização – AMN). Desde a sua fundação, é também membro da International Electrotechnical Commission (Comissão Eletrotécnica Internacional – IEC). Além de ser responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (ABNT NBR), atua na avaliação da conformidade e dispõe de programas para certificação de produtos, sistemas e rotulagem ambiental. Esta atividade está fundamentada em guias e princípios técnicos internacionalmente aceitos e alicerçada em uma estrutura técnica e de auditores multidisciplinares, garantindo credibilidade, ética e reconhecimento dos serviços prestados. A ABNT possui comitês de estudo para cada área de elaboração de normas. Especificamente para a área da qualidade, há o chamado CB- 025 – Comitê Brasileiro da Qualidade (ALVES et al., 2017). Segundo a ABNT, o número de normas do seu acervo, em 2016, era de 7.822 normas. “Já a ISO possuía 21.579 normas e documentos relacionados publicados. Em relação ao número mundial de certificados baseados na ISO 9001, a ISO mostra que até 2015 eram 1.033.936” (ALVES et al., 2017). ATENÇÃO A ISO pode ser aplicada à pequenas empresas? As normas podem auxiliar empresas de qualquer tamanho e setor a aumentar a sua produtividade, reduzir custos e expandir seus mercados de comercialização e consumidor. Algumas formas disso ocorrer são: a partir do cumprimento dos requisitos básicos da empresa a partir de uma redução de custo nos mais variados aspectos do negócio (compra de matéria-prima, reaproveitamento, redução de uso de recursos como água e energia etc.); criação de confiança do mercado consumidor no produto e no processo da empresa, por ser segura e confiável ao responder corretamente às normas propostas; obtenção de um maior mercado de compra de insumos e especialmente, de venda posteriormente, por ter maior aceitação no mercado (SANTOS, 2017). Aplicações O uso de normas de padronização começou com coisas simples, como pesos e medidas, mas, ao longo dos últimos anos, as padronizações cobrem desde a numeração de sapatos até as redes wi-fi conectadas no mundo todo. Essa expansão de padrões estabelecidos para diversos setores trouxe aos consumidores a confiança na segurança e qualidade das mais diversas gamas de produtos. Quando falamos de certificação e normatização da ISO, sem dúvida a mais conhecida é a ISO9001, justamente por tratar de padrões de qualidade que abrangem diversos setores. Mas, vamos lembrar de outros exemplos bastante populares que são padronizados e estabelecidos pela ISO (MARIANI, 2006): » Código de velocidade para filmes fotográficos: a norma ISO 5800:1987 determina padrões de velocidade para filmes negativos coloridos para fotografia, enquanto a norma ISO 12232:2006 determina o índice de exposição, classificações de velocidade ISO, sensibilidade de saída padrão e índice de exposição recomendado para as câmeras fotográficas. » Sistema de medidas universal (SI): a série ISO 31:1992 é um guia de unidades de medida e fórmulas, especialmente dedicada a materiais científicos e educacionais. A norma ISO/IEC 80000 fornece definições e informações sobre quantidades usadas em setores de ciência, engenharia, metrologia e indústria. » Tamanhos de papel: A ISO 216:1975 foi criada para estabelecer o tamanho dos papéis que nós conhecemos hoje com A4, A3, A2 etc. A figura 6 mostra um conhecido esquema de tamanhos de papel utilizados em todo o mundo. Figura 6. Ilustração dos tamanhos de papel conforme a Norma ISO 216: 1975, uma das mais populares e utilizadasaté hoje. Fonte: <https://www.tamanhosdepapel.com/b-papel-tamanhos.htm>. Acesso em: 16/5/2019. » Códigos para nomes de países, moedas e línguas: por exemplo, a norma ISO 4217 padroniza internacionalmente códigos de três letras para as moedas correntes nos países do mundo. » Metragem de roscas, parafusos, entre outros: uma das inúmeras normas deste tipo é a ISO 7412: 1984, que determina um padrão para parafusos hexagonais específicos. UNIDADE 2 - NORMAS ISO 9000 A FAMÍLIA ISO 9000 HISTÓRICO A FAMÍLIA ISO 9000 Inspirada fortemente nas normas britânicas de qualidade, somadas às experiências e contribuições de especialistas de diversos países, a ISO lançou, em 1987, a família de normas ISO 9000. Pode ser considerada um marco na evolução histórica da gestão de qualidade, sendo que, a partir desta, todas as demais normas começaram a evoluir. Podemos dizer que o conceito de sistema de gestão construído pela criação desta norma – e sua família de normas – enquanto conjunto de políticas, normas, procedimentos e, por que não, cultura, que permitem as organizações gerirem os processos com foco na qualidade. Para a compreensão do SGQ, a NBR ISO 9000:2005 apresenta os fundamentos de sistemas de gestão da qualidade. O quadro 1 mostra os fundamentos do Sistema de Gestão de Qualidade abordados na norma: Quadro 1. Fundamentos do Sistema de Gestão de Qualidade. FUNDAMENTOS DESCRIÇÃO Justificativas para SGQ Aumentar a satisfação do cliente e trazer retorno para a organização. Requisitos para SGQ e produtos Os requisitos de SGQ estão na NBR ISO 9001 e os requisitos de produto podem ser especificados pela organização ou cliente. Abordagem de SGQ Estabelece as etapas para desenvolvimento e implementação de um SGQ. Abordagem de Processo Definição de processo e encorajamento da adoção do gerenciamento de processos inter-relacionados e interativos – Sistema de entrada e saída. Política da Qualidade e Objetivos da qualidade Proporcionar foco a fim de direcionar a organização – análise crítica. Função da Alta Direção Uso de liderança e ações para criar um ambiente de pessoas envolvidas em que o SGQ opere com eficiência. Documentação Permite a comunicação do propósito e a consistência da ação. Tipos de documentos: manuais de qualidade, planos de qualidade, especificações, diretrizes e procedimentos, instruções e registros, entre outros. Avaliação de SGQ Processos de avaliação, auditoria interna/externa, análise crítica/ autoavaliação. Melhoria contínua Aumento da satisfação dos clientes e de outras partes interessadas por meio de análises, pesquisas, avaliações etc. Função das técnicas estatísticas Uso de técnicas para entender a variabilidade dos processos, auxiliando na resolução de problemas e aumento de eficiência. SQG e outros Os objetivos da qualidade complementando outros enfoques de Sistema de Gestão objetivos da organização como, por exemplo, crescimento, meio ambiente, recursos financeiros, saúde e segurança, SIG etc. Relação entre SGQ e modelos de Excelência Princípios comuns como a identificação de pontos fortes e oportunidades de melhoria, avaliação com base em modelos mais genéricos, base para melhorias contínuas, utilização de metodologia PDCA etc. Fonte: Adaptado de SANTOS (2017). A partir de 1994, começaram a ser realizadas algumas revisões da norma ISO 9001, sendo esta primeira realizada apenas para melhorar sua interpretação, sendo que, em 2000, ocorreu uma importante e maior revisão desta norma. Mas vamos falar sobre isso a seguir. É importante com isso lembrar que as revisões das normas são importantes para acompanhar a própria evolução tecnológica e produtiva dos mais diversos setores. Por isso mesmo, a ISO determina que as normas devem ser revisadas em intervalos inferiores a cinco anos (PORTAL EDUCAÇÃO, 2018). Primeira versão: 1987 Conforme já dissemos anteriormente, a primeira versão construída da norma ISO 9001 foi bastante inspirada nas normas britânicas que já existiam, como a BS5750, publicada em 1979, que já falamos anteriormente. Essa versão inicial também contemplava outras duas normas – ISO 9002 e ISO 9003, que tratavam sobre a certificação das organizações. O principal foco foi abordar ações preventivas, no que era chamado até então de Sistema de Garantia de Qualidade, sendo que as próprias organizações eram orientadas a gerar seus próprios requisitos de análise, com procedimentos e inspeções, o que de certa forma sobrecarregava seus gestores e gerava excessos de documentação (ALVES et al., 2017). Segundo os mesmos autores, as metas das empresas eram produzir com qualidade desejada, mas realizar isso com o menor custo possível. Os principais objetivos da norma eram: » Estabelecer as diferenças e relações entre os conceitos de qualidade diversos. » Atingir uma qualidade satisfatória ao seu produto e mantê-lo, para atender as necessidades de seus clientes. » Desenvolver a confiança de seus clientes na qualidade do produto/serviço prestado. Importante saber que a Norma, nessa sua primeira versão, marcou todo o mercado voltado à qualidade no período. Como era uma iniciativa nova, a auditoria e o papel do auditor eram temidos pelas organizações, e os auditores tinham um grau de importância e de qualificação alto e elitizado, sendo poucos os que conseguiam chegar nesse patamar profissional (BERNARDO, 2017). Primeira revisão: 1994 A própria evolução do setor produtivo, tecnológico e administrativo pressionou para que houvesse revisões da norma inicialmente criada. Sete anos após a criação da norma, a primeira revisão foi realizada, dando enfoque ao desenvolvimento e controle dos processos para assegurar a satisfação dos clientes. A grande novidade dessa revisão é a exigência de se criar um manual de qualidade para se referenciar os procedimentos e documentos do sistema de qualidade. A norma passou a exigir também a participação de representantes de todas as funções das etapas de projeto no qual está sendo examinado, sendo que a validação do projeto precisa ser realizada para garantir que o produto esteja de acordo com as necessidades ou requisitos do usuário definido (ALVES et al., 2017). Assim como na versão anterior, houve uma maior ênfase às ações preventivas, incluindo uma seção inteira chamada de Ação Corretiva e Preventiva, com procedimentos para desenvolver essa prevenção. Cabe aqui salientar a importância da norma ISO 9001 para a evolução deste conceito de qualidade no que tange as operações de indústrias e organizações em geral. Segundo Alves et al. (2017), o conceito mudou o enfoque ao longo dos anos, inicialmente pensando-se nas ações emergenciais e corretivas, evoluindo para o conceito de prevenção, especialmente após a criação da norma que estamos descrevendo, já na década de 1980. Esse foco preventivo tornou-se também prioridade para outros sistemas de gestão e suas normas que surgiram posteriormente, como a ambiental, saúde e segurança, segurança alimentar, entre outras. A figura 7 ilustra esse processo evolutivo. Figura 7. Evolução do conceito de qualidade. Fonte: Adaptado de Chaves; Campello (2016). Ainda que avanços tenham sido conquistados ao longo dessa nova revisão, segundo Alves (2017), o mercado ainda exigia uma norma mais estrutural e direcionada tecnicamente, o que acarretou uma nova revisão. Segunda revisão (2000) Em 2000, foi realizada uma nova revisão da norma ISO 9001, com mudanças no foco e na estrutura desta, bem como a exigência de adequação a esses novos requisitos para aquelas organizações que já eram certificadas. Segundo Alves et al. (2017), a nova revisão ficou mais simples de entendimento, mais objetiva e focada na satisfação dos clientes finais, bem como a melhoria contínua e a conformidade do produto. Mas não houve exigências na estrutura da documentação do SGA daorganização, assim, a adequação pela qual as organizações certificadas devessem fazer, não exigiriam a reescrita de documentos ligados ao SGA. A nova norma também valorizou o mapeamento dos processos das organizações, ou seja, “a transformação de entradas em saídas por meio de recursos (máquinas, software, pessoas, ambiente) e seguindo os métodos planejados (instruções de trabalho, procedimentos, manuais, legislação)” (ALVES et al., 2017). A norma da versão 2000 apresentava princípios do SGQ que deveriam ser disseminados na cultura organizacional para melhorar o desempenho dos resultados ligados à qualidade, por meio dos indicadores de eficácia e eficiência. Os princípios elencados são: liderança, foco no cliente, envolvimento das pessoas, abordagem por processos, melhoria contínua, abordagem factual na tomada de decisões, abordagem sistêmica para a gestão e benefícios mútuos nas relações com os fornecedores (ALVES et al., 2017). Interessante ver que, nessa versão, o termo “procedimento documentado” aparece seis vezes, em seis requisitos: controle de documentos; controle de registros; auditoria interna; controle de produto não conforme; ação corretiva e ação preventiva. Isso facilitou e diminuiu a burocracia das antigas versões da norma (BERNARDO, 2017). Terceira revisão: 2008 Oito anos após a última revisão, a norma foi repaginada e modernizada, sobretudo nos seus princípios de SGQ e a preocupação com as partes interessadas (stakeholders) ganhou um foco maior nesta versão, considerando também os fornecedores, colaboradores e as agências reguladoras como partes interessadas. Podemos dizer que a norma ISO 9001: 2008 não apresentou mudanças significativas, só ajustes e esclarecimentos, mas serviu para reafirmar a norma como padrão de gestão de qualidade referência internacional. A figura 8 resume o conceito de qualidade da norma e sua revisão. Figura 8. Aspectos da qualidade. Fonte: Adaptado de Alves et al. (2017). ATENÇÃO Um dos fatores que potencializou a incorporação dos princípios de SGQ nas organizações foi a aprovação da Lei no 8.078/1990, que estabeleceu o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, praticamente obrigando empresas e indústrias em geral a se ajustarem à nova realidade. Versão atual: 2015 Na versão mais recente da norma, realizada em 2015, os princípios de SGQ tiveram pequenas alterações em relação as outras versões da norma, destacando sete pontos: foco no cliente, liderança, engajamento das pessoas, abordagem de processos, melhoria, tomada de decisão baseada em evidência e gestão de relacionamento. Tais princípios são os pilares do compromisso da organização com o SGQ, norteando desde as ações da operação até a gerência e direção da empresa, visando sobretudo a satisfação do cliente. A Análise de Riscos voltada ao SGQ é a maior novidade desta versão, o que se tornou prática recente nas últimas décadas, fazendo com que a ISO publicasse diversas normas sobre o assunto, como por exemplo a ISO 31000, bem como o surgimento de metodologias e técnicas de análise de risco como o FMEA (Análise de Modo e Efeitos de Falha Potencial), o HazOp, entre outros, que trabalham na identificação de falhas no processo produtivo e nos produtos, para gerar ações de prevenção a serem aplicadas na organização. Mas falaremos sobre Análise de Risco posteriormente. Além de modernizada, a versão da norma ISO 9001 foi desenvolvida pensando no alinhamento com outras normas como a ISO 14001:2015 de Sistema de Gestão Ambiental e a OHSAS 18001:2007 Sistema de Gestão de Saúde Ocupacional e Segurança, a fim de facilitar a implementação do Sistema Integrado de Gestão. Isso porque as organizações cada vez mais estão descobrindo que o Sistema de Gestão da Qualidade, por si só, não torna a eficiência desta organização algo completo. Isso é ainda mais reforçado pelo fato destas duas referidas normas terem sido desenvolvidas para serem usadas juntamente com os sistemas baseados na ISO 9001. Os Sistemas Integrados de Gestão (SIGs, ou Sistemas de Gestão Integrada), como são chamados, visam à integração dos processos de Qualidade com os de Gestão Ambiental e/ou de Segurança e Saúde no Trabalho, dependendo da atividade fim da organização. Isso gera também um ganho econômico, visto que a manutenção de 3 sistemas separados (Qualidade, Meio Ambiente e SST) gera um custo muito maior do que um SIG, independentemente do tamanho da empresa. Além disso, não faz muito sentido ter procedimentos similares para os processos de planejamento, treinamento, controle de documentos e dados, aquisição, auditorias internas, análise crítica etc., tanto para Qualidade, Meio Ambiente e/ou SST. Estabelecer metas de produtividade faz com que as organizações maximizem sua eficiência. Entre os diversos benefícios do Sistema de Gestão Integrada, estão: » Melhoria de qualidade em produtos e serviços. » Realização de objetivos e metas da empresa. » Economia de tempo e custos. » Transparência dos processos internos. » Fortalecimento da imagem da empresa e a participação no mercado. » Maior controle dos riscos com acidentes ambientais. » Satisfação de clientes, funcionários e acionistas. » Satisfação dos critérios dos investidores e melhoria do acesso ao capital. » Aumento da competitividade. » Assegurar às partes interessadas o comprometimento com uma gestão ambiental demonstrável. » Redução e controle de custos ambientais. » Oportunidades para conservação de recursos e energia. » Melhoria do relacionamento com todas as partes interessadas (clientes, acionistas, ONG's, fornecedores, governo e funcionários). » Prevenção de falhas ao invés de suas correções. Além desses, vale lembrar que, ao implementar um SIG, as empresas estarão atendendo também a todas as Legislações Ambientais e às NRs – Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho – vigentes. Vocabulário O vocabulário dentro do contexto do Sistema de Gestão de Qualidade possui termos e conceitos que norteiam a compreensão da norma ISO 9001: 2015. » Processo – é o conjunto de atividades inter-relacionadas ou interativas que transforma insumos (entradas) em produtos (saídas). » Qualidade – é o grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos. » Requisito – necessidade ou expectativa que é expressa, geralmente, de forma implícita ou obrigatória. » Sistema – conjunto de elementos inter-relacionados ou interativos. » Sistema de gestão – sistema para estabelecer políticas e objetivos e para atingir esses objetivos. » Sistema de gestão da qualidade – é um sistema de gestão para dirigir e controlar uma organização, no que diz respeito à qualidade. » Gestão – atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização. » Eficácia – extensão na qual as atividades planejadas são realizadas e os resultados planejados, alcançados. » Eficiência – resultado entre o resultado alcançado e os recursos usados. Correlação entre a ISO 9001:2008 e a ISO 9001:2015 Como podemos observar ao longo das atualizações da norma, esta também é um exemplo do que chama de melhoria contínua, uma vez que busca se adaptar à realidade atual e com sua aplicabilidade dentro desta. Para estruturar essa nova versão, foram consideradas as recomendações da norma ISO 21500: 2012: Orientações sobre gerenciamento de projetos (OST; SILVEIRA, 2018). A partir de setembro de 2018, passaram a ser válidas as certificações baseadas na ISO 9001: 2015. A nova versão incentiva as organizações a entender o contexto no qual ela está, identificando os chamados stakeholders (partes interessadas), antecipando riscos e aproveitanado oportunidades para construir estratégia de atuação. Partes interessadas Identificar quem são as pessoas que, de alguma forma, estão relacionadas com a organizaçãoe todo o seu contexto é fundamental para buscar as soluções que se enquadrem nos anseios destas pessoas. Estas pessoas são chamadas de partes interessadas – ou stakeholders. As partes interessadas valorosas são aquelas que, por algum motivo, podem oferecer risco para a sustentabilidade da organização, se suas necessidades e expectativas não forem atendidas de forma satisfatória. Por isso, as partes interessadas vão além dos clientes, o que é ilustrado a ISO 9000:2015, pois podem ser os próprios fornecedores, colaboradores etc. Estas podem variar de acordo com o enfoque que se é dado, ou seja, as partes interessadas relacionadas ao meio ambiente podem não ser as mesmas da área da qualidade e, assim, ocorre com todas as áreas e viés de análise. A qualidade do produto final, por exemplo, pode não ser o relevante para alguém que é fornecedor de matéria-prima. Ou pode ser, dependendo do quanto essa matéria-prima é vista pelo mercado consumidor. Todas as expectativas devem ser analisadas e “cruzadas” com cada um dos requisitos de uma organização para se traçar essas partes interessadas. A figura 9 ilustra o que descrevemos e a relevância das partes interessadas. Figura 9. Esquema de relevância das partes interessadas. Fonte: Adaptado de Bernardo (2017). Dessa forma, compreender e identificar quem são os importantes para a organização é assegurar que o SGA pode ser otimizado e atingir as metas e os objetivos propostos no que se trata – ao menos – da satisfação de todas as partes interessadas relevantes e elementares, conforme a ISO 9001:2015. Pensando nos clientes, especificamente, o atendimento às suas necessidades (presentes e futuras) e expectativas é o foco principal da gestão de qualidade em geral. A interação com os clientes e, dessa forma, aparece como um importante instrumento de valorização deste cliente e para o sucesso da organização. Essa interação fomenta a confiança e fidelidade deste cliente, caso contrário, este cliente pode migrar para outros serviços e produtos que atendam mais satisfatoriamente seus objetivos e anseios consumidores. Com o surgimento de outras normas ligadas ao sistema de gestão, como falamos anteriormente da ISO 14001, houve a necessidade, nessa nova versão da ISO 9001, de alinhar-se com estas demais normas, por isso, nessa última versão, algumas terminologias e a estrutura das seções foram um pouco modificadas: As principais mudanças em terminologias foram: » Produto passou a ser bens e serviços. » O termo exclusões foi removido. » O termo melhoria contínua passou a se chamar só melhoria. » Remoção do item risco e ação preventiva, que foi integrado no item de planejamento com o nome riscos e oportunidades. » Documentos e registros foram alterados para informação documentada. A própria norma indica as mudanças nos termos e definições em relação à norma anterior na planilha anexada à norma. O quadro 2 indica as principais mudanças terminológicas indicadas na norma: Quadro 2. Principais diferenças terminológicas entre a ABNT NBR ISO 9001: 2008 e a ABNT NBR ISO 9001: 2015. ISO 9001: 2008 ISO 9001: 2015 Produtos. Produtos e serviços. Exclusões. Termo não usado. Representante da direção. Termo não usado (as responsabilidades e autoridades são atribuídas, mas não há um requisito específico sobre um único representante da direção da organização. Documentação, manual da qualidade, procedimentos documentados, registros. Termos foram sintetizados no item informação documentada. Ambiente de trabalho. Ambiente para operação de processos. Equipamento de monitoramento e medição. Recursos de monitoramento e medição. Produto adquirido. Produtos e serviços providos externamente. Fornecedor. Provedor externo. Fonte: ABNT (2015). Há algumas mudanças terminológicas e de itemização significativas, mas, sobretudo, há alterações conceituais importantes na norma. Onde a norma cita “abordagem de processo”, é discutida a questão da mentalidade de risco, algo que está presente em toda a norma. A chamada mentalidade de risco é importante no Sistema de Gestão da Qualidade, uma vez que o risco é efeito da incerteza, podendo ter um efeito positivo, gerando oportunidade, ou negativo (ABNT, 2015). O fato é que tratar dos riscos dentro de uma organização é preocupar-se com questões reais dentro do processo produtivo, o que pode tornar este mais eficiente. Em termos burocráticos, a nova versão da norma facilita e viabiliza a sua aplicação no que tange a uma maior transigência na documentação exigida, permitindo que a própria organização decida sobre quais informações devem ser documentadas e o formato de seu armazenamento. Entretanto, há uma preocupação no controle de acesso a tais informações documentadas, recomendando inclusive o uso de senhas e cópias de segurança para eventuais perdas (OST; SILVEIRA, 2018). Os documentos impostos na versão anterior burocratizavam e dificultavam à aplicação da norma pelas organizações e, por isso, foram removidos aqueles que não acrescentam valor ao produto final objetivado pela organização. Outra mudança significativa referente à nova versão é a tomada de decisões por parte da alta direção da organização, que adquire maior participação e responsabilidade no Sistema de Gestão de Qualidade, entretanto, a responsabilidade de gestão está presente em todos os níveis, com o envolvimento de colaboradores. A norma inicia suas considerações gerais (0.1 Generalidades), lembrando que alguns termos e algumas forma verbais empregados são determinantes para compreender e atender as solicitações (ABNT, 2015): » o termo deve indica um requisito a ser empregado; » o termo é conveniente que indica uma recomendação a ser seguida; » o termo pode (que na versão original traduzida da norma é representado por may/can) indica permissão/possibilidade ou capacidade. Princípios de gestão Em relação aos princípios de gestão, a versão anterior da norma possuía 8 princípios. Assim, vejamos as principais diferenças entre os princípios das versões de 2008 e 2015 da norma, conforme o quadro 3. Quadro 3. Princípios de Gestão – Versão ISO 9001:2008 e ISO 9001: 2015. ISO 9001:2008 ISO 9001:2015 1 – Foco no cliente. 1 – Foco no cliente. 2 – Liderança. 2 – Liderança. 3 – Envolvimento das Pessoas. 3 – Engajamento das pessoas. 4 – Abordagem por processo. 4 – Abordagem de processo. 5 – Abordagem de sistemas a Gerência. 5 – Melhoria. 6 – Melhoria Contínua. 6 – Tomada de decisão baseada em evidências. 7 – Abordagem Factual dos Processos. 7 – Gestão de relacionamentos. 8 – Relacionamento mutuamente benéfico com fornecedor. Fonte: a autora. Vamos entender cada um dos princípios de gestão da norma de forma resumida (BARROS, 2017): • Foco no cliente: atendimento às necessidades dos seus clientes, a fim de atraí-los e buscar a fidelidade destes. • Liderança: os líderes devem estabelecer objetivos para direcionar e criar condições para que as pessoas engajadas da organização possam alcançar estes objetivos propostos. • Engajamento das pessoas: todos os colaboradores – dos mais diferentes níveis da organização – devem estar engajados para elevar a capacidade da organização em criar e entregar produtos que atendem e superem as expectativas dos clientes. • Abordagem de processo: é importante que a organização determine os seus processos (entrada – atividades – saída), a fim de aumentar sua eficiência na entrega de produtos e serviços com qualidade esperada pelos clientes. • Melhoria: a busca continua por melhoria deve ser um foco das organizações, a fim de melhorar seu desempenho e estar mais preparado para as mudanças tanto do ambiente interno quanto do ambiente externo. • Tomada de decisão baseada em evidências: esse princípio torna as organizações mais eficazes no alcance de seus resultados. • Gestão de relacionamentos: quando as organizaçõescompreendem as influências das partes interessadas, tornam-se mais preparadas para enfrentar as ameaças e oportunidades que surgirem. A norma emprega, a chamada Abordagem de Processo, incorpora o ciclo chamado de PDCA - Plan-Do-Check-Act e a mentalidade de risco. A abordagem de processo está relacionada à definição e gestão dos processos e suas interações a fim de alcançar os resultados pretendidos, tudo de acordo com o posicionamento estratégico da organização. Conforme ABNT (2015), a aplicação da abordagem de processo em um SGA proporciona: Entendimento e consistência no atendimento a requisitos. Consideração de processos em termos de valor agregado. Atingimento de desempenho eficaz de processo. Melhoria de processos baseada na avaliação de dados e informação. Para entender melhor tudo o que isso quer dizer, a própria norma apresenta uma ilustração que indica o esquema de um processo e de suas interações entre seus elementos. A figura 10 ilustra os elementos de um processo. Figura 10. Representação dos elementos de um processo. Fonte: ABNT (2015). O ciclo PDCA deve ser utilizado para exercer o controle dos processos e deve ser usado de forma contínua por meio de um planejamento de controle, monitoramento e manutenção das diretrizes estabelecidas para atingir as expectativas do público-alvo. Segundo Bernardo (2017), o PCDA é um método para gerenciar os processos e/ou sistemas, um caminho para uma organização atingir as metas estipuladas aos produtos dos sistemas empresariais. O método assegura que os processos de uma organização tenham recursos e sejam gerenciados adequadamente, e que as oportunidades para melhoria sejam identificadas e as ações sejam realizadas. Ele pode ser aplicado para todos os processos e para o SGQ como um todo. O ciclo foi desenvolvido, sobretudo, sob o conceito de melhoria contínua, ou seja, o método deve ser aplicado constantemente e em dinâmica melhoria de aplicação. Assim, deve-se emendar o fim de um ciclo com outro, e o processo deve ser reanalisado em cada uma dessas etapas. A metodologia consiste em 4 fases (de acordo com cada letra P-D-C-A) que devem ser seguidas pela ordem, com o risco de comprometimento da eficácia de aplicação. A descrição de cada uma das letras do ciclo é feita a seguir. Clique sobre as abas abaixo: PLAN Primeiramente, é preciso planejar o trabalho a ser realizado, e para isso, é importante ter um Plano de Ação que: 1) primeiramente, contenha a identificação das características da organização e das causas dos problemas, com a definição dos objetivos, estratégias e ações (quantificáveis); 2) a definição dos métodos a serem utilizados para atingir estes objetivos iniciais propostos. DO É a fase de execução do trabalho planejado no Plano de Ação, sendo que se deve: 1) capacitar a organização para que o planejamento seja efetivado, ou seja, envolvimento de todos num processo de aprendizagem individual e coletiva; 2) implementação total do Plano de Ação, sem esquecer de verificar periodicamente se estas ações estão sendo efetuadas (isso também deve estar no Plano de Ação), bem como o registro dessas ações e os seus resultados – bons ou ruins – para que a próxima etapa seja efetuada de forma satisfatória. CHECK Como o nome diz, é a fase de checagem, averiguação da metodologia, comparando os dados da execução com o que foi estabelecido inicialmente no Plano de Ação. A diferença entre o que é desejável (ou seja, o planejado) e o resultado real é o problema a ser resolvido. ACTION Fase de ação para que sejam corrigidos os problemas, com o intuito de evitar que este se repita. Para isso, podem ser usadas ações corretivas ou melhorias que sejam estabelecidas na fase anterior. É nessa fase que o conceito de melhoria contínua fica mais evidente, uma vez que é fundamental que sejam feitas essas ações para que um novo ciclo se inicie de forma a avaliar novamente o processo. A cada melhoria, os sistemas e processos evoluem e melhoram e, com isso, a produtividade aumenta, à medida que o desperdício e os custos diminuem. Isso é bom para os clientes, que podem obter produtos melhores – a custos muitas vezes menores repassados. Para isso, é fundamental também o envolvimento dos colaboradores que devem ser incentivados a buscarem melhoria contínua profissional (e pessoal). A figura 11 ilustra o ciclo PDCA aplicável às seções 4 a 10 da norma ISO 9001: 2015. Figura 11. O esquema PDCA. Fonte: BSI (2015). Podemos observar que a Liderança é um elemento que interage com todas as outras seções, desde o planejamento até as análises críticas e respectivas ações de melhoria. Como resultado do SGQ, há 2 objetivos principais: » a satisfação do cliente; » as melhorias dos processos/produtos/serviços. O quadro 4 mostra um esquema teórico do PDCA Quadro 4. Exemplo de PDCA. P (PLAN) - PLANEJAR Identificação Aumentar em 20% as vendas mensais em até 4 meses. Análise Existem regiões que não foram exploradas pelos vendedores. Plano de Ação » Dividir regiões não exploradas. » Treinar a abordagem destes vendedores. » Fornecer material de divulgação. D (DO) – FAZER Execução Colocar o Plano de Ação em prática (mediante treinamento e implantação das atividades propostas). C (CHECK) – AVALIAR Verificação Ações eficazes e aumento de 20% a partir do segundo mês de ação, estabilizando o faturamento nos próximos meses. A (ACTION) – CORRIGIR Conclusão Não há necessidade de correções. Fonte: Ribeiro Junior (2018). Mas deve-se ter cuidado ao utilizar a metodologia do ciclo PDCA. Isso porque a não execução de uma das etapas propostas no ciclo pode comprometer todo o processo de melhoria contínua. Por isso deve ser encarada com seriedade e um processo contínuo para buscar a qualidade. Segundo Bernardo (2017), é importante que a organização evite: » Executar o método sem planejamento anterior. » Definir as metas, mas não definir os métodos para atingir cada uma dessas metas. » Definir as metas, mas não treinar os colaboradores como um todo para a execução destas metas. » Fazer (DO), mas não checar posteriormente. » Planejar (PLAN), fazer (DO) e checar (CHECK), mas não prover ações corretivas quando necessárias. » Principalmente, não se deve parar o processo após implementar uma volta completa do ciclo. A mentalidade de risco é o que habilita uma organização a determinar o que pode causar desvios nos processos propostos para que o SGQ não alcance os resultados esperados, colocando em prática os controles para potencializar as oportunidades e minimizar as fragilidades e os efeitos negativos. O conceito já estava implícito nas versões anteriores da norma ISO 9001, uma vez que propunha a realização de ações preventivas para eliminar as não conformidades potenciais e agir para prevenir que as não conformidades sejam recorrentes. Em suma, para que o SGQ esteja satisfatório conforme os requisitos da norma ISO 9001, qualquer organização precisa, sobretudo, planejar e implementar ações que abordem os riscos e as oportunidades existentes. Lembrando que risco é o efeito da incerteza, que pode ter um efeito positivo – gerando oportunidades – e negativo – causando fragilidades. Qual o significado de risco? De onde será que vem a origem desta palavra. O Dicionário Houaiss nos dá o significado da palavra: “Etimologia fr. risque (sXVI) ‘perigo, inconveniente mais ou menos previsível’, tomado do it. risco, var. rischio (sXIII), que exprimem em direito marítimo o ‘perigo ligado a um empreendimento’ e na tradição militar a ‘sorte ou má-sorte de um soldado’; do lat.medv. risicum/riscum, não raro associado a fortuna; a acp. de 2 risco ‘traço’ poderia derivar dos traços escritos nos eventuais contratos; ver risc-; f.hist. sXV risco, sXV risquo, sXV rrisco” Como a alta direção pode demonstrar o comprometimento com seu SGQ? »Conversar com clientes: não apenas realizar visitas eventuais ou prospectar clientes, mas comprometer-se a realizar visitas oficiais em um curto período, o que proporciona, inclusive, um melhor entendimento sobre os riscos e as oportunidades que seus clientes enfrentam. » Encorajar a comunicação entre os setores e as áreas da organização: as lideranças precisam trabalhar na comunicação do seu desempenho, para só depois focar no fortalecimento da marca, sendo importante traduzir esse desempenho para a linguagem comercial. » Investir em ferramentas e mecanismos de gestão: é importante o fornecimento de ferramentas para incorporar, comunicar e gerenciar a qualidade obtida, a fim de cultuar na empresa as ações positivas. Informar a todos do sistema e viabilizar a participação de todos para monitorar este desempenho é importante Estabelecidos estes princípios, a Norma aborda os seus requisitos, ou seja, o que deve ser seguido pelas organizações para que esta tenha um SQG implementado e seja certificada posteriormente. Vamos analisar os requisitos da Norma com o comparativo entre o que mudou e o que permaneceu igual entre a norma ISO 9001: 2008 e a sua última versão, ISO 9001: 2015. 1. Escopo – este item permanece praticamente inalterado entre uma versão e outra. 2. Referências normativas – alterada de ISO 9001:2008 para ISO 9001: 2015. 3. Termos e definições – faz referência aos termos e às definições da ABNT NBR ISO 9000: 2015. 4. Contexto da organização – com os itens 4.1 a 4.4. O item na norma anterior era nominado de Sistema de Gestão da Qualidade (que permanece no subitem 4.4), mas, nesta nova versão, adquiriu maior abrangência, sobretudo nos seus itens iniciais: “4.1 Entendendo a organização e seu contexto, e 4.2 Determinando o escopo do sistema de qualidade”agora um requisito e requer que a organização determine fronteiras e aplicabilidade do SGQ. 5. Liderança – o item da norma anterior era chamado de Responsabilidade da direção. Entre os subitens, aborda a responsabilidade da direção em demonstrar liderança e comprometimento em relação ao SGQ. O item“5.2 Política” praticamente foi inalterado em relação à versão anterior, mas há requisitos adicionais sobre a disponibilidade às partes interessadas. Já o item “5.3 Papéis organizacionais, responsabilidades e autoridades” compila 3 itens da norma anterior, não mais requer uma posição específica do representante da direção. Como a alta direção pode demonstrar o comprometimento com seu SGQ? » Conversar com clientes: não apenas realizar visitas eventuais ou prospectar clientes, mas comprometer-se a realizar visitas oficiais em um curto período, o que proporciona, inclusive, um melhor entendimento sobre os riscos e as oportunidades que seus clientes enfrentam. » Encorajar a comunicação entre os setores e as áreas da organização: as lideranças precisam trabalhar na comunicação do seu desempenho, para só depois focar no fortalecimento da marca, sendo importante traduzir esse desempenho para a linguagem comercial. » Investir em ferramentas e mecanismos de gestão: é importante o fornecimento de ferramentas para incorporar, comunicar e gerenciar a qualidade obtida, a fim de cultuar na empresa as ações positivas. Informar a todos do sistema e viabilizar a participação de todos para monitorar este desempenho é importante 6. Planejamento – é um novo item, anteriormente tratado de Planejamento do Sistema de Gestão de Qualidade no item 5.4.2. Vamos descrever todos os novos subitens dentro deste item. › Ações que endereçam riscos e oportunidades,ou seja, que o SGQ possa atingir seus resultados e satisfazer os clientes por meio da integração do sistema no negócio e identificando e gerenciando riscos e oportunidades. ATENÇÃO “As ações tomadas para abordar riscos e oportunidades devem ser apropriadas ao impacto potencial sobre a conformidade de produtos e serviços” (ABNT, 2015). Essas opções podem incluir evitar ou assumir os riscos, para assim buscar oportunidades, ou eliminar as fontes de risco, mudar a probabilidade ou as consequências, compartilhar o risco ou decidir, com base em informação, reter o risco. As oportunidades podem levar a adoção de práticas novas, como o surgimento de novos mercados, por exemplo, ou novos clientes e produtos segundo a demanda, a fim de abordar as necessidades da organização e, claro, dos seus clientes. › Objetivos de qualidade e planejamento para alcançá-loscom objetivos adicionais em relação à norma anterior para que estes sejam mensuráveis e relevantes para a satisfação dos clientes. › Planejamento de mudanças,na norma anterior, constando no subitem 5.4.2 e referindo-se à necessidade gerencias as mudanças para o SGQ, assegurando que riscos e oportunidades sejam considerados quando mudanças são feitas. 7. Apoio – é um novo item, inexistente na versão anterior da norma, mas traz substancialmente as mesmas questões do item 6 da norma anterior. O destaque é que, em grande parte dos subitens deste item 7, a satisfação dos clientes é enfatizada, mostrando o caráter desta nova versão para atenção especial nos clientes. O item 7.5 Informação Documentada enfatiza a organização dos documentos que devem ser estabelecidos pela organização para o enquadramento do SGQ, que devem incluir: » Informação documentada requerida pela norma + informação documentada determinada pela organização como importante para estabelecer o SGQ. A quantidade dessas informações a serem levantadas vai depender, obviamente, do porte da organização, do tipo e grau de complexidade dos seus processos, produtos e serviços, bem como a competência das pessoas. O controle desta documentação é fundamental para assegurar a disponibilidade e adequação ao uso da organização; bem como ela esteja protegida contra perda de integridade e confidencialidade. O autor Roman (2013) ilustrou uma eventual hierarquia de documentos necessários para a busca de qualidade e do SGQ, representado na Figura a seguir: Figura 12. Hierarquia de documentos. Fonte: Roman (2013). 8. Operação – é semelhante ao item 7.1 da norma anterior, praticamente inalterada. Cabe destacar o item 8.2 Requisitos para produtos e serviços que aborda a comunicação com o cliente, que deve incluir, segundo a própria norma (ABNT, 2015): Prover informação relativa a produtos e serviços; Lidar com consultas, contratos ou pedidos, incluindo mudanças; Obter retroalimentação do cliente relativa a produtos e serviços, incluindo reclamações do cliente; Lidar ou controlar propriedade do ciente; Estabelecer requisitos específicos para ações de contingência, quando pertinente. Outro subitem importante é o 8.4.2 Tipo e extensão do controle de fornecimento externo, no qual há uma declaração sobre tipos e quantidades de controle para serem aplicados e estabelecendo que eles devam depender dos riscos envolvidos e seus impactos potenciais, bem como recomendar que a organização deva aplicar formas de avaliar os seus fornecedores externos. O subitem 8.4.3 também aborda a necessidade de monitorar o desempenho de fornecedores externos e manter a informação documentada. O subitem 8.8, chamado nessa versão de Bens e serviços não conformes (anteriormente 8.3 Controle de produtos não conformes) foi acrescida a consideração sobre a importância de atingir a satisfação do cliente. 9. Avaliação de desempenho – requer que a organização leve em conta os riscos e as oportunidades para determinar o que eles monitorarão e medirão com o objetivo de: › Demonstrar a conformidade de bens e serviços. › Avaliar o desempenho dos processos. › Assegurar a conformidade e a efetividade do SGQ. › Avaliar a satisfação do cliente. O subitem 9.2 Auditoria Interna foi reescrita nesta nova versão da norma, com elementos incluídos como a necessidade de se levar em consideraçãoos objetivos de qualidade e riscos. Abordaremos com maior detalhe a questão das auditorias posteriormente. O subitem 9.3 Análise crítica pela direção é importante e foi acrescida da ideia de que organização leve em consideração a direção estratégica do negócio e a mudança de ambiente do negócio. 10. Melhoria – aborda as não conformidades e as ações corretivas que, na norma anterior (versão 2008), eram descritas de forma separada, mas nesta versão se tornaram um subitem; apesar disso, não há alterações nos propósitos da norma em relação a este assunto. O item trata de como a organização deve proceder quando ocorrer alguma não conformidade (ABNT, 2015): Reagir à não conformidade e quando aplicável: › tomar ação para controlá-la e corrigi-la; › lidar com as consequências. Avaliar a necessidade de ação para eliminar a(s) causa(s) da não conformidade, a fim de que ela não se repita ou ocorra em outro lugar: › analisando criticamente e analisando a não conformidade; › determinando as causas da não conformidade; › determinando se não conformidades similares existem, ou se poderiam potencialmente ocorrer. Implementar qualquer ação necessária. Analisar criticamente a eficácia de qualquer ação corretiva tomada. Atualizar riscos e oportunidades determinados durante o planejamento, se necessário. Realizar mudanças no sistema de gestão da qualidade, se necessário. O item 10.3 Melhoria Contínua propõe que a organização deva melhorar sua eficácia do Sistema de Gestão de Qualidade continuamente, considerando os resultados das análises e avaliações das saídas de análise crítica pela direção, a fim de determinar se existem necessidades ou oportunidades que devem ser abordadas para tal melhoria. O quadro 5 sintetiza as principais diferenças em relação à norma anterior e a nova versão atual desta. Quadro 5. Relação entre as normas e as alterações da última revisão. ABNT NBR ISO 9001:2008 ABNT NBR ISO 9001:2015 1 Escopo 1 Escopo 1.1 Generalidades 1 Escopo 1.2 Aplicação 4.3 Determinando o escopo do sistema de gestão da qualidade 4 Sistema de gestão da qualidade 4. Contexto da organização 4.1 Entendendo a organização e seu contexto 4.2 Entendendo as necessidades e expectativas de partes interessadas 4.4 Sistema de gestão da qualidade e seus processos 4.1 Requisitos gerais 4.4 Sistema de gestão da qualidade e seus processos 8.4 Controle de processos, produtos e serviços providos externamente 4.2 Requisitos de documentação 7.5 Informação documentada 4.2.1 Generalidades 7.5.1 Generalidades 4.2.2 Manual da qualidade 4.3 Determinando o escopo do sistema de gestão da qualidade 7.5.1 Generalidades 4.4 Sistema de gestão da qualidade e seus processos 4.2.3 Controle de documentos Criando e atualizando Controle de informação documentada 4.2.4 Controle de registros Criando e atualizando Controle de informação documentada 5 Responsabilidade da direção 5 Liderança 5.1 Comprometimento da direção 5.1 Liderança e comprometimento 5.1.1 Generalidades 5.2 Foco no cliente 5.1.2 Foco no cliente 5.3 Política da qualidade Política Desenvolvendo a política da qualidade Comunicando a política da qualidade 5.4 Planejamento 6 Planejamento 5.4.1 Objetivos da qualidade 6.2 Objetivos da qualidade e planejamento para alcançá-los 5.4.2 Planejamento do sistema de gestão da qualidade 5.3 Papéis, responsabilidades e autoridades organizacionais 6 Planejamento 6.1 Ações para abordar riscos e oportunidades 6.3 Planejamento de mudanças 5.5 Responsabilidade, autoridade e comunicação 5 Liderança 5.5.1 Responsabilidade e autoridade 5.3 Papéis, responsabilidades e autoridades organizacionais 5.5.2 Representante da direção 5.3 Papéis, responsabilidades e autoridades organizacionais 5.5.3 Comunicação interna 7.4 Comunicação 5.6 Análise crítica pela direção Entendendo a organização e seu contexto Entendendo as necessidades e expectativas de partes interessadas 9.3 Análise crítica pela direção 5.6.1 Generalidades 9.3.1 Generalidades 5.6.2 Entradas para análise crítica 9.3.2 Entradas de análise crítica pela direção 5.6.3 Saídas da análise crítica 9.3.3 Saídas de análise crítica pela direção 6 Gestão de recursos 7 Apoio 7.1 Recursos 6.1 Provisão de recursos Generalidades Pessoas 6.2 Recursos humanos 7.2 Competência 6.2.1 Generalidades 7.2 Competência 6.2.2 Competência, treinamento e conscientização Competência Conscientização 6.3 Infraestrutura 7.1.3 Infraestrutura 6.4 Ambiente de trabalho 7.1.4 Ambiente para a operação dos processos 7 Realização do produto 8 Operação 7.1 Planejamento da realização do produto 8.1 Planejamento e controle operacionais 7.2 Processos relacionados a clientes 8.2 Requisitos para produtos e serviços 7.2.1 Determinação de requisitos relacionados ao produto 8.2.2 Determinação de requisitos relativos a produtos e serviços 7.2.2 Análise crítica dos requisitos relacionados ao produto 8.2.3 Análise crítica de requisitos relativos a produtos e serviços 8.2.4 Mudanças nos requisitos para produtos e serviços 7.2.3 Comunicação com o cliente 8.2.1 Comunicação com o cliente 7.3 Projeto e desenvolvimento 8.3 Projeto e desenvolvimento de produtos e serviços 7.3.1 Planejamento do projeto e desenvolvimento 8.3.1 Generalidades 8.3.2 Planejamento de projeto e desenvolvimento 7.3.2 Entradas de projeto e desenvolvimento 8.3.3 Entradas de projeto e desenvolvimento 7.3.3 Saídas de projeto e desenvolvimento 8.3.5 Saídas de projeto e desenvolvimento 7.3.4 Análise crítica de projeto e desenvolvimento 8.3.4 Controles de projeto e desenvolvimento 7.3.5 Verificação de projeto e desenvolvimento 8.3.4 Controles de projeto e desenvolvimento 7.3.6 Validação de projeto e desenvolvimento 8.3.4 Controles de projeto e desenvolvimento 7.3.7 Controle de alterações de projeto e desenvolvimento 8.3.6 Mudanças de projetos e desenvolvimento 8.5.6 Controle de mudanças 7.4 Aquisição 8.4 Controle de processos, produtos e serviços providos externamente 7.4.1 Processo de aquisição 8.4. Controle de processos, produtos e serviços providos externamente 8.4.1 Generalidades 8.4.2 Tipo e extensão do controle 7.4.2 Informações de aquisição 8.4.3 Informação para provedores externos 7.4.3 Verificação do produto adquirido 8.4.2 Tipo e extensão do controle 8.4.3 Informação para provedores externos 8.6 Liberação de produtos e serviços 7.5 Produção e prestação de serviço 8.5 Produção e provisão de serviço 7.5.1 Controle de produção e prestação de serviço 8.5.1 Controle de produção e de provisão de serviço 8.5.5 Atividades pós-entrega 7.5.2 Validação dos processos de produção e prestação de serviço 8.5.1 Controle de produção e de provisão de serviço 7.5.3 Identificação e rastreabilidade 8.5.2 Identificação e rastreabilidade 7.5.4 Propriedade do cliente 8.5.3 Propriedade pertencente a clientes ou provedores externos 7.5.5 Preservação de produto 8.5.4 Preservação 7.6 Controle de equipamento de monitoramento e medição 7.1.5 Recursos de monitoramento e medição 7.1.5.1 Generalidades 7.1.5.2 Rastreabilidade de medição 8 Medição, análise e melhoria 9 Avaliação de desempenho 9.1 Monitoramento, medição, análise e avaliação 8.1 Generalidades 9.1.1 Generalidades 8.2 Medição e monitoramento 9.1 Monitoramento, medição, análise e avaliação 8.2.1 Satisfação dos clientes 9.1.2 Satisfação do cliente 8.2.2 Auditoria interna 9.2 Auditoria interna 8.2.3 Monitoramento e medição de processos 9.1.1 Generalidades 8.2.4 Monitoramento e medição de produto 8.6 Liberação de produtos e serviços 8.3 Controle de produto não- conforme 8.7 Controle de saídas não conformes 10.2 Não conformidade e ação corretiva 8.4 Análise de dados 9.1.3 Análise e avaliação 8.5 Melhoria 10 Melhoria 8.5.1 Melhoria contínua 10.1 Generalidades 10.3 Melhoria contínua 8.5.2 Ação corretiva 10.2 Não conformidadee ação corretiva 8.5.3 Ação preventiva 6.1 Ações para abordar riscos e oportunidades (ver 6.1.1, 6.1.2) 10.3 Melhoria contínua Fonte: ABNT (2015). OUTRAS NORMAS DA FAMÍLIA E NORMAS CORRELATAS O conjunto de normas que especificam o Sistema de Gestão de Qualidade, como um todo, forma a família de normas ISO 9000. Embora conhecemos muito bem este e a norma ISO 9001, há outras normas complementares a estas. O quadro 6 mostra quais são: Quadro 6. Família ISO 9000. NORM A DESCRIÇÃO FINALIDADE NBR ISO 9000: 2015 Sistemas de Gestão de Qualidade – Fundamentos e Vocabulário. Essa norma é uma base para a compreensão dos princípios da Norma ISO 9001, bem como define os termos e conceitos desta. Estes princípios não são requisitos em si, mas eles formam o fundamento dos requisitos especificados. NBR ISO 9001: 2015 Sistemas de Gestão de Qualidade – Requisitos. Especificação dos requisitos do Sistema de Gestão da Qualidade, orientando sobre a qualidade dos projetos, bem como o seu desenvolvimento, produção, instalação e NORMAS DA FAMÍLIA E NORMAS CORRELATAS manutenção. Ela envolve as normas 9002 e 9003 e é a única que tem natureza prática. NBR ISO 9004: 2010 Sistemas de Gestão de Qualidade – Diretrizes para melhorias de desempenho. Um guia para orientar as organizações que queiram avançar para além dos requisitos definidos pela ISO 9001, abordando outros tópicos para a melhoria do desempenho, orientações sobre metodologias de autoavaliação e ações visando a satisfação dos clientes e stakeholders. NBR ISO 19011: 2018 Diretrizes para auditorias de Sistemas de Gestão da Qualidade e Gestão Ambiental. Provem requisitos para os processos de Auditoria que são utilizados tanto para o Sistema de Gestão de Qualidade quando para a ISO 14001 (Sistema de Gestão Ambiental). Fonte: Roman (2013). A ISO 19011 trata da auditoria a ser realizada pela empresa para que busque a melhoria no desempenho e seja viabilizada a implantação do SGQ. Com atualização recente para uma nova versão, traz uma abordagem baseada em risco aos princípios de auditoria para refletir o maior foco no risco, tanto nos padrões de gestão quanto no mercado. A norma aborda a auditoria de riscos e oportunidades e a aplicação do pensamento de risco ao processo de auditoria (ROSA, 2018). A NBR ISO 9004 foi desenvolvida para se alinhar com a NBR ISO 9001 e com as demais normas de sistema de Gestão – como a ISO 14001, por exemplo. Ela descreve os princípios de gestão da qualidade que são a base das normas de gestão elaboradas pela ISO para serem usadas pela alta direção como uma estrutura para orientação de melhoria no desempenho. Ela fornece meios para que as organizações avaliem seus pontos fortes e fracos, identificando as oportunidades de melhorias possíveis (PRADO, 2014). É uma norma importante para dar diretrizes para que as organizações melhorem seus desempenhos, indo além do que é proposto na ISO 9001. A norma também estende suas orientações a todos os elementos que estão envolvidos com a organização, de forma direta ou indireta, como os colaboradores, fornecedores, clientes, entre outros. Entre os principais benefícios que podem surgir com a implementação da norma ISO 9004:2010 são (BERNARDO, 2017): » Visualizar as melhores oportunidades do mercado a partir das melhorias da qualidade. » Poder identificar melhor os pontos fortes e as problemáticas da organização. » Aumentar a credibilidade da organização por meio da aplicação da metodologia de melhoria contínua. » Dinamizar os processos internos da organização. » Redução de custos com a melhoria da eficiência em geral dos processos. » Desenvolver lideranças e aprimorar a eficiência dos colaboradores. » Maior poder de retenção de clientes e, consequentemente, fidelizá- los. » Aumento do faturamento. Um ponto importante relativo à aplicação desta norma é a necessidade de autoavaliação da organização, recomendada para que se determine os pontos fortes e fracos no desempenho. É importante lembrar que a ISO 9001 e a ISO 9004 são normas independentes, ou seja, podem ser implementadas separadamente ou em conjunto para melhor aplicação do SGQ. OUTRAS NORMAS DE GESTÃO DE QUALIDADE E SGQ Algumas outras normas desenvolvidas pela ISO são citadas pela ISO 9001: 2015 para que sejam eventualmente utilizadas como normas assistentes pelas organizações, para buscar melhorias no sistema de gestão de qualidade, seus processos e suas atividades com este objetivo. As normas citadas são (ABNT, 2015): » ABNT NBR ISO 10001, Gestão da qualidade – Satisfação do cliente: diretrizes para códigos de conduta para organizações: a utilização desta norma pode aumentar a confiança do cliente em relação a uma organização, uma vez que orienta a organização a determinar sua postura sobre satisfação do cliente e o atendimento às expectativas destes, evitando desentendimentos e reclamações destes. » ABNT NBR ISO 10002, Gestão da qualidade – Satisfação do cliente: diretrizes para o tratamento de reclamações nas organizações: propõe orientações a respeito do processo de reclamações dos clientes a fim de buscar soluções para estas, propondo inclusive treinamentos para lidar com tais reclamações. » ABNT NBR ISO 10003, Gestão da qualidade – Satisfação do cliente: diretrizes para a resolução externa de litígios das organizações: orienta a resolução de litígios externos em relação a produtos, com reparação quando organizações não solucionam uma reclamação internamente. » ABNT NBR ISO 10004, Gestão da qualidade – Satisfação do cliente: diretrizes para monitoramento e medição. Buscando a fidelidade dos clientes, esta norma visa orientar as organizações para ações de melhoria e aumento de satisfação de clientes, identificando as oportunidades de melhorias dos produtos e processos que tenham valor para o consumidor. » ABNT NBR ISO 10005, Sistemas de gestão da qualidade: diretrizes para planos da qualidade: a norma orienta o estabelecimento dos planos de qualidade, a fim de aumentar a confiança de que os requisitos serão atendidos e de que os processos estão controlados. » ABNT NBR ISO 10006, Sistemas de gestão da qualidade: diretrizes para a gestão da qualidade em empreendimentos: a norma é utilizada por quem gerencia os projetos, a fim de assegurar que sua organização está aplicando as práticas contidas nas demais normas de SGQ. » ABNT NBR ISO 10007, Sistemas de gestão da qualidade: diretrizes para gestão de configuração: a gestão de configuração citada na norma pode ser utilizada para atender os requisitos de identificação e rastreabilidade do produto. » ABNT NBR ISO 10008, Gestão da qualidade – Satisfação do cliente: diretrizes para transações de comércio eletrônico de negócio a consumidor: norma importante que trata da implementação de um sistema eficaz de transação de comércio eletrônico, a fim de aumentar a confiança do consumidor. » ABNT NBR ISO 10012, Sistemas de gestão de medição: requisitos para os processos de medição e equipamentos de medição: orienta a gestão de processos de medição e controle dos equipamentos de medição usados para demonstrar conformidade com requisitos metrológicos. » ABNT ISO/TR 10013: diretrizes para a documentação de sistema de gestão da qualidade: auxilia no desenvolvimento e na manutenção da documentação necessária para um SGQ, podendo ser utilizada também para outras normas do Sistema de Gestão como Ambiental ou Saúde e Segurança. » ABNT NBR ISO 10014, Gestão da qualidade: diretrizes para a percepção de benefícios financeiros e econômicos: a norma é direcionada à alta direção e à melhor percepção e benefícios financeiros e econômicos com base na aplicação dos princípios de SGQ. » ABNT NBR ISO 10015, Gestão da qualidade: diretrizes para treinamento:norma aplicada quando orientações forem necessárias para interpretar referências à “educação" e “treinamento” nas normas de sistema de gestão da qualidade da ABNT. » ABNT NBR ISO 10018, Gestão de qualidade: diretrizes para envolvimento das pessoas e suas competências: a norma trata dos fatores que influenciam no envolvimento das pessoas, suas competências e a forma pela qual estas estão inseridas na organização.ABNT NBR IS010019: diretrizes para a seleção de consultores de sistemas de gestão da qualidade e uso de seus serviços, orienta sobre o processo de seleção e avaliação da competência de um consultor de SGQ, a ser contratado por uma organização para sua implementação. UNIDADE 3 - APLICAÇÕES DAS NORMAS ISO 9000 CERTIFICAÇÃO A certificação surgiu como um instrumento que assegura a implantação do SGQ de forma satisfatória, obedecendo aos requisitos estabelecidos pela norma ABNT NBR ISO 9001: 2015. É importante compreender a diferença entre implementação e certificação da ISO 9001. Uma organização pode adequar seus processos à norma e implementá-la. Somente com a norma implementada é que a organização pode buscar uma certificação, a partir da contratação de um órgão ou empresa específica e independente, que realizará auditorias para verificar se a implementação está compatível com a norma e, assim, buscar o certificado. A certificação é, atualmente, um importante instrumento de competitividade diante o mercado, sendo um diferencial que garante uma série de benefícios à organização. O certificado tem validade de 3 anos e, posteriormente, deve ser renovado. Há, também, auditorias semestrais, a fim de conferir se os requisitos da norma estão sendo atingidos. A certificação possui algumas etapas (BATISTA, 2018): Clique sobre os itens abaixo: • 1 • 2 • 3 • 4 • 5 • 6 • 7 • 8 • 9 • 10 • 11 • 12 » Comprometimento da alta administração: a direção tem o dever de estar consciente das dificuldades de implementação da norma e dos investimentos necessários para tal, tanto os recursos financeiros para consultoria, treinamento da equipe e da certificação, quanto o investimento de tempo destes colaboradores. ATENÇÃO Quanto tempo demora para se obter uma certificação da ISO 9001? O tempo para uma organização se certificar depende de muitas questões: a quantidade de funcionários, o porte, o tipo de empreendimento, o envolvimento dos funcionários e direção, o levantamento dos documentos necessários, entre outros muitos fatores. Por isso, não há como se definir esse tempo, mas podemos dizer que o comprometimento da organização para que seja implementada a norma é que garante que esta será realizada no menor tempo possível! Isso significa também dizer que qualquer empresa, de qualquer porte, pode sim implementar a norma e buscar a certificação. Atualmente, há diversas ferramentas e formulários que facilitam as orientações para se buscar essa certificação. Não há exigência da legislação brasileira em relação à certificação da norma ISO 9001, com exceção para algumas empresas pertencentes ao Pólo industrial de Manaus, Amazonas. Entretanto, as próprias relações comerciais ditam a necessidade de se obter a certificação ou não no mercado. Quando falamos do mercado externo, principalmente, a certificação é praticamente obrigatória para que haja a comprovação da qualidade dos produtos e serviços. O selo de qualidade é dado como símbolo da finalização do processo de certificação, e possui as mais diversas formas. A figura 13 mostra um exemplo de selo que vemos para identificar a certificação. Figura 13. Selo de Empresa Certificada pela norma ISO 9001: 2015. Fonte: <https://www.aec.com.br/Site/AeC/38/certificacoes>. Acesso em: 17/5/2019. 2 ISO 9001 NA ERA DIGITAL Atualmente, as empresas que buscam implementar e, posteriormente, certificar-se de que possui um Sistema de Gestão de Qualidade, conforme a norma ISO 9001:2015, contam com o auxílio de aplicativos e softwares que orientam e ajudam no acompanhamento e na gestão completa do cumprimento de todos os requisitos exigidos por esta norma, automatizando toda a tomada de decisões e gestão completa das ações. Esses softwares podem ser utilizados por colaboradores dos mais diversos setores de uma organização, o que facilita o alinhamento e a comunicação interna de toda a equipe para o cumprimento dos requisitos necessários. Dificuldades na certificação Embora falamos até aqui das vantagens e de todo o processo – relativamente e teoricamente – simples para se implementar e se certificar em relação à norma ISO 9001, é importante ressaltar que há desafios e barreiras nas organizações que, muitas vezes, são difíceis de serem quebradas e acabam inviabilizando um bom Sistema de Gestão de Qualidade numa organização. Muitas empresas que, inclusive, implementam o SGQ, apesar de esforços, acabam não mantendo-o, e entre os principais fatores estão: a dificuldade financeira para manter capacitações e melhorias, a falta de comprometimento dos gerentes e direção, burocracia excessiva, falta de treinamento adequado e resistência às mudanças dentro de uma organização por parte dos colaboradores e gerência (MAEKAWA et al., 2013). Conforme esses mesmos autores, as organizações focam no percurso até a conquista da implementação da norma, entretanto, ignoram os mecanismos para mantê-la como parte integral e sustentável da organização, incorporando-a efetivamente à sua cultura e estrutura. Os custos para se buscar a certificação, com auditorias e empresas certificadoras, além do tempo despendido e funcionários dedicados para que a organização se adeque à norma, praticamente inviabilizam a aplicação desta em pequenas empresas, por exemplo, onde, ao contrário do que se pensa, a viabilidade de se conseguir uma certificação é menor, pelos fatores já citados. É interessante pensar também no fato de que, geralmente, quando uma organização busca alinhar-se à qualquer norma ligada ao sistema de Gestão Integrada (que são complementadas com o Sistema de Gestão Ambiental e o de Saúde e Segurança), por exemplo, a ISO 9001 é, geralmente, a primeira a ser adotada, então toda a documentação e mudança nos processos começa do zero (MAEKAWA et al., 2013). Podemos então sintetizar alguns motivos pelos quais as organizações podem perder sua certificação (SANTOS, 2017): » Inadimplência: caso a organização não cumpra o acordo com as empresas certificadoras terceirizadas, por exemplo. » ISO inadequado da certificação: como não respeitar o uso restrito das logomarcas da ISO, INMETRO, ABNT etc. » Reincidência de não conformidades: observadas nas auditorias externas de manutenção e/ou atualização do certificado. » Denúncia/reclamação: caso clientes (e outros) realizem denúncias que façam isso ocorrer. » Opção: por decisão da organização. INMETRO É importante conhecermos um pouco mais sobre o instituto criado na década de 1970 que é fundamental para a certificação em Gestão de Qualidade. O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro é uma autarquia federal que atua como Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO), ligado ao órgão normativo do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (SINMETRO)”. (BERNARDO, 2017) Criado em 1973 para substituir o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), com o intuito de auxiliar no fortalecimento do mercado nacional e as empresas nacionais, oferecendo mecanismos para estas empresas terem melhorias de qualidade dos seus produtos e serviços, aumentando sua produtividade e eficiência. Cabe, então, ao INMETRO (BERNARDO, 2017): Clique sobre os números abaixo: 1 2 3 4 O INMETRO, ainda que seja o órgão gestor do Sistema Brasileiro de Certificação, tem também um papel fundamental para a certificação das organizações. A certificaçãode conformidade consiste em atestar que produtos, processos e serviços atendem aos requisitos das normas ligadas a família ISO 9000. Além do INMETRO, essa certificação é feita por entidades credenciadas, conhecidas como organismos de certificação. Estes organismos devem ser independentes, ou seja, sem relações comerciais e pessoais com a organização a ser certificada, e têm o objetivo de atestar publicamente que esta organização e/ou seus produtos, serviços ou processos estão em conformidade com o que atesta os requisitos exigidos específicos. Os organismos credenciados precisam estar de acordo com os princípios do Sistema Brasileiro de Certificação (SBC) e com os critérios do INMETRO para tal atividade. Um exemplo conhecido e importante de organismo certificador é a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, que já citamos anteriormente. Assim como a ABNT, os demais organismos também podem fazer acordos com outras https://static-dpc.unyleya.com.br/conteudo/pos_graduacao/gestao_da_qualidade_segundo_a_abnt_nbr_iso_9001_2015/v1/unidade3/uni3/uni3_cap1.html# https://static-dpc.unyleya.com.br/conteudo/pos_graduacao/gestao_da_qualidade_segundo_a_abnt_nbr_iso_9001_2015/v1/unidade3/uni3/uni3_cap1.html# https://static-dpc.unyleya.com.br/conteudo/pos_graduacao/gestao_da_qualidade_segundo_a_abnt_nbr_iso_9001_2015/v1/unidade3/uni3/uni3_cap1.html# https://static-dpc.unyleya.com.br/conteudo/pos_graduacao/gestao_da_qualidade_segundo_a_abnt_nbr_iso_9001_2015/v1/unidade3/uni3/uni3_cap1.html# organizações estrangeiras para que a certificação tenha validade internacional. A certificação é muito importante pois é um documento que comprova fisicamente o atendimento às conformidades e aos requisitos do SGA. Com este documento, as organizações passam a ter melhoria na sua imagem – frente ao mercado e às partes interessadas em geral –, aumento da confiança de clientes e fornecedores, facilitando com isso a melhoria da competitividade, o acesso a novos mercados, valorização da marca e do marketing desta organização e redução de custos. Vantagens à parte com a concorrência, a certificação facilita a busca por investimentos de terceiros e de empréstimos, graças à confiança adquirida e melhoria da imagem desde clientes, colaboradores até o governo e a sociedade como um todo (BERNARDO, 2017). A globalização e a importância da certificação internacional Com a globalização dos mercados, o reconhecimento internacional da qualidade de uma organização é importante para que esta tenha pretensões de expansão e acesso ao mercado internacional. Sem a certificação, no entanto, as empresas passam por grandes dificuldades para esse enquadramento do mercado internacional, de diversas exigências, encontrando uma barreira técnica, que farão com que as organizações devam se certificar em outros países em busca de mercado, sendo o custo disso muito maior do que a busca por uma certificação local com convênios internacionais. Para que essa certificação seja padronizada internacionalmente, há os chamados Acordos de Reconhecimento Mútuo, que diminui as barreiras técnicas existentes, especialmente as reavaliações de países importadores, considerados como a maior barreira pela Organização Mundial do Comércio (OMC) (BERNARDO, 2017). Para essa cooperação, o INMETRO tem papel importante como organismo interlocutor com as certificadoras internacionais. Ele estabelece e busca manter os acordos com os demais membros. Segundo Bernardo (2017), “com esses acordos, os resultados dos ensaios e calibrações realizados pelos laboratórios acreditados pelo INMETRO passam a ser aceitos pelos demais organismos de acreditação signatários”, e estes devem divulgar às atividades reguladoras, às indústrias e importadores, a fim de promover a confiança para quem se utiliza destes resultados. Quem acredita os organismos de certificação é a Divisão de Acreditação de Organismos de Certificação (Dicor), que engloba três modalidades: produtos, pessoas e sistemas de gestão. A Dicor reconhece a competência das Certificadoras na sua capacidade de avaliar a conformidade das organizações na execução de produtos, sistemas de gestão, pessoas, processos ou serviços e, para isto, pode utilizar programas de acreditação, estabelecidos em Normas que devem ter seus requisitos atendidos. A Dicor acredita as certificadoras baseado em requisitos de normas internacionais para diferentes avaliações de conformidade (BERNARDO, 2017): Clique sobre os itens abaixo: • 1 • 2 • 3 ABNT NBR ISO/IEC 17065 para Organismos de Certificação de Produtos. Entre os principais acordos internacionais entre o INMETRO e outros órgãos certificadores mundiais estão: Clique sobre os números abaixo: 1 2 3 AUDITORIA A auditoria interna é citada no item 9.2 da norma ISO 9001:2015, como um requisito que a organização deve realizar para prover se o SGQ está alinhado com os requisitos da norma como um todo e os requisitos estabelecidos pela própria organização. A norma determina que as https://static-dpc.unyleya.com.br/conteudo/pos_graduacao/gestao_da_qualidade_segundo_a_abnt_nbr_iso_9001_2015/v1/unidade3/uni3/uni3_cap1.html# https://static-dpc.unyleya.com.br/conteudo/pos_graduacao/gestao_da_qualidade_segundo_a_abnt_nbr_iso_9001_2015/v1/unidade3/uni3/uni3_cap1.html# https://static-dpc.unyleya.com.br/conteudo/pos_graduacao/gestao_da_qualidade_segundo_a_abnt_nbr_iso_9001_2015/v1/unidade3/uni3/uni3_cap1.html# auditorias devem ser realizadas em intervalos planejados, devendo criar critérios e escopos para tais auditorias, além de manter um programa de auditoria que tenha “frequência, métodos, responsabilidades, requisitos para planejar e para relatar o que deve levar em consideração”, bem como a importância dos processos e as mudanças que afetam a organização e os resultados das auditorias. Além disso, a norma orienta a seleção de auditores imparciais, sendo assegurado que os resultados destas auditorias sejam relatados aos gerentes, além da execução de ações corretivas quando houver não conformidades (ABNT, 2015). Podemos dizer então que a norma coloca a auditoria como fundamental para prover informação, embora na prática, dentro da realidade das empresas, a auditoria interna é vista com maus olhos, muitas vezes. Isso ocorre pois, no dia a dia de uma organização, a prática da auditoria interna (e externa, inclusive) tende a ser vista como algo que atrapalha o dia a dia de trabalho ou, até mesmo, seja visto como uma forma de “pegar no pé” daqueles colaboradores que não estão alinhados às práticas para um SGQ. Embora a ISO 9001 cite a periodicidade de auditorias internas, estas devem ser definidas pela própria organização, dependendo do ramo de atuação, da dimensão e da política da empresa, mas é importante que haja uma rotina destas avaliações. Por exemplo, se o Sistema de Gestão de Qualidade da empresa é recém implementado, convém uma maior frequência de auditorias, o que facilita a implantação e os seus melhores resultados. Lembrando que a auditoria deve analisar dois tipos de requisitos: » Os requisitos da própria organização: a própria ISO 9001 orienta a livre criação de requisitos para uma organização, que sejam adequados às suas particularidades do processo e do produto e serviço final. » Os requisitos da Norma ISO 9001:2015: a auditoria interna é a chave para antecipar o resultado de uma auditoria externa para certificação, por isso, o atendimento a todos os requisitos da Norma é fundamental, neste sentido. O importante é percebermos que a auditoria precisa analisar bem a organização, as reclamações de clientes, o papel dos fornecedores e a rotina de trabalho em si da organização, além de ser importante para saber se os planos de ação propostos estão em andamento e se estão surtindo efeitos. E é por isso que as auditorias internas podem ser ainda mais importantes do que as auditorias externas(aquelas que são feitas para se obter a certificação), isso porque quando a auditoria é realizada pelos próprios colaboradores da organização, estes sabem compreender melhor a realidade para, assim, identificar mais facilmente as não conformidades, os riscos e as oportunidades, buscando mais facilmente também as melhores soluções para tal situação. COMO REALIZAR UMA AUDITORIA INTERNA? https://static-dpc.unyleya.com.br/conteudo/pos_graduacao/gestao_da_qualidade_segundo_a_abnt_nbr_iso_9001_2015/v1/unidade3/uni3/uni3_cap2.html# Ainda que haja muita distinção entre as organizações, com dimensões, recursos, estruturas, processos e resultados distintos, há sim uma sequência lógica do que deve ser analisada nas auditorias internas: » Recomenda-se começar a análise pela alta direção, para compreender o contexto de implementação do SGQ, objetivos da qualidade e metas. » Analisar se o SGQ proposto é praticado como um todo dentro do sistema e dos processos da organização, incluindo sobretudo os seus princípios de gestão. » Posteriormente, analisar junto da alta direção novamente se há conformidade com a norma e se as ações e os recursos definidos na visão da Alta Direção vão aumentar a competitividade da organização e promover melhorias que aumentarão a satisfação dos clientes e considerarão as partes interessadas. As auditorias internas, apesar de, usualmente, serem realizadas por colaboradores da própria organização, podem ser realizadas por empresas terceirizadas, assim como as auditorias externas. Isso porque, como a própria norma afirma que a organização deve determinar a sequência e interação dos processos, pode ocorrer dificuldades para assegurar a objetividade e a imparcialidade do processo de auditoria. Por exemplo, uma pequena indústria, como um dos seus funcionários da produção poderá ser imparcial para com o processo acima, de projeto? Ou vice-versa? Ou como uma pessoa da área de planejamento poderá auditar os serviços consequentes deste planejamento? Por isso, auditar internamente pode ter significados e ações distintas dependendo do porte e do tipo de atividade/produção da organização. Para as grandes organizações, por exemplo, os problemas são menores, uma vez que é mais fácil formar equipes de auditores internos que não tenham relação com outros setores e unidades desta organização. Para estabelecer de que forma essa auditoria interna será feita, cabe ponderar, também, o quanto é compensável despender colaboradores para deixarem suas funções e realizar treinamentos de auditoria interna para realizá-la poucas vezes ao ano, por exemplo. Caso esteja tudo certo em relação ao SGQ da organização, e este seja um sistema sólido, sustentável e com qualidade nos processos, produtos e serviços, além da contribuição para a competitividade desta organização, esta poderá partir para uma auditoria externa, de empresas certificadoras. Então, como funciona uma auditoria externa para certificação? Normalmente, ela acontece em duas etapas: 1. O auditor verifica inicialmente o atendimento dos requisitos da norma ISO 9001 e os ajustes necessários para o total atendimento desta. Esta vistoria inicial pode ocorrer tanto in loco, na empresa, quanto apenas pelo envio dos documentos ao auditor. 2. Na etapa seguinte, o auditor irá presencialmente, de fato, verificar a execução de todos os requisitos da norma por meio dos processos e da conformidade da organização e seus produtos ou serviços oferecidos, o que se dará por meio de entrevistas, observação do trabalho e processos etc. Caso a organização não esteja em conformidade com a norma, é marcada uma outra certificação para analisar os ajustes a serem feitos e a implementação de ações corretivas. Caso a organização esteja condizente com o proposto nas documentações e com a norma ISO 9001, o auditor recomenda a sua certificação. Cabe ressaltar que, ao longo da certificação, deverá haver auditorias agendadas para, pelo menos, uma vez ao ano, a fim de realizar manutenção e monitoramento das ações para a implementação do Sistema de Gestão da Qualidade. Perfil dos auditores Apesar de inúmeros treinamentos para auditores internos e externos, muitos destes ainda estão despreparados, o que pode gerar falhas das auditorias e prejudicar o processo de certificação. Algumas falhas são citadas por SOUZA (2017): » Auditor líder não preparado, que não estuda o processo da organização para realizar a auditoria in loco, ou seja, não tem o roteiro da organização de do seu SGQ. » Auditor não estuda a abordagem de processos da organização, realizando a auditoria por departamento ou requisito da norma. » Auditores que não dominam os requisitos estabelecidos na norma ISO 9001 (e estabelecidos pela própria organização) em relação à profundidade de aplicação, sua abrangência e sua interação: contexto da organização; análise de riscos e oportunidades; planejamento de mudanças; controle de processos, produtos e serviços providos externamente; conhecimento organizacional; conscientização; comunicação; informação documentada e outros. Isso faz com que o auditor possa deixar de analisar alguns requisitos novos, por exemplo. » Os auditores devem, preferencialmente, ter escolaridade superior completo, preferencialmente em cursos que tenham ligação com gestão. Mas, ainda assim, os auditores devem realizar treinamentos específicos, tanto em relação à norma quanto em relação à análise e gestão de riscos e oportunidades, gestão por processos, métodos de análise e solução de problemas, planejamento estratégico; métodos estatísticos; entre outros. » Se os auditores tiverem experiência em gestão de processos, planejamento estratégico, análise de riscos e oportunidades, entre outros, é um fator positivo a mais destes auditores. » O auditor – preferencialmente – deve ter habilidades de comunicação boa, ser flexível, atencioso, persistente, observador e não ser tendencioso. ISO 19011: 2018 A norma, que estabelece as diretrizes para auditoria e, também, requisitos para competência e avaliação de um auditor e de uma equipe auditora, teve recentemente uma nova versão atualizada. Ela é aplicável às organizações que planejam e conduzam auditorias internas ou externas de sistemas de gerenciamento ou gerenciar um programa de auditoria, seja para auditorias de primeira parte, segunda parte ou terceira parte. Uma das vantagens da norma é que ela auxilia os mais diversos tipos e tamanhos de organização, suas auditorias de escopos e escalas das mais variadas, desde conduzidas por grandes equipes até equipes de apenas um auditor. A norma, atualizada em 2018, possui a descrição dos princípios de auditoria, ou seja, a garantia de que a auditoria é uma ferramenta eficaz e confiável para o SGQ. A adesão a estes princípios é pré-requisito para que as auditorias sejam bem-sucedidas e tenham bons auditores envolvidos. A figura 14 ilustra os principais princípios de auditoria (OSIKA, 2018): Figura 14. Princípios de auditoria. Fonte: Osika (2018). » Integridade: é importante a equipe de auditores ser idônea e honesta, a fim de executar a auditoria de forma competente, correta e imparcial. » Apresentação justa: é importante que se apresentem conclusões das auditorias de forma verdadeira e objetiva, com comunicação clara e objetiva. » Devido cuidado profissional: o auditor deve aplicar com agilidade e cautela uma auditoria, para obter a confiança de clientes e partes interessadas. » Confidencialidade: os auditores devem ter discrição em relação às informações obtidas na auditoria, para evitar que estas informações sejam utilizadas de forma errônea ou para que nem auditor nem auditado obtenham algum tipo de vantagem. » Independência: o auditor deve manter a imparcialidade e objetividade perante as conclusões da auditoria, de forma que a organizaçãopossa realizar as atividades de forma livre e não tendenciosa. » Abordagem baseada em evidência: a confiabilidade da auditoria é garantida quando esta é baseada em um método planejado e racional, por meio das evidências verificadas no momento da auditoria. » Abordagem baseada em risco: sobre como aplicá-lo em auditorias de riscos e oportunidades (princípio adicionado pela nova versão da norma). As principais mudanças dessa nova versão da norma 19011:2018 indicam uma maior preocupação com riscos e oportunidades, além de informações sobre como aplicar o pensamento baseado em risco ao processo de auditoria. A norma também descreve com detalhes todas as atividades de auditoria (ABNT, 2002): » Designação do líder da equipe da auditoria. » Definição dos objetivos, do escopo, dos critérios da auditoria: o mais interessante é que isso seja feito pelo cliente da auditoria em parceria com o auditor. » Determinação da viabilidade da auditoria: de acordo com as informações existentes a serem passadas, a cooperação do auditado e tempo e recursos empregados para tal. » Seleção da equipe da auditoria: que seja competente e siga critérios já citados anteriormente. » Estabelecimento de contato com o auditado: formal ou informal, para criar um canal de comunicação e estabelecer como será a auditoria. » Realização de análise de documentos. » Preparação de plano de auditoria, dos documentos de auditoria etc. » Realização de reunião com o auditado. » Coleta de informações: relativas às atividades e aos processos. Somente as informações que são verificáveis é que se tornam evidências. » Geração de conclusões da auditoria: analisando e preparando recomendações. » Realizando reunião de encerramento com a organização auditada. A figura 15 mostra a visão geral da auditoria. Figura 15. Visão geral de uma auditoria. Fonte: Adaptado de ABNT (2002). Relatório de auditoria É um formulário criado pela própria organização a fim de ordenar a verificação do cumprimento dos requisitos da Norma ISO 9001. Como o relatório deve ser usado? O relatório deve se limitar a registrar o que exatamente ocorre, registrando as evidências, não devendo ter sugestões ou suposições. Para isso, deve-se ter uma lista de verificação que contenha: » Referência à norma aplicável e/ou documento da qualidade utilizado na auditoria. » Elementos da norma. » Itens específicos. » Espaço para comentários. A figura 16 mostra um exemplo de listagem para a realização de auditoria. Figura 16. Referência de montagem de lista para a realização de auditoria. DESCRIÇÃO DOS ITENS A SEREM AUDITADOS 0 1 2 3 EVIDÊNCIAS/ COMENTÁRIOS Fonte: própria autora. Onde: 0 – não atende; 1 – não atende, mas está sendo agendado; 2 – Atende parcialmente; 3 – Atende plenamente O registro de uma não conformidade As informações que não se aplicarem às conformidades propostas na norma ISO 9001 devem ser colocadas em um relatório de não conformidade, ou então, na chamada Solicitação de Ação Corretiva – SAC, entre outras possíveis denominações. Esse relatório deve ser anexado ao documento de relatório final de auditoria. Sendo assim, é desejável que esses registros contenham todas as informações que o auditor vai necessitar para preparar o seu relatório: » a não conformidade: descrição clara do observado, apresentada de forma inequívoca; » o requisito não atendido: indicação do item da norma e/ou documento da qualidade que se aplica à observação; » a(s) evidência(s) objetiva(s): o que foi observado e embasa (justifica) a não conformidade. A figura 17 a seguir exemplifica como relatar as não conformidades: Figura 17. Modelo de Relatório de Não conformidade. Fonte: própria autora. A ISO NO BRASIL E NO MUNDO Falaremos agora sobre a aplicação da norma no contexto do mundo e do Brasil. Para isso, é importante compreendermos e analisarmos – ainda que de forma superficial – a realidade encontrada no país. Como falamos anteriormente, a certificação do Sistema de Gestão da Qualidade é, atualmente, um diferencial importante para as empresas, para sua imagem e representação no mercado interno e seus clientes e fornecedores. Quando tratamos do mercado externo, a certificação do SGQ adquire ainda mais prestígio e valor para uma organização. Em relação ao número de organizações no mundo que possuem o certificado ISO 9001, até o ano de 1993, este número cresceu compulsoriamente. Nos anos seguintes, entretanto, o número de certificados válidos vem caindo consideravelmente (ISO, 2017). A figura 18 demonstra o percentual de crescimento do número de certificações a partir de 1993 até 2015. Figura 18. Gráfico de crescimento mundial do número de certificados ISO 9001 (%). Fonte: ISO (2015). Conforme podemos ver, há uma retração constante nos últimos anos de certificados emitidos. Em alguns períodos, a diminuição é ainda maior, como em 2003 e 2011. Segundo a própria ISO (2017), em 2014 havia 1.036.321 certificados válidos no mundo. Em 2015, esse número caiu para 1.033.936. Esses números correspondem ao somatório das certificações ISO 9001:2008 e ISO 9001:2015. E NO BRASIL? No nosso país, no período entre 2005 e 2015, o máximo de certificações obtidas alcançou o número de 28.325, em 2011. A figura 19 indica o número de certificações válidas no Brasil no período citado. Figura 19. Certificados ISO emitidos no Brasil. Fonte: Adaptado de Santos (2017). Agora, confirme já dissemos, compreender o contexto do país é importante para analisar o número de certificados emitidos. Santos (2017) realizou uma relação entre o Produto Interno Bruto (PIB), um importante indicador econômico de como anda o país, com o número de certificações obtidas pelas organizações ao longo de um período. A figura 20 mostra essa relação. Figura 20. Relação entre o PIB brasileiro e a certificação ISO 9001. Fonte: Adaptado de Santos (2017). É possível observar que o número de certificações tem relação com o PIB atual do país: quando o PIB aumenta, aumenta o número de certificações, e vice-versa. Isso ocorre pois há a tendência de melhoria econômica do país trazer também melhorias para as organizações. Em relação à nova norma, atualizada em 2015, podemos avaliar a desigualdade em relação às emissões de certificados entre as diferentes regiões do país. E a razão é clara: grande parte das organizações (indústrias e empresas) estão concentradas na região Sudeste, a maior área no indicativo de certificações, conforme podemos ver na figura a seguir: Figura 21. Certificados NBR ISO 9001:2015 emitidos por região do Brasil. Fonte: Adaptado de Santos (2017). Certificados por região: » Norte: 6. » Nordeste: 16. » Centro-oeste: 13. » Sudeste: 203. » Sul: 51. A região Sudeste foi responsável por mais de 70% dos certificados emitidos. O Estado de São Paulo, considerado o maior detentor de organizações, foi possuidor de mais de 83% dos certificados da região Sudeste (SANTOS, 2017). Isso mostra que o desenvolvimento e cenário econômico em geral tem relação significativa no número de certificados emitidos e na decisão das organizações de implementar a norma e/ou manter a certificação que, afinal, existem custos – relativamente altos – para que a certificação se mantenha.STUDO DE CASO Quando falamos de certificação, é importante analisarmos os diferentes setores e quais são os que mais se destacam nessa busca pela certificação de qualidade e porque isso ocorre. O quadro 7 mostra quais os setores econômicos e industriais que mais se destacam no quesito certificação: Quadro 7. Percentual de certificações ISO 9001 por setor de atividade. POSIÇ ÃO SETOR 1 Metal básico e produtos fabricados de metal. 2 Equipamentos elétricos e ópticos. 3 Construção. 4 Comércio de atacadoe varejo; reparos de veículos automotivos e motocicletas; bens pessoais e domésticos. 5 Máquinas e equipamentos. Fonte: Adaptado de Epelbaum (2016). No Brasil, é curioso ver que o setor com o maior número de certificações é o da metalurgia: Metal básico e produtos fabricados de metal. Silveira (2017) realizou um estudo em uma empresa metalúrgica, a fim de buscar quais foram os resultados operacionais e financeiros da empresa Maio Indústria Mecânica Ltda. durante seu processo de adequação e certificação de Sistema de Gestão da Qualidade. Ou seja, uma empresa que possui a certificação realmente melhora seu desempenho e se sobressai perante a concorrência? Foram realizados para a pesquisa: » Coleta de dados. » Entrevistas. » Observação direta. » Análise. » Validação do sistema de gestão para fins de reconhecimento formal. A pesquisa documental limitou-se às fontes de dados secundários autorizados pela empresa e buscou mostrar o uso da metodologia de aplicação do Sistema de Gestão da Qualidade e a evolução do desempenho organizacional, a partir da relação de normas, planos de ação, atas de reuniões, gráficos, dados, planilhas, vídeos e outras fontes pertinentes. Externamente, buscou-se publicações autorizadas pela empresa, matérias jornalísticas em jornais e revistas, folders e homepage institucionais, todas ligadas à empresa. Entre os anos de 2010 a 2013, foram analisados quantitativamente alguns indicadores como faturamento, inadimplência e resultado financeiro, além dos indicadores operacionais em si, ou seja, produtividade, compra, devolução, refugo de produtos etc. Para a aplicação do Sistema de Gestão da Qualidade, foram recrutados “dentro da própria equipe de colaboradores pessoas que pudessem auxiliar nas mudanças e que fossem capazes de estabelecer em cada setor as etapas para a implementação”, chamadas de facilitadores (SILVEIRA, 2017). Estes 6 facilitadores – 3 da administração e 3 da área da produção – foram responsáveis por disseminar o SGQ em toda a empresa. Para iniciar os procedimentos de auditoria, os processos da empresa foram mapeados, entretanto, houve dificuldades de se adaptar os procedimentos que normalmente são utilizados à realidade produtiva e precisaram ser reescritos. Verificou-se que o mapeamento dos processos é muito importante para identificar como a empresa estava produzindo. É um raio-x do passo a passo até chegar ao consumidor final. A grande dificuldade encontrada foi sanar o incômodo e a resistência dos colaboradores com a mentalidade de que tal mapeamento seria mais uma burocracia documental, dificuldade muito comum em todas as organizações, conforme já citamos anteriormente. A mudança do comodismo diário para novas atitudes sempre é um desafio a se vencer. A empresa definiu uma nova política de qualidade, com um tripé de objetivos: “Assumir somente o que se pode cumprir. Não admitir falhas na entrega do prometido e Aceitar continuamente novos desafios” (SILVEIRA, 2017). MUDANÇAS E AVANÇOS Podemos destacar como um dos principais avanços, a melhoria na organização do armazenamento dos produtos e o maior cuidado com o manuseio destes, com a antecipação da identificação de um produto não conforme durante o processo produtivo, contribuindo para o atendimento ao requisito 8.3 da norma (Controle de produto não conforme). A figura 22 mostra o comparativo entre antes e depois da implementação do SGQ no setor de estoque. Figura 22. Antes e depois do setor de estoque. Fonte: Silveira (2017). Uma das mudanças foi um maior controle e verificação dos fornecedores, com mecanismos de avaliação para uma melhoria no recebimento e na entrega dos produtos. A criação de uma planilha de não conformidades encontradas, conforme a figura 23, e a criação de uma planilha de controle de fornecedores auxiliaram a empresa neste sentido. Figura 23. Planilha de não conformidades elaborada pela empresa. NO DAT A ÁREA QUE NOME ÁREA RESPONS DESCRIÇ ÃO DA SOLUÇÃO PARA A COLA BORA DATA DA RESPOSTA DETECT OU O PROBLE MA ÁVEL PELA OCORRÊN CIA OCORRÊ NCIA OCORRÊN CIA DOR Fonte: Silveira (2017). Foi criado também o planejamento estratégico do processo produtivo, alterando a linha de produção e seu layout, fazendo com que os colaboradores trabalhassem sequencialmente, quando antes este trabalho era realizado por células de trabalho. Assim, cada colaborador se especializou em um setor exclusivo do processo, agilizando-o, e aperfeiçoando este funcionário. Para ajudá-los, houve uma melhoria também na tecnologia empregada, com manutenção das máquinas e otimização dos equipamentos como um todo. Em termos financeiros, a empresa passou a criar indicadores importantes, como indicadores de recompra e de produtividade, de produtos reprovados, indicadores de devolução, entre outros. Todos tiveram significativa melhora após o começo da implementação do processo do Sistema de Gestão da Qualidade. O quadro 8 mostra o aumento da receita bruta ao longo dos anos do processo de implementação do SGQ. Quadro 8. Receita bruta de vendas entre 2010 e 2012 no processo de implementação do SGQ. ANO/ INDICADOR 2010 2011 2012 Receita Bruta – vendas R$10.257.584 ,45 R$13.714.064 ,24 R$15.963.783 ,03 Fonte: Silveira (2017). Podemos ver o aumento considerável nas receitas da empresa. Em 2011, esse aumento foi de mais de 33% e, em 2012, o aumento foi de mais de 55%. Sobretudo, a maior das mudanças, que podemos entender como o reflexo das demais mudanças da empresa, foi o produto final que teve significativa mudança na qualidade, mudança que de alguma forma impacta nos frutos econômicos, com a fidelização e aumento de clientes e vendas, controle de qualidade significativo, entre outras vantagens. Após a organização da empresa, buscou-se a certificação a partir da contratação de empresa externa, mas antes, contratou-se um consultor para melhor adequar as auditorias internas até a auditoria de certificação. Após várias adequações solicitadas, houve uma pré- auditoria da empresa e, após novas ações, a certificação de fato ocorreu e o parecer positivo para o certificado de Gestão de Qualidade aconteceu. O certificado tem validade de três anos, devendo-se depois disso realizar novas auditorias, as chamadas auditorias de recertificação. Pode-se concluir que a implementação da ISO 9001:2008 levou a organização a obter significativa melhora nos seus resultados operacionais, gerenciais e estratégicos. No sentido operacional, obteve- se a padronização dos produtos e processos, resultando em reduções de retrabalho, melhora significativa na organização da fábrica. Em relação aos clientes, a certificação melhorou a imagem da empresa e do produto, o que trouxe significativo aumento de vendas e ampliação do mercado de atuação. PARA (NÃO) FINALIZAR Nós falamos, ao longo de todo este material de estudo, sobre a globalização das economias e dos mercados em todo o mundo e o quanto essa é uma questão importante para ser levada em consideração pelas organizações que queiram expandir seus horizontes de produção e mercados consumidores. O desenvolvimento de sistemas de gestão cada vez mais abrangentes tornou-se um importante diferencial das organizações diante da concorrência. Para isso, estas têm buscado o desenvolvimento de sistemas de gestão que tragam melhores custos-benefícios e, ao mesmo tempo, destaque no mercado em que atuam. Como falamos ao longo desse material, o Sistema de Gestão de Qualidade, popularizado pela Norma ISO 9001 foi pioneiro na busca de melhorias para as organizações, seus produtos, processos e sistemas, e para o mercado consumidor como um todo. Embora sua difusão tenha sido a partir da década de 1990, atualmente são poucas as empresas que buscam apenas se adequarem a um SGQ e se certificar. A tendência de mercado é que se busquealgo a mais do que uma qualidade plena. O destaque é o sistema de Saúde e Segurança do trabalho, que, cada vez mais, está sendo adotado pelas organizações em geral enquanto compromisso social, sobretudo, mas também como melhorias materiais na redução de custos, sobretudo os relacionados a acidentes de trabalho e a integridade física e mental dos seus colaboradores. Para padronizar e atender a essa demanda, foi desenvolvida em âmbito mundial a norma OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety). Outra iniciativa que propõe mudanças para as organizações, baseada na realidade de degradação ambiental de todo o planeta, foi o desenvolvimento de um Sistema de gestão Ambiental, concretizado pelas normas da família ISO 14000, que tem na norma ISO14001 a possibilidade de certificação para organizações em conformidade com o compromisso de melhoria no desempenho ambiental. Mais contemporânea é a discussão sobre a Responsabilidade Social das organizações, que foi consolidada pela criação da Gestão da Responsabilidade Social, conforme a ISO 16001 - Responsabilidade Social: Requisitos do Sistema de Gestão, com versão recente publicada em 2012. Todas essas normas têm em comum o foco na melhoria contínua da gestão, buscando o cumprimento de requisitos legais, das políticas da empresa e, especialmente, estas normas são baseadas no ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act), que já falamos anteriormente. Por estas ações em comum, a integração destes sistemas é totalmente possível. E, assim, foi desenvolvido o Sistema de Gestão Integrada (SGI). O que é um SGI? O Sistema de Gestão Integrada (SGI) é basicamente a combinação de processos, procedimentos e práticas adotadas por uma organização, com o objetivo de implementar políticas e atingir os objetivos pretendidos de forma mais eficiente, ao invés de utilizar múltiplos sistemas de gestão de forma individualizada. Permite, assim, integrar de forma mais eficiente, nas operações do dia a dia das empresas, os aspectos e objetivos da qualidade, do desempenho ambiental, da responsabilidade social, da saúde e segurança ocupacional, entre outros setores. Embora não tenha uma norma específica para a implementação do SGI, são utilizadas para tal as certificações das normas citadas. Apesar disso, há a necessidade de se elaborar uma norma específica para certificação deste sistema. Em decorrência desta necessidade, a entidade britânica responsável pela elaboração de normas, a BSI (British Standards International) desenvolveu a primeira especificação no mundo relativa a requisitos comuns de Sistemas Integrados de Gestão, a PAS 99:2006. Esta fornece um modelo para que as organizações integrem em uma única estrutura todas as normas e especificações de sistemas de gestão (DE CICCO 2008). A grande vantagem do sistema integrado é a possibilidade de utilização de vários elementos comuns à gestão de cada um dos itens, o que evita a duplicação de procedimentos da empresa. Existem diversas normas internacionais que tratam da questão dos sistemas de gestão, dentre as quais, as mais conhecidas são as da ISO (9001 e 14001) e a da OHSAS 18001 para as questões de saúde e segurança. A figura 24 mostra o esquema que forma um Sistema de Gestão Integrada. Figura 24. Conceito de SGI. Fonte: Adaptado de Fernandes et al. (2012). Claro que o atendimento a demanda dessas normas requer um grande esforço por parte das organizações. Além da disponibilidade financeira e de pessoal dedicado, requer esforço que vai além de todo o sistema existente em funcionamento. Mas as vantagens existem e são cada vez maiores diante do mercado. A adoção do sistema integrado evita gastos com ações que se repetem nos requisitos isoladamente. E não é preciso obrigatoriamente obter uma certificação para que o sistema seja considerado eficaz. Entre as principais vantagens de se implementar um SGI estão (FERNANDES et al., 2012): » Diferencial competitivo e fortalecimento da imagem diante do mercado consumidor e internacional. » Atendimento das demandas do mercado internacional e dos anseios da sociedade. » Padronização internacional na gestão. » Melhoria como um todo na relação da organização e seus colaboradores. » Maior capacitação e educação dos colaboradores. » Aumento da conscientização das partes interessadas. » Minimização dos riscos e aumento da segurança como um todo. » Redução de investimentos com auditorias e riscos. » Redução de custos: desde matérias-primas otimizadas até diminuição de acidentes, entre outros fatores de redução. Portanto, cabe a reflexão de se colocar na balança o que realmente é valoroso para uma organização. Obter crescimento e vantagens exclusivamente econômicas ou crescer em sua essência, buscando valorizar colaboradores e clientes acima de tudo? Considerações finais É importante refletirmos sobre a importância do que pode representar para uma organização obter uma certificação da norma ISO 9001. Em todo o mundo, cerca de 170 países utilizam a normas da Organização ISO e mais de um milhão de empresas de todo o mundo já foram certificadas na ISO 9001. Só na América do Sul, são mais de 50 mil empresas certificadas. Com a globalização e o mercado internacionalizado, as normas ISO se tornaram uma importante ferramenta de avaliação padronizada para o processo produtivo das empresas de todo o mundo. Mesmo que haja diferenças culturais, de métodos, de aplicações e de formas de trabalho por todo o mundo, a normatização dá uniformidade no que tange o atendimento aos desejos dos clientes e da melhoria contínua dos processos, por mais distintos que estes sejam. Assim, a ISO 9001 possui reconhecimento, utilidade e validação por todo o mundo, e a certificação de uma organização abre portas para a negociação com qualquer tipo de mercado e tipo de consumidor dentro e fora do seu país de origem. Mas, em cada nação, a norma recebe sua própria versão de acordo com a legislação e características de cada país. No continente americano, em geral, o uso da ISO 9001 é muito grande e considerado um fator decisivo para as trocas comerciais. No Brasil, a transição das certificações da norma de 2008 para a norma atualizada em 2015, fez com que a quantidade de certificações tivesse uma pequena reduzida, entretanto, conforme a obrigação de se adequarem à nova norma até 2018, o número de certificações voltou a crescer significativamente no país (Blog Qualidade Simples, 2017): » 18.201 empresas certificadas em 2014. » 17.512 empresas certificadas em 2015 (queda de 3,8% em relação ao ano anterior). » 20.908 empresas certificadas em 2016 (aumento de 16,2% em relação ao ano anterior). Esse valor de 2016 fez com que o Brasil ficasse na décima posição mundial de certificações, o que, considerando os países da Europa, Estados Unidos e China, grandes potências comerciais, é uma posição bastante significativa em relação a todo o mundo. A China, aliás, é o país que lidera esse ranking com mais de 350 mil certificações, seguido por Itália, Alemanha, Espanha, Polônia, entre outros, especialmente da Europa e Ásia. Com destaque também para a Índia, uma vez que este, diferente dos demais citados, possui características econômicas semelhantes ao nosso país e está em ascensão neste processo de certificações. Se fizermos uma reflexão história da normatização brasileira, nestes 30 anos de existência da ISO 9001, ocorreram 4 revisões dos requisitos e outras alterações nas normas da família ISO 9000. A partir da ISO 9001 foram criadas outras normas de sistemas de gestão, como a ISO 22000 para segurança de alimentos, a ISO/TS 16949 para o segmento automotivo, ISO/IEC 27000 para a segurança da informação etc. Segundo Alves et al (2017), em estudo realizado com empresas certificadas, mostram que as principais motivações para implementação da ISO 9001 citadas pelas essas empresas foram:melhoria na organização interna, maior eficiência produtiva e maior confiabilidade na marca da empresa perante consumidores. Já as principais dificuldades apontadas estão relacionadas à resistência de funcionários e colaboradores. Embora haja dificuldades – e muitas! – para a implementação da norma e da sua certificação, os benefícios são imensos. Essa resistência dos colaboradores em geral pode ser combatida e minimizada realizando incansáveis treinamentos, palestras e, sobretudo, esclarecendo e debatendo juntamente com todos os novos procedimentos, seus benefícios e dificuldades para todos de dentro da organização. Não é fácil, mas é sim recompensador. É importante simplificar a norma a todos os colaboradores. Supondo que a organização trabalhe com pessoas menos instruídas, e que não possuem intimidade com os termos da norma. Como o processo de adaptação deve envolver a todos, cabe à direção estabelecer formas de alinhar a linguagem da norma para todos que ali trabalham. Lembrando sempre que envolvimento não é imposição! Só com a participação de fato de todos é que a cultura poderá ser mudada. Os benefícios seguintes são diversos e já destacamos neste material, mas é sempre importante enfatizar os benefícios levantados pelas próprias organizações na prática de certificação (ALVES et al., 2017): » Aumento de produtividade, sem desperdícios oriundos de não conformidades. » Padronização dos produtos, conforme padronização das práticas e métodos de trabalho de todas as áreas. » Gestão por indicadores dos principais processos da empresa, o que proporciona uma base sólida para um programa de melhoria contínua. » O aumento da participação de todos os colaboradores é um dos melhores benefícios. Desde a alta direção até o setor produtivo, todos comprometidos com o mesmo ideal e melhorias. » Aumento da confiança dos clientes em relação àquele produto ou àquele serviço. » Garantia de melhores condições de fornecimento e atendendo à política da qualidade da empresa em relação às parcerias com clientes. » Melhoria no trato com as reclamações e devoluções de clientes, tornando mais ágil o processo de disposição destas ocorrências e fazendo o cliente sentir mais confiança na empresa. PLAN DO CHECK ACTION