Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Laísa Dinelli Schiaveto Dismenorreia, Dor Pélvica e Síndrome Pré-Menstrual DISMENORREIA A dismenorreia, também conhecida como cólica menstrual ou menstruação dolorosa, acomete até 60% das mulheres que menstruam. DISMENORREIA PRIMÁRIA A dismenorreia primária (dor menstrual sem doença pélvica) surge entre 1 e 2 anos após a menarca, quando já se estabeleceram os ciclos ovulatórios. Assim, afeta mulheres jovens, podendo persistir até a faixa etária de 40-49 anos. A causa da dismenorreia primária inclui o excesso ou desequilíbrio da quantidade de prostanoides secretados pelo endométrio durante a menstruação, sendo responsáveis pelo aumento das contrações uterinas com um padrão arrítmico, do tônus basal e da pressão ativa. Portanto, a dor é causada pelo conjunto de hipercontratilidade uterina, diminuição do fluxo sanguíneo uterino e aumento da hipersensibilidade dos nervos periféricos. PROSTAGLANDINAS As prostaglandinas são encontradas em maior concentração no endométrio secretor do que no endométrio proliferativo. Assim, a diminuição dos níveis de progesterona no final da fase lútea ocasiona uma ação enzimática lítica, que resulta na liberação de fosfolipídeos com a produção de ácido aracdônico e ativação da via COX. O aumento da síntese de prostanoides em mulheres com dismenorreia primária aumenta o tônus uterino, com contrações de grande amplitude que, portanto, causam a dismenorreia. Em relação à dor, ela começa algumas horas antes ou logo após o início do período menstrual e, em geral, é suprapúbica, mas pode ser acompanhada de dor lombossacral, que irradia para a face anterior da coxa, náusea, vômitos, diarreia e, em casos raros, episódios de síncope. Essa dor pode ser aliviada com massagem abdominal, contrapressão ou movimentação do corpo. O diagnóstico é baseado na anamnese e na presença de um exame pélvico normal. O tratamento é feito com AINEs, que inibem a prostaglandina sintase COX, devendo ser ingerido em até 1 a 2 dias antes ou, em casos de irregularidade menstrual, ao primeiro sinal de dor, ainda que mínima, ou sangramento e, depois, continuamente a cada 6/8 horas para evitar a formação de novos produtos intermediários da prostaglandina. - Deve ser tomado durante os três primeiros dias de fluxo menstrual; - É indicado um ciclo de 4 a 6 meses de tratamento e, posteriormente, nova análise ginecológica. Outra forma de tratamento são os anticoncepcionais hormonais, que inibe a ovulação, diminuem a proliferação endometrial e criam um ambiente endócrino semelhante à fase proliferativa inicial do ciclo menstrual, quando os níveis de prostaglandinas são mínimos, visto que a redução dos níveis de prostaglandinas diminui as cólicas uterinas. DISMENORREIA SECUNDÁRIA A dismenorreia secundária (dor menstrual cíclica associada à doença de base) costuma surgir 1 a 2 semanas antes do fluxo menstrual e persiste até alguns dias após o fim do sangramento. As causas incluem: endometriose, adenomiose, endometrite, DIP, DIU de cobre, cistos ovarianos, malformações pélvicas congênitas e estenose cervical. • A causa mais comum é a endometriose, seguida pela adenomiose e o uso de DIU não hormonal. A endometriose consiste na presença de glândulas e estroma endometriais fora da cavidade uterina. Os sintomas incluem dismenorreia intensa e dor pélvica cíclica, que começa até duas semanas antes da Laísa Dinelli Schiaveto menstruação, podendo estar associada à dispareunia profunda, infertilidade, sangramento irregular e outros. Já, a adenomiose consiste na presença de estroma e glândulas endometriais no miométrio, distante, no mínimo, um campo de grande aumento da base do endométrio. Dentre os sintomas, tem-se sangramento menstrual intenso ou prolongado, dispareunia e dismenorreia. O diagnóstico é clínico. Embora o diagnóstico de dismenorreia primária seja baseado na anamnese e na presença de um exame pélvico normal, o diagnóstico de dismenorreia secundária pode exigir a análise de um diário da dor para que se confirme o caráter cíclico e, além de USG transvaginal, pode haver a indicação de laparoscopia e/ou histerectomia. É importante realizar o diagnóstico diferencial, pois a conduta adequada é o tratamento do distúrbio de base. DOR PÉLVICA A dor pélvica pode ser aguda (intensa, de início súbito, aumento abrupto e curta duração), cíclica (dor associada ao ciclo menstrual), sendo que a dismenorreia ou menstruação dolorosa é a dor cíclica mais comum, ou crônica (dor persistente por mais de seis meses). DOR PÉLVICA AGUDA A dor pélvica aguda tem início rápido, muitas vezes associada à instabilidade dos sinais vitais, do exame físico e da avaliação laboratorial. Nesse sentido, a avaliação rápida, orientada por sistemas e por patologias, garante o diagnóstico e o tratamento eficaz de infecção, obstrução, isquemia (torção), extravasamento de substância irritante (ruptura de víscera ou cisto), neoplasia ou dor relacionada com a gravidez. Além disso, essa dor está associada aos reflexos autônomos profundos, como náuseas, vômitos, transpiração e apreensão, podendo, ainda, estar associada com sinais de inflamação ou infecção, como febre e leucocitose. Em relação à fisiopatologia, há participação de mediadores inflamatórios presentes em altas concentrações devido à infecção, isquemia ou irritação química. Dessa maneira, quando há uma paciente com dor pélvica aguda, é fundamental estabelecer os diagnósticos diferenciais. Quando a dor é de início rápido, esta é mais compatível com perfuração ou ruptura de alguma víscera oca ou isquemia após torção de um pedículo vascular. Já, a dor em tipo cólica ou espasmódica intensa está, muitas vezes, associada à contração muscular ou à obstrução de alguma víscera oca, como intestino, ureter ou útero. Por fim, a dor em todo o abdome sugere uma reação generalizada a um líquido irritante na cavidade peritoneal, como sangue, líquido purulento ou conteúdo de algum cisto ovarianos. Assim, na avaliação da dor pélvica aguda, o diagnóstico precoce é fundamental, uma vez que um atraso aumenta a morbimortalidade. Por isso, na anamnese, é necessário perguntar sobre a data e as características dos últimos dois períodos menstruais, a presença de sangramento anormal ou corrimento, bem como a história menstrual, sexual e contraceptiva, ISTs e distúrbios ginecológicos prévios. Além disso, deve existir dados como características da dor, sinais de infecção e sintomas relacionados. Dos exames laboratoriais deve-se solicitar: hemograma completo; exame de urina de amostra de jato médio, coletada por técnica Laísa Dinelli Schiaveto adequada; teste de gravidez urinário ou sanguíneo; pesquisa de gonorreia e clamídia; US pélvico transvaginal; e outros exames dependendo dos sintomas da paciente. DOR PÉLVICA CRÔNICA A dor pélvica crônica é definida como a dor pélvica persistente, na mesma localização, por mais de seis meses. Ela abrande diversas causas específicas, que varia entre os sistemas reprodutivo, gastrointestinal e urinário e, até mesmo, dor miofascial e as síndromes de compressão nervosa. Afeta cerca de 12-20% das mulheres nos EUA e, frequentemente, essas pacientes são ansiosas e deprimidas. Por isso, na primeira consulta, deve-se obter uma história completa da dor, levando em conta a natureza de cada sintoma: localização, irradiação, intensidade, fatores que agravam e aliviam, efeito do ciclo menstrual, estresse, trabalho, exercício, relação sexual, orgasmo, contexto no qual a dor surgiu e o custo social e ocupacional da dor. Ainda, deve-se questionar a paciente com relação acerca de sintomas específicos: - Sistema Genital: sangramento vaginal anormal, corrimento vaginal anormal, dismenorreia, dispareunia, infertilidade e função sexual. - Sistema Gastrointestinal: constipação intestinal, diarreia, flatulência,hematoquezia e relação entre a dor e os períodos de alteração da função intestinal ou aparência das fezes e alívio da dor com a defecação. - Sistemas Musculoesquelético e Neuropático: traumatismo físico (cirurgia ou lesão, exacerbação com exercício físico ou alterações posturais, fraqueza, parestesia ou dor lancinante). - Sistema Urológico: urgência urinária, polaciúria, noctúria, hesitação, disúria, hematúria e incontinência. - Psicológico: diagnósticos, hospitalizações e medicamentos anteriores, depressão atual, ansiedade, pânico, ideias suicidas, traumas emocionais, físicos ou sexuais passados e atuais. Assim, na propedêutica, deve-se realizar os seguintes passos: 1. Exclusão de doença pélvica de base. 2. Confirmação da natureza cíclica da dor. 3. Avaliação do tamanho, formato e mobilidade do útero; o tamanho e a dor à palpação das estruturas anexiais; a modularidade ou fibrose dos ligamentos uterossacros ou do septo retovaginal. 4. Pesquisa para gonorreia e clamídia (endometrite e DIP subaguda); 5. Hemograma completo, VHS e USG pélvico/ transvaginal se não houver melhora dos sintomas com AINEs. 6. Se não forem encontradas anormalidades, pode-se estabelecer o diagnóstico provisório de dismenorreia primária. 7. Causas dos sistemas gastrointestinal ou urogenital. SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL A Síndrome Pré-Menstrual (TPM) é composta por sintomas físicos ou emocionais, de intensidade variável, que surgem alguns dias antes do período menstrual e melhoram com a menstruação. Além disso, a forma mais grave é denominada de síndrome disfórica, sendo considerada um distúrbio psíquico. Laísa Dinelli Schiaveto Os sintomas podem ser: - Emocionais: astenia, ansiedade, irritabilidade, depressão e melancolia. - Cognitivos: dificuldade de concentração intelectual e indecisão. - Comportamentais: alteração do apetite, transtornos do sono, modificação dos hábitos sexuais, isolamento social, agressividade e tentativa de suicídio. - Outros: fogachos, crises epileptiformes, cefaleia e fadiga. - Decorrentes da Retenção Hídrica: oligúria, ganho de peso, aumento das mamas, mastalgia, dor pélvica, dor em MMII e distensão abdominal por edema das alças intestinais. - Miscelânia: náuseas, vômitos, alteração do trânsito intestinal, dores musculares, dores osteoarticulares, taquicardia, dispneia, precordialgia, hordéolo, hemorragia retiniana, hemorragia conjuntival, enurese e acne. - Manifestações Alérgicas: sinusite, rinite, prurido cutâneo, prurido vulvar, urticária, asma e conjuntivite. Portanto, diante desses sintomas, cabe ao médico avaliar clinicamente cada paciente e conseguir distinguir os casos psiquiátricos dos casos de somente TPM. SÍNDROME DISFÓRICA De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) dos EUA, a mulher apresentará, pelos menos, cinco dos seguintes sintomas: - Humor deprimido, falta de perspectivas ou pensamentos autodepreciativos; - Ansiedade ou tensão exacerbada; - Labilidade emocional (tristeza acentuada ou maior sensibilidade à rejeição); - Irritabilidade acentuada e persistente ou problemas de relacionamento pessoal; - Perda de interesse por atividades habituais, como trabalho, escolha, amigos e lazer; - Dificuldade de concentração; - Letargia, fadiga ou perda de energia; - Alterações do apetite, com alimentação excessiva ou fissura por certos alimentos; - Hipersônia ou insônia; - Sensação de perda de autocontrole; - Outros sintomas físicos, como hipersensibilidade ou aumento do volume das mamas, cefaleia, dores musculares ou articulares, sensação de empachamento ou ganho de peso. Diante disso, o tratamento deve ser baseado em psicoterapia de apoio, prática de exercícios físicos aeróbios regulares e mudança no estilo e hábitos de vida, evitando álcool e tabaco e implementando uma alimentação balanceada. Além disso, realiza-se as seguintes terapias: (1) Contraceptivos Hormonais: são a forma mais simples e mais barata, porém é necessário considerar que: - A paciente deve optar por esse método; - Não pode haver contraindicação para os hormônios; - Não se deve recomendar como primeira escolha o uso de medroxiprogesterona, pois predispõe à retenção hídrica, aumento de peso e sintomas depressivos; - Nas mulheres com retenção hídrica, a drospirenona pode ser uma boa opção. (2) Psicoterápicos: são indicados quando há acompanhamento multidisciplinar. - ISRS: fluoxetina (20-60 mg/dia), paroxetina (20-40 mg/dia), sertralina (50-100 mg/dia), fluvoxamina (100-300 mg/dia) ou citalopram (20-40 mg dia); é necessário lembrar que a interrupção deve ser gradual e que não devem ser usados durante a gestação sem orientação médica. - ADT: clomipramina (100 mg/dia) tem maior efeito serotoninérgico, amitriptilina (25-75 mg/dia), flunarizina (5-10 mg/dia) ou imipramina (25-75 mg/dia). - Ansiolíticos: utilizados quando os sintomas ansiosos forem severos e predominantes; alprazolam (0,25 a 0,50 mg/3 vezes ao dia), sendo um psicotrópico de notificação B. (3) Diuréticos: ideal para pacientes com retenção hídrica; espironolactona (50-100 mg/dia) ou bendroflumetiazida (2,5 mg/dia). (4) Antidopaminérgicos: somente quando os sintomas forem acompanhados de hiperprolactinemia; bromoergocriptina (2,5 mg/dia, nos últimos 10 dias do ciclo) ou Laísa Dinelli Schiaveto cabergolina (0,25-1,25 mg/semana, na fase lútea). (5) Nos casos de cefaleia: AINEs, ergotamina (1 mg, VO, 8/8h), sumatriptano (50-100 mg VO ou 6 mg SC ou 20 mg via nasal), betabloqueadores (propranolol 80 mg/dia), flunarizina (25 mg/dia) ou estradiol transdérmico (50 mcg a partir do 25º dia do ciclo até o fluxo menstrual). (6) Para as pessoas que não se beneficiaram com as terapias anteriores, que tenham contraindicação ou que nãos as desejam, pode- se optar por piridoxina/vitamina B6 (100-600 mg/dia), vitamina E (200 mg/dia), carbonato de cálcio (200-600 mg/dia) associado ao magnésio (100 mg/dia) ou ácido gama linoleico (1-2 vezes por dia).
Compartilhar