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Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato Dor pélvica crônica 1° - DEFINIÇÃO: Consiste em um quadro clínico que pode ser desencadeado por várias afecções e geralmente vem associado a outros problemas como disfunção sexual, depressão e ansiedade. Acomete um grande número de mulheres, possui diagnóstico difícil sendo em sua maioria de exclusão. É considerada como dor abdominal ou pélvica com duração mínima de 6 meses, caráter não menstrual ou acíclico, forte o suficiente para interferir em atividades habituais, causar limitação e requer tratamento. Resulta de uma complexa interação entre os sistemas gastrintestinal, urinário, ginecológico, músculo-esquelético, neurológico, psicológico e endócrino, influenciado ainda por fatores socioculturais. 2° - EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO: A maioria está em fase reprodutiva, atingindo cerca de 26,6% e sua taxa de recorrência pode chegar até 33%. Aproximadamente 20% das histerectomias e 40% das laparoscopias ginecológicas sejam realizadas para tratamento de dor pélvica. Estima-se que aproximadamente 60% das mulheres com a doença nunca receberam diagnóstico específico e 20% nunca realizaram qualquer investigação para confirmar a causa da dor. O abuso sexual, uso de drogas e/ou álcool, doença inflamatória pélvica, abortos, fluxo menstrual aumentado, várias cesárias, comorbidades psicológicas e cirurgias prévias estão associados à comorbidade e são considerados fatores de risco. 3° - ETIOLOGIA: Tem natureza multifatorial, decorre da interação de diversos órgãos e sistemas. As etiologias primárias são divididas em ginecológica e não ginecológica. Pode não haver doença orgânica justificando o quadro de algia crônica e que em até 1/3 das pacientes nenhuma causa é identificada. Além disso, diversas afecções podem coexistir, acentuando o quadro clínico das mulheres portadoras de DPC. A sensibilização central também parece atuar no quadro de dor. Sob constante estímulo doloroso, ocorre aumento da sensibilidade de membrana e da eficiência sináptica gerando uma diminuição do limiar nociceptivo (hiperalgesia primária), na resposta mais intensa e mais prolongada ao estímulo nociceptivo e na extensão espacial da zona dolorosa (hiperalgesia secundária). Assim, é comum que a paciente refira agravamento da dor ao longo do tempo, e em algumas situações a queixa pode parecer desproporcional aos achados em exame físico e exames de imagem. 4° - FISIOPATOLOGIA: A evolução e/ou manutenção da DPC é multifatorial. Podendo ser: → 1° Mecanismo → Mudanças neuroplásticas que acontecem no corno posterior da medula espinhal devido mudanças eletrofisiológicas, bioquímicas e metabólicas decorrente do estímulo nocivo inicial que gera inflamação neurológica devido à liberação de fator de crescimento neural e substância P (neuromodelador que facilita processos inflamatórios) na periferia que é o local que inicia o estímulo, tornando este exacerbado. → 2° Mecanismo → Sensibilidade cruzada entre vísceras que compartilham uma mesma inervação (reflexo víscero-visceral). → 3° Mecanismo → Desenvolvimento de reflexo víscero-muscular que podem gerar repercussões disfuncionais como incontinência urinária e gerar síndrome miofascial acarretando em novos pontos de dor. Havendo então, sobreposição de sintomas. Teoria da inflamação neurogênica → Estímulos nocivos decorrentes de dano tecidual podem aumentar a produção de substâncias promotoras da dor, localizadas nas terminações dos nociceptores aferentes primários, liberando quando estes são estimulados. Quando uma fibra sensitiva é estimulada eletricamente, o impulso se dirige a medula espinhal e p/ a periferia (sentido anti-drômico). Quando chega à periferia, há liberação de óxido nítrico, substância P, CGRP (proteína relacionada ao gene calcitonina), neuroquinina A e B, etc. Todos estes causam Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato inflamação neurogênica, caracterizada por vasodilatação + edema + hiperalgesia. Isso gera mais lesão tecidual, fechando o ciclo. Influências hormonais, psicossociais e culturais contribuem para hiperalgesia. 5° - QUADRO CLÍNICO: É importante diferenciar os tipos de dor para auxiliar até mesmo no diagnóstico. São estes: → Dor de origem somática: Estímulo doloroso inicia em pele, fáscias, músculos, ossos e articulações. É menos intensa, em pontadas e paciente localiza um ponto específico da dor. → Dor de origem visceral: Mal localizada, em cólica e pode estar associada a fatores autonômicos, como náuseas e vômitos. → Dor de origem psicológica: Menos frequente, considerada diagnóstico de exclusão. DPC DE ORIGEM GINECOLÓGICA As mais comuns observadas à laparoscopia são a endometriose e as aderências. A dor associada a esse tipo de alteração não é de grande intensidade. Endometriose → Diagnóstico mais comum encontrado em laparoscopias de mulheres com DPC, sendo que a maioria queixa de DPC no período menstrual (dismenorreia), dispareunia profunda. Doença inflamatória pélvica → Causa comum de DPC em portadores de doenças sexualmente transmissíveis. Cerca de 30% de quem tiver DIP apresentarão DPC, acredita-se que isso ocorre devido ao surgimento de aderências por causa da intensa inflamação e/ou lesão tubária que leva à hidrossalpinge. Aderências pélvicas → Formações fibrosas regenerativas que ocorrem depois de traumas mecânicos, infecções, inflamações e/ou sangramentos. Nos casos em que ocorrem isquemia do peritônio, pode reduzir a atividade fibrinolítica, não ocorrendo lise da fibrina e gerando as aderências. Granulomas de corpo estranho (gaze, talco...) também favorecem o surgimento. Essas aderências geram menor mobilidade das estruturas, limitação do peristaltismo intestinal, tração entre órgãos, estímulo das fibras aderentes; tudo isso acarreta na dor. A dor abdominal acíclica é comum e pode piorar durante coito e atividades físicas. Dismenorreia → Ocorre no período perimenstrual em mais da metade das mulheres com DPC. Principal causa de perdas de dias de aula e trabalho. Ocorre pela propagação de prostaglandinas no fluido menstrual, gerando contrações uterinas e dor. A vasopressina pode estar associada devido à contratilidade e gerar isquemia decorrente da vasoconstrição. Congestão ou varizes pélvicas → Também chamada de Sd. Da congestão pélvica, onde ocorre dilatação e tortuosidade do plexo venoso pélvico e diminuição do retorno venoso. Podem acontecer devido à desembocadura da veia ovariana esquerda em veia renal esquerda, favorecendo refluxo venoso, transmissão da pulsação da aorta e dano valvular em mulheres com DPC. Esse refluxo e congestão que causariam a dor. Afeta principalmente multíparas, apresenta dor abdominal baixa, piora no ortostatismo. Podem ser encontradas em assintomáticas. Adenomiose → Presença de tecido endometrial ectópico entre as fibras do miométrio que causa dor pélvica cíclica + dismenorreia + sangramento anormal. Dor causada pelo sangramento ou descamação do endométrio do miométrio na menstruação. Entre 40 – 50 anos. Síndrome do ovário remanescente → Rara. Em mulheres que fazem ooforectomia com remoção incompleta do ovário, fazendo que os fragmentos remanescentes continuem apresentando a função ovariana, acarretando em massas pélvicas e dor. Trata retirando os fragmentos cirurgicamente. Leiomioma uterino → Podem causar pressão e induzir dor por compressão. Pode cursar com dor aguda, mas a dor crônica é comum em pacientes com mioma. DPC DE ORIGEM UROLÓGICA Cistite intersticial → Causa comum de DPC. É condição inflamatória crônica da bexiga que cursa c/ dor pélvica e disfunção irritável com vontade exagerada de urinar e polaciúria. Pode ter incontinência urinária. Dor na bexiga é principal característica. Neoplasia de bexiga → Carcinoma in situ e carcinoma invasivo de bexiga parece com os sintomas da cistite. Considerar neoplasia em casos de hematúria, tabagismo e > 60 anos.DPC DE ORIGEM GASTRINTESTINAL Síndrome do Intestino Irritável (SII) → Comum em mulheres com DPC, cerca de 35%. É caracterizada por dor gastrintestinal crônica ou intermitente + dor abdominal. A maioria tem disfunção intestinal. Diagnóstico baseado na anamnese. Conhecida como hiperalgesia visceral. Doença inflamatória intestinal → Fadiga, diarreia, perda de peso, dor abdominal, febre, com ou sem sangramentos graves são característicos da doença de Chron. O processo inflamatório é de natureza transmural e pode causar fibrose e quadros obstrutivos do intestino delgado e cólon. Diverticulite → Podem desenvolver colite segmentar. Pode ter inflamações com hemorragia submucosa e em casos graves se parece com a doença inflamatória intestinal. A causa pode estar relacionada com prolapso de mucosa, estase fecal ou isquemia localizada. Doença celíaca → Causada por reação imune ao glúten que atrapalha na absorção e digestão. Apresenta diarreia de repetição e perda de peso. Dor pélvica pode ser queixa inicial. DPC DE ORIGEM OSTEOMUSCULAR Fibromialgia → Maioria referem DPC como queixa principal. Pode apresentar fadiga, depressão, SII... Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato Dor miofascial pélvica → Causada por espasmos involuntários da musculatura pélvica devido distúrbio inflamatório, cirurgia e/ou trauma. Dispareunia e dor pélvica agravam ao sentar por muito tempo. A mialgia por tensão do assoalho pélvico pode às vezes ser uma sequela direta da DPC em consequência de outras doenças, como endometriose ou cistite intersticial. Dor de origem postural → A má postura causa desequilíbrio muscular que acarreta em dor local. Caracterizada por hiperlordose, anteversão pélvica, hiperextensão de joelhos. Dor crônica da parede abdominal → Origina após contato com pontos-gatilho miofasciais na musculatura esquelética. A compressão desses locais sensíveis causa dor local podendo ter fenômenos autonômicos com vômito, etc. Pode estar relacionada com lesão muscular, dos nervos, escoliose... Osteíte púbica → Sd. Inflamatória dolorosa da sínfise púbica. Pode ser devido atividade física, cirurgia, trauma, gravidez... A dor piora ao andar, subir escadas e tossir. Se desencadeada por atividade física, a dor é progressiva e intensa. DPC ASSOCIADA À SAÚDE MENTAL São comumente diagnosticados em mulheres que apresentam DPC. Transtorno de somatização → Diagnóstico de exclusão quando apresentam múltiplas queixas físicas que não podem ser totalmente explicadas. Para diagnóstico, devem ter os seguintes critérios: pelo menos quatro locais diferentes de dor, dois sintomas gastrointestinais, além da dor, um sintoma neurológico, e um problema sexual e reprodutiva (que não seja a dor). Dependência de opiáceos → Pacientes tratados de dor crônica com opioides podem manifestar dependência. Pessoas com DPC tem resposta diminuída aos opioides, necessitando de doses maiores. Abuso sexual → Até 47% das mulheres com DPC referem história de abuso físico e sexual. Experiências traumáticas alteram o processamento neuropsicológico dos sinais de dor, respostas hipófise-adrenal e autonômicas ao estresse. Pode gerar disfunção do assoalho pélvico. Depressão → Alguns casos acreditam que a DPC é variante da depressão. Distúrbios do sono → Podem ser resultado da DPC e contribuir para o agravamento das doenças psíquicas. Como as vias nociceptivas são modulados por processos psicológicos, este mecanismo provavelmente tem um papel importante na amplificação da sintomatologia. 6° - DIAGNÓSTICO: A dificuldade de estabelecer diagnóstico gera frustrações nas pacientes. Anamnese minuciosa + exame físico detalhado. ANAMNESE Questionar características da dor (visceral ou somática), localização (mapa da dor), fatores de melhora e piora, início (súbito ou insidioso), tipo (cólica, pontada, queimação), duração e sua relação com o ciclo menstrual. História obstétrica, número e tipo de partos (partos traumáticos podem levar a dor pélvica crônica de origem músculo-esquelética), cirurgias pélvicas anteriores, história de doença inflamatória pélvica, tratamentos clínicos e cirúrgicos já realizados devem ser investigados. Informações sobre o aparelho gastrintestinal e urinário devem ser pesquisadas, assim como o padrão menstrual e dispareunia. Solicitar que a paciente marque os pontos dolorosos em um diagrama pode ser útil, assim como pontuar a dor em uma escala de intensidade crescente, principalmente para a monitoração e o seguimento dos tratamentos instituídos. → Mensuração da dor: Realizadas por meio de escalas uni ou multidirecionais. As unidimensionais são: Escala analógica visual de dor → é a mais utilizada na prática clínica, pela rapidez e aplicação clínica. Consta de uma linha ininterrupta de 10 cm de extensão na qual a paciente é orientada a marcar o ponto que corresponde à dor referida, o início da escala (0) é ausência de dor e o término da escala (10) é a pior dor já vivenciada (parto sem analgesia, infarto do miocárdio, etc) ou imaginada. Amplamente utilizada independente do idioma e escolaridade. Compara melhor um indivíduo em vários momentos do que dois ou mais indivíduos entre si; Escala de categoria numérica → paciente escolhe qual o melhor termo que determina sua dor: (0) = nenhuma dor, (1) = branda, (2) = desconfortável, (3) = aflitiva, (4) = horrível e (5) = martirizante. Escalas multidimensionais: Questionário de dor de McGill → Tem vários descritores de dor, agrupados em 4 classes (sensorial, afetivo, avaliativo e miscelânea) e 16 subclasses. Permite à paciente retratar com mais riqueza de detalhes sua experiência dolorosa e deixa-a segura p/ transmitir ao médico o que ela está sentindo. A presença e a severidade da dispareunia profunda, também podem ser avaliadas através de uma escala que caracteriza a dor de acordo com a limitação da atividade sexual, da seguinte maneira: 0 = Ausente; 1 = Leve (dor tolerável, não leva à interrupção da relação sexual); 2 = Moderada (dor intensa o sufi ciente para levar à interrupção da relação sexual) e 3 = Severa (dor que impede a relação sexual). Apesar de não ser considerada dor pélvica crônica pela maioria, alguns autores, inclui a dismenorreia severa como tal. A presença e a severidade da dismenorreia podem ser avaliadas por meio de uma escala que destaca o impacto social dos sintomas dolorosos. Este método descreve a dor conforme a limitação da capacidade de trabalho, a coexistência de sintomas sistêmicos e a necessidade do uso de analgésicos: 0 = Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato Ausente; 1 = Leve (desconforto pélvico ocasional que não prejudica a atividade diária, uso eventual de medicação); 2 = Moderada (dor durante grande parte do ciclo, afeta a atividade diária, responsiva ao uso de medicação) e 3 = Severa (dor persistente por todo o ciclo, c/ limitação da atividade diária, uso frequente de analgésicos potentes, sem resposta efetiva). EXAME FÍSICO Confirma ou exclui hipóteses levantadas durante anamnese. Pode identificar áreas dolorosas, presença de massas e alterações anatômicas. Sociedade Internacional de Dor Pélvica, o exame físico completo deve ser composto de quatro etapas: exame na posição ortostática, sentada, supina e posição de litotomia. → Posição ortostática: avaliar a presença de alterações posturais como lordose e escoliose. Com ajuda da manobra de Valsalva, procurar a presença de hérnias inguinais e femorais. Deve ser dada também atenção especial ao modo de andar e as características faciais de sofrimento da paciente; → Posição sentada: analisar se a paciente se encontra em posição antálgica. Palpar o dorso da paciente à procura de regiões dolorosas a fim de descartar fibromialgia, síndrome miofacial e outros problemas posturais; → Posição supina: realizado o exame abdominal, inicia com uma inspeção detalhada à procura de cicatrizes e deformações e segue com a palpaçãosuperficial e profunda a fim de verificar a presença de massas, aumento do tamanho das vísceras e distensão de alças intestinais. A palpação associada à Valsalva ou elevação da cabeça com contração dos músculos da parede abdominal (teste de Carnett) é diferencia se a dor é originária da parede abdominal ou da cavidade pélvica já que, no primeiro caso, a dor se mantém ou se intensifica, enquanto no segundo, o paciente relata melhora da dor; → Posição de litotomia: após avaliar outros sistemas, têm-se excluído diversas patologias, aumentando a sensibilidade e especificidade do exame ginecológico. O exame da pelve deve ser realizado de modo confortável possível devido ao elevado grau de sensibilidade das pacientes. A bexiga deve estar vazia. Inicia-se pela inspeção da genitália externa; posteriormente faz-se o exame especular tradicional e por último o toque vaginal. Avalia-se a uretra, a base da bexiga e a região do trígono na parede vaginal anterior a fim de se identificar pontos dolorosos de origem uretral ou vesical. Segue-se com a avaliação dos músculos do assoalho pélvico. Exame ginecológico: Etapa fundamental na paciente com DPC. Inicia com a inspeção da genitália, em busca de anormalidades anatômicas e lesões visíveis, seguida pela palpação de linfonodos inguinais, avaliando-se linfonodomegalia inguinal ou mesmo tumorações endurecidas. A seguir, colo uterino, vagina, conteúdo vaginal e presença de secreção endocervical devem ser analisados com auxílio de um espéculo. Bexiga, paredes vaginais e músculo elevador do ânus podem ser palpados após o exame especular, utilizando-se 1 ou 2 dedos, avaliando-se presença de dor a esta manobra. O toque vaginal bi-digital permite palpação mais profunda, possibilitando notar nodulações e/ou espessamento em região retrocervical e nos ligamentos cardinais e/ou uterossacrais. O toque bi-manual fornece informações quanto ao tamanho e contorno uterino, bem com quanto a sua mobilidade e ocorrência de dor à mobilização. Permite ainda a palpação dos anexos, etapa mais difícil já que ovários são palpáveis em apenas 50% das mulheres na menacme. Porém, quando palpáveis, pode-se detectar presença de cistos ou tumorações anexiais. Na presença de formações anexiais palpáveis, deve-se atentar para o tamanho, mobilidade, consistência e dor à manipulação. A inspeção do orifício anal em busca de alterações, como doenças orificiais e prolapso retal, bem como o toque retal podem fornecer informações adicionais, especialmente quando se suspeita de doenças intestinais, endometriose e malignidades. O exame ginecológico avalia a ocorrência de alterações uterinas, ovarianas ou no fórnice posterior da vagina, identificação de alterações da musculatura de assoalho pélvico, piriforme e obturadores. Achados sugestivos de condições específicas: → Endometriose profunda: apresentam alterações no exame físico. Três achados característicos são: Espessamento ou presença de nódulo endurecido em região retrocervical e/ou no ligamento uterossacro; deslocamento do colo uterino causado por envolvimento assimétrico dos ligamentos uterossacros, levando a um encurtamento unilateral; diminuição da mobilidade uterina. → Cistos e tumores: Aumento dos anexos uterinos pode ser notado no toque bimanual. Decorrente principalmente de cistos ou tumores ovarianos, endometriomas, gestação ectópica, hidro/hematossalpinge e abscesso tubo-ovariano. → Ascite: deve suscitar hipótese de malignidade e deve-se tentar palpar os ovários. A palpação de uma massa pélvica após realização ooforectomia e/ou histerectomia sugere síndrome do ovário remanescente, síndrome do ovário residual, ou ainda presença de cistos de inclusão peritoneal. → Útero: Volume aumentado do útero e/ou contornos irregulares, principalmente se útero móvel, sugere leiomiomas uterinos. A diminuição da mobilidade uterina chama atenção para aderências pélvicas. Quando o útero se apresenta em retroflexão e com mínima mobilidade, a hipótese de endometriose deve ser sempre considerada e também a doença inflamatória pélvica. → Síndrome de congestão pélvica: o achado no exame físico é o amolecimento do ovário durante compressão suave. Pode haver amolecimento uterino à mobilização do colo e palpação profunda abdominal. → Cistite intersticial: quase sempre há dor à palpação difusa do abdome, base da bexiga e uretra. → Síndrome do piriforme e do levantador do ânus: há dor na palpação unidigital destes músculos durante o toque vaginal. Estes encontram-se com contratura e podem ter fasciculação. O reflexo anal pode estar ausente, pois, os músculos do assoalho pélvico já estavam contraídos ou devido lesão nervosa. Exame psicológico: Podem ser utilizados questionários que traz entre as perguntas questionamentos a respeito de sintomas depressivos e abuso físico/sexual. Alguns estudos sugerem que o ato de aumentar a gravidade dos fatos pode ser uma característica importante nas pacientes com dor pélvica Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato crônica e deve ser avaliada durante exame psicológico e sinalizada para contribuir no tratamento. EXAMES COMPLEMENTARES Na maioria dos casos são importantes para exclusão de outras causas. Devem ser solicitados de acordo com a história clínica. O ideal seria realizar exames de todos os sistemas, porém devido ao alto custo, isso não é possível. Os exames primordiais devem ser de baixo custo e pouco invasivos. → Sumário de urina + urinocultura: quando há suspeita de doenças do sistema urológico, em especial a cistite intersticial; → Dosagem sérica de CA-125: é útil na complementação diagnóstica para os casos com suspeita diagnóstica de endometriose severa e massas anexiais. → Colpocitologia + bacterioscopia: quando há suspeita de acometimento do sistema gastrintestinal a fim de excluir neoplasias ou doenças infecciosas e inflamatórias; → Investigação de sangue oculto nas fezes + colonoscopia: não permitem o diagnóstico de síndrome do intestino irritável, mas podem ser necessários na suspeita de acometimento do sistema gastrintestinal para excluir doenças inflamatórias ou neoplásicas. → Cultura do conteúdo vaginal para Chlamidia e gonococos: importante para a confirmação do diagnóstico de doença inflamatória pélvica de difícil tratamento; → Sorologia para sífilis, HIV e hepatite B: para a detecção de imunodepressão e de predisposição para doença inflamatória pélvica; → Protoparasitológico de fezes: indicado para a detecção de verminoses; → Hemograma completo: importante para a detecção de alterações plaquetárias, leucocitose e anemia falciforme; → Glicemia: para a detecção de diabetes; → US abdominal e pélvica: indicada quando há suspeita de endometriose e massas pélvicas. Alguns especialistas em US realizam nos casos de suspeita de endometriose um exame bem mais detalhado e cuidadoso, capaz de visualizar lesões indetectáveis em exames “comuns”. Porém o método ainda é restrito; → Raio-X de tórax + abdome (incluindo perfil): verificação de fraturas vertebrais, osteopatias, cálculos, entre outras alterações. Os exames mais complexos, de valores mais elevados e mais invasivos devem ser solicitados conforme sejam encontrados achados insuficientes nos exames de rotina. Os mais usados são: colonoscopia, endoscopia digestiva alta, histerossalpingografia, histeroscopia, estudo urodinâmico, enema baritado de duplo contraste, tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética, pesquisa de sangue oculto nas fezes, laparoscopia entre outros. → A laparoscopia: é o método padrão-ouro para a investigação da dor pélvica crônica, embora não existam evidências de diferença nos achados laparoscópicos entre mulheres com e sem dor pélvica. Entretanto, é imprescindível sua realização nos casos em que os outros métodos diagnósticos não elucidem a causa da dor. Portanto, a laparoscopia é mais eficiente nas situações em que encontramosexame físico anormal ou se o manejo inicial não acarreta melhora dos sintomas. 7° - TRATAMENTO: Os principais objetivos do tratamento são: o alívio do sofrimento, a restauração da função normal e a prevenção da incapacitação. O manejo da doença pélvica crônica, ela própria como patologia, envolve tratamento medicamentoso, psicológico e neuroablativo. A abordagem terapêutica da síndrome de algia pélvica crônica pode seguir três linhas principais: 1. Extensa avaliação diagnóstica seguida por tratamento da doença diagnosticada. Apesar de, provavelmente, tratar-se da abordagem ideal, pode ser onerosa na medida em que diversos exames complementares podem ser necessários. 2. Prescrição sequencial de medicações que tratam as principais causas de DPC. Por exemplo, se a endometriose, principal causa de DPC, parece ser uma hipótese plausível para o caso, mas não foi comprovada sua presença, pode-se realizar um teste terapêutico temporariamente para avaliar a melhora dos sintomas. Se não for bem-sucedido, outra terapia empírica é iniciada. Deve-se ter em mente que neste caso, mesmo diante de melhora clínica, não se pode afirmar a real etiologia da DPC, visto que um mesmo tratamento pode ser eficaz para várias afecções. 3. Tratamento não específico com analgésicos p/ tratar a dor em vez do tratamento de doenças específicas. Recomenda-se que pacientes portadoras de DPC sejam abordadas de forma multidisciplinar. Isto porque a dor abdominal, é de difícil localização, porque a descoberta de uma afecção não garante que esta seja a causadora do quadro e sobretudo porque são comuns as associações de diferentes problemas. Um único profissional dificilmente deterá todo o conhecimento específico necessário para assegurar que a paciente seja avaliada de forma completa e com adequado embasamento científico. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Podem ser utilizados analgésicos, AINES e opioides. Os analgésicos de primeira linha, AINES e acetaminofeno podem ser considerados as drogas de primeira escolha. Seria interessante que se fizesse o uso de pelo menos 3 drogas isoladas ou associadas antes de se iniciar o tratamento com opioides, deixando estes últimos somente para casos refratários ao tratamento prévio. Fazer fisioterapia pélvica. Analgésicos do grupo dos narcóticos → não devem ser usados rotineiramente no tratamento da dor pélvica crônica porque relaxam a musculatura lisa e podem exacerbar a dor provocada por distúrbios de motilidade intestinal, além de provocarem sedação, o que dificultaria o retorno às funções habituais. Antidepressivos tricíclicos → podem ser associados aos analgésicos no alívio da dor uma vez que, eles podem aliviá-la por meio do bloqueio nervoso periférico, elevando o limiar à dor, e por estimulação central. Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato Amitriptilina → um antidepressivo com efeito sedativo é uma das primeiras escolhas utilizadas exceto nos casos de pacientes com distúrbios cardiovasculares ou em uso concomitante de inibidores da monoaminoxidase. Anestésicos tópicos injetáveis → são utilizados para injeção local nos pontos de gatilho na parede abdominal ou em músculos do assoalho pélvico para tratamento da síndrome miofascial e para bloqueio de nervos ílio-inguinais e ílio-hipogástricos. Podem ser efetivos tanto no diagnóstico como no tratamento de alguns casos de hiperalgesia pós-cirurgia pélvica ou trauma. Drogas miorrelaxantes → podem ser usadas com sucesso em pacientes nas quais a presença de espasmos musculares ou tensão contribuem para a manutenção da dor. Supressão ovariana → e conseqüentemente da menstruação é tratamento eficiente para o controle da dor pélvica crônica de várias etiologias. Pode ser realizada com contraceptivos hormonais combinados, progestágenos ou análogos de GnRH em pacientes principalmente com componente cíclico e dismenorreia, por períodos determinados. Várias alterações podem se beneficiar desse tratamento, além da endometriose com dor pélvica crônica, entre elas a síndrome da congestão pélvica e patologias uterinas sintomáticas como miomas e adenomiose, além da cistite intersticial e síndrome do intestino irritável. TRATAMENTO PSICOLÓGICO Tem como objetivo tratar a dor excessiva e a incapacitação, educar a paciente a conviver da melhor maneira possível com a dor e tratar as doenças psicológicas. A abordagem comportamental tem apresentado resultados promissores. TRATAMENTO NEUROABLATIVO Pode ser feito por ressecção cirúrgica nervosa, injeção de substâncias neurotóxicas ou corrente elétrica suficiente para destruir o tecido neural. Dentre as técnicas laparoscópicas, a LUNA, ablação do nervo uterino com ressecção dos ligamentos útero-sacros, é a mais utilizada. O tratamento cirúrgico fica reservado para patologias específicas, comprovadamente associadas à dor. Laparoscopia para lise de aderências mostra-se pouco efetiva na maioria dos casos, principalmente porque as aderências mais associadas à dor pélvica crônica são as secundárias à endometriose severa e à doença inflamatória pélvica. RESUMO Conduta – Resposta prova → exame complementar e laboratorial p/ excluir causas. Citar na prova os principais. Se não chegou ao diagnóstico, mas sabe que é DPC → analgésicos, componente neurológico e AINES. Sempre fisioterapia pélvica. Tentar chegar no diagnóstico mais preciso possível. Ter boa relação médico paciente. Laparoscopia em casos específicos, principalmente endometriose, aderências e miomatose. 8° - ANÁLISE DO CASO: Dismenorreia primária. G.F.T, 18 anos, sexo feminino, procurou o ambulatório de ginecologia com relato de cólicas menstruais de forte intensidade. Informou que as dores se iniciaram juntamente com a menarca aos 12 anos. Foi encaminhada ao especialista, após diversas idas ao posto de saúde, sem resolução definitiva do problema. Relatou ter feito uso de diferentes classes de medicamentos como analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides, diversas vezes, durante o período menstrual. A paciente negou comorbidades e informou não fazer uso contínuo de nenhum medicamento. Informou, ainda, início da atividade sexual aos 16 anos. Ao exame: Abdome plano, ruídos hidroaéreos presentes, flácido, levemente doloroso à palpação profunda em região supra-púbica, ausência de visceromegalias. Ultrassonografia trans-vaginal: Útero com volume usual e padrão proliferativo. Ovários de morfologia usuais. Exame sem alterações. → Paciente jovem, em idade fértil. → Não tem antecedentes de importância → afasta outros possíveis diagnósticos. → Vida sexual ativa → gravidez, ISTs → Forte intensidade e no período menstrual → dor pélvica crônica CICLÍCA → Junto com a menarca e sem resolução → crônica → Responde ao tratamento sintomático porém sem resolução definitiva → recorrente. → Exame sem alterações → descarta outras causas de DPC e dismenorreia secundaria. REFERÊNCIAS: - Livro: Ginecologia baseada em problemas - Maria de Lourdes Caltabiano Magalhães et al. – Faculdades Christus – Fortaleza – 2011. - Dor pélvica crônica – protocolo Febrasgo – n° 17 – 2020. - Abordagem da dor pélvica crônica em mulheres – Antonio Nogueira et al. – Revista brasileira de ginecologia e obstetrícia – 2006 – scielo. - Livro rotinas em ginecologia – 6° ed – Fernando Freitas et al.
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