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Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato 
 
Dor pélvica crônica 
1° - DEFINIÇÃO: 
Consiste em um quadro clínico que pode ser desencadeado por várias afecções e geralmente 
vem associado a outros problemas como disfunção sexual, depressão e ansiedade. Acomete 
um grande número de mulheres, possui diagnóstico difícil sendo em sua maioria de exclusão. 
É considerada como dor abdominal ou pélvica com duração mínima de 6 meses, caráter não 
menstrual ou acíclico, forte o suficiente para interferir em atividades habituais, causar limitação 
e requer tratamento. 
 
Resulta de uma complexa interação entre os sistemas gastrintestinal, urinário, ginecológico, 
músculo-esquelético, neurológico, psicológico e endócrino, influenciado ainda por fatores 
socioculturais. 
2° - EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO: 
A maioria está em fase reprodutiva, atingindo cerca de 26,6% e sua taxa de recorrência pode 
chegar até 33%. Aproximadamente 20% das histerectomias e 40% das laparoscopias 
ginecológicas sejam realizadas para tratamento de dor pélvica. 
Estima-se que aproximadamente 60% das mulheres com a doença nunca receberam 
diagnóstico específico e 20% nunca realizaram qualquer investigação para confirmar a causa 
da dor. 
O abuso sexual, uso de drogas e/ou álcool, doença inflamatória pélvica, abortos, fluxo menstrual 
aumentado, várias cesárias, comorbidades psicológicas e cirurgias prévias estão associados à 
comorbidade e são considerados fatores de risco. 
3° - ETIOLOGIA: 
Tem natureza multifatorial, decorre da interação de diversos órgãos e sistemas. As etiologias 
primárias são divididas em ginecológica e não ginecológica. Pode não haver doença orgânica 
justificando o quadro de algia crônica e que em até 1/3 das pacientes nenhuma causa é 
identificada. Além disso, diversas afecções podem coexistir, acentuando o quadro clínico das 
mulheres portadoras de DPC. 
A sensibilização central também parece atuar no quadro de dor. Sob constante estímulo 
doloroso, ocorre aumento da sensibilidade de membrana e da eficiência sináptica gerando uma 
diminuição do limiar nociceptivo (hiperalgesia primária), na resposta mais intensa e mais 
prolongada ao estímulo nociceptivo e na extensão espacial da zona dolorosa (hiperalgesia 
secundária). Assim, é comum que a paciente refira agravamento da dor ao longo do tempo, e 
em algumas situações a queixa pode parecer desproporcional aos achados em exame físico e 
exames de imagem. 
 
4° - FISIOPATOLOGIA: 
A evolução e/ou manutenção da DPC é multifatorial. Podendo ser: 
→ 1° Mecanismo → Mudanças neuroplásticas que acontecem no corno posterior da 
medula espinhal devido mudanças eletrofisiológicas, bioquímicas e metabólicas 
decorrente do estímulo nocivo inicial que gera inflamação neurológica devido à 
liberação de fator de crescimento neural e substância P (neuromodelador que facilita 
processos inflamatórios) na periferia que é o local que inicia o estímulo, tornando este 
exacerbado. 
→ 2° Mecanismo → Sensibilidade cruzada entre vísceras que compartilham uma mesma 
inervação (reflexo víscero-visceral). 
→ 3° Mecanismo → Desenvolvimento de reflexo víscero-muscular que podem gerar 
repercussões disfuncionais como incontinência urinária e gerar síndrome miofascial 
acarretando em novos pontos de dor. Havendo então, sobreposição de sintomas. 
Teoria da inflamação neurogênica → Estímulos nocivos decorrentes de dano tecidual podem 
aumentar a produção de substâncias promotoras da dor, localizadas nas terminações dos 
nociceptores aferentes primários, liberando quando estes são estimulados. Quando uma fibra 
sensitiva é estimulada eletricamente, o impulso se dirige a medula espinhal e p/ a periferia 
(sentido anti-drômico). Quando chega à periferia, há liberação de óxido nítrico, substância P, 
CGRP (proteína relacionada ao gene calcitonina), neuroquinina A e B, etc. Todos estes causam 
Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato 
 
inflamação neurogênica, caracterizada por vasodilatação + edema + hiperalgesia. Isso gera 
mais lesão tecidual, fechando o ciclo. 
Influências hormonais, psicossociais e culturais contribuem para hiperalgesia. 
5° - QUADRO CLÍNICO: 
 É importante diferenciar os tipos de dor para auxiliar até mesmo no diagnóstico. São estes: 
→ Dor de origem somática: Estímulo doloroso inicia em pele, fáscias, músculos, ossos 
e articulações. É menos intensa, em pontadas e paciente localiza um ponto específico 
da dor. 
→ Dor de origem visceral: Mal localizada, em cólica e pode estar associada a fatores 
autonômicos, como náuseas e vômitos. 
→ Dor de origem psicológica: Menos frequente, considerada diagnóstico de exclusão. 
DPC DE ORIGEM GINECOLÓGICA 
As mais comuns observadas à laparoscopia são a endometriose e as aderências. A dor 
associada a esse tipo de alteração não é de grande intensidade. 
Endometriose → Diagnóstico mais comum encontrado em laparoscopias de mulheres com 
DPC, sendo que a maioria queixa de DPC no período menstrual (dismenorreia), dispareunia 
profunda. 
Doença inflamatória pélvica → Causa comum de DPC em portadores de doenças 
sexualmente transmissíveis. Cerca de 30% de quem tiver DIP apresentarão DPC, acredita-se 
que isso ocorre devido ao surgimento de aderências por causa da intensa inflamação e/ou lesão 
tubária que leva à hidrossalpinge. 
Aderências pélvicas → Formações fibrosas regenerativas que ocorrem depois de traumas 
mecânicos, infecções, inflamações e/ou sangramentos. Nos casos em que ocorrem isquemia 
do peritônio, pode reduzir a atividade fibrinolítica, não ocorrendo lise da fibrina e gerando as 
aderências. Granulomas de corpo estranho (gaze, talco...) também favorecem o surgimento. 
Essas aderências geram menor mobilidade das estruturas, limitação do peristaltismo intestinal, 
tração entre órgãos, estímulo das fibras aderentes; tudo isso acarreta na dor. A dor abdominal 
acíclica é comum e pode piorar durante coito e atividades físicas. 
Dismenorreia → Ocorre no período perimenstrual em mais da metade das mulheres com DPC. 
Principal causa de perdas de dias de aula e trabalho. Ocorre pela propagação de 
prostaglandinas no fluido menstrual, gerando contrações uterinas e dor. A vasopressina pode 
estar associada devido à contratilidade e gerar isquemia decorrente da vasoconstrição. 
Congestão ou varizes pélvicas → Também chamada de Sd. Da congestão pélvica, onde 
ocorre dilatação e tortuosidade do plexo venoso pélvico e diminuição do retorno venoso. Podem 
acontecer devido à desembocadura da veia ovariana esquerda em veia renal esquerda, 
favorecendo refluxo venoso, transmissão da pulsação da aorta e dano valvular em mulheres 
com DPC. Esse refluxo e congestão que causariam a dor. Afeta principalmente multíparas, 
apresenta dor abdominal baixa, piora no ortostatismo. Podem ser encontradas em 
assintomáticas. 
Adenomiose → Presença de tecido endometrial ectópico entre as fibras do miométrio que 
causa dor pélvica cíclica + dismenorreia + sangramento anormal. Dor causada pelo 
sangramento ou descamação do endométrio do miométrio na menstruação. Entre 40 – 50 anos. 
Síndrome do ovário remanescente → Rara. Em mulheres que fazem ooforectomia com 
remoção incompleta do ovário, fazendo que os fragmentos remanescentes continuem 
apresentando a função ovariana, acarretando em massas pélvicas e dor. Trata retirando os 
fragmentos cirurgicamente. 
Leiomioma uterino → Podem causar pressão e induzir dor por compressão. Pode cursar com 
dor aguda, mas a dor crônica é comum em pacientes com mioma. 
DPC DE ORIGEM UROLÓGICA 
Cistite intersticial → Causa comum de DPC. É condição inflamatória crônica da bexiga que 
cursa c/ dor pélvica e disfunção irritável com vontade exagerada de urinar e polaciúria. Pode ter 
incontinência urinária. Dor na bexiga é principal característica. 
Neoplasia de bexiga → Carcinoma in situ e carcinoma invasivo de bexiga parece com os 
sintomas da cistite. Considerar neoplasia em casos de hematúria, tabagismo e > 60 anos.DPC DE ORIGEM GASTRINTESTINAL 
Síndrome do Intestino Irritável (SII) → Comum em mulheres com DPC, cerca de 35%. É 
caracterizada por dor gastrintestinal crônica ou intermitente + dor abdominal. A maioria tem 
disfunção intestinal. Diagnóstico baseado na anamnese. Conhecida como hiperalgesia visceral. 
Doença inflamatória intestinal → Fadiga, diarreia, perda de peso, dor abdominal, febre, com 
ou sem sangramentos graves são característicos da doença de Chron. O processo inflamatório 
é de natureza transmural e pode causar fibrose e quadros obstrutivos do intestino delgado e 
cólon. 
Diverticulite → Podem desenvolver colite segmentar. Pode ter inflamações com hemorragia 
submucosa e em casos graves se parece com a doença inflamatória intestinal. A causa pode 
estar relacionada com prolapso de mucosa, estase fecal ou isquemia localizada. 
Doença celíaca → Causada por reação imune ao glúten que atrapalha na absorção e digestão. 
Apresenta diarreia de repetição e perda de peso. Dor pélvica pode ser queixa inicial. 
DPC DE ORIGEM OSTEOMUSCULAR 
Fibromialgia → Maioria referem DPC como queixa principal. Pode apresentar fadiga, 
depressão, SII... 
Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato 
 
Dor miofascial pélvica → Causada por espasmos involuntários da musculatura pélvica devido 
distúrbio inflamatório, cirurgia e/ou trauma. Dispareunia e dor pélvica agravam ao sentar por 
muito tempo. A mialgia por tensão do assoalho pélvico pode às vezes ser uma sequela direta 
da DPC em consequência de outras doenças, como endometriose ou cistite intersticial. 
Dor de origem postural → A má postura causa desequilíbrio muscular que acarreta em dor 
local. Caracterizada por hiperlordose, anteversão pélvica, hiperextensão de joelhos. 
Dor crônica da parede abdominal → Origina após contato com pontos-gatilho miofasciais na 
musculatura esquelética. A compressão desses locais sensíveis causa dor local podendo ter 
fenômenos autonômicos com vômito, etc. Pode estar relacionada com lesão muscular, dos 
nervos, escoliose... 
Osteíte púbica → Sd. Inflamatória dolorosa da sínfise púbica. Pode ser devido atividade física, 
cirurgia, trauma, gravidez... A dor piora ao andar, subir escadas e tossir. Se desencadeada por 
atividade física, a dor é progressiva e intensa. 
DPC ASSOCIADA À SAÚDE MENTAL 
São comumente diagnosticados em mulheres que apresentam DPC. 
Transtorno de somatização → Diagnóstico de exclusão quando apresentam múltiplas queixas 
físicas que não podem ser totalmente explicadas. Para diagnóstico, devem ter os seguintes 
critérios: pelo menos quatro locais diferentes de dor, dois sintomas gastrointestinais, além da 
dor, um sintoma neurológico, e um problema sexual e reprodutiva (que não seja a dor). 
Dependência de opiáceos → Pacientes tratados de dor crônica com opioides podem 
manifestar dependência. Pessoas com DPC tem resposta diminuída aos opioides, necessitando 
de doses maiores. 
Abuso sexual → Até 47% das mulheres com DPC referem história de abuso físico e sexual. 
Experiências traumáticas alteram o processamento neuropsicológico dos sinais de dor, 
respostas hipófise-adrenal e autonômicas ao estresse. Pode gerar disfunção do assoalho 
pélvico. 
Depressão → Alguns casos acreditam que a DPC é variante da depressão. 
Distúrbios do sono → Podem ser resultado da DPC e contribuir para o agravamento das 
doenças psíquicas. Como as vias nociceptivas são modulados por processos psicológicos, este 
mecanismo provavelmente tem um papel importante na amplificação da sintomatologia. 
6° - DIAGNÓSTICO: 
A dificuldade de estabelecer diagnóstico gera frustrações nas pacientes. Anamnese minuciosa 
+ exame físico detalhado. 
ANAMNESE 
Questionar características da dor (visceral ou somática), localização (mapa da dor), fatores de 
melhora e piora, início (súbito ou insidioso), tipo (cólica, pontada, queimação), duração e sua 
relação com o ciclo menstrual. História obstétrica, número e tipo de partos (partos traumáticos 
podem levar a dor pélvica crônica de origem músculo-esquelética), cirurgias pélvicas anteriores, 
história de doença inflamatória pélvica, tratamentos clínicos e cirúrgicos já realizados devem 
ser investigados. Informações sobre o aparelho gastrintestinal e urinário devem ser 
pesquisadas, assim como o padrão menstrual e dispareunia. 
Solicitar que a paciente marque os pontos dolorosos em um diagrama pode ser útil, assim como 
pontuar a dor em uma escala de intensidade crescente, principalmente para a monitoração e o 
seguimento dos tratamentos instituídos. 
 
→ Mensuração da dor: 
Realizadas por meio de escalas uni ou multidirecionais. As unidimensionais são: 
Escala analógica visual de dor → é a mais utilizada na prática clínica, pela rapidez e aplicação 
clínica. Consta de uma linha ininterrupta de 10 cm de extensão na qual a paciente é orientada 
a marcar o ponto que corresponde à dor referida, o início da escala (0) é ausência de dor e o 
término da escala (10) é a pior dor já vivenciada (parto sem analgesia, infarto do miocárdio, etc) 
ou imaginada. Amplamente utilizada independente do idioma e escolaridade. Compara melhor 
um indivíduo em vários momentos do que dois ou mais indivíduos entre si; 
Escala de categoria numérica → paciente escolhe qual o melhor termo que determina sua 
dor: (0) = nenhuma dor, (1) = branda, (2) = desconfortável, (3) = aflitiva, (4) = horrível e (5) = 
martirizante. 
Escalas multidimensionais: 
Questionário de dor de McGill → Tem vários descritores de dor, agrupados em 4 classes 
(sensorial, afetivo, avaliativo e miscelânea) e 16 subclasses. Permite à paciente retratar com 
mais riqueza de detalhes sua experiência dolorosa e deixa-a segura p/ transmitir ao médico o 
que ela está sentindo. 
A presença e a severidade da dispareunia profunda, também podem ser avaliadas através de 
uma escala que caracteriza a dor de acordo com a limitação da atividade sexual, da seguinte 
maneira: 0 = Ausente; 1 = Leve (dor tolerável, não leva à interrupção da relação sexual); 2 = 
Moderada (dor intensa o sufi ciente para levar à interrupção da relação sexual) e 3 = Severa 
(dor que impede a relação sexual). Apesar de não ser considerada dor pélvica crônica pela 
maioria, alguns autores, inclui a dismenorreia severa como tal. A presença e a severidade da 
dismenorreia podem ser avaliadas por meio de uma escala que destaca o impacto social dos 
sintomas dolorosos. Este método descreve a dor conforme a limitação da capacidade de 
trabalho, a coexistência de sintomas sistêmicos e a necessidade do uso de analgésicos: 0 = 
Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato 
 
Ausente; 1 = Leve (desconforto pélvico ocasional que não prejudica a atividade diária, uso 
eventual de medicação); 2 = Moderada (dor durante grande parte do ciclo, afeta a atividade 
diária, responsiva ao uso de medicação) e 3 = Severa (dor persistente por todo o ciclo, c/ 
limitação da atividade diária, uso frequente de analgésicos potentes, sem resposta efetiva). 
EXAME FÍSICO 
Confirma ou exclui hipóteses levantadas durante anamnese. Pode identificar áreas dolorosas, 
presença de massas e alterações anatômicas. Sociedade Internacional de Dor Pélvica, o exame 
físico completo deve ser composto de quatro etapas: exame na posição ortostática, sentada, 
supina e posição de litotomia. 
→ Posição ortostática: avaliar a presença de alterações posturais como lordose e escoliose. 
Com ajuda da manobra de Valsalva, procurar a presença de hérnias inguinais e femorais. Deve 
ser dada também atenção especial ao modo de andar e as características faciais de sofrimento 
da paciente; 
→ Posição sentada: analisar se a paciente se encontra em posição antálgica. Palpar o dorso 
da paciente à procura de regiões dolorosas a fim de descartar fibromialgia, síndrome miofacial 
e outros problemas posturais; 
→ Posição supina: realizado o exame abdominal, inicia com uma inspeção detalhada à 
procura de cicatrizes e deformações e segue com a palpaçãosuperficial e profunda a fim de 
verificar a presença de massas, aumento do tamanho das vísceras e distensão de alças 
intestinais. A palpação associada à Valsalva ou elevação da cabeça com contração dos 
músculos da parede abdominal (teste de Carnett) é diferencia se a dor é originária da parede 
abdominal ou da cavidade pélvica já que, no primeiro caso, a dor se mantém ou se intensifica, 
enquanto no segundo, o paciente relata melhora da dor; 
→ Posição de litotomia: após avaliar outros sistemas, têm-se excluído diversas patologias, 
aumentando a sensibilidade e especificidade do exame ginecológico. O exame da pelve deve 
ser realizado de modo confortável possível devido ao elevado grau de sensibilidade das 
pacientes. A bexiga deve estar vazia. Inicia-se pela inspeção da genitália externa; 
posteriormente faz-se o exame especular tradicional e por último o toque vaginal. Avalia-se a 
uretra, a base da bexiga e a região do trígono na parede vaginal anterior a fim de se identificar 
pontos dolorosos de origem uretral ou vesical. Segue-se com a avaliação dos músculos do 
assoalho pélvico. 
Exame ginecológico: 
Etapa fundamental na paciente com DPC. Inicia com a inspeção da genitália, em busca de 
anormalidades anatômicas e lesões visíveis, seguida pela palpação de linfonodos inguinais, 
avaliando-se linfonodomegalia inguinal ou mesmo tumorações endurecidas. A seguir, colo 
uterino, vagina, conteúdo vaginal e presença de secreção endocervical devem ser analisados 
com auxílio de um espéculo. Bexiga, paredes vaginais e músculo elevador do ânus podem ser 
palpados após o exame especular, utilizando-se 1 ou 2 dedos, avaliando-se presença de dor a 
esta manobra. O toque vaginal bi-digital permite palpação mais profunda, possibilitando notar 
nodulações e/ou espessamento em região retrocervical e nos ligamentos cardinais e/ou 
uterossacrais. O toque bi-manual fornece informações quanto ao tamanho e contorno uterino, 
bem com quanto a sua mobilidade e ocorrência de dor à mobilização. Permite ainda a palpação 
dos anexos, etapa mais difícil já que ovários são palpáveis em apenas 50% das mulheres na 
menacme. Porém, quando palpáveis, pode-se detectar presença de cistos ou tumorações 
anexiais. Na presença de formações anexiais palpáveis, deve-se atentar para o tamanho, 
mobilidade, consistência e dor à manipulação. 
A inspeção do orifício anal em busca de alterações, como doenças orificiais e prolapso retal, 
bem como o toque retal podem fornecer informações adicionais, especialmente quando se 
suspeita de doenças intestinais, endometriose e malignidades. O exame ginecológico avalia a 
ocorrência de alterações uterinas, ovarianas ou no fórnice posterior da vagina, identificação de 
alterações da musculatura de assoalho pélvico, piriforme e obturadores. 
Achados sugestivos de condições específicas: 
→ Endometriose profunda: apresentam alterações no exame físico. Três achados 
característicos são: Espessamento ou presença de nódulo endurecido em região retrocervical 
e/ou no ligamento uterossacro; deslocamento do colo uterino causado por envolvimento 
assimétrico dos ligamentos uterossacros, levando a um encurtamento unilateral; diminuição da 
mobilidade uterina. 
→ Cistos e tumores: Aumento dos anexos uterinos pode ser notado no toque bimanual. 
Decorrente principalmente de cistos ou tumores ovarianos, endometriomas, gestação ectópica, 
hidro/hematossalpinge e abscesso tubo-ovariano. 
→ Ascite: deve suscitar hipótese de malignidade e deve-se tentar palpar os ovários. A palpação 
de uma massa pélvica após realização ooforectomia e/ou histerectomia sugere síndrome do 
ovário remanescente, síndrome do ovário residual, ou ainda presença de cistos de inclusão 
peritoneal. 
→ Útero: Volume aumentado do útero e/ou contornos irregulares, principalmente se útero 
móvel, sugere leiomiomas uterinos. A diminuição da mobilidade uterina chama atenção para 
aderências pélvicas. Quando o útero se apresenta em retroflexão e com mínima mobilidade, a 
hipótese de endometriose deve ser sempre considerada e também a doença inflamatória 
pélvica. 
→ Síndrome de congestão pélvica: o achado no exame físico é o amolecimento do ovário 
durante compressão suave. Pode haver amolecimento uterino à mobilização do colo e palpação 
profunda abdominal. 
→ Cistite intersticial: quase sempre há dor à palpação difusa do abdome, base da bexiga e 
uretra. 
→ Síndrome do piriforme e do levantador do ânus: há dor na palpação unidigital destes 
músculos durante o toque vaginal. Estes encontram-se com contratura e podem ter 
fasciculação. O reflexo anal pode estar ausente, pois, os músculos do assoalho pélvico já 
estavam contraídos ou devido lesão nervosa. 
Exame psicológico: 
Podem ser utilizados questionários que traz entre as perguntas questionamentos a respeito de 
sintomas depressivos e abuso físico/sexual. Alguns estudos sugerem que o ato de aumentar a 
gravidade dos fatos pode ser uma característica importante nas pacientes com dor pélvica 
Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato 
 
crônica e deve ser avaliada durante exame psicológico e sinalizada para contribuir no 
tratamento. 
EXAMES COMPLEMENTARES 
Na maioria dos casos são importantes para exclusão de outras causas. Devem ser solicitados 
de acordo com a história clínica. O ideal seria realizar exames de todos os sistemas, porém 
devido ao alto custo, isso não é possível. Os exames primordiais devem ser de baixo custo e 
pouco invasivos. 
→ Sumário de urina + urinocultura: quando há suspeita de doenças do sistema urológico, em 
especial a cistite intersticial; 
→ Dosagem sérica de CA-125: é útil na complementação diagnóstica para os casos com 
suspeita diagnóstica de endometriose severa e massas anexiais. 
→ Colpocitologia + bacterioscopia: quando há suspeita de acometimento do sistema 
gastrintestinal a fim de excluir neoplasias ou doenças infecciosas e inflamatórias; 
→ Investigação de sangue oculto nas fezes + colonoscopia: não permitem o diagnóstico de 
síndrome do intestino irritável, mas podem ser necessários na suspeita de acometimento do 
sistema gastrintestinal para excluir doenças inflamatórias ou neoplásicas. 
→ Cultura do conteúdo vaginal para Chlamidia e gonococos: importante para a confirmação 
do diagnóstico de doença inflamatória pélvica de difícil tratamento; 
→ Sorologia para sífilis, HIV e hepatite B: para a detecção de imunodepressão e de 
predisposição para doença inflamatória pélvica; 
→ Protoparasitológico de fezes: indicado para a detecção de verminoses; 
→ Hemograma completo: importante para a detecção de alterações plaquetárias, leucocitose 
e anemia falciforme; 
→ Glicemia: para a detecção de diabetes; 
→ US abdominal e pélvica: indicada quando há suspeita de endometriose e massas pélvicas. 
Alguns especialistas em US realizam nos casos de suspeita de endometriose um exame bem 
mais detalhado e cuidadoso, capaz de visualizar lesões indetectáveis em exames “comuns”. 
Porém o método ainda é restrito; 
→ Raio-X de tórax + abdome (incluindo perfil): verificação de fraturas vertebrais, osteopatias, 
cálculos, entre outras alterações. 
Os exames mais complexos, de valores mais elevados e mais invasivos devem ser solicitados 
conforme sejam encontrados achados insuficientes nos exames de rotina. 
Os mais usados são: colonoscopia, endoscopia digestiva alta, histerossalpingografia, 
histeroscopia, estudo urodinâmico, enema baritado de duplo contraste, tomografia 
computadorizada, ressonância nuclear magnética, pesquisa de sangue oculto nas fezes, 
laparoscopia entre outros. 
→ A laparoscopia: é o método padrão-ouro para a investigação da dor pélvica crônica, embora 
não existam evidências de diferença nos achados laparoscópicos entre mulheres com e sem 
dor pélvica. Entretanto, é imprescindível sua realização nos casos em que os outros métodos 
diagnósticos não elucidem a causa da dor. Portanto, a laparoscopia é mais eficiente nas 
situações em que encontramosexame físico anormal ou se o manejo inicial não acarreta 
melhora dos sintomas. 
7° - TRATAMENTO: 
Os principais objetivos do tratamento são: o alívio do sofrimento, a restauração da função 
normal e a prevenção da incapacitação. O manejo da doença pélvica crônica, ela própria como 
patologia, envolve tratamento medicamentoso, psicológico e neuroablativo. 
A abordagem terapêutica da síndrome de algia pélvica crônica pode seguir três linhas principais: 
1. Extensa avaliação diagnóstica seguida por tratamento da doença diagnosticada. 
Apesar de, provavelmente, tratar-se da abordagem ideal, pode ser onerosa na medida 
em que diversos exames complementares podem ser necessários. 
2. Prescrição sequencial de medicações que tratam as principais causas de DPC. Por 
exemplo, se a endometriose, principal causa de DPC, parece ser uma hipótese 
plausível para o caso, mas não foi comprovada sua presença, pode-se realizar um 
teste terapêutico temporariamente para avaliar a melhora dos sintomas. Se não for 
bem-sucedido, outra terapia empírica é iniciada. Deve-se ter em mente que neste caso, 
mesmo diante de melhora clínica, não se pode afirmar a real etiologia da DPC, visto 
que um mesmo tratamento pode ser eficaz para várias afecções. 
3. Tratamento não específico com analgésicos p/ tratar a dor em vez do tratamento de 
doenças específicas. 
Recomenda-se que pacientes portadoras de DPC sejam abordadas de forma multidisciplinar. 
Isto porque a dor abdominal, é de difícil localização, porque a descoberta de uma afecção não 
garante que esta seja a causadora do quadro e sobretudo porque são comuns as associações 
de diferentes problemas. Um único profissional dificilmente deterá todo o conhecimento 
específico necessário para assegurar que a paciente seja avaliada de forma completa e com 
adequado embasamento científico. 
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO 
Podem ser utilizados analgésicos, AINES e opioides. Os analgésicos de primeira linha, AINES 
e acetaminofeno podem ser considerados as drogas de primeira escolha. Seria interessante 
que se fizesse o uso de pelo menos 3 drogas isoladas ou associadas antes de se iniciar o 
tratamento com opioides, deixando estes últimos somente para casos refratários ao tratamento 
prévio. Fazer fisioterapia pélvica. 
Analgésicos do grupo dos narcóticos → não devem ser usados rotineiramente no tratamento 
da dor pélvica crônica porque relaxam a musculatura lisa e podem exacerbar a dor provocada 
por distúrbios de motilidade intestinal, além de provocarem sedação, o que dificultaria o retorno 
às funções habituais. 
Antidepressivos tricíclicos → podem ser associados aos analgésicos no alívio da dor uma 
vez que, eles podem aliviá-la por meio do bloqueio nervoso periférico, elevando o limiar à dor, 
e por estimulação central. 
Módulo Saúde da Mulher | Samille Donato 
 
Amitriptilina → um antidepressivo com efeito sedativo é uma das primeiras escolhas utilizadas 
exceto nos casos de pacientes com distúrbios cardiovasculares ou em uso concomitante de 
inibidores da monoaminoxidase. 
Anestésicos tópicos injetáveis → são utilizados para injeção local nos pontos de gatilho na 
parede abdominal ou em músculos do assoalho pélvico para tratamento da síndrome miofascial 
e para bloqueio de nervos ílio-inguinais e ílio-hipogástricos. Podem ser efetivos tanto no 
diagnóstico como no tratamento de alguns casos de hiperalgesia pós-cirurgia pélvica ou trauma. 
Drogas miorrelaxantes → podem ser usadas com sucesso em pacientes nas quais a presença 
de espasmos musculares ou tensão contribuem para a manutenção da dor. 
Supressão ovariana → e conseqüentemente da menstruação é tratamento eficiente para o 
controle da dor pélvica crônica de várias etiologias. Pode ser realizada com contraceptivos 
hormonais combinados, progestágenos ou análogos de GnRH em pacientes principalmente 
com componente cíclico e dismenorreia, por períodos determinados. Várias alterações podem 
se beneficiar desse tratamento, além da endometriose com dor pélvica crônica, entre elas a 
síndrome da congestão pélvica e patologias uterinas sintomáticas como miomas e adenomiose, 
além da cistite intersticial e síndrome do intestino irritável. 
TRATAMENTO PSICOLÓGICO 
Tem como objetivo tratar a dor excessiva e a incapacitação, educar a paciente a conviver da 
melhor maneira possível com a dor e tratar as doenças psicológicas. A abordagem 
comportamental tem apresentado resultados promissores. 
TRATAMENTO NEUROABLATIVO 
Pode ser feito por ressecção cirúrgica nervosa, injeção de substâncias neurotóxicas ou corrente 
elétrica suficiente para destruir o tecido neural. Dentre as técnicas laparoscópicas, a LUNA, 
ablação do nervo uterino com ressecção dos ligamentos útero-sacros, é a mais utilizada. 
O tratamento cirúrgico fica reservado para patologias específicas, comprovadamente 
associadas à dor. Laparoscopia para lise de aderências mostra-se pouco efetiva na maioria dos 
casos, principalmente porque as aderências mais associadas à dor pélvica crônica são as 
secundárias à endometriose severa e à doença inflamatória pélvica. 
RESUMO 
Conduta – Resposta prova → exame complementar e laboratorial p/ excluir causas. Citar na 
prova os principais. Se não chegou ao diagnóstico, mas sabe que é DPC → analgésicos, 
componente neurológico e AINES. Sempre fisioterapia pélvica. Tentar chegar no diagnóstico 
mais preciso possível. Ter boa relação médico paciente. Laparoscopia em casos específicos, 
principalmente endometriose, aderências e miomatose. 
8° - ANÁLISE DO CASO: 
Dismenorreia primária. 
G.F.T, 18 anos, sexo feminino, procurou o ambulatório de ginecologia com relato de cólicas 
menstruais de forte intensidade. Informou que as dores se iniciaram juntamente com a menarca 
aos 12 anos. Foi encaminhada ao especialista, após diversas idas ao posto de saúde, sem 
resolução definitiva do problema. Relatou ter feito uso de diferentes classes de medicamentos 
como analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides, diversas vezes, durante o período 
menstrual. A paciente negou comorbidades e informou não fazer uso contínuo de nenhum 
medicamento. Informou, ainda, início da atividade sexual aos 16 anos. Ao exame: Abdome 
plano, ruídos hidroaéreos presentes, flácido, levemente doloroso à palpação profunda em 
região supra-púbica, ausência de visceromegalias. Ultrassonografia trans-vaginal: Útero com 
volume usual e padrão proliferativo. Ovários de morfologia usuais. Exame sem alterações. 
 
→ Paciente jovem, em idade fértil. 
→ Não tem antecedentes de importância → afasta outros possíveis diagnósticos. 
→ Vida sexual ativa → gravidez, ISTs 
 
→ Forte intensidade e no período menstrual → dor pélvica crônica CICLÍCA 
→ Junto com a menarca e sem resolução → crônica 
 
→ Responde ao tratamento sintomático porém sem resolução definitiva → recorrente. 
→ Exame sem alterações → descarta outras causas de DPC e dismenorreia secundaria. 
 
 
REFERÊNCIAS: 
- Livro: Ginecologia baseada em problemas - Maria de Lourdes Caltabiano Magalhães et al. – 
Faculdades Christus – Fortaleza – 2011. 
- Dor pélvica crônica – protocolo Febrasgo – n° 17 – 2020. 
- Abordagem da dor pélvica crônica em mulheres – Antonio Nogueira et al. – Revista brasileira 
de ginecologia e obstetrícia – 2006 – scielo. 
- Livro rotinas em ginecologia – 6° ed – Fernando Freitas et al.

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