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AFETOS DIGITAIS

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AFETOS DIGITAIS 
Prof. Moyses da Fontoura Pinto Neto 
 
 
Nesta unidade temática, você vai aprender 
▪ A refletir e argumentar desde uma perspectiva crítica sobre os afetos 
digitais, em que as relações perdem a capacidade de formar laços e se 
tornam extremamente efêmeras; 
▪ A refletir e argumentar sobre a posição inversa, em que as conexões 
digitais potencializam afetos e relações de pertencimento; 
▪ A perceber o fenômeno da exaustão derivado da sobrecarga de 
informação do meio digital e da hiperconectividade. 
 
 
 
Introdução 
O filme Ela ("Her", 2013, Dir. Spike Jonze) conta a história de um sujeito recém-
divorciado que se apaixona por um aplicativo de inteligência artificial que operava 
como voz no seu cérebro. Ao assistirmos, ficamos com uma sensação ambígua e até 
desconfortável que parece perguntar: "será que é possível que a paixão do 
personagem seja saudável ou estamos diante de uma patologia social?" 
Colocar-se diante do mundo digital no campo dos afetos parece sempre suscitar 
essa mesma pergunta: estaríamos sendo conservadores demais, até 
preconceituosos, com novas formas de ser e estar no mundo, ou o digital seria o 
efeito de uma individualização extrema que corresponderia à solidão dos seus 
habitantes? É possível que as relações de carne-e-osso possam ser substituídas 
pelos avatares – como Second Life e os games em geral procuram realizar – ou esse 
deslocamento é simplesmente uma forma minimizada de buscar afetos em uma 
sociedade que perdeu a capacidade de formar vínculos? 
Em Jogador número 1, romance de Ernest Cline posteriormente adaptado ao 
cinema por Steven Spielberg (2018), por exemplo, os personagens vivem, se 
apaixonam, fazem amizades e enfrentam as principais atividades no plano do jogo 
OASIS. O protagonista Wade Watts, por exemplo, resolveu cursar seus estudos no 
OASIS, uma vez que se sentia isolado e desprestigiado na escola presencial. No 
mundo virtual, a educação era organizada de forma bastante similar à original, com 
turmas e séries, e os indivíduos somente precisavam interagir a partir do seu avatar. 
Wade tem dúvidas em relação aos seus sentimentos por Art3mis, uma vez que não 
só nunca a viu, como sequer sabe se quem está atrás do avatar é homem, mulher, 
velho, jovem, enfim, desconhece totalmente qualquer característica física. 
O Japão talvez tenha o caso mais extremo de uma juventude que se recusa a 
desconectar. Os chamados hikikomoris são crianças e jovens que se recusam a sair 
do quarto, vivendo conectados aos computadores sem qualquer outro tipo de 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.56waodzibksu
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.56waodzibksu
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.3cm7cpcrc2nv
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.3cm7cpcrc2nv
contato com o exterior. Na pandemia, quem pôde fazer o isolamento social em casa 
teve uma experiência involuntária de hikikomori, mostrando – como Henry Jenkins 
(2009) sugere – que os "usuários pioneiros" sempre apontam os caminhos que mais 
tarde irão se popularizar. 
Neste capítulo, iremos investigar a tensão entre presencial e digital em relação aos 
afetos e aos corpos que se afetam, pensando as relações humanas transformadas 
pela tecnologia. 
 
 
Narcisismo e supermercado das sensações 
Em um dos seus livros, o sociólogo Zygmunt Bauman narrava sem disfarçar o horror 
uma nova experiência do consumidor digital que tomou conhecimento existir no 
Reino Unido, onde morava: a possibilidade de contratar amigos. No Brasil, inclusive, 
a possibilidade existiu e talvez exista ainda. Em 2009, por exemplo, diversas 
reportagens foram feitas sobre a empresa "Amigos de Aluguel", cujo serviço 
consistia exatamente em proporcionar amigos sob encomenda. Perplexos com o 
tipo de serviço oferecido, jornalistas tentavam entender a justificativa da empresa e 
a percepção que os profissionais de saúde, sobretudo da área psicológica, 
mantinham acerca do tema. 
 
 
 
 
 
Amplie 
Para ler a reportagem da UOL sobre personal friends, os amigos de aluguel, 
clique aqui. 
Bauman é conhecido pelo tema da "liquidez": na Modernidade líquida, tudo que era 
sólido se torna fluido, fazendo com que o que antigamente experimentávamos 
como um emprego, um casamento, uma comunidade, de repente possa se dissolver 
rapidamente em novos arranjos. Ao contrário da estabilidade buscada pelo 
habitante da Modernidade sólida (período anterior), o sujeito do nosso tempo 
priorizaria a liberdade sobre a segurança, construindo suas relações sempre de 
modo precário e transitório. 
 
 
 
Reflita 
O título de outro trabalho, Vida para Consumo, Bauman já deixa clara a ojeriza ao 
processo social que descrevia. A vida seria reduzida a um objeto de consumo e as 
pessoas, a mercadorias. Sua leitura, também presente em Amor Líquido, era de que 
o indivíduo contemporâneo seria eminentemente individualista, e por isso incapaz 
de formar laços afetivos (nas relações familiares e conjugais) e sociais (com a 
respectiva comunidade). 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.ofnh9ykmfov0
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.ofnh9ykmfov0
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Fvivabem%2Fnoticias%2Fredacao%2F2018%2F04%2F23%2Fpersonal-friend-voce-precisa-mesmo-pagar-por-uma-amizade.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2XjzUFVt1R8z1fITi9IyjH
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Fvivabem%2Fnoticias%2Fredacao%2F2018%2F04%2F23%2Fpersonal-friend-voce-precisa-mesmo-pagar-por-uma-amizade.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2XjzUFVt1R8z1fITi9IyjH
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.gg816kh3t3fq
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.gg816kh3t3fq
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Fvivabem%2Fnoticias%2Fredacao%2F2018%2F04%2F23%2Fpersonal-friend-voce-precisa-mesmo-pagar-por-uma-amizade.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2XjzUFVt1R8z1fITi9IyjH
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Fvivabem%2Fnoticias%2Fredacao%2F2018%2F04%2F23%2Fpersonal-friend-voce-precisa-mesmo-pagar-por-uma-amizade.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2XjzUFVt1R8z1fITi9IyjH
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.8ze2gjau5h9i
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.8ze2gjau5h9i
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Fvivabem%2Fnoticias%2Fredacao%2F2018%2F04%2F23%2Fpersonal-friend-voce-precisa-mesmo-pagar-por-uma-amizade.htm&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2XjzUFVt1R8z1fITi9IyjH
A perda do sentido comunitário está também presente em diagnósticos do 
contemporâneo como Christopher Lasch (A cultura do narcisismo) e Richard 
Sennett (A corrosão do caráter). Lasch, por exemplo, destacou que desde a 
emergência dos movimentos contraculturais dos anos 60 e 70, a demanda por 
autenticidade e autorrealização suplantou todos os vínculos comuns, tornando o 
indivíduo obcecado por celebridades e por si mesmo a tal ponto que o quadro é 
comparável à patologia psíquica do narcisismo. Sennett, de modo parecido, 
apresenta estudos de caso em que o vínculo comunitário oriundo do trabalho 
estável desenvolvido em bares, padarias e outras formas tradicionais é dissolvido 
em relações precárias, fugazes e desenraizadas de trabalho sem qualquer 
capacidade de formar laços sociais. 
 
 
 
Fique de olho! 
Entre os exemplos que iniciam Vida para Consumo (2007), de Bauman, dois são os 
seguintes: 
(1) os jovens estariam migrando em massa para as chamadas "redes sociais" – que 
Bauman exemplifica com o MySpace a partir de reportagem de 2006 do jornal The 
Guardian – , lamentando o isolamento dos não conectados. Ironicamente, Bauman 
chama as redes de "confessionários eletrônicos" nos quais os jovens estariam 
dissolvendo as fronteiras entre público e privado; 
(2) em 2005, dois terços dos indivíduos solteiros britânicos (cerca de 3,6 milhões) 
recorreram à Internet para encontrar seus pares. Segundo eles,seria mais 
confortável e menos arriscado do que o encontro face a face. Para Bauman, 
"claramente, as pessoas que recorrem às agências da internet em busca de ajuda 
foram mimadas pelo mercado de consumo, amigável ao usuário, que promete 
tornar toda escolha segura e qualquer transação única e sem compromisso (...)". O 
efeito colateral disso, segue o sociólogo, foi a criação de um grande volume de 
"desabilitação social". 
Seria interessante ler a perspectiva de Bauman, que faleceu em 2017, sobre a 
sociedade hiperconectada nas plataformas digitais e as relações que se 
estabelecem, por exemplo, com aplicativos como Tinder e Happn. Com certeza, não 
seria nada favorável. Apesar disso, é difícil não ver que a realidade é mais ambígua 
e menos aterradora que parecia a Bauman em uma época na qual as conexões que 
ele temia acabaram se realizando com níveis que talvez nem ele próprio pudesse 
prever. O uso de redes sociais com frequência e inclusive aplicativos de 
relacionamento é item básico na nossa sociedade. 
Há, no entanto, quem considere as coisas de outro modo. 
Para muitos, perspectivas como as de Bauman, Lasch e Sennett seriam 
excessivamente nostálgicas e não estariam atentas à complexidade do que se passa 
no mundo virtual e na sociedade em geral. 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.f6p6gjfgwtp5
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.f6p6gjfgwtp5
Gilles Lipovetsky, por exemplo, pensa a sociedade atual como "hipermodernidade" 
na qual o individualismo liberal teria se personalizado na forma do narcisismo. Além 
disso, estaríamos diante de uma era de uma ética "pós-dever" em que a autonomia 
se desenvolve plenamente sem que precisemos respeitar nada além das demandas 
particulares de felicidade de cada sujeito. O grande peso dos deveres disciplinares 
típicos da moral tradicional teria sido ofuscado pela nova sociedade hipermoderna 
em que o indivíduo usufrui um novo tipo de leveza, não sendo por isso coincidência 
o papel central da moda na cultura. Nesse caso, poderíamos pensar a cultura 
contemporânea como um imenso "supermercado de sensações" no qual esse 
sujeito, livre dos constrangimentos que as tradições impunham, pode se 
experimentar permanentemente. A vida digital poderia ser interpretada – com seus 
games, aplicativos, redes sociais – como uma variação desse supermercado. 
 
 
Pertencimento digital 
Outra forma de colocar a questão é observar as relações digitais não sob o prisma 
da sua oposição ao presencial, nem enquanto formas de solidão, mas justamente 
pelo inverso: como formação de comunidades. 
Um exemplo desse tipo de relação são os fandoms, coletivos de fãs que se 
organizam em torno a um interesse comum, compartilham experiências e – por 
meio da cultura participativa – acabam inclusive influenciando aquilo que 
consomem. O exemplo citado por Jenkins (2009) na primeira unidade – em que fãs 
do reality show Survivor se encontravam em fóruns mediante utilização de múltiplas 
estratégias e competências para descobrir spoilers – é um exemplo de como a 
participação virtual produz coesão de grupo. Adriana Amaral (2015) acrescenta 
modalidades de produtos desenvolvidos por fãs como fanzines (revista de 
fãs), fanfics (contos escritos pelos próprios fãs), fanarts (produção artística de fãs, 
como por exemplo quadrinhos ou animações), entre outras, além de atividades 
colaborativas como crowdfundings (financiamentos coletivos) e mobilizações. 
Recentemente, o fandom norte-americano de k-pop (pop coreano) produziu 
diversas mobilizações que envolviam flood (inundar de informação) hashtags do 
Twitter que envolvessem discurso de ódio racista contra o movimento Black Lives 
Matter, nos EUA. 
 
 
 
 
 
Amplie 
Acompanhe a matéria sobre fãs de k-pop boicotando extremismo político 
clicando aqui. 
Outro exemplo são blogs ou canais de Youtube que dão visibilidade a questões que 
em geral são invisibilizadas na esfera pública. No Programa de Pós-Graduação em 
Educação da ULBRA, por exemplo, temos diversos trabalhos que desenvolvem a 
relação das pessoas com deficiência e o universo digital. Os trabalhos procuram 
explorar as representações e possibilidades que a comunicação digital abre no 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.sxnxxt3p9t7x
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.sxnxxt3p9t7x
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fbr.financas.yahoo.com%2Fnoticias%2Fk-pop-tiktok-ativismo-politico-social-051949777.html&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2p704gBNZz1I7XideJfxZb
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fbr.financas.yahoo.com%2Fnoticias%2Fk-pop-tiktok-ativismo-politico-social-051949777.html&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2p704gBNZz1I7XideJfxZb
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.zdw0bvpvtq2n
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.zdw0bvpvtq2n
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fbr.financas.yahoo.com%2Fnoticias%2Fk-pop-tiktok-ativismo-politico-social-051949777.html&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2p704gBNZz1I7XideJfxZb
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fbr.financas.yahoo.com%2Fnoticias%2Fk-pop-tiktok-ativismo-politico-social-051949777.html&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2p704gBNZz1I7XideJfxZb
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fbr.financas.yahoo.com%2Fnoticias%2Fk-pop-tiktok-ativismo-politico-social-051949777.html&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2p704gBNZz1I7XideJfxZb
sentido de dar voz a sujeitos que, em condições prévias, permaneceriam sem 
possibilidade de falar em primeira pessoa sobre si próprios. Da mesma forma, há 
canais do Youtube, podcasts, blogs, sites que dão visibilidade a pessoas LGBTTQI+, 
mulheres negras e outras identidades que costumavam ser marginalizadas na 
esfera pública. 
 
 
 
Fique de olho! 
Nesse sentido, poderíamos dizer que as comunidades digitais produzem uma 
política do pertencimento que forma laços, ao contrário do que os avessos à 
tecnologia costumam colocar. 
Porém, ao mesmo tempo, também temos pertencimentos exóticos e 
problemáticos, como, por exemplo, as comunidades de terraplanistas, cujo vínculo 
se dá a partir da afirmação estapafúrdia de que a Terra é plana, e não esférica, ou a 
teoria da conspiração Q-Anon, que acredita ser o planeta governado por um complô 
pedófilo de satanistas. 
 
 
Hiperconectividade e vício 
Os hikikomori escancaram uma dimensão que se torna cada vez mais óbvia na 
relação com a cultura digital: a hiperconectividade. O filósofo Jonathan Crary 
escolheu uma imagem para caracterizar o mundo em que as pessoas estão a todo 
instante diante de telas. 
É comum se ver em postos de gasolina, cafeterias e outros estabelecimentos o 
cartaz "24/7" para caracterizar um lugar que nunca fecha. Essa imagem mesma que 
Crary escolheu para designar a experiência que ele descreve como um "clarão 
ininterrupto" no qual as "zonas de penumbra" da vida, como o sono e o sonho, são 
devoradas. 
É comum ouvirmos de usuários compulsivos, por exemplo, que acordam durante a 
madrugada apenas para conferir se não há notificações novas. 
Como mostra o filme Dilema das Redes (2020), existe uma política deliberada na 
construção dos algoritmos que formam a experiência das plataformas a fim de 
estimular que os usuários permaneçam todo o tempo conectados. No filme, o 
algoritmo é representado por uma sala secreta em que três "demônios" ficam 
criando táticas para evitar que o usuário se desconecte, alimentando-o 
permanentemente com marketing digital a fim de que se mantenha on-line. Na vida 
real, não há demônios, apenas números se cruzando em nuvens de Big Data que se 
alimentam dos nossos cliques para segmentar nosso perfil consumidor e com isso 
proporcionar um marketing digital mais eficaz por meio da captura da nossa 
atenção. 
O filósofo Byung-Chul Han caracteriza nosso tempo como uma "sociedade do 
cansaço", ou, como diz o título em inglês, "sociedade do burnout", fazendo alusão à 
síndrome que atinge pessoas em um quadro de exaustão extrema. Para ele,https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.slamy5wl715f
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.slamy5wl715f
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.qdm1varx3ptq
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.qdm1varx3ptq
viveríamos um "excesso de positividade" que envolveria a tarefa de sempre ser pró-
ativo, estar sempre voltado a melhorar ininterruptamente e bater cada vez metas 
mais altas. 
 
 
 
Reflita 
Embora isso possa trazer satisfação pessoal, nem sempre o corpo dá conta de 
tantas exigências. Por isso, ele chama o processo em que vivemos de "violência 
neuronal", entendida como uma violência que vem de dentro, de nós mesmos, na 
medida em que introjetamos tantas cobranças do meio externo que não somos 
mais capazes de as suportar com os limites do nosso corpo. Apesar disso, seguimos 
reiterando as cobranças constantemente, a despeito da nossa saúde psíquica e sem 
oferecer resistência. 
Apenas para exemplificar que a sobrecarga de conectividade pode produzir, 
poderíamos pensar que se estima em 37% o percentual de brasileiros que sofrem 
de dor na coluna cervical devido ao uso excessivo de smartphones. 
Metaforicamente, é como se o corpo estivesse sinalizando que a conectividade 
exagerada produz seus efeitos "do lado de cá", isto é, para além do que se passa no 
ambiente digital em que os fluxos de informação circulam em quantidade e 
velocidade maior que os corpos conseguem suportar. Sem falar de pânico, 
depressão, ansiedade e outras sensações que costumam ser comuns em termos de 
saúde psíquica de usuários compulsivos e influenciadores digitais. 
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.hxjjky9uezk9
https://sites.google.com/ulbra.br/g000277gs001/t003#h.hxjjky9uezk9

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