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(FICHAMENTO) Byung-Chul Han - No enxame (2018, Editora Vozes)

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HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Tradução de Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018. 
Cap. 1: Sem respeito
O respeito [na ideia de um olhar distanciado, onde a curiosidade é controlada] é o alicerce da esfera pública. Ela pressupõe o olhar distanciado em vias de que as pessoas se põem limites de intimidades umas às outras. Contudo, hoje, se faz presente uma falta de distância, pois o privado é exposto constantemente ao público. Como a comunicação digital descontrói a distância, consequentemente ela é nociva ao respeito.
Uma sociedade sem respeito, sem o pathos da distância, leva à sociedade do escândalo.
A comunicação digital desconstrói a distância de modo generalizado. A desconstrução da distância espacial acompanha a erosão da distância mental. A medialidade [Medialität] do digital é nociva ao respeito.
A comunicação digital, hoje, faz o privado se misturar com o público, promovendo um tipo de “exposição pornográfica da intimidade”. Uma sociedade sem respeito, leva à uma sociedade do escândalo, a uma sociedade do espetáculo.	Comment by Kennet Anderson: Edgar Morin explica que a cultura de massas dispõe de dispositivos que proporcionam apoios imaginários no cotidiano das pessoas. Exemplo disso é a forma como a indústria cultural promove a exposição da vida privada dos ditos “olimpianos” (celebridades, figuras exaltadas e “endeusadas”) gerando modelos de vidas “perfeitas”, e de vidas que as pessoas possam se identificar.	Comment by Kennet Anderson: Essa sociedade fragilizada de respeito, da qual fala Han, onde a intimidade é sempre exposta, é a própria sociedade do espetáculo, abordada por Guy Debord, em que se prioriza a afirmação da aparência e da exposição para manter a superficialidade de sua realidade.
O Google Glass transforma os olhos humanos, eles mesmos, em uma câmera. Os olhos mesmos fazem imagens. Assim, nenhuma esfera privada é mais possível. A imperiosa coação icônico-pornográfica a desfaz inteiramente.	Comment by Kennet Anderson: Marshall McLuhan estabelece a fórmula de que “o meio é a mensagem”, para pontuar que a tecnologia (meio) virou, gradualmente, um ambiente humano novo (mensagem). Esse ambiente é um sistema que influencia as formas como sentimos, pensamos e agimos. Resumindo: a mídia compreende qualquer artefato que amplia ou estende as faculdades humanas, como ocorre com o Google Glass que transforma os olhos humanos.
Nesse sentido, a comunicação anônima fornecida pela mídia digital desconstrói o respeito. O nome (de uma pessoa) está ligado diretamente ao respeito porque ele é a base para o reconhecimento. Assim, temos uma lógica dialética na comunicação digital: ela promove a exposição (as pessoas estão continuamente mostrando sua vida a todos), mas também esconde a identidade (as pessoas também criam perfis anônimos para diversos fins – a ex. do Shitstorm/hater/cultura do cancelamento).
Também estão ligadas à nominalidade [Namentlichkeit] práticas como a responsabilidade, a confiança ou a promessa.
A mídia digital é uma mídia de afetos. Isso porque ela torna uma descarga de afetos instantânea possível (a exemplo da raiva). Diferente das cartas, em que os xingamentos podem ir pro lixo do jornal, o Shitstorm é possível na comunicação digital.	Comment by Kennet Anderson: Muniz Sodré: as mídias e a propaganda fazem uso da racionalidade para manipular os afetos (instrumentalizar o sensível) dos indivíduos, sem que percebam. A diversidade do sentir e a singularidade da experiência são laçadas tão rapidamente e fragmentada que deixam a consciência dos indivíduos “nebulosa”, fazendo seus julgamentos serem mais estéticos que morais/críticos/reflexivos. Jaron Lanier vai mais além e diz que, na era dos bits, isso é ainda mais potencializado: os algoritmos manipulam nossos sentimentos através do engajamento para lucrar.	Comment by Kennet Anderson: Meu projeto: se, antes, as cartas dos leitores eram filtradas, hoje isso não é mais possível.
A comunicação digital, em contrapartida, torna uma descarga de afetos instantânea possível. Já por conta de sua temporalidade ela transporta mais afetos do que a comunicação analógica.
A conexão digital favorece a comunicação simétrica, ou seja, não há sujeitos passivos, todos são consumidores e produtores. Por isso, há uma descentralização de poder, o que, por um lado, pode ser ruim por permitir o Shitstorm.	Comment by Kennet Anderson: No séc. passado, Walter Benjamin já visionava que “o leitor está prestes a se tornar escritor”, pela necessidade constante das pessoas em relatarem suas experiências e denúncias em colunas dos jornais. Edgar Morin, por sua vez, destaca que a cultura de massas é um resultante da produção e do consumo. Hoje, tal fator se potencializa, pois temos em evidência uma cultura da convergência, como chama Henry Jenkins, que leva os indivíduos a fazerem conexões em meio a conteúdos de mídia, após participarem e assumirem o controle deles. 
Tal simetria, porém, é prejudicial ao poder. A comunicação do poder caminha em uma direção, a saber, de cima para baixo. O refluxo comunicativo destrói a ordem do poder. O Shitstorm é um tipo de refluxo, com todos os seus efeitos destrutivos.
O poder como mídia de comunicação cuida para que a comunicação flua em um sentido.
Mas, o poder se fundamenta numa relação assimétrica, ou seja, hierárquica, o que não ocorre com o respeito. Neste caso, sua relação simétrica é baseada no reconhecimento, na reciprocidade.
Assim, mesmo um detentor de poder pode ter respeito por um subalterno do poder. O Shitstorm atualmente em expansão por todos os lugares aponta para o fato de que vivemos em uma sociedade sem respeito recíproco.
Cap. 2: Sociedade da indignação
As ondas de indignação (sociedade da indignação/do escândalo) se assemelham aos Smart Mobs no sentido de se inflarem repentinamente e se desfazerem de maneira igualmente rápida. Entretanto, elas são perigosas por serem incontroláveis, incalculáveis, inconstantes, dispersas, por isso não são apropriadas para organizar o discurso público.	Comment by Kennet Anderson: Smart Mobs são grupos de pessoas que se mobilizam rapidamente e organizativamente pela tecnologia. Tal ideia é semelhante ao que Pierre Lévy chama de inteligência coletiva, ou seja, um “trabalhar em comum acordo”, um enriquecimento mútuo de compartilhamento de conhecimento entre os indivíduos nos espaços da internet.	Comment by Kennet Anderson: Muniz Sodré observa que o novo espaço público ampliado pelas tecnologias é propriamente uma esfera culturalizada, ou seja, moldada por mega corporações de mídia a serviço do mercado
A sociedade da indignação é uma sociedade do escândalo. [...] A desobediência, a histeria e a rebeldia – que são características das ondas de indignação – não permitem nenhuma comunicação discreta e factual, nenhum diálogo, nenhum discurso.	Comment by Kennet Anderson: Para Paulo Freire, a comunicação era uma co-participação dos sujeitos no ato de pensar, implicando um diálogo ou uma reciprocidade que não pode ser rompida. No contexto da sociedade da indignação, embora Lévy aponte para um enriquecimento mútuo das pessoas, os pensamentos de Han e Sodré vão ao contrário: a fala (o diálogo), na rede eletrônica, é uma espécie de bolha discursiva amarrada ao condicionamento técnico. (“nós”. Cap. 3)
A indignação digital não é cantável. Ela não é capaz nem de [levar à] ação, nem de [levar à] narrativa. Ela é, antes, um estado afetivo, que não desenvolve nenhuma força com poder de ação.Cap. 3: No enxame
Em “Psicologia das Massas”, Le Bon observa a modernidade como uma “Era das Massas”, onde “a voz do povo”, ou a voz da maioria, prepondera, tem soberania.	Comment by Kennet Anderson: Gustave Le Bon (em Psicologia das Multidões) analisa as massas como um fenômeno psicológico irracional: os indivíduos agem coletivamente de uma forma diferente de quando agem individualmente, onde as inibições morais desaparecem e prevalece a afetividade e o instinto.Sigmund Freud (em Psicologia das Massas) rebate isso afirmando que a psicologia individual é também psicologiasocial, não existe diferenças entre o agir de ambos. O que existe é um sujeito com sua individualidade, com sua singularidade, mas que está, ao mesmo tempo, inserido num contexto social, cultural, político e histórico, que também o determina.
Para Le Bon, a insurgência das massas leva tanto à crise da soberania como ao declínio da cultura. As massas seriam, segundo Le Bon, “destruidoras da cultura”. Uma cultura se apoiaria em “condições para as quais as massas, deixadas a si mesmas,” seriam “completamente inacessíveis”.
Diferente da modernidade, porém, no momento atual da sociedade não temos mais uma massa, e sim um enxame digital. Este se distingue da ideia de massa por se constituir de indivíduos singularizados. Na massa, as pessoas se fundem em uma nova unidade. No enxame digital as pessoas não formam um “nós” (mesmo os Shitstorms, os quais não são vozes e sim ruídos).	Comment by Kennet Anderson: Edgar Morin chama atenção ao fato de que na cultura de massas não há mais a priorização pela sobrevivência ou pelo envolvimento familiar nos rituais tradicionais, como ocorria em culturas antepassadas, e sim a afirmação do homem enquanto indivíduo privado (aquele que consome para si, que busca o seu próprio bem-estar). P. 69Com isso potencializado, Gilles Lipovetsky e Jean Serroy falam que a era transestética constitui imensos mercados modelados por gigantes econômicos e internacionais numa lógica de mercantilização e individualização extrema, onde toda cultura é integrada na ordem econômica. Seja na produção, no consumo, nos modos de vida, na relação com o corpo, no olhar para o mundo. Num momento de quarentena, tudo isso fica em evidência.	Ver Cap. 9: Individualismo	Comment by Kennet Anderson: Crise de representação: Cap. 13
O enxame digital, diferentemente da massa, não é em si mesmo coerente. Ele não se externa como uma voz.
McLuhan aponta que o homo eletronicus (o que vive na era da mídia eletrônica como o rádio) faz parte da massa, com sua identidade privada sendo dissolvida pela solicitação excessiva. No atual momento o homo digitalis (o da era das mídias digitais), entretanto, preserva sua identidade privada. Mesmo se externando anonimamente, pois ainda tem um perfil e trabalha em sua otimização.
Em vez de ser “ninguém”, ele é um alguém penetrante, que se expõe e que compete por atenção. [...] O homo digitalis, em contrapartida, apresenta-se frequentemente, de fato, anonimamente, mas não é um ninguém, mas sim alguém, a saber, um alguém anônimo.	Comment by Kennet Anderson: Segundo Guy Debord, o sistema econômico faz circular o isolamento. Isso pois, se o isolamento fundamenta a técnica, então a técnica isola (ex.: a TV/PC/Smartphone proporcionam um estado de isolamento das pessoas). Há uma parte do mundo se representando para o resto, sendo superior (expondo sua vida). O espetáculo é o resultado da separação dessa parte com o resto: o resto está separado, mas reunido enquanto separado, ou seja, cada um está em sua casa própria isoladamente, assistindo a sua TV, no seu computador, com seu dispositivo móvel, mas todos são reunidos pelo mesmo entretenimento.
O habitante digital da rede não se reúne. Falta a ele a interioridade da reunião que produziria um Nós. [...] Mídias eletrônicas como o rádio reúnem pessoas, enquanto as mídias digitais as singularizam.
Outra diferença do enxame digital com as massas é que ele se forma ocasionalmente (comunidades virtuais) e se dispersa rapidamente (volatização), enquanto elas marcham numa direção (produzindo uma energia política, de mudanças).
A massa é o poder. Falta aos enxames digitais essa decisão. Eles não marcham. Eles se dissolvem de maneira tão rápida quanto surgiram. Por causa dessa efemeridade, eles não desenvolvem nenhuma energia política.
O socius [“social”] dá lugar ao solus [“sozinho”]. Não a multidão, mas sim a solidão caracteriza a constituição social atual. Ela é abarcada por uma desintegração generalizada do comum e do comunitário. A solidariedade desaparece. A privatização avança até a alma.	Comment by Kennet Anderson: Ver o isolamento de Guy Debord acima. ^Cap. 4: Desmediatização
Uma das características da mídia digital é que ela é a mídia da presença: as informações são produzidas, enviadas e recebidas a todo momento, sem necessidade de algum intermediário. Por isso somos consumidores e produtores ao mesmo tempo.	Comment by Kennet Anderson: A ubiquidade (característica daquilo que é onipresente), segundo Mark Weiser emerge da interação entre os dispositivos, unidos através das redes. É por isso que o leitor ubíquo, ao qual fala Lúcia Santaella, transita entre formas, volumes, interações de forças, movimentos, direções, traços, cores, luzes.Tudo isso ocorrendo dentro de uma realidade virtualizada, como sugere Pierre Lévy, ou seja, uma “entidade desterritorializada” e materializada em diversos locais e momentos diferentes, ao mesmo tempo.	Comment by Kennet Anderson: Volta-se às ideias de Benjamin, Morin e Jenkins no cap. 1.
Hoje não somos mais destinatários e consumidores passivos de informação, mas sim remetentes e produtores ativos. Não nos contentamos mais em consumir informações passivamente, mas sim queremos produzi-las e comunicá-las ativamente nós mesmos. Somos simultaneamente consumidores e produtores.
Essa ideia de consumir e produzir dá a mídia digital um caráter desmediatizador: todos produzem e enviam informação.	Comment by Kennet Anderson: O ser convergente, sob os preceitos de Jenkins, se move sem necessitar de um mediador. As pessoas estão consumindo e produzindo. Absorvem o original, mas também produzem suas versões daquilo. Daí advém também uma crise das pessoas sobre a necessidade do ofício jornalístico.
A desmediatização da comunicação faz com que jornalistas, esses antigos representantes elitistas, esses “fazedores de opinião” e mesmo sacerdotes da opinião, pareçam completamente superficiais e anacrônicos.
O caráter demediatizador também exige a transparência política, porque a compulsão em participar faz desaparecer a representatividade. Já não precisamos mais de mediadores políticos. Por isso se produz um tipo de ditadura da/pela transparência.
A desmediatização se manifesta como exigência por mais participação e transparência. [...] A crescente compulsão por presença que a mídia digital produz ameaça o princípio universal da representação.
A desmediatização, em contrapartida, leva, em muitos âmbitos, a uma massificação. Linguagem e cultura se achatam. Elas se tornam vulgares.	Comment by Kennet Anderson: Morin diz que a produção de conteúdo, embora variável em número e tipos, tende a uma homogeneização de estilos: se por um lado, a informação procura o sensacionalismo; por outro, os romances buscam aspectos da vida real para as pessoas se identificarem.
Sob a ditadura da transparência, opiniões desviantes ou ideias inabituais não chegam a ter voz, devido a sensação de estar sendo vigiado constantemente. É por isso que a transparência também vai muito além da participação e da liberdade de informação, pois ela dita o que é e o que deve ser.	Comment by Kennet Anderson: Exemplo disso, atualmente, é como age a cultura do cancelamento: um novo “vigiar e punir” do qual falava Michael Foucault. É um tipo de cultura que, de acordo com a professora Elizabeth Saad, faz parte de um processo de mutação do comportamento social, o qual incorpora práticas de negação e apagamento do outro (cancela quem não pensa igual a mim, ou quem odeio).	Comment by Kennet Anderson: Embora Han compare essa transparência a um efeito panóptico (ao qual induz à ideia de sociedade disciplinar, ou seja, a do confinamento e da vigilância), a ditadura da transparência pela qual passamos se aproxima ainda mais de uma sociedade do controle, definida por Gilles Deleuze pelo controle contínuo, diversificado, descentralizado e variável, que molda cada pessoa para determinados padrões. Assim, a comunicação (o marketing, de acordo com Deleuze), nos vigia para determinar padrões de consumo; assim como também vigiamos outras pessoas para identificar padrõesde belezas nelas; e os outros nos vigiam para nos pressionar às adequações sociais. (+ soc. transparência: Cap. 8) -> (+ soc. controle: Cap. 15/16)
O imperativo da transparência produz uma forte pressão para o conformismo. Ele faz, como a vigilância permanente por câmeras, surgir a sensação de se estar sendo observado
Tal exigência por transparência vai muito além da participação e da liberdade de informação. Ela anuncia uma mudança de paradigma. Essa mudança é normativa na medida em que ela dita o que é e o que deve ser. Ela define um novo ser.
O medium do espírito é o silêncio. Claramente, a comunicação digital destrói o silêncio [muita informação distribuída causa um barulho na comunicação]. O aditivo, que produz o barulho comunicativo, não é o modo de proceder do espírito.	Comment by Kennet Anderson: Segundo Jean Baudrillard, a grande quantidade de informação produz cada vez mais uma implosão nas massas que chega ao ponto de não ter mais nenhuma relação com a realidade, ou seja, viram simulacros, hiper-realidades. Assim, as notícias se tornam sem sentido, pois existem tantos pontos de vista que iremos apenas nos voltar voluntariamente àquilo que acreditamos: elas se tornam “novos reais”, pois não têm relação com qualquer outra realidade (assim se formam as fakes news).
Cap. 5: O Hans Esperto
Formas não verbais de expressão como gesticulação, expressões de rosto ou linguagem corporal constituem a comunicação humana, e lhe concede a tatilidade. A mídia digital utiliza disso para sua própria manifestação.	Comment by Kennet Anderson: Muniz Sodré define o novo espaço social que vivemos sob as tecnologias de mercado como uma “bios virtual”. Bios porque é uma nova forma de vida a partir da transformação técnica. Virtual porque se retirarmos daquilo que chamamos de real, o espaço e o tempo, teremos o virtual. Para o autor, essa nova forma de vida se situa no meio do caminho entre representação e real: é uma quase-presença (ubiquidade), uma quase-verdade e quase-real (Baudrillard), uma quase-mente (McLuhan) e um quase-mundo tátil (é o que Kerckhove chama de “ponto de existência”: uma interação dos sentidos a partir das imagens do mundo). (ver + no Cap. 13)
A mídia digital furta à comunicação a tatilidade e a corporeidade.
Por causa da eficiência e da comodidade da comunicação digital, ela torna cada vez mais possível a distância. Desse modo, a comunicação digital se torna cada vez mais sem corpo e sem rosto.	Comment by Kennet Anderson: Sem respeito / Cap. 1
O smartphone é um aparelho digital que abafa a negatividade. O “curtir” (like) produz um espaço de positividade (ver cap. 10). Por isso, a capacidade de lidar com o negativo é enfraquecida. A questão é que a comunicação digital (a tela, principalmente) produz uma tatilidade própria (uma experiência narcísica – viver em si mesmo), onde as pessoas se condicionam a um estágio de conformismo produzido pelo like e super fragilizadas a comentários negativos.
O smartphone funciona como um espelho digital para a nova versão pós-infantil do estágio do espelho. Ele abre um espaço narcísico, uma esfera do imaginário na qual eu me tranco. Por meio do smartphone o outro não fala.	Comment by Kennet Anderson: Para Sodré a bios virtual não funciona como uma programação especial na TV, onde ele influencia as pessoas, mas sim como um evento de midiatização que constrói um novo espaço social, uma nova realidade. Essa articulação entre instituições sociais e tecnologias da informação a reboque do mercado nos dá impressão de livre-arbítrio (podemos sair dele), mas em termos civilizatórios estamos presos numa virtualidade midiática.
O smartphone, como o digital em geral, enfraquece a capacidade de lidar com o negativo.
A comunicação digital é pobre de olhar pelo fato de “olharmos através do outro”, nos tornando distante das pessoas. Até mesmo em conexões de voz e vídeo (como o Meets e o Discord) isso ocorre: quando os olhos estão na tela, o outro vê o seu olhar levemente para baixo, devido ao posicionamento da câmera. Esse desencontro é o que torna o olhar do outro ausente.
Não é apenas a ótica da câmera que é responsável pelo ter-de-olhar-através-do-outro. Antes, ele aponta para o olhar fundamentalmente faltante, para o outro ausente. A mídia digital nos afasta cada vez mais do outro.
Outro exemplo sobre essa característica da “distância” é a time line, em que as pessoas se submetem a um “descarte” de passar de dedos.
Descartamos o outro com o passar do dedo, a fim de deixar que nossa imagem espelhada se apresente.
A face que se expõe e que anseia por atenção não é um rosto. Nela não habita nenhum olhar. A intencionalidade da exposição destrói aquela interioridade, aquela reserva que constitui o olhar.
Cap. 6: Fuga na imagem
Hoje, imagens não são apenas reproduções, mas também modelos (para sermos melhores, mais bonitos e mais vivos).	Comment by Kennet Anderson: Lipovetsky e Serroy definem o capitalismo artista ou capitalismo criativo como um novo estado da economia mercantil formado por uma sociedade superestetizada, onde a beleza e o espetáculo adquirem demasia importância no mercado de consumo, transformando a elaboração dos objetos e serviços, da comunicação, da distribuição e do consumo.	Comment by Kennet Anderson: Guy Debord define o espetáculo como uma relação social representada em que se institui modelos da vida socialmente dominante. Modelos mediados por imagens, existente na irrealidade da sociedade, sob as diversas formas de consumo do entretenimento. Modelos da vida ideal propostos por heróis do entretenimento/olimpianos (Morin). Modelos mercantis que sujeita o consumo ao prazer, emoção, sonho e divertimento (Lipovetsky; Serroy).
A mídia digital realiza uma inversão icônica, que faz com que as imagens pareçam mais vivas, mais bonitas e melhores do que a realidade deficiente percebida
Devido a enxurrada de imagens, somos, hoje, iconoclásticos: se destrói o valor original de uma imagem devido a realidade otimizada de suas reproduções.
As imagens tornadas consumíveis destroem a semântica e a poética especiais da imagem, que é mais do que uma mera reprodução do real.
Com a mídia digital, nos protegemos mais efetivamente do real. Devido a nossa realidade sentida como incompleta, acabamos por nos refugiar nessas imagens cuja realidade é otimizada.	Comment by Kennet Anderson: Sodré ressalta que, com a bios virtual, o mercado dirige o fenômeno estético para se tornar uma estimulação da vida. Uma verdadeira cultura das sensações e emoções. A bios virtual recria, a partir de suas próprias características, uma nova realidade, induzindo uma nova experiência perceptiva.
A mídia digital cria mais distância do real do que mídias analógicas. É que há menos analogia entre o digital e o real.
Em vista da realidade sentida como incompleta, nos refugiamos nas imagens.
Cap. 7: Do agir ao passar de dedos
A era do digital se situa num meio entre o nascimento (que representa o pensamento político) e a morte do homem (pensamento metafísico). Isso pois já está aqui assim que nascemos, e se perpetua após morrermos. Asso, ela é pós-política e pós-metafísica.	Comment by Kennet Anderson: Algo representado no filme WALL·E.
A era digital do morto-vivo é, vista desse modo, nem política nem metafísica. Ela é, antes, pós-política e pós-metafísica. A mera vida, que deve ser prolongada a todo preço, é sem nascimento e sem morte. O tempo do digital é uma era pósnatalícia e pós-mortal.
Vilém Flusser profetiza que, na era digital, o ser humano vive uma vida intangível, em que a necessidade de se usar as mãos é esvaziada por ele ter que lidar somente com informações. Ao invés das mãos, se utilizam os dedos.
Ele quererá apenas jogar e aproveitar. Não o trabalho, mas sim o ócio caracterizará a sua vida. O ser humano do futuro intangível não será um trabalhador, um homo faber, mas sim o jogador, o homo ludens. 
Essa atrofia das mãos torna o homem incapaz da ação (no sentido de algo novo aconteça). Até porque a ação precisa superar uma resistência (se quiser começar algo novo, precisa superara resistência do antigo), e a sociedade da positividade (dos likes) a evita e suprime.
Não parte do digital qualquer resistência material que se teria que superar por meio do trabalho.
Mas, diferente dos apontamentos de Flusser, a era do digital não é do ócio, e sim do desempenho.
O próprio jogo se submete à coação do desempenho. [...] A utopia do jogo e do ócio de Flusser se mostra como a distopia do desempenho e da exploração.
Na vida neoliberal, o tempo é o tempo do trabalho, e o ócio começa só quando esse trabalho termina inteiramente. Até a pausa faz parte desse tempo, já que é apenas uma fase dele. E o relaxamento é apenas uma regeneração da força de trabalho. 	Comment by Kennet Anderson: E não só regeneração, pois Morin ressalta que o lazer também é o tempo de consumo. É um tempo ganho sobre o trabalho para recuperar as forças produtivas e devolver, através do consumo, o que ganhamos pelo trabalho. É assim que temos empregados da Apple que trabalham para comprar produtos da Apple; da Microsoft que trabalham para comprar produtos da própria Microsoft.
Assim, o trazemos não apenas para as [nossas] férias, mas também para o [nosso] sono. Por isso dormimos inquietos hoje.
Também o relaxamento não é mais do que uma modalidade do trabalho na medida em que ele serve para a regeneração da força de trabalho. A recuperação não é o outro do trabalho, mas sim o seu produto.
Embora livre das máquinas industriais, a era digital também nos escraviza por tornar todo local em local de trabalho e todo tempo em tempo de trabalho.	Comment by Kennet Anderson: Segundo Jean Baudrillard, o trabalho invade a vida como uma repressão, controle e ocupação permanente. Ele fixa as pessoas em todos os lugares: escola, fábrica, praia, TV, reciclagem. A força de trabalho é projetada, é anunciada, é mercadificada, torna-se parte da esfera do consumo, pois é entendida como um projeto geral da vida. Assim, ele se reproduz como ostentação social (aumento ou diferença de status), como reflexo (ele é um espelho da sociedade), como moral (é um dever de todos), como consenso (é acordado na sociedade a necessidade de se trabalhar), como regulação (trabalhar "corrige" as pessoas).
O aparato digital torna o próprio trabalho móvel. Todos carregam o trabalho consigo como um depósito de trabalho. Assim não podemos mais escapar do trabalho.	Comment by Kennet Anderson: Jornalistas devem ser “jornalistas” 24h/dia, pois a produção de informações não para; analistas, contadores financeiros, empresários não podem parar, pois o mercado exige isso. Tudo isso é potencializado ainda mais pelas tecnologias digitais: “as redes sociais fortalecem enormemente essa pressão de comunicação”.
Mais comunicação significa mais capital. A circulação acelerada de comunicação e informação leva à circulação acelerada de capital.
O digital (tal palavra aponta para dedo – digitus) induz ao número e ao enumerar. Tudo é contado e aditivo. Sejam os amigos do Facebook ou as tendências em formas de curtidas.	Comment by Kennet Anderson: Deleuze aponta que enquanto nas sociedades disciplinares a assinatura indica o indivíduo e a matrícula sua posição numa massa, como meio de moldar sua individualidade; nas sociedades de controle se torna essencial uma cifra (uma senha), fazendo dos indivíduos meras amostras, dados, mercados e bancos.	Comment by Kennet Anderson: Sodré diz que na sociedade científica e tecnológica, onde tudo é quantificado, começa-se a considerar o afeto e as paixões como indesejáveis. Por isso, a civilização ocidental avança no sentido de controla-los (ou reprimi-los). Na guerra, a afetividade é usada para destruição. Na paz, isso converge para o esporte ou desfrute do espetáculo.
O narrativo perde enormemente em significado. Hoje tudo é tornado enumerável, a fim de poder ser convertido na linguagem do desempenho e da eficiência.
Cap. 8: Do camponês ao caçador
Para Heidegger, a mão age. Ela é o medium do ser, pois se comunica com ele. Ela pensa em vez de agir. Instrumentos como a máquina de escrever afasta o ser humano da mão, e faz atrofiar o pensamento.
O pensamento é um trabalho ma-nual [Hand-Werk]. Assim, a atrofia digital da mão faria com que o próprio pensamento atrofiasse.
Enquanto a verdade (no sentido heiddeggeriano) busca ser oculta, exclusiva e seletiva, a informação é cumulativa e aditiva.
A informação é, segundo sua essência, algo que existe abertamente ou que deve existir abertamente. O imperativo da sociedade da transparência diz: tudo tem de estar aberto como [a] informação, acessível a todos.	Comment by Kennet Anderson: Ver o cap. 4
Não há massas de verdades, [mas] há, em contrapartida, massas de informação.
E, por causa disso, a informação também se distingue do saber, porque não se pode simplesmente encontra-lo, já que uma experiência o antecede; enquanto que ela é exposta, e válida por curto prazo.
Ele tem uma temporalidade completamente diferente do que a informação, que é muito curta e de curto prazo. A informação é explícita, enquanto o saber toma, frequentemente, uma forma implícita.
Embora o homem atualmente aja como um caçador de informações (eles não habitam, são nômades na rede em busca do novo), ele ainda conserva certos hábitos do camponês: está ligado à máquina como seu novo senhor. Mas, os novos caçadores não agem passivamente, pois operam ativamente seus aparatos móveis digitais. A sociedade da transparência é habitada por caçadores de informações.
Os novos caçadores não funcionam passivamente como parte de uma máquina, mas sim operam ativamente com os seus aparatos móveis digitais, que se chamavam, no paleolítico, de lanças, arcos e flechas. Eles não se encontram, ao fazê-lo, em perigo, pois caçam por informação com o mouse.
O caçador de informação é impaciente e sem timidez. [...] ”. Ele agarra, em vez de deixar as coisas amadurecerem. O importante é, com cada clique, conquistar uma presa. [...] Essa visão total no campo de caça digital se chama transparência. Caçadores e coletores de informação são os habitantes da sociedade da transparência.
Graças aos óculos de dados, a percepção humana alcança uma eficiência total. Não apenas com cada clicar [Klick], mas também com cada olhar [Blick] se conquista presas.
O poder e a informação se antagonizam. O poder oculta o segredo e a verdade: agentes que mantém o secreto interiorizado são detentores de poder (Governos, grandes organizações). Ao contrário, a informação é transparecida pela mídia digital.	Comment by Kennet Anderson: Doc: O Dilema das Redes
O poder, assim como o segredo, é caracterizado pela interioridade. A mídia digital, em contrapartida, é desinteriorizante [entinnerlichend].
Enquanto as mídias de massa (ex.: rádio) geram uma comunicação assimétrica através de uma afinidade entre poder e domínio (pessoas recebem passivamente uma voz), as mídias digitais geram uma relação comunicativa simétrica (pessoas atuam como produtores/consumidores).
O destinatário da informação é, ao mesmo tempo, o remetente. Nesse espaço simétrico de comunicação é difícil instalar relações de poder.
Cap. 9: Do sujeito ao projeto
Passando da concepção heideggeriana de que a submissão constitui a existência humana, acredita-se agora que ele não é mais um sujeito submetido, mas sim um sujeito do projeto, ou seja, que se projeta e se otimiza.
Isso significa que é primeiramente a mídia digital que completa o processo no interior do qual o sujeito se aproxima do projeto. O digital é uma mídia do projeto.
Nessa lógica, para Flusser, o homem é um sujeito que projeta mundos alternativos.	Comment by Kennet Anderson: Segundo Lipovetsky e Serroy, uma das características do avanço espetacular do capitalismo transestético é o processo de multiplicação e heterogeneização estética nas indústrias culturais. Atualmente tudo é possível coexistir, se superpor, se misturar. Se multiplicam e se convivem os mais diversos estilo e tendências. Mas, toda essa diversidade também é homogênea, pois se repete a diferença.
A diferença entre arte e ciência desaparece. Ambos são projetos. Cientistas são, segundo Flusser,“artistas de computador”.
Fazendo um paradoxo com a religião judaico-cristã, Flusser vê na comunicação digital um potencial messiânico. Ela promove uma sociedade pentecostal: liberta o homem isolado no si e cria um espírito, um espaço de ressonância no outro.
A sociedade da informação é, segundo Flusser, uma estratégia para “desfazer a ideologia de um Si a favor do conhecimento de que existimos um para o outro e que ninguém existe para si mesmo”.
Entretanto, esse messianismo da conexão não se confirma, pois a comunicação digital destrói o espaço público e aguça a individualidade, o narcisismo.
Ela se mostra, muito antes, como uma máquina de ego narcisista. E ela não é uma mídia dialógica. O dialógico, pelo qual o pensamento de Flusser é completamente determinado, prepondera demais sobre seu pensamento acerca da conexão [digital].
Vivemos numa era dialética onde mais liberdade significa mais coação (quanto mais gente usa a comunicação digital, mais as possibilidades de cultura do cancelamento). Antes de sociedade do “amor ao próximo”, a sociedade atual é a do desempenho, a que nos individualiza e nos explora até ruir.	Comment by Kennet Anderson: Ditadura da transparência (Cap. 4)	Comment by Kennet Anderson: Cap. 3
Essa dialética, da liberdade, prenhe de fatalidade, dialética que inverte essa liberdade em seu oposto, foge inteiramente a Flusser. [...] A sociedade atual não é uma sociedade do “amor ao próximo”, na qual nos realizaríamos reciprocamente. Ela é, muito antes, uma sociedade do desempenho, que nos individualiza.
O Si como belo projeto se mostra como projétil, que ele, agora, aponta contra si mesmo.
Cap. 10: Nomos da Terra
O nomos da Terra é a ordem terrena que consiste em muros, fronteiras e fortes. Aqui se submetem categorias como espírito, agir, pensar ou verdade. Contudo, na nova ordem digital, a ação (a hesitação, que faz parte do agir, prejudica a eficiência) começa a dar lugar à operação (uma ação dentro de um processo automático).	Comment by Kennet Anderson: Eficiência/Desempenho: Cap. 7
Operações são actomes, isto é, ações atomizadas no interior de um processo amplamente automático, ao qual falta a amplidão temporal e existencial. 
Da mesma forma, o pensar dá lugar ao calcular, pois é protegido contra a surpresa. A verdade (que uma narrativa), por sua vez, dá lugar à transparência (que é apenas translúcida).
Diferentemente da verdade, a transparência não é narrativa. Ela torna, de fato, translúcido, mas ela não é esclarecedora.
A proximidade e a distância também fazem parte da ordem terrena, os quais são aniquilados em favor de uma ausência de afastamento da ordem digital.
A “dor da proximidade da distância” [69] é estranha à comunicação digital.
A positividade (que é resultante do comodismo dos likes) resulta um “ser morto”. “Ser morto” porque a negatividade é quem possibilita uma experiência de vida.	Comment by Kennet Anderson: Ver cap. 5.
Sem dor, sem negatividade do outro, no excesso da positividade, nenhuma experiência é possível. Viaja-se para tudo quanto é lugar sem se chegar a uma experiência.
Cap. 11: Fantasmas digitais
Para Kafka, a carta se relaciona com fantasmas devido ao processo que leva para chegar de uma pessoa à outra. Na era digital, a Internet das Coisas produz novos tipos de fantasmas, devido a não intervenção humana na comunicação automatizada.	Comment by Kennet Anderson: Ausência de mediadores.
Ela é como que conduzida por mãos fantasmagóricas. Os fantasmas digitais cuidariam talvez para que tudo em algum momento saísse de controle. 
Além de espectral, a comunicação digital também é viral no sentido de contágio nos planos emocionais ou afetivos.	Comment by Kennet Anderson: Uma forma de entender a propagação de virais é com a teoria da Força dos Laços, proposta por Mark Granovetter. O autor explica que, em nossos vínculos sociais, estamos constantemente criando níveis de relacionamentos. A depender da intensidade emocional que temos com uma pessoa, podemos gerar laços fortes (nossos familiares e melhores amigos, por exemplo) e laços fracos (meros conhecidos). Raquel Recuero observa que, na Internet, a consequência disso é a viralização de informações com mais impacto em laços fracos que em laços fortes, isso porque, em geral, temos mais "conhecidos" que "melhores amigos" ou "familiares".
Uma informação ou um conteúdo, mesmo com significância muito pequena, se espalha rapidamente na internet como uma epidemia ou pandemia. Nenhuma outra mídia é capaz desse contágio viral.
Pertencente a ordem terrena, o segredo dá preferência a espaços que dificultam a disseminação de informações. Por isso ele é contrário a comunicação. O espectral, por outro lado, depende do ser e do ser visto.	Comment by Kennet Anderson: Ver Cap. 1
Por isso, os fantasmas são barulhentos.
Cap. 12: Cansaço da informação
O “choque” descrito por Walter Benjamin como um sentimento de recepção do filme, era, na época, um sentimento que entrava no lugar da contemplação da época das pinturas. Contudo, esse choque é uma reação imunológica mais próximo do espanto. Atualmente, as imagens não nos chocam mais, pois todas são consumíveis. Adquirimos uma certa “defesa imunológica”.	Comment by Kennet Anderson: Isso pois vivemos a era do hiper do espetáculo ao seu extremo, como explica Lipovetsky e Serroy: o hiperespetáculo. Seja na produção, como no consumo, nos modos de vida, na relação com o corpo, no olha para o mundo.
As imagens não provocam hoje nenhum espanto. Mesmo imagens repulsivas devem nos entreter [...]. Elas são tornadas consumíveis. A totalização do consumo suprime toda forma de contração imunológica.
Quanto menor essa reação imunológica, mais fácil se torna o consumo de informações. A circulação de informações acelera a circulação de capital, por isso se supressa as barreiras imunológicas.	Comment by Kennet Anderson: Essa menor “reação imunológica” é decorrente de uma necessidade de consumo contínua criada pelo mercado. Lipovetsky e Serroy falam que constantemente o capitalismo artista cria novos produtos para proporcionar a experiência do prazer e dar satisfação imediata. E quando isso acaba, queremos mais e mais. Exemplo disso são as maratonas de séries televisivas, como fala Milly Buonanno, ocasionadas por uma necessidade de gratificação instantânea do desejo. Nos videogames isso também ocorre, já que se tem uma necessidade constante de terminar um jogo o mais rápido possível para aproveitar o próximo.
Assim, a supressão [da barreira] imunológica cuida para que massas de informação nos adentrem sem colidirem com uma defesa imunológica. A baixa barreira imunológica fortalece o consumo de informações.
Entretanto, a massa de informação não filtrada acaba causando distúrbios, como estupor crescente das capacidades analíticas (capacidade de identificar o essencial), déficits de atenção (problemas em tomar decisões), inquietude generalizada (mais informação, menos qualidade) ou incapacidade de tomar responsabilidades (responsabilidade é o compromisso com o futuro, porém no digital a prioridade é o presente). O SFI (Síndrome da Fadiga da Informação), como se chama, é tal cansaço da informação, que faz vítimas de todos hoje em dia.
O excesso de informação faz com que o pensamento definhe. [...] A enxurrada de informações à qual estamos hoje entregues prejudica, evidentemente, a capacidade de reduzir as coisas ao essencial.
A absoluta prioridade do presente caracteriza o nosso tempo.	Comment by Kennet Anderson: Ver o comentário acima ^
A quantidade crescente de informação, de transparência, não produz nenhuma verdade. Pelo contrário, em um determinado ponto a informação não é mais informativa, mas sim deformadora, e a comunicação, cumulativa.
A partir de um determinado ponto, a informação não é mais informativa [informativ], mas sim deformadora [deformativ], e a comunicação não é mais comunicativa, mas sim cumulativa.
Tais sintomas do SFI são também característicos da depressão. Na era digital, o sujeito depressivo é narcisista: o mundo aparece sob a sombra dele mesmo (ele sempre é o protagonistade sua rede, aqui tudo é mais positivo e confortável). Mídias sociais como Twitter/Facebook aprofundam ainda mais esse efeito narcisista-depressivo.	Comment by Kennet Anderson: Temos aqui outro distúrbio: FOMO, sigla do inglês FEAR OF MISSING OUT, ou o medo de ficar de fora.	Comment by Kennet Anderson: Ver Cap. 5.
A autorreferência exagerada e doentiamente sobrecarregada leva à depressão. O sujeito narcisista-depressivo sente apenas a reverberação de si mesmo. Há significado apenas lá, onde ele de algum modo se reconhece.
Cap. 13: Crise da representação
Rolande Barthes reivindica uma representação da verdade pela fotografia, pois, para ele, ela é inseparável ao objeto de referência. Por outro lado, a fotografia digital marca o fim dessa representação. Como hiperfotografia, ela agora apresenta uma hiper-realidade (algo mais real que a realidade).	Comment by Kennet Anderson: Muniz Sodré (Cap. 5) afirma que ainda podemos levantar a questão se essa nova realidade (da Bios Virtual) se baseia no plano da representação (ex.: as imagens representam o mundo?). Para ele, os teóricos da chamada “realidade virtual” consideram isso ultrapassado, pois a bios virtual recria, a partir de suas próprias características, uma nova realidade, induzindo uma nova experiência perceptiva. (Bios Virtual: Cap. 5)
O real existe nela apenas sob a forma da citação e do fragmento. As citações do real são referidas umas às outras e misturadas com o imaginário. Assim, a hiperfotografia abre um espaço autorreferencial, hiper-real, que está completamente desacoplado do referente.
Nessa crise da representação, pode-se traçar um paralelo com a política. Se antes, de acordo com Le Bon, os representantes do parlamento serviam à massa, hoje, o sistema econômico-político se tornou (assim como a hiperfotografia) autorreferencial. Se antes as massas eram organizadas e animadas pela sua ideologia, hoje elas são apenas enxames de usuários digitais isolados, que não participam do discurso público.	Comment by Kennet Anderson: Cap. 3
Os representantes políticos não são mais percebidos como os servidores do “povo”, mas sim como servidores do sistema que se tornou autorreferencial.
Para que são necessários partidos hoje, se cada um é ele mesmo um partido, se as ideologias, que formavam outrora um horizonte político, degeneram em incontáveis opiniões individuais e opções individuais?
Cap: 14: De cidadãos a consumidores
Flusser retrata uma democracia futura partindo do sistema QUBE (um modo de decisão política a partir de aparelhos tecnológicos). Para ele, esse modo utópico de vida faz o ócio e o engajamento coincidirem: política é ócio (se faz o engajamento pela observação da tela); representantes e partidos são superficiais.
Ele torna possível escolhas digitais que ocorrem diariamente e de hora em hora. [...] O botão de curtir é a cédula eleitoral digital. A internet ou o smartphone são o novo local de eleição. E o clique do mouse ou um rápido toque com o dedo substitui o “discurso”.
Na tela do QUBE não tem mais diferença entre escolher e fazer compra: escolhe-se como compra. Aqui, o consumidor não é cidadão, devido à falta de responsabilidade pela sua comunidade. Eleitores se comportam como consumidores; propagandas eleitorais se misturam a propagandas comerciais; o governar se aproxima do marketing; o questionário político se iguala a pesquisa de mercado.	Comment by Kennet Anderson: “Vejam aqui a quantidade de coisas que nós fizemos”	Comment by Kennet Anderson: Segundo Deleuze, o controle social ocorre através do marketing, que é de curto prazo, rápido, contínuo e ilimitado.
Aqui não somos mais agentes ativos, não somos cidadãos, mas sim consumidores passivos.
Cap. 15: Protocolamento total da vida
A sociedade digital vive uma crise da confiança, isso porque toda a informação facilmente disponível tira seu significado e dá lugar ao controle. Uma sociedade totalmente transparente é uma sociedade vigiada. São a vigilância e o controle, portanto, que fazem parte da comunicação digital.	Comment by Kennet Anderson: SODRÉ: “A rede é uma cidade sem cidadania.”Sociedade do Controle: Deleuze (ver Cap. 4/ e 16)
A sociedade da transparência tem uma proximidade estrutural à sociedade de vigilância. Onde se pode adquirir muito rápido e facilmente informações, o sistema social muda da confiança para o controle e para a transparência.
Todo clique que eu faço é salvo. Todo passo que eu faço é rastreável. [...] No lugar do Big Brother, entra o Big Data.	Comment by Kennet Anderson: SODRÉ: “Estamos vivendo sob uma ditadura de números”.
Os habitantes do panóptico digital não são prisioneiros. Eles vivem na ilusão da liberdade.	Comment by Kennet Anderson: Sodré aponta que a rede digital eletrônica é constituída por responsividade e responsabilidade. A responsividade diz respeito à matriz tecnológica. É o instrumento como técnica e ferramenta. A responsabilidade trata sobre a resposta simbólica que o dispositivo dá aos usuários. A fala, na rede eletrônica, é uma espécie de bolha discursiva amarrada a um condicionamento técnico configurado por engenheiros. Por isso ela é intransitiva, ou seja, não dispõe de uma estrutura dialógica para que o discurso possa se concretizar de fato. Assim, ocorre o que Sodré chama de sequestro da fala: um efeito oligopolístico de rede que junta economia, cultura e eletrônica.
Aqui, todos observam e vigiam a todos. Não são apenas serviços secretos do governo que nos espionam. Empresas como o Facebook ou o Google trabalham elas mesmas como serviços secretos. Elas expõem a nossa vida para conseguir capital em troca das informações espionadas.	Comment by Kennet Anderson: Vivemos sob controle das grandes corporações (somos rastreados constantemente), mas também sob controle do próximo. Nossa vida é extremamente exposta, o que leva os outros a saberem da nossa localização, o que comemos, o que vestimos, os lugares que frequentamos, onde trabalhamos. E eles nos pressionam para adequar aos padrões: “que roupa feia”; “corta essa barba”; “muito magra/gorda”, etc. (+ no Cap. 4)	Comment by Kennet Anderson: Exemplo disso foi o escândalo do Facebook e da Cambridge Analytica. Uso de dados com fins polít.
Todos vigiam a todos. Todos são o Big Brother e o presidiário simultaneamente.
No mundo da tecnologia, nossa atenção é o produto. Empresas a vendem para anunciantes.
Cap. 16: Psicopolítica
Foucault apresenta a ideia de biopoder como um tipo de poder do soberano através do controle, vigilância e do aumento de organizações para administrar a população. Ele aparece no lugar do “poder da morte” em que é um poder rudimentar para controlar as pessoas. Mas o biopoder é limitado por dizer apenas a fatores como reprodução, taxa de mortalidade ou estado de saúde.
Também o Big Brother no panóptico de Bentham observa apenas o comportamento externo dos prisioneiros silenciosos e privados de fala. Os seus pensamentos permanecem ocultos a ele.
Entretanto, na sociedade atual, o biopoder dá lugar ao psicopoder, que é um tipo de poder para ler e controlar os pensamentos através da vigilância, controle e influência.	Comment by Kennet Anderson: Passamos de uma sociedade disciplinar biopolítica para uma sociedade da transparência psicopolítica.	Comment by Kennet Anderson: Especulando sobre como chegamos a dizer que sabemos ou temos certeza de alguma coisa, Ludwig Wittgenstein aponta que, para isso, é necessário que funcione um “meio vital” dos argumentos que vão nos fazer crer nas coisas. É um “inteiro sistema de proposições” que vai nos fazer aceitar aquilo. Seja por confiança na autoridade das fontes ou pela forma como aquilo está sendo transmitido, essa aceitação não cabe ao fundamento racionalista. Não se trata em saber o que se diz, e sim de aceitar como solidamente fixado aquilo que já se sabe.É assim que atua esse psicopoder digital: os efeitos de convencimento da mídia digital são usados para aceitarmos a realidade criada por ela. Refletindo sobre isso, indagamos: porque devemos aceitar termos de condições de usuário que pegam nossas informaçõesprivadas? Porque sim. Se não aceitarmos, não usamos. E se não usarmos, ficamos excluídos da sociedade. Portanto, esse psicopoder digital nos coage a aceitar ser vigiados e controlados.
A biopolítica não permite nenhum acesso sutil à psyche de pessoas. O psicopoder, em contrapartida, está em condições de intervir nos processos psicológicos.
O psicopoder é mais eficiente do que o biopoder na medida em que vigia, controla e influencia o ser humano não de fora, mas sim a partir de dentro. [...] A era da biopolítica está, assim, terminada. Dirigimo-nos, hoje, à era da psicopolítica digital.

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