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AULA 3 CONTROLADORIA AVANÇADA Profª Anelise Krauspenhar Pinto Figari 2 TEMA 1 – DESCENTRALIZAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES “À medida que as organizações crescem, tendem a aumentar a diversidade de produtos e serviços oferecidos, a área geográfica de atuação e, consequentemente, a complexidade de sua gestão” (Frezatti et al., 2009, p. 106). Essa complexidade de gestão faz com que as empresas sejam divididas em unidades operacionais, com base no pressuposto de que os gestores dessas unidades, de acordo com Frezatti et al. (2009, p. 106), “estariam fortemente interessados no bom desempenho das áreas sob as quais lhes foram delegadas responsabilidades”. Os autores complementam que, geralmente, as unidades operacionais são divididas na organização em relação a “(i) produtos ou serviços produzidos, dando origem a unidades de negócio; ou (ii) pela localização geográfica, dando origem a áreas de negócio” (Frezatti et al., 2009, p. 107). Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 471) mencionam que “em uma organização descentralizada, a autoridade da tomada de decisões é dispersa por toda a organização, em vez de ficar confinada a alguns poucos alto executivos”. Esses autores destacam que as organizações são diferentes no que tange ao grau de descentralização, sendo que, nas mais centralizadas, “a autoridade de tomada de decisões é delegada de forma relutante a gerentes de níveis hierárquicos mais baixos, que têm pouca liberdade para fazê-los”; já nas mais descentralizadas, “até mesmo os gerentes de níveis mais baixos têm autoridade para tomar quantas decisões forem possíveis”. Dessa maneira, o autor menciona que, em geral, as empresas estarão em algum ponto entre essas duas extremidades relatadas. “Exceto em organizações muito pequenas, os altos gerentes têm que delegar algumas decisões” (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 471). Essa necessidade de descentralização ocorre devido ao crescimento e, consequente, complexidade nas organizações. Em outras palavras, a descentralização consiste em passar o poder de tomada de decisão aos gestores que não fazem parte do topo hierárquico da organização, de modo que pode ser vista como a dispersão da autoridade em diferentes níveis da organização. Isso faz com que departamentos ou diretorias passam a ter maior independência. Para Atkinson et al. (2011), existem duas principais razões que levam a maioria das organizações a realizar a descentralização: 3 1. As pessoas nas linhas de frente são as primeiras a ver ou sentir a necessidade de mudança. Então, podem responder depressa a uma necessidade de mudança. 2. Em virtude de estarem perto do que está acontecendo, as pessoas nas linhas de frente da empresa estão em melhor posição para desenvolver o conhecimento e as habilidades exigidas para entender as mudanças necessárias em seus próprios trabalhos. O autor relata duas importantes razões pelas quais é relevante a descentralização. Atualmente, com a globalização e a competitividade das empresas no mercado, ambiente institucional em que se encontram inseridas, poder tomar decisões rápidas e assertivas diante de mudanças nesse ambiente dinâmico pode ser um diferencial para a organização. A segunda razão exposta pelo autor corresponde à “facilidade” dessas pessoas que tomam a decisão na linha de frente de aprenderem rapidamente o que é necessário para a continuidade de suas próprias atividades, uma vez que são “forçadas” a isso com as mudanças do mercado. É importante ressaltar que, para que essa dinâmica aconteça com sucesso, esse funcionário deve ter “[...] habilidades e conhecimentos necessários para aceitar a responsabilidade pela tomada de decisão” (Atkinson et al., 2011, p. 586). Garrison, Noreen e Brewer (2013) descrevem as principais vantagens e desvantagens da descentralização nas empresas. Na Figura 1, há um resumo sobre elas. Figura 1 – Vantagens da descentralização Fonte: Com base em Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 471. 4 Os autores mencionam, como apresentado na Figura 1, cinco vantagens da descentralização nas empresas. A primeira vantagem corresponde ao fato de os gestores de níveis hierárquicos mais altos se concentrarem nas estratégias organizacionais ao invés de seu tempo ser ocupado com decisões corriqueiras de atividades operacionais do dia a dia organizacional. A segunda vantagem é definir que autoridade de tomada de decisão para gestores de níveis hierárquicos mais baixos proporciona uma maior riqueza em detalhes de informações em relação às atividades do dia a dia para a tomada de decisão. A terceira vantagem, relacionada com a anterior, é a de que os gestores de níveis hierárquicos mais baixos, podendo tomar decisões que lhe competem, conseguem responder rapidamente aos clientes, por exemplo. A quarta vantagem da descentralização nas empresas acaba sendo uma oportunidade de gestores de níveis hierárquicos mais baixos adquirirem experiência em tomar decisões, a fim de se prepararem para assumir futuramente cargos mais altos na empresa. Por fim, a quinta vantagem é referente à motivação e satisfação no trabalho que a tomada de decisão pode proporcionar a esses gestores de níveis hierárquicos mais baixos. Garrison, Noreen e Brewer (2013) também relacionam as principais desvantagens da descentralização nas empresas, como apresentado a seguir. Figura 2 – Desvantagens da descentralização Fonte: Com base em Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 471. Os autores apresentam quatro desvantagens quanto à descentralização nas empresas. A primeira desvantagem corresponde ao fato de que gestores de níveis hierárquicos mais baixos podem acabar tomando decisões sem uma visão do todo, sem mensurar o impacto daquela decisão de uma maneira global para a 5 empresa. A segunda desvantagem é que a independência de gestores de níveis hierárquicos mais baixos no que tange à tomada de decisão pode impactar de maneira negativa a coordenação da empresa. A terceira desvantagem é que gestores de níveis hierárquicos mais baixos podem tomar decisões conflitantes aos interesses globais da empresa (sócios/acionistas). Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 471) exemplificam que “um gerente pode estar mais interessado em aumentar o tamanho de seu departamento, proporcionando-o mais poder e prestígio, do que em aumentar a sua eficácia”. A quarta desvantagem consiste na dificuldade de difusão de ideias inovadoras em empresas descentralizadas, uma vez que podem surgir ruídos na comunicação, dificuldade de entendimento das partes e na efetiva adoção dessas práticas. TEMA 2 – CENTROS DE RESPONSABILIDADE “Organizações descentralizadas precisam de sistemas de contabilidade por responsabilidade que associem a autoridade de tomada de decisões de gerentes de níveis hierárquicos mais baixos à responsabilidade pelos resultados dessas decisões” (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 472). Isto é, para que seja possível o controle dessa dispersão de autoridade nos diferentes níveis hierárquicos da organização, há a necessidade de criação de centros de responsabilidades, em que são mensurados os resultados da decisão tomada. Isso de forma que um sistema de contabilidade por responsabilidade possa monitorar o gestor, sua autoridade de tomada de decisão e, consequentemente, demonstrar sua responsabilidade pelos resultados decorrentes da decisão. O termo centro de responsabilidade é usado para qualquer parte de uma organização, sobre a qual um gerente tenha controle e seja responsabilizado por seus custos, lucros ou investimentos. Os três tipos principais de centros de responsabilidade são os centros de custos, os centros de lucros e os centros de investimentos. (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 472, grifo nosso) Os centros de custos correspondem ao controle realizado por meio dos custos. Dessa forma,esse centro de responsabilidade será controlado pelos seus custos sem levar em consideração seus lucros e/ou investimentos realizados. 6 “Na maioria das vezes, um Departamento é um Centro de Custos, ou seja, nele são acumulados os Custos Indiretos para posterior alocação aos produtos (Departamentos de Produção) ou a outros Departamentos (Departamentos de Serviços)” (Martins, 2018, p. 56). Um “Centro de Custos, portanto, é a unidade mínima de acumulação de Custos Indiretos” (Martins, 2018, p. 56). Destaca-se que, além dos custos indiretos, em cada departamento há os custos diretos, naturalmente. Os centros de lucros vão controlar uma unidade administrativa por meio da mensuração do lucro daquela unidade. Assim, esse centro de responsabilidade será controlado pelos seus lucros sem levar em consideração seus custos e/ou investimentos. Os centros de investimentos correspondem a controles das unidades administrativas por meio dos investimentos realizados em cada unidade, de modo que o centro de responsabilidade mencionado é controlado pela forma de investimentos sem levar em consideração seus custos e/ou lucros. Destaca-se que um centro de responsabilidade pode ser um setor, um departamento, uma unidade, entre outras terminologias empregadas pelas empresas com o entendimento de que corresponde a uma unidade administrativa, “representada por pessoas e máquinas (na maioria dos casos), em que se desenvolvem atividades homogêneas” (Martins, 2018, p. 55). Assim, observa-se que, com a descentralização e a necessidade de centros de responsabilidades, há a necessidade de adaptações no sistema de informação da organização. Isso porque a empresa passa não mais a gerar informação somente do desempenho e resultados gerais, mas por centros de responsabilidades e seus respectivos desempenhos e contribuições para o resultado do desempenho da organização como um todo. Nesse contexto, Frezatti et al. (2009) apontam a necessidade de uma avaliação de desempenho efetiva dos gestores de níveis hierárquicos mais baixos, uma vez que um sistema de contabilidade por responsabilidade terá impacto tanto no comportamento como na tomada de decisão desses gestores. Os autores demonstram, na Figura 3 a seguir, a diferença entre o resultado apresentado pelo sistema de contabilidade tradicional e pelo sistema de contabilidade por responsabilidade. 7 Figura 3 – Sistema de contabilidade tradicional versus sistema de contabilidade por responsabilidade Fonte: Frezatti et al., 2009 p. 109. Como é possível observar na Figura 3, o sistema de contabilidade tradicional apresenta o resultado da organização por meio da diferença entre o valor de produtos e/ou serviços e os seus respectivos insumos consumidos. Dessa maneira, não há controle e avaliação de desempenho das unidades operacionais individualmente (Frezatti et al., 2009). Assim, para que se conheça o resultado por unidade operacional (centro de responsabilidade), há a necessidade de um controle efetivo tanto do valor de produtos e/ou serviços e os seus respectivos insumos consumidos por unidade operacional, sendo assim possível apurar o resultado por unidade operacional (Frezatti et al., 2009). O autor ainda enfatiza que somente existe uma mudança na forma de controle, isto é, o resultado final é o mesmo, tanto apurado da maneira tradicional quanto por unidade operacional. 8 O Quadro 1, a seguir, contém um resumo das características dos principais centros de responsabilidade e a pessoa responsável pelo controle do centro, de acordo com Frezatti et al. (2009). Quadro 1 – Resumo das características dos principais centros de responsabilidade Fonte: Frezatti et al., 2009, p. 113. TEMA 3 – CUSTO-PADRÃO O custo-padrão é uma ferramenta da contabilidade que contribui com o planejamento e o controle dos custos de produção da organização. Nas palavras de Martins (2018, p. 297), “a mais eficaz forma de se planejar e controlar custos é a partir da institucionalização do Custo-padrão, que tanto pode ser usado com o Custeio por Absorção como com o Variável, Custeio por Atividades (ABC) etc.”. De acordo com Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 420), “padrões devem ser criados para encorajar a eficiência em operações futuras, e não apenas a repetição de operações passadas que podem, ou não, ter sido eficientes”. O custo-padrão nada mais é do que uma meta definida pela empresa no que tange à produção de produtos ou serviços, de modo que seja possível a confrontação do custo planejado com o custo ocorrido durante o processo de produção. O resultado disso proporciona informações relevantes aos gestores das organizações. Uma vez confrontado, analisa-se as variações relevantes em busca de mapear as causas dessas variações de modo a elaborar estratégias de melhorias, 9 por exemplo, redução de custos, otimização de processos, treinamento de colaboradores etc. Agora, quando estratégias de melhorias e correções não permitirem que o custo-padrão seja alcançado, há a necessidade de uma revisão no que havia sido planejado. Quando usarmos o termo custo-padrão, entenda-o como sinônimo de custo-padrão corrente. De acordo com o exposto por Martins (2018), existem algumas variações dessa terminologia: custo-padrão ideal, custo-padrão corrente e custo-padrão estimado. O custo-padrão ideal, de acordo com o autor, refere-se àquele custo idealizado, não necessariamente alcançável. Poderíamos imaginar um produto em que fosse utilizado para a sua elaboração materiais e matéria-prima de melhor qualidade, sem desperdício algum; máquinas trabalhando em sua potência máxima; a mão de obra em seu maior nível de esforço e sem paradas, sendo utilizada 100% da capacidade da organização. O custo-padrão corrente é mais utilizado. É um custo que a organização define como “meta para o próximo período para um determinado produto ou serviço, mas com a diferença de levar em conta as deficiências sabidamente existentes em termos de qualidade de materiais, mão de obra, equipamentos, fornecimento de energia etc.” (Martins, 2018, p. 297). Adicionalmente, os autores mencionam que o custo-padrão corrente é definido de modo a não ser impossível de ser atingido, mas é um valor considerado difícil de ser alcançado pela organização. Assim, espera-se que a empresa leve em consideração, por exemplo, dificuldades e problemas enfrentados no dia a dia da produção, assim como os recursos disponíveis para serem utilizados na empresa. O custo-padrão estimado possui uma meta mais fácil de ser alcançada, ou seja, sempre é alcançada, uma vez que se baseia na média de um determinado período passado, sendo alterado de acordo com pequenos ajustes quando percebida alguma falha (Martins, 2008). Nessa perspectiva, em suma, o custo padrão ideal seria uma meta da empresa a longo prazo, o custo-padrão corrente seria uma meta difícil, mas não impossível de ser alcançada e o custo-padrão estimado seria uma meta simples de se alcançar, geralmente, alcançada. Assim, como já mencionado usaremos a terminologia custo-padrão na perspectiva do custo-padrão corrente. 10 Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 419) mencionam que “um padrão é um parâmetro ou ‘norma’ de mensuração de desempenho”. O autor ainda faz uma distinção entre padrões de quantidade e padrões de preço: Padrões de quantidade e preço são determinados para cada insumo importante, como no caso de matérias-primas e tempo de mão de obra. Padrões de quantidade especificam quanto de um insumo deveria ser usado para fabricar um produto ou prestar um serviço. Padrões de preço especificam quanto deveria ser pago por cada unidade de insumo. (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 419, grifo nosso) Como mencionado pelos autores, há a definição de, por exemplo, padrões de quantidade e de preço de uma matéria-prima de modo que estes seriam os parâmetros de consumoda matéria-prima da empresa na fabricação de um produto e o preço que se almeja encontrar no mercado para aquisição da matéria- prima. Dessa forma, com a definição dos padrões de quantidade e preço, tem-se os parâmetros que serão confrontados com o que realmente acontece no dia a dia da empresa, tanto no que tange à quantidade consumida de matéria-prima na produção quanto ao preço de aquisição dessa matéria-prima. TEMA 4 – VARIAÇÕES DO CUSTO-PADRÃO Uma vez definidos os valores padrões de quantidade e de preços para os principais elementos dos custos, “as quantidades reais e os custos reais dos insumos são comparados a esses padrões” (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 419). Adicionalmente, os autores relatam que cabem aos gestores analisar as variações entre valores reais e os padrões definidos, de modo que sejam verificadas as causas das variações significativas com a finalidade de eliminá-las. Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 419) mencionam que “esse processo é chamado gerenciamento por execução”. Os autores demonstram na Figura 4, a seguir, o ciclo de análise de variação. 11 Figura 4 – Ciclo de análise de variação Fonte: Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 420. O ponto inicial da Figura corresponde ao Preparar relatório de desempenho de custos-padrão, etapa realizada pela Contabilidade em que são realizados os apontamentos das variações e o que deveria ter ocorrido de acordo com os padrões definidos anteriormente. Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 420) mencionam as questões que surgem com a identificação das variações: “por que essa variação ocorreu? Por que essa variação é maior do que a do período anterior?”. E com base nesses questionamentos são identificadas as causas e ações corretivas são realizadas. É importante ter em mente que a “meta é melhorar as operações – e não encontrar culpados” (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 420). Para fins de exemplificação, vamos ver um exemplo desenvolvido por Martins (2018), especificamente no que tange à análise das variações ocorridas nos materiais diretos. No exemplo, o autor apresenta os seguintes materiais diretos: Matéria-prima X, Matéria-prima Y e Embalagem. Na Figura 5, a seguir, o autor identifica uma variação nos materiais diretos de 15 reais. Além disso, demonstra-se as quantidades físicas e os valores em reais (preço) tanto do custo-padrão quanto do custo real. 12 Figura 5 – Variação nos materiais diretos Fonte: Martins, 2018, p. 306. Observe na Figura 5 que os 15 reais de variação são tidos como desfavoráveis porque o custo ocorrido foi maior do que o custo-padrão. Como é possível observar, o custo-padrão total foi de 170 reais, enquanto o custo real foi de 185 reais. Podemos identificar a variação por material direto no exemplo. Foi apontado como variações desfavoráveis a Matéria-prima X com 15,80 reais, e a Matéria-prima Y, com 4,20 reais. Ainda, há a embalagem com uma variação favorável de 5,00, uma vez que, enquanto o custo-padrão definido foi de 56,00 reais, o custo ocorrido foi de 51,00 reais, isto é, o custo da embalagem consumida foi menor do que aquela definida como custo-padrão. Uma vez analisadas as variações totais dos materiais diretos, vamos agora aprofundar um pouco mais a análise dessas variações e verificar qual foi a variação no preço, a variação na quantidade e a variação mista da Matéria-prima X. Na Figura 6, a seguir, o autor demonstra graficamente as mencionadas em relação à Matéria-prima X. Observa-se que “a área do retângulo interno representa o Custo-padrão, já que representa Quantidade-padrão x Preço-padrão. A do retângulo externo representa o Custo Real, por se tratar de Quantidade Real x Preço Real” (Martins, 2018, p. 307). 13 Figura 6 – Variações dispostas graficamente Fonte: Martins, 2018, p. 307. “Poderíamos medir a Variação de Quantidade dentro do seguinte raciocínio: se só tivesse havido diferença na quantidade e nenhuma no preço, quanto seria a divergência entre Padrão e Real?” (Martins, 2018, p. 306). Como apresentado na Figura 6 (no eixo X), a diferença na quantidade da Matéria-prima X é de 3 kg (19 kg menos 16 kg). Nesse raciocínio, multiplica-se os 3 kg pelo preço-padrão, que é de 4,00 reais, o que resulta em uma variação desfavorável na quantidade de Matéria-prima X de 12,00 reais, como apresentado do lado direito na figura, um sombreado com a menção variação de quantidade. Da mesma maneira, “poderíamos admitir que chegaríamos à Variação de Preço calculando quanto haveria de diferença se só o preço tivesse variado, com a quantidade Real sendo igual à Padrão” (Martins, 2018, p. 307). Como apresentado na Figura 6 (no eixo Y) a diferença no preço da Matéria- prima X é de 0,20 centavos (4,20 reais menos 4,00 reais). Nesse contexto, multiplica-se os 0,20 centavos pela quantidade-padrão que é de 16 kg, resultando em uma variação desfavorável no preço da Matéria-prima X de 3,20 reais. É possível observar essa variação desfavorável, na Figura 6, corresponde ao sombreado na parte de cima, com a menção variação de preço. Ainda, há uma variação denominada variação mista, “fruto da multiplicação da diferença entre Quantidade-padrão e Real pelo Preço-padrão” (Martins, 2018, p. 307). Multiplica-se a variação do preço da Matéria-prima X, que é de 0,20 centavos, e a variação da quantidade da Matéria-prima Y, que é de 3 Kg, resultando em uma variação mista desfavorável de 0,60 centavos. 14 O autor menciona que a variação mista “é normalmente pequena, imaterial quando comparada com as outras; aliado isso ao fato de ser de difícil entendimento, costuma-se, na prática, incluí-la, mesmo que arbitrariamente, junto a uma das outras duas” (Martins, 2018, p. 307). Uma vez apresentada a ferramenta custo-padrão tida como a mais eficaz no que tange ao planejamento e controle dos custos em uma organização, no próximo tema é proposta uma discussão geral das ferramentas de custo e como elas contribuem com a Controladoria nos aspectos de gestão estratégica de custos. TEMA 5 – CONTABILIDADE DE CUSTOS E GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS A palavra custo “representa a quantia sacrificada para se alcançar um objetivo perseguido por uma empresa” (Atrill; McLaney, 2014, p. 43). Complementarmente, o autor menciona que a mensuração dos custos pode parecer uma tarefa simples, entretanto, mensurar custos no que tange gerar informação para a tomada de decisão não é tão simples assim. Conforme aponta Padoveze (2015, p. 335), “a utilização de custos dentro das empresas é essencialmente gerencial. O uso ferramental de custos para fins legais e fiscais não é o mais importante para fins de Controladoria”. A relevância dessa área do conhecimento para a Controladoria está relacionada à geração de informações e análises no que tange aos custos da atividade de negócio da empresa (produto ou serviços). Estratégias que envolvem manter baixos os custos de um produto ou serviço e de diferenciação, por exemplo, contribuem para sustentar as vantagens competitivas da empresa (Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015). Inicialmente, neste tema, propõe-se apresentar, resumidamente, a Contabilidade de Custos e, posteriormente, introduzir a gestão estratégica de custos, demonstrando o aumento de geração de informações no que diz respeito à análise de custos na empresa. Assim, ressalta-se a importância da Controladoria e sua função voltada à gestão estratégica de custos no que tange a gerar informações aos gestores para a tomada de decisão. Dessa forma, na Figura 7, a seguir, é sintetizado o ferramental da Contabilidade de Custos. 15 Figura 7 – Contabilidade de Custos Fonte: Padoveze, 2015, p. 336. Saiba mais Para um aprofundamento do assunto, sugere-se a leitura do capítulo 24 de Padoveze (2015). A Figura 7 apresenta um resumo das ferramentas utilizadas pela Contabilidade de custose que se encontram agrupadas da seguinte maneira: (1) métodos de custeio, (2) formas de custeio e (3) sistemas de acumulação de custos. O grupo (1), métodos de custeio, “indica quais custos devem fazer parte da apuração do custo dos produtos” (Padoveze, 2015, p. 336). O autor menciona que o método está relacionado ao modelo de decisão da empresa e que a finalidade consiste em identificar o custo de um serviço prestado ou de um produto industrializado (referente a uma unidade). Uma vez tomada a decisão sobre o método de custeio que será utilizado pela empresa, a próxima etapa consiste no grupo (2), formas de custeio, que “está ligado à dimensão da unidade de mensuração e indica as opções de mensuração após adotado um método de custeio” (Padoveze, 2015, p. 336). O autor afirma que a forma de custeio corresponde ao modelo de mensuração que a empresa 16 pode optar; por exemplo, “podemos ter custos unitários baseados em dados reais e em dados previstos” (Padoveze, 2015, p. 338). Por fim, o grupo (3), “sistema de acumulação, indica os caminhos para coleta, processamento e saída das informações dentro do Sistema de Informação Contábil e está ligado, essencialmente, ao tipo de produto e ao processo de fabricação adotado” (Padoveze, 2015, p. 336). O autor pontua que o sistema de acumulação se relaciona aos modelos de informação; e que é o produto ou serviço em conjunto com o processo de produção que vai determinar o sistema de acumulação dos dados e da informação mais adequado, não havendo alternativas para escolhas nesse caso. Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 24) mencionam que, “tradicionalmente, a análise de custos é conhecida e praticada como o processo de avaliação do impacto financeiro das decisões gerenciais alternativas”. Entretanto, o autor destaca a necessidade de entender e aplicar a gestão estratégica de custos mais amplamente, “[...] em que os elementos estratégicos tornam-se mais conscientes, explícitos e inseridos nos procedimentos da Controladoria e da Contabilidade de Custos” (Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 24). Adicionalmente, em busca de complementar a discussão sobre gestão estratégica de custos (GEC): Tradução da expressão em inglês Strategic Cost Management (SCM), é, em síntese, uma abordagem para melhoria contínua de desempenho, ao utilizar informações mais relevantes para as tomadas de decisão, em comparação com as abordagens tradicionais das análises de custos. Uma vez integrada aos processos da administração e da controladoria, a gestão estratégica proporciona as seguintes vantagens geradas pela visualização da organização sob novos e diferenciados ângulos: um poderoso instrumento para tomadas de decisão; a focalização dos esforços de melhoria, com resultados mensuráveis; o aprimoramento na capacidade da empresa de criar e agregar valores. (Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 24) Com base nas informações trazidas pelos autores, destacamos a gestão estratégica de custos no que tange à melhoria contínua de desempenho organizacional; e, ainda, o fato de que toda a geração de informações está direcionada para a criação e agregação de valor da organização. Nesse contexto, o Quadro 2, a seguir, evidencia o aumento na quantidade de análises e informações quando da inserção da Gestão estratégica de custos nas empresas, proporcionando informações mais adequadas à gestão empresarial. Assim, esse quadro apresenta uma comparação entre as 17 informações geradas por meio da tradicional Contabilidade e análise de custos e a gestão estratégica de custos. Quadro 2 – Comparação entre as informações da tradicional Contabilidade da gestão estratégica de custos As informações decorrentes da abordagem tradicional limitam as seguintes análises A gestão estratégica de custos permite a utilização de ferramentas mais apropriadas para a gestão empresarial - análise do ponto de equilíbrio - análise de agrupamentos de atividades - análise das variações entre custo real e padrão - análise dos direcionadores de custos - valor presente - análise das atividades que agregam/não agregam valor - análise de índices financeiros - análise dos processos operacionais e administrativos - retorno sobre o investimento - análise do benchmark - ferramenta TQC – qualidade total - análise do custo da qualidade - análise da rentabilidade de clientes - análise de redução dos tempos dos ciclos operacionais - análise de fragmentação/concentração de atividades - custeio de produtos e serviços Fonte: Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 25. Saiba mais Leia o artigo “Como a Gestão Estratégica de Custos melhora a lucratividade do seu negócio”, de Ana Carolina Luz. Acesse-o por meio do link disponível em: <https://www.treasy.com.br/blog/gestao-estrategica-de-custos/>. Acesso em: 28 jun. 2020. 18 REFERÊNCIAS ATKINSON, A. A. et al. Contabilidade Gerencial. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2011. ATRILL, P.; MCLANEY, E. Contabilidade gerencial para tomada de decisão. São Paulo: Saraiva, 2014. FREZATTI, F. et al. Controle Gerencial: uma abordagem da contabilidade gerencial no contexto econômico, comportamental e sociológico. São Paulo: Atlas, 2009. GARRISON, R. H.; NOREEN, E. W.; BREWER, P. C. Contabilidade Gerencial. 14 ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2018. OLIVEIRA, L. M.; PEREZ JUNIOR, J. H.; SILVA, C. A. S. Controladoria estratégica: textos e casos práticos com solução. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2015. PADOVEZE, C. L. Controladoria Estratégica e Operacional. 3 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015.
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