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Aula_2_-_Cidadania_Regional_no_Mercosul-

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1 
 
 
Aula 2: Teorias, enfoques e debates sobre os processos de integração 
regional 
 
Apresentação 
Sejam bem-vindos à segunda turma do curso! 
Na primeira aula apresentamos o curso, conhecemos os objetivos desta formação, os 
conteúdos e atividades que guiarão nossos estudos nas próximas semanas. 
Nesta aula, abordaremos os seguintes tópicos, que são fundamentais para entender o 
que queremos dizer quando nos referimos à integração e suas dimensões, 
principalmente aquelas que dizem respeito à construção de significados, identidades e 
narrativas sobre a unidade: 
● Abordagens clássicas e recentes da literatura sobre regionalismo e integração. 
Isso nos permitirá entender como a integração tem sido estudada, tornando visível 
também relações de poder na difusão de práticas e/ou modelos desejáveis de "como 
fazer a integração”, bem como a colonialidade da construção do conhecimento sobre 
esses processos. 
● Políticas de integração educativa numa perspetiva teórica, de forma a abordar a 
formação da cidadania e da identidade regional a partir do papel docente. 
 
O que é a integração regional? 
Para conhecer a fundo o processo de integração do Mercosul e pensar na construção da 
cidadania regional a partir do papel docente, propomos que comecem por se perguntar: 
O que é a integração regional? Embora a questão pareça bastante intuitiva, as ciências 
sociais têm tido importantes debates em torno do termo. Esses debates também são 
atravessados pela colonialidade do saber-poder pela qual algumas formas de 
conhecimento têm sido mais legitimadas, enquanto outras produções de conhecimento 
foram relegadas a um papel periférico. Por este motivo, apresentamos alguns marcos 
 
2 
 
na trajetória de construção de um campo de estudos da integração regional, que tem 
caminhado de mãos dadas com a construção de práticas e experiências concretas de 
integração. 
O conceito de integração regional como tal, surge para entender um fenômeno novo no 
mundo pós segunda guerra mundial: a formação da Comunidade Europeia do Carvão e 
do Aço (CECA), que é o primeiro antecedente do que hoje conhecemos como União 
Europeia. Isso porque os primeiros autores a analisá-la foram acadêmicos da disciplina 
de relações internacionais que observaram com curiosidade como a Alemanha e a 
França – depois da tragédia da Segunda Guerra Mundial – poderiam partilhar atributos 
de sua soberania em um novo espaço institucional. Além dessa preeminência européia 
que, com efeito, dá nome a esse campo de estudos (leia-se, as teorias da integração), a 
América Latina tem dado contribuições importantes que nos permitem trazer este 
conceito para entender nossa própria realidade. Claro, com aproximações às 
abordagens europeias, mas reformulado, readaptado. 
Para definir este conceito, podemos começar por dizer o que não é a integração 
regional. É importante reconhecer que não existem regiões –no sentido que a palavra 
adquire aqui– somente pelo fato de compartilhar a mesma geografia ou ter padrões 
culturais semelhantes. Pelo contrário, um primeiro elemento para definir as regiões é 
que são construções sociais e políticas, ou seja, são espaços que se organizam a partir 
de uma ideia, uma visão, um modelo ou um projeto (político) que indica como um país 
deve se organizar e qual deve ser sua relação com os outros países em um momento 
histórico específico. Como um correlato disso, as regiões estão em disputa. Em outras 
palavras, no mesmo momento histórico diferentes ideias e conceitos sobre o que as 
regiões deveriam ser e como deveriam funcionar. É por isso que as regiões são espaços 
em construção permanente e que mobilizam diferentes atores políticos e sociais. 
Desse modo, podemos afirmar que a integração é um processo e não um produto, um 
resultado. Os processos de construção regional envolvem todos os atores sociais e 
políticos. Todos eles e todas eles mantem ideias ou modelos sobre os objetivos de longo 
prazo a serem alcançados por meio da integração regional e os procedimentos, 
mecanismos e/ou metodologias que devem ser implementados para levá-los a cabo. 
 
3 
 
 
 
Ao mesmo tempo, a integração regional é um instrumento de política: isto é, uma 
ferramenta dentro de um repertório mais amplo de políticas e práticas para que esses 
diferentes atores possam orientar seus projetos. Partindo sempre da premissa de que 
por meio da unidade - união de mais de um componente (neste caso, Estados; mas 
também poderíamos pensar em uma dimensão do integração além do repertório de 
políticas públicas governamentais) esses fins são alcançados ou objetivos de uma 
maneira melhor e mais estratégica. 
Nesse percurso de delimitação do conceito, vale ressaltar que a integração regional é 
um processo diferente da cooperação internacional entre Estados e entre atores sociais 
e políticos. Porque? Porque um segundo elemento para entender a integração regional 
é que esse processo está associado a criação e expansão de instituições regionais. Em 
outras palavras, um processo de integração regional é uma projeto que se expressa 
formalmente na criação de instituições comuns que implicam a em comum dos atributos 
da soberania de um Estado na referida organização. 
A criação dessas instituições regionais pode variar em sua forma, escopo e 
profundidade; e geralmente existe uma dicotomia entre instituições de tipo 
intergovernamental e instituições supranacionais (ver tabela 1). Isso fica claro a partir 
de certas visões presentes na literatura acadêmica, mas que se transferem para a 
opinião pública e para um certo senso comum normativo-prescritivo baseado em mitos 
e equívocos sobre a integração europeia. Em outras palavras, muitas vezes se espalhou 
a ideia de que a integração europeia é "melhor" ou "mais profunda" porque se considera 
que tem instituições de tipo supranacionais; sem indicar que o sistema de governança –
ou seja, seu funcionamento atual– combina instituições dos dois tipos, em equilíbrio ou 
equilíbrio, de modo que a tomada de decisão seja compartilhado entre espaços que 
representam um interesse regional ou comunitário e espaços que representam os 
interesses, as ideias, os valores de cada um dos Estados-Membros. 
 
 
4 
 
 
 
Tabela 1. Principais características de instituições supranacionais e intergovernamentais 
Características /Tipo Intergovernamental Supranacional 
Composição Representantes dos 
Estados membros. 
São funcionários públicos 
eleitos ou designados para 
cumprir um papel no 
Estado nacional e 
adicionam a função de 
representação na 
organização regional. 
Representantes do espaço 
regional ou comunitário. 
São funcionários que 
foram eleitos ou 
designados especialmente 
para cumprir com a 
missão nesta organização, 
nacionais de um Estado 
membro, mas que não o 
representam. 
Interesses, ideias, valores, 
normas que defendem 
Nacional Regional ou comunitário 
Mecanismo de tomada de 
decisão 
Unanimidade ou consenso 
(um Estado = um voto; 
necessidade de que todos 
os países votem para 
chegar a uma decisão). 
Favorece o bloqueio de 
decisões unilaterais. 
Sistema de maioria. 
Efeitos gerados pelas 
normas sobre os 
ordenamentos jurídicos 
dos países 
Efeito indireto. Precisam 
ser internalizadas por 
mecanismos internos (por 
exemplo, ser aprovadas 
Efeito direto. Aplicação 
imediata sem necessidade 
de internalização nos 
ordenamentos normativos 
de cada país 
 
5 
 
pelos parlamentos 
nacionais). 
Fonte: Elaboração própria 
 
Para maiores informações sobre o sistema de tomada de decisões da União Europeia, 
com especial atenção para a combinação de instituições de ambos os tipos, acesse: 
https://european-union.europa.eu/institutions-law-budget/law/how-eu-policy-
decided_es 
Recomendamos verificar a composição das instituições para identificar esses 
atributos e compreender como o sistema de tomada de decisões abrange ao menos 
três dessas instâncias:a comissão europeia, o conselho europeu e o parlamento 
europeu. 
 
Como resultado deste olhar sobre os tipos de instituições, muitas vezes é erroneamente 
afirmado que com instituições intergovernamentais não há cessão de soberania e por 
isso a integração “falha”. No entanto, a transferência ou compartilhamento da 
soberania (leia-se, a capacidade de determinar políticas autonomamente) não é 
atributo exclusivo de um formato institucional em detrimento de outro. Pelo 
contrário, com diferentes formatos institucionais de integração é possível compartilhar 
alguns pontos para desenvolver um projeto compartilhado. É claro que as instituições 
supranacionais têm “vantagem” desde que “zelem por” um interesse regional ou 
comunitário; apesar de alguns perspectivas também poderiam afirmar que "muita 
supranacionalidade" pode levar a processos burocrático para a "sobrevivência" de uma 
organização regional em detrimento dos interesses, ideias e valores da região como um 
todo e dos Estados membros que a compõem. 
Atualmente é mais comum reconhecer esta situação de diversidade de formatos 
regionais, sem colocar rótulos como “melhor” ou “pior”, e ainda, vincular a questão da 
soberania do Estado com a da autonomia política para a tomada de decisões. Uma 
https://european-union.europa.eu/institutions-law-budget/law/how-eu-policy-decided_es
https://european-union.europa.eu/institutions-law-budget/law/how-eu-policy-decided_es
 
6 
 
situação que a América Latina, com seus processos e atores vem afirmando e 
reivindicando há muitos anos (pelo menos desde os anos sessenta em diante). Tem sido 
especialmente com a crise da integração europeia (que começou em 2008 e inclui o 
cenário pandêmico e a atual guerra em seu território) que são reconhecidas as 
contribuições de nossa região em pensar e construir a integração. 
 
Na próxima aula abordaremos o pensamento latino-americano para a integração, 
apresentando e analisando autores e conceitos que foram moldando as narrativas e 
identidades em torno da construção da região, bem como dos processos formais de 
criação de convênios e iniciativas. 
Este curso nos permite compreender as razões por que esta parte do mundo – 
América Latina e Caribe, América do Sul – busca na integração uma ferramenta para 
alcançar outros objetivos: autonomia política, desenvolvimento socioeconômico, 
defesa dos recursos naturais, paz, democracia e direitos humanos. Porque sempre 
que nos referimos a projetos de integração temos em mente aqueles objetivos em 
torno dos quais o exercício do poder é orientado mobilização política e social. 
 
Como se define, então, a integração regional? A seguir, apresentamos a definição de 
um dos autores fundadores do campo de estudos para abordar a integração pós-
Segunda Guerra Mundial Guerra Mundial na Europa Ocidental, Ernst Haas. Em seguida, 
apresentamos a definição elaborada por um autor argentino para pensar a integração 
na América Latina, autor que é um dos membros do escola autônoma em estudos 
internacionais (e que também recuperamos na classe 3), Juan Carlos Puig. Por fim, 
apresentamos uma elaboração mais recente que recupera ambas as tradições, 
elaborado por um membro de nossa equipe de professores, Daniela Perrotta. A 
apresentação destas três definições pretende: 
● Apresentar os elementos comuns que definem o que é integração regional e 
quais são suas componentes e dimensões. 
 
7 
 
● Identificar como ideias e conceitos "migram" entre diferentes espaços 
acadêmico-políticos, as reapropriações que são feitas quando se busca que esse 
conceito aluda a um fenômeno em outra dimensão (ou seja, traduções e ajustes 
a serem feitos). 
Para Ernst Hass, a integração regional é o "processo pelo qual os atores políticos em 
vários e diferentes contextos nacionais são persuadidos a mudar suas lealdades, 
expectativas e atividades políticas para um novo centro, cujas instituições possuem ou 
reivindicam jurisdição sobre os Estados nacionais pré-existentes” (Haas, 1958, p. 16). 
● Nesta definição destaca-se tanto a criação de novas instituições, com uma nova 
jurisdição que se sobrepõe à dos Estados-nação pré-existentes e que os 
concebem como uma ideia nova: essas novas instituições podem levar a mudar 
as lealdades dos atores políticos nacionais. Este item é novo porque é um 
antecedente do que, posteriormente, as abordagens construtivistas e/ou 
ideacionais analisam como mudanças nas identidades, processos de 
aprendizagem social e disseminação de informações. 
Para Juan Carlos Puig, a integração regional é "um fenômeno social segundo o qual dois 
ou mais grupos (Estados, sociedades, empresas, comunidade internacional) adotam um 
regulamento de certos assuntos que até então pertenciam à sua competência exclusiva 
(ou domínio reservado) [...] são comportamentos cujo objetivo é tornar os grupos em 
questão renunciar à ação individual em certos assuntos, a fim de fazê-lo de maneira 
juntos e com um sentido de permanência” (Puig, 1986, p. 41). 
● Nesta definição, Puig incorpora algo –também presente em Haas– como a 
participação dos diversos atores na construção da região e sua “renúncia” à 
atividade individual em busca de de ação coletiva conjunta com um senso de 
permanência. Aqui também estão os itens ideacionais que operam na escolha 
dessa estratégia de política externa. Para este autor, a integração regional 
autonomizadora é aquela que ele define como solidária: 
 
8 
 
 “[…] [a integração] é possível por meio de valores compartilhados e alianças que 
poderia se materializar em sua defesa conjunta. […] Apesar das diferenças existentes 
em termos de potencial, há valores que são compartilhados pela grande maioria dos 
latino-americanos –elites e povos. Um deles é o da autonomia, todos os nossos países 
tentam ser autônomos. Pode haver discrepâncias quanto à forma e a intensidade do 
impulso autonômico e das estratégias aplicáveis, mas não se pode duvidar do objetivo 
perseguido, apesar das diferenças estruturais e da diversidade de orientações 
políticas, ganha relevo a capacidade de decisão nacional". (Puig, 1986, p. 45) 
 
Para Daniela Perrotta, a integração regional "pode ser caracterizada a partir de um 
conjunto de características comuns que diferenciam as formas de cooperação, 
coordenação ou acordo interestadual: a criação de instituições comuns e/ou 
compartilhadas para tomar decisões acordados que geram normas que afetam o nível 
nacional de regulamentação de políticas. Vale a pena notar que (1) o agrupamento e/ou 
transferência de soberania não deve ser idêntico em todos os casos, (2) o 
regulamentação regional na agenda doméstica pode variar em profundidade e escopo 
e (3) nem todos os acordos avançam necessariamente na conformação de uma narrativa 
comum que forneça um horizonte de sentido compartilhado sobre o projeto político 
subjacente que erige a região como ator” (Perrotta, 2018, p. 10). 
● Nesta definição, ligada às outras duas, foca-se a necessidade de incorporar 
processos com vários formatos institucionais e regulamentos regionais díspares; 
destacando que o componente ideacional de construção de uma narrativa que 
reúne e molda a necessidade de unir-se deve estar presente. Embora nem todos 
progridam da mesma forma, na própria concepção definição dos projetos 
políticos e dos objetivos para os quais se orienta o exercício do poder político e 
a mobilização dos atores sociais para a construção daquela região, questões de 
natureza ideacional, normativa e avaliativa são cruciais. 
No âmbito do Mercosul, autores e autoras da região realizaram aportes substanciais 
para entender estes processos. Aqui destacamos alguns deles. 
 
9 
 
Aldo Ferrer foi um economista argentino preocupado em entender o 
desenvolvimento da nossos países com visão própria e convictos da estratégia 
regionalista como ferramenta para atingir esse objetivo. Em suas muitas publicações, 
a integração é pensada em conexãocom o desenvolvimento econômico, com o papel 
da América Latina em nível global e a busca de chaves de leitura adequadas para a 
região. Dessa perspectiva, concebeu que o possível Mercosul era aquele capaz de 
desenvolver sua densidade regional. Ele considerou que na medida em que os países 
latino-americanos progresso na cooperação e integração, seria possível fortalecer 
seus respectivos espaços nacionais e adequar as respostas aos desafios e 
oportunidades do globalização da ordem mundial contemporânea. 
Gerónimo de Sierra é um professor e pesquisador uruguaio dedicado a trabalhar na 
processo de integração do Mercosul. Sua leitura sobre a integração regional é 
multidimensional: ou seja, busca não ficar com um olhar que privilegia apenas o 
econômica (ou mais especificamente, comercial), mas se propõe a abordar a região 
de suas múltiplas arestas ou faces. Dessa forma, busca superar reducionismos e 
compreender a realidade de forma mais completa, para nela poder intervir. Para o 
Ao mesmo tempo, reconhece o papel desempenhado por todos os atores (e não 
apenas Unidos) na criação da região. 
Monica Hirst é uma historiadora brasileira especializada em política externa do Brasil, 
cooperação internacional, integração e segurança regional. Entre suas muitas 
contribuições destacamos aqui que os processos de integração envolvem 
movimentos sociais cujas chaves não podem ser cobertas por uma interpretação 
conjuntural e meramente favorável ao comercial. Para o autor, eles só são acessíveis 
em sua diversidade e abrangência através de uma abordagem interdisciplinar e de 
longo prazo. E provavelmente, afirma analisando a crise do início dos anos 2000, um 
dos maiores déficits do MERCOSUL, que se faz sentir nos momentos mais críticos, é 
a ausência de um “modo de pensar”. Desta forma, incorpora a discussão em torno 
das ideias e identidades. 
 
 
10 
 
Enfim, entender o que é integração regional é um passo importante para começar a 
estudá-la. Uma vez dado este primeiro passo, podemos avançar investigando as teorias 
e abordagens que foram desenvolvidos para entender esses processos. Em um primeiro 
momento, o estudo dos processos de integração regional em nossa região foi permeado 
por dois elementos. O primeiro é o eixo da dimensão econômico-comercial e 
aproximação entre os países. O segundo é o uso de ferramentas teóricas criadas em 
outros esferas (especialmente na Europa) para tentar entender os fenômenos locais. 
Mais tarde, surgem novas abordagens, conceitos e teorias que nos permitem construir 
uma visão mais ampla da América Latina para explicar nossos próprios processos (neste 
ponto, a aula 3 fornece elementos de continuidade de conteúdo para esta aula). 
Esquemas de integração econômica 
Durante muito tempo, a ideia de integração regional esteve associada à integração 
econômica: isso se deve porque os primeiros processos de integração ocorridos desde 
meados do século XX foram organizada em torno da dimensão econômica. Nesta seção, 
apresentamos esquematicamente o que queremos dizer quando nos referimos à 
integração econômica regional. O autor sobre o qual são erigidos esses esquemas, bem 
como a análise do percurso da integração na Europa Ocidental, é Bela Balassa. 
Área de livre comércio: a forma mais básica de integração econômica entre dois ou mais 
países que reduzem e tendem a eliminar tarifas de importação e exportação entre eles, 
mas mantêm as suas políticas comerciais em relação a outros países. As mercadorias 
circulam livremente dentro da zona de livre comércio, mas cada parceiro mantém suas 
respectivas tarifas em relação aos demais países do mundo. 
União Aduaneira: mom base no exposto, os países decidem ter uma política comercial 
comum em relação aos demais países ou grupos de países. Isso significa que eles 
concordam em criar uma tarifa externa comum para mercadorias que entram/saem da 
zona do exterior (ou seja, importações e exportações de países que não fazem parte da 
área de livre comércio). Isso implica, ao mesmo tempo, acordar um código aduaneiro 
comum e coordenar as alfândegas nacionais para evitar cobranças duplas e redistribuir 
o ônus. 
 
11 
 
Mercado Comum: implica a criação de regulamentos para facilitar a livre circulação de 
mercadorias, serviços e capital –incluindo a mobilidade das pessoas–. Aqui é preciso 
começar a ter convergência macroeconômico entre os países que o compõem. 
União Económica e Monetária: alcançado o mercado comum para todos os meios de 
produção, o próximo passo é avançar na coordenação de uma política econômica e 
monetária única, e não apenas uma política comercial compartilhada. Isso implica, por 
exemplo, a estabilização das taxas de câmbio entre moedas primeiro, para depois dar 
lugar à criação de uma moeda comum e de uma autoridade monetária única (como o 
euro e o Banco Central Europeu). 
As teorias da integração europeia 
A ideia de integração regional e o estudo desses processos como tais a partir das ciências 
sociais começa a ganhar forma no campo das Relações Internacionais a partir da 
experiência europeia, em meados do século XX: observou-se com grande curiosidade 
como a França, a Alemanha ocidental, Bélgica, Holanda e o Luxemburgo cederam a 
soberania na gestão do aço e do carvão após o advento da Segunda Guerra Mundial. 
Assim, o estudo da integração na Europa Ocidental foi permeado pelas lentes da 
disciplina (Relações Internacionais) e como essa incorporou outras abordagens. Com o 
avanço da integração “concreta”, outras disciplinas sociais se juntaram com perguntas 
e visões teóricas para pensar e estudar tal integração (sociologia, antropologia, ciência 
política, psicologia, etc.). Mais recentemente, especialmente com a crise de integração, 
o campo de estudos da integração europeia será mais perspicaz para a inclusão de 
perspectivas feministas e contribuições de outras latitudes (como de nossa região latino-
americana). A crise também permitiu aos estudiosos do regionalismo (foco que se 
popularizou desde a década de 1990 para entender os processos não europeus) 
abordará com os estudiosos da integração europeia para gerar convergências e avançar 
teorias. 
Nos textos recomendados para leitura desta turma, há duas obras complementares do 
mesmo autor para discutir cada teoria e abordagem. Sugerimos que você faça essa 
análise a partir da tabela resumo que aparece a seguir, por meio da qual focamos nas 
 
12 
 
questões que cada contribuição teórica procura responder em cada momento histórico 
do futuro da integração europeia. 
Quadro 2: Fases das teorias de integração européia e teorias elaboradas 
Fase Tempo Tema principal / 
perguntas 
Referenciais 
teóricos 
Teoria 
Explicação da 
integração 
regional 
1960 em 
diante 
Como se explicam 
os resultados da 
integração 
regional? Por que 
acontece a 
integração regional 
na Europa 
(Ocidental)? 
Liberalismo, 
realismo e 
neoliberalismo 
Neofuncionalismo e 
Intergovernamentalismo 
Análise da 
governança 
1980 em 
diante 
Que tipo de sistema 
político é a União 
Europeia? 
 
Como se pode 
descrever seus 
processos políticos? 
 Como funciona sua 
política regulatória? 
Governança, 
política 
comparada, 
análise de políticas 
Intergovernamentalismo 
liberal 
 
Neofuncionalismo 
revisitado 
 
Governança multinível 
 
Institucionalismos 
(eleição racional, 
sociológica, histórica) 
 
Europeização 
Construção 
da União 
Europeia 
1990 em 
diante 
Como e com que 
consequências 
políticas e sociais se 
desenvolve a 
integração 
regional? 
Construtivismo 
social, pós-
estruturalismo, 
economia política 
internacional 
 
Teoria política 
normativa 
 
Enfoque de gênero 
Construtivismo 
 
Enfoques de gênero e 
desconstrução 
 
Europeização (mais 
adiante, teorias de 
difusão de normas). 
Fonte: Tomado de Wiener & Diez, 2012. A coluna da teoria é uma contribuição dos autores. 
 
Discussões sobre regionalismos 
Na década de 1990,diante da reconfiguração do cenário político e econômico 
internacional, acordos de integração regional começaram a ser criados em diferentes 
partes do mundo, vinculados ao processo de globalização econômica neoliberal da 
época. 
 
13 
 
Em primeiro lugar, a política de integração regional está sujeita à formação de uma visão 
prescritiva, por organismos internacionais de crédito e/ou comércio multilateral, quanto 
à modalidade e intensidade dos novos regionalismos. Em seguida, é gestada, dentro do 
campo dos estudos de integração regional, a "abordagem do novo regionalismo" para 
tentar testar uma resposta teórica a esses processos inéditos e contestados, cuja 
preocupação central consiste em analisar a relação entre regionalização e globalização, 
definir o conceito de região e distinguir as formas (e/ou gradações) de integração 
regional dado um mapa global caracterizado pela multiplicidade de acordos marcados 
pela complexidade e diversidade entre cada um deles. 
Tal como na seção anterior, não se pretende revisitar exaustivamente cada autor, mas 
marcar alguns elementos para analisar as propostas e acompanhar a leitura da 
bibliografia que sugerimos ler. 
Uma chave de leitura é entender as respostas teóricas à luz dos incentivos para gerar 
esse tipo de acordos, conforme descrito por Laura Gómez Mera (2005): 
Quadro 3. Incentivos para o estabelecimento de acordos de integração regional (AIRs) 
Teoria Incentivos Hipóteses 
Economia Política Doméstica 
1- Estado-cêntricas Econômicos Buscam-se os AIR devido aos 
efeitos econômicos esperados em 
nível doméstico: seja por ganhos 
em ampliação do comércio, da 
produção regionalização e 
economias de escala, como a 
atração de capital estrangeiro 
(investimento estrangeiro direto, 
IDE). 
Políticos Espera-se que os AIRs consolidem 
e selem as reformas políticas e 
econômicas (neo)liberais. (Neste 
sentido, um AIR gera um “efeito 
bloqueio” enquanto permite 
ancorar processos de reforma 
nacional em um acordo [ou 
quadro internacional] cuja 
dissolução é mais difícil). 
2- Sociedade-cêntricas Sociais O estabelecimento dos AIRs 
reflete as pressões do setor 
 
14 
 
privado: por um lado, dadas as 
expectativas de lucro dos setores 
exportadores que alcançam o 
acesso ao mercado regional; de 
outro, os setores que competir 
com importadores que obtêm o 
proteção dos produtores de 
países terceiros. 
Sistêmicas 
1- Neorrealismo Estratégico Defensivos Os AIRs são vistos como uma 
estratégia para aumentar o poder 
dos membros (Estados-Nacionais) 
no negociações multilaterais, e 
entre outros blocos e/ou estados 
hegemônicos extrarregionais. 
Estratégico Ofensivos Os AIR são vistos como uma 
estratégia para afetar o equilíbrio 
do poder político na região: para 
os Estados mais fortes, uma forma 
de consolidar sua liderança; para 
os mais fracos, uma tentativa de 
conter o exercício do poder 
hegemônico de um membro mais 
poderoso. 
2- Institucionalismo 
neoliberal 
Institucionais Os AIRs são vistos como uma 
resposta conjunta aos problemas 
causados pelo aumento da 
interdependência. Mantidos por 
funções valiosas que realizam. 
3- Construtivismo Estratégico positivos O surgimento e manutenção de 
AIRs refletem valores regionais 
comuns e um senso de 
consciência e coesão que é 
reforçada ao longo do tempo por 
meio de networking e interação 
institucionalizada. 
Fonte: elaborado a partir de Gómez Mera (2005) 
Outra leitura chave que propomos é rever as diferentes "categorias" em que a 
construção da região, tal como Hettne e Soderbaum, a partir da noção de regionalidade 
ou Hurrell com as categorias de regionalismo. Sugerimos que você os revise 
diretamente no texto sugerido para esta aula, com atenção especial aos componentes 
que cada uma dessas categorias agrega para alcançar a "integração". 
 
15 
 
No texto de referência você também encontra conceituações sobre regionalismo e 
regionalização. 
Políticas de Integração Educacional sob o Olhar Teórico 
Para culminar esse percurso teórico inicial, nos propomos a trabalhar a noção de 
políticas públicas (PPR), entendidas como "aquelas ações emanadas dos órgãos do 
governo regional (ou seja, no marco do peculiar sistema de governança que a região 
criou para seu funcionamento) alcançar os fins para os quais está orientado o exercício 
do poder político tanto pelos Estados Nacionais que formaram e participam desse 
processo de integração regional, bem como nas instituições de governos regionais que 
tenham ou não capacidade decisória” (Perrotta, 2013). 
● Ao se referir ao sistema de governança da região, a definição incorpora a 
distinção de que, Por um lado, as políticas regionais não são da competência 
exclusiva de um único jogo de decisão e que, por outro lado, os atores e 
instituições envolvidos tenham capacidades e recursos diferentes de acordo com 
o assunto em questão. 
● A alusão ao propósito da política regional, ou seja, sua orientação para atender 
aos objetivos que lhe são o poder político foi proposto, ele se insere nas relações 
de poder que se estabelecem entre Estado, mercado e sociedade em múltiplos 
níveis de governança (regional, nacional e local) e o consequente 
reconhecimento de que mesmo decisões aparentemente técnicas têm uma 
componente política que lhe é inerente. 
No texto que deixamos como sugerido (não obrigatório) para abordar a integração 
educacional, você pode descobrir como se formou o Setor de Educação (SEM) do 
MERCOSUL e as políticas e iniciativas regionais desenvolvidas. O que ali é abordado pode 
ser recuperado na aula específica desta formação de professores. Sugerimos prestar 
atenção aos seguintes elementos: 
1. criação precoce: tem 30 anos de operação; 
2. Processo de institucionalização sustentado no tempo, acumulação de 
capacidades de gestão; 
 
16 
 
3. profissionalização de perfis técnicos, socialização de normas (construção de 
identidade); 
4. Implementação do PPR em etapas: clivagem e vinculação direito/mercadoria 
(público/privado) com a política doméstica. 
Sobre este último ponto, destacamos que a clivagem central para entender as diferentes 
políticas públicas regionais é a oposição entre educação como direito e educação como 
mercadoria: desde a criação da agenda –ainda na fase de concepção do MERCOSUL– as 
iniciativas dirigidas não estavam diretamente ligadas a um projeto mercantil-privatista 
de educação. A questão central tem sido – e é – se a relação com o mercado é conduzida 
pelo Estado ou se há uma maior presença de atores privados na delimitação de metas e 
instrumentos. 
 
Fechamento da aula 
 
Nesta aula apresentamos o desenvolvimento da teoria da integração e focamos na 
definição de integração regional, articulando debates com conceitos como regionalismo 
e regionalidade. Nesse processo, nos concentramos em "esclarecer" dois equívocos 
sobre a integração: por um lado, que apenas o a supranacionalidade garante um 
"processo mais profundo" e, por outro, que a integração é eminentemente econômica. 
Ao contrário, vimos como a construção da região é realizada por diferentes atores 
sociais e que sempre visa atingir objetivos ou fins (políticos): ou seja, os atores se 
mobilizam para projetos regionais que estão ligados a ideias, valores e identidades. 
Agradecemos a atenção e nos encontramos na próxima aula! 
 
Material de Leitura 
Perrotta, D. (2013). “La integración regional como objeto de estudio. De las teorías 
tradicionales a los enfoques actuales”. En Elsa Llenderrozas (Ed.), Teoría de Relaciones 
Internacionales. Buenos Aires: Editorial de la Universidad de Buenos Aires (EUDEBA), 
2013, pp. 197-252. 
 
17 
 
Perrotta, D. (2019). La integración educativa en el MERCOSUR. In M. Vazquez (Ed.), El 
MERCOSUR. Una geografía en disputa (pp. 299-266). Ciccus. 
 
Material Opcional 
Perrotta, D. & Porcelli, E. (2019). El regionalismo es lo que la academia hace de él. Revista 
Uruguaya de Ciencia Política, 28, pp.183-218. 
http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1688-499X2019000100183&nrm=iso 
Perrotta, D. (2018). El campo de estudios de la integración regional y su aporte a la disciplina 
de las Relaciones Internacionales: una mirada desde América Latina. Relaciones 
Internacionales (38), 9-39. 
https://revistas.uam.es/index.php/relacionesinternacionales/article/view/9275/9924 
 
Referências 
Gómez Mera, L. (2005). Explaining Mercosur’s Survival: Strategic Sources of Argentine–
Brazilian Convergence. Journal of Latin American Studies, 37, pp. 109-150. 
Haas, E. (1958). The Uniting of Europe: political, social and economic forces (1950-1957). 
Stanford University Press. 
Haas, E. (1970). The Study of Regional Theorizing: reflections on the joy and anguish of 
pretheorizing. International organization, 24, pp. 607-646. 
Hettne, B. & Söderbaum, F. (2002). Theorising the rise of Regionness. In S. Breslin, C. Hughes, 
N. Phillips, & B. Rosamond (Eds.), New Regionalisms in the Global Political Economy. Theories 
and cases (pp. 33-47). Routledge. 
Hurrell, A. (1995). Regionalism in Theoretical Perspective. In L. Fawcett & A. Hurrell (Eds.), 
Regionalism in World Politics (pp. 31-71). Oxford University Press. 
Perrotta, D. (2013). El regionalismo de la educación superior en el proceso de integración 
regional del MERCOSUR: políticas de coordinación, complementación, convergencia y 
armonización en las iniciativas de acreditación de la calidad de carreras de grado (1998-2012). 
Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, sede académica Argentina]. Buenos Aires. 
http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1688-499X2019000100183&nrm=iso
https://revistas.uam.es/index.php/relacionesinternacionales/article/view/9275/9924
 
18 
 
Puig, J. C. (1986). Integración y Autonomía en América Latina en las postrimerías del Siglo XX. 
Integración Latinoamericana, 11(109), pp. 40-62. 
Wiener, A. & Diez, T. (2012). European integration theory (Vol. 2). Oxford university press 
Oxford. 
 
Créditos 
Autores: Daniela Perrotta, Leticia González, Florencia Lagar, Emanuel Porcelli, Lucas Mesquita, 
Karen Honorio, Felipe Cordeiro, Ramon Blanco. 
 
Como citar este texto: 
Perrotta, D. e Outros (2023). Aula N° 2: Educação para a integração. Cidadania regional no 
Mercosul. Buenos Aires: Ministério da Educação da Nação. 
 
 
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