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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DIGITAL E COMPLIANCE MÓDULO GOVERNANÇA DE T.I. E COMPLIANCE 1. Material pré-aula a. Tema Gestão Jurídica e Compliance b. Noções Gerais Nesta aula, serão abordados os seguintes temas: desafios da gestão jurídica e compliance; contextualização do mercado; carreira; modelos organizacionais empresariais; nova geração, inovação e tecnologia (mercado de trabalho) e o novo compliance (corporativo). Conforme já abordado nas aulas anteriores deste módulo, desde que a globalização se tornou uma realidade e todos os mercados estão interligados, os controles passaram a seguir padrões também globais. Eis a importância de um programa de Compliance bem estruturado e alinhado com os principais regulamentos internacionais (FCPA, UKBA), e o monitoramento contínuo e cuidadoso. Este monitoramento deve ser realizado tanto com o pessoal interno quanto com os parceiros com quem esta empresa tem relação comercial ou técnica. Neste ponto, especificamente, tratamos dos departamentos jurídicos e de sua gestão. A Gestão Jurídica hoje é muito mais profissional que há dez anos. Neste caso, o advogado não se limita a conhecer o processo técnico, mas as consequências deste para a companhia, seus custos, a origem dele. Deve conhecer a provisão, contingência, ser responsável pelos relatórios gerenciais: depósitos judiciais, processos encerrados, e outros indicadores. Não raro, advogados começam a enveredar pelo business inteligence, interpretando programas e relatórios antes restritos à profissionais da área de marketing ou controladoria. Não temos mais um advogado e sim um profissional mais completo: um gestor jurídico. Claro que ainda existem nos departamentos jurídicos os gestores e aqueles advogados que respondem exclusivamente pela parte técnica-jurídica, pois, como ensina a Prof. Fábia Cunha (2018): “Um grande jurista, nem sempre é um grande gestor e vice-versa. É preciso colocar cada um no seu lugar para que a empresa cresça”. O papel do gestor jurídico, diz respeito, principalmente, à gestão das ferramentas disponíveis para entregar a melhor performance (desempenho) possível, agregando valor ao Departamento Jurídico, seja numa empresa, seja ao próprio escritório de advocacia (que também dispõem de gestores jurídicos). Quando falamos em Governança Corporativa e Compliance, um dos setores mais envolvidos na empresa é o departamento jurídico, por mais que o compliance officer possa não estar subordinado ao jurídico. Eis o motivo (AURUM, 2013): O departamento jurídico fornece a retaguarda legal que a empresa necessita para operar dentro da lei, sem cometer infrações, e acionando a justiça quando seus direitos são, de alguma forma, infringidos. Dentro dessa rotina, existem inúmeros procedimentos padrão que são desempenhados por pessoas e que podem ser executados de maneira incorreta, afinal somos humanos e cometemos erros – mas, dependendo do grau, um erro pode comprometer a governança corporativa. A especialização da gestão é a principal forma de um departamento jurídico melhorar a qualidade de sua atuação técnica (juridicamente falando) e criar uma governança jurídica no próprio departamento. Neste sentido, “técnicas de governança jurídica nasceram para dar fluidez aos processos dentro do departamento jurídico de uma grande companhia” (CUNHA, 2018). Fábia Cunha (2018) ainda complementa esta ideia da seguinte forma: Para aumentar a produtividade do departamento, o diretor jurídico deve desenvolver processos que o auxiliem a mensurar a performance da sua equipe e de seus parceiros. Nesse ponto é importante desenhar um processo de trabalho efetivo, definindo responsabilidades e criando itens de controle que ajudem a avaliar o desempenho do da área. Um exemplo prático foi como desenvolvemos um departamento de qualidade aqui no PG Advogados, junto com a necessidade dos clientes de melhorar o êxito nos processos. Para tanto, existem algumas ferramentas que, ao serem implementadas, auxiliam o diretor e o gestor jurídico nesta tarefa. São as seguintes: BPM (Business Process Management/Gerenciamento de Processos de Negócio): os processos das empresas em geral já utilizam este mecanismo de gerenciamento. Trazê-lo para os departamentos jurídicos é uma novidade. Com isso busca-se otimizar os processos de negócio do jurídico, garantindo maior eficiência operacional. Neste sentido, Ricardo Oliveira (2017): Essa metodologia possibilita o conhecimento dos processos através da descrição das atividades e dos os papéis das pessoas, a eliminação dos “gargalos”, a gestão dos riscos envolvidos na execução, e o acompanhamento dos indicadores de desempenho operacionais. O monitoramento dos riscos operacionais é o maior dos ganhos que o BPM pode trazer para o jurídico em questão de compliance. Qualquer que seja o projeto ou a meta pode ser um grande aliado. GED (Gestão Eletrônica de Documentos): esta ferramenta é uma antiga conhecida de todo integrante de departamento jurídico, principalmente de empresas privadas. Isto porque, diante do avanço da tecnologia e o aumento significativo dos papéis e a diminuição de espaço (dentro da empresa) para arquivá-los, foi necessário buscar soluções tanto de espaço como de utilização destes documentos. Ou ainda, durante uma auditoria, quantas vezes não foi preciso encontrar um aditamento e não foi possível? Este é um ponto muito sério em compliance e, portanto, a GED uma ferramenta indispensável atualmente. Imagine um departamento jurídico que possui dificuldades para encontrar documentos ou contratos, que os armazenam em local que oferece risco, ou que até mesmo perde documentos. Isso acontece com frequência, e uma maneira profissional de evitar é através da digitalização dos processos, documentos e contratos em um sistema capaz de armazenar, organizar e criar workflows da informação. Uma vez com a informação armazenada e indexada, fica fácil localizar um documento desejado, ou realizar um backup para evitar que uma informação importante seja perdida (AURUM, 2013). Software Jurídico: hoje existem vários no mercado, cada um com seu diferencial, mas a maioria segue um padrão. À mão do usuário, a carteira de processos da empresa, do escritório, etc. É ponto de compliance a atualização constante destes sistemas, sendo verificados em auditorias internas e externas. E a partir destes sistemas, geralmente, é possível que o gestor jurídico obtenha relatórios gerenciais sobre a evolução da sua carteira de processos: novos processos, processos sentenciados, processos encerrados, depósitos judiciais efetuados, etc. Os filtros para os relatórios podem ser feitos de acordo com as features de cada sistema. Neste sentido: O software jurídico existe para ajudar na rotina do advogado que precisa controlar suas atividades diárias relacionadas aos processos e automatizar tarefas mais manuais e exaustivas, como buscar informações e atualizar processos. Além disso, o software contribui para o trabalho em equipe e organiza a rotina de todo o departamento. O software jurídico também é aderente às boas práticas de governança corporativa, pois torna digitais, seguras e acessíveis às informações dos processos (AURUM, 2013). Neste ponto percebe-se como ele se aplica, também, ao sigilo das informações do jurídico da empresa/escritório de advocacia. Ao conferir login e senha para cada usuário, é possível aferir quem foi o responsável por cada acesso/alteração, sendo possível, também, evitar uso por pessoal não autorizado. Um fenômeno iniciado no final da década de 90 e no início dos anos 2000 foi à redução dos departamentos jurídicos com a consequente terceirização destes. E, quanto mais os departamentos jurídicos das corporaçõesficam enxutos, mais relevantes estes se tornam. Grandes corporações passaram a contratar os serviços de escritórios terceirizados, especialistas em suas áreas. Não raro, uma empresa tem um parceiro especialista em cível e consumidor, outro em tributário, outro em direito trabalhista, e assim por diante. Um programa de compliance bem estruturado, aliado à governança jurídica, pode nortear o trabalho do gestor jurídico, esclarece a Prof. Fábia Cunha (2017): Essa realidade, vivida pela maior parte das companhias brasileiras, começa a ser um dos maiores ofensores nos impactos de custo e performance do departamento jurídico, pois onera e procrastina a tomada de decisão. Com isso, identificamos uma forte necessidade de unificar todas as informações vindas dos diversos interlocutores para, assim, poder tomar decisões com base em dados e resultados. Neste sentido, o Compliance Jurídico é uma solução de gestão que vem para ajudar a organizar os departamentos jurídicos por meio da implantação de processos claros. O programa tem como objetivo garantir que a área jurídica e seus interlocutores atuem de forma assertiva, de acordo com a regulamentação interna e com a legislação do país. O compliance tem sido utilizado como método para organizar e mensurar os resultados de uma área. Fábia Cunha (2017) ensina, então, como funciona o programa de implantação de compliance no departamento jurídico de uma companhia: 1º Passo: elaboração de um PMO (Project Management Office), responsável pela implantação da governança e entender toda estratégia macro da companhia, incluindo sua visão, missão e valores, para então traduzir esses conceitos em processos que serão disseminados entre os membros da equipe. Esta primeira fase implica em alinhar a estratégia macro da empresa com o que o diretor jurídico pensa e tem como meta para, então, transformar em processos. Dessa forma, cada membro entenderá qual é seu papel na equipe e o diretor, por sua vez, saberá como cobrar e mensurar os resultados. Ainda dentro dessa fase, ocorre a implantação do SLA (Service Level Agreement) – Acordo de Nível de Serviço. Há a reunião de todos os fornecedores do setor – escritórios de advocacia parceiros, gráficas, prestadores de serviço de tecnologia, etc e também o treinamento das equipes a seguir os mesmos processos do departamento. 2º Passo: mapeamento e descrição dos processos de trabalho, quando é definido como será o workflow da equipe interna e dos parceiros externos. Nessa etapa é fundamental a participação de todos os líderes para que ajudem a entender se o que foi proposto, será viável no dia a dia, considerando o time atuante. 3º Passo: automação dos workflows, com a implantação de um software para monitorar todos os processos e fornecedores do departamento. Nessa etapa é que se começa a ver os primeiros resultados dessa nova organização. Com o fluxo definido é possível trabalhar em um ambiente equilibrado. 4º Passo: definição de KPIs (Key Performance Indicator) que serão os responsáveis pela mensuração do resultado. Cada equipe terá suas metas e o indicador correspondente de resultado. 5º Passo: última etapa, mensurar os resultados. É importante que todos os envolvidos no processo sintam que tudo passa a fazer mais sentido e que os resultados são melhores porque não há mais falhas. Fábia Cunha (2017) ressalta que a implantação do Compliance Jurídico não é um projeto rápido, levando em média o período de seis meses para implantação de todo o processo. Mas com certeza é um processo que vale a pena ser instituído: “o diretor jurídico otimiza o tempo da equipe e consegue enxergar em um clique todos os resultados.” Por fim, como aponta Rogéria Gieremek (2018): “If you think compliance is expensive, try non-compliance”, que em português pode ser entendido como “Se você pensa que compliance é caro, experimente não-compliance”. c. Legislação • Constituição Federal do Brasil; • Código Penal; • Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Decreto nº 5.687/2006); • Convenção Interamericana contra a Corrupção (Decreto nº 4.410/2002); • Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais – Convenção da OCDE (Decreto nº 3.678/2000); • Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal); • Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações); • Lei nº 9.884/94 (Lei de Defesa da Concorrência); • Lei nº 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo Federal); • Lei nº 10.520/2002 (Lei do Pregão); • Lei nº 12.683/2012 (Lei da Lavagem de Dinheiro); • Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção); • Lei nº 12.850/2013 (Lei de Organizações Criminosas); • Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet); v • ISO 31000/2009 (Risk management: Principles and guidelines); • ISO 26000/2010 (Guidance and social responsibility); • ISO 27001/2013 (Information security management); • ISSO 19600/2014 (Compliance management systems: Guidelines); v • Foreign Corrupt Practices Act (FCPA, EUA, 1977). o Disponível em: <https://www.justice.gov/criminal- fraud/foreign-corrupt-practices-act> • Sarbanes-Oxley Law – SOx (EUA, 2002). o Disponível em: <http://www.soxlaw.com/> • United Kingdom Bribery Act (Reino Unido, 2010). o Disponível em: <http://www.legislation.gov.uk/ukpga/2010/23/conten ts> d. Recomendações de Leitura • BAYER, Albert; CHIZZOTTI, Camila. Como Aplicar o Compliance na sua Cadeia de Valor. In: O Estado de São Paulo. Publicado em: 02.08.2017. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/como-aplicar-o- compliance-na-sua-cadeia-de-valor/>. • CUNHA, Fábia. Conheça algumas razões para um advogado se interessar por gestão. Publicado em: 23.04.2018. Disponível em: <http://www.pgadvogados.com.br/noticias/211/conheca- algumas-razoes-para-um-advogado-se-interessar-por-gestao>. • CUNHA, Fábia. Como organizar o departamento jurídico usando modelo de governança. Publicado em: 19.07.2017. Disponível em: <http://www.pgadvogados.com.br/noticias/153/como- organizar-o-departamento-juridico-usando-modelo-de-governanca>. • CUNHA, Fábia. Implantação de Balanced Scorecard para advogados. Publicado em: 12.01.2018. Disponível em: <http://www.pgadvogados.com.br/noticias/185/implantacao-de- balanced-scorecard-para-advogados >. • DEBBIO, Alessandra Del; MAEDA, Bruno Carneiro; AYRES, Carlos Henrique da Silva. Temas de anticorrupção e compliance. Rio de Janeiro: Campus, 2012. • FONSECA, Mariana. Gestão Jurídica de uma startup – para onde olhar? In: Exame. Publicado em: 03.05.2018. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/videos/dicas-para- empreendedores/gestao-juridica-de-uma-startup-para-onde- olhar/>. • FORLANI, Roberta da Cruz. Indicadores de Performance Jurídicos como ferramentas de Gestão. Publicado em: 09.09.2015. Disponível em: <http://www.pgadvogados.com.br/noticias/44/Indicadores%20de %20performance%20jurídicos%20como%20ferramentas%20de% 20gestão >. • GIEREMEK, Rogeria. Compliance cabe em qualquer lugar. In: LEC News. Publicado em: 20.04.2015. Disponível em: <http://www.lecnews.com/artigos/2015/04/20/compliance-cabe- em-qualquer-lugar/>. • GOMIERO, Paulo Henrique. O Impacto da Terceirização no Compliance. In: Jornal Valor Economico. Publicado em: 29.05.2017. Disponível em: <http://alfonsin.com.br/o-impacto- da-terceirizao-no-compliance/>. • LA ROCQUE, Eduarda (Coordenadora). Guia de Orientação para Gerenciamento de Riscos Corporativos / IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. São Paulo, 2007. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/userfiles/3.pdf> • LUSTOSA, Eliane (Coordenadora Geral). Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa / IBGC – Instituto Brasileirode Governança Corporativa. São Paulo, 2015, 5ª Edição. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/Publicacoes/Publicacao- IBGCCodigo-CodigodasMelhoresPraticasdeGC-5aEdicao.pdf>. • MELLO, Emerson de. Palestra: Compliance e Gestão de Terceiros – A Importância para as Organizações. Apresentação realizada para a ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Publicado em: 22.09.2015. Disponível em: <https://www.anefac.com.br/uploads/arquivos/201592217124019 9.pdf> • PIZO, Frank. A SOX como modelo de Controles Internos para as Empresas Brasileiras. In: Infomoney. Publicado em: 30.03.2017. Disponível em: <http://www.infomoney.com.br/blogs/contabilidade/painel- contabil/post/6301213/sox-como-modelo-controles-internos-para- empresas-brasileiras>. • SANTOS, Demian dos. Governança, Risco e Compliance. In: Diário de TI. Publicado em: 26.01.2016. Disponível em: <http://diariodeti.com.br/governanca-risco-compliance-grc/>. • SIÉCOLA, Emerson. Terceiros: Melhores Práticas de Gestão para o Ambiente de Negócios. In: Blog Trevisan Escola de Negócios. Publicado em: 16.11.2016. Disponível em: <http://blog.trevisan.edu.br/index.php/terceiros-melhores- praticas-de-gestao-para-o-ambiente-de-negocios/>. • Exponential organizations: why new organizations are tem times better, faster, and cheaper than your (and what to do about it) – Salim Ismail; • Mindset: a nova psicologia do sucesso – Carol Dweck; • Audaz: as cinco competências para construir carreiras e negócios inabaláveis nos dias de hoje – Maurício Benvenutti; e. Referências Bibliográficas • AURUM. Tecnologias para compliance em departamentos jurídicos. In: Blog da Aurum. Publicado em: 20.03.2013. Disponível em: <https://www.aurum.com.br/blog/tecnologias- para-compliance-em-departamentos-juridicos/>. • CUNHA, Fábia. Como organizar o departamento jurídico usando modelo de governança. Publicado em: 19.07.2017. Disponível em: <http://www.pgadvogados.com.br/noticias/153/como-organizar- o-departamento-juridico-usando-modelo-de-governanca>. • CUNHA, Fábia. Conheça algumas razões para um advogado se interessar por gestão. Publicado em: 23.04.2018. Disponível em: <http://www.pgadvogados.com.br/noticias/211/conheca- algumas-razoes-para-um-advogado-se-interessar-por-gestao>. • OLIVEIRA, Ricardo. Departamentos Jurídicos como parceiros do Negócio. In: EGN. Publicado em: 02.09.2017. Disponível em: <https://www.consultoriaegn.com.br/2017/09/02/departamentos- juridicos-como-parceiros-do-negocio/>.
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