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Missiologia
Prof. Marcone Costa Cerqueira
Indaial – 2021
2a Edição
Impresso por:
Elaboração:
Prof. Marcone Costa Cerqueira
Copyright © UNIASSELVI 2021
 Revisão, Diagramação e Produção:
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
C416m
Cerqueira, Marcone Costa
Missiologia. / Marcone Costa Cerqueira – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
172 p.; il.
ISBN 978-65-5663-909-3 
ISBN Digital 978-65-5663-910-9
1. Teologia cristã. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 200
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Missiologia, disciplina esta 
direcionada para o estudo da teologia da missão, sendo uma fundamental área de estudo 
da teologia cristã. Estudaremos juntos, de forma crítica e reflexiva, todos os aspectos 
importantes que compõem esta área teológica, bem como seus desdobramentos em 
áreas como a eclesiologia e a soteriologia, buscando uma abordagem tanto teórica 
quanto histórica. Nesta perspectiva histórico-teórica, centraremos foco nos conceitos 
que fundamentam a teologia da missão em suas diversas expressões, desde o evento 
da vinda do Messias até os atuais desafios contemporâneos para o cumprimento da 
missão por ele delegada. 
Para cumprirmos esta tarefa, dividiremos nosso estudo em três unidades 
coesas, tendo como fio condutor a compreensão de um evento que ainda está se 
desenrolando na história e que deve culminar com a própria volta do Messias. Em outros 
termos, a missiologia não é um estudo de coisas passadas ou de ações presentes, 
deslocadas do futuro. Neste sentido, deve haver uma compreensão ampla, coordenada e 
crítica de todos os aspectos que marcam este propósito que surge com a própria ação 
salvadora do Cristo. O espaço de tempo de mais de dois mil anos pode nos levar a perder 
esta perspectiva de continuidade e de desenvolvimento, além deste fator, há ainda as 
diversas mudanças doutrinais, eclesiásticas, culturais e intelectuais que marcaram este 
prologando período.
Como então ordenar nosso estudo tendo em vista esta perspectiva histórico-
teórica e todos os pontos que ela apresenta? Bem, acreditamos que podemos 
empreender esta tarefa buscando articular tanto os fundamentos teológicos, quanto 
os eclesiológicos, considerando os desafios culturais e sociais contemporâneos e suas 
diversas expressões diante da missiologia atual. Sendo assim, dividiremos nosso estudo 
em três momentos.
Na Unidade 1, abordaremos de forma crítica e reflexiva a origem da promessa 
messiânica presente ainda no Velho Testamento, sua importância na compreensão 
da vinda do Cristo, a mensagem do Evangelho e o estabelecimento do querigma 
cristão. Teremos ainda o estudo dos fundamentos teológicos da missão apostólica, 
a incumbência da evangelização dada por Cristo aos primeiros discípulos, o trabalho 
missionário do apóstolo Paulo e seus desafios diante da sólida tradição clássica do 
mundo pagão antigo.
APRESENTAÇÃO
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos os fundamentos eclesiológicos 
que marcam o desenvolvimento da missão no período medieval, momento este tão 
importante para o surgimento e fortalecimento da Igreja cristã, tendo como base, 
principalmente, o estabelecimento de suas doutrinas e ensinamentos. Analisaremos 
os Concílios, as discussões teológico-filosóficas e os principais desdobramentos 
deste processo no estabelecimento de bases teológicas bem definidas e de toda uma 
fundamentação eclesiológica e doutrinal. 
Por fim, na Unidade 3, analisaremos os principais desafios e perspectivas 
que se apresentam à discussão da missiologia contemporânea, seja em vista da 
multiculturalidade, das diversas expressões sociais, políticas e intelectuais que moldam 
o mundo contemporâneo. Buscaremos ainda compreender como as novas tecnologias 
e as mídias de massa têm influenciado no processo de evangelização. Além disso, 
discutiremos ainda o aspecto ecumênico e as novas tentativas de diálogo entre as 
denominações cristãs contemporâneas.
Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de expressar 
suas próprias considerações sobre todos os temas estudados, aprimorando seus 
conhecimentos, colocando em prática suas reflexões e aplicando-as em sua atividade 
profissional.
Bons estudos!
Prof. Marcone Costa Cerqueira
GIO
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – 
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR 
Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite 
que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, 
é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
QR CODE
SUMÁRIO
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA DA MISSÃO .....................................1
TÓPICO 1 — A PROMESSA DO MESSIAS E O PRENÚNCIO DO QUERIGMA ............ 3
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
2 A PROMESSA QUERIGMÁTICA NO VELHO TESTAMENTO ..................................4
2.1 A PRIMEIRA ALIANÇA E A PROMESSA MESSIÂNICA....................................................6
3 A VINDA DO MESSIAS E A NOVA ALIANÇA ....................................................... 13
3.1 A NOVA ALIANÇA NO SANGUE DE CRISTO ..................................................................14
RESUMO DO TÓPICO 1 ...........................................................................................17
AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 18
TÓPICO 2 — O QUERIGMA NOS EVANGELHOS E A AÇÃO APOSTÓLICA............. 21
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 21
2 BOA-NOVA DE SALVAÇÃO A TODO O MUNDO: A UNIVERSALIDADE 
DO EVANGELHO .................................................................................................22
2.1 ASPECTOS DO MUNDO ANTIGO E A MENSAGEM DO EVANGELHO ....................... 26
3 O QUERIGMA COMO FUNDAMENTO DA MISSÃO APOSTÓLICA .......................28
3.1 O APOSTOLADO COMO OFÍCIO .......................................................................................30
RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................33
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................34
TÓPICO 3 — O APOSTOLADO PAULINO E O CONFRONTO COM O 
MUNDO PAGÃO ................................................................................. 37
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 37
2 A “VERGONHA” DO CRISTO E O PARADIGMA RELIGIOSO NA ANTIGUIDADE ......38
2.1 RELIGIÕES NACIONAIS E O PARADIGMA POLÍTICO-SOCIAL DA ANTIGUIDADE ......41
3 O FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA CRISTÃ NO APOSTOLADO DE PAULO 
ENTRE OS GENTIOS ...........................................................................................43
LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................49
RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................55
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................56
REFERÊNCIAS .......................................................................................................59
UNIDADE 2 — FUNDAMENTOS DA ECLESIOLOGIA DA MISSÃO ......................... 61
TÓPICO 1 — A TEOLOGIA DA MISSÃO NO INÍCIO DA IGREJA ..............................63
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................63
2 A SISTEMATIZAÇÃO DA TEOLOGIA CRISTÃ E OS PAIS DA IGREJA ................65
2.1 SANTO AGOSTINHO E O EMBATE CONTRA OS PAGÃOS E HEREGES .................. 69
3 A MENSAGEM DO EVANGELHO E OS PRIMEIROS CONCÍLIOS DA IGREJA ..... 73
3.1 OS CONCÍLIOS DE NICEIA, ÉFESO E NICEIA II ............................................................75
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 79
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................80
TÓPICO 2 — FÉ E RAZÃO NA TEOLOGIA DA MISSÃO NA IGREJA MEDIEVAL ......83
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................83
2 A MENSAGEM DO EVANGELHO E O CRIVO DA RAZÃO .................................... 84
2.1 A AMEAÇA DAS HERESIAS E A TEOLOGIA EVANGÉLICA DE TOMÁS 
DE AQUINO ..........................................................................................................................88
3 DEFESA E EXPANSÃO DA CRISTANDADE NO OCIDENTE ................................ 91
3.1 AS MISSÕES ENTRE OS “BÁRBAROS” E A EXPANSÃO DA IGREJA ....................... 92
RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................95
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................96
TÓPICO 3 — A TEOLOGIA DA MISSÃO E O PROBLEMA DA UNICIDADE 
DA IGREJA NA MODERNIDADE ........................................................99
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................99
2 DO CISMA À REFORMA: A EVANGELIZAÇÃO E A QUESTÃO DA 
UNICIDADE CRISTÃ .........................................................................................100
2.1 A REFORMA PROTESTANTE E A DIVISÃO DO “MUNDO CRISTÃO” NO 
OCIDENTE........................................................................................................................... 102
3 A TEOLOGIA DA MISSÃO E A CONQUISTA DO “NOVO MUNDO” ..................... 107
3.1 CATÓLICOS NO SUL E PROTESTANTES NO NORTE DO NOVO CONTINENTE ...... 108
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................. 111
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 114
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................115
REFERÊNCIAS ......................................................................................................117
UNIDADE 3 — A TEOLOGIA DA MISSÃO NA CONTEMPORANEIDADE ................119
TÓPICO 1 — EVANGELIZAÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO .............................. 121
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 121
2 A MENSAGEM DO EVANGELHO E A TRANSCULTURALIDADE ....................... 123
2.1 POR UMA TRANSCULTURALIDADE HORIZONTAL ....................................................127
3 PREGAR O EVANGELHO OU LEVAR UMA DOUTRINA? MISSÃO 
INCULTURADA .................................................................................................130
3.1 PAULO E A INCULTURAÇÃO ..........................................................................................132
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 135
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 136
TÓPICO 2 — A TEOLOGIA DA MISSÃO E A QUESTÃO SOCIAL ........................... 139
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 139
2 A EVANGELIZAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS .............................................140
2.1 A EVANGELIZAÇÃO E AS MINORIAS SOCIAIS ........................................................... 144
3 A EVANGELIZAÇÃO E A OPÇÃO PELOS POBRES ........................................... 147
3.1 EVANGELIZANDO OS POBRES DE NOSSA TERRA ................................................... 150
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 153
AUTOATIVIDADE .................................................................................................154
TÓPICO 3 — EVANGELIZAÇÃO, ECUMENISMO E A REVOLUÇÃO NAS 
COMUNICAÇÕES............................................................................. 157
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 157
2 EVANGELIZAÇÃO DE MASSA E AS MÍDIAS SOCIAIS .....................................158
2.1 “IDE POR TODA A ‘REDE’ PREGANDO O EVANGELHO” .......................................... 159
3 ECUMENISMO E A TEOLOGIA DA MISSÃO: REVISITANDO A QUESTÃO 
DA UNICIDADE CRISTÃ .....................................................................................161
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 165
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 167
AUTOATIVIDADE .................................................................................................168REFERÊNCIAS ......................................................................................................171
1
UNIDADE 1 — 
FUNDAMENTOS DA 
TEOLOGIA DA MISSÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender e analisar o conceito de querigma, sua relação com a promessa do 
Velho Testamento e a centralidade da figura do messias prometido;
• conhecer, analisar e compreender os fundamentos teológicos nos evangelhos e suas 
relações com a missão querigmática;
• analisar e compreender os fundamentos teológicos do apostolado e a centralidade 
da evangelização;
• conhecer e compreender os fundamentos da teologia cristã a partir dos aspectos 
centrais do apostolado de Paulo, bem como os aspectos teóricos, históricos e cultu-
rais da antiguidade.
 A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de 
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A PROMESSA DO MESSIAS E O PRENÚNCIO DO QUERIGMA
TÓPICO 2 – O QUERIGMA NOS EVANGELHOS E A AÇÃO APOSTÓLICA
TÓPICO 3 – O APOSTOLADO PAULINO E O CONFRONTO COM O MUNDO PAGÃO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
A PROMESSA DO MESSIAS E O 
PRENÚNCIO DO QUERIGMA
TÓPICO 1 — UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO 
Prezado acadêmico, começaremos a conhecer nesta unidade, de forma concisa 
e reflexiva, a relação entre o plano salvífico de Deus, seu anúncio ainda no contexto 
do Velho Testamento e sua efetivação na vinda do Messias, com o início da missão 
querigmática de sua Igreja. Para isso, é central a compreensão de uma noção de 
continuidade, ou seja, o plano salvífico de Deus está posto desde o início da Criação, 
após a queda do ser humano, e se concluirá tão somente com a volta gloriosa de Cristo. 
Ao analisarmos o início do plano salvífico de Deus nos voltamos, indelevelmente, 
para as escrituras do Velho Testamento, entendendo que ali está já posta a base da 
mensagem do Evangelho. Há uma situação na qual o ser humano se afastou de seu 
criador, preferindo estar apartado de sua glória e presença, a partir deste momento 
o plano de salvação se constitui como o restabelecimento deste laço rompido. Ao 
pensarmos no que está escrito em Gênesis 3,15 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “Eu porei 
inimizades entre ti, e a mulher; entre a tua posteridade e a dela. Ele te pisará a cabeça 
e tu procurarás morde-lhe no calcanhar”, podemos ver já posta a mensagem central do 
Evangelho. A vinda do Cristo para a redenção do ser humano que se distanciou de seu 
criador, cedendo ao engano da serpente, tendo-se já aí os elementos centrais da virgem 
que daria à luz a este salvador, bem como a árdua tarefa de Cristo sobrepujar o poder da 
morte representada pela figura do mal.
O início do Velho Testamento é já o cenário no qual está posta a promessa do 
Evangelho, a promessa de redenção, de restauração para o ser humano, bem como 
a promessa que deveria ser levada a toda humanidade, ou seja, está a instituição 
do querigma cristão que se concretizaria na missão delegada por Cristo. Por este 
entendimento, não podemos “fraturar” o plano salvífico de Deus, pretendendo haver um 
propósito no Velho Testamento e outro no Novo Testamento.
Essa visão implica em aceitar que não há um “Deus” dos judeus no Velho 
Testamento e um “Deus” cristão no Novo Testamento. Há sim uma etapa do plano 
salvífico de Deus, revelada ao povo escolhido, no qual viria o Messias, mas completada 
por uma etapa não só revelada, mas concretizada na vinda deste Messias. Desta forma, 
começar a tratar da teologia da missão apenas a partir do cenário neotestamentário, 
seria, como dito, “fraturar” o plano salvífico de Deus instituído desde o momento da 
queda do ser humano no paraíso. 
4
Sendo assim, analisaremos neste Tópico 1 a constituição do plano salvífico de 
Deus a partir da sua promessa de restauração do ser humano de sua condição de queda, 
indicando que tal instituição é já o prenúncio do querigma presente no Evangelho. Em 
seguida, demonstraremos como a vinda do Messias, apresentada no Novo Testamento, 
é a concretização da revelação dada por Deus desde os primórdios expressos no Velho 
Testamento. 
2 A PROMESSA QUERIGMÁTICA NO VELHO 
TESTAMENTO
 O termo “querigma”, quem tem raiz no grego, indica a ação de anunciar, proclamar, 
levar uma notícia a todos os lugares. Nesse sentido, a “promessa querigmática” é aquela 
que indica o prenúncio do “querigma”, a promessa da vinda do Messias que haveria de 
tirar o pecado do mundo. O “querigma”, enquanto anúncio, proclamação, levar a notícia 
da salvação, é a concretização da promessa já feita por Deus desde o momento da 
queda. Como vimos, a promessa de que o mal seria derrotado, pisado na cabeça, por 
aquele que haveria de vir libertar a humanidade. O querigma cristão é o anúncio da 
boa-nova de salvação em Cristo Jesus, como veremos no decorrer de toda a unidade, 
a mensagem de Jesus como Salvador, Messias e Senhor, deve ser levada por todos os 
seus discípulos e pregada a toda a humanidade. 
Em vista dessa compreensão, precisamos entender como o Messias é 
anunciado entre os Judeus e como sua verdadeira missão se concretiza na salvação de 
toda a humanidade. Como indica Alisson (1990, p. 222, Lc. 24,31): “para que o querigma 
chegasse a exercer a influência profunda e eficaz que obviamente exerceu, certamente 
deve ter causado uma experiência de salvação ou aberto o caminho para compreender 
a realidade pessoal e social dos que o ouviram, pelo fato de "seus olhos se abrirem”. Este 
caráter de abrangência da mensagem cristã é claramente o centro de todo o movimento 
de anunciação do Evangelho, a experiência de salvação que está contida nela não está 
restrita a uma nação ou tradição.
Na tradição judaica, a figura do Messias surge em um momento bastante 
específico, tendo como pano de fundo os cativeiros pelos quais o povo passou. Trata-se 
de um caminho bastante complexo a apresentação de todos os aspectos e as mudanças 
sofridas pela religião judaica em seus mais de 4.000 anos de existência. 
5
FIGURA 1 – AS LEIS MOSAICAS
FONTE: <https://shutr.bz/3085Vfe>. Acesso em: 15 jul. 2021.
Pode-se afirmar que no início do século I a.C., o reino grandioso de Davi e 
Salomão é apenas uma sombra presente nos escritos dos livros históricos do velho 
testamento e uma esperança ainda pulsante na promessa do Messias que o restauraria. 
Todavia, após séculos de tantas dominações estrangeiras e exílios, vendo sua promessa 
messiânica se tornar o ancoradouro de uma nova religião, o Judaísmo antigo começa a se 
direcionar para uma mudança dramática. 
A promessa do Messias sempre foi uma profecia para os judeus que continha 
tanto um cunho espiritual, quanto um cunho político, que anunciava a vinda daquele 
que restauraria a casa de Davi e a glória de seu reinado. Entretanto, a religião cristã, 
que surge das raízes judaicas, tem como líder um messias que prega a não-violência 
e a valorização do reino divino em prejuízo do reino terreno, um Messias puramente 
espiritual e nada político. 
Essa grande diferença de perspectiva entre as figuras dos dois tipos, e ambos 
surgem da mesma profecia messiânica, se acirra mais após a conversão do império 
mais poderoso do mundo, à época, ao Cristianismo. Como indica Neusner (1987, p. 59): 
“Se a história prova as proposições, como os profetas e os visionários apocalípticos 
tinham sustentado, então como podem os judeus negarem a reivindicação cristã de 
que a conversão do imperador, bem como do império, demonstrava o verdadeiro estado 
de relação entre o céu e a terra?”
A concepção de promessa messiânica própria da religião judaica deve ser 
compreendida, como indicado desde o início, dentro do plano salvífico de Deus que se 
revelaria por completo apenas em Jesus. Em vista disso, analisaremos sucintamente a 
questão da promessamessiânica a partir da perspectiva veterotestamentária, dentro 
da perspectiva da Aliança de Deus com seu povo escolhido para só então analisarmos a 
perspectiva do Messias que se revelou no Cristianismo.
6
2.1 A PRIMEIRA ALIANÇA E A PROMESSA MESSIÂNICA
Uma das passagens mais marcantes do livro do Gênesis é, sem dúvidas, a 
chamada de Abrão, depois Abraão, para se tornar o “pai de uma grande nação”. Segundo 
o Gênesis 12,1-3 (BÍBLIA SAGRADA, 2002):
1 - Então o Senhor disse a Abrão: “Saia da sua terra, do meio dos seus 
parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. 
2 - Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso 
o seu nome, e você será uma bênção. 3 - Abençoarei os que o 
abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de 
você todos os povos da terra serão abençoados”.
Esta chamada de Abraão carrega o núcleo do próprio plano salvífico de Deus ao 
estipular o que seria seu povo escolhido na Primeira Aliança e indicando a amplitude que 
tal aliança alcançaria no momento de completude do plano. A indicação de que “todos 
os povos da terra serão abençoados” traz já a promessa do Messias que haveria de 
redimir o mundo inteiro. Todavia, é preciso compreender esta etapa do plano de salvação 
construído por Deus, qual sua importância e como ele seria posteriormente renovado 
pelo “sangue da Nova Aliança”. As figuras de Abraão, como indicado, bem como a de 
Moisés, são centrais para se vislumbrar esta relação e como ela se estabelece em vista 
da constituição de um “verdadeiro povo Hebreu”. Como nos indica Campos (1961, p. 104):
É com Abraão que Yahvé faz o pacto primitivo, pelo qual o Deus lhe 
daria à descendência Canãa, por isso chamada “Terra Prometida”, 
enquanto o profeta se empenhava a uma eterna fidelidade. Daí vem 
o apelido “Deus da Aliança” com que se conhece Yahvé. Apesar 
disso tudo, há uma nova revelação, um novo ajuste, um código 
novo no Sinai, entre Yahvé e Moisés. Afinal, qual dos dois fundou a 
nacionalidade, Abraão ou Moisés, qual deles iniciou o culto de Yahvé, 
quem planejou a conquista de Canãa, quem foi o primeiro hebreu a 
arregimentar os de sua casta numa anfictionia e dar-lhes um código 
particular? A fórmula clássica até hoje, reza: “Yahvé, deus de Abraão, 
Isaque e Jacó”, e não “deus de Moisés”. 
As observações postas por Campos (1961) são extremante importantes, pois 
nos levam a pensar no longo processo que foi a construção de um plano de redenção 
para a humanidade. Aceitando, como posto desde o início, que o plano salvífico de Deus 
está instituído desde o momento da queda, devemos aceitar que a instituição de um 
povo escolhido, do qual viria o Messias prometido, é o primeiro estágio deste plano. 
7
FIGURA 2 – ABRAÃO E A PRIMEIRA ALIANÇA
FONTE: <https://shutr.bz/3ArgmGZ>. Acesso em: 15 jul. 2021.
Abraão é o “Pai do Povo Escolhido”, como nos diz o texto de Gênesis, o povo pelo 
qual todas as nações seriam abençoadas. Esse primeiro passo é a constituição de uma 
Aliança que se tornará a base do plano de redenção da humanidade, mas representa 
também o início das etapas, ou estágios que compõem este plano. A descendência de 
Abraão se constituiu de um pequeno povo, basicamente seus descendentes diretos. 
Como se lê em Gênesis 47 (BÍBLIA SAGRADA, 2002), a descendência de Abraão vai 
parar no Egito depois de toda a trajetória de Isaque e Jacó, como um grupo fugindo da 
fome e da sede na terra de Canaã. O período do povo judeu no Egito é um longo período 
de crescimento, numérico, bem como de provações e dificuldades. Segundo o texto 
de Êxodo 1,12 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “Todavia, quanto mais eram oprimidos, mais 
numerosos se tornavam e mais se espalhavam. Por isso os egípcios passaram a temer 
os israelitas”.
 Moisés, o libertador improvável, foi chamado por Deus de forma bastante 
peculiar, tendo saído fugido do Egito, ele não seria o porta-voz perfeito. Quando lemos 
o capítulo 4 do livro de Êxodo, vemos o próprio Moisés se autodeclarando incapaz de 
cumprir a tarefa de ir ao Egito libertar o povo judeu. Moisés chega mesmo a declinar 
da tarefa e ousa aconselhar a Deus a enviar outro, dizendo: “Ah, Senhor! Peço-te que 
envies outra pessoa” (BÍBLIA SAGRADA, 2002, Ex. 4,13). Moisés sabia de sua dificuldade 
em falar, mas certamente sabia também que seria execrado pelos egípcios em vista da 
forma como foi expulso. 
O novo acordo estabelecido com Moisés é exatamente a retomada da marcha 
do plano original de Deus. Entretanto, é preciso compreender que o cenário enfrentado 
pelo povo judeu após a saída do Egito e o caminho para a terra prometida é diverso 
daquele enfrentado pelos filhos de Isaque. O “Deus da Aliança” seria também o “Senhor 
dos Exércitos”, em outras palavras, a necessidade de se estabelecer na terra prometida 
levaria o povo judeu a se tornar um povo mais aguerrido e pronto para defender sua terra. 
8
Deus faz com Abraão uma aliança, uma promessa que se cumpriria dentro do 
tempo do Senhor. Com Moisés, Deus faz um pacto, o qual deveria ser respeitado pelo 
povo. O papel de Moisés é central porque é ele quem dá ao povo judeu um sistema 
político, legislativo e de solidificação de seus costumes, o estabelecimento das bases 
que constituem um corpo social. Em Moisés vemos surgir a tradição de um aspecto 
muito importante do caráter do Deus de Israel, a denominação de “Deus dos Exércitos”. 
É o que nos indica Weber (1970, p. 184): “[...] Yahvé torna-se e permanece a ser, ao menos 
para o Israel antigo, um Deus da organização social, […] desde Moisés ele é o Deus da 
Aliança da confederação israelita e, conforme o objetivo desta última, essencialmente 
o Deus dos exércitos”.
O povo estava dividido em tribos, os doze filhos de Jacó eram os patriarcas 
destas tribos, sendo Judá, Simeão, Rúben, Issacar, Nebulom, Gade, Dã, Naftali, Aser, 
Benjamin, José e Levi, cada uma com suas funções e participação na divisão da terra 
prometida. Essa “confederação israelita” ainda não tinha o caráter de um reino, nem 
mesmo de um povo que pudesse ser temido por seus inimigos que estavam ocupando 
a terra prometida por Deus a eles. Se Abraão foi o pai do povo de Deus, podemos 
compreender que Moisés foi o grande legislador e estadista, aquele que conseguiu 
conduzir o povo até as “portas da terra prometida” e deu a base social e política para 
que ele prosperasse. 
 
Fazendo um grande salto histórico, decorridas todas as diversas batalhas empre-
endidas por Josué e seus soldados, principalmente, aquela de Jericó, vemos o povo de 
Deus em pé de igualdade com praticamente todos os seus vizinhos. O grande período de 
governo estabelecido pela direção dos “Juízes de Israel” propiciou uma forma de gover-
no mais aberta, não centralizada, e praticamente baseada nas leis deixadas por Moisés ao 
povo. Figuras como Débora, Jefté e Samuel, foram tidas como exemplos de líderes religiosos 
que desempenharam um grande papel de Juízes, principalmente, em vista da fé. 
Vemos Samuel, o último dos Juízes e o primeiro dos profetas pós-mosaicos, 
receber o apelo do povo de que se instituísse um rei. Samuel, já idoso, nomeou seus 
dois filhos, Joel e Abias, como novos líderes do povo. Todavia, os filhos de Samuel são 
corruptos e levianos e este cenário levou o povo a fazer seu pedido de um rei, como está 
registrado em I Samuel 8, 4-5 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “4 Por isso todas as autoridades 
de Israel reuniram-se e foram falar com Samuel, em Ramá. 5 E disseram-lhe: ‘Tu já estás 
idoso, e teus filhos não andam em teus caminhos; escolhe agora um rei para que nos 
lidere, à semelhança das outras nações’”. 
 
Mais uma vez, o povo de Deus vacila e não consegue confiar totalmente em sua 
ação, preferindo uma saída mais parecida com aquela de seus vizinhos. Após a unção de 
Saul como rei dos Judeus, as coisas não melhoraram tanto quanto o povo esperava, além 
disso, as investidas dos povos vizinhos, principalmente dos Filisteus, continuavam. “A 
verdadeira mudança dos juízes para Saul, no que diz respeito ao reinado, foisimplesmente 
a presença duradoura do soberano e a compreensão das tribos de que, quando o rei 
chamasse, elas enviariam homens para lutar por ele” (BADEN, 2016, p. 68).
9
Saul foi um rei fraco, vacilante e pouco temente, tendo lampejos de momentos 
importantes, mas não tendo a suficiente firmeza nos momentos mais decisivos. Esse 
caráter errático de Saul o levou a cometer grave erro diante de Deus, descumprindo uma 
ordem direta, como vemos no livro de 1 Samuel 15 (BÍBLIA SAGRADA, 2002):
1 Samuel disse a Saul: “Eu sou aquele a quem o Senhor enviou 
para ungi-lo como rei de Israel, o povo dele; por isso escute agora a 
mensagem do Senhor. 2 Assim diz o Senhor dos Exércitos: “Castigarei 
os amalequitas pelo que fizeram a Israel, atacando-o quando saía do 
Egito. 3 Agora vão, ataquem os amalequitas e consagrem ao Senhor 
para destruição de tudo o que lhes pertence. Não os poupem; matem 
homens, mulheres, crianças, recém-nascidos, bois, ovelhas, camelos 
e jumentos”. 
 
As ordens do Senhor eram bem claras, porém, Saul não foi bem-sucedido em 
sua investida, ele não teve confiança no que o Senhor havia determinado e acabou por 
não cumprir por completo aquilo que havia sido ordenado. Ele enfrenta os amalequitas, 
vence, mas acaba sucumbindo à vontade do povo em detrimento à vontade de Deus. 
O resultado foi sua reprovação diante de Deus e sua deslegitimação como rei, como 
vemos na sequência do texto, Saul busca em Samuel uma forma de corrigir sua falha:
24 “Pequei”, disse Saul. “Violei a ordem do Senhor e as instruções 
que tu me deste. Tive medo dos soldados e os atendi. 25 Agora eu 
te imploro, perdoa o meu pecado e volta comigo, para que eu adore 
o Senhor.”
26 Samuel, contudo, lhe disse: “Não voltarei com você. Você rejeitou 
a palavra do Senhor, e o Senhor o rejeitou como rei de Israel!”. (BÍBLIA 
SAGRADA, 2002, Sam. 15,24-26)
 
Saul se torna um rei sem legitimidade, Samuel deve completar a ordem divina e 
o faz sacrificando o próprio rei Aguague. Este episódio é um divisor na história do povo 
de Deus, ao ser rejeitado, Saul se torna o símbolo da própria falta de fé do povo. Davi 
se torna o novo escolhido de Deus para governar o povo e continuar a marcha de seu 
plano de tornar aquela uma grande nação, como havia prometido à Abraão. Mais que 
isso, Davi seria o protótipo do Messias esperado pelos Judeus após os períodos de exílio 
e dominação sofridos. Além disso, deverá ser da “Casa de Davi” que virá este Messias 
em toda a sua legitimação, tanto espiritual quanto política, para o povo Judeu em 
sua tradição.
Na sequência do livro de 1 Samuel vemos Davi sendo ungido pelo profeta, 
sua épica luta contra Golias, o gigante Filisteu, todas as perseguições e disputas que 
envolveram sua relação com Saul, até o momento no qual ele consegue ascender ao 
trono. Todavia, a grande tarefa de Davi não era apenas suceder ao primeiro rei dos 
Hebreus, sua tarefa era exatamente unificar de forma definitiva o povo, Judá e Israel, 
formando assim a grande nação que Deus havia prometido. Isto está relatado em 2 
Samuel 5,1-5 (BÍBLIA SAGRADA, 2002), como lemos:
10
1 Representantes de todas as tribos de Israel foram dizer a Davi, 
em Hebrom: “Somos sangue do teu sangue. 2 No passado, mesmo 
quando Saul era rei, eras tu quem liderava Israel em suas batalhas. 
E o Senhor te disse: “Você pastoreará Israel, o meu povo, e será o 
seu governante””. 3 Então todas as autoridades de Israel foram ao 
encontro do rei Davi em Hebrom; o rei fez um acordo com eles em 
Hebrom perante o Senhor, e eles ungiram Davi rei de Israel. 4 Davi 
tinha trinta anos de idade quando começou a reinar, e reinou durante 
quarenta anos. 5 Em Hebrom, reinou sobre Judá sete anos e meio, 
e em Jerusalém reinou sobre todo o Israel e Judá trinta e três anos.
 
O reinado de Davi é longo, tendo durado mais de trinta anos, todavia, foi um 
período de preparação e crescimento, coroado posteriormente com toda a riqueza e 
poderio ostentados por Salomão. Além de ser este período de crescimento, é também 
um período de solidificação e aprimoramento do culto ao Senhor, da fé do povo e da 
centralidade da Arca da Aliança como sinal da presença de Deus. 
Salomão, filho de Davi, como profetizado por Natã, seria aquele que construiria o 
templo do Senhor para abrigar a Arca da Aliança. Esse período marca o ápice do reinado 
da Casa de Davi, marcando também o período de maior prosperidade e segurança vivido 
pelo povo de Deus. Entretanto, o cenário muda, a forma como o Senhor direciona os 
caminhos de seu povo parece novamente não condizer com a promessa de formar uma 
grande nação. 
FIGURA 3 – REI DAVI
FONTE: <https://shutr.bz/306hPGu>. Acesso em: 15 jul. 2021.
Após o reinado de Salomão, a estabilidade adquirida desde o reinado de Davi 
começa a ruir, Roboão, filho de Salomão e seu sucessor, vê o reino novamente ser 
dividido. Agora, o Reino de Judá e o Reino de Israel dividem a terra deste período em 
diante, o reino não seria unificado, o poderio e a glória presentes nos reinados de Davi e 
Salomão se foram, a idolatria, a falta de fé e a corrupção do povo traria o castigo do exílio. 
Ao Norte, as dez tribos da confederação israelita rompem a unificação e se separam. 
11
Esse cenário, além de demonstrar mais uma vez a rebeldia do povo contra o 
plano de Deus, estabeleceu também o futuro da nação, colocando ambos os reinos à 
mercê de seus inimigos. O primeiro reino a cair é Israel, sendo dominado pelos Assírios, 
em 722 a.C., posteriormente, em 586 a.C., o reino de Judá sucumbe ao poder do império 
babilônico, sendo dominado e exilado. De acordo com Otzen (2003), a Babilônia se tornou 
o maior centro de atividade dos Judeus fora de sua terra natal, tendo este fenômeno 
durante um longo período.
Mais uma vez, a promessa feita à Abraão parece distante. O pacto com Moisés 
parece não ter surtido efeito, a própria profecia de Natã à Davi, a de que seu reino 
duraria eternamente, parece não fazer mais sentido neste cenário caótico para os 
judeus. Porém, o cerne da questão é exatamente a infidelidade do povo e sua falta de 
compromisso com a Aliança feita com seu Deus. Vejamos o que nos diz o texto de 2 Reis 
17,13-15;18-20 (BÍBLIA SAGRADA, 2002):
13 O Senhor advertiu Israel e Judá por meio de todos os seus profetas 
e videntes: “Desviem-se de seus maus caminhos. Obedeçam às 
minhas ordenanças e aos meus decretos, de acordo com toda a Lei 
que ordenei aos seus antepassados que obedecessem e que lhes 
entreguei por meio de meus servos, os profetas”. 14 Mas eles não 
quiseram ouvir e foram obstinados como seus antepassados, que 
não confiaram no Senhor, o seu Deus. 15 Rejeitaram os seus decretos, 
a aliança que ele tinha feito com os seus antepassados e as suas 
advertências. Seguiram ídolos inúteis, tornando-se eles mesmos 
inúteis. Imitaram as nações ao seu redor, embora o Senhor lhes 
tivesse ordenado: “Não as imitem”. […] 18 Então o Senhor indignou-se 
muito contra Israel e os expulsou da sua presença. Só a tribo de Judá 
escapou, 19 mas nem ela obedeceu aos mandamentos do Senhor, o 
seu Deus. Seguiram os costumes que Israel havia introduzido. 20 Por 
isso o Senhor rejeitou todo o povo de Israel; ele o afligiu e o entregou 
nas mãos de saqueadores, até expulsá-lo da sua presença. 
 
A promessa de uma renovação estava sempre presente, mas, ao mesmo tempo, 
sempre distante. Como já indicado desde o início, é preciso entender que os planos de 
Deus para a salvação da humanidade estão entrelaçados com seu plano para seu “povo 
escolhido”. A Aliança do Senhor com Israel estabeleceu o cenário no qual deveria vir o 
Messias salvador do mundo, aquele que poderia pisar a cabeça da serpente. Todavia, 
o “povo escolhido”, eleito por Deus desde Abraão, não havia cumprido sua parte na 
Aliança, assim, uma Nova Aliança se fazia necessária. 
Isaías é o profeta que mais profetiza a este respeito, sendo ele também o profeta 
em Judá no momento de exílio para a Babilônia. Suas profecias são já o anúncio da 
promessa querigmática, a vinda do Messiasque tiraria o pecado do mundo, o servo sofredor 
que curaria todas as feridas. Lemos em Isaías 7,14 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “Por isso o 
Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará 
Emanuel”. Essa profecia é a confirmação da promessa feita por Deus ainda no Gênesis, a 
qual indicava que a “descendência da mulher pisaria a cabeça da serpente”. A vinda do 
Messias é já indicada em seus detalhes, desde o nascimento virginal até o sofrimento 
que ele deveria padecer. Vejamos o texto de Isaías 53,1-7 (BÍBLIA SAGRADA, 2002):
12
Quem creu em nossa mensagem? E a quem foi revelado o braço 
do Senhor? 2 Ele cresceu diante dele como um broto tenro, e como 
uma raiz saída de uma terra seca. Ele não tinha qualquer beleza ou 
majestade que nos atraísse, nada havia em sua aparência para que 
o desejássemos. 3 Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um 
homem de dores e experimentado no sofrimento. Como alguém 
de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não 
o tínhamos em estima. 4 Certamente ele tomou sobre si as nossas 
enfermidades e sobre si levou as nossas doenças; contudo nós o 
consideramos castigado por Deus, por Deus atingido e afligido. 5 
Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi 
esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe 
paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. 6 Todos 
nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para 
o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de 
todos nós. 7 Ele foi oprimido e afligido; e, contudo, não abriu a sua 
boca; como um cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma 
ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a 
sua boca.
 
Esta é tida como a mais clara profecia sobre a missão redentora de Cristo, o 
servo sofredor que dá a sua vida pela salvação do mundo inteiro. Este é o caráter divino 
que reveste a figura do Messias, não apenas um líder político ou restaurador da dinastia 
davídica. De acordo com Hodge (2001, p. 368), essa divindade do Messias está expressa 
em três efeitos: “são atribuídos tais efeitos com vistas a provar que ele é uma pessoa 
divina. Esses efeitos são a purificação, o perdão do pecado e a perfeita segurança”. 
São todos elementos que remetem à missão espiritual e salvífica de Cristo, o plano de 
salvação estipulado por Deus desde o momento da queda. 
Como já indicamos, o querigma é a anunciação das boas-novas de salvação 
presentes na mensagem de Cristo, revelando-o como Salvador, Messias e Senhor. A 
grande concretização do plano salvífico de Deus se dá exatamente na vinda deste 
Messias que foi prometido desde o momento da queda, teve sua vinda preparada no 
povo escolhido de Deus, da linhagem de Davi, sendo revelado ao mundo a partir da 
mensagem do Evangelho por meio da pregação de seus apóstolos, os anunciadores 
do querigma. 
FIGURA 4 – TODA A BÍBLIA TESTEMUNHA A VINDA DE JESUS O MESSIAS
FONTE: <https://shutr.bz/3uRN6Il>. Acesso em: 3 ago. 2021.
13
A Nova Aliança firmada a partir do sangue de Cristo será feita com toda a 
humanidade, pertencendo à todas as pessoas que aceitarem a verdade do Evangelho. 
A partir deste ponto discorreremos, também de forma sucinta, sobre os aspectos desta 
Nova Aliança e a vinda do Messias.
3 A VINDA DO MESSIAS E A NOVA ALIANÇA
A espera de um Messias ativo politicamente, que pudesse restaurar a “Casa de 
Davi” e livrar o povo Judeu de seus opressores vai marcar todo o período inter-bíblico, 
sendo ainda muito presente no próprio cenário no qual surge Jesus. Os dois grandes 
exílios experimentados tanto pelo reino de Israel, ao norte, quanto pelo reino de Judá, 
ao sul, reforçaram esta esperança, tendo grande impacto na própria forma como a 
mensagem de Cristo foi recebida em seu tempo. 
De acordo com Rainer (2009), muitos Judeus migraram para Alexandria, 
desde 200 a.C. até o século I, em busca de riqueza, maior liberdade e proteção contra 
as invasões de reinos do próprio Oriente Médio. A corrente judaica predominante em 
Jerusalém neste momento é a farisaica, mais tradicional e intransigente, principalmente, 
se comparada às correntes sapienciais que se formaram entre os Judeus helenísticos, 
aqueles que viviam em cidades gregas, e os judeus, que ficaram na Palestina durante 
os exílios. 
O zelo dos fariseus pela tradição e pelos rituais, sobretudo, os Zelotes, será um 
dos maiores dificultadores da aceitação da mensagem de Jesus, especialmente, no que 
se refere à sua revelação messiânica. Era inaceitável para os fariseus um Messias que 
negasse todas as normas ritualísticas e se declarasse o próprio filho de Deus. Jesus não 
se declara o Messias esperado, mas em sua pregação, a sua unicidade com Deus Pai é 
latente, incomodando ferozmente os fariseus. 
Está posta a “pedra angular” para a construção do reino eterno de Deus, não 
apenas a partir da promessa feita à Abraão, mas a partir do sacrifício de seu próprio 
Filho Unigênito. Isso não quer dizer que toda a história da ação de Deus com seu povo 
escolhido tenha sido apagada, anulada, invalidada, o próprio Messias haveria de vir da 
linhagem de Davi, fato expresso na linhagem de Jesus por parte de sua mãe. A revelação 
de seu Filho é o início de uma nova aliança, mais abrangente, mais poderosa, irrestrita e 
duradoura, a qual não será quebra até o dia do Juízo Final.
Esta é a base do querigma cristão, a verdade contida na vinda do Cristo, Redentor 
do mundo, Salvador e Senhor, o qual entregou sua própria vida em favor de todo ser 
humano que se arrepende, deixe seus pecados e siga seu caminho. Para buscarmos 
compreender um pouco melhor os aspectos desta nova “fase” no plano salvífico de 
Deus, analisaremos a questão da Nova Aliança no sangue de Cristo.
14
3.1 A NOVA ALIANÇA NO SANGUE DE CRISTO 
A Nova Aliança é marcada pela abrangência da ação redentora de Cristo, a cada 
indivíduo coberto pelo “sangue do Cordeiro”, além, toda a criação será redimida do “reino 
da morte”. Como instrui o apóstolo Paulo aos Romanos 8,21 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): 
“na esperança de que também a própria natureza criada será libertada do cativeiro da 
degeneração em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade outorgada aos filhos 
de Deus”.
Assim, todo aquele que ouvir o Evangelho deve reconhecer em Cristo Jesus 
a marca do amor de Deus a toda criatura, entendendo que o pecado gerado no Éden 
corrompeu a toda a humanidade, mas a salvação é gratuita, universal e eterna. Isso quer 
dizer que a Nova Aliança não é um tipo de nova tentativa da primeira, uma espécie de 
reajuste, mas a concretização da revelação do plano salvífico de Deus, não é necessário 
ter ligação com a primeira, apesar de ambas serem etapas do plano divino. 
Nesta Nova Aliança não há mediadores entre Deus e o indivíduo redimido. 
Jesus pagou o preço na cruz pela alma de cada um, não é necessário a pertença a um 
determinado povo, nem a uma tradição, nem mesmo à mediação de outros indivíduos. 
Pelo Sangue de Cristo foi dado acesso direto ao Pai, a promessa não é feita a um líder 
ou a um patriarca, mas diretamente a todo indivíduo que aceita a Cristo como salvador. 
Na Nova Aliança, Deus mesmo envia seu filho como “sacrifício vivo”, seu sangue é 
derramado, sem mediadores, sem o peso da lei, o centro do sacrifício de Cristo é a 
fé e o amor. Não poderia haver nenhum entrave, nenhuma barreira que impedisse a 
relação direta entre Deus e cada indivíduo humano. Esse mistério divino, essa marca da 
liberdade espiritual trazida pela salvação em Cristo Jesus, é central na constituição de 
uma aliança que não depende da vontade dos homens, no sentido de ser legitimada por 
uma tradição, mas emana da própria autoridade divina.
O anúncio da Nova Aliança está presente no Velho Testamento, o contexto dos 
exílios é o pano de fundo no qual surge tal anúncio e no qual surge a promessa de um 
renovo que não se limitaria à Israel e Judá. Deus havia prometido à Abraão que em 
sua descendência seriam abençoadastodas as nações da terra, este renovo, esta Nova 
Aliança anunciada já no período de exílio do povo de Deus é a confirmação da promessa 
feita à Abraão. Vejamos o que está contido na profecia de Jeremias sobre a realidade 
da Nova Aliança:
29 “Naqueles dias não se dirá mais: ““Os pais comeram uvas verdes, 
e os dentes dos filhos se embotaram”. 30“Ao contrário, cada um 
morrerá por causa do seu próprio pecado. Os dentes de todo aquele 
que comer uvas verdes se embotarão. 31 “Estão chegando os dias”, 
declara o Senhor, “quando farei uma nova aliança com a comunidade 
de Israel e com a comunidade de Judá. 32 Não será como a aliança 
que fiz com os seus antepassados quando os tomei pela mão para 
tirá-los do Egito; porque quebraram a minha aliança, apesar de eu ser 
o Senhor deles, diz o Senhor” (BÍBLIA SAGRADA, 2002, Jer. 31,29-31).
 
15
A Nova Aliança não é um acordo com um grupo de pessoas ou nação, neste 
sentido, não é algo restrito à alternância das gerações, cada qual é responsável por 
seu próprio caminho diante de Deus. Não há mediadores, não há líderes, não há 
impedimentos causados por tradições políticas, culturais ou meramente institucionais. 
O pecado é algo universal, está impregnado na alma do ser humano desde o momento 
da queda, como diz o Salmo 51,5 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “Eis que em iniquidade fui 
formado, e em pecado me concebeu minha mãe”. O ser humano já nasce sob o signo 
do pecado, a marca da ausência da glória de Deus que mancha a humanidade desde o 
erro de Adão e Eva.
Não sendo a Nova Aliança restrita, pois o pecado é universal, marca a cada ser 
humano, a salvação também não é restrita, não se relaciona a uma tradição. Cada qual 
será culpado de seus próprios pecados, não há barreira de nacionalidade, grupo social, 
cor ou tradição cultural, tal é a abrangência dos termos da Nova Aliança. O texto fala da 
Nova Aliança com a comunidade de Israel e Judá, não mais nos termos daquela aliança 
feita na saída do Egito. Jesus nasce como um judeu, saindo da própria linhagem de 
Davi. Deus cumpre sua promessa, da descendência de Abraão vem a Nova Aliança que 
fará abençoada cada nação da terra. A questão é que o povo de Deus não reconheceu 
essa ação divina, como nos diz Isaías, “ele foi rejeitado”.
O próprio Jesus afirma que não veio negar a lei, mas cumpri-la, como está em 
Mateus 5,17 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; 
não vim abolir, mas cumprir”. Jesus não se coloca como antagonista da Velha Aliança, 
como negação das leis, mas ele se apresenta como a confirmação da Lei e dos Profetas. 
Como indica Bartmann (1962, p. 27): “Cristo mesmo apresentou-se como a palavra 
conclusiva e decisiva de Deus ao mundo.” Como já discutimos acima, a visão de um 
Messias “libertador de Israel” ainda estava presente entre os Judeus na época de Jesus, 
principalmente, por conta do tradicionalismo farisaico.
A marca da Nova Aliança é o sangue de Cristo, assim como o sangue do cordeiro 
imolado por Moisés marcou o compromisso no Sinai. O sangue de Cristo é o selo da 
Nova Aliança de Deus com cada indivíduo. Durante a última ceia, Jesus reafirma que 
seu sangue, que será derramado em favor de muitos, é o sangue da Nova Aliança, como 
vemos em Lucas 22,20 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “Da mesma forma, depois da ceia, 
tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em 
favor de vocês”.
Jesus anuncia a seus discípulos que aquele vinho representa seu sangue, o 
pacto da Nova Aliança com Deus, assim como o sangue do cordeiro no Sinai, o sangue de 
Cristo é a marca de um compromisso feito pelo próprio Deus. Desta forma, ao anunciar a 
verdade do Evangelho, os discípulos poderiam anunciar que a salvação é gratuita, pois 
foi paga com o sangue de Cristo para remissão de todos os pecados daquele que se 
converte e se arrepende. 
16
A obra Teologia da missão: aspectos fundamentais da missão de Deus 
e da Igreja, de Willibaldo Ruppenthal Neto (2020), trata dos aspectos 
fundamentais das missões em seus aspectos presentes no Velho 
e Novo Testamento, em uma abordagem teórica e histórica. Obra 
presente na Biblioteca Virtual.
DICA
O querigma começa exatamente no momento em que Jesus, o Cristo Verdadeiro, 
completa sua missão delegada pelo Pai. A partir deste momento a autoridade do sangue 
de Cristo é o único poder capaz de salvar a humanidade da condenação do pecado e 
reaproximar o ser humano de Deus, seu criador. Sem intermediadores humanos, sem 
líderes que detêm o “monopólio da voz de Deus”, sem qualquer entrave que impeça uma 
ligação direta entre Deus e o pecador arrependido.
Tendo como base todos estes pontos que discutimos neste tópico, passaremos 
para o seguinte, buscando compreender melhor a questão do querigma nos Evangelhos 
e a missão apostólica, principalmente, em vista da pregação entre os povos que 
desconheciam a promessa da vinda do Messias.
17
Neste tópico, você aprendeu:
• O plano de salvação de Deus para a humanidade começa exatamente no momento 
da queda, a restauração de toda a humanidade à presença de seu criador. Este 
plano salvífico se desenrola na história, tendo suas fases definidas pela inescrutável 
vontade divina. 
• A primeira aliança firmada entre Deus e Abraão é já uma parte do plano salvífico de 
Deus, o povo escolhido do qual haveria de vir o salvador do mundo inteiro. Esta aliança 
implica em toda a história de relação entre Deus e seu povo, preparando o caminho 
para a vinda do Cristo.
• A promessa querigmática, a vinda do Messias que se tornaria o Salvador, o Senhor 
e Libertador do mundo, está já presente no Velho Testamento, anunciada por Deus 
desde o jardim do Éden e confirmada pelos profetas.
• A Nova Aliança, marcada pelo sangue de Cristo, é o pacto de salvação firmado entre 
Deus e toda a humanidade. Nesta Nova Aliança não há mediadores humanos, não há 
entraves ou barreiras culturais, nacionais, políticas ou institucionais, sua autoridade 
está no próprio sacrifício de Jesus na cruz, sendo ele o único mediador entre Deus e 
o ser humano.
RESUMO DO TÓPICO 1
18
AUTOATIVIDADE
1 Ao pensarmos nos livros do Novo Testamento, principalmente, nos Evangelhos, somos 
confrontados com a questão da existência de um testamento anterior, um Velho 
Testamento, o qual tem em sua maior parte da história do povo Judeu e sua trajetória 
político-social. Contudo, este Antigo Testamento é utilizado na tradição cristã. Tendo 
em vista esta questão, a centralidade da história judaica no Velho Testamento e a 
mensagem cristã no Novo Testamento, assinale abaixo a alternativa CORRETA:
a) ( ) A tradição judaica não reconhece o chamado Novo Testamento, bem como 
classifica e nomeia de forma distinta o chamado Velho Testamento, o qual é 
utilizado na tradição cristã para compreender e legitimar a vinda do Messias e o 
plano de Deus.
b) ( ) O Velho Testamento é utilizado pela tradição cristã como forma de demonstrar 
a superioridade da Nova Aliança, apresentando todas as falhas existentes na 
primeira aliança, não estão presentes na tradição judaica.
c) ( ) Na tradição judaica, o Novo Testamento é apresentado como uma releitura da 
Torá, ou seja, uma forma de comentário aos textos Sagrados do Velho Testamento, 
assim, a própria mensagem do Cristo é tida como uma releitura da promessa do 
Messias.
d) ( ) A tradição cristã utiliza o chamado Velho Testamento para justificar o plano de 
salvação proposto por Deus desde o início da Criação, o qual foi aprimorado na 
Primeira Aliança com Abraão e repactuado na Nova Aliança em Cristo.
2 Na tradição judaica a vinda do Messias é muito importante para se compreender a 
forma como o povo vê seu pacto com Deus e a maneira como ele espera que o Senhor 
cumpra sua promessa, feita à Abraão. Esta promessa ganha força, principalmente, 
após os períodos de exílio sofridos pelos reinos de Israel e Judá, após a separação do 
reino. Tendo em vista esta temática, analise as sentenças a seguir:
I- O Messias esperado pela tradição judaica, principalmente,após o exílio, é um agente 
que restauraria a liberdade e a glória do reino davídico, mais político que espiritual.
II- Os judeus negaram à Jesus como Messias, pois ele não confrontou o império 
romano, mas preferiu ser um líder popular pacifista. 
III- A tradição judaica promulga que o Messias que haveria de vir restaurar a casa 
de Davi seria um semideus, vindo da parte do próprio Deus, operando milagres e 
restaurando o culto no templo.
19
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença I está correta.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
3 A mensagem do Evangelho é uma nova perspectiva de religião, tendo em vista a 
tradição religiosa dominante na Antiguidade, esta característica implicou em uma 
novidade que abrangia vários aspectos da vida político-social dos Judeus e dos novos 
crentes que iam se juntando à nova fé. Tendo em vista esta temática, classifique V 
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) A mensagem do Evangelho trazia a novidade de não vincular a religião à questão da 
salvação da alma, como fazia a religião grega.
( ) A tradição religiosa da Antiguidade tinha como característica a relação entre religião 
e organização político-social, sendo na verdade uma religião nacional.
( ) No contexto geral da Antiguidade, o Evangelho representava uma mensagem 
universal, que poderia alcançar a qualquer um que aderisse ao conjunto ritualístico 
contido nele.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – F.
c) ( ) V – V – F.
d) ( ) F – F – V.
4 A questão da universalidade do Evangelho é central para se compreender sua 
expansão rápida e sua difusão em culturas tão diferentes como a grega, a romana e 
a própria cultura judaica, este caráter de abrangência era novidade para os padrões 
da época. No entanto, os aspectos que tornam o Evangelho universal são bem claros. 
Disserte sobre esta questão dos aspectos que permitem ao Evangelho ser uma 
mensagem universal.
5 As principais premissas do Evangelho na Nova Aliança estão no chamado Novo 
Testamento, o qual apresenta a vida de Jesus e ação de seus discípulos na pregação 
de sua palavra. Esta pregação é conhecida como querigma, a anunciação de que 
Jesus é o Salvador, Senhor, Messias e intermediar, entre Deus e o homem. No entanto, 
a tradição cristã utiliza o Velho Testamento para legitimar esta condição messiânica 
de Jesus. Disserte sobre esta questão da promessa querigmática de Cristo presente 
no Velho Testamento.
20
21
O QUERIGMA NOS EVANGELHOS 
E A AÇÃO APOSTÓLICA
UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO 
Acadêmico, neste Tópico 2 nos concentraremos na discussão sobre a questão 
querigmática, sua função na construção do reino espiritual de Cristo, bem como seu 
desenvolvimento na ação dos apóstolos. É importante perceber que o Evangelho é 
uma mensagem universal, não está atrelada a uma tradição cultural ou nacional, não 
se baseia em legitimação institucionalizada, muito menos restringe sua verdade à 
autoridade daquele que o prega. 
O Evangelho tem sua autoridade no sangue de Cristo, na verdade da salvação 
e na esperança da vida eterna em Jesus. Esses aspectos são preponderantes para se 
compreender como o querigma, a anunciação da verdade do evangelho de Cristo, pode 
ser recebido por todos os indivíduos que tomam conhecimento do plano salvador de 
Deus Pai revelado em Jesus.
FIGURA 5 – A MENSAGEM DO EVANGELHO É UNIVERSAL
FONTE: <https://shutr.bz/3uOv2is>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Precisamos compreender o cenário no qual o querigma se desenvolve, quais os 
desafios de uma pregação que se volta para o mundo inteiro, todos os entraves, disputas 
e desafios. Certamente é muito difícil tratar de todos os aspectos que envolvem esta 
discussão, o aspecto político, histórico, religioso etc. Todavia, buscaremos centrar foco 
nos aspectos que mais se relacionam com a missão apostólica de levar a mensagem 
do Evangelho a todo o mundo, bem como os principais fundamentos teológicos desta 
22
missão. O momento no qual emerge a missão dos apóstolos é um momento muito 
delicado, quase todo o mundo conhecido é dominado ou pelo império romano, ou pelos 
impérios árabes. 
Além desses aspectos mais relacionados ao contexto no qual o querigma surge 
como missão dada por Cristo, é preciso também compreender os aspectos teológicos 
que fundamentam a missão apostólica, os pontos de apoio bíblicos que demonstram que a 
mensagem de salvação deve ser levada a toda criatura. Neste momento, é importante 
compreendermos como a missão apostólica se fundamenta na própria escritura, mas, 
ao mesmo tempo, acrescenta e atualiza esta escritura, demonstrando que o plano 
salvífico de Deus se fortalece na constante ação de evangelizar.
Tendo esses pontos como objetivo de nossa discussão neste tópico, passaremos 
sucintamente para a análise da questão do Evangelho como mensagem universal, 
boas-novas de salvação para todo o mundo, anunciação de redenção e libertação.
2 BOA-NOVA DE SALVAÇÃO A TODO O MUNDO: 
A UNIVERSALIDADE DO EVANGELHO
 Praticamente todas as principais religiões na época de Jesus são politeístas, ou 
seja, acreditavam na existência de vários deuses, entes espirituais, forças cósmicas ou 
naturais. Nesse sentido, é importante compreendermos como a mensagem de salvação 
aparecia para todos os povos acostumados com essas religiões e como esse fator era 
um dificultador da evangelização.
FIGURA 6 – OS DEUSES DA MITOLOGIA GREGA 
FONTE: <https://shutr.bz/3DlgPwl>. Acesso em: 15 jul. 2021.
23
O mundo civilizado era grego e romano, a centralidade dos valores políticos, 
militares, culturais, direcionavam os indivíduos para a vida nas cidades, para a busca do 
reconhecimento social e na conquista de glória. Porém, havia também aqueles povos e 
nações oprimidos, relegados ao segundo plano no cenário mundial, principalmente, em 
vista do domínio romano e grego. O Evangelho chega a estas pequenas nações como 
uma mensagem de alívio e esperança, sobretudo, em vista da promessa de uma vida 
eterna, sem sofrimento, sem dor, no gozo da paz de Cristo.
Quando Jesus começa seu ministério ele já traz consigo a anunciação das boas-
novas, como vemos em Marcos 1,14-15 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “14 Depois que João 
foi preso, Jesus foi para a Galiléia, proclamando as boas novas de Deus. 15 “O tempo é 
chegado”, dizia ele. “O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas 
novas!”. As boas-novas são a revelação do amor de Deus à humanidade, concretizada 
no envio de seu Filho Unigênito para remissão de todos os pecados. Essa mensagem é 
diversa de tudo aquilo que já tinha se ouvido pregar entre os Judeus e os demais povos 
da terra, nela está contida o plano de salvação de Deus para toda a humanidade, não 
apenas para um povo. Além disso, sua mensagem é franca, simples e poderosa, não 
necessita da autoridade humana, tem seu centro totalmente na figura do Cristo. 
Por esse prisma, é possível compreender que a Nova Aliança de Deus com 
o ser humano não tem um mediador humano, não tem uma liderança, ela começa e se 
concretiza na figura de Jesus Cristo, ele é profeta, sacerdote e juiz. Como bem aponta 
Strong (2003, p. 368): “O profeta comumente unia três métodos para cumprir o seu ofício: 
ensino, predição e operação de milagres. Em todos estes respeitos Jesus realizou a sua 
obra profética.” Assim, podemos compreender que Jesus concentra em si toda a autoridade 
que no Velho Testamento estava dividida entre o profeta, o sacerdote, o juiz e o rei.
Jesus começa seu ministério demonstrando sua autoridade, reunindo todas as 
prerrogativas de profeta e sacerdote, mas confia a homens simples a tarefa de auxiliá-lo 
em seu trabalho. Na sequência do texto de Marcos 1,16-20 (BÍBLIA SAGRADA, 2002) 
lemos o seguinte:
16 Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu Simão e seu irmão 
André lançando redes ao mar, pois eram pescadores. 17 E disse 
Jesus:“Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens”.18 No 
mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram.
19 Indo um pouco mais adiante, viu num barco Tiago, filho de Zebedeu, 
e João, seu irmão, preparando as suas redes. 20 Logo os chamou, e eles 
o seguiram, deixando seu pai, Zebedeu, com os empregados no barco.
 
A promessa de Jesus é a de que eles se tornariam pescadores de homens e, 
claramente, está já aí a missão evangelizadora que eles teriam: o querigma como objetivo 
do chamado. Poderíamos nos perguntar: por que Jesus não busca homens mais cultos, 
letrados, talvez vindos da elite judaica? A questão é que Jesus não estava preocupado 
com a autoridade da tradição, não importava se eram homens letrados, conhecedores 
de toda a Lei, ou mesmo estudiosos da religião. O chamado para auxiliar na anunciação 
24
das boas-novas do Evangelho é um chamado de confiança e fé, desprendimento e 
serviço. O querigma pressupõe todos estes aspectos, a missão de levar a verdade do 
Evangelho envolve compromisso, abnegação, fé e desprendimento.
 
Quando Jesus fala aos discípulos que se tornariam pescadores de homens, 
talvez eles não imaginassem que fosse algo tão literal, tão vivo, levando-os à lugares 
distantes ou extremamente desafiadores. A projeção do querigma como ação que se 
desenrolaria até os confins da terra também foi indicada por Jesus a seus discípulos, 
tendo em vista a mensagem de boas-novas. Em Mateus 28,18-20 (BÍBLIA SAGRADA, 
2002), temos o seguinte mandamento:
18 Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a 
autoridade nos céus e na terra. 19 Portanto, vão e façam discípulos 
de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do 
Espírito Santo, 20 ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes 
ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. 
A universalidade do Evangelho, sua mensagem de redenção para todo o mundo, 
é o conteúdo da ação querigmática, como discutimos anteriormente. Essa mensagem 
está fundada na autoridade do sangue de Cristo. Interessa-nos aqui compreender como 
Jesus pôde dar tal missão a seus discípulos, tendo em vista que eles nunca haviam 
saído da Galiléia, muito menos eram homens cultos ou preparados para tal missão. Os 
discípulos foram enviados a pregar a verdade de Cristo, esta mensagem que transcende 
todas as barreiras culturais, religiosas, políticas, militares, econômicas ou de qualquer 
outro tipo, assim, eles são anunciadores.
Nesse ponto é importante nos lembrarmos da ação do Espírito Santo, como 
indicado por Jesus, todo aquele que se arrepende de seus pecados deve ser batizado 
em nome do Pai (Deus), do Filho (Jesus) e do Espírito Santo. Não somente para se 
confirmar a conversão, mas desde o momento do convencimento, a ação do Espírito 
Santo é percebida, sendo ele o guia para a “verdade”. De acordo com o texto de João 
16,8-15 (BÍBLIA SAGRADA, 2002), Jesus afirma que: 
8 Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do 
juízo. 9 Do pecado, porque os homens não creem em mim; 10 da 
justiça, porque vou para o Pai, e vocês não me verão mais; 11 e do 
juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado. 12 Tenho 
ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora. 
13 Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a 
verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes 
anunciará o que está por vir. 14 Ele me glorificará, porque receberá do 
que é meu e o tornará conhecido a vocês. 15 Tudo o que pertence ao 
Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é meu e o 
tornará conhecido a vocês.
 
Na tarefa do querigma, o Espírito Santo é o guia que direciona todas as ações 
dos discípulos, convence o pecador de seus erros, dá prova da justiça e do amor de 
Deus, testifica a validade da promessa de salvação. Além disso, sua ação é mais um 
25
fator que garante a universalidade da mensagem do Evangelho, o Espírito Santo age 
livremente onde quer, sendo assim, não há barreiras ou entraves para sua função de 
guia da verdade. 
Certamente, este é um diferencial que marca a Nova Aliança de Deus com a 
humanidade. Não é preciso um templo para adorá-lo, nem mesmo um lugar sagrado no 
qual se deve prestar culto. A presença do Espírito Santo está em toda parte, ele capacita 
o indivíduo à adoração verdadeira, pois ele está no íntimo daquele que recebe a Jesus 
como salvador. Como afirma Paulo em 1 Coríntios 6,19 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “Ou não 
sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente 
de Deus, e que não sois de vós mesmos?
FIGURA 7 – O ESPÍRITO SANTO ESTÁ PRESENTE DESTE O INÍCIO DO MINISTÉRIO DE CRISTO
FONTE: <https://shutr.bz/3BpxPkq>. Acesso em: 4 ago. 2021.
Ainda em relação ao querigma, a anunciação do Evangelho pelos discípulos, 
o Espírito Santo tem uma tarefa preponderante, principalmente, em vista de todas as 
dificuldades relacionadas aos entraves causados pelos riscos envolvidos na missão. Ele é 
o advogado daqueles que anunciam a palavra de salvação, intercedendo e instruindo, 
como vemos no texto de Marcos 13,10-11 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): 
10 E é necessário que antes o evangelho seja pregado a todas as 
nações. 11 Sempre que forem presos e levados a julgamento, não 
fiquem preocupados com o que vão dizer. Digam tão-somente o que 
lhes for dado naquela hora, pois não serão vocês que estarão falando, 
mas o Espírito Santo. 
As boas-novas de salvação devem ser pregadas a toda criatura, em todas as 
nações da terra, esta é a tarefa que funda o querigma designado por Cristo. Os riscos 
não são escondidos por Jesus, porém, a consolação está exatamente no auxílio do Es-
pírito Santo, na sua iluminação e na sua proteção. A partir daí, o querigma é o movimen-
to contínuo de anunciação destas boas-novas, sob a guarda e orientação do Espírito 
Santo e sob o comando de Cristo Jesus ressuscitado. 
26
FIGURA 8 – A DESCIDA DO ESPÍRITO SANTO
FONTE: <https://shutr.bz/3mAyJ7v>. Acesso em: 15 jul. 2021.
Os discípulos não desconheciam os riscos, as dificuldades e as rejeições que 
enfrentariam, mas seguiram firme no propósito estipulado pela vontade divina de Deus. 
É preciso compreender melhor, como já indicamos, os pontos que caracterizavam o 
mundo antigo, as diversas nações e povos que ouviriam o Evangelho pela primeira vez. 
Assim, podemos compreender como a resistência ao Evangelho foi se constituindo, 
mas, ao mesmo tempo, como a “verdade da cruz” foi ganhando cada vez mais espaço. 
Dessa forma, analisaremos de forma breve os aspectos do mundo antigo e a mensagem 
do Evangelho.
2.1 ASPECTOS DO MUNDO ANTIGO E A MENSAGEM DO 
EVANGELHO
 Para nosso intuito neste estudo, parece bastante oportuno compreendermos 
como eram os principais aspectos deste Mundo Antigo, principalmente, tendo em vista 
a compreensão de quais foram os principais desafios impostos aos apóstolos para o 
cumprimento da missão querigmática. O primeiro grande império ocidental que marcou 
o impulsionamento de um novo modo civilizatório na antiguidade, foi, sem dúvidas, o 
império grego. 
Os gregos eram uma sociedade bem-organizada, dividida em cidades-Estados 
com autonomia tanto econômica quanto política, mas, quando necessário, estas cidades 
se uniam contra um inimigo em comum. Segundo Ohlweiler (1990, p. 64), a Grécia foi um 
importante centro comercial e cultural, apesar de desigual, como segue:
27
No século V a.C., a economia da Grécia não representava um todo 
homogêneo. O país era constituído de um certo número de Estados 
e regiões autônomas, com diferentes sistemas econômicos. Em 
muitas partes, continuava reinando um modo de vida arcaico. As 
regiões pastoris (Épiro, Acarnância e Etólia) e agrícolas (Tessália, 
Beócia, Lócrida, Fócida e Estados do Peloponeso) restavam muito 
atrasadas do ponto de vista social e político. Em contrapartida, 
numerosas cidades-Estado – Atenas, Corinto, Egina, Megara e Mileto, 
por exemplo – já se tinham convertido em importantes centros 
comerciais e manufatureirosmesmo antes das guerras médicas.
 
A importância das cidades gregas permanecerá até os tempos das viagens 
missionárias de Paulo e os demais apóstolos, cidades como Corinto, Tessália e outras, 
serão pontos de disseminação do Evangelho e implantação de igrejas. Ideias, expressões 
culturais, doutrinas religiosas diversas, tudo isso ajudou a moldar a cultura grega e a 
cultura pagã como um todo. No panteão grego, entre deuses como Zeus, Hera, Poséidon 
e Hades, não havia nenhum tipo de diferença moral entre os homens e os deuses. 
O Olimpo, morada dos deuses, era um lugar de ciúmes, invejas, disputas amorosas, 
enganos e traições, na religião grega, os deuses possuíam os mesmos defeitos que os 
humanos, ou seja, a ira, a inveja, a luxúria, a traição e, principalmente, a predileção pelos 
prazeres e a busca da alegria. 
 O império romano surge dentro de um vácuo civilizacional, a referência grega 
é decadente, os impérios árabes, como os persas, ameaçavam a estabilidade das 
sociedades ocidentais, o centro do poder havia mudado e Roma se tornaria o novo foco 
deste poder. A civilização romana surge a partir de um longo processo de lutas internas 
na península itálica, posteriormente se alargando para conflitos envolvendo outras 
civilizações importantes da época, como os cartagineses. 
FIGURA 9 – OS ROMANOS SE TORNARAM A CIVILIZAÇÃO MAIS INFLUENTE DA ANTIGUIDADE
FONTE: <https://shutr.bz/2Yu20ZQ>. Acesso em: 1º ago. 2021.
28
A educação romana era bastante rígida no que se referia à preparação dos 
indivíduos para o serviço à nação. Como nos comenta Pereira (2002, p. 196): “A partir dos 
sete anos, é o pai o educador […]. A educação familiar termina aos dezesseis anos, com 
a tomada da toga viril […]. Depois o serviço militar, para o qual o jovem fora preparado 
pelos exercícios físicos [...]”. O mundo antigo tinha se desenvolvido a partir dos valores 
advindos destas duas grandes civilizações, quase todo o conhecimento da época girava 
em torno de figuras gregas e romanas, o pensamento filosófico, as artes, a literatura, a 
arte militar, as instituições políticas etc. A própria religião deveria servir para solidificar 
a participação dos indivíduos na vida social, não sendo admitido uma noção religiosa 
que não considerasse tal fator. No entanto, mensagem de salvação é uma mensagem 
pessoal, individual, cada indivíduo deve avaliar sua vida, se arrepender de seus pecados 
e seguir uma vida santificada, voltada para o espírito. 
Esse cenário é o pano de fundo no qual os apóstolos desenvolverão seu ministério, 
a pregação do Evangelho deverá confrontar todos os valores e tradições que limitam a 
conversão dos indivíduos. Além disso, os próprios valores pagãos serão questionados 
pela verdade da fé em Cristo, como se vê na disputa de Paulo com as diversas tradições 
pagãs, principalmente, a tradição romana. Este desafio só poderia ser vencido a partir 
de uma base espiritual e teológica bem solidificada, apoiada na autoridade do sangue de 
Cristo e no auxílio do Espírito Santo. Em vista dessas colocações, analisaremos alguns 
dos aspectos que marcam o querigma como fundamento da missão apostólica, tendo 
em vista o cenário que acabamos de traçar sobre o mundo antigo.
3 O QUERIGMA COMO FUNDAMENTO DA MISSÃO 
APOSTÓLICA
A missão apostólica pode ser entendida como um acontecimento muito 
específico no plano salvífico de Deus e sua revelação para o mundo todo, não ocorreu 
apenas como resultado da novidade da mensagem pregada por Jesus, mas foi o 
processo de ampliação desta mensagem e de seu objetivo. Os apóstolos não eram 
apenas um grupo de novos religiosos que possuíam uma doutrina nova, baseada na 
vinda do Messias, e saiam pregando tal doutrina como forma de vida. Dentro do plano 
salvífico de Deus, projetado desde o momento da queda, que passa por toda a história 
do povo escolhido, que culmina com a vinda e a morte do Messias, o envio dos apóstolos 
é uma nova fase, um desdobramento natural. 
29
FIGURA 10 – A ÚLTIMA CEIA DE JESUS COM SEUS DISCÍPULOS
FONTE: <https://shutr.bz/3ahfk5M>. Acesoo em: 10 ago. 2021.
O ordenamento do querigma é a primeira instituição no processo de alcance do 
mundo todo com a mensagem da salvação que testificada desde o Velho Testamento. 
Jesus inicia seu ministério anunciado às boas-novas que haveriam de vir da parte de 
Deus pai. Ele faz discípulos, ou seja, escolhe aqueles que estariam ao seu lado durante 
todo o seu ministério terreno, ele prepara e capacita estes homens, mostra a eles 
todos os sinais e prodígios que o Senhor podia fazer. Esse processo, a preparação de 
discípulos, é a fase inicial do projeto querigmático de evangelização. 
Após a ressurreição, quando Jesus aparece para o grupo de discípulos, eles 
ainda estão vacilantes e temerosos, como está escrito em Lucas 24,38: “Ele lhes disse: 
“Por que vocês estão perturbados e por que se levantam dúvidas no coração de vocês?” 
(BÍBLIA SAGRADA, 2002). Não é de admirar que os discípulos estariam desnorteados, 
as coisas pareciam péssimas, Jesus havia morrido, eles não sabiam qual seria o fim que 
levariam. Porém, no momento em que aparece aos discípulos, Jesus indica qual seria o 
ponto de início da evangelização, do querigma de anunciação. Ainda em Lucas 24,46-
49 (BÍBLIA SAGRADA, 2002), lemos o seguinte:
46 E lhes disse: “Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e 
ressuscitar dos mortos no terceiro dia, 47 e que em seu nome 
seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas 
as nações, começando por Jerusalém. 48 Vocês são testemunhas 
destas coisas. 49 Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem 
na cidade até serem revestidos do poder do alto”. 
A autoridade do Evangelho está exatamente na mensagem de que Cristo 
venceu a morte, resultado do pecado original de Adão que cobre toda a humanidade, 
por isso, ele pode dar a vida eterna. Em nenhuma religião se tem uma mensagem tão 
poderosa como esta do Cristo que ressuscitou e pode garantir a vida eterna e o perdão 
dos pecados. Segundo Alisson (1990, p. 5): “o ponto central do querigma cristão consiste 
na afirmação de que um homem, ungido por Deus como o Cristo, ao mesmo tempo Deus 
e homem, sofreu uma morte violenta, infligida pelos homens, e ressuscitou”.
30
FIGURA 11 – A PALAVRA DE SALVAÇÃO PARA TODO O MUNDO
FONTE: <https://shutr.bz/3iGGyHY>. Acesso em: 18 jul. 2021.
É interessante percebermos que os discípulos permaneceram juntos após a 
crucificação de Cristo, com exceção de Judas, claro, mas que logo deveriam se separar 
e seguir cada qual seu caminho. Não parecia algo muito provável que um grupo de 
homens, pobres, sem posses, sem recursos, poderiam alcançar todas as nações da 
terra, muito menos que seriam levados a sério fora dos limites de suas comunidades. 
Todavia, o símbolo da ressurreição é também o símbolo da fé que move os discípulos, 
nada pode deter o plano de salvação estipulado por Deus, nem mesmo a morte, nem as 
dificuldades, a falta de recursos etc. 
3.1 O APOSTOLADO COMO OFÍCIO
O querigma é o início da construção da Igreja de Cristo, estabelecida por ele 
mesmo, na terra, a disseminação da mensagem do Evangelho, fazendo discípulos em 
todas as nações da terra, arregimentando todos aqueles que ouvem as boas-novas 
de salvação, se arrependem e são batizados. Os apóstolos são os primeiros obreiros 
desta Igreja que guarda a promessa da volta do Messias Verdadeiro. Sendo o querigma o 
fundamento do apostolado, a missão evangelizadora, podemos entender que a função 
do apóstolo é o primeiro ofício na nova Igreja de Cristo.
Quando indicamos que a função do apóstolo é um ofício, pensamos exatamente 
na construção da obra que se dá dentro do âmbito de uma comunidade de fé, em outros 
termos, aqueles que trabalham para Cristo têm um ofício, uma obra a desenvolver 
dentro da comunidade cristã. A comissão dada por Cristo aos discípulos foi o início 
de seu comando sobre os novos obreiros de uma comunidade que não seria apenas 
judaica, grega ou gentia, mas seria uma comunidade universal, indivisae eterna. A Igreja 
de Cristo se constrói a partir da pregação do Evangelho, a obra querigmática, que deve 
levar a palavra de salvação a todos os indivíduos, para que o Espírito Santo possa agir 
nos corações de todos aqueles que a ouvirem, convencendo-os de seus pecados.
31
O próprio termo “Apóstolo” já traz em sua raiz a ideia de que quem fala recebe a 
autoridade de alguém que é mais importante que ele, ou seja, o “apóstolo” é um enviado 
especial que representa oficialmente aquele que o enviou. Vejamos a definição de 
“apóstolo” segundo o Dicionário Bíblico Wycliffe (2007, p. 162):
O termo grego apóstolos vem do verbo apostellein, “enviar”, “remeter”. 
O substantivo e o verbo são usados pela LXX para traduzir o hebraico 
shalah e seus derivativos. Estas palavras gregas e hebraicas são 
ocasionalmente usadas para mensageiros com ênfase naquele que 
envia, de forma que o agente se toma uma extensão da personalidade 
e da influência do mestre (BÍBLIA SAGRADA, 2002, Gn 45.4-8; 1 Rs 14.6).
O apostolado como ofício da Igreja de Cristo implica em uma total submissão 
daquele que é enviado. Os apóstolos tiveram a missão de apresentar uma mensagem 
que era totalmente desconhecida pelas pessoas de sua época, não somente pela 
novidade da morte e ressurreição de Cristo, mas pelo fato de ser uma mensagem que 
não dependia de pertença social, Leis, rituais, templos sagrados etc. 
FIGURA 12 – OS APÓSTOLOS PREGAM DE CIDADE EM CIDADE
FONTE: <https://shutr.bz/3uPGMBn>. Acesso em: 10 ago. 2021.
A missão dos apóstolos, além de anunciar a palavra de salvação, incluía também 
a tarefa de compreender os meandros constitutivos dos cenários nos quais eles 
deveriam se inserir. O ofício de apóstolo exigia uma grande entrega, não só espiritual, 
mas também física e emocional, confrontar os diversos costumes e tradições pagãs, 
a falta de fé daqueles que desconheciam o amor de Deus, seria mais perigoso do 
que poderia parecer. Entretanto, Jesus já havia alertado a seus discípulos o que eles 
enfrentariam, como vemos em Marcos 13,9-10 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “9 Fiquem 
atentos, pois vocês serão entregues aos tribunais e serão açoitados nas sinagogas. Por 
minha causa vocês serão levados à presença de governadores e reis, como testemunho 
a eles. 10 E é necessário que antes o evangelho seja pregado a todas as nações”.
32
Nessa passagem, vemos Jesus sendo muito franco com seus discípulos, a vida 
de um servo do Deus Vivo não é nada fácil em um mundo entregue ao pecado e à 
escuridão. A missão querigmática dos apóstolos, o ofício que lhes foi designado, incluía 
a provação de passar por várias aflições, perigos de morte e castigos. Contudo, foi a 
obra dada pelo próprio Cristo, a base de crescimento de sua Igreja na terra e o início de 
um movimento que só terá fim com a volta gloriosa de Jesus, quando todas as nações 
ouvirem falar de seu Evangelho.
FIGURA 13 – A VOLTA GLORIOSA DE CRISTO
FONTE: <https://shutr.bz/2YtZPEW>. Acesso em: 10 ago. 2021.
Os apóstolos pregaram primeiro entre as comunidades judaicas presentes fora 
de Jerusalém e da Palestina. Como já discutimos anteriormente, havia uma grande 
comunidade judaica fora da Palestina, principalmente, nas cidades gregas, as quais 
eram os mais importantes centros comerciais da época. Um interessante panorama da 
expansão da comunidade cristã logo no século I d.C., nos é dada por Ohlweiler (1990, 
p. 187), como segue: “As primeiras comunidades cristãs formaram-se, seguramente, 
durante a segunda metade do século I d.C., entre os judeus da diáspora […] Aí, pelo início 
do século II, o Cristianismo estava penetrando na Grécia. […] Por ocasião da primeira 
metade desse século, havia já adeptos do novo credo em Roma [...]”.
Essa clara descrição do processo de crescimento da comunidade cristã de-
monstra aquilo que o próprio Cristo disse aos seus discípulos, “primeiro em Jerusalém 
e até os confins da terra” (BÍBLIA SAGRADA, 2002, Lucas 24,47). O querigma começa 
então entre a comunidade dos Judeus que estavam desgarrados de sua nação, aque-
les que haviam deixado Jerusalém e ido viver em outros lugares, porém, não poderia 
se restringir a este grupo, deveria chegar até os gentios, por um homem escolhido e 
chamado por Cristo, Paulo de Tarso. No próximo tópico, buscaremos tratar desta figura 
que foi tão importante para o avanço da pregação do Evangelho e da comunidade cristã 
como um todo.
33
Neste tópico, você aprendeu:
• O querigma é marca do Evangelho, pois é a anunciação da verdade salvadora de 
Cristo, o Senhor, Salvador e Messias. Este querigma é o início da Igreja de Cristo na 
terra e a base de seu crescimento.
• O Evangelho é uma mensagem universal de salvação, não está presa a nenhuma 
tradição, cultura, rituais ou legitimação humana. As boas-novas de salvação são 
pregadas primeiro por Cristo, o qual chama como seus ajudadores homens simples 
que deveriam se tornar seus discípulos e levar a diante a anunciação das boas-novas.
• O mundo antigo, no qual o querigma deveria ser desenvolvido pelos apóstolos, 
era composto por diversas culturas pagãs, principalmente, influenciadas pelas 
civilizações grega e romana. Estas culturas estavam baseadas em religiões politeístas, 
fortemente ligadas aos costumes e valores constitutivos da organização social.
• A missão apostólica está baseada no querigma, na anunciação da verdade do 
Evangelho e na construção da Igreja de Cristo na terra. Esta missão se desenvolve 
dentro do plano salvífico de Deus e visa a evangelização de todas as nações, este é o 
ofício apostólico que se estabelece após a assunção de Cristo.
RESUMO DO TÓPICO 2
34
AUTOATIVIDADE
1 O Evangelho surge como uma mensagem a ser levada a todas as criaturas, pregada 
em todas as nações e será a salvação de todo aquele que aceita a remissão de 
seus pecados através do sangue de Cristo derramado em sacrifício na cruz. Esta 
mensagem tem um caráter universal, o qual só é possível a partir de aspectos bem 
definidos. Sobre esta questão da universalidade do Evangelho, assinale a alternativa 
CORRETA:
a) ( ) A Nova Aliança firmada pelo sangue de Cristo faz do Evangelho uma mensagem 
universal, pois não tem um mediador humano, uma liderança, não precisa da 
legitimação humana e não está ligada à nenhuma nação ou tradição.
b) ( ) A universalidade do Evangelho está no fato de que Jesus foi rejeitado pelos 
Judeus, para os quais ele havia vindo, como promessa de Deus, assim sua 
mensagem seria levada a todo o mundo.
c) ( ) A mensagem do Evangelho se constitui como mensagem universal por dois 
aspectos, primeiro, não está ligada a nenhuma tradição, segundo, apresenta 
Jesus como não judeu, ou seja, como não ligada à nação judaica. 
d) ( ) O Evangelho é uma mensagem universal, pois foi assimilada pelo império romano, 
maior império da terra na época de Cristo, podendo, assim, levar a mensagem da 
cruz a todas as nações.
2 Quando Jesus começa seu ministério ele não conta com nenhum auxílio, a não ser 
o de Deus e do Espírito Santo, claro, mas era necessário ter ajudantes para cumprir 
seu propósito na terra. Para esta finalidade, ele convoca doze homens, rústicos, em 
sua maioria incultos e acostumados com o trabalho braçal. Todavia, a preparação 
que Jesus fornece a eles tem um objetivo, o de torná-los apóstolos, mensageiros do 
seu querigma. Com base nas discussões feitas neste tópico, analise as sentenças 
a seguir:
I- Apóstolo significa aquele que representa totalmente um senhor, sendo legitimado 
pela autoridade de quem o enviou, anunciando sua mensagem. 
II- O apostolado para o qual Jesus prepara seus discípulos está baseado no querigma, 
na pregação do Evangelho.
III- Os discípulos se tornariam grandes lideranças religiosas após a morte de Jesus, 
pois seriam vistos como apóstolos, ou seja, aquele que sucede seu mestre quando 
este morre ou vai para outro lugar.
35
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e IIestão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
3 A missão apostólica começa logo após a morte de Cristo e seu comissionamento 
dado aos discípulos que deveria sair por todos os lugares, a começar por Jerusalém, 
pregando a verdade de salvação do Evangelho. Este processo marca também o início 
da construção da Igreja de Cristo e sua expansão, sobre este tema, classifique V para 
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) O apostolado pode ser definido como um ofício na Igreja instituída por Cristo a partir 
de sua obra redentora na cruz.
( ) A missão apostólica está baseada no querigma, na anunciação da verdade do 
Evangelho na figura de Jesus Cristo como Senho, Salvador e Messias.
( ) Os apóstolos tinham a missão de instituir igrejas em pontos-chave do mundo 
antigo, principalmente, nos grandes centros, indo depois para cidades menores.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
4 A mensagem do Evangelho deveria ser pregada a todas as nações, esta foi a 
tarefa dada os discípulos por Cristo, instituindo o querigma como base da ação 
apostólica, todavia, o mundo antigo tinha um paradigma muito definido de religião, 
principalmente, nas nações que tinham em suas religiões um esteio para o arranjo 
político-social. Tendo em conta o paradigma religioso da Antiguidade, disserte sobre 
este tema e as dificuldades encontradas pelos apóstolos.
5 O grande comissionamento de ir pregar a palavra de salvação a toda a criatura é 
anunciada por Jesus a seus discípulos em vários momentos. Todavia, os planos 
do Senhor deveriam estar completos para que a missão querigmática pudesse ser 
colocada em marcha, neste sentido, a missão apostólica é marcada por um momento 
de extrema vitória do poder de Deus. Com base nesse tema, disserte sobre momento 
de vitória e completude do plano salvífico de Deus.
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37
TÓPICO 3 — 
O APOSTOLADO PAULINO E O 
CONFRONTO COM O MUNDO PAGÃO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO 
Acadêmico, no Tópico 3, centraremos foco na figura de um dos mais importantes 
apóstolos do início da Igreja de Cristo. Paulo, anteriormente conhecido como Saulo de 
Tarso, o “perseguidor dos cristãos”, torna-se o anunciador do Evangelho de salvação 
entre os gentios. A conversão de Paulo será um marco no movimento missionário 
da Igreja primitiva, ampliando o foco de evangelização das comunidades judaicas no 
entorno de Jerusalém e nas cidades gregas, para os grandes centros culturais da época, 
como Atenas, Corinto, Éfeso e as províncias romanas.
Paulo será o grande confrontador do Evangelho com as doutrinas pagãs, os 
costumes e valores que marcavam o mundo antigo, sua boa formação intelectual será 
um diferencial a favor de sua pregação e de sua capacidade de compreender como levar 
a palavra de salvação a culturas tão distintas. Podemos afirmar que Paulo é a segunda 
geração de apóstolo, tendo começado sua missão um pouco depois dos primeiros 
discípulos. Todavia, sua fé e sua entrega irrestrita à vontade do Senhor, o fizeram um 
dos maiores líderes da comunidade cristã dos primeiros tempos.
Para compreendermos melhor os desafios que Paulo teve que enfrentar e 
o grau de dificuldade que encontraria para anunciar o Evangelho, analisaremos o 
paradigma de religião que marcava o mundo antigo. Para este paradigma, a mensagem 
do Evangelho parecia uma loucura, um Deus que encarna, morre pelas mãos humanas 
e depois ressuscita, cuja mensagem não está ligada à nenhuma tradição, nenhuma lei 
ou organização político-social. 
Não se pode negar que as cartas e textos paulinos são os principais suportes 
para se compreender como a verdade do Evangelho foi sendo pregada e esclarecida do 
Evangelho no início da Igreja primitiva. Começaremos por analisar o paradigma religioso 
do Mundo Antigo e a novidade da mensagem de Cristo pregada por Paulo.
38
2 A “VERGONHA” DO CRISTO E O PARADIGMA 
RELIGIOSO NA ANTIGUIDADE
A mensagem do Evangelho de Cristo era algo estranho para os ouvintes que 
estavam acostumados como o paradigma religioso da Antiguidade. Mesmo para “ouvidos 
judeus”, a ideia de que o Messias seria morto na cruz era no mínimo blasfêmia, ou seja, 
não é concebível que o homem que deveria libertar Israel tenha sido um servo sofredor. 
Todavia, como o próprio Jesus disse, seu reino não é deste mundo, sua autoridade não 
é baseada em testemunho humano, a força de sua mensagem não está alicerçada 
naquilo que para os seres humanos é sabedoria ou força. 
FIGURA 14 – O CRISTO CRUCIFICADO
FONTE: <https://shutr.bz/3iFOsB8>. Acesso em: 18 jul. 2021.
Uma questão central para se compreender a novidade e o poder da mensagem 
do Evangelho é perceber como o sacrifício vivo de Jesus aparecia para os indivíduos 
que estavam acostumados com todos os valores pagãos, tanto de sociedade quanto 
de religião. Quando lemos o texto de Hebreus 12,2, vemos o seguinte: “2 tendo os olhos 
fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, 
suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus”.
A vergonha do Cristo era aquilo que os pagãos julgavam como sendo uma falha, 
como já indicamos, a imagem de um deus que encarna, sofre uma morte desonrosa e 
depois ressuscita, era, no mínimo, vexatória. Contudo, a missão de Jesus era exatamente 
carregar as dores de toda a humanidade, assim voltamos à profecia de Isaías 53,3 
(BÍBLIA SAGRADA, 2002), a qual prediz que o Messias seria rejeitado, humilhado, levaria 
39
sobre ele as nossas dores e por suas pisaduras seríamos sarados. A missão redentora de 
Jesus só seria possível com um sacrifício completo, para que o preço da salvação fosse 
pago era necessário que o “sangue do Cordeiro” fosse derramado. 
FIGURA 15 – A VITÓRIA DE CRISTO SOBRE A MORTE
FONTE: <https://shutr.bz/3BqFoHC>. Acesso em: 18 jul. 2021.
Para aqueles que são tocados pelo Espírito Santo e reconhecem o dom gene-
roso da salvação, o sacrifício de Cristo é a mais pura expressão de amor, todavia, para 
aqueles que permanecem alheios à sua verdade, a morte de Jesus é o sinal de sua 
fraqueza. Os apóstolos tiveram que lidar com esta questão por diversas vezes, ao pregar 
o sacrifício remidor de Jesus, eles foram confrontados com esta “vergonha” do Cristo. 
Os judeus esperavam um messias que fosse o libertador de Israel, um homem 
que pudesse restaurar a “casa de Davi” e colocar fim ao sofrimento do povo de Deus. Ter 
um messias crucificado era uma vergonha que nenhum Judeu aceitaria, principalmente 
se isso levasse a uma nova forma de encarar toda a Lei e os Profetas. Na verdade, essa 
questão se colocava para todos os judeus, a Lei e os Profetas haviam sido interpretadas 
de forma equivocada, o Messias prometido não era um líder político, não era um guerreiro 
audaz, era um servo sofredor. 
Saulo, o perseguidor dos cristãos, teve que se confrontar com esta questão, ele 
era um “Judeu zeloso”, sua sanha em defender a tradição judaica o levou a perseguir, 
prender e entregar às autoridades todos os cristãos que ele conseguia capturar. De 
acordo com Atos 8,3 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “Saulo, por sua vez, devastava a igreja. 
Indo de casa em casa, arrastava homens e mulheres e os lançava na prisão”. Podemos 
intuir que em sua devoção judaica, Saulo acreditava estar combatendo uma heresia 
contra a promessa do Messias e contra a própria segurança de Israel e da Lei judaica. 
O próprio apóstolo nos dá um relato de sua condição antes da conversão, como está 
registrado em Gálatas 1,13-14 (BÍBLIA SAGRADA, 2002):
40
13 Vocês ouviram qual foi o meu procedimento no Judaísmo, como 
perseguia com violência a igreja de Deus, procurando destruí-la. 14 
No Judaísmo, eu superava a maioria dos judeus da minha idade, e era 
extremamente zeloso das tradições dos meus antepassados. 
 
O zelo de Paulo, enquanto Saulo, era fruto de sua adesão irrestrita à interpretação 
da Lei e dos Profetas, dada pela corrente farisaica e pela tradiçãocomo um todo. Podemos 
imaginar como foi difícil para ele ver uma crença que coloca por chão tudo aquilo em 
que ele acreditava. Tomando o exemplo Paulo, enquanto ainda era Saulo, fariseu no 
Judaísmo, podemos vislumbrar o que deveria ser a resistência de todo judeu que se sentia 
incomodado com a ideia de que o Messias esperado, o “rei dos Judeus”, era um homem 
fraco, pacifista, que sofria na mão dos inimigos e acabava morto por eles.
FIGURA 16 – OS JUDEUS NÃO ESPERAVAM UM MESSIAS SOFREDOR, MAS UM LÍDER GUERREIRO
FONTE: <https://shutr.bz/3iIDpqP>. Acesso em: 10 jul. 2021.
O paradigma religioso dos Judeus era ainda um modelo deuteronomista, ou 
seja, pautada na ideia de um Deus nacional, um Deus que pertencia apenas a Israel. 
Paulo compreendia muito bem este zelo dos judeus, principalmente, a partir da corrente 
farisaica, por isso ele faz uma longa defesa da ideia de que a Lei não é invalidada, mas 
ela não está representada pelos aspectos externos ao indivíduo, mas internos. Em 
Romanos 2,25-28 (BÍBLIA SAGRADA, 2002), Paulo diz o seguinte:
25 A circuncisão tem valor se você obedece à Lei; mas, se você 
desobedece à Lei, a sua circuncisão já se tornou incircuncisão. 26 
Se aqueles que não são circuncidados obedecem aos preceitos da 
Lei, não serão eles considerados circuncidados? 27 Aquele que não 
é circuncidado fisicamente, mas obedece à Lei, condenará você que, 
tendo a Lei escrita e a circuncisão, é transgressor da Lei. 28 Não é 
judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é 
meramente exterior e física.
 
41
É necessário notar que Paulo está fazendo esta exortação na Carta aos Romanos, 
mas por que ele fala desta maneira, tratando com judeus? Bem, o que podemos concluir 
é que ele está falando diretamente à comunidade judaica espalhada pelo império. O 
apóstolo está confrontando os Judeus que defendiam a pureza da doutrina da Lei, mas 
não viviam de acordo com ela. Todavia, além disso, podemos perceber que ele faz uma 
defesa do aspecto espiritual, interior, em detrimento ao aspecto material, exterior. 
É interessante analisarmos um pouco mais a questão da relação entre as 
religiões nacionais e o paradigma político-social da Antiguidade, assim poderemos 
entender como o querigma, a anunciação do Evangelho, representava uma novidade 
que superava o modelo de religião pagã e as limitações político-sociais.
2.1 RELIGIÕES NACIONAIS E O PARADIGMA 
POLÍTICO-SOCIAL DA ANTIGUIDADE
O mundo antigo era marcado por inúmeras guerras, disputas territoriais, 
expansionismo militar e busca de poder regional. Nesse cenário, a justificação vinda 
da religião era muito importante, todas os povos, nações, até mesmo tribos, tinham 
seus deuses nacionais, que, em geral, refletiam a visão de mundo daquela sociedade e 
ajudavam nas batalhas. Isso ocorria também no Judaísmo, como indica Liverani (2006, 
p. 315): “O paradigma adotado no livro de Josué é aquele da “guerra santa”, de clara 
matriz deuteronomista […] Os princípios fundamentais da guerra santa são os seguintes: 
Deus é conosco, combate ao nosso lado e garante a vitória [...]”.
Essa tradição do “deus nacional”, claramente presente na tradição judaica, era 
compartilhada por praticamente todas as culturas antes de Cristo. Toda a organização 
político-social dependia da relação entre a religião nacional, a força militar e as 
instituições de governo, nenhum povo aceitaria ter sua religião nacional trocada pela 
religião de outro povo. Entre os gregos e romanos isso não era diferente, se analisarmos 
o arranjo social grego, mesmo que aberto e altamente permissivo, no que se referia à 
diversidade de deuses, é bastante dependente da noção de relação entre as divindades 
e a guerra. 
Já entre os romanos, herdeiros tanto da influência grega quanto da influência 
etrusca, Marte era o deus da guerra, que conduzia o exército em marcha. Todavia, os 
romanos também tinham os augúrios, presságios que eram vistos pelos sacerdotes 
em vísceras de animais, elementos naturais, na fumaça e mesmo na profecia de 
sacerdotisas. Nenhum general romano ousava sair para a batalha sem antes confirmar 
os augúrios, os próprios soldados só se sentiam seguros e animados para a batalha 
quando os presságios eram favoráveis.
42
FIGURA 17 – OS GREGOS TINHAM ARES COMO O DEUS DA GUERRA
FONTE: <https://shutr.bz/3uYZarp>. Acesso em: 18 jul. 2021.
Quando Paulo começa seu ofício apostólico ele precisa se confrontar com esta 
realidade, a palavra de salvação do Evangelho não está ligada à nenhuma nação, povo, 
tribo ou cultura. Isso enfraquecia o laço tradicional entre os indivíduos, a religião e os 
valores sociais do grupo ao qual eles pertenciam. 
Na Unidade 2, veremos como a reação pagã, principalmente em Roma, 
colocará o Cristianismo como culpado da queda da tradição clássica. 
Os primeiros Pais da Igreja terão que combater estas acusações, o que 
estará claramente presente na obra de Santo Agostinho.
ESTUDOS FUTUROS
À medida que a comunidade cristã aumentava, principalmente entre os romanos, 
que eram a principal força militar da época, a adesão às tradições e costumes pagãos 
iam diminuindo. Isso acontecia também entre os soldados, muitos deles, convertidos ao 
Cristianismo, não participavam dos augúrios ou das oblações em honra a Marte ou a outro 
deus qualquer. Quando analisamos a pregação de Paulo direcionada aos romanos, vemos 
uma clara referência ao que era mais importante para um cidadão romano, a busca da 
glória. Porém, Paulo anuncia que a verdadeira glória está em Cristo e será dada a todo 
aquele que perseverar: “Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser 
comparados com a glória que em nós será revelada” (BÍBLIA SAGRADA, 2002, Ro. 8,18).
43
Além desse aspecto de organização social em vista da relação entre a religião 
nacional e a busca de reconhecimento dos indivíduos, podemos afirmar que as religiões 
serviam como referencial de explicação para os fenômenos naturais, as incertezas da 
vida, os acasos, a existência do mal, das doenças, da própria morte e da esperança de 
algo após ela. As explicações dadas pela religião faziam sentido para os membros do 
grupo no qual ela era aceita, os romanos explicavam o mundo a partir de seus deuses, 
o mesmo ocorria com os gregos.
FIGURA 18 – NA MITOLOGIA CADA DEUS TINHA UMA FUNÇÃO E AÇÃO NA NATUREZA
FONTE: <https://shutr.bz/3oIx6ri>. Acesso em: 10 ago. 2021.
O caráter mais abrangente, mais espiritual da palavra de salvação, criou 
resistência nas culturas que dependiam de suas religiões nacionais para se manterem 
equilibradas. A fundamentação teológica que foi utilizada pelo apóstolo, se tornou a 
base de compreensão do Evangelho por parte dos indivíduos que iam se juntando à 
Igreja de Cristo. No próximo subtópico, voltaremos para esta questão da fundamentação 
teológica e o apostolado paulino entre os gentios.
3 O FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA CRISTÃ NO 
APOSTOLADO DE PAULO ENTRE OS GENTIOS 
Tendo em vista nosso objetivo neste subtópico, tentaremos vislumbrar alguns 
pontos centrais da contribuição do apóstolo Paulo para a solidificação da fé cristã na 
Igreja primitiva e seus principais desdobramentos na discussão teológica e da missão. 
As chamadas “cartas de Paulo” compõem grande parte do Novo Testamento, sendo 
também importante fonte histórica e teórica para o estudo do movimento missionário 
no início da Igreja primitiva e sua posterior inserção no império romano.
O apóstolo Paulo foi um judeu bem instruído, tanto na lei judaica quanto no 
conhecimento das culturas de sua época e na discussão acerca dos principais temas 
relacionados à religião. Sua formação incluía um longo período de estudo com Gamaliel, 
44
neto de Hilel, um dos mais importantes rabinos do Judaísmo de sua época. Não sabemos 
muito sobre sua família, mas o fato dele ser um cidadão romano por nascimento, como 
indicado em Atos 22,28 (BÍBLIA SAGRADA, 2002), mostra que sua família deveria ter 
prestado algum serviço relevante ao império romano ou tinha recursos suficientes para 
comprar acidadania. 
Como ele mesmo gostava de frisar, seu chamado também foi feito pelo próprio 
Jesus, assim como os discípulos, como está descrito em Gálatas 1,1 (BÍBLIA SAGRADA, 
2002): “Paulo, apóstolo enviado, não da parte de homens nem por meio de pessoa 
alguma, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos [...]”.
FIGURA 19 – PAULO TEM UM CHAMADO DIRETO DE CRISTO NO CAMINHO PARA DAMASCO
FONTE: <https://shutr.bz/3AkLpnZ>. Acesso: 10 ago. 2021.
Sem dúvidas, o chamado de Paulo foi tão direto quanto o dos primeiros 
discípulos, quando estava indo perseguir os cristãos em Damasco, ele tem um encontro 
muito íntimo com o Cristo. É bem conhecida a história de sua conversão, como descrita 
em Atos 9, ele tem uma visão de Jesus envolto em uma resplandecente luz, ouve seu 
chamado, fica cego por três dias, sem comer nem beber, depois é batizado por Ananias 
e tem o início de seu caminho como apóstolo de Cristo. O início do ministério de Paulo 
é ainda obscuro em alguns pontos, porém, suas agruras e sofrimentos para pregar o 
Evangelho são bem conhecidas, havendo um franco relato feito por ele mesmo em 2 
Coríntios 11,23-27 (BÍBLIA SAGRADA, 2002):
23 São eles servos de Cristo? — estou fora de mim para falar desta 
forma — eu ainda mais: trabalhei muito mais, fui encarcerado mais 
vezes, fui açoitado mais severamente e exposto à morte repetidas 
vezes. 24 Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites. 25 Três 
vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri 
naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar. 26 Estive 
continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos 
45
rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos 
dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, 
e perigos dos falsos irmãos. 27 Trabalhei arduamente; muitas vezes 
fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; 
suportei frio e nudez. 
 O caráter de explicação do Evangelho, presente na obra paulina, se desenvolveu 
em praticamente dois âmbitos, primeiro, na própria evangelização dos Judeus, tanto na 
Palestina quanto fora dela. Segundo, na evangelização dos pagãos e na confrontação 
com seus princípios e valores. No primeiro âmbito, Paulo teve que enfrentar certa 
resistência de alguns apóstolos que estavam ainda incertos da evangelização entre 
os gentios. Umas das principais questões era o respeito à Lei mosaica e aos rituais 
do Judaísmo. Deveriam ser eles seguidos ou não? Os gentios convertidos, deveriam 
também passar por rituais de purificação judaicos? 
O chamado “incidente de Antioquia”, ou “disputa de Antioquia”, vai expor a disputa 
que se vinha aumentando entre os grupos, aqueles que estavam mais propensos a manter 
certos costumes judaicos na comunidade cristã e aqueles que não viam tal necessidade. 
Como se lê em Atos 11,1-3 (BÍBLIA SAGRADA, 2002): “Os apóstolos e os irmãos de toda a 
Judeia ouviram falar que os gentios também haviam recebido a palavra de Deus. 2 Assim, 
quando Pedro subiu a Jerusalém, os que eram do partido dos circuncisos o criticavam, 
dizendo: 3 “Você entrou na casa de homens incircuncisos e comeu com eles”. 
Por esse trecho, podemos vislumbrar que a disputa não era apenas entre um 
grupo de apóstolos e discípulos, mas a própria comunidade de cristãos convertidos 
que estava em Jerusalém, ou seja, Judeus convertidos, ainda estava presa à questão 
ritualística do Judaísmo. Pedro tinha ido à Antioquia, ver como por lá várias pessoas 
estavam sendo convertidas e vários prodígios estavam sendo operados. Parece que o 
medo da repreensão dos Judeus convertidos ainda estava atormentando Pedro, lemos 
em Gálatas 2,11-14 (BÍBLIA SAGRADA, 2002):
11 Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, enfrentei-o face a face, por 
sua atitude condenável. 12 Pois, antes de chegarem alguns da parte 
de Tiago, ele comia com os gentios. Quando, porém, eles chegaram, 
afastou-se e separou-se dos gentios, temendo os que eram da 
circuncisão. 13 Os demais judeus também se uniram a ele nessa 
hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar.
14 Quando vi que não estavam andando de acordo com a verdade do 
evangelho, declarei a Pedro, diante de todos: “Você é judeu, mas vive 
como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar gentios 
a viverem como judeus?
Paulo tinha a convicção de que havia sido chamado por Cristo para ser 
o evangelizador dos gentios, além disso, ele entendia que os cristãos não deveriam 
carregar o peso da Lei mosaica, pois Cristo, apesar de vir cumprir a Lei, instituiu uma 
Nova Aliança. Este episódio, tido como um incidente que levou a uma nova postura da 
comunidade cristã em Jerusalém, marca também a influência de Paulo na construção 
de uma teologia cristã, não apenas uma continuação da teologia judaica. 
46
FIGURA 20 – O APÓSTOLO PAULO TEVE UMA IMPORTANTE OBRA NA PROPAGAÇÃO DO EVANGELHO
FONTE: <https://shutr.bz/2YrHMQp>. Acesso em: 18 jul. 2021.
Paulo sabia que sua função era levar a palavra de salvação aos pagãos e gentios, 
como ele mesmo afirma: “Ao contrário, reconheceram que a mim havia sido confiada 
a pregação do Evangelho aos incircuncisos, assim como a Pedro, aos circuncisos” 
(BÍBLIA SAGRADA, 2002, Ga. 2,7). Isso não quer dizer que houve uma cisma, uma divisão 
profunda na comunidade cristã deste primeiro momento, o que houve foi uma forma de 
compreender os novos caminhos que a evangelização estava tomando. 
 A mensagem do Evangelho é para todo aquele que a ouve, e arrepende e 
é batizado. Segundo ele: “Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, 
circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em 
todos” (BÍBLIA SAGRADA, 2002, Cl. 3,11). Não há dúvidas de que esta mensagem é 
essencialmente “cristocêntrica”, em outros termos, Jesus Cristo é o centro do Evangelho, 
sua única autoridade e seu promulgador. A noção de que a justificação vem pela fé é 
extremamente importante para desvencilhar a mensagem do Evangelho de toda a carga 
ritualística que existia no Judaísmo antigo. Paulo terá um papel central nesta questão e 
fará uma ferrenha defesa da centralidade da fé, tanto no processo de conversão, quanto 
na construção de uma vida cristã madura. Em Romanos 3,21-26 (BÍBLIA SAGRADA, 
2002), vemos essa defesa da justificação pela fé, como segue:
21 Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, 
independente da Lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, 22 
justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que 
creem. Não há distinção, 23 pois todos pecaram e estão destituídos 
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da glória de Deus, 24 sendo justificados gratuitamente por sua graça, 
por meio da redenção que há em Cristo Jesus. 25 Deus o ofereceu 
como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, 
demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado 
impunes os pecados anteriormente cometidos; 26 mas, no presente, 
demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele 
que tem fé em Jesus. 
Esses dois fatores, a graça e a fé, são centrais na mensagem do Evangelho 
levada por Paulo aos gentios e pagãos. Todo aquele que crê na palavra do Evangelho, 
que se arrepende de seus pecados, é lavado pelo sangue de Cristo, sendo redimido e 
salvo, não por meio de obras ou da Lei, mas pela fé no Filho Unigênito do Pai e pela graça 
de Deus. 
Essa é a base da teologia cristã da salvação, a soteriologia, que apresenta a 
mensagem do Evangelho como uma mensagem de redenção para o mundo todo. Mais 
ainda, a centralidade da fé e da graça na mensagem do Evangelho pregada pelo apóstolo 
Paulo, influenciará na própria concepção de religião que os antigos tinham. Reale e 
Antiseri (1990, p. 385) nos dão uma interessante visão deste ponto: “A filosofia grega 
subestimara a fé ou crença (pístis) do ponto de vista cognoscitivo, pois dizia respeito às 
coisas sensíveis, mutáveis, sendo, portanto, uma forma de opinião (dóxa). Pois a nova 
mensagem exige do homem precisamente umasuperação dessa dimensão, invertendo 
os termos do problema e pondo a fé acima da ciência”.
Por esse prisma, podemos entender que Paulo estabeleceu um novo parâmetro 
para a compreensão da dimensão espiritual, levando a fé a uma centralidade que so-
brepujava a própria validade do conhecimento. Entre os romanos, Paulo teve o cuidado 
de destacar que a verdadeira glória não é aquela conquistada por meio de ações mun-
danas, voltadas apenas para o contexto político e social. Ele frisa que a verdadeira glória 
está em Cristo Jesus, o qual recompensará a cada um segundo suas obras e sua fé. 
FIGURA 21 – AS RELIGIÕES PAGÃS POSSUÍAM DEUSES COM FEIÇÕES HUMANAS E ANIMAIS
FONTE: <https://shutr.bz/3FoywNs>. Acesso em: 18 jul. 2021
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Em Romanos 1,22-23 (BÍBLIA SAGRADA, 2002), Paulo diz que: “22 Dizendo-se 
sábios, tornaram-se loucos 23 e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas 
segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e 
répteis”; Ele está confrontando o culto nacional, a adoração de divindades diversas, ou 
seja, o politeísmo da religião nacional romana, bem como atrelando tal falta à negação 
que ela representa da verdadeira glória, a glória de Deus. Como está escrito em Romanos 
8,18: “Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com 
a glória que em nós será revelada” (BÍBLIA SAGRADA, 2002). A glória futura está no 
galardão que será dado por Deus a todo aquele que perseverar na fé em Cristo Jesus, 
todavia, é uma promessa para o “pós-vida”. 
A comunidade cristã fora da Palestina começa a crescer, alcançando vários 
cantos do império romano e se tornando mais do que uma simples religião marginalizada. 
Dentro de três séculos, o Cristianismo se tornaria a religião do maior império da terra, 
bem como a religião que mais adeptos conquistava. Esse foi o resultado do querigma 
dos apóstolos, bem como do desprendimento e capacidade do apóstolo Paulo em 
compreender os planos salvíficos de Deus para toda a humanidade.
49
LEITURA
COMPLEMENTAR
MARCOS, LUCAS E O QUERIGMA DA SALVAÇÃO UNIVERSAL
Solange Maria do Carmo 
Johan Konings 
Chama a atenção o fato de se encontrar, na pregação de Pedro em Atos 10,37-
43, um apanhado do ministério, morte e ressurreição de Jesus que corresponde ao 
arcabouço do evangelho de Marcos, quanto ao início, e ao evangelho de Lucas, quanto 
ao fim. Este fato constitui o ponto de partida para uma reflexão sobre o caráter do 
querigma que Lucas parece resumir nesses versos dos Atos dos Apóstolos.
1. A narrativa de Jesus como elemento da primeira pregação cristã
O fato de At 10,37-43 parecer um resumo do evangelho de Marcos não surpreende 
quem admite a dependência literária de Lucas, autor de Atos, em relação a Marcos. 
Mas isso não significa necessariamente que Lucas tenha simplesmente resumido o 
Evangelho marcano, pois a fórmula de 1Cor 15,3-5 mostra que semelhante querigma ou 
pregação é anterior à composição marcana. Dizemos “querigma ou pregação”, porque 
não se deve imaginar o querigma como uma fórmula breve semelhante à (com aspas 
ou sem aspas?) que encontramos em 1Cor 15 ou At 10. Querigma significa anúncio ou 
pregação, e isso não se fazia em duas palavras. Para fazer o anúncio era preciso contar e 
recontar a história do mestre, seus feitos, seus ensinamentos, a trajetória de sua vida. O 
querigma era uma autêntica narrativa, com tudo quanto isso exige: a arte de reconstruir 
os fatos, dentro do gênero literário próprio; a capacidade de articular os dados em vista 
da finalidade teológica; o artifício da retórica com suas consequências, tudo o que 
constitui a tradição primitiva em torno do anúncio do Mestre morto e Ressuscitado.
Para captar a índole dessa tradição da atuação pública, fim violento e ressurreição 
de Jesus é preciso perceber-lhe o gênero literário. É a crônica de uma pregação. Os 
Evangelhos não nasceram do propósito de escrever uma biografia ou de relatar fatos 
acontecidos com Jesus e os seus, mas são compêndios daquilo que os missionários 
cristãos apregoavam a respeito da pregação do Nazareno. A pregação de Jesus em 
segunda potência, por assim dizer[1].
Convém corrigir a impressão que se tem ao ler alguns estudos do século XX sobre 
o “querigma”. Sob a influência da theologia crucis, certos autores dão a impressão de 
que o querigma se referiria somente ao paradoxo da morte e ressurreição de Jesus. 
Mas o esquema de Marcos e dos demais Evangelhos canônicos nos mostra que, para a 
50
pregação desse paradoxo, são indispensáveis os antecedentes dessa morte. Tal correção 
tem, inclusive, consequências para a teologia sistemática, a catequese e a piedade. A 
morte de Jesus não é o ponto inicial do ato salvador, mas a conclusão de toda a obra 
salvífica de Jesus, que é rememorada e transmitida na pregação apostólica e cristã. A 
morte de Jesus não revela seu significado verdadeiro a não ser como consequência de 
sua atividade pregadora. Sua morte é o sinal de sua fidelidade à missão que o Pai lhe 
confiou, de sua coerência total com seu anúncio e com as obras que realizou. Portanto, 
a morte e ressurreição de Jesus devem ser vistas na totalidade da obra de Jesus como 
anúncio da salvação.
Mais. Se Bultmann opinou que “o anunciador se tornou o anunciado” – o que 
não se pode negar –, não se deve esquecer que o que Jesus anunciou foi assumido 
e continuado na pregação de seus discípulos. Não há hiato, mas continuidade entre a 
boa-nova do Reino pregada por Jesus (segundo Mc 1,14-15) e a boa-nova a respeito de 
Jesus (anunciada em Mc 1,1), pois a prática de Jesus é o Reino. Se Loisy disse que “Jesus 
esperava o Reino, mas o que veio foi a Igreja”, devemos completar que a Igreja veio para 
continuar o Reino que Jesus esperava, pregava, trazia à cena e assim inaugurava na 
prática comunitária que legou à comunidade que o sucedeu e que chamamos a Igreja.
Uma consideração do esquema seguido pelos Evangelhos canônicos e Atos 
nos parece, portanto, oportuna para corrigir a ideia de que o Pai teria “encomendado” 
a morte do Filho para reparar o pecado de Adão e de todos nós. Decerto, a metáfora 
do sacrifício aplacador era significativa para a cultura judaica nas origens cristãs, 
que convivia diariamente com os sacrifícios de expiação. Depois, esta metáfora foi 
por Anselmo “inculturada” na cultura medieval de reparação da honra lesada. Mas 
importa compreendê-la como metáfora, subordinada ao que ela quer apontar: a 
realidade transbordante e inefável da obra de Jesus. Por ser inefável, por não se 
esgotar numa única proclamação, foi preciso continuar narrando essa obra. Por isso, a 
forma fundamental da mensagem cristã é a narrativa. Mas até o Diretório Nacional da 
Catequese, em vez de ver a narratividade como o modo próprio de fazer catequese e 
de transmitir a mensagem cristã, parece entendê-la como um assunto a mais, um tema 
a ser acrescentado ao antigo modelo catequético de Trento: Símbolo dos Apóstolos, 
mandamentos, sacramentos e orações do cristão[2]. Parece que a catequese atual, 
apesar de toda a renovação pela qual já passou, ainda não despertou para o caráter 
narrativo que lhe é próprio: continuar narrando o evento Jesus de Nazaré, como fizeram 
os evangelistas.
Continuar narrando[3], de modo sempre renovado: foi o que fizeram Marcos e 
aqueles de quem recebeu a tradição. Isso relativiza a ideia de que a transmissão dos 
ditos de Jesus (por exemplo na fonte Q) seria mais primitiva, em termos de história 
traditiva, que a transmissão da narrativa de sua pregação. Decerto, foi mostrado, com 
argumentos literários convincentes, que Marcos emoldurou os ditos e fatos transmitidos 
pela pregação cristã do jeito próprio dele[4]. Mas quem pregava já havia concebido a 
pintura antes que Marcos a emoldurasse!
51
Ora, se a narrativa de Marcos organiza fatos e ditos referentes a Jesus, verdade 
é que os ditos que Mt e Lc hauriram de Q para completar a narrativa marcana talvez 
apresentem Jesus mais como sábio popular do que como o Servo Padecente prestes a 
dar sua vida.Mas os ditos desse sábio foram recordados por causa da radical fidelidade 
com que ele anunciou o Reino de Deus em tudo quanto fazia — fidelidade que o levou 
à morte. O que o querigma ou a pregação transmite é essa atuação, esse ministério 
de radical fidelidade: uma vida inteira de fidelidade, e fidelidade inconteste à vida. Não 
um querigma só de morte e ressurreição, como 1Cor 15,3-5 pode sugerir[5], mas um 
querigma que evoca o profeta escatológico, recriador do povo na perspectiva do reino 
escatológico, assim como é apresentado pelos Evangelhos.
2. O discurso de At 10,37-43 e seus paralelos em Marcos e Lucas
Com grande probabilidade, o Evangelho de Marcos ou o esquema pré-marcano 
foi o modelo que Lucas tinha diante dos olhos ao criar o discurso paradigmático de 
At 10,37-43. Este discurso ensina o pregador cristão a apresentar Jesus por meio da 
narrativa de sua obra.
37 Vós sabeis o que aconteceu por toda a Judeia, depois de ter 
começado na Galileia, após o batismo que João pregou:
38 como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com Espírito Santo e com o 
poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os subjugados 
do diabo, porque Deus estava com ele.
39 E nós somos testemunhas de tudo o que fez na região dos judeus 
e em Jerusalém. Eles o eliminaram, suspendendo-o num madeiro.
40 A este, Deus o ressuscitou ao terceiro dia e deu-lhe manifestar-se,
41 não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhidos 
de antemão, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que 
ressuscitou dentre os mortos.
42 Ele nos mandou pregar ao povo e testemunhar que é ele quem foi 
constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos.
43 Dele todos os profetas dão testemunho, [anunciando] que todo 
o que nele crê recebe o perdão dos pecados por meio de seu nome 
(At 10,37-40).
Podemos focalizar neste discurso três dimensões: a dimensão narrativa, ou seja, 
o relato da obra anunciadora, morte e ressurreição de Jesus; a dimensão cristológica, 
ou seja, a confissão messiânica, com a alusão à “unção”; a dimensão soteriológica, ou 
seja, o anúncio de perdão e salvação. Mostraremos a presença destas dimensões no 
Evangelho modelo de Marcos, no resumo de At 10,37-43 e na narrativa do Evangelho de 
Lucas, que é também o autor dos Atos dos Apóstolos.
2.1 A dimensão narrativa
O ponto de partida é a dimensão narrativa, pois antes de tudo deve-se tomar 
conhecimento dos fatos (cf. Lc 1,1-4; At 1,1-2). 37 Vós sabeis o que aconteceu por toda a 
Judeia, depois de ter começado na Galileia, após o batismo que João pregou.
52
Este motivo coincide com a solene abertura de Marcos (Mc 1,1-6), copiada em 
Lc 3,1-6 com ênfase maior, pois Lucas introduz uma nota cronológica situando o fato na 
história mundial (“no décimo quinto ano do governo do imperador Tibério”) e na história 
do povo judeu (mediante a menção aos regentes herodianos e aos sumos sacerdotes). 
Assim, a notoriedade mencionada em At 10,37 é salientada pelo redator lucano também 
em Lc 3,1. Aqui cabe observar que, pela solenidade da nota cronológica, Lc 3,1 se 
destaca de Lc 1—2, o “evangelho da infância”. Em 3,1 se encontra a verdadeira abertura 
da narrativa querigmática da obra pregadora de Jesus. Os capítulos 1—2 devem ser 
considerados como preâmbulo teológico. 38 como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com 
Espírito Santo e com o poder,
O primeiro elemento da narrativa querigmática coincide com Mc 1,7-11. Este 
episódio de Marcos é um relato cifrado da unção de Jesus com o Espírito de Deus. 
Cifrado, porque evita o termo “ungir”, correspondente ao hebraico mashah, de onde 
“messias”. Todo o Evangelho de Marcos serve, de fato, para mostrar que Jesus não é 
o ungido esperado, mas o agente escatológico inesperado, que realiza a vocação do 
Servo Padecente e do Filho do Homem, agente humano do reino de Deus. Para Marcos, 
esse agente só pode ser identificado como “o ungido” de modo misterioso: não ungido 
como os reis e os sacerdotes, mas ungido com o Espírito de Deus assim como o profeta 
escatológico de Is 61,1. É o que Marcos sugere pelo relato do batismo de Jesus (Mc 
1,9-11). Lucas o entendeu muito bem. Onde Marcos descreve, logo depois do batismo, 
a primeira atuação pública de Jesus na sinagoga de Cafarnaum (Mc 1,21), Lucas situa 
tal cena em Nazaré e faz Jesus proclamar exatamente o texto que fala de sua unção 
pelo Espírito (Lc 4,18). Observe-se ainda que tanto em Lc 4,18 como em At 10,38 ocorre 
o termo chriein, “ungir”, do qual é derivado o substantivo christos, “ungido” (= messias). 
como ele andou fazendo o bem e curando todos os subjugados do diabo.
Tanto em Mc como em Lc — à diferença de Mateus, que acentua o ensino — a 
pregação de Jesus é caracterizada pelas expulsões dos espíritos impuros (demônios, 
diabo). Na fonte Q, a expulsão dos demônios “pelo dedo de Deus” é um sinal de que, 
com Jesus, o reino de Deus se torna presente (Lc 11,20//Mt 12,28). Isso, porque assinala 
a chegada do “mais forte”, aquele que vence as forças mais impenetráveis e que superam 
qualquer compreensão humana. Também a parábola do homem forte em Mc 3,27 aponta 
nessa direção. Pouco importa a explicação médica ou psiquiátrica de tais fenômenos, a 
expulsão dessas forças humanamente inatingíveis é um sinal da chegada do reino de Deus.
A expressão “fazendo o bem” remete ao mesmo tempo aos resumos dos 
diversos tipos de milagres operados por Jesus e às subsequentes aclamações do 
povo. O paralelo mais próximo desta fórmula de At 10,38 no evangelho de Marcos é a 
exclamação depois da cura do surdo e gago, Mc 7,37: “Ele fez tudo bem”. Em Lc 7,16, esse 
tipo de aclamação é relacionada com o “grande profeta” (= Elias) e com a “visita” de Deus 
a seu povo, da qual o Elias redivivo seria o precursor.
53
A frase seguinte, porque Deus estava com ele, aponta para a presença do “Deus 
que age”, da qual o profeta é a testemunha. Essa presença atuante é o que Moisés, em Ex 
33,12-17, pede a Deus depois da ruptura causada pela adoração do bezerro. A presença 
atuante de Deus é também o critério para se reconhecer se o profeta é verdadeiro: a 
obra de Deus que acompanha a palavra do profeta é a garantia de sua autenticidade (Dt 
18,15-21). Isso corresponde ao perfil de Jesus caracterizado em Lc 24,19 e outros textos 
lucanos. Para essa presença atuante de Deus remetem também as expressões “filho de 
Deus”, “santo de Deus” e outras semelhantes que ocorrem em Mc por ocasião das obras 
de Jesus.
No v. 39a Lucas se refere aos “apóstolos” como aos que acompanharam a obra 
de Jesus desde o começo na “terra dos judeus” (incluindo, conforme a terminologia 
civil, a Galileia) até o fim em Jerusalém. O começo é o batismo administrado por João (cf. 
Lc 3,23 e At 1,21). O fim é a morte em Jerusalém (cf. At 1,22 e Lc 9,31), como é resumido 
na frase seguinte: Eles o eliminaram, suspendendo-o num madeiro.
A expressão “suspender no madeiro” não provém de Marcos, mas parece um 
eco da terminologia usada por Paulo em Gl 3,13, que, por sua vez, é uma citação de Dt 
21,23, a maldição de quem é suspenso no madeiro. Como Paulo, Lucas caracteriza a 
morte de Jesus como paradoxo: aquele que o mundo transformou em maldição, Deus o 
transforma em bênção (cf. Gl 3,14).
Sem conjunção — caracterizando, pois, uma ruptura na ação — é mencionada 
agora a ação de Deus:
40 A este, Deus o ressuscitou ao terceiro dia
A ressurreição “ao terceiro dia” é a fórmula que exprime o “pronto agir” de 
Deus (cf. Os 6,2). Deus, que está com seu profeta, não tarda em agir. Como ele agiu 
na vida do profeta Moisés, sua ação se faz sentir na vida do Nazareno. A ação de Deus 
o faz ressurgir dos mortos. Assim como Deus ficou presente junto a Moisés, ele ficou 
presente junto ao novo profeta no “êxodo que ele ia consumar em Jerusalém” (Lc 9,31). 
Mais uma vez a ação de Deus marca a história, e o povo encontra na ressurreição de 
Cristo um novo evento fundante. Passa a ser comemorada uma Páscoa diferente: assim 
como a passagem pelo Mar Vermelho tornou-se referência central da narrativa antiga, 
a passagem de Jesus damorte à vida torna-se o ponto articulador da pregação nova, 
testemunhada nos discursos querigmáticos e nos Evangelhos.
E deu-lhe manifestar-se, 41 não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus 
havia escolhido de antemão, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que 
ressuscitou dentre os mortos.
54
As aparições do Ressuscitado não são interpretadas como um feito poderoso 
que por si mesmo suscitasse a fé em Jesus. Elas estão em função do testemunho a 
ser dado ao mundo. Os que foram testemunhas desde o começo na Galileia até em 
Jerusalém serão agora as “testemunhas escolhidas de antemão” (assim como os 
profetas de antigamente). São os que participaram das aparições pascais, caracterizadas 
como “comer e beber com ele”, sem dúvida uma referência a Lc 24,36-48, episódio 
que termina exatamente na instituição dos apóstolos como testemunhas (Lc 24,48). O 
“comer e beber com ele” tem sabor escatológico, pois evoca a realização da comunhão de 
mesa com Jesus na realidade do Reino (cf. Lc 22,15-16, e também a citação de Q em 
Lc 22,30).
42 Ele nos mandou pregar ao povo e testemunhar que é ele quem foi constituído 
por Deus juiz dos vivos e dos mortos.
O testemunho – a pregação ou querigma dos apóstolos – consiste na proclamação 
da constituição de Jesus como “juiz de vivos e mortos”, juiz universal, função atribuída 
pelo judaísmo daquele tempo ao Filho do Homem. Mas o pensamento de Lucas não fica 
parado no tema do juízo como tal. Se, em Dn 12,2, o juízo evoca um duplo julgamento, 
quer para a vida, quer para a condenação eterna, Lucas acentua somente a dimensão 
salvífica, pois importa anunciar a salvação, afinal “o Filho do Homem veio procurar e 
salvar o que estava perdido” (Lc 19, 10).
43 Dele todos os profetas dão testemunho, [anunciando] que todo o que nele 
crê recebe o perdão dos pecados por meio de seu nome (At 10,37-40).
O testemunho dos apóstolos é o prolongamento do testemunho de todos os 
profetas, isto é, da profecia em sua totalidade. Pensa-se no texto que o próprio Paulo 
cita em Gl 3,11 e Rm 1,17: “o justo viverá pela fé” (Hab 2,4). Para Paulo e Lucas, tal é o teor 
decisivo de toda a profecia: o “segundo as Escrituras” de 1Cor 15,3-5 é entendido em 
direção à salvação, o perdão concedido por Deus em virtude da obra de Cristo, levada 
a termo em sua morte e reconhecida em sua ressurreição (“por meio de seu nome”). 
Salvação universal, com base na fé: todo o que nele crê. Esse crer é a adesão a Jesus 
como Cristo-Messias (ungido pelo Espírito), rejeitado pelos homens, mas confirmado por 
Deus na ressurreição e testemunhado como tal pelos que conheceram não só sua obra 
terrestre, mas também sua presença pascal e escatológica.
E logo a seguir, enquanto Pedro ainda está falando, essa fé é atestada pela 
efusão do Espírito sobre os gentios que ouvem a palavra anunciada, o querigma (At 
10,44-48)[6].
FONTE: Adaptado de: <https://www.fiquefirme.com.br/16-marcos-lucas-e-o-querigma-da-salvacao-
universal>. Acessado em: 5 ago. 2021.
55
Neste tópico, você aprendeu:
• A relação entre o chamado do apóstolo Paulo e o início do querigma entre os gentios, 
pagãos, tendo como premissa a pregação do Evangelho de Cristo como mensagem 
desvencilhada da tradição judaica e de suas Leis.
• A importância da obra paulina, tanto na pregação do Evangelho, o querigma, quanto 
na fundamentação das verdades teológicas presente na obra de Jesus na cruz, sua 
justificação pela fé e seu amor representado na graça de Deus.
• Paulo deve que confrontar a verdade do Evangelho com a tradição pagã antiga, 
principalmente nos pontos em que a doutrina de Cristo se distancia dos modelos 
religiosos da antiguidade.
• A obra de Paulo, além da evangelização entre os gentios, foi extremamente importante 
para a construção e consolidação de uma teologia cristã, baseada na verdade do 
Evangelho.
RESUMO DO TÓPICO 3
56
AUTOATIVIDADE
1 O apóstolo Paulo é uma das figuras mais importantes do Cristianismo, principalmen-
te, quando se pensa na expansão desta religião no chamado mundo pagão da anti-
guidade. Sua formação é um diferencial em sua missão de apostolado, sendo ele um 
dos grandes formuladores das principais doutrinas cristãs. Sobre este importante 
apóstolo da Igreja de Cristo, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Paulo foi um judeu da tradição farisaica, convertido pela própria intervenção 
de Cristo, sendo educado nas principais disciplinas do Judaísmo e da tradição 
intelectual de sua época.
b) ( ) Paulo, mais conhecido como Saulo de Tarso, foi um cristão convertido que se 
juntou primeiro ao Judaísmo, por ser romano de nascimento, tendo sido depois 
enviado à Roma como discípulo.
c) ( ) O apóstolo Paulo, conhecido como o “apóstolo dos circuncisos”, foi o principal 
evangelizador das comunidades judaicas fora de Jerusalém.
d) ( ) Saulo de Tarso, depois convertido a Paulo, o apóstolo, foi um homem rústico, 
tendo sido criado como romano e levado para Antioquia como companheiro de 
Barnabé.
2 A pregação do Evangelho foi confrontada, principalmente por Paulo, com toda a 
carga de influências das religiões nacionais que vigoravam nas diversas culturas da 
época. Estas religiões tinham características bem definidas, sendo que praticamente 
todas possuíam forte influência sobre a organização político-social. Com base nas 
definições apresentadas sobre estas religiões, analise as sentenças a seguir:
I- Praticamente todas as religiões da antiguidade, com exceção do Judaísmo, eram 
politeístas, centradas na vida social e na adesão dos indivíduos. 
II- Os diversos deuses serviam para explicar o mundo dentro de uma visão comparti-
lhada pelos indivíduos que faziam parte da sociedade na qual a religião era adotada.
III- Nenhuma das religiões pagãs da época de Paulo tinham a pretensão de legitimar 
aspectos sociais como a guerra, a busca de reconhecimento ou organização 
política.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
57
3 Ao ser confrontada com as diversas tradições religiosas da Antiguidade, a mensagem 
do Evangelho aparecia como a história de um deus diferente de todos aqueles conhe-
cidos, principalmente, em vista da figura sofredora do Cristo. Este fator foi um dos pon-
tos que levaram os Judeus a rejeitarem o Messias apresentado na pessoa de Jesus. 
Sobre esta temática, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) A tradição religiosa predominante na Antiguidade promulgava o deus nacional, o 
deus de cada povo, como um deus forte, que trazia vitórias militares e poder sobre 
outros povos.
( ) A figura de Cristo aparece com um deus fraco, uma figura de “vergonha”, não de 
glória e força.
( ) A tradição religiosa pagã promulgava que os deuses são imortais, assim, quando 
Cristo ressuscita, ele deixa de ser uma figura de “vergonha” e se torna uma figura de 
“poder”.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
4 O início da missão apostólica foi marcado por diversas dificuldades, desafios e até 
mesmo desentendimento por parte de alguns grupos recém-convertidos. Nem 
mesmo os apóstolos ficaram livres de desavenças e discussões, principalmente, 
em vista da necessidade de levar a palavra de Deus a todas as nações. Um destes 
episódios foi o chamado “incidente de Antioquia”. Disserte sobre este tema e sua 
importância.
5 O apóstolo Paulo teve contato com diversas culturas em suas ações missionárias, 
principalmente, nos centros gregos e romanos, os quais abrigavam as principais 
instituições destas civilizações. Nestes contatos, ele foi levado a formular inúmeras 
explicitações da palavra de salvação do Evangelho, esclarecendo vários pontos da fé 
cristã. Neste contexto, disserte apresentando pelo menos uma questão esclarecida 
por Paulo em sua teologia.
58
59
REFERÊNCIASALISSON, J. N. F. O tema da justificação nas cartas aos romanos e aos gálatas. 
Perspectiva Teológica, [s. l.], v. 22. n 57. p. 221-235, 1990.
BADEN, J. Davi: a vida real de um herói bíblico. Tradução de Marlene Suano. 1. ed. Rio 
de Janeiro: Zahar, 2016.
BARTMANN, B. Teologia dogmática: revelação e fé, Deus, a criação. Tradução de pe. 
Vicente Pedroso. Rio de Janeiro: Edições Paulinas, 1962.
BÍBLIA SAGRADA. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; tradução da CNBB; 
introduções, notas e vocabulário, Johan Konings. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002.
CAMPOS, Cyro de Moraes. História do judaísmo antigo. São Paulo: Edições Autores 
Reunidos Limitada, 1961.
CARMO, S. M.; KONINGS, J. Marcos, Lucas e o querigma da salvação universal. 
Disponível em: https://www.fiquefirme.com.br/16-marcos-lucas-e-o-querigma-da-
salvacao-universal. Acessado em: 5 ago. 2021.
DICIONÁRIO BÍBLICO WYCLIFFE. 2. ed. Tradução de Degmar Ribas Júnior. Rio de 
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LIVERANI, M. Oltre la bibbia: storia antica di Israele. 5 ed. Roma: Editori Laterza, 2006.
OHLWEILER, O. A. A religião e a filosofia no mundo grego-romano. Porto Alegre: 
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OTZEN, B. O Judaísmo na Antiguidade: A história política e as correntes religiosas de 
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NEUSNER, J. Judaism and Christianity in the age of Constantine: history, Messiah, 
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PEREIRA, M. H. R. Estudos de história da cultura clássica: cultura romana. 3 ed. 
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60
RAINER, K. História Social do Antigo Israel. São Paulo: Paulinas, 2009.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: antiguidade e Idade Média. São Paulo: 
Paulus, 1990.
RUPPENTHAL, W. Teologia da missão: aspectos fundamentais da missão de Deus e 
da Igreja. Curitiba: Intersaberes, 2020.
STRONG, A. H. Teologia sistemática: a doutrina de Deus. Tradução de Augusto 
Victorino. São Paulo: Hagnos, 2003. V. II.
 
WEBER, M. Le Judaïsme antique. Traduit de l”allemand par Freddy Raphaël. Paris: 
Librairie Plon, 1970.
61
FUNDAMENTOS DA 
ECLESIOLOGIA DA MISSÃO
UNIDADE 2 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 analisar	e	compreender	os	fundamentos	teológicos	de	constituição	da	Igreja	no	fim	
da Antiguidade e início da Idade Média e seus desdobramentos na evangelização;
• conhecer e compreender a sistematização da teologia cristã a partir dos Concílios e 
sua	influência	na	propagação	do	evangelho	no	Ocidente;
•	 conhecer,	analisar	e	compreender	as	principais	discussões	teológico-filosóficas	em	
torno	dos	fundamentos	do	Evangelho	na	Idade	Média	e	suas	influências	na	teologia	
da missão;
• compreender os principais pontos da questão da Unicidade da Igreja na Modernidade, 
tendo	como	foco	as	disputas	doutrinais	e	a	questão	da	evangelização	no	Ocidente,	
tanto no chamado “Velho Mundo” quanto no chamado “Novo Mundo”.
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO	1	–	 A	TEOLOGIA	DA	MISSÃO	NO	INÍCIO	DA	IGREJA
TÓPICO	2	–	FÉ	E	RAZÃO	NA	TEOLOGIA	DA	MISSÃO	NA	IGREJA	MEDIEVAL
TÓPICO	3	–	A	TEOLOGIA	DA	MISSÃO	E	O	PROBLEMA	DA	UNICIDADE	DA	IGREJA	 
NA	MODERNIDADE
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CHAMADA
62
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 2!
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63
TÓPICO 1 — 
A TEOLOGIA DA MISSÃO 
NO INÍCIO DA IGREJA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO 
A	comissão	dada	aos	apóstolos	por	Jesus,	levar	a	palavra	de	salvação	do	Evan-
gelho a todas as nações, ganha impulso quando a doutrina cristã passa a ser reconhe-
cida	como	uma	religião	oficial	de	um	Estado.	Parece	necessário	um	esclarecimento	dos	
termos	para	alcançarmos	uma	compreensão	do	 significado	deste	processo	de	 insti-
tucionalização da fé cristã e seu impacto no movimento de evangelização. Primeiro, o 
âmbito teológico diz respeito à fundamentação da própria doutrina da fé cristã, seus 
pressupostos, elementos, textos sagrados etc. 
Segundo	Pohier	(1971,	p.	xv):	“a	teologia	é	a	ciência	da	fé,	é	a	fé	que	se	procura	
compreender.	Na	vida	e	na	comunidade	dos	fiéis,	seu	papel	é	análogo	ao	que	desempe-
nham	as	ciências	e	a	filosofia	na	vida	e	na	comunidade	dos	homens…”.	Essa	assertiva	é	
esclarecedora e ao mesmo tempo indicativa da necessidade de se compreender como o 
processo de racionalização da fé se expressa no processo de construção de um edifício 
teológico sistematizado.
FIGURA 1 – A COMPREENSÃO PELA RAZÃO
FONTE: <https://shutr.bz/3Anib7X>. Acesso em: 12 ago. 2021.
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A	fé	cristã	precisou	marcar	sua	posição	diante	das	doutrinas	pagãs,	combatê-
las e se tornar hegemônica, não só no âmbito institucionalizado, mas também entre a 
grande massa da população. Neste processo, veremos o surgimento dos chamados “Pais 
da Igreja”, apologetas e teólogos, ou simplesmente sacerdotes e homens consagrados, 
que defendiam a fé cristã e contribuíram para a constituição de uma teologia cristã. 
Todo	esse	movimento	influenciará	fortemente	a	questão	da	evangelização,	ou	
seja, da visão de como levar a palavra do Evangelho a partir das doutrinas e dogmas 
que	se	vão	constituindo.	O	âmbito	teológico	tomará	ainda	maior	importância	a	partir	da	
chamada	Escolástica,	quando	a	sistematização	da	doutrina	cristã,	e	seus	fundamentos,	
será	fortemente	confrontada	com	a	sistematização	filosófica.	Não	que	os	Pais	da	Igreja	
não	tiveram	que	entrar	em	embate	com	as	tradições	filosóficas	clássicas	gregas,	mas	
na	Escolástica	este	embate	será	crucial	para	se	estabelecer	uma	tradição	de	ensino	da	
teologia cristã.
No	 âmbito	 eclesiológico,	 o	 desafio	 era	 constituir	 uma	 Igreja	 que	 pudesse	
organizar	a	obra	evangelizadora.	O	termo	“igreja”	vem	do	grego	ekklesia que, segundo 
Baily	 (2000,	p.	268),	 significa:	 “assembleia	por	convocação,	assembleia	de	um	povo”.	
Neste sentido, a “ekklesia” de Cristo é a assembleia daqueles que ouviram sua 
mensagem, se arrependeram e foram batizados, sendo convocados a estarem juntos, 
reunidos, em torno do nome de seu mestre e salvador. Esta é a autoridade primeira, 
central	da	Igreja	de	Deus	revelada	e	alicerçada	em	seu	Filho	Unigênito,	assim,	é	a	Igreja	
de	Deus	em	Cristo.	Como	bem	aponta	Tillard	(1967,	p.	218):
Aliás,	 como	 poderia	 suceder	 diversamente	 para	 a	 Igreja,	 que	 só	
realiza a sua vocação de serva do Pai passando pelo mistério do 
Senhor	Jesus?	Porque	ela	só	é	Ekklesia tou Theou sendo Ekklesia tou 
Christou. Mais radicalmente ainda, ela só é Ekklesia tou Theou porque 
é Ekklesia tou Christou,	 reunião	 dos	 homens	 no	 Corpo	 do	 Senhor	
Jesus,	no	sentido	realista	desta	expressão,	comunhão	de	vida	e	de	
destino com aquele que o Pai introduziu na plenitude de sua glória.
 
A	autoridade	espiritual	da	 Igreja	 já	estava	posta	desde	o	comissionamento	de	
Jesus	a	seus	discípulos,	ele	ordena	que	eles	saiam	e	batizem	em	nome	do	Pai,	do	Filho	e	
do	Santo	Espírito,	sendo	este	o	ordenamento	do	querigma	fundador	da	assembleia	dos	
santos.	Todavia,	a	autoridade	temporal,	a	condição	de	religião	oficial	do	Império	Romano,	
trouxe novas prerrogativas à constituição da Igreja, da Ekklesia. Prerrogativas estas que 
se	fundamentavam	em	um	ordenamento	hierárquico	e	litúrgico,	representando	a	própria	
universalidade da Igreja. 
Para compreendermos melhor todo este processo, nos determos na discussão 
sobre a sistematização da teologia a partir dos Pais da Igreja, buscando nuançar seus 
principais pontos, para depois analisar a importância dos primeiros concílios para solidi-
ficação	do	processo	de	constituição	da	Igreja	a	expansão	da	mensagem	do	Evangelho.	
65
2 A SISTEMATIZAÇÃO DA TEOLOGIA CRISTÃ E OS PAIS 
DA IGREJA
O	chamado período	dos	“Pais	da	Igreja”	ou	ainda	dos	“SantosPadres”,	que	vai	do	
século I até o século VII, é o período no qual as comunidades cristãs enfrentavam forte 
repressão	e	dificuldades	em	serem	aceitas	nas	diversas	culturas	em	que	 já	estavam	
inseridas. Porém, foi no mundo greco-romano que os Pais da Igreja tiveram um papel 
central na defesa da fé cristã e no assentamento de uma teologia mais clara, concisa e 
mais bem sistematizada. 
FIGURA 2 – PAIS DA IGREJA
FONTE: <https://shutr.bz/3Dsae3w>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Certamente que neste período a verdade do Evangelho estava longe de ser 
pregada	em	todas	as	nações	da	terra,	todavia,	este	momento	de	afirmação,	de	construção	
e	 consolidação	 da	 teologia	 cristã	 era	 fundamental	 para	 a	 própria	 sobrevivência	 do	
Cristianismo.	Antes	 de	 se	 tornar	 a	 religião	 oficial	 do	 Império	 Romano,	 o	Cristianismo	
precisou fundamentar seus princípios em termos que pudessem ser reconhecidos e 
assimilados	 pelos	 indivíduos	 e	 pelas	 próprias	 instituições	 do	 Estado.	 É	 necessário	
apontar	que	o	chamado	Novo	Testamento	é	compilado	apenas	no	final	do	século	 IV,	
como	nos	instrui	Ohlweiler	(1990,	p.	195):
Os	 escritos	 canônicos	 são	vinte	 e	 sete,	 abrangendo	os	 Evangelhos	 segundo	
Mateus,	Marcos,	Lucas	e	João,	os	Atos	dos	apóstolos,	 atribuídos	a	Lucas,	uma	série	
de Epístolas atribuídas a diversos apóstolos, especialmente Paulo, e o Apocalipse de 
66
João.	 O	 estabelecimento	 definitivo	 dos	 textos	 canônicos	 só	 foi	 efetivado	 por	volta	 da	
segunda	metade	do	século	IV	no	leste	do	Mediterrâneo	e	no	fim	do	século	V	no	oeste.	
Os	teólogos	cristãos	consideram	que	os	quatro	Evangelhos,	dedicados	à	vida	de	Jesus	 
e seus “milagres”, formam a parte essencial do Novo Testamento.
Este fato de o Novo Testamento ter sido compilado em seus vinte e sete livros 
apenas no século IV, mesmo que apresentando uma variação em sua composição, é 
importante para percebermos como os primeiros Pais da Igreja estão dependentes da 
tradição oral, dos Evangelhos sinóticos e dos textos esparsos das Epístolas apostólicas. 
A	fórmula	mais	primitiva,	mais	básica	e	poderosa	da	mensagem	cristã,	é	a	de	que	Jesus	
é	o	Filho	Unigênito	de	Deus	que	deu	sua	vida	como	sacrifício	para	salvar	a	humanidade.	
Na	passagem	bíblica	de	Atos	8,36-38,	vemos	esta	fórmula	como	único	requisito	para	
ser batizado, como segue:
36 Prosseguindo pela estrada, chegaram a um lugar onde havia 
água.	O	eunuco	disse:	 “Olhe,	aqui	há	água.	Que	me	 impede	de	ser	
batizado?”	37 Disse	Filipe:	“Você	pode,	se	crê	de	todo	o	coração”.	O	
eunuco	 respondeu:	 “Creio	que	Jesus	Cristo	é	o	Filho	de	Deus”.	 38 
Assim,	deu	ordem	para	parar	a	carruagem.	Então	Filipe	e	o	eunuco	
desceram	à	água,	e	Filipe	o	batizou	(BÍBLIA	SAGRADA,	2002).		
Nessa passagem, vemos a fórmula primitiva da fé cristã, a mensagem de que 
Jesus	é	o	Filho	de	Deus,	é	a	“fórmula	cristológica”,	base	de	toda	a	doutrina	cristã	e	será	
também	a	base	de	toda	a	construção	teológica	dos	Pais	da	 Igreja.	Sistematizar	essa	
mensagem em termos que pudessem combater os ataques dos pagãos e hereges era 
o	grande	desafio	dos	Pais	da	 Igreja.	A	evangelização,	o	caráter	missionário	da	 Igreja,	
dependia de uma doutrina que pudesse ser vista de forma mais organizada e explicativa, 
principalmente, frente aos questionamentos levantados por aqueles que buscavam 
depreciar a fé cristã.
FIGURA 3 – BÍBLIA SAGRADA
FONTE: <https://shutr.bz/3oP1aRY>. Acesso em: 12 ago. 2021.
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Junto	à	fórmula	cristológica	temos	a	chamada	“fórmula	trinitária”,	expressa	pelo	
próprio	Jesus,	como	descrito	em	Mateus	28,19:	“Portanto,	vão	e	façam	discípulos	de	todas	
as	nações,	batizando-os	em	nome	do	Pai	e	do	Filho	e	do	Espírito	Santo”	(BÍBLIA	SAGRADA,	
2002).	 Esse	 símbolo	 da	 fé	 será	 central	 para	 a	 diferenciação	 da	 mensagem	 cristã	 das	
demais	religiões,	bem	como	será	também	um	dos	pontos	nos	quais	os	Pais	da	Igreja	terão	 
que se debruçar para estabelecer uma doutrina compreensível e até mesmo plausível. 
Questões	como	as	duas	naturezas	de	Cristo,	a	espiritual	e	a	carnal,	a	questão	do	
batismo, a doutrina da ressurreição de Cristo, a concepção imaculada, entre tantas outras 
que	desafiaram	a	inteligência	da	fé	dos	primeiros	Pais	da	Igreja.	A	compreensão	deste	
período da história da Igreja de Cristo é extremamente importante para entendermos 
como a mensagem da fé cristã foi tomando uma forma mais sistematizada, mais concisa 
e	esclarecedora.	Para	tal,	é	preciso	fazer	uma	distinção	muito	importante,	há	o	estudo	
da teologia do período dos Pais da Igreja, bem com o estudo dos aspectos históricos e 
eclesiológicos	deste	período.	Trazemos	aqui	uma	esclarecedora	colocação	de	Latourelle	
(1981,	p.	147-148):
A	teologia	patrística	tem,	por	fim,	expor	com	fidelidade	o	pensamento	
dos	 Padres	 da	 Igreja,	 a	 fim	 de	 participar	 da	 inteligência	 que	 eles	
tiveram	 da	 fé	 cristã.	 Supõe,	 no	 ponto	 de	 partida,	 o	 estudo	 atento	
do	vocabulário	do	Padres,	dos	gêneros	 literários	por	eles	adotados,	
do	 contexto	histórico	no	qual	viveram.	 […]	A	patrologia	 é	 a	 ciência	
que	estuda	os	Padres	e	os	escritores	eclesiásticos	da	Igreja	antiga,	
especialmente	sua	vida	e	obras,	do	tríplice	ponto	de	vista	filológico,	
filosófico	 e	 teológico.	 É	 a	 patrologia	 uma	 disciplina	 principalmente	
histórica	[...].
Tomando em conta essa distinção entre teologia patrística e patrologia, podemos 
colocar que nosso objetivo aqui é compreender, mesmo que de forma sucinta, como a 
teologia	e	a	eclesiologia,	a	inteligência	da	fé	e	a	compreensão	histórica	da	constituição	
da Igreja, podem nos ajudar a compreender a importância do período dos Pais da Igreja 
para a disseminação do Evangelho. 
Já	 no	 primeiro	 século,	 no	 início	 do	 fortalecimento	 das	 comunidades	 cristãs	
fora	 de	 Jerusalém,	 tem-se	 um	 texto	 de	 autoria	 desconhecida,	 mas	 que	 remete	 ao	
ensinamento dos apóstolos e é um dos documentos mais antigos de ensino na incipiente 
Igreja. A chamada Didaché é um tipo de manual, uma coletânea de apontamentos morais, 
instruções para a organização da comunidade cristã, regras relacionadas a uma inicial 
liturgia.	Como	indica	Quasten	(1967,	p.	35):	“A	Didaché	é	o	documento	mais	importante	
do período imediatamente sucessivo aos apóstolos e a fonte mais antiga que possuímos 
da	legislação	eclesiástica”.
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A partir da Didaché pode-se perceber que a disposição em se criar meios de 
instrução	e	preparação	dos	fiéis,	caminhava	junto	com	a	preocupação	em	se	estabelecer	
uma	 liturgia	que	 refletisse	a	verdade	da	 fé.	Esses	dois	 fatores	 juntos	constituíam	as	
bases	da	formação	de	uma	Igreja	que	era,	ao	mesmo	tempo,	missionária	e	acolhedora,	
expansionista	e	formadora.	Figuras	centrais	como	Clemente	Romano	(35	d.C.	–	97	d.C.),	
Inácio	de	Antioquia	(35	d.C.	–	110	d.C.),	Policarpo	de	Esmirna	(69	d.C.	–	155	d.C.),	além	
dos	Padres	Gregos	e	Latinos,	como	Clemente	de	Alexandria	 (150	d.C.	–	215	d.C.)	e	o	
próprio	Agostinho	de	Hippona	(354	d.C.	–	430	d.C.),	do	qual	falaremos	mais	a	frente,	
foram os promulgadores dos primeiros dogmas, doutrinas, liturgias e defesa da fé cristã.
Ainda	 de	 acordo	 com	 Quasten	 (1967),	 Clemente	 Romano	 é	 o	 autor	 de	 um	
importante texto, uma Carta aos Coríntios, sendo este o documento mais antigo da 
literatura cristã, fora do Novo Testamento, nela Clemente fala da perseguição de Nero 
aos	cristãos,	entre	outros	assuntos.	Já	Inácio	de	Antioquia	trata	de	assuntos	importantes	
como	a	cristologia,	já	defendendo	as	naturezas	divina	e	carnal	de	Jesus,	a	concepção	
imaculada, além disso, ele é o primeiro a usar o termo “Igreja Católica”, sendo esta a 
Igreja de Cristo na Terra. 
Por sua vez, Policarpo de Esmirna, que sofre martírio, escreve uma Carta aos 
Filipenses,	na	qual	ele	faz	uma	defesa	da	morte	de	Jesus	na	cruz	e	sua	natureza	carnal,	
dizendo	ser	um	“anticristo”	aquele	que	nega	tais	coisas.	Ele	ainda	defende	a	obediência	
dos	 crentes	 aos	 seus	 bispos	 e	 diáconos,	 oferecendo,	 assim,	 toda	 uma	 instrução	
eclesiológica. 
Clemente de Alexandria foi um importantepatriarca da Igreja naquela cidade, 
que era uma das mais importantes da época, com intensa discussão religiosa e 
intelectual, principalmente, por conta da comunidade judaica que ali vivia. Clemente faz 
uma ampla defesa da fé cristã frente ao paganismo grego, em sua obra Exortação aos 
Gregos, ele critica a adoração aos deuses do panteão grego, buscando demonstrar que 
tal	culto	é	indigno	frente	à	adoração	ao	verdadeiro	Deus.	
FIGURA 4 – ESCRITOS DOUTRINÁRIOS
FONTE: <https://shutr.bz/3BtRHTD>. Acesso em: 12 ago. 2021.
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A constituição de uma eclesiologia, bem como uma teologia, concisa e clara, 
fundamentadas na mensagem de Cristo, foi preponderante para que a Igreja impulsio-
nasse seu crescimento nas culturas pagãs da época. Não só por ter se tornado a religião 
do	 Império	Romano,	em	384	d.C.	 através	do	Edito	de	Tessalônica,	 feito	por	Teodósio	
Magno, mas por ter conseguido constituir uma organização bem fundamentada e am-
parada pelos dogmas, doutrinas, liturgias, textos e tradições.
Ainda neste contexto de defesa da fé e constituição de uma teologia cristã 
robusta,	nos	voltaremos	para	a	maior	figura	deste	período,	um	dos	Pais	da	 Igreja	na	
África,	Santo	Agostinho.
2.1 SANTO AGOSTINHO E O EMBATE CONTRA OS PAGÃOS E 
HEREGES 
Entre	os	anos	de	354	d.C.,	nascimento	de	Agostinho,	e	430	d.C.,	ano	de	sua	
morte,	o	Império	Romano	passou	por	um	duro	período	de	transformações,	o	qual	inclui	
o	saque	de	Roma	por	Alarico	em	410	d.C.	e	a	expansão	dos	exércitos	“bárbaros”.	Neste	
período também era efervescente a disputa entre diversas seitas religiosas, doutrinas 
espirituais,	 correntes	 filosóficas	 e	 os	 chamados	 cultos	 órficos	 ou	 mistérios.	 Mesmo	
dentro do Cristianismo, havia inúmeras divisões e disputas sobre a verdadeira doutrina 
da	fé,	as	verdadeiras	práticas	litúrgicas	e	até	mesmo	sobre	a	legitimidade	da	herança	do	
ministério	apostólico	reivindicada	pela	Igreja	Romana.	
FIGURA 5 – AGOSTINHO DE HIPPONA
FONTE: <https://shutr.bz/30esRtr>. Acesso em: 12 ago. 2021.
70
Agostinho	estudou	por	vários	anos	em	Tagaste,	sua	cidade	natal,	não	possuía	
domínio da língua grega, a língua “culta” da época, mas era profundo admirador dos 
clássicos	 latinos,	 como	Cícero,	 Terêncio	 e	 Plauto.	 Ele	 se	 torna	 professor	 de	 retórica,	
tendo	ensinado	em	Cartago	e	posteriormente	indo	para	Roma,	centro	natural	para	um	
jovem em busca de sucesso. Contudo, Agostinho, em sua juventude, teve uma vida 
muito	desregrada	e	voltada	para	os	prazeres	e	excessos,	dos	quais	ele	falará,	em	tom	de	
arrependimento, nas suas Confissões. Como ele mesmo expõe:
O	 inimigo	 dominava	 o	meu	 querer,	 e	 dele	 me	 forjava	 uma	 cadeia	
com	que	me	apertava.	Ora,	a	 luxúria	provém	da	vontade	perversa;	
enquanto	se	serve	à	luxúria	contrai-se	o	hábito;	e	se	não	se	resiste	
a	um	hábito,	origina-se	uma	necessidade.	Era	assim	que,	por	uma	
espécie de anéis entrelaçados — por isso lhes chamei cadeia —, 
me	segurava	apertado	em	dura	escravidão	(AGOSTINHO,	Confissões 
VIII	5,10).
Essa	experiência	de	depravação	e	 “vida	 livre”	marcou	não	só	a	 juventude	do	
Bispo	de	Hippona,	mas	influenciou	sua	obra	teológica,	a	qual	será	fortemente	direcionada	
para	 a	 questão	da	vontade,	 do	mal	 e	 da	 remissão	pela	 “graça”.	O	maniqueísmo	 será	
a	primeira	esteira	teórica	na	qual	Agostinho	buscará	uma	sabedoria	que	 lhe	pudesse	
abrir as portas do entendimento. A tentativa de explicar a malignidade existente no 
mundo,	principalmente,	aquela	do	coração	humano,	será	uma	das	marcas	da	teologia	
agostiniana,	mas	será	também	um	ponto	de	dura	disputa	com	várias	seitas	religiosas.
FIGURA 6 – MALDADE HUMANA
FONTE: <https://shutr.bz/3AsN9vv>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Agostinho	será	um	dos	maiores	apologetas	do	Cristianismo,	combatendo	várias	
heresias e ameaças vindas dos pagãos e daqueles que viam nessa religião a falha 
do	Império	Romano.	Com	o	saque	de	Roma,	por	Alarico,	os	romanos	não	convertidos	
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FIGURA 7 – SER HUMANO AFASTADO DE DEUS
FONTE: <https://shutr.bz/2YvOt3B>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Agostinho articula uma relação entre indivíduo e sociedade que até então 
não havia sido construída dentro da tradição cristã. Ao escrever a Cidade de Deus, ele 
promulga uma compreensão não só espiritual, mas também política da individualidade 
da	mensagem	do	Evangelho.	Duas	cidades	se	desenvolvem	em	paralelo	desde	a	queda	
do	 ser	 humano	no	Éden,	 a	 saber,	 a	Cidade	Celeste,	 aquela	 que	 já	 existia	 no	 céu	na	
presença	de	Deus,	e	a	Cidade	Terrena,	aquela	que	surge	após	a	queda	de	Satanás	e	
posteriormente é povoada após a queda do ser humano. 
começaram a acusar a fé cristã de ter enfraquecido a tradição e o ânimo da sociedade 
romana, introduzindo costumes novos e pouco afeitos à guerra e a conquista. Como o 
próprio Agostinho aponta em sua obra a Cidade de Deus:
Ontem,	 respondendo	 à	 carta	 de	 Marcelino,	 tribuno.	 Sendo	 ele	 um	
justo homem, católico fervoroso e amigo cordial. Insta-me a que 
escreva,	após	o	saque	de	Roma,	uma	obra	cujo	tema	seja	a	Cidade	
de	Deus.	É	um	grande	e	árduo	compromisso!	Escrevê-la-ei,	se	Deus	
quiser.	(AGOSTINHO,	Sermões,	356,	10)
Além	disso,	“Por	isso,	ardendo	no	zelo	à	casa	de	Deus,	resolvi	escrever	os	livros	
sobre	a	Cidade	de	Deus	contra	as	blasfêmias…”	(AGOSTINHO,	Retratações,	II,	43).	Essas	
duas	passagens	nos	mostram	como	o	ocorrido	do	 saque	de	Roma	 influenciou	a	obra	
agostiniana,	tida	como	sua	obra	máxima.	Neste	livro,	Agostinho	inaugura	e	renova	várias	
linhas da teologia cristã, desde uma eclesiologia da “Igreja Católica”, universal, até uma 
teologia da história, na qual a história humana e a divina se desenvolvem a partir de um 
acontecimento	em	comum	e	vão	até	um	final	também	em	comum.
72
Segundo	o	Bispo:
Dois	amores	fundaram,	pois,	“duas	cidades”,	a	saber:	o	amor-próprio,	
levado	ao	desprezo	de	Deus,	a	terrena;	o	amor	a	Deus,	 levando	ao	
desprezo	de	si	próprio,	a	Celestial.	Gloria-se	a	primeira	em	si	mesma	
e	a	segunda	em	Deus,	porque	aquela	busca	a	glória	dos	homens,	e	
tem	essa,	por	máxima,	a	glória	de	Deus…	(AGOSTINHO,	De	Civ.	Dei,	
XIV,	28,	1941).
Além disso, Agostinho ataca uma das bases do modelo político-religioso dos 
romanos, a busca da glória e a valorização da religião nacional. Ainda segundo ele: “Não 
se preocupa com a diversidade de leis, de costumes nem de institutos, que destroem 
ou	mantêm	a	paz	terrena	[…]	se	não	impede	que	a	religião	ensine	que	deva	ser	adorado	
o	Deus	único,	verdadeiro	e	sumo”	 (AGOSTINHO,	De	Civ.	Dei.	XIX,	 17,	 1941).	Esse	é	um	
duro	 golpe	 no	modelo	 político-religioso	 de	 Roma,	 pois	 desvincula	 completamente	 o	
indivíduo	de	sua	sociedade,	caso	esta	impeça-o	de	seguir	a	verdadeira	fé.	O	indivíduo	
que se converte à palavra do Evangelho não é mais romano, grego, judeu, gentio ou de 
qualquer outra nacionalidade, agora ele é um cidadão da Cidade Celeste. 
Agostinho também combateu os maniqueístas, seus antigos companheiros, bem 
como os donatistas. Contra os primeiros, Agostinho expõe uma concisa teoria sobre a 
questão do mal, ponto-chave para a doutrina maniqueísta e ainda uma questão latente 
dentro	do	próprio	Cristianismo.	Segundo	Brown	 (2015,	p.	63):	 “Para	o	maniqueísta,	o	
universo existente, no qual bem e mal se mesclavam de maneira tão desastrosa, brotara 
de	uma	invasão	frontal	do	bem	–	o	“Reino	da	Luz”	–	pelo	mal	–	o	“Reino	das	Trevas”.”	
Essa	 doutrina,	 rejeitada	 pelo	 Bispo	 Agostinho,	 trazia	 inúmeras	 implicações	 para	
a	fé	cristã,	principalmente,	porque	colocava	o	bem,	refém	do	mal,	ou	seja,	Deus	impassivo	
diante	 de	 Satanás.	 De	 acordo	 com	 Coyle	 (2001),	 Agostinho	 escreve	 mais	 de	 13	 textos	
relacionados à controvérsia com os maniqueístas, isso apenas nas primeiras duas décadas 
do	 ministério	 dele	 como	 bispo.	 Todavia,	 podemos	 afirmar	 que	 as	 principais	 referências	
estão	no	Livro	III,	das	Confissões, e no De libero arbitrio. Agostinho demonstra que o mal é 
a	ausência	da	presença	de	Deus,	ou	seja,	o	afastamento	da	luz	de	Deus,	ao	estar	separado	 
de	seu	criador,	o	ser	humanoestá	inserido	nas	trevas,	na	ausência	da	luz	divina.	
Essa	questão	põe	abaixo	a	tese	maniqueísta	de	passividade	do	bem,	de	Deus,	
frente	a	existência	do	mal,	bem	como	põe	abaixo	a	tese	de	que	o	mal	é	algo	que	se	
equivale ao bem. Além de combater o erro maniqueísta, Agostinho estipula a base para 
se pensar o “mecanismo da conversão”, o ser humano tem o livre-arbítrio para escolher 
se	quer	o	bem	ou	o	mal,	Deus	em	sua	infinita	justiça	não	poderia	ter	criado	o	ser	humano	
sem esta liberdade. 
Contra os donatistas, Agostinho faz uma defesa da eclesiologia da Igreja Católica, 
sendo esta indivisível e verdadeira. Na realidade, a controvérsia com os donatistas não 
era	de	cunho	teológico	ou	doutrinal,	não	se	configurava	uma	heresia	ou	blasfêmia,	mas	
punha	em	xeque	a	unidade	da	Igreja	e	a	legitimidade	do	pontificado	romano.	
73
Como	nos	indica	Brown	(2015,	p.	251):	“O	cisma	entre	católicos	e	donatistas	não	
ocorreu	 por	 qualquer	 discordância	 doutrinária	 profunda,	mas	 pelas	 afirmações	 rivais	
dos dois grupos de bispos de viverem à altura do ideal da função episcopal, tal como 
exemplificada	por	São	Cipriano”.	Esse	cisma	foi	a	negação	da	autoridade	do	Pontífice	
de	Roma	e	a	tentativa	de	separação	da	igreja	africana,	sendo	esta	uma	tentativa	que	
colocava	em	perigo	a	unidade	da	Igreja.	Agostinho	era	a	referência	da	igreja	africana	e	
também	a	referência	para	a	evangelização	e	a	defesa	da	fé	nesta	região.	Sua	disputa	com	
os donatistas era uma necessidade regional, bem como um imperativo para se manter 
a	unidade	da	Igreja.	No	fim,	os	donatistas	são	enfraquecidos	e,	por	fim,	desaparecem.	
Agostinho foi um dos mais importantes defensores da fé cristã, da Igreja 
e da necessidade de se levar a palavra do Evangelho, sua obra é muito extensa e 
intricada, sendo a base da teologia emergente no início da Idade Média. Entretanto, 
as	controvérsias	e	disputas	continuaram,	 sendo	necessários	vários	 concílios	para	 se	
dirimir tais questões. No próximo tópico, nos deteremos neste ponto e discutiremos 
brevemente a importância dos concílios.
3 A MENSAGEM DO EVANGELHO E OS PRIMEIROS 
CONCÍLIOS DA IGREJA
Na história do Cristianismo, desde a época dos próprios apóstolos, a tradição 
dos	Concílios	está	posta	como	uma	maneira	de	resolver	questões	que	não	estão	muito	
claras	ou	suscitam	visões	conflitantes.	Podemos	nos	lembrar	do	Concílio	de	Jerusalém,	
cujo tema central era a questão da imposição de normas vindas da lei judaica para os 
novos convertidos gentios. 
FIGURA 8 – CONCÍLIOS
FONTE: <https://shutr.bz/3mIaPay>. Acesso em: 12 ago. 2021.
74
Podemos	elencar	sete	primeiros	Concílios	que	se	constituíram	como	ecumênicos.	
Todavia, não trataremos de todos eles, por motivos de espaço, mas também por nossa 
intenção de tratarmos de pontos mais centrais. Cronologicamente podemos elencar 
os	seguintes	Concílios:	Concílio	de	Niceia,	em	325	d.C.;	Concílio	de	Constantinopla,	em	
381	d.C.;	Concílio	de	Éfeso,	em	431	d.C.;	Concílio	da	Calcedônia,	em	451	d.C.;	Segundo	
Concílio	de	Constantinopla,	em	553	d.C.;	Terceiro	Concílio	de	Constantinopla,	em	680	
d.C.;	Segundo	Concílio	de	Niceia,	em	787	d.C.	
A questão da evangelização, a missão da Igreja em levar o Evangelho a todos os 
cantos da terra, estava dependente dos resultados de todos estes Concílios, uma vez 
que neles se decidiria sobre temas importantes como a Trindade, o Credo da Igreja, o 
combate a heresias e importantes questões eclesiológicas. Por este prisma, podemos 
compreender	que	nenhum	tema	estaria	pacificado	até	que	estivesse	reconhecido	como	
ponto	dogmático,	ou	seja,	que	não	poderia	ser	negado	e	justificado	pela	fé.
Contudo, nem sempre tal consenso era alcançado, permanecendo as discussões 
até o próximo Concílio, fato que ocorreu mais de uma vez com temas extremamente 
centrais,	principalmente,	sobre	a	cristologia	e	a	eclesiologia.	Os	Concílios	se	constituíam	
como	momentos	de	busca	da	revelação	da	vontade	de	Deus,	ou	seja,	espera-se	que	os	
cardeais,	 bispos	 e	 todos	 os	 teólogos	 presentes,	 bem	 como	 autoridades	 eclesiásticas,	
recebam a inspiração divina para resolução das questões.
FIGURA 9 – INSPIRAÇÃO DIVINA
FONTE: <https://shutr.bz/3ApPhEl>. Acesso em: 12 ago. 2021.
75
Além	 disso,	 os	 Concílios	 se	 tornam	 pontos	 de	 referência	 para	 todos	 os	
documentos da Igreja e para o direcionamento pastoral, assim como para as diretrizes 
de	evangelização,	liturgia	e	demais	atividades.	Como	nos	indicam	Riedmatten	e	Franch	
(1967,	p.	521):	
Quando	um	Concílio	 Ecumênico	 se	 exprime	 sobre	um	ponto,	 suas	
palavras revestem uma autoridade singular, e servem de premissas 
ao	comportamento	concreto	dos	filhos	fiéis	da	Igreja.	[...]	Os	Padres	
mediam suas responsabilidades pelas diversas situações que se 
achariam afetadas pela sua decisão.
As	 consequências	 dos	 primeiros	 Concílios	 reverberaram	 durante	 toda	 a	 Idade	
Média e estão presentes nas teologias surgidas tanto na igreja do ocidente, quanto na 
igreja do oriente, e ainda nas teologias protestantes e ortodoxa. Em outros termos, a 
herança destes Concílios nos alcança até os dias atuais. Ao pensarmos na questão 
da	 evangelização,	 na	 teologia	 da	 missão,	 podemos	 afirmar	 que	 os	 Concílios	 foram	
extremamente importantes para se estabelecer uma compreensão das premissas da 
doutrina cristã, as quais fundamentam todo o movimento de pregação do Evangelho.
Nesse	 sentido,	 como	 já	 indicado,	 nos	 voltaremos	 para	 alguns	 dos	 mais	
importantes Concílios, buscando nuançar seus pontos mais distintos e abrangentes, 
nos	deteremos	nos	dois	Concílios	de	Niceia	e	no	Concílio	de	Éfeso.
3.1 OS CONCÍLIOS DE NICEIA, ÉFESO E NICEIA II 
O	primeiro	Concílio	de	Niceia	ocorreu	em	325	d.C.,	período	que	não	era	muito	
favorável	à	cultura	romana,	uma	vez	que	o	império	estava	sob	constante	ameaça.	De	
acordo	com	Brown	(2015,	p.	28),	“No	século	IV	o	Império	Romano	enfrentava	as	tensões	
da	 guerra	 perpétua.	 Caía	 presa	 de	 bandos	 de	 bárbaros	 ao	 norte	 e	 era	 contestado	
pelo	 reino	 bem-organizado	 e	militarista	 da	 Pérsia	 no	 Leste”.	 Podemos	 destacar	 três	
pontos deste Concílio, os quais, na verdade, são os mais discutidos e apontados 
pelos estudiosos atuais do tema. Primeiro, a composição de um credo que reunisse 
as	principais	doutrinas	 referentes	à	fé	em	Jesus	Cristo	como	Messias	e	Salvador	do	
mundo,	a	Igreja	Católica(universal),	a	verdade	do	Espírito	Santo	e	a	vida	eterna.	
O	Credo	Niceno	surge	como	uma	forma	de	referenciar	a	doutrina	básica	da	Igreja,	
aceita tanto para igreja ocidental quanto oriental, bem como para combater algumas 
heresias que se espalhavam pelas comunidades cristãs. A heresia que, nesse momento, 
mais se disseminava e ameaçava a unidade doutrinal da Igreja, era o arianismo. Ário foi 
um	bispo	de	Alexandria	que	difundia	a	ideia	de	que	Jesus	Cristo	não	era	igual	ao	Pai	em	
substância, uma vez que ele nasceu, surgiu no tempo em forma carnal. 
76
FIGURA 10 – TRINDADE
FONTE: <https://shutr.bz/3AsOFhb>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Nesse	Concílio	foi	abordado,	ainda,	o	tema	da	cristologia,	reafirmando	a	doutrina	
da	 santidade	 de	 Jesus,	 sua	 unidade	 com	 o	 Pai	 e	 o	 Espírito	 Santo,	 bem	 como	 sua	
reencarnação do corpo e alma. Um século depois do Concílio de Niceia, o tema ainda 
é	objeto	de	apreciação	e	é	reafirmado	pela	autoridade	conciliar	da	Igreja.	Outro	ponto	
importante	foi	a	reafirmação	da	Virgem	Maria	como	“Mãe	de	Deus”,	não	apenas	como	
mãe	de	Jesus,	o	que	 refletia	uma	doutrina	adocionista	na	qual	Jesus	não	teria	uma	
natureza divina igual à do Pai. 
Nesse sentido, ele seria inferior ao Pai, ferindo diretamente a doutrina da Trindade 
e	a	noção	cristológica	de	que	Jesus	é	“um	com	o	Pai”,	sua	natureza	divina	não	foi	gerada	
no	momento	da	geração	da	natureza	carnal.	O	combate	a	esta	heresia	era	essencial	para	 
se defender a verdade do Evangelho e o próprio ensinamento dos apóstolos. 
O	Concílio	de	Éfeso,	em	431	d.C.,	ocorrerá	já	sob	um	Império	Romano	devastado	
no	ocidente,	tendo	ocorrido	o	saque	de	Roma	em	410d.C.,	por	Alarico,	rei	dos	Visigodos,	 
a	invulnerabilidade	de	Roma	não	é	mais	um	trunfo.	Em	395	d.C.,	o	imperador	Teodósio	
já	havia	estabelecido	a	divisão	do	império,	tendo	a	porção	ocidental	sua	sede	em	Roma	
e a porção oriental sua sede em Constantinopla, mais de sessenta anos depois de 
Constantino fundar esta cidade.
77
O	nestorianismo	também	foi	combatido	neste	Concílio.	Nestor	foi	Patriarca	de	
Constantinopla,	tendo	assim	muita	influência	na	igreja	oriental.	Sua	tese	era	a	de	que	
Jesus	tinha	uma	natureza	humana	distinta	de	uma	natureza	divina,	algo	muito	próximo	
à	controvérsia	ariana.	As	consequências	desta	tese	são	várias,	mas	as	principais	podem	
ser	apontadas	como	a	negação	da	Trindade,	ou	seja,	de	que	Jesus	é	Uno	com	Deus	Pai	
e	o	Espírito	Santo,	além	da	negação	da	própria	Encarnação.	
Além	disso,	Nestor	também	nega	a	doutrina	de	que	Maria	seria	a	“Mãe	de	Deus”,	
uma	vez	que	seu	filho	não	teria	uma	natureza	divina	compartilhada	com	o	Pai.	Todavia,	
a	questão	é	que	tal	heresia	continuou	influente	na	igreja	do	oriente,	causando,	inclusive,	
o	chamado	“cisma	nestoriano”.	Não	há	dúvidas	de	que	as	implicações	da	reafirmação	da	
doutrina	da	Trindade,	bem	como	de	Maria	como	“Mãe	de	Deus”,	são	 importantes	para	a	
evangelização	e	a	instrução	dos	novos	fiéis.	
Por	fim,	o	segundo	Concílio	de	Niceia	ocorreu	em	787	d.C.,	 já	em	um	cenário	
bastante	diferente	daquele	de	trezentos	anos	antes,	no	Concílio	de	Éfeso.	O	 Império	
Romano	oriental	 se	mantém	de	pé,	mas	a	 influência	da	qual	dispunha	não	era	mais	
a	 mesma	 de	 trezentos	 anos	 antes.	 O	 segundo	 Concílio	 de	 Niceia	 gira	 em	 torno,	
basicamente, da controvérsia sobre o uso de imagens sagradas nas igrejas, algo que 
era bastante popular nas comunidades cristãs do ocidente. 
Entretanto, surge na igreja oriental, principalmente em Constantinopla, um 
movimento “iconoclasta”, que destrói imagens e ícones. A alegação dos iconoclastas 
é a de que as imagens representam uma idolatria que era condenada pelo Evangelho, 
mas vence a tese defendida pela igreja ocidental de que as imagens não representavam 
idolatria, pois, não se dava a elas a mesma adoração devida à Trindade. A veneração é 
a tomada de um símbolo, um ideal de santidade e justiça a ser alcançado e deve ser 
admirado e seguido.
Como a esmagadora maioria da população não sabia ler, muito menos possuía 
um	exemplar	da	Bíblia,	as	imagens,	ícones,	pinturas	e	demais	símbolos,	representavam	
uma forma de contar as histórias bíblicas, falar dos exemplos de santidade e propagar 
a mensagem do Evangelho. Nesse sentido, o Concílio de Niceia II teve uma importância 
na evangelização das massas mais humildes, principalmente, daquelas que não tinham 
acesso a textos e aos grandes centros nos quais havia as grandes igrejas. 
Por	esse	 rápido	vislumbre	dos	três	Concílios	que	elencamos	aqui,	dos	primeiros	
Concílios	Ecumênicos,	podemos	perceber	que	a	mensagem	do	Evangelho	 levava	a	uma	
intensa	busca	de	aprimorar	a	inteligência	da	fé,	as	bases	doutrinais	que	seriam	seguidas	
por	todos	os	fiéis	e	que	seria	pregada	aos	novos	convertidos.	Além	disso,	a	teologia	da	
missão	 está	 diretamente	 ligada	 ao	 processo	 de	 fundamentação	 das	 doutrinas	 da	 fé	
cristã	e	das	formas	como	tais	doutrinas	são	repassadas	aos	fiéis.
78
FIGURA 11 – DOUTRINA E FÉ
FONTE: <https://shutr.bz/3mzsvVv>. Acesso em: 12 ago. 2021.
No próximo tópico, nos dedicaremos a estudar e a discutir a 
questão da relação entre fé e razão, bem como a relação entre 
evangelização e expansão da comunidade cristã na Idade Média. 
Vamos lá?
ESTUDOS FUTUROS
79
Neste tópico, você aprendeu:
•	 O	período	dos	Pais	da	Igreja	foi	extremamente	importante	para	a	fundamentação	e	o	
fortalecimento de uma teologia cristã concisa e mais clara, cujos primeiros teólogos 
e	apologetas	foram	a	base	para	o	combate	às	heresias	e	às	blasfêmias	dos	pagãos.
•	 Santo	Agostinho	foi	o	mais	importante	pensador	do	período	dos	Pais	da	Igreja,	cuja	
obra foi voltada para a fundamentação da teologia cristã, o combate às heresias e 
à	 instrução	dos	fiéis.	A	profundidade	e	a	amplitude	de	tais	obras	o	fazem	um	dos	
autores	mais	estudado	não	só	na	Teologia,	mas	também	na	Filosofia	e	áreas	afins.
•	 Os	Concílios	da	Igreja,	principalmente,	os	primeiros,	do	século	I	ao	século	VIII,	serviram	
para dirimir controvérsias e heresias que se voltavam contra temas importantes da 
fé cristã, o que colocava em xeque a evangelização, bem como a própria unidade da 
Igreja.
• Nos Concílios de Niceia, tanto no primeiro quanto no segundo, bem como no Concílio 
de	Éfeso,	foram	afirmadas	doutrinas	centrais	da	fé	cristã,	as	quais	estavam	sendo	
ameaçadas por heresias como o arianismo e o nestorianismo. Esses Concílios foram 
importantes	para	se	pacificar	temas	centrais	para	a	evangelização.
RESUMO DO TÓPICO 1
80
AUTOATIVIDADE
1	 O	início	da	Igreja	Primitiva	é	marcado	pela	forte	tradição	vinda	dos	apóstolos	e	por	
uma	construção	teológica	ainda	incipiente.	Junto	a	este	contexto,	há	a	falta	de	um	
texto	canônico	até,	pelo	menos,	o	século	IV.	Neste	cenário,	duas	fórmulas	eram	tidas	
como	centrais	tanto	para	a	evangelização	quanto	para	o	ensino	dos	fiéis,	a	saber,	
a	fórmula	cristológica	e	a	trinitária.	Sobre	estas	fórmulas	símbolos	de	fé,	assinale	a	
alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 A	fórmula	cristológica	indica	que	a	fé	em	Cristo	como	filho	de	Deus	e	Salvador	
é	o	principal	requisito	para	a	conversão	e	o	batismo,	a	fórmula	trinitária	indica	o	
batismo	em	nome	do	Pai,	do	Filho	e	do	Espírito	Santo.
b)	 (			)	 A	fórmula	cristológica	indica	que	Jesus	é	Deus	encarnado,	sendo	uma	pessoa	
com	Deus	pai	e	o	Espírito	santo.	Já	a	fórmula	trinitária	diz	respeito	ao	processo	
de conversão, escuta, arrependimento e batismo.
c)	 (			)	 A	fórmula	cristológica	foi	 sustentada	para	combater	a	heresia	da	negação	de	
Jesus	como	filho	igual	ao	Pai,	ou	seja,	sua	natureza	divina.	A	fórmula	trinitária	foi	
sustentada	para	combater	a	heresia	do	monofisismo.
d)	 (			)	 A	fórmula	trinitária	indicava	que	a	Igreja,	a	Bíblia	e	os	sacramentos	são	a	base	da	
fé	cristã.	Já	a	fórmula	cristológica	centra	a	mensagem	do	Evangelho	na	figura	de	
Jesus.
2	 A	Igreja	Católica	passou	por	vários	momentos	históricos	até	os	períodos	de	ruptura	
do	 Grande	 Cisma	 e	 da	 Reforma	 Protestante,	 entre	 estes	 períodos,	 um	 dos	 mais	
importantes	foi	o	chamado	período	dos	Pais	da	Igreja.	Com	base	nas	definições	dos	
enfoques deste período, analise as sentenças a seguir:
I-	 O	período	dos	Pais	da	Igreja	compreende	o	período	que	vai	do	apostolado	de	Pedro	
até a instituição de Clemente I como papa.
II-	 Os	 Pais	 da	 Igreja	 tiveram	 a	 tarefa	 de	 estabelecer	 as	 bases	 teológicas	 da	 Igreja	
Católica, bem como defender a fé cristã de ataques pagãos e hereges.
III-	 O	período	dos	Pais	da	Igreja	foi	marcado	pelos	Concílios	de	Latrão	e	Constantinopla,	
um importante marco na constituição da teologia cristã.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
81
3	 Os	Concílios	da	Igreja	foram	momentos	de	importantes	discussões,	entretanto,	foram	
também	momentos	de	repreensão	e	tomada	de	consciência	em	vista	de	inúmeras	
questões	que	ainda	não	estavam	suficientemente	respondidas.	Todos	eles	tiveram	
uma característica própria, pois estavam marcados por discussões pontuais e 
momentos	históricos	definidos.	De	acordo	com	este	tema	dos	Concílios,	classifique	V	
para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	 Ao	todo,	foram	doze	concílios	tidos	como	ecumênicos,	ou	seja,	que	foram	aceitos	
por todas as correntes do Cristianismo, no ocidente e oriente.
(			)	 O	primeiro	concílio,	em	Niceia,	estabeleceu	o	Credo	da	Igreja,	bem	como	combateu	
as heresias de Ário.
(			)	 O	Concílio	de	Éfeso	combateu	a	heresia	do	nestorianismo	e	reafirmou	a	maternidade	
virginal de Maria.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 F	–	V	–	V.
c)	 (			)	 F	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 Uma	 das	 figuras	 centrais	 do	 período	 dos	 Pais	 da	 Igreja	 foi	 Santo	 Agostinho,	 sua	
atuação	é	fundamental	para	entendermos	o	cenário	no	qual	a	Igreja	Católica	estava	
inserida	no	final	do	Império	Romano.	Agostinho	teve	que	combater	diversas	heresias	
e	acusações	vindas	dos	pagãos,	entre	elas	a	doutrina	maniqueísta.	Disserte	sobre	
esta	doutrina	maniqueísta	e	a	resposta	dada	por	Santo	Agostinho.
5	 O	 período	 dos	 Pais	 da	 Igreja	 é	 um	 período	 muito	 rico	 em	 termos	 de	 produção	
teológica,	eclesiológica	e	doutrinária.	Muito	se	tem	estudado	sobre	este	período	e	
sua importância não só para a Igreja Católica, mas para o Cristianismo como um todo, 
uma	 vez	 que,	 praticamente,	 todas	 a	 doutrinas	 cristãs	 refletem	 pontos	 teológicos	
surgidos	neste	período.	Neste	estudo,	há	a	teologia	patrística	e	a	patrologia.	Disserte	
sobre	estas	duas	áreas	de	estudo	do	período	dos	Pais	da	Igreja.
82
83
FÉ E RAZÃO NA TEOLOGIA 
DA MISSÃO NA IGREJA MEDIEVAL
UNIDADE 2 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO 
Acadêmico,	no	Tópico	2,	abordaremos	algumas	questões	pertinentes	à	relação	
entre	a	fé	e	a	razão,	a	Teologia	e	a	Filosofia,	a	busca	de	um	esclarecimento	lógico	e	a	
condição	de	entrega	da	fé.	Nesse	sentido,	será	preciso	compreendermos	um	pouco	o	
cenário	no	qual	surgem	tais	relações,	a	necessidade	que	os	teólogos	cristãos	tiveram	
em	confrontar	diversas	visões	filosóficas,	culturais	e	até	políticas,	que	colocavam	em	
xeque a mensagem do Evangelho. 
Ao falarmos de uma “teologia da missão”, pensamos, obviamente, na missão 
querigmática	de	anúncio	da	verdade	do	Evangelho,	mas	nos	centramos	também	na	ne-
cessidade de constituição de uma teologia que seja baseada em doutrinas compreensí-
veis. A discussão sobre a constituição de uma teologia complexa, formada por princípios, 
conceitos, doutrinas e dogmas densos, esbarra na necessidade de se constituir uma 
compreensibilidade de todos as verdades da fé nela contidas. Em outros termos, não se 
pode “enclausurar” a verdade do Evangelho em fórmulas teóricas que não são acessíveis 
aos	indivíduos.	Tomemos	uma	interessante	colocação	de	Latourelle	(1981,	p.	24):	
A	teologia	fala	de	Deus,	mas	sua	reflexão	se	apoia	no	que	Deus	disse	
de	si	mesmo.	Esforça-se	ela	por	compreender	melhor	a	Deus,	a	partir	
do	testemunho	do	próprio	Deus,	porém.	Segue-se	que	a	teologia	não	
pode	jamais	tornar-se	uma	ciência	autônoma.	Como	a	Igreja,	da	qual	
é	uma	função,	ela	está	“a	serviço	da	palavra	de	Deus”.	A	teologia	é	e	
deve	permanecer	a	humilde	servidora	da	palavra	de	Deus.
Essa	 colocação	 feita	 por	 Latourelle	 é	 exatamente	 o	 ponto	 que	 estamos	
destacando,	a	teologia	deve	ser	uma	 inteligência	da	fé,	não	apenas	uma	construção	
teórica que se paute em princípios lógicos que não representam a simplicidade e 
profundidade da mensagem do Evangelho. 
O	 principal	 ordenamento	 de	 Cristo	 aos	 discípulos	 foi	 “ir	 por	 todo	 o	 mundo	
pregando	o	Evangelho	e	batizando	em	nome	do	Pai	do	Filho	e	do	Espírito	Santo”,	essa	é	
a base de formação e ampliação da Igreja de Cristo na terra. Contudo, a necessidade de 
confrontar	posições	contrárias	à	fé,	posições	estas	articuladas	em	princípios	filosóficos	e	
lógicos, levaram os teólogos medievais a construírem um verdadeiro “edifício teológico”. 
De	 acordo	 com	 Hodge	 (2001,	 p.	 37),	 “a	 função	 primária	 e	 indispensável	 da	
razão, portanto, em questões de fé, é a cognição ou apreensão inteligente das verdades 
propostas	para	nossa	percepção”.	De	fato,	este	será	o	mote	principal	da	teologia	cristã	
84
no	período	medieval,	bem	como	será	também	a	forma	como	os	teólogos	enxergaram	a	
melhor maneira de tornar a mensagem do Evangelho mais acessível. A Idade Média foi 
marcada pela constituição de uma teologia robusta, com autores que se destacaram 
pela	sistematização,	refinamento	e	densidade	de	suas	teorizações,	colocando	a	razão	a	
serviço da fé. 
FIGURA 12 – A REVELAÇÃO COMO GUIA
FONTE: <https://shutr.bz/3Drxn68>. Acesso em: 12 ago. 2021.
O	chamado	período	Escolástico	é	um	desses	momentos	nos	quais	a	 relação	
entre	fé	e	razão	esteve	mais	aflorada,	os	teólogos	cristãos,	valendo-se	de	instrumentais	
teóricos	advindos	da	tradição	filosófica,	buscaram	responder	a	questões	centrais	da	fé	
cristã,	bem	como	os	desafios	do	mundo	secular	que	tocavam	a	Igreja.	
Os	 teólogos	que	 fazem	parte	deste	período,	mais	 ou	menos	do	 século	 IX	 ao	
século	XVI,	construíram	teorias	robustas	e	influenciadoras	de	toda	a	cultura	ocidental.	
É	 preciso	 analisar	 essa	 relação	 entre	 fé	 e	 razão,	 bem	 como	 seus	 desdobramentos	
mais importantes na questão da defesa da fé e da ampliação da Igreja de Cristo. No 
próximo tópico vamos discutir a relação entre a mensagem do Evangelho e a razão, 
principalmente,	a	partir	da	Escolástica.	Está	preparado?
2 A MENSAGEM DO EVANGELHO E O CRIVO DA RAZÃO
Ao estudarmos o período dos Pais da Igreja, pudemos constatar que o combate 
a heresias e controvérsias diversas era uma constante na construção de uma teologia 
cristã e na organização da Igreja. Muitas dessas heresias estavam baseadas em princí-
pios	e	pressupostos	vindos	da	tradição	filosófica	grega	e	da	influência	de	doutrinas	reli-
giosas orientais, principalmente, as chamadas “doutrinas sapienciais”, muito presentes 
em Alexandria e no mundo grego. Entretanto, a pregação do Evangelho era ainda um 
85
processo que se direcionava, basicamente, pelos costumes herdados da tradição apos-
tólica, doutrinas e pregações dos padres, bispos e daqueles que faziam este trabalho 
de evangelização. 
É	possível	 argumentar	 que,	 na	 Idade	Média,	 a	 produção	 teológica	 ganha	uma	
importância maior, tanto pela necessidade de fundamentação racional da fé, quanto pela 
condição de hegemonia que a fé cristã tinha alcançado na Europa, centro do “mundo 
civilizado” da época. Ao conquistar esta hegemonia, a Igreja Católica conquista também 
forte	 influência	política	e	cultural,	não	deixando	de	exercê-la	em	vista	da	manutenção	
de	sua	primazia	como	principal	religião	do	ocidente.	Entretanto,	o	cenário	medieval,	pelo	
menos durante os séculos XI até o século XIII, foi difícil para a Igreja e para a Cristandade 
como um todo, principalmente, por conta da ameaça das nações islâmicas.
FIGURA 13 – RECUPERAR A TERRA SANTA
FONTE: <https://shutr.bz/3BujOlB>. Acesso em: 12 ago. 2021.
As	Cruzadas,	empreendidas	entre	os	anos	de	1096	até	1270,	constituíram-se	em	
um duplo movimento para a Cristandade, primeiro, a visão romântica de defesa da fé a 
partir	da	tomada	e	guarda	da	“Terra	Santa”,	um	símbolo	da	própria	origem	do	Cristianismo.	
O	outro	movimento,	mais	político	que	espiritual,	visava	arrefecer	os	ânimos	dos	nobres,	 
bem como dos pobres, os primeiros pela ânsia de ganho, os segundos pelo desespero. 
As Cruzadas representavam uma forma de defender a fé, mas também de 
conquistar riquezas, terras e, principalmente, um lugar no paraíso, sem ter que passar 
pelo	purgatório.	Entretanto,	as	Cruzadas	foram	um	episódio	complexo	que	inclui	vários	
fatores,	como	indica	Giordani	(1984,	p.	536):	
86
O	estudo	da	gênese	das	cruzadas	deve	levar	em	consideração:
1.	As	peregrinações	à	Terra	Santa	como	expressão	da	 religiosidade	
medieval;	2.	a	 ideia	de	guerra	santa;	3.	As	condições	sociais;	4.	As	
condições	econômicas;	5.	O	gosto	pela	aventura	e	as	ambições;	6.	As	
condições	políticas;	7.	As	perseguições	aos	peregrinos;	8.	O	oriente	
visto	pelos	ocidentais	e	vice-versa;	9.	A	atuação	de	Urbano	II.
O	cenário	era	extremamente	complexo,	principalmente,	porque	a	peregrinação	
à	Terra	Santa	era	algo	muito	presente	na	religiosidade	deste	período.	Além	disso,	havia	
a clara ameaça islâmica e a necessidade de defesa da civilização cristã ocidental. Mas 
por	que	destacamos	este	cenário	e	seus	fatores	para	começarmos	a	pensar	a	relação	
entre	fé	e	razão?	
Bem,	primeiro,	porque	este	foi	um	período	decisivo	para	a	Igreja	Cristã	medieval,	
tanto espiritual quanto politicamente e,segundo, porque reverberou na produção 
teológica subjacente. A busca de um fortalecimento da Igreja no ocidente levou a um 
certo acirramento das disputas envolvendo o poder espiritual e o poder temporal, ou 
seja, a Igreja e os governos. 
São	 duas	 frentes	 distintas,	 na	 primeira,	 um	 processo	 de	 fortalecimento	 das	
igrejas locais e da centralidade da doutrina Católica, principalmente, a partir da forte 
vigilância contra novas heresias. Na segunda frente, uma enorme produção teológica, 
sobretudo,	 nos	 séculos	 XIII	 e	 XIV,	 que	 será	 o	 auge	da	 Escolástica	 e	 do	 pensamento	
cristão	 articulado	 sobre	 bases	 filosóficas.	 Um	 dos	 momentos	 que	mais	 destacam	 a	
busca	da	Igreja	em	fortalecer	seus	laços	com	os	fiéis,	bem	como	estabelecer	também	
uma	maior	centralidade	de	sua	autoridade	espiritual,	é	o	Concílio	de	Latrão	de	1215.	
FIGURA 14 – CONFISSÃO
FONTE: <https://shutr.bz/3oJmg4g>. Acesso em: 12 ago. 2021.
87
Neste	 Concílio	 foram	 instituídas	 várias	 doutrinas	 e	 práticas	 extremamente	
importantes para a Igreja da época e para a tradição como um todo. Primeiro, foi 
decretado	pelo	Papa	Inocêncio	III,	o	dogma	de	que	“fora	da	Santa	Igreja	Católica	não	
há	 salvação”,	 sendo	 esta	 a	 Igreja	 de	 Cristo	 na	 terra,	 reforçando	 assim	 a	 autoridade	
apostólica	na	pessoa	de	Pedro	dada	pelo	próprio	Jesus.	
Foi	ainda	neste	Concílio	que	se	institui	o	“sacramento	da	confissão”	ou	“sacra-
mento	da	penitência”,	sendo	esta	uma	prática	que,	de	certa	forma,	já	existia	em	algumas	
tradições. Mais ainda, foi declarado também o dogma da “transubstanciação da Eucaris-
tia”, ou seja, os elementos da Eucaristia se transformam no sangue e corpo de Cristo. 
FIGURA 15 – EUCARISTIA
FONTE: <https://shutr.bz/3apGoQo>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Como	indicamos,	esses	pontos	têm	a	ver	com	a	centralidade	da	Igreja	Católica	
e sua doutrina na tradição, bem como, com o combate às heresias que ameaçavam sua 
unidade.	 São	 doutrinas	 voltadas,	 basicamente,	 para	 a	 vida	 nas	 congregações,	 para	 a	
relação	dos	fiéis	para	com	a	 Igreja,	tanto	na	 liturgia	quanto	no	pertencimento	dos	fiéis	
ao	corpo	de	Cristo.	Outra	medida	se	relacionava	com	a	preocupação	da	Igreja	com	o	
cenário	 político,	 foi	 lançado	por	 Inocêncio	 III,	 o	 chamamento	 para	 a	 quinta	Cruzada,	
a	 qual	 fracassa,	 colocando	mais	 uma	vez	 a	 Igreja	 contra	 o	 Sacro	 Império	 Romano-
Germânico	de	Frederico	II.	
Todo esse quadro demonstra como a Igreja Católica precisava conjugar 
uma	 defesa	 da	 fé,	 ao	mesmo	 tempo	 em	 que	 não	 sucumbia	 aos	 desafios	 temporais	
impingidos	pelo	cenário	político	da	época.	A	partir	da	Escolástica,	um	teólogo	emergirá	
com	profundas	reflexões,	aguda	capacidade	de	escrita	e	uma	fina	percepção	do	cenário	
no qual a Igreja estava envolvida, abordando questões que vão da centralidade dos 
Evangelhos, passando pela defesa da fé contra os gentios e pagãos, até o tema da 
política e das formas de governo. 
88
Tomás	de	Aquino	é,	certamente,	a	figura	mais	destacada	da	Escolástica	e	foi	um	
esteio para a teologia cristã no século XIII e adiante. No próximo tópico examinaremos 
alguns	 dos	 pontos	 mais	 importantes	 do	 pensamento	 de	 Tomás	 de	 Aquino	 e	 sua	
importância para nossa discussão.
2.1 A AMEAÇA DAS HERESIAS E A TEOLOGIA EVANGÉLICA 
DE TOMÁS DE AQUINO 
Entre	os	séculos	X	e	XIV	há	um	“redescobrimento”	das	obras	filosóficas	gregas	
clássicas,	sobretudo,	daquelas	atribuídas	à	Aristóteles	e	Platão,	mas	o	platonismo	já	era	
mais presente na tradição cristã, especialmente, a partir do pensamento agostiniano. 
Entretanto, o aristotelismo ganha mais fôlego entre os orientais, centralmente em 
Avicena e Averróis, que era muçulmano, mas nasceu em Córdoba, porção da Espanha 
dominada	pelos	muçulmanos	até	o	final	do	século	XIII.	
De	acordo	com	Reale	e	Antiseri	(1990,	p.	532):	“a	primeira	forma	sistemática	pela	
qual	o	aristotelismo	se	apresentou	aos	pensadores	medievais	foi	mediada	pelo	filósofo	persa	
Avicena,	de	cultura	enciclopédica,	que	cultivou	preferencialmente	a	medicina	e	a	filosofia”.
FIGURA 16 – ARISTÓTELES
FONTE: <https://shutr.bz/2WW1GSD>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Essa	 questão	 da	 assimilação	 e	 utilização	 da	 filosofia	 aristotélica,	 tanto	 por	
orientais quanto por ocidentais, é importante para compreendemos a própria teologia de 
Tomás	de	Aquino,	pois,	assim	como	Agostinho	tinha	“cristianizado”	a	filosofia	platônica,	
Tomás	de	Aquino	fará	o	mesmo	com	a	filosofia	aristotélica.	
89
Além	disso,	a	interpretação	da	filosofia	aristotélica	por	Avicena	e	Averróis	vai	criar	
alguns	pontos	de	discordância	com	a	fé	cristã,	bem	como	influenciar	várias	correntes	
de pensamento. Entre esses pontos, podemos citar a tese da eternidade do mundo, 
da não imortalidade da alma, da relação de unicidade entre o intelecto do indivíduo e a 
realidade supraindividual, ou intelecto universal. 
A	apreensão	da	filosofia	aristotélica	por	Tomás	de	Aquino	será	bem	diversa,	não	
submetendo	a	teologia	cristã	a	ela,	mas	buscando	demonstrar	como	a	Filosofia	pode	
conceder	ferramentas	para	confirmar	a	verdade	da	fé.	Pode	parecer	que	esta	discussão	
esteja distante da questão da evangelização e do crescimento da Igreja Cristã, mas 
como indicado anteriormente, esta é uma das frentes de “batalha” contra as heresias 
e	a	teorias	que	ameaçavam	a	fé	cristã	e	 influenciavam	fortemente	a	Europa	naquele	
momento. 
Tomás	 de	 Aquino	 se	 volta	 para	 a	 inteligência	 da	 fé	 como	 uma	 maneira	 de	
assimilar	 a	 forma	 de	 sistematização	 do	 pensamento,	 existente	 na	 filosofia,	 com	 a	
verdade	da	palavra	de	Deus.	Em	suas	próprias	palavras:	
Confiando	na	piedade	divina	para	prosseguir	neste	ofício	de	sábio,	
embora	 isto	 exceda	 nossas	 forças,	 temos	 por	 firme	 propósito	
manifestar, na medida do possível, a verdade que a fé católica 
professa,	eliminando	os	erros	contrários	a	ela.	Por	isso,	sirvo-me	aqui	
das	palavras	de	Hilário:	Estou	consciente	de	que	o	principal	ofício	da	
minha	vida	é	referente	a	Deus,	de	modo	que	toda	palavra	minha	e	
todos	os	meus	sentidos	dele	falem	(I	Sobre	a	Trindade	37;	PL	10,	48D)	
(AQUINO,	1990,	1,	II,	2.).
O	 Doutor	 Angélico	 deixa	 bem	 clara	 sua	 disposição	 em	 combater	 os	 erros	 e	
heresias,	 valendo-se	 do	 instrumental	 racional	 (ofício	 de	 sábio),	 mas	 colocando	 no	
centro de suas formulações a fé católica por ele professada e tida como verdadeira 
interpretação	do	Evangelho	de	Cristo.	Tomás	de	Aquino	se	vale	da	obra	aristotélica	para	
sistematizar	grande	parte	de	sua	teologia,	um	destes	momentos	está	na	sua	formulação	
das	cinco	vias,	ou	caminhos,	para	provar	a	existência	de	Deus.	
Segundo	Reale	e	Antiseri	(1990),	são	elas:	1.	A	via	da	mutação,	tudo	que	se	move	 
é	movido	por	algo	anterior	a	ele,	Deus	é	a	origem	da	existência	de	todas	as	coisas;	2.	
A	via	 da	 causalidade	 eficiente,	 tudo	 tem	uma	 causa	 eficiente,	 esta	 causa	 primeira	 é	
Deus;	3.	O	caminho	da	contingência,	todas	as	coisas	passam,	dependendo	de	outras	
coisas,	mas	há	um	ente	que	não	precisa	de	nenhuma	outra	coisa	e	não	muda,	não	é	
contingente,	este	ente	é	Deus;	4.	A	via	dos	graus	de	perfeição,	há	uma	gradação	que	
permite perceber as coisas melhores e as piores, entre os entes, os mais bons e os 
menos	bons,	 assim,	há	um	ente	perfeito	que	é	Deus;	5.	A	via	do	finalismo,	 todas	as	
coisas	tendem	para	um	fim,	sendo	que	um	ordenador	determina	a	finalidade	de	todas	
as	coisas,	o	qual	é	Deus.
90
FIGURA 17 – A NATUREZA DEMONSTRA A EXISTÊNCIA DE DEUS
FONTE: <https://shutr.bz/3oIxGFr>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Essas vias são demonstrações, a partir da realidade natural e das pressuposições 
metafísicas,	 de	 que	Deus	 existe	 e	 pode	 ser	 contemplado	 na	 sua	Criação.	Tomás	 de	
Aquino se vale de uma sistematização aristotélica para fundamentar sua teologia da 
existência	de	Deus	e	eliminar	qualquer	controvérsia	com	as	tradições	filosóficas	que	
se contrapunham a esta verdade. Ele ainda reforça a doutrina da Trindade, postulando 
que	 as	 três	 pessoas	 de	 Deus	 são	 indivisíveis,mas	 autônomas	 em	 suas	 vontades	 e	
personalidades. 
Ao	 reforçar	 a	 doutrina	 da	 Trindade,	 Tomás	 de	 Aquino	 está	 combatendo	 as	
principais	 heresias	 de	 seu	 tempo,	 a	 saber,	 os	 valdenses	 e	 os	 cátaros.	 Os	 primeiros	
foram tidos com uma seita herética, que negava a transubstanciação da Eucaristia, a 
veneração	às	imagens,	bem	como	não	reconheciam	a	autoridade	da	Igreja	de	Roma.	
Os	valdenses,	seguidores	da	doutrina	de	Pedro	Valdo,	ganharam	muita	força	no	
sul	da	França	e	se	mantiveram,	mesmo	depois	da	excomunhão,	até	o	início	da	Reforma	
Protestante,	tornando-se	assim	uma	denominação	deste	grupo.	Já	os	cátaros	negavam	
a	unicidade	da	Trindade,	além	de	afirmarem	que	a	Criação	não	era	obra	de	Deus,	mas	
de	um	Demiurgo,	uma	força	mal	que	transmite	ao	mundo	sua	malignidade,	o	que	está	
expresso na própria maldade do ser humano.
Essas	 heresias	 ganharam	 força	 na	 Europa,	 principalmente,	 na	 França,	 nos	
fins	do	século	XII	e	início	do	século	XIII	e	ainda	foram	objeto	de	controvérsia	na	época	
de	Tomás	de	Aquino.	O	Doutor	Angélico,	em	sua	teologia,	faz	uma	defesa	muito	mais	
profunda	da	fé	cristã,	que	combate	as	heresias	de	valdenses	e	cátaros,	mas	ainda	busca	
solidificar	mais	os	fundamentos	de	uma	interpretação	do	Evangelho	segundo	a	tradição.	
91
Tomás	 de	 Aquino	 também	 escreve	 sobre	 o	 tema	 das	 leis,	 fazendo	 uma	
articulação	 entre	 Lei	 Divina	 e	 Lei	 Humana	 que	 coloca	 a	 segunda	 como	dependente	
da	primeira.	Vejamos	o	que	nos	dizem	Reale	e	Antiseri	(1990,	p.	566)	sobre	este	tema	
no	aquinense:	“Tomás	distingue	três	tipos	de	leis:	a	lex aeterna, a lex naturalis e a lex 
humana.	E	acima	delas	está	a	lex	divina,	ou	seja,	a	lei	revelada	por	Deus.	A	lex	aeterna	é	
o	plano	racional	de	Deus,	a	ordem	do	universo	inteiro...”.
Essa	 configuração	 legal	 estabelecida	 por	Aquino,	 colocando	 a	 Lei	 Divina	 acima	
da lei humana, coloca também a autoridade da Igreja acima da autoridade temporal, uma 
vez	que	a	Igreja	é	a	representante	de	Deus	na	terra	e	promulgadora	de	sua	revelação.	
Essa é a segunda frente na “batalha” contra as heresias e na busca de estabilidade da 
Igreja frente ao poder temporal dos governos que não se alinhavam a ela. Certamente, 
todo	este	cenário	implica	no	processo	de	evangelização,	uma	vez	que	as	heresias,	tais	
como	a	dos	valdenses	e	cátaros,	espalham-se	muito	rapidamente,	colocando	em	dúvida	
a verdade do Evangelho.
A	obra	teológica	de	Tomás	de	Aquino	é	central	na	defesa	da	fé	contra	as	heresias,	
na sustentação da autoridade da Igreja e na constituição de uma teologia cristã mais 
robusta,	 constituindo-se	 em	 uma	 referência	 para	 os	 teólogos	 posteriores.	 Os	 temas	
tratados	 pelo	Doutor	Angélico	 serão	 fundamentais	 para	 a	 expansão	 do	 Evangelho	 e	
para	a	instrução	dos	fiéis.	Diante	disso,	passaremos	a	tratar,	mesmo	que	sucintamente,	
da defesa e expansão da cristandade no ocidente.
3 DEFESA E EXPANSÃO DA CRISTANDADE NO OCIDENTE
O	 termo	 “Cristandade”	 é	 ainda	 hoje	 um	 tema	 de	 controvérsia	 e,	 em	 alguns	
casos, de depreciação do papel da Igreja frente ao poder temporal, os governos, bem 
como frente as expressões culturais dos povos que foram convertidos e assimilados 
pela cultura europeia. Em outros termos, a ideia de uma Cristandade remete a uma 
centralidade da cultura ocidental, europeia, que visava não apenas a propagação do 
Evangelho, mas, principalmente, o poder político, cultural, econômico e religioso. 
Mesmo	assim,	ainda	fica	a	dificuldade	de	definir	o	que	seja	a	Cristandade	sem	
cair	em	alguma	visão	já	posta.	Segundo	Gomes	(2002,	p.	2):	“a	religião	na	Cristandade	
medieval	tendia	a	fornecer	a	explicação	e	justificação	das	relações	sociais	no	plano	das	
representações	e	discursos,	e	a	constituir	o	sistema	das	práticas	e	comportamentos	
coletivos destinados a reproduzir estas relações sociais”. Nesse sentido, ao pensarmos 
em uma Cristandade medieval, pensamos em um sistema religioso-político-cultural. 
A mensagem do Evangelho é uma mensagem de salvação, de arrependimento e 
de mudança de vida, porém, a conversão insere o indivíduo na “comunidade dos salvos”. 
Essa	 comunidade,	 na	 terra,	 está	 expressa	na	Ekklesia,	 na	 reunião	 do	povo	de	Deus.		
Entretanto, é preciso compreender por que a relação político-cultural é importante para 
esta comunidade de salvos.
92
Como	nos	 indica	Giordani	 (1984),	a	 Igreja	é	a	única	 instituição	que	sobrevive	
deste	o	Império	Romano,	passando	por	todos	os	percalços	do	fim	da	Antiguidade	e	início	
da Idade Média. Esse fator nos leva a perceber que sua constituição, além de espiritual, 
é também uma constituição político-cultural que se fortalece na própria relação com as 
comunidades, com os indivíduos, bem como na relação com os governos.
Ao	tratar	da	Igreja	enquanto	instituição	durante	a	Idade	Média,	Pirenne	(1998,	
p.	18)	diz	o	seguinte:	“neste	mundo	rigorosamente	hierárquico,	o	lugar	mais	importante	
é	o	primeiro	pertence	à	Igreja.	Esta	possui	ao	mesmo	tempo,	ascendência	econômica	
e	ascendência	moral.	[…]	Do	século	IX	ao	XI,	toda	a	alta	administração	permaneceu	de	
fato em suas mãos”. Assim, uma característica que pode ser atribuída à Igreja enquanto 
instituição	 é	 a	 sua	 constituição	 hierárquica,	 bem	 como	 sua	 condição	 de	 referência	
moral e espiritual. A Igreja Católica precisava ainda estabelecer uma base econômica 
para	sustentar	sua	base	institucional	e,	este	fato,	na	Idade	Média,	significava	estar	em	
consonância com o poder temporal, bem como com as forças econômicas.
Para	a	evangelização,	essa	questão	da	manutenção	da	 influência	da	 Igreja	é	
preponderante	 para	 se	manter	 a	 coesão	 das	 comunidades,	 a	 instrução	 dos	fiéis	 e	 a	
pregação	da	palavra.	Devemos	nos	 lembrar	de	que	a	 Igreja	Católica	tinha	a	primazia	
religiosa no mundo ocidental, mas as diversas seitas, doutrinas e heresias, mesmo que 
de	fundo	cristão,	cresciam	em	momentos	de	crise	e	de	instabilidade	social.	Desta	forma,	
ao	fortalecer	a	Cristandade	enquanto	constituição	de	uma	influência	social,	cultural	e	
até	mesmo	política,	 a	 Igreja	estava	fazendo	sua	própria	defesa,	 em	consequência,	 a	
defesa da fé.
A	expansão	da	Igreja	se	dá	por	vias	de	uma	evangelização,	do	crescimento	das	
comunidades,	mas	também	por	meio	da	influência	cultural	e	social	que	possuía	na	Idade	
Média.		Além	disso,	a	própria	vivência	dos	missionários,	principalmente,	nos	primeiros	
séculos da Idade Média, a chamada Alta Idade Média, era totalmente direcionada para a 
relação entre a Igreja e as comunidades evangelizadas. 
Entretanto, a evangelização de grandes líderes, monarcas e governantes 
também era um meio de se expandir a Igreja, levando à construção do que estamos 
discutindo aqui como Cristandade. No próximo tópico, trataremos brevemente deste 
tema, apontando as principais características do processo evangelização e constituição 
da Cristandade.
3.1 AS MISSÕES ENTRE OS “BÁRBAROS” E A EXPANSÃO DA 
IGREJA 
É	preciso	destacar	que	a	Idade	Média	começa	ainda	no	século	V,	após	a	tomada	
de	Roma	pelos	bárbaros	em	476	d.C.	Essa	é	a	versão	mais	aceitas	pelos	historiadores	
para	se	estabelecer	o	início	da	Idade	Média,	sendo	dividida	em	Alta	Idade	Média	e	Baixa	
93
Idade Média. Entretanto, o que nos interessa aqui é compreendermos que a expansão da 
Igreja na Idade Média, a construção de uma Cristandade, começa com os movimentos 
missionários	dos	santos	que	levavam	o	Evangelho	às	partes	mais	distantes	e,	muitas	
vezes, mais perigosas da Europa e de outros continentes. 
Podemos	 resumir	 as	 práticas	 missionárias	 empreendidas	 no	 período	 medieval,	
principalmente,	na	Alta	Idade	Média,	em	três	métodos	mais	vistos	na	história	das	missões.	
O	primeiro	e	mais	próximo	da	tradição	apostólica,	era	o	método	de	convencimento	e	
formação	de	igrejas.	Esse	método	pode	ser	ligado	às	próprias	viagens	missionárias	dos	
primeiros apóstolos, que saiam de suas cidades, enfrentavam os perigos de culturas 
distantes, pregavam o Evangelho e fundavam uma igreja na cidade, constituindo assim 
uma	 redede	 “igrejas	 irmãs”.	 Esse	método	 foi	 utilizado	por	missionários	que	 também	
arriscaram	suas	vidas	ir	evangelizar	os	povos	“bárbaros”,	aqueles	que	tinham	conseguido	
pôr	fim	ao	Império	Romano.	
De	acordo	com	Llorca,	Villoslada	e	Montalban	(1970),	outro	método	de	evangeli-
zação e expansão da Igreja foi a pregação para os grandes líderes e monarcas, quando 
era	possível	ter	acesso	a	eles,	a	conversão	de	um	líder	ou	monarca	significava	a	possi-
bilidade de o Cristianismo se tornar a religião daquela nação.
Não	 há	 dúvidas	 de	 que	 este	 método,	 apesar	 de	 mais	 difícil	 e	 excepcional,	
poderia	produz	frutos	mais	rápidos,	mas	também	produz	desvirtuações	que	implicariam	
em situações contraditórias. A palavra do Evangelho é uma palavra de salvação, sua 
aceitação	é	pessoal,	cujo	convencimento	de	arrependimento	se	dá	por	meio	da	ação	
do	 Espírito	 Santo,	 assim,	 tornar	 uma	 nação	 inteira	 cristã	 por	 Edito	 Real	 seria	 uma	
desvirtuação da própria palavra do Evangelho.
Contudo,	 isso	 acontecia	 e	 não	 sem	 muita	 frequência	 na	 Alta	 Idade	 Média,	
quando vemos reis como Carlos Magno, conquistador da Europa, impor a conversão 
aos povos conquistados e perseguir aqueles que não aceitavam a conversão. Esse 
método, reprovado pela Igreja, se constituía como resquício da própria tradição romana. 
A questão é que a Cristandade foi se formando em toda a Europa, a expansão da Igreja 
passa	por	um	modelo	longo,	mas	que	chegará	aos	séculos	XII	e	XIII	com	um	cenário	bem	
diverso de seu início.
Sobre	 a	 evangelização	 dos	 povos	 bárbaros,	 bem	 como	 de	 vários	monarcas,	
podemos	destacar	alguns	missionários	que	se	tornaram	santos	da	Igreja.	São	Remígio	
foi	 bispo	 de	Reims,	 ele	 foi	 responsável	 pelo	 batismo	de	Clóvis,	 ou	Clodoveu,	 rei	 dos	
Francos,	em	496	d.C.	O	batismo	aconteceu	diante	do	povo,	o	que	elevou	a	aceitação	do	
Cristianismo	como	religião	dos	Francos,	mais	ainda,	levou	ao	fortalecimento	da	doutrina	
católica	trinitária	contra	a	doutrina	ariana.	
Leandro	de	Sevilha,	bispo	na	Espanha,	 levou	a	fé	católica	aos	visigodos,	o	que	
culminou	com	a	conversão	do	rei	Recaredo,	bem	com	a	expansão	da	Igreja	na	Espanha.	
Entre	os	bretões	temos	as	figuras	de	São	Patrício	e	São	Columbano,	que	conduziu	a	
94
evangelização	 de	 volta	 da	 Bretanha	 para	 o	 sul	 da	 Europa,	 isso	 no	 século	VII.	 Santo	
Agostinho	de	Cantuária	foi	também	um	missionário	entre	os	bretões,	tendo	convertido	
e	 batizado	 o	 rei	 Edelberto,	 em	 597	 d.C.	 São	 Bonifácio,	 no	 século	VIII	 foi	missionário	
entre os povos saxões, germânicos, tendo implantado igrejas e comunidades de novos 
convertidos, alcançando grande parte da atual Alemanha.
A	evangelização	dos	povos	chamados	“bárbaros”	foi	central	para	a	constituição	
da própria Europa como continente organizado, uma vez que a Igreja trazia em suas 
instituições a hierarquização e a constituição de um governo muito próximo do modelo 
monárquico.	A	defesa	e	a	expansão	da	 Igreja	Católica,	bem	como	da	fé	cristã	como	
um	todo,	foram	asseguradas	pelos	movimentos	missionários,	pela	constituição	de	uma	
Cristandade alicerçada em aspectos religiosos, culturais, políticos e sociais, bem como 
na constituição de uma teologia robusta, centrada em um sistema emprestado da 
tradição grega.
95
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Os	fundamentos	teológicos	de	constituição	da	Igreja	no	fim	da	Antiguidade	e	início	da	
Idade	Média	e	seus	desdobramentos	na	evangelização.	Bem	como	a	importância	dos	
Pais da Igreja e do período de combate às heresias.
•	 A	sistematização	da	teologia	cristã	a	partir	dos	Concílios	e	sua	influência	na	propaga-
ção	do	evangelho	no	Ocidente.
•	 As	 principais	 discussões	 teológico-filosóficas	 em	 torno	 dos	 fundamentos	 do	
Evangelho	na	Idade	Média	e	suas	influências	na	teologia	da	missão.	A	constituição	de	
uma teologia mais robusta a partir da discussão sobre a relação entre fé e razão na 
Escolástica.
•	 Os	principais	pontos	da	questão	da	Unicidade	da	Igreja	na	Modernidade,	tendo	como	
foco	 as	 disputas	 doutrinais	 e	 a	 questão	 da	 evangelização	 no	 Ocidente,	 tanto	 no	
chamado “Velho Mundo” quanto no chamado “Novo Mundo”.
RESUMO DO TÓPICO 2
96
AUTOATIVIDADE
1	 O	período	medieval	da	história	da	Igreja	Católica	foi	um	momento	de	reafirmação	de	
várias	doutrinas,	bem	como	de	reafirmação	da	própria	autoridade	da	Igreja	e	de	seus	
fundamentos	doutrinários.	Neste	período,	principalmente	a	partir	do	século	XII,	um	
movimento	teológico	toma	enorme	 importância,	 trata-se	da	chamada	Escolástica.	
Sobre	este	tema	da	Escolástica,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 Foi	um	movimento	teológico-filosófico	que	buscou	compreender	a	fé	valendo-se	
de instrumentais lógicos e racionais, colocando a razão como auxiliar da fé.
b)	 (			)	 A	 Escolástica	 foi	 um	movimento	 de	 implantação	 de	 escolas	 e	 universidades	
católicas em lugares ainda não evangelizados.
c)	 (			)	 A	 teologia	 Escolástica	 se	 propôs	 a	 fazer	 uma	 releitura	 da	 teologia	 patrística,	
buscando aprofundar alguns temas controversos.
d)	 (			)	 A	chamada	Escolástica	foi	o	movimento	que	buscou	igualar	a	fé	e	razão	em	um	
único	movimento	de	inteligência	da	fé,	conciliando	ciência	e	teologia.
2	 As	tensões	entre	oriente	e	ocidente	sempre	foram	presentes	durante	toda	a	história	
do	Cristianismo,	mas	este	cenário	se	torna	mais	acirrado	quando	entra	em	questão	
o	domínio	sobre	a	Terra	Santa	e	toda	a	tradição	cristã	ligada	a	ela.	Neste	momento	
surge um movimento de retomada do controle desta região, o qual recebeu o nome 
de	Cruzada.	Com	base	nas	definições	deste	tema	das	Cruzadas,	analise	as	sentenças	
a seguir:
I- As Cruzadas foram empreendidas pela Igreja Católica como forma de garantir a 
peregrinação	à	Terra	Santa,	mas	também	para	arrefecer	os	ânimos	de	nobres	e	a	
desesperança dos pobres. 
II- As Cruzadas representavam uma forma de defesa da fé cristã, mas também 
representava a chance de lucros e conquista de riquezas.
III- As Cruzadas envolveram tanto católicos quanto reformistas protestantes, uma vez 
que estava em jogo a defesa da fé cristã contra a ameaça muçulmana.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
97
3		Durante	o	século	XIII,	várias	doutrinas	consideradas	heréticas	surgiram	e	ganharam	
espaço em pouco tempo em comunidades cristãs, diante disto, foi preciso um 
Concílio	para	dirimir	as	questões	e	estabelecer	o	fim	destas	doutrinas	heréticas.	Este	
Concílio	ocorreu	em	Latrão	em	1215.	De	acordo	com	as	questões	tratadas	no	Concílio	
de	Latrão,	classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	 Neste	concílio	foi	definido	o	Credo	da	Igreja	Católica	e	infalibilidade	do	papa.
(			)	 Neste	concílio	foram	estabelecidas	a	doutrina	da	Transubstanciação	da	Eucaristia	e	
o	sacramento	da	confissão.
(			)	 Neste	 Concílio	 foi	 estabelecida	 a	 doutrina	 da	 Trindade	 e	 o	 chamamento	 para	 a	
primeira	Cruzada	à	Terra	Santa.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 F	–	V	–	F.
c)	 (			)	 F	–	V	–	V.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 A	 Escolástica	 foi	 um	 movimento	 de	 bastante	 importância	 para	 a	 Cristandade	
Medieval, principalmente, em vista da defesa da fé e da constituição de uma teologia 
mais robusta, neste processo houve grande aproximação das doutrinas cristãs com o 
instrumental	 racional	da	filosofia.	Disserte	sobre	esta	questão	da	aproximação	entre	
um	instrumental	racional	da	filosofia	e	as	doutrinas	cristãs,	centralmente	na	obra	de	
Tomás	de	Aquino.
5	 O	período	medieval	foi	um	momento	de	crescimento	da	Igreja	Católica,	mas	também	
de	 afirmação	 de	 sua	 hegemonia	 na	 Europa	 e	 de	 intensa	 disputa	 com	 a	 igreja	 do	
oriente. Entre os séculos VIII e XI houve uma franca expansão da Cristandade, 
principalmente,	em	vista	da	evangelização	dos	povos	ainda	tidos	como	“bárbaros”,entre	 os	 quais	 se	 pode	 destacar	 três	 formas	 de	 evangelização.	 Neste	 contexto,	
disserte	sobre	as	três	formas	de	evangelização	e	conversão	que	se	pode	ver	neste	
período de evangelização.
98
99
TÓPICO 3 — 
A TEOLOGIA DA MISSÃO E O PROBLEMA 
DA UNICIDADE DA IGREJA NA 
MODERNIDADE
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	no	Tópico	3,	abordaremos	algumas	questões	relativas	à	unicidade	
da	Igreja,	ou	seja,	o	problema	dos	cismas	e	divisões	ocorridas	em	específicos	momentos	
da	história	eclesiástica.	Esta	questão	está	diretamente	relacionada	ao	tema	da	missão,	
pois,	coloca	em	xeque	a	própria	noção	de	Igreja	de	Cristo,	uma	vez	que	existem	várias	
“versões para o mesmo Evangelho”. 
A	 própria	 Reforma	 Protestante,	 que	 começa	 com	 uma	 Igreja	 Luterana	 bem	
estabelecida	 a	 partir	 das	 teses	 contidas	 na	 teologia	 proposta	 por	 Martinho	 Lutero,	
vai	se	ramificar	em	dezenas	de	novas	denominações.	Este	movimento	desencadeará	
uma onda de questionamentos, revoltadas e articulações políticas em torno das novas 
denominações	protestantes,	levando	a	uma	reconfiguração	do	quadro	político-religioso	
da	 Europa.	 Vários	monarcas	 viram	 na	 Reforma	 Protestante	 uma	maneira	 de	 fugir	 à	
influência	da	Igreja	Católica	e	de	buscar	uma	autonomia	nacional	no	âmbito	da	religião.	
Não	podemos	nos	esquecer	de	que	a	Reforma	Protestante	ocorreu	em	 1517,	
já	após	o	descobrimento	de	novas	terras	além	do	oceano	Atlântico.	O	Chamado	“Novo	
Mundo”	será	uma	nova	terra	de	evangelização,	mas	será	também	uma	nova	terra	de	
arbitrariedades,	 imposições	e	violações	dos	direitos	dos	povos	originários,	os	chamados	
“índios”.
Nesse	 novo	 cenário,	 veremos	 os	 países	 do	 Norte	 da	 Europa,	 protestantes,	
conquistarem hegemonia territorial na porção norte do novo continente, bem como os 
países	do	Sul	da	Europa,	católicos,	conquistarem	a	mesma	hegemonia	na	porção	sul.	A	
grande questão parece ser o fato de que tanto católicos quanto protestantes manterão 
o	movimento	missionário,	cada	um	à	sua	maneira,	claro.
Isso posto, analisaremos primeiro a questão a unicidade, tendo em vista os cismas 
e	a	Reforma,	depois	buscaremos	compreender	a	 relação	entre	a	teologia	da	missão	e	
a realidade do “Novo Mundo”. Todos esses aspectos constituem fatores preponderantes 
para	compreendermos	o	atual	cenário	da	evangelização,	principalmente,	em	vista	da	
relação	entre	as	vertentes	cristãs	e	suas	denominações.	Vamos	começar?
100
2 DO CISMA À REFORMA: A EVANGELIZAÇÃO E A 
QUESTÃO DA UNICIDADE CRISTÃ
Ainda na Idade Média a Igreja Católica experimenta sua primeira divisão 
profunda,	 o	 Cisma	 de	 1054	 d.C.	 representou	 um	 duro	 golpe	 na	 Cristandade	 e	 uma	
ferida na doutrina da Igreja. Contudo, a questão estava posta e deveria ser assimilada e 
justificada	pelos	teólogos	de	cada	parte,	tendo	em	vista	que	a	mensagem	de	uma	Igreja	
de	Cristo,	Una	e	Santa,	 já	não	correspondia	mais	à	realidade	do	Cristianismo.	Após	o	
Grande	Cisma,	passou	a	existir	 a	 “Igreja	Católica	Apostólica	Romana”,	no	ocidente,	bem	
como	a	“Igreja	Católica	Apostólica	Ortodoxa”,	no	oriente.
FIGURA 18 – A RUPTURA DA IGREJA
FONTE: <https://shutr.bz/2YIEMyW>. Acesso em: 12 ago. 2021.
A	afirmação	de	fé	da	Igreja,	de	que	ela	é	Una,	Santa,	Católica	e	Apostólica	foi	
posta	 em	 xeque,	 tal	 afirmação	 foi	 feita	 ainda	 no	 Concílio	 de	 Constantinopla,	 de	 381	
d.C.,	fazendo	parte	do	Credo	Niceno-Constantinopolitano.	Entretanto,	de	381	d.C.	até	
1054	d.C.,	vemos	uma	profunda	mudança	na	relação	entre	ocidente	e	oriente,	podemos	
perceber	o	aumento	do	poder	das	nações	que	se	fundaram	a	partir	dos	povos	“bárbaros”,	
principalmente,	os	Francos	e	os	Visigodos,	bem	como	o	Germânicos	e	Nórdicos.	
Fora	essa	questão	histórico-política,	podemos	afirmar	que	as	dissenções	entre	
a	igreja	do	oriente	e	a	do	ocidente	já	vinham	se	arrastando	há	um	bom	tempo.	Além	da	
controvérsia	 referente	à	veneração	às	 imagens	e	 ídolos,	havia	 também	a	 resistência	
da igreja oriental em aceitar a alegação romana de primazia do governo da “Igreja de 
Cristo”, na pessoa e sucessão do apóstolo Pedro. 
101
A	célebre	questão	do	“Filioque”,	ou	seja,	a	discordância	entre	a	procedência	do	
Espírito	Santo,	para	os	ocidentais,	o	Espírito	santo	procede	de	“do	Pai	e	do	Filho”,	já	para	
os orientais, ele procede “do Pai”. Essa concepção coloca em dúvida a própria questão 
da	unicidade	da	Trindade	em	suas	três	pessoas.	Tem-se,	 ainda,	 a	discussão	sobre	a	
fermentação	do	pão	para	a	Eucaristia,	as	questões	eclesiásticas	em	relação	à	hierarquia	
da igreja e a própria imposição de votos, como o celibato que não é obrigatório entre os 
orientais ortodoxos.
Todo	 esse	 cenário	 é	 preponderante	 para	 compreendermos	 o	movimento	 de	
evangelização. Havia o convencimento pela pregação, o chamado “evangelismo direto”, 
no	qual	o	missionário	ia	para	determinada	comunidade,	iniciava	um	ponto	de	pregação	
e convertia os indivíduos que aceitassem a palavra do Evangelho. Entretanto, havia 
a	 imposição	do	Cristianismo	como	religião	oficial	de	determinada	nação	por	parte	de	
seu governante. Este método, apesar de muito reprovado, levou à hegemonia da Igreja 
Católica na Europa, porém, sua inserção no oriente é irrisória. 
FIGURA 19 – A IGREJA DO ORIENTE
FONTE: <https://shutr.bz/3mV3WTp>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Após	esse	Grande	Cisma	da	Igreja	Católica,	a	Cristandade	como	um	todo	passa	
por	 enormes	mudanças,	 um	 considerável	 crescimento	 no	 ocidente,	mas	 uma	 terrível	
disputa com o “mundo islâmico” nas Cruzadas. No século XIV, a Europa é assolada por 
terrível	fome,	a	“Guerra	dos	Cem	Anos”	entre	Inglaterra	e	França,	por	fim,	e	a	pior	de	todas	
as	catástrofes,	a	terrível	“Peste	Negra”,	que	varreu	quase	um	terço	da	população	europeia.	
Esse	cenário	não	poderia	ser	pior	para	a	Igreja	Católica	do	Ocidente,	prenunciando	
já	o	que	seria	os	dois	séculos	seguintes.	Os	séculos	XV	e	XVI	viram	um	desenvolvimento	
de	um	humanismo	contestatório,	principalmente	na	Itália,	despontando	homens	como	
Leonardo	 da	 Vinci	 e	 Nicolau	 Copérnico,	 dentre	 diversos	 outros	 que	 colocaram	 no	
“cadafalso do juízo racional” diversos dogmas e doutrinas da Igreja Católica.
102
Para	empreenderem	esta	análise	crítico-racional	dos	dogmas,	os	humanistas	
se	valiam	dos	próprios	textos	sagrados,	como	nos	instrui	Skinner	(1996,	p.	228):
O	método	escolástico	tradicional	de	comentários	à	Bíblia	geralmente	
procedia	associando	uma	sequência	de	passagens	com	a	finalidade	
de	extrair	alguma	lição	genérica	ou	artigo	de	fé	(cf.	Duhamel,	1953,	pp.	
495	–	6).	Os	humanistas,	ao	contrário,	procuravam	recuperar	o	exato	
contexto	histórico	de	cada	doutrina	ou	argumento	em	particular.	[…]	
Entre os humanistas do Norte, o primeiro e maior expoente dessa 
nova	perspectiva	de	 leitura	foi	John	Colet.	Em	1496,	cerca	de	dois	
anos	depois	de	regressar	da	Itália,	ele	deu	em	Oxford	as	conferências	
que receberam por título Uma exposição da Epístola de são Paulo 
aos romanos, nas quais claramente prenunciou aquela preocupação 
predominante com as ipsissima verba	da	Bíblia	que,	em	poucos	anos,	
viria	a	tornar-se	uma	característica	essencial	da	Reforma	luterana.
Esses	 apontamentos	 feitos	por	Skinner	 (1996)	nos	permitem	ver	 dois	 pontos	
extremamente importantes para compreendemos a relação entre os valores humanistas 
e seu desenvolvimento e o surgimento de uma nova divisão na Igreja no ocidente. 
Primeiro,	o	cenário	de	retomada	de	uma	tradição	intelectual	baseada	na	razão,	na	crítica	
e em valores individuais de liberdade e autonomia; segundo, a preparação do terreno 
político-religioso-intelectual	para	a	realização	de	uma	Reforma	no	seio	do	Cristianismo	
europeu. 
Assim	como	no	Grande	Cisma	de	1054,	nos	séculos	XV	e	XVI,	estavam	reunidos	
dois fatores centrais de um movimento de ruptura, a saber, uma insatisfação político-
social	 e	 uma	 profunda	 divergência	 teológico-doutrinária.	 Esses	 elementos	 serão	
centrais	 para	 se	 compreender	 o	movimento	 de	 reforma	 que	 passará	 para	 a	 história	
como	a	Reforma	Protestante.As denominações inicialmente chamadas de “protestantes” terão uma forte 
marca	 evangelizadora,	 principalmente,	 em	 vista	 de	 seus	 modelos	 hierárquicos	 e	
eclesiais, bem como suas interpretações do Evangelho, bem menos ritualísticas e 
sacerdotais que a interpretação católica. No próximo tópico discutiremos melhor estes 
pontos,	tendo	como	referência	o	movimento	empreendido	por	Martim	Lutero,	Calvino	e	
Henrique VIII. 
2.1 A REFORMA PROTESTANTE E A DIVISÃO DO “MUNDO 
CRISTÃO” NO OCIDENTE
No	início	de	1500,	o	mundo	já	não	era	mais	o	mesmo	e	havia	se	“descoberto”	
novas terras, com novos habitantes exóticos, primitivos, quase que uma visão do paraíso 
bíblico,	uma	reprodução	fiel	do	que	descreve	o	livro	de	Gênesis	sobre	o	jardim	do	Éden.	
103
A	disputa	por	essas	novas	terras	não	será	apenas	de	cunho	político	e	econô-
mico,	uma	nova	disputa	será	posta	em	marcha,	uma	disputa	religiosa	sobre	as	“almas	
perdidas” que se encontravam naqueles novos continentes sem a luz divina da salva-
ção.	Surge,	neste	período,	uma	nova	ruptura	no	mundo	cristão	do	ocidente,	mais	uma	
vez	a	Igreja	Católica,	que	se	promulgava	como	Una,	se	vê	maculada	pela	divisão	e	pela	
controvérsia	doutrinária.
O termo “protestante” se tornou pejorativo, pois denotava a ideia 
de que se tratava de um grupo não reconhecido que se voltava 
com a verdadeira “Igreja”. Essa designação ganhou força a partir 
da perseguição empreendida por Carlos V, a partir de 1521, para 
todas as denominações que se voltavam contra a doutrina da Igreja 
Católica. Entretanto, o termo não é utilizado pelas denominações 
reformistas, surgidas a partir da Reforma, sendo mais utilizado 
atualmente o termo “evangélicos”. Como estudo histórico, o termo 
Reforma Protestante é o mais utilizado pelos pesquisadores.
NOTA
A	 chamada	 “Reforma	 Protestante”	 surge	 como	 um	 duro	 golpe	 na	 Igreja	 já	
debilitada pelos acontecimentos políticos, sociais e intelectuais dos últimos dois 
séculos.	As	diversas	disputas	por	poder,	principalmente,	na	Itália,	levaram	a	um	desgaste	
tremendo	da	Igreja	Católica.	Durante	todo	o	século	XV	e	início	do	XVI,	a	Igreja	Católica	
se	 via	 envolvida	 em	 disputas	 com	 os	 reis	 da	 Inglaterra,	 França	 e	 dos	 principados	 e	
repúblicas italianas. 
Entre	1309	e	1377,	o	papado	foi	transferido	para	a	cidade	francesa	de	Avignon	
(Avinhão),	a	mando	do	rei	Filipe	IV,	como	forma	de	controle	da	Igreja,	mas	também	como	
forma	 de	 controle	 político	 sobre	 as	 regiões	 por	 ela	 influenciadas.	 Essa	 transferência	
ficou	conhecida	como	o	“Exílio	de	Avignon”,	como	uma	forma	de	provação	pela	qual	a	
Igreja	Católica	havia	passado.	A	questão,	segundo	Garin	(1996),	é	que	após	o	retorno	do	
papado	para	Roma,	em	1377,	houve	um	aumento	na	busca	de	poder	político	por	parte	da	
Igreja Católica, seja por motivos de necessidade econômica, seja por motivos de evitar 
uma futura situação como a vivida em Avignon. 
Podemos argumentar que esse é um dos fatores que contribuiu para o 
surgimento	de	uma	 insatisfação	por	parte	de	vários	monarcas	e	 líderes	 religiosos	de	
comunidades cristãs inseridas em nações que se viam oprimidas pelo poder da Igreja de 
Roma.	O	outro	fator,	obviamente,	foi	uma	profunda	controvérsia	teológica	sobre	doutrinas	
centrais da interpretação católica dos Evangelhos. Primeiro, é preciso compreender que 
a	Reforma	Protestante	não	foi	a	única	“reforma”,	ou	tentativa	de	reforma,	existente	no	
seio do Cristianismo europeu no período entre os séculos XIV e XVI. Como bem nos 
aponta	Marshall	(2017,	p.	12):
104
Em	primeiro	 lugar,	 uma	pergunta	bem	básica:	 existiu	 de	 fato	 essa	
coisa	chamada	“a	Reforma”,	expressão	que	ninguém	usava	no	sentido	
em que usamos agora e que só veio a aparecer muito depois dos 
acontecimentos	que	pretendia	designar?	O	apelo	à	“reforma”	dentro	
do Cristianismo é praticamente tão velho quanto a própria religião, 
e	 em	 todas	 as	 épocas	 houve	 tentativas	 insistentes	 de	 realizá-la.	
[…]	 Na	 Inglaterra,	 o	 teólogo	 John	 Wyclif	 (?-1384)	 formulou	 uma	
crítica assombrosamente radical à Igreja da época, substituindo a 
autoridade do papa pela das escrituras e sustentando que os clérigos 
não	deviam	exercer	qualquer	autoridade	terrena.	Os	seguidores	de	
Wyclif	 foram	 expulsos	 das	 universidades,	mas	 conseguiram	 lançar	
as	bases	de	um	movimento	herético	clandestino	 (os	 “lollardos”)	no	
país.	No	outro	extremo	da	Europa,	no	reino	da	Boêmia,	outro	padre	
radical,	Jan	Huss,	inspirou	uma	revolta	nacional	contra	a	autoridade	
estrangeira	e	 a	 jurisdição	 romana.	Os	hussitas	 também	defendiam	
que os laicos deviam comungar o vinho, além do pão, na missa. 
Ao	se	falar	de	uma	“Reforma	Protestante”,	é	preciso	ter	em	mente	que	isso	não	
acontece da noite para o dia, mas vem em um sentido cumulativo que culmina em uma 
série de fatores políticos, religiosos e sociais que permitiram sua execução. No caso de 
Jan	Huss,	sem	muito	apoio	político,	foi	queimado	durante	o	Concílio	de	Constança	em	
1414.	Já	John	Wycliffe	teve	forte	apoio	político	e	social	em	suas	teses	e	em	sua	oposição	
à Igreja romana. 
Nas	 teses	 de	 John	Wycliffe	 está	 a	 centralidade	 da	 autoridade	 da	 Bíblia	 em	
detrimento à autoridade do papa e da tradição da Igreja romana; a imposição da pobreza 
ao	clero	e	a	condenação	à	opulência	e	riqueza	da	Igreja;	no	âmbito	eclesiástico,	defendia	
que	o	clero	deveria	ser	ordenado	pelo	rei,	o	qual	recebe	seu	poder	diretamente	de	Deus,	
não do papa; negava a autoridade apostólica do papa, fundada na sucessão de Pedro; 
além	de	tudo	isto,	empreendeu	uma	tradução	da	Bíblia	para	o	inglês.
Como	se	pode	afirmar,	em	Wycliffe,	no	século	XIV,	já	estavam	contidas,	basica-
mente,	quase	todas	as	reivindicações	feitas	por	Lutero	no	século	XVI,	além	disso,	o	cená-
rio	político	também	era	favorável	à	Wycliffe,	como	era	à	Lutero.	A	nobreza	inglesa	queria	
se	 livrar	dos	pesados	fardos	econômicos	 impostos	pela	 Igreja	Católica,	 assim,	Wycliffe	 
recebe	apoio	do	rei	e	da	nobreza,	sustentando-se	e	ficando	a	salvo	da	fogueira.		
Entretanto, após começar um movimento de evangelização por meio de seus 
seguidores,	 os	 chamados	 Lollardos,	 os	 quais	 pregavam	 que	 toda	 autoridade	 emana	
da	Bíblia,	a	palavra	de	Deus,	Wycliffe	perde	o	apoio	do	rei,	pois	há	uma	forte	agitação	
popular,	cuja	origem	é	associada	à	pregação	dos	Lollardos.
Esse	fator	político	de	apoio	às	ideias	reformistas	será	bem	delineado	no	caso	
de	 Lutero,	 a	 Alemanha	 de	 sua	 época	 era	 um	 reino	 constituído	 por	 Estados	 semi-
independentes,	cujos	príncipes	governantes	gozavam	de	certa	autonomia	e	influência,	
mas	eles	se	viam	exauridos	financeiramente	pela	Igreja	Romana.	A	questão	é	que	Carlos	
105
V,	 aliado	 da	 Igreja	 Católica,	 então	 imperador	 do	 Sacro	 Império	 Romano	 Germânico,	
que	 incluía	a	Alemanha,	se	voltou	contra	os	seguidores	de	Lutero.	A	partir	daí,	todos	
que	 aderiam	 ao	 movimento	 reformista	 influenciado	 por	 Lutero	 eram	 chamados	 de	
“protestantes”,	o	que	levou	à	referência	histórica	que	se	tem	hoje	de	Reforma	Protestante.
FIGURA 20 – MARTINHO LUTERO
FONTE: <https://shutr.bz/3apIT5f>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Teologicamente,	 Lutero	 retoma	algumas	questões	que	 já	 tinham	sido	postas	
por	Wycliffe	 e	 por	 outros	 teólogos	 de	 diferentes	 correntes,	 tais	 como	 a	 negação	 da	
autoridade	papal,	a	negação	de	 intermediação	entre	Deus	e	o	ser	humano,	a	não	ser	
por	meio	de	Jesus	Cristo,	a	necessidade	de	se	voltar	para	a	Bíblia	como	única	fonte	de	
autoridade e instrução etc. 
Entretanto, quatro pontos importantes surgiram a partir de suas teses, entre 
eles	podemos	citar	a	 justificação	pela	fé,	a	 intermediação	somente	por	Cristo,	em	que	
somente	há	merecimento	por	meio	da	graça	de	Deus,	não	das	obras	e	somente	a	Bíblia	 
é fonte de autoridade e ensino. 
Um interessante filme para se ver sobre o tema da reforma é a obra 
Lutero (Luther), de 2003, com direção de Eric Till. Nele, retrata-se de 
forma resumida a trajetória de Martinho Lutero, de sua formação 
teológica, passando porsua dissensão com a Igreja Católica de sua 
época e o início da Reforma por ele empreendida.
DICA
106
Outros	teólogos	surgiram	com	novas	 interpretações	e	proposições,	podemos	
mencionar	 João	 Wesley,	 João	 Calvino,	 Filipe	 Melachtohn,	 Ulrico	 Zwinglio	 e	 Tomás	
Müntzer	entre	outros,	tornando	a	nova	doutrina	reformista	mais	robusta	e	mais	influente	
nos	países	do	norte	europeu.	As	igrejas	reformistas,	ou	protestantes,	como	ficaram	mais	
conhecidas	no	período	inicial,	não	possuíam	um	“governo	eclesiástico”	centralizado,	a	
exemplo	da	Cúria	Romana	ou	da	própria	figura	do	Papa.	
As igrejas são, praticamente, autônomas, escolhendo seus líderes e sua forma 
de	organização	local,	mas	respeitando	os	preceitos	doutrinários	da	denominação	à	qual	
pertencem. Neste sentido, a evangelização se torna mais semelhante ao que se tinha 
na	época	dos	apóstolos,	quando	um	missionário	ia	para	uma	comunidade,	fundava	uma	
igreja e estabelecia uma liderança local que manteria aquela igreja, indo posteriormente 
para outra localidade.
Certamente	que	esse	modelo	não	se	 iniciou	de	forma	rápida	e	concisa,	mas	foi	
se	organizando	de	maneira	a	se	expandir	de	forma	eficaz.	O	movimento	de	expansão	das	
denominações	reformistas	seguiu	basicamente	um	itinerário	saindo	dos	países	do	norte	
europeu	para	os	países	do	leste	e	sul,	bem	como	para	as	novas	colônias	surgidas	no	final	
do século XVI e início do século XVII. Este movimento de evangelização se destacava do 
modelo católico, pois tinha uma autonomia maior em relação à implantação de novas 
igrejas, bem como em relação à administração delas. 
Outro	fator	importante	para	o	processo	de	evangelização	adotado	pelas	igrejas	
reformistas	 é	 que	 o	 missionário	 ia	 com	 sua	 família,	 caso	 tivesse,	 para	 o	 campo	 de	
missões. Nesse sentido, o trabalho de evangelização e organização da igreja era feito 
também pela família, facilitando a inserção em comunidades ainda não evangelizadas. 
Mais um ponto que se deve destacar é o fato de todos os cultos reformistas serem feitos 
na	língua	vernácula,	ou	seja,	na	língua	falada	pelas	pessoas	comuns.		
No contexto europeu do início da Modernidade, a teologia reformista estava 
mais próxima dos movimentos intelectuais da época, principalmente a partir das 
vertentes de pensamento alemã e inglesa. Esse fator também é um ponto de destaque 
para se compreender a inserção das doutrinas reformistas nas classes mais instruídas, 
bem	como	entre	acadêmicos	e	setores	das	universidades.	O	uso	da	música	pode	ser	
apontado como uma das grandes inovações trazidas pela liturgia reformista, o uso de 
coros, instrumentos musicais de orquestração, bem como a introdução de letras na 
língua	vernácula,	impulsionaram	a	adesão	dos	fiéis	e	a	participação	nos	cultos.	
As	 denominações	 reformistas	 terão	 forte	 influência	 na	 evangelização	 das	
colônias implantadas pelos países do norte europeu, principalmente, Inglaterra, Holanda 
e	França.	Por	sua	vez,	as	colônias	portuguesas	e	espanholas	serão	predominantemente	
católicas. Essas características moldaram a forma como as “novas terras” foram 
evangelizadas	e	catequizadas,	bem	como	influenciaram	também	na	forma	de	governo	
destas	colônias.	No	próximo	tópico,	nos	voltaremos	para	esta	análise.
107
3 A TEOLOGIA DA MISSÃO E A CONQUISTA DO “NOVO 
MUNDO”
A expansão marítima iniciada com a descoberta de terras ainda desconhecidas 
pelos europeus, deu início a uma “corrida evangelizadora”, após as primeiras descobertas, 
o	movimento	 de	 evangelização	 dos	 povos	 originários,	 bem	 como	 a	 implantação	 de	
igrejas	 para	 os	 europeus	 que	 foram	 para	 estas	 novas	 terras,	 foi	 um	 grande	 desafio.	
De	 início,	a	própria	“repartição”	da	nova	“herança	de	Deus”,	trouxe	 inúmeras	disputas	
políticas,	 econômicas	e	militares.	As	grandes	potências	da	época,	 Inglaterra,	 França,	
Alemanha, Holanda, reivindicavam participação no novo continente, levando a uma 
disputa marítima, política e também religiosa.
Entretanto,	 a	primeira	 repartição	das	novas	terras	ficou	apenas	entre	Portugal	
e Espanha, através do Tratado de Tordesilhas, dividiu-se o novo continente entre 
portugueses	 e	 espanhóis,	 porém,	 como	 era	 de	 se	 esperar,	 as	 demais	 potências	
questionaram	 tal	 repartição.	 O	 que	 nos	 interessa	 nesta	 breve	 retomada	 histórica	 é	
perceber que as disputas existentes na Europa, tanto no campo político e econômico, 
quanto no campo religioso, serão levadas para as novas terras, ajudando a moldar os 
aspectos sociais de cada região.
Além da disputa pela posse das novas terras, o que surgiu após a descoberta 
deste	“novo	mundo”	foi	uma	viva	reflexão	sobre	como	cumprir	agora	a	comissão	dada	
por	Jesus,	“ide	por	todo	o	mundo	pregando	o	Evangelho	a	todas	as	pessoas”.	O	“mundo”	
tinha	se	tornado	muito	maior	do	que	aquele	descrito	na	Bíblia,	mais	que	isso,	o	que	se	via	
nestas novas terras, tanto em relação à natureza, quanto em relação à seres humanos, 
era bem diverso daquilo que se tinha no chamado “velho mundo”. Como evangelizar 
seres	primitivos	que	nem	sequer	usavam	roupas	ou	moravam	em	casas?	Pior	ainda,	
tribos com tradições canibais e com forte apego a uma religiosidade animista, com 
rituais de sacrifícios humanos em algumas culturas.
A questão era ainda mais complexa, pois todos os modelos de pregação estavam 
alicerçados em tradições europeias, principalmente a partir da evocação de valores 
tradicionais	 e	 de	 toda	 uma	 ritualística	 que	 era	 familiar	 aos	 europeus.	 Quais	 seriam	 as	
formas	de	evangelizar	estes	povos	primitivos?	Ou	quais	ações	poderiam	ser	 legitimadas	
em	nome	da	 “Coroa”	e	em	nome	da	 “Igreja”?	Essas	questões	se	tornaram	centrais	no	
processo	de	catequização	e	conversão	dos	povos	originários	do	novo	continente	e	teve	
que ser articulado à organização das igrejas para os europeus que vinham para esta 
nova terra. 
Como	nos	indica	Paiva	(2021,	p.	24):
A compreensão que os portugueses tinham de sua realidade se 
expressava por meio de marcos teológicos cristãos, sedimentados ao 
longo	de	pelo	menos	13	séculos,	justificando	a	ordem	social	e	o	poder	
108
político, modelando o discurso, os valores, os comportamentos, os 
hábitos,	a	etiqueta,	a	visão	de	mundo,	a	relações	interculturais,	mo-
delando cada gesto da vida social. 
Esse	novo	desafio,	 rever	 séculos	de	 convicções	 teológicas,	 sociais	 e	 culturais,	
foi	posto	diante	dos	missionários	que	 iriam	para	o	novo	continente	 levar	a	palavra	do	
Evangelho	aos	povos	primitivos	que	ali	 habitavam.	A	observação	que	Paiva	 (2021)	 faz	
sobre os portugueses pode ser estendida a todos os europeus que foram para as novas 
terras e se viram diante de grupos de pessoas com culturas tão distintas. 
Não	 havia	 nenhuma	 referência	 concreta	 na	 Teologia	 até	 então	 que	 pudesse	
embasar	aquilo	que	representava	a	existência	daquelas	novas	terras	e	daquelas	novas	
culturas. Como se pode intuir, tanto católicos quanto reformistas tiveram perspectivas 
distintas sobre qual a melhor forma de empreender a “cristianização do novo continente”, 
o	que	se	refletia	na	forma	como	cada	corrente	desenvolveu	seu	trabalho.	
3.1 CATÓLICOS NO SUL E PROTESTANTES NO NORTE DO 
NOVO CONTINENTE
A	 inserção	 dos	 missionários	 católicos	 nas	 terras	 portuguesas	 e	 espanholas	
foi,	sem	dúvidas,	muito	mais	expressiva	do	que	a	inserção	de	missionários	reformistas	
protestantes. Esses últimos só chegaram bem depois do início da colonização na 
parte sul do continente e na parte central. Entretanto, o inverso se deu na parte norte 
do continente, onde os colonos europeus eram em sua maioria reformistas, vindos, 
principalmente,	de	países	como	Inglaterra,	Holanda,	Escócia	e	França.	
Fato	 importante	para	se	compreender	o	processo	de	evangelização	nas	 regiões	
dominadas	por	Portugal	e	Espanha	é	a	criação	da	Companhia	de	Jesus,	mais	conhecida	
como	Jesuíta.	 Essa	 ordem	 religiosa	 foi	 criada	 por	 Inácio	 de	 Loyola	 e	 outros	 colegas	
em	1534	na	França,	tendo	como	principal	função	servir	à	Igreja	Católica	romana	como	
missionáriose	evangelizadores.		
A	ordem	foi	aceita	e	aprovada,	tendo	recebido	o	aval	do	papa	Paulo	III,	já	em	1540,	
tendo	constituída	toda	a	sua	disciplina	e	normas,	o	que	se	caracterizava	como	definição	
da	própria	natureza	 religiosa	da	nova	ordem.	Seu	caráter	missionário	 se	aliava	a	um	
certo	caráter	militar,	tanto	pela	disciplina	que	adotava,	quanto	pela	organização	de	seus	
religiosos.	Os	Jesuítas	foram	os	primeiros	a	empreenderem	um	projeto	de	evangelização	
dos	 povos	 originários	 das	 novas	 terras	 descobertas,	 bem	 como	 de	 organização	 das	
igrejas	para	os	europeus	e	seus	filhos	que	foram	para	o	novo	continente.	
Em	1549,	os	Jesuítas	chegam	ao	Brasil	liderados	por	Manuel	da	Nóbrega,	tendo	
a missão de catequizar os “indígenas”, organizar as igrejas para os colonos e cuidar da 
educação	de	seus	filhos.	De	início	foi	preciso	vencer	a	barreira	da	comunicação,	mas,	
109
além disso, foi preciso adequar a abordagem junto aos indígenas. Não se pode esconder 
o	fato	de	que	os	índios	eram	utilizados,	de	maneira	forçada,	nos	trabalhos	necessários	
para a produção de tudo que era utilizado pelos religiosos, bem como pelos colonos. 
Além	disso,	os	Jesuítas	fundaram	as	famosas	“Missões”,	o	que	se	pode	chamar	
de	frentes	avançadas	de	catequização	e	evangelização	dos	povos	indígenas.	No	final	do	
século	XVI	e	já	no	início	do	século	XVII,	outras	ordens	religiosas	chegaram	ao	Brasil	para	
ajudar	a	suprir	a	falta	de	clérigos,	como	os	Beneditinos	e	os	Franciscanos.
As Missões se constituíam, como tido, em frentes de catequização, os indígenas 
possuíam uma visão de mundo e de religião muito distante da concepção cristã, com 
práticas	 que	 não	 se	 encaixavam	 nos	 princípios	morais	 dos	 europeus.	 Nesse	 sentido,	 a	
evangelização	 e	 catequização	 se	 tornaram	 difíceis,	 levando	 os	missionários	 a	 tentarem	
livrar os indígenas de seus costumes e crenças, o que muitas vezes era feito de maneira 
abrupta e truculenta. 
A	realidade	das	Missões	como	aldeamentos	serviu	para	aproximar	os	missionários	
das tribos indígenas, criando uma maior integração, mas, em compensação, uma maior 
imposição	 dos	 costumes	 europeus	nestes	 lugares.	 Segundo	Santos	 (2016,	 p.	 7),	 “no	
final	de	1550,	a	Companhia	procurou	concentrar	os	indígenas	nestes	aldeamentos,	onde	
podiam ser supervisionados de perto e doutrinados. Aqui eles eram tornados cristãos, 
pelo menos nominalmente”.
Todo o processo de evangelização e catequização era dependente do modo 
de colonização adotado, sendo, na verdade, subordinado a ele. Em outros termos, a 
preocupação principal das Coroas portuguesa e espanhola era a exploração das riquezas 
existentes	nas	novas	terras.	O	modelo	de	colonização	existente	na	parte	norte	do	novo	
continente difere em alguns pontos, mas também se valeu de mão de obra escrava, 
mas em um momento posterior, de início o modelo era, basicamente, de povoamento e 
assentamento de colonos vindos da Europa.
Entre	esses	colonos,	a	maioria	era	de	fiéis	reformistas,	principalmente,	vindos	
de	países	como	a	Inglaterra	e	a	Escócia,	muitos	fugindo	do	cenário	inglês,	outros	em	
busca	de	uma	nova	oportunidade.	 Esse	processo	 se	 intensificou	no	 início	 do	 século	 
XVII, tendo como principal impulso as instabilidades políticas vividas na Europa. Herberg 
(1962,	p.	18),	ao	tratar	da	colonização	norte-americana	nos	diz	o	seguinte:
Os	 colonos	 que	 vieram	 ter	 a	 estas	 praias,	 desde	 o	 tempo	 da	
fundação	 de	 Jameston	 em	 1607	 até	 a	 deflagração	 da	 Revolução,	
foram	 principalmente	 de	 sangue	 inglês	 e	 escocês,	 aumentado	 por	
considerável	número	de	colonos	de	origem	holandesa,	sueca,	alemã	
e irlandesa. Eram predominantemente protestantes e deram uma 
direção	protestante	à	vida	religiosa	americana,	já	desde	o	princípio.	
110
A principal doutrina seguida por estes protestantes era o puritanismo, uma 
corrente derivada do Calvinismo, a qual criticava a relação da Igreja Anglicana com 
o	poder	 temporal	 e	 a	 forte	 tradição	católica	 ainda	presente	nela.	Daí	 surgiu	o	 termo	
“puritano”,	por	querer	purificar	a	 Igreja	Anglicana	dos	 resquícios	católicos,	bem	como	
da	forte	dependência	governamental,	principalmente,	na	figura	da	monarca,	a	 rainha	
Elisabeth. 
Os	puritanos	e	os	demais	reformistas	protestantes	chegam	à	América	do	Norte	
com uma forte convicção de que aquela é uma “terra prometida”, na qual poderia 
construir	uma	“nova	sociedade	santificada”,	ou	seja,	teriam	a	oportunidade	de	colocar	
em	prática	os	ensinamentos	de	Jesus	em	uma	terra	completamente	nova.	Essa	era	uma	
benção	dada	por	Deus	e	eles	deveriam	fazer	o	melhor	possível	para	realizar	este	projeto.	 
Por	esta	convicção,	intensificou-se	ainda	mais	as	restrições	morais	e	a	centralidade	do	
culto e das doutrinas na vida das comunidades. 
Com	 relação	 aos	 povos	 originários,	 os	 “nativos”,	 não	 havia	 um	 processo	 de	
catequização como existente nas colônias portuguesas e espanholas, principalmente 
porque os nativos norte-americanos eram mais organizados que os povos indígenas da 
América	do	Sul	e	Central.	O	início	da	relação	entre	colonos	e	indígenas	é	boa,	mas	acaba	
descambando para disputas cada vez mais sangrentas, principalmente, à medida que a 
população de colonos vai aumentando. 
Em	meados	do	século	XVII,	há	uma	tentativa	de	evangelização	mais	centrada	
nas	 populações	 indígenas	 perto	 das	 regiões	 de	 Massachusetts	 e	 Boston,	 com	 a	
tradução	da	Bíblia	para	a	 língua	 indígena	algonquina.	Entretanto,	 com	o	avanço	dos	
colonos	europeus	para	dentro	do	território,	os	nativos	começaram	a	 intensificar	uma	
reação	mais	violenta,	cuja	resposta	foi	também	violenta	por	parte	do	governo	inglês.
A	questão	é	que	não	houve,	de	fato,	um	processo	missionário	na	América	do	
Norte fora das comunidades de colonos, em sua maioria protestantes, que foram para 
aquele	 continente.	O	 processo	 foi	 distinto	 daquele	 experimentado	na	América	 do	Sul,	
todavia, como se observaria no século XVIII, os valores humanistas e liberais presentes 
nas	doutrinas	reformistas	seriam	uma	das	bases	da	Revolução	Americana.
111
LEITURA
COMPLEMENTAR
O PAPA, OS INDÍGENAS E AS COMPLEXAS RELAÇÕES NA AMÉRICA LATINA
José	Alves	de	Freitas	Neto	(professor	livre-docente	do	Departamento	 
de	História	do	Instituto	de	Filosofia	e	Ciências	Humanas	da	Unicamp)
A	visita	do	Papa	Francisco	ao	Peru	e	ao	Chile	reacendeu	discussões	e	polêmicas	
sobre o modo como a Igreja se relaciona com seu passado e sua trajetória no Novo 
Mundo.	O	primeiro	papa	nascido	nas	Américas	tem	um	forte	simbolismo	para	os	latino-
americanos	e	Francisco,	na	escassez	de	grandes	lideranças	mundiais	com	algum	grau	
de sensatez, tem se destacado por posições em defesa dos direitos humanos, dos 
refugiados e contra as desigualdades. A visita à região da Araucanía, no sul do Chile, e 
o	encontro	do	papa	com	os	mapuche	são	emblemáticos	pela	ambiguidade	da	Igreja	em	
relação	aos	povos	originários	do	continente.
A Igreja chegou junto com os conquistadores espanhóis. E, parte dela, foi 
crítica dos procedimentos de evangelização e da forma como os povos indígenas foram 
explorados.	 Outra	 parte,	 entretanto,	 estava	 imersa	 nas	 estratégias	 de	 colonização	 e	
dominação. As primeiras vozes que se levantaram em defesa dos indígenas foram de 
religiosos,	no	século	XVI.	E,	na	atualidade,	há	grandes	segmentos	do	universo	católico	
envolvido com a defesa dos povos e culturas indígenas.
 
Las Casas e a questão indígena
A	 crônica	 do	 frei	 Bartolomé	 de	 Las	 Casas	 (1484-1566)	 é	 um	 dos	 principais	
relatos	sobre	a	colonização	da	América	empreendida	pelos	espanhóis	a	partir	de	1492.	
Consolidada ao longo da Idade Média, a crônica produzida por religiosos mendicantes 
tinha	 duas	 finalidades	 principais:	 enaltecer	 o	 Cristianismo	 e	 relatar	 como	 o	 discurso	
religioso	 se	 estabelecera	 em	 determinada	 circunstância.	 Os	 feitos	 memoráveis	 de	
religiosos	e	de	sua	ação	missionária,	assim	como	de	suas	 instituições,	constituíam	a	
base dos relatos que seriam apresentados pelo cronista.O	êxito	da	narrativa	lascasiana	pode	ser	averiguado	pelas	repetidas	edições	de	
sua obra Brevísima Relación de la Destruición de las Indias,	de	1542.	O	relato	ajudou	a	
construir uma visão sobre a destruição do indígena na América e a discutir legislações 
e procedimentos que alteraram o reconhecimento de direitos a outros povos que não 
pertencessem	à	mesma	cultura,	 fé	ou	etnia.	O	objetivo	da	Brevísima,	 como	 indica	o	
112
título, era denunciar a ação da conquista espanhola nas diversas províncias e regiões 
do Novo Mundo, expondo a dizimação dos povos indígenas e solicitar a suspensão das 
encomiendas, que eram um regime de trabalho no qual comunidades indígenas inteiras 
ficavam	sob	os	cuidados	de	um	espanhol	(encomendero)	que	poderia	utilizar	a	mão	de	
obra dos índios em troca de sua catequização.
Para	Las	Casas,	a	violência,	a	exploração	e	a	dizimação	dos	 índios	eram	uma	
afronta	 ao	 direito	 natural	 e	 à	 fé	 cristã.	 Para	 evitar	 esta	 prática	 colonizadora,	 o	 frade	
atuou	como	religioso	e	escritor,	envolvendo-se	em	diversos	episódios	que	influenciaram	
na vida de colonos, índios e da própria Coroa de Castela. Na descrição lascasiana, os 
índios	eram	cordatos,	amáveis	e	dóceis.	Tal	imagem,	associada	a	um	virtuosismo	idílico,	
próximas ao do homem antes do pecado original, segundo a tradição cristã, representou 
sua	própria	anulação	política,	como	observou	o	professor	Héctor	Bruit.	A	docilidade	e	
paciência	permitiam	a	simpatia	e	compaixão	pela	vítima	e	abria	espaço	para	os	que	
narram a história, no caso, o clérigo. Em outras palavras, não cabe ao modelo de virtude 
apresentado	a	roupagem	da	revolta	e	da	discordância	diante	da	experiência	concreta	
de	exploração.	Las	Casas,	após	construir	 sua	 imagem	do	 índio,	apresentou-se	como	
legítimo defensor dos indígenas.
De volta a Francisco e os Mapuche
Os	mapuche	são	7%	da	população	chilena,	o	que	representa	pouco	mais	de	1	
milhão de pessoas, e formam comunidades que se espalham entre o Chile e Argentina. 
As comunidades resistiram à presença e à dominação espanhola e do Estado chileno, 
após	a	independência.	O	grupo	está	longe	da	docilidade	ou	da	passividade	apresentada	
no	relato	lascasiano.	As	formas	de	resistência	mapuche	contra	colonizadores	e	contra	o	
Estado chileno incluem ações como atear fogo em Igrejas e prédios públicos. A principal 
demanda é pelo reconhecimento do direito de autodeterminação dos povos que não se 
consideram nem chilenos, nem argentinos. Essa questão, para além do reconhecimento 
cultural, esbarra em temas como a exploração de terras e riquezas por parte do Estado 
e grandes grupos empresariais.
O	preconceito	contra	os	mapuche,	incluindo	os	propagados	pela	imprensa	que	
assimilou	o	discurso	do	Estado	nacional	desde	o	século	XIX,	 reverbera-se	na	violência	
policial	contra	os	povos	originais.	Dezenas	de	ativistas	foram	assassinados	nos	últimos	
anos	e	há	cumplicidade	do	sistema	jurídico	com	a	impunidade	em	relação	a	estes	crimes.	
A	visita	 de	 Francisco,	 nesse	 caso,	 é	 criticada	 tanto	 por	 católicos	mais	 conservadores,	
como	por	 lideranças	mapuche.	Os	 líderes	 indígenas,	 como	Rolando	Jaramillo,	 líder	 do	
Conselho	de	Todas	as	Terras,	não	querem	que	o	papa	peça	um	perdão	 retórico.	João	
Paulo	II	já	havia	feito	esse	pedido	no	contexto	dos	500	anos	da	chegada	de	Colombo	ao	
Novo	Mundo.	Os	indígenas	querem	que	a	Igreja	se	reconheça	como	parte	do	genocídio	
causado e que se comprometa a fazer justiça, reconhecendo os direitos às terras e 
indenizações às vítimas da ocupação do território mapuche.
113
Os	 católicos	 conservadores,	 por	 outro	 lado,	 se	 ressentem	 do	 Papa	 criticar	 a	
violência	do	Estado	chileno	contra	os	mapuche.	O	Chile	é	o	país	com	menor	número	
de	católicos	na	América	Latina,	com	pouco	mais	de	40%	da	população,	e	com	o	maior	
número	de	pessoas	que	se	declaram	sem	religião	no	continente.	Esse	perfil	diferencia	o	
país	dos	demais	vizinhos,	onde	a	diminuição	de	católicos	tem	significado	o	aumento	de	
outras	denominações.	Francisco	tentou	repetir	Las	Casas:	ser	crítico	de	uma	situação,	
sendo	 parte	 de	 um	 aparato	 que	 está	 identificado	 com	um	dos	 lados.	 O	 Papa	 criticou	
os	dois	tipos	de	violência	existentes	na	atualidade:	a	do	Estado	e	sua	força	policial	que	
não cumpre as promessas feitas aos mapuche e a dos grupos indígenas que atacam e 
queimam igrejas e prédios.
“Existem	 duas	 formas	 de	 violência”,	 disse	 o	 Papa	 na	 missa	 celebrada	 em	
Temuco,	diante	de	150	mil	pessoas,	no	dia	17	de	 janeiro.	 “Em	primeiro	 lugar,	elaborar	
belos	acordos	que	nunca	chegam	a	se	concretizar.	 Isso	também	é	violência,	porque	
frustra a esperança. Em segundo lugar, uma cultura do reconhecimento mútuo não 
pode	ser	construída	com	base	na	violência	e	na	destruição,	que	termina	provocando	
perdas de vidas humanas. Não se pode pedir reconhecimento aniquilando o outro. A 
violência	acaba	tornando	mentirosa	a	causa	mais	justa.”	A	visita	de	Francisco	e	os	relatos	
de	Las	Casas	guardam	similitudes:	 reconhecem	a	disparidade	de	forças	e	o	 impacto	
sobre	os	 indígenas.	Francisco,	porém,	não	pode	silenciar-se	diante	do	protagonismo	
dos mapuche, nem ser uma voz supostamente equidistante, pois os mapuche não 
são silenciados por uma noção idealizada de povos dóceis e submissos: são a própria 
resistência	do	que	pensam	e	querem	sobre	suas	culturas	e	suas	terras.
A crônica do século XVI é atual por ser reveladora do que imaginamos ter sido 
em uma fase pueril. A realidade da Araucanía, no século XXI, nos retira da zona de 
conforto	de	supor	a	existência	de	um	paraíso.	Mas,	se	ele	existir,	tem	que	ser	para	todos!
FONTE: Adaptado de <https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/artigos/jose-alves-de-freitas-neto/o-
papa-os-indigenas-e-complexas-relacoes-na-america-latina>. Acesso em: 6 ago. 2021.
114
Neste tópico, você aprendeu:
• A Igreja Católica passa por um novo processo de ruptura e cisão no início da Idade 
Moderna,	principalmente,	a	partir	da	chamada	Reforma	Protestante,	cujos	primeiros	
movimentos fora se acumulando deste o século XIV até a culminância com a reforma 
empreendida	por	Martinho	Lutero.
•	 As	duas	grandes	rupturas	ocorridas	no	Cristianismo	no	ocidente,	o	Grande	Cisma	do	
século	XI	e	a	Reforma	Protestante,	colocaram	em	xeque	a	tese	da	Unicidade	da	Igreja	
Católica	como	a	Igreja	de	Cristo	na	Terra,	levando	à	formação	de	várias	denominações	
reformistas.
• Após a descoberta de novas terras além do oceano Atlântico, houve uma intensa 
corrida econômica, política, mas também religiosa entre as nações católicas e as 
nações reformistas protestantes.
•	 O	processo	de	ocupação,	colonização	e	exploração	das	novas	terras	foi	distinto	na	
América	do	Sul	e	na	América	do	Norte,	dentro	destas	diferenças,	pode-se	observar	
a predominância do catolicismo nas colônias portuguesas e espanholas, bem como 
a predominância das denominações reformistas nas colônias inglesa, escocesas, 
francesas e holandesa.
RESUMO DO TÓPICO 3
115
AUTOATIVIDADE
1	 A	Cristandade	sofre	uma	grande	ruptura	no	início	do	século	XII	que	ficou	conhecido	
como	 o	 Grande	 Cisma,	 sendo	 um	marco	 na	 história	 do	 Cristianismo	 e	 um	 ponto	
de	 partida	 para	 novas	 controvérsias	 e	 discussões	 acerca	 de	 doutrinas	 e	 práticas	
litúrgicas.	Sobre	este	tema	do	Grande	Cisma,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 Foi	a	divisão	entre	a	igreja	do	oriente	e	a	igreja	do	ocidente	ocorrida	em	1054	d.C.	
que levou a um acirramento da disputa sobre a verdadeira autoridade herdada 
dos apóstolos.
b)	 (			)	 O	Grande	Cisma	foi	a	divisão	da	Igreja	Católica	causada	pela	divisão	do	Império	
Romano	em	 império	do	ocidente	e	 império	do	oriente,	causando	uma	disputa	
doutrinária.
c)	 (			)	 Foi	um	momento	de	disputa	entre	o	poder	temporal,	o	Estado,	e	o	poder	espiritual,	
a	Igreja,	ficando	a	igreja	do	oriente	do	lado	do	imperador	de	Constantinopla.	
d)	 (			)	 O	 Grande	 Cisma	 foi	 causado	 pela	 discordância	 acerca	 da	 natureza	 divina	 de	
Cristo, sendo a igreja do ocidente defensora da naturezaúnica, carnal.
2	 O	 Grande	 Cisma	 da	 Igreja	 Católica	 foi	 marcado	 por	 disputas	 doutrinárias	 bem	
claras, resultado na fratura da Igreja e na constituição de duas tradições que não 
se	 encontrariam	 pelos	 próximos	 mil	 anos.	 Com	 base	 nas	 questões	 doutrinárias	
discutidas	no	Grande	Cisma,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I- A controvérsia envolvia a discussão sobre o uso de fermento, ou não, no pão da 
Eucaristia,	a	veneração	à	ídolos	e	a	procedência	do	Espírito	Santo.
II- A principal controvérsia era relativa ao cânone do Novo Testamento, não havendo 
um consenso sobre os livros nele contidos. 
III-	 A	principal	controvérsia	surgida	no	Grande	Cisma	foi	a	definição	de	uma	Santa	Sé,	
ou	seja,	quando	seria	estabelecida	a	tradição	do	“trono	de	Pedro”,	se	em	Roma	ou	
em Constantinopla. 
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 Somente	a	sentença	I	está	correta.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
116
3	 Os	 séculos	 XIV	 e	 XVI	 são	 bastante	 turbulentos	 no	 que	 diz	 respeito	 à	 estabilidade	
doutrinária	da	Igreja	Católica	na	Europa.	Neste	período	surgem	doutrinas	contestatórias	
que colocam em xeque a autoridade da Igreja, bem como outros dogmas importantes 
para	 sua	 manutenção.	 De	 acordo	 com	 os	 princípios	 desta	 discussão	 acerca	 das	
reformas	propostas	neste	período,	classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	
para as falsas:
(			)	 A	principal	proposta	dos	movimentos	reformistas	era	a	anulação	do	Grande	Cisma	
e	a	reunificação	da	Igreja	de	Cristo,	não	mais	sob	a	autoridade	Católica.
(			)	 Os	movimentos	reformistas	surgem	em	vários	momentos	em	lugares	diversos,	na	
Inglaterra,	na	Boêmia,	bem	como	na	Alemanha,	com	Lutero.
(			)	 Alguns	dos	principais	pontos	defendidos	por	Martinho	Lutero	em	suas	teses	para	
reforma	da	Igreja	já	tinham	sido	formuladas	e	defendidas	por	Wycliffe,	na	Inglaterra.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 F	–	V	–	V.
c)	 (			)	 F	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 A	Reforma	Protestante	instituída	por	Martinho	Lutero	contou	com	vários	fatores	que	
a tornaram um movimento bem-sucedido, tendo se espalhado em pouco tempo 
pelo	norte	da	Europa.	A	Reforma	Luterana	não	foi	a	primeira	tentativa	de	reforma	da	
Igreja	Católica	e	suas	doutrinas,	mas	ocorreu	em	um	momento	favorável.	Disserte	
sobre	esta	questão	dos	fatores	que	contribuíram	para	o	desenvolvimento	da	Reforma	
Protestante. 
5	 A	descoberta	de	novas	terras	além	do	oceano	Atlântico	acende	uma	enorme	disputa	
política,	econômica,	militar	e	religiosa	entre	as	principais	potências	mundiais	no	início	
do século XVI. Esta realidade trouxe também a oportunidade de ampliar o movimento 
missionário.	O	continente	 recém-descoberto	foi	ocupado	de	forma	distinta	no	Sul	
e no Norte, principalmente, no que diz respeito à tradição religiosa. Neste contexto, 
disserte sobre as diferenças no movimento de ocupação do novo continente em 
relação à religião e forma de colonização.
117
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Janine	Ribeiro	e	Laura	Teixeira	Motta.	São	Paulo:	Companhia	das	Letras,	1996.	
119
A TEOLOGIA DA MISSÃO NA 
CONTEMPORANEIDADE
UNIDADE 3 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 compreender	 e	 refletir	 sobre	 os	 atuais	 desafios	 da	 evangelização	 em	 um	mundo	
globalizado,	 tendo	em	vista	 a	 transculturalidade	e	os	 fundamentos	da	mensagem	
cristã;
•	 conhecer,	 analisar	 e	 compreender	 a	 relação	 entre	 a	 evangelização,	 a	 partir	 dos	
fundamentos	teológicos	da	missão,	e	a	questão	social,	tendo	como	foco	os	aspectos	
dos	direitos	humanos	e	da	desigualdade	social;
•	 analisar	e	interpretar	as	relações	entre	a	evangelização,	a	partir	dos	fundamentos	da	
teologia	da	missão,	e	as	revoluções	tecnológicas	na	área	das	comunicações,	tendo	
em	vista	o	impacto	de	tais	tecnologias	na	chamada	evangelização	de	massa;
•	 compreender	e	analisar	os	aspectos	teológicos	envolvidos	na	questão	ecumênica	e	
suas	relações	com	a	evangelização	no	mundo	globalizado.
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	
reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO 1 – A EVANGELIZAÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO
TÓPICO 2 – A TEOLOGIA DA MISSÃO E A QUESTÃO SOCIAL
TÓPICO	3	–	EVANGELIZAÇÃO,	ECUMENISMO	E	A	REVOLUÇÃO	NAS	COMUNICAÇÕES
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhoras informações.
CHAMADA
120
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 3!
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121
TÓPICO 1 — 
EVANGELIZAÇÃO 
NO MUNDO GLOBALIZADO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO 
Acadêmico,	 no	 Tópico	 1,	 abordaremos	 a	 temática	 da	 evangelização	 em	 um	
mundo	 “agigantado”,	 um	mundo	 no	 qual	 as	 relações	 estão	 cada	vez	mais	 rápidas	 e	
globalizadas.	 A	 noção	 de	 “globalização”	 é,	 relativamente,	 nova,	 apesar	 de	 podermos	
apontar	 vários	momentos	 na	 história	 em	 que	 diversas	 regiões	 distantes	 do	 planeta	
foram	conectadas	pelo	 ser	humano.	O	período	das	chamadas	 “grandes	navegações”	
é	 um	 desses	 momentos	 no	 qual	 a	 relação	 de	 culturas	 diferentes	 ficou	 evidente.	 O	
momento	 de	 conexão	 entre	 a	 cultura	 europeia	 e	 as	 diversas	 culturas,	 várias	 ainda	
desconhecidas,	criou	uma	nova	visão	de	“mundo”,	muito	mais	alargada	e	com	inúmeros	
questionamentos	a	serem	respondidos.
Entretanto,	o	nível	de	conexão	ao	qual	chegamos	enquanto	civilização	é	 inédito	
na	história	humana.	Conexões	não	apenas	físicas,	mas	também	de	comunicação	e	troca	
de	 ideias,	de	ferramentas	virtuais	e	um	desafiador	 intercâmbio	 religioso.	Até	chegarmos	
neste	 ponto,	 passamos	 por	 inúmeras	 revoluções	 tecnológicas,	 sociais,	 políticas	 e,	
principalmente,	 religiosas	 e	 intelectuais.	 As	 grandes	 navegações	 dos	 séculos	 XVI,	
XVII	e	XVIII	 levaram	consigo	a	pregação	de	várias	denominações	cristãs	para	o	“novo	
mundo”,	 tanto	católicas	quanto	 reformistas.	Este	movimento	deixou	profunda	marca	 
na	organização	cultural	dos	povos	que	foram	colonizados	pelas	potências	europeias.
FIGURA 1 – AS GRANDES NAVEGAÇÕES
FONTE: <https://shutr.bz/3oHlm8q>. Acesso em: 11 ago. 2021.
122
Ao	 chegarmos	 no	 século	 XX,	 vemos	 uma	 incomensurável	 relação	 entre	 as	
nações	 do	 mundo,	 lastreada	 por	 meios	 tecnológicos,	 econômicos	 e	 políticos.	 Essa	
realidade	será	fruto	de	todos	os	acontecimentos	dos	séculos	anteriores,	como	posto,	
século	de	ampla	disseminação	de	doutrinas	religiosas,	ideias	e	costumes.	
Bem,	mas	como	 isso	nos	 importa	no	estudo	da	missão	no	mundo	hodierno?	
A	questão	é	que	não	podemos	compreender	o	cenário	atual	sem	percebemos	que	ele	
foi	 construído	 exatamente	 nos	 movimentos	 empreendidos	 nos	 séculos	 anteriores.	
Compreender	 a	 transculturalidade	 e	 a	 forma	 como	 o	 Evangelho	 foi	 levado	 para	 as	
diversas	culturas	no	mundo	todo.	O	respeito	aos	costumes	de	cada	povo,	destacando	
a	mensagem	do	Evangelho,	mas,	ao	mesmo	tempo,	compreendendo	sua	relação	com	
estes	costumes.
Nesta	 unidade,	 nos	 voltaremos	 para	 estas	 questões,	 tendo	 em	 vista	 que	 a	
evangelização	do	mundo	se	tornou	um	desafio	que	envolve	não	apenas	a	verdade	da	
fé,	mas	também	uma	compreensão	de	fatores	culturais,	políticos,	humanitários	e,	até	
mesmo,	tecnológicos.	É	preciso	pensar	o	respeito	aos	direitos	humanos,	à	peculiaridade	
de	cada	grupo	étnico	que	tem	contato	com	a	palavra	da	salvação.
FIGURA 2 – DIVERSIDADE CULTURAL
FONTE: <https://shutr.bz/3Dp5XNX>. Acessado em 11 ago. 2021.
Existem	várias	 formas	de	 se	construir	um	processo	de	evangelização	dentro	
dos	 grandes	 centros	 urbanos,	 seja	 por	 meio	 de	 assistências	 sociais,	 por	 meio	 de	
trabalhos	 de	 base,	 ações	 de	 impacto,	 até	 mesmo	 a	 evangelização	 nas	 ruas.	 Todos	
eles	convergem	para	um	tipo	de	relação	que	se	tornou	mais	diversificada	nas	últimas	
décadas,	se	comparado	ao	que	se	tinha	na	sociedade	brasileira	em	décadas	passadas.	
Há	setenta,	sessenta	anos	atrás,	existia	um	número	pequeno	de	denominações	cristãs	
no	Brasil,	atualmente,	existe	uma	gama	enorme	de	 igrejas	denominadas	“evangélicas”,	
“carismáticas”,	“renovadas”,	“pentecostais”	etc.
Esse	quadro	se	mostra	como	uma	questão	de	pluralidade	que	evoca	várias	dis-
cussões	doutrinais,	eclesiais,	 litúrgicas,	que	certamente	não	é	nosso	foco	neste	estudo,	
mas	demanda	também	considerações	sobre	como	pensar	a	inter-relação	dentro	do	próprio	
123
cenário	urbano.	Além	deste	desafio	próprio	do	mundo	globalizado	e	intercultural,	há	a	pri-
mordial	necessidade	de	se	respeitar	os	direitos	humanos,	as	individualidades,	as	diferen-
ças	e,	principalmente,	a	autonomia	e	liberdade	de	cada	indivíduo.	A	mensagem	do	Evan-
gelho	não	pode	ser	um	elemento	desagregador,	de	exclusão	de	qualquer	tipo,	de	pessoa	
ou	grupo	social,	nem	mesmo	de	julgamento	e	discriminação,	antes,	seguindo	o	exemplo	 
de	Jesus	Cristo,	deve	ser	a	fonte	de	compreensão,	apoio	e	transformação	de	vidas.
Tendo	 em	vista	 todas	 estas	 considerações,	 abordaremos	 neste	 primeiro	 tópico	
as	 temáticas	 da	 transculturalidade	 e	 da	missão	 inculturada,	 buscando	 relacionar	 os	
aspectos	que	apresentamos	neste	primeiro	momento	e	avançando	em	outros	correlatos.	
Vamos	começar?
2 A MENSAGEM DO EVANGELHO E A 
TRANSCULTURALIDADE
Temos	 colocado,	 por	 diversas	 vezes,	 o	 caráter	 universal	 do	 Evangelho,	 sua	
mensagem	de	salvação	para	toda	a	humanidade,	base	do	querigma	cristão	e	fonte	da	
própria	essência	do	sacrifício	de	Cristo.	A	Nova	Aliança	selada	com	o	sangue	de	Cristo	
na	cruz	não	conhece	barreiras	de	cultura,	nacionalidade,	sistema	político,	costumes	ou	
leis,	mas	é	preciso	compreender	que	cada	povo,	cada	nação,	tem	seus	costumes,	seus	
sistemas	políticos	e	suas	leis.	O	que	isso	significa?	
Podemos	afirmar	que	isto	significa	que	a	mensagem	do	Evangelho	é	universal,	
mas	sua	pregação	se	dá	em	um	contexto	político,	social	e	cultural	bem	definido	e,	mais	
ainda,	significa	que	para	se	cumprir	o	“Ide”	ordenado	por	Jesus	é	preciso	não	se	prender	
aos	prejulgamentos,	às	discriminações	ou	às	classificações	de	qualquer	tipo	sobre	uma	
cultura.
FIGURA 3 – TODA CULTURA TEM SEUS COSTUMES E TRADIÇÕES
FONTE: <https://shutr.bz/3iM3BB2>. Acesso em: 12 ago. 2021.
124
O	 processo	 de	 evangelização	 e	 missões	 desenvolvido	 durante	 as	 Grandes	
Navegações	e	as	colonizações	perpetuou	um	processo	de	imposição	da	cultura	europeia	
sobre	as	culturas	nas	quais	o	Evangelho	era	pregado.	Tanto	por	parte	de	católicos	quanto	
por	parte	de	reformistas,	em	muitas	culturas	a	pregação	do	Evangelho	significou	um	
ataque	aos	costumes	e	tradições	locais	de	forma	abrupta,	em	alguns	casos,	de	forma	
até	criminosa.	
Segundo	Macedo	(2014,	p.	70):	
A	estratégia	adotada	pelos	primeiros	missionários	cristãos	na	África	
seguia	o	exemplo	dos	primeiros	missionários	latinos	no	mundo	extra-
europeu	 desde	 o	 século	 XIII.	 As	 obras	 da	 conversão	 começavam	
pelos	 chefes	 locais,	 cujo	 apoio	 era	 condição	 imprescindível	 para	 o	
estabelecimento	de	núcleos	religiosos	e	para	o	combate	às	lideranças	
religiosas	tradicionais.	
Essa	 tática,	 como	 visto	 acontecer	 na	 Europa	 dos	 séculos	 IX	 e	 X,	 focava	 na	
conversão	do	líder	político	para	se	ter	um	respaldo,	o	qual,	na	maioria	dos	casos,	vinha	
pela	obrigação	da	população	na	adesão	à	 religião	tomada	como	“oficial”.	Outro	ponto	
citado	 por	Macedo	 (2014)	 era	 o	 combate	 ferrenho	 às	 lideranças	 religiosas	 locais,	 as	
quais	eram	perseguidas	e	deslegitimadas	a	partir	do	apoio	político	estabelecido	pelos	
missionários.	
O	modelo	de	evangelização	adotado	nesses	séculos	representa	um	grave	erro	
cometido	 tanto	 por	 católicos	 quanto	 por	 reformistas.	 Como	 se	 pode	 afirmar	 sobre	 a	
evangelização	na	África	e	também	no	leste	asiático	e	nas	Américas,	a	tática	assumida	
pelos	missionários,	em	geral,	desequilibrava	o	arranjo	político-social,	o	qual	se	apoiava	
nas	tradições	e	costumes	do	povo,	principalmente,	a	partir	das	religiões	nacionais.
Esses	 apontamentos	 nos	 levam	a	 problematizar	 duas	 questões	 importantes:	
primeira,	 qual	 o	 tipo	 de	 relação	 cultural	 se	 deve	 estabelecer	 em	vista	 de	 se	 levar	 a	
mensagem	do	Evangelho,	o	qual	é	universal?	Segunda,	essa	relação	cultural	em	vista	
da	 evangelização	 representa	 um	 tipo	 de	 transculturalidade	 ou	 de	 “etnocentrismo”	
disfarçado?	 Para	 refletirmos	 sobre	 a	 primeira	 questão	 é	 preciso	 termos	 em	 mente	
que	a	mensagem	do	Evangelho	é	universal,	não	está	presa	a	costumes,tradições	ou	
legitimação	política,	no	entanto,	ela	deve	ser	acessível,	compreensível	aos	 indivíduos	
que	a	ouvem.	Nesse	sentido,	não	é	necessário	estabelecer	um	parâmetro	cultural	ou	
social	para	se	balizar	a	forma	como	o	Evangelho	será	pregado.	Em	outros	termos,	não	se	
pode	transmitir	a	palavra	de	salvação	a	partir	de	pressupostos	que	só	existem	em	uma	
determinada	cultura.
Na	maioria	dos	casos,	durante	o	período	de	expansão	marítima,	o	Evangelho	
era	 pregado	em	vista	 de	parâmetros	 culturais	 existentes	na	Europa,	 com	costumes,	
valores	 e	 ações	 próprias	 das	 nações	 europeias	 que	 colonizavam	 as	 diversas	 áreas	
da	Ásia,	África	e	das	Américas.	Assim,	o	Evangelho,	que	é	universal,	assumia	feições	
“europeias”,	 centradas	 em	 costumes	 e	 valores	 culturais	 próprios	 dos	 povos	 que	
125
colonizavam	as	áreas	cobertas	pelas	navegações.	Esse	quadro	se	arrastou	do	século	
XVI	até	praticamente	o	século	XIX,	não	só	entre	os	povos	mais	distantes,	mas	também	
entre	áreas	já	colonizadas,	como	no	caso	do	Brasil.	
Como	indica	Oliveira	(2014,	p.	99):
Ao	 longo	das	últimas	décadas	do	século	XIX	e	 início	do	século	XX,	
o	Brasil	 recebeu	membros	de	diversas	denominações	protestantes	
interessadas	em	divulgar	o	Evangelho	e	suas	formas	de	compreensão	
do	mundo,	inaugurando	a	grande	atividade	das	missões	protestantes	
no	Brasil.	Os	estadunidenses,	cada	vez	mais	interessadas	na	América	
Latina,	 como	 um	 campo	 de	 atuação	 político,	 religioso	 e	 cultural,	
foram	os	grandes	evangelizadores	do	período,	seguidos	dos	ingleses	
e	escoceses.
Esse	processo	também	teve	uma	forte	marca	etnocêntrica,	principalmente,	na	
marginalização	das	culturas	de	matriz	africana	no	país,	tais	como	a	religião,	os	costumes,	
vestimentas	e	hábitos.	Essa	marginalização	já	ocorria	por	parte	da	 influência	católica	
existente	 no	 Brasil,	 todavia,	 por	meio	 de	 sincretismos	 e	 adaptações,	 as	 religiões	 de	
matriz	africana	haviam	“incorporado”	os	santos	católicos	em	seus	cultos,	com	os	nomes	
de	suas	próprias	divindades.	Por	exemplo,	a	imagem	de	Nossa	Senhora	da	Conceição	
recebia	o	nome	de	Iemanjá,	Santa	Bárbara	recebe	o	nome	de	Iansã,	São	João	é	chamado	
de	Xangô,	dentre	vários	outros	exemplos.	Esse	sincretismo	se	dá	exatamente	porque	os	
senhores,	cristãos,	proibiam	aos	negros	o	culto	às	suas	divindades,	então,	eles	se	valiam	
das	imagens	cristãs	para	seus	rituais.
FIGURA 4 – SINCRETISMO ENTRE CRISTIANISMO E RELIGIÕES AFRICANAS NO BRASIL
FONTE: <https://shutr.bz/3uVY7IN>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Como	o	aumento	da	evangelização	por	parte	dos	reformistas	vindos	da	América	
do	Norte	e	da	Europa,	esta	marginalização	se	acentuou,	tornando	extensiva	a	todo	tipo	
de	culto	que	tivesse	alguma	forma	de	adoração	ou	veneração	às	imagens	ou	símbolos	
religiosos.	Outra	questão	foi	o	aumento	da	tensão	entre	católicos	e	reformistas	no	Brasil	
126
a	partir	do	século	XIX.	A	 Igreja	Católica	gozava	de	ampla	hegemonia	nas	 instituições	
públicas	coloniais	e	na	vida	da	população	brasileira,	o	que	levou	a	uma	forte	repressão	
da	pregação	das	doutrinas	reformistas.	
O	 tipo	 de	 relação	 cultural	 que	 se	 tinha	 era	 uma	 relação	 de	 discriminação,	
julgamento	e	condenação.	A	pregação	do	Evangelho	era	feita	a	partir	de	uma	noção	
de	que	a	cultura	europeia,	ou	estadunidense,	branca,	era	superior	às	demais	culturas	
existentes	tanto	em	regiões	da	Ásia	e	África,	quanto	no	Brasil	e	no	restante	da	América	
Latina.	Essa	assertiva	nos	leva	a	pensar	na	segunda	questão,	será	que	este	processo	
não	 significou	 um	 etnocentrismo	 disfarçado?	 Se	 pensarmos	 que	 houve	 inúmeras	
imposições	culturais,	estranhas	à	própria	mensagem	do	Evangelho,	podemos	entender	
que	sim.	
Como	se	pode	intuir,	é	difícil	reconhecer	que	houve	diversos	tipos	de	abusos,	
erros	 e	 até	mesmo	 injustiças,	 perpetrados	 em	 nome	 de	 uma	 evangelização	 que	 se	
deixava	 modelar	 por	 paradigmas	 estranhos	 à	 própria	 mensagem	 do	 Evangelho,	 de	
amor,	de	reconhecimento,	de	respeito,	de	acolhimento,	de	remissão	dos	pecados,	não	
de	imposição,	julgamento	e	condenação	de	costumes.
FIGURA 5 – A MENSAGEM DE AMOR DO EVANGELHO DE CRISTO
FONTE: <https://shutr.bz/3oR3AQ3>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Ao	 pensarmos	 em	 uma	 transculturalidade	 nos	 dias	 atuais,	 devemos	 ter	 em	
mente	 estes	 aspectos	que	marcam	a	mensagem	do	Evangelho	de	Cristo.	 Para	 isso,	
é	preciso	rever	os	erros	do	passado	e	colocá-los	a	limpo,	tanto	por	parte	de	católicos	
quanto	de	reformistas.	Esse	movimento	é	extremamente	necessário	para	se	pensar	que	
tipo	de	transculturalidade	é	válida	para	a	efetiva	pregação	do	Evangelho.	
Não	se	pode	ter,	por	exemplo,	um	modelo	de	transculturalidade	vertical,	o	qual	
implica	em	considerar	uma	cultura	melhor	que	a	outra,	ou	superior	à	outra.	Menos	ainda	
se	pode	vincular	a	mensagem	do	Evangelho	a	costumes,	tradições	e	valores	assumidos	
por	estas	culturas	tidas	como	“superiores”	ou	mais	“civilizadas”.	Mais	do	que	repensar	os	
127
modelos	de	evangelização,	é	preciso	repensar	a	forma	como	as	denominações	cristãs	
têm	apresentado	para	o	mundo	o	amor	de	Cristo,	como	a	mensagem	do	Evangelho	tem	
sido	utilizada	para	mudar	vidas,	não	apenas	para	mudar	costumes	culturais.
2.1 POR UMA TRANSCULTURALIDADE HORIZONTAL 
Nossa	discussão	até	aqui	nos	leva	a	pensar	como	deve	ser	encarada	a	neces-
sidade	de	uma	transculturalidade	horizontal	para	o	processo	de	evangelização	nos	
dias	atuais.	Ao	 revermos	os	erros	e	acertos	do	passado,	podemos	entender	melhor	
os	 desafios	 do	 presente	 e	 do	 futuro.	 O	 processo	 de	 globalização,	 no	 qual	 vivemos	
atualmente,	nos	faz	enxergar	o	mundo	de	uma	forma	mais	complexa,	mas,	ao	mesmo	
tempo,	mais	 responsável,	pois	percebemos	que	não	existe	uma	cultura	superior	ou	
um	modelo	político-social	hegemônico.
FIGURA 6 – AS CULTURAS INTERAGEM NO MUNDO GLOBALIZADO
FONTE: <https://shutr.bz/3oNsSi8>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Nesse	sentido,	uma	transculturalidade	horizontal	valoriza	os	aspectos	próprios	
de	cada	cultura;	a	forma	como	os	indivíduos	se	organizam,	estabelecem	suas	metas	de	
vida,	seus	costumes,	valores	e	compreensão	de	mundo.	Compreender	esses	fatores	é	
essencial	para	se	pensar	um	modelo	de	evangelização	que	seja	ao	mesmo	tempo	eficaz	
e	transformador,	que	 respeite	a	autonomia	de	cada	povo	e	transmita	de	forma	clara	
a	mensagem	de	amor	da	mensagem	de	Jesus	Cristo.	Assim,	abordaremos	um	breve	
conceito	de	“cultura”,	para	depois	pensarmos	como	uma	transculturalidade	horizontal	
é	possível.
Sorokin		(1968)	tem	uma	interessante	descrição	de	três	pilares	centrais	para	se	
compreender	uma	organização	cultural	de	um	povo:
128
Mais	 exatamente	 definido,	 o	 aspecto	 cultural	 da	 interação	 signifi-
cativa	consiste:	(1)	na	totalidade	dos	significados,	valores	e	normas	
possuídos	pelos	indivíduos	e	grupos	interagentes,	e	formando	a	cul-
tura	“ideológica”	destes;	(2)	na	totalidade	das	ações-reações	signi-
ficativas,	através	das	quais	os	significados,	valores	e	normas	puros	
são	objetivados,	comunicados	e	socializados,	formando	a	sua	cultu-
ra	“comportamental”;	e	(3)	na	totalidade	de	todos	os	demais	veícu-
los,	os	objetos	e	energias	materiais	e	biofísicos	através	dos	quais	a	
sua	cultura	ideológica	se	manifesta,	se	exterioriza,	se	socializa	e	se	
consolida,	formando	a	cultura	“material”	desses	indivíduos	e	grupos	 
(SOROKIN,	1968,	p.	487).
Pensando	a	partir	dessa	explanação	dada	por	Sorokin	(1968),	podemos	perceber	
que	ao	analisarmos	o	cerne	de	uma	cultura	não	vemos	apenas	as	 interações	políticas,	
econômicas	 ou	mesmo	 religiosas.	Antes,	 o	 que	 temos	 é	 uma	 intricada	malha	 que	 se	
constitui	a	partir	de	um	elemento	valorativo,	ou	seja,	os	costumes,	valores	e	princípios	
aceitos	pelos	indivíduos,	um	elemento	funcional,	no	qual	os	indivíduos	agem	e	reconhecer	
seu	lugar	na	sociedade	a	partir	dos	valores	que	compartilham.	Além	disso,	é	como	um	
elemento	concreto,	representado	pela	materialização	das	ideias,	costumes	e	necessidades	
dos	indivíduos,	seja	por	meio	de	utensílios,	vestimentas,	representaçõesartísticas	etc.
FIGURA 7 – A CULTURA MATERIAL É UM TRAÇO ESSENCIAL DAS SOCIEDADES
FONTE: <https://shutr.bz/3aDkU2V>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Por	esse	entendimento,	podemos	perceber	que	ao	se	 iniciar	um	processo	de	
evangelização	em	uma	determinada	cultura,	o	primeiro	elemento	a	ser	influenciado	é	
o	valorativo	ou	ideológico,	segundo	Sorokin	(1968).	Nesse	elemento	estão	os	princípios	
morais,	 as	 normas	 e	 as	 ideias	 que	 expressam	 a	visão	 de	mundo	 do	 grupo	 social.	A	
mensagem	do	Evangelho	é	antes	de	mais	nada	uma	verdade	de	fé,	na	qual	o	indivíduo	
é	convencido	pelo	Espírito	Santo	e	aceita	Jesus	como	seu	salvador.	Ao	passar	por	esta	
conversão,	o	indivíduo	revê	seus	ideais,	seus	valores,	seus	objetivos	de	vida.	Obviamente	
isso	não	mudará	a	constituição	valorativa	de	toda	a	sociedade,	mas	fará	com	que	este	
indivíduo	questione	suas	influências	sociais	e	sua	postura	diante	de	seu	grupo.	
129
A	partir	desse	momento,	o	segundo	passo	é	a	mudança	funcional,	ou	compor-
tamental,	quando	o	indivíduo	busca	refletir	em	sua	sociedade	os	valores	cristãos	que	
ele	assumiu.	Isto	pode	colocá-lo	contra	seus	pares	ou	servir	de	testemunho,	a	questão	
é	que	nenhum	indivíduo	pode	ser	forçado	a	mudar	sua	conduta	se	não	tiver	aceitado	 
os	princípios	que	baseiam	tal	mudança.
Esse	 é	 exatamente	 o	 ponto	 no	 qual	 gostaríamos	 de	 tocar,	 a	 saber,	 que	 não	
se	pode	cometer	os	erros	do	passado	e	querer	mudar	 todos	os	costumes,	valores	e	
hábitos	dos	 indivíduos	de	uma	sociedade	para	que	se	adéquem	aos	valores	cristãos.	
Essa	 imposição	 foi	 feita	 no	 passado	 de	 forma	 abrupta	 em	 diversas	 culturas,	 tendo	
consequências	desastrosas	e	prejudiciais	ao	movimento	missionário.	É	preciso,	então,	
perceber	 que	 o	 processo	 de	 transculturalidade	 é	mais	 que	 estabelecer	 uma	 relação	
de	 “desafio”	 às	 bases	 culturais	 da	 sociedade	 na	 qual	 se	 está	 evangelizando.	 É	 um	
processo	de	 interação	no	qual	 a	mensagem	do	Evangelho	é	 inserida	 respeitando	as	
particularidades	de	cada	cultura.
Em	 um	 processo	 de	 transculturalidade	 horizontal,	 a	 pregação	 do	 Evangelho	
deve	seguir	os	preceitos	de	convencimento	dos	indivíduos,	valorização	dos	costumes,	
respeito	pela	história	e	a	autonomia	dos	povos	e	não	agressão	aos	princípios	que	eles	
compartilham.	É	muito	perigoso	 iniciar	um	processo	de	evangelização	em	uma	cultura	
diversa	e	estabelecer	uma	relação	de	superioridade	ou	de	ataque	frontal	aos	valores,	
costumes	e	princípios	sociais	compartilhados.	
Além	 de	 não	 ser	 eficaz,	 isso	 pode	 criar	 uma	 justa	 aversão	 à	 atuação	 dos	
missionários	e	um	estado	de	beligerância	e	desconfiança	com	a	própria	mensagem	do	
Evangelho.	 Como	 posto,	 dificilmente	 os	 indivíduos	 de	 determinada	 cultura	mudarão	
seus	costumes	e	valores	 se	não	 forem	convencidos	dos	princípios	que	 regem	estas	
mudanças,	 muito	 menos	 deixarão	 para	 trás	 seus	 hábitos,	 práticas	 materiais	 ou	
expressões	artísticas.
Dessa	forma,	seja	uma	evangelização	transcultural,	na	qual	o	missionário	vai	
para	outra	cultura	diferente	da	sua,	seja	na	evangelização	de	grupos	isolados	em	sua	
própria	 nação,	 ou	 ainda	 grupos	 urbanos,	 a	 questão	 é	 sempre	 partir	 do	 princípio	 de	
convencimento.	Quando	vemos	o	ministério	de	Jesus	Cristo,	podemos	perceber	que	
este	foi	seu	princípio	primordial,	levar	o	pecador	a	ver	seu	próprio	erro,	se	arrepender	e	se	
converter.	Assim,	 ao	 empreendermos	 um	 processo	 de	 evangelização,	 independente	 do	
grupo	social	ou	cultura,	o	princípio	primordial	é	a	pregação	da	mensagem	do	Evangelho,	
sem	julgamentos,	sem	agressões,	sem	“demonizar”	os	valores	ou	costumes	de	quem	
recebe	a	mensagem,	mas	deixando	que	o	Espírito	Santo	aja	com	sua	graça	irresistível.	
Essa	discussão	é	extremamente	 importante	e	nos	 faz	pensar	 sobre	como	uma	
missão	 pode	 ser	 eficaz	 em	 seu	 objetivo	 de	 levar	 a	mensagem	do	 Evangelho	 de	Cristo,	
sem	julgamentos,	limitações	ou	imposições	que	não	aquelas	indicadas	por	Jesus,	“se	
arrepender,	crer	no	Evangelho	e	ser	batizado”.	Buscaremos	agora	discorrer	um	pouco	
sobre	a	questão	da	missão	inculturada.	Vamos	lá?
130
3 PREGAR O EVANGELHO OU LEVAR UMA DOUTRINA? 
MISSÃO INCULTURADA
A	missão	inculturada	é	uma	consequência	da	boa	construção	de	uma	missão	
transcultural,	principalmente,	a	partir	do	princípio	de	horizontalidade,	em	outros	termos,	
a	 compreensão	 de	 que	 cada	 povo,	 cultura	 ou	 nação,	 tem	 suas	 estruturas	 sociais	
próprias	 e	 a	 busca	 de	 uma	 franca	 inserção	 na	vida	 destas	 comunidades.	A	 ideia	 de	
simplesmente	 levar	uma	doutrina	nos	remete	para	os	erros	que	apontamos	no	 início	
do	 tópico	 anterior,	 não	 se	 deve	 ter	 uma	 perspectiva	 de	 doutrinação	 no	 sentido	 de	
“adequação”.	 É	 extremamente	 errado	 querer	 apontar	 dogmas	 e	 condutas	 antes	 de	
se	fundamentar,	através	da	palavra	de	Deus,	o	sentido	de	cada	verdade	da	fé	que	se	
expressa	tão	somente	pelo	convencimento	e	pela	aceitação	da	mensagem	de	Jesus.
Nesse	 sentido,	 quando	 abordamos	 a	 questão	 de	 se	 pregar	 o	 Evangelho	
ou	se	 levar	uma	doutrina,	 apontamos	 já	para	o	processo	que	deve	nortear	a	missão	
inculturada.	 Para	 isso,	 nos	 valeremos	 da	 discussão	 que	 empreendemos	 no	 tópico	
anterior	e	avançaremos	um	pouco	mais	na	questão	do	respeito	e	da	valorização	de	cada	
cultura.	Primeiro,	precisamos	compreender	o	que	é	“inculturação”,	seus	pressupostos	e	
objetivos	no	processo	de	evangelização	de	diversas	culturas,	povos	ou	mesmo	grupos	
sociais.	Depois,	analisaremos	alguns	aspectos	da	missão	inculturada	enquanto	processo	
de	convencimento	pela	palavra	do	Evangelho	em	seu	caráter	universal.
O	termo	inculturação	tem	uma	variedade	de	significados,	assim	como	o	termo	
transculturalidade,	mas,	podemos	compreender	que	sua	principal	concepção	é	a	busca	
de	uma	 imersão,	 uma	 inserção	profunda	de	um	 indivíduo	ou	grupo	em	uma	cultura	
diversa.	Nesse	sentido,	a	 inculturação	é	o	passo	mais	demorado	em	um	processo	de	
missão	transcultural,	no	qual	o	missionário	 levará	considerável	 tempo	para	se	 inserir	
de	forma	franca	no	cotidiano	cultural	do	povo,	nação	ou	grupo	social	para	o	qual	ele,	 
ou	ela,	vai.
Quando	pensamos	em	culturas	asiáticas,	africanas,	 indígenas	ou	até	mesmo	
de	grupos	sociais	específicos	dentro	do	contexto	urbano,	podemos	afirmar	que	existem	
traços	próprios	de	convívio	social,	atitudes	aceitas	ou	rechaçadas	pelos	indivíduos,	além	
da	necessidade	da	criação	de	uma	“empatia”	social.	Esse	último	aspecto	só	é	conseguido	
com	 tempo	 e	 demonstrações	 de	 respeito	 e	 adaptação	 em	 relação	 aos	 costumes	 e	
valores	do	grupo	social.	A	empatia	social	é	o	 reconhecimento	que	os	 indivíduos	têm	
de	que	aquela	pessoa	que	vem	de	uma	cultura	diferente	passou	a	fazer	parte	de	sua	
própria	cultura,	que	ela	compreende	e	respeita	os	costumes	compartilhados	por	todos.
A	inculturação	é	mais	um	processo	social	que	religioso,	porém,	serve	de	suporte	
indelével	 para	 a	 atuação	 propriamente	 religiosa,	 uma	 vez	 que	 o	 tema	 da	 religião	 é	
extremamente	sensível	em	todas	as	culturas.	Neste	sentido,	não	se	trata	de	“adaptar”	
o	Evangelho	aos	costumes	e	valores	de	determinada	cultura,	mas	de	“apresentá-lo”	de	
forma	compreensível	para	os	indivíduos.	Para	Ruppenthal	(2020,	p.	172):
131
Mas	se	é	necessário	remover	a	“pele”	de	cultura	do	Evangelho,	o	que	
poderá	sobrar	dele?	Se	o	Evangelho	não	deve	transportar	as	pessoas	
de	uma	cultura	para	outra,	qual	é	o	propósito	cultural	do	Evangelho?	
Eis	dois	grandes	problemas!
Quanto	 a	 essas	 perguntas,	 o	 caminho	 da	 inculturação	 costuma	
dar	a	seguinte	resposta:	o	Evangelho	não	deve	tirar	alguém	de	sua	
cultura,	 pois	 não	 é	 contrário	 a	 qualquer	 cultura	 […]	 Neste	 sentido,	
tanto	o	Evangelho	pode	encaixar-se	em	qualquer	cultura	quanto	a	
presença	dele	dentro	da	cultura	a	plenifica	e	a	realiza:	não	é	apenas	
uma	transformação	cultural,	mas	também	uma	realização	interna	da	
própria	cultura.
Essa	opinião	reforça	nossa	visão	de	que	a	mensagem	do	Evangelho	é	universal,	
primeiro	porque	temsua	autoridade	no	sangue	de	Cristo,	segundo	porque	não	precisa	
da	 legitimação	 de	 nenhuma	 cultura,	 tradição	 ou	 autoridade	 humana.	 Todavia,	 como	
também	 já	 indicamos,	 as	 pessoas	 que	 ouvem	 esta	 palavra	 são	 influenciadas	 pelo	
contexto	social	no	qual	nascem,	vivem	e	se	relacionam.	
A	inculturação	trata	exatamente	de	compreender	estas	influências	e	perceber	
como	a	mensagem	do	Evangelho	pode	ser	mais	bem	compreendida	por	esse	indivíduo	
que	 é	 constituído	 por	 influências	 sociais.	 Para	 isso	 é	 preciso	 uma	profunda	 imersão	
neste	contexto	social	e	uma	visão	clara	de	que	não	é	pelo	processo	de	imposição	de	
uma	doutrina	com	normas,	dogmas	e	preceitos	morais,	que	se	consegue	uma	conversão	
verdadeira.	 Primeiro	vem	o	 convencimento,	 depois	 o	 arrependimento,	 em	seguida,	 a	
conversão	 e	 a	mudança	 de	vida.	 Para	 Strong	 (2003	 p.	 545),	 sobre	 essa	 questão	 da	
conversão	e	arrependimento:	
Conversão	é	a	mudança	voluntária	na	mente	do	pecador,	na	qual,	por	
um	lado,	ele	dá	as	costas	para	o	pecado,	por	outro,	se	volta	para	Cristo.	
Aquele	 elemento	 negativo	 na	 conversão,	 a	 saber,	 voltar	 as	 costas	
para	o	pecado,	denomina-se	arrependimento.	Este	elemento	positivo	
na	conversão,	isto	é,	o	encaminhamento	para	Cristo	chamamos	fé.
Por	esse	viés,	 a	pregação	do	Evangelho	é	o	 lançamento	de	uma	semente,	 a	
apresentação	de	uma	verdade	que	só	é	aceita	pelo	indivíduo	a	partir	de	sua	compreensão,	
de	seu	convencimento	por	obra	do	Espírito	Santo.	Não	faz	sentido	querer	 impor	uma	
doutrina	 sem	antes	 ter	 o	 indivíduo	 se	convertido	verdadeiramente,	 se	 arrependido	e	
avaliado	sua	própria	vida	frente	à	mensagem	salvífica	de	Jesus.	
A	inculturação	não	se	trata,	então,	de	implantar	uma	doutrina	em	uma	cultura	
diversa,	muito	menos	introduzir	uma	pregação	do	Evangelho	que	seja	impregnada	de	
valores	culturais	estranhos	à	sociedade	na	qual	se	está	tendo	inserção.	Se	não	houver	
uma	 empatia	 social	 verdadeira,	 uma	 vontade	 de	 compreender	 os	 traços	 culturais	
da	 sociedade	 na	 qual	 se	 está	 trabalhando,	 um	 respeito	 aos	 valores	 e	 costumes,	 o	
missionário	não	conseguirá	apresentar	a	mensagem	do	Evangelho	de	força	que	ela	seja	
compreendida	pelos	indivíduos.
132
Um	 dos	 maiores	 missionários	 que	 praticou	 a	 inculturação	 foi,	 sem	 dúvidas,	
o	 apóstolo	 Paulo,	 em	 sua	 missão	 de	 ser	 o	 evangelizador	 dos	 gentios,	 ele	 soube	
compreender	 a	 necessidade	de	 se	 conhecer	 e	 respeitar	 as	 particularidades	de	 cada	
sociedade.	No	próximo	tópico,	analisaremos	sucintamente	este	tema.
3.1 PAULO E A INCULTURAÇÃO 
Paulo,	o	“apóstolo	dos	gentios”,	foi	um	dos	grandes	missionários	da	Bíblia,	suas	
viagens	missionárias	se	tornaram	referências	para	a	própria	evangelização	dos	séculos	
posteriores	 a	 ele.	Toda	 sua	 entrega	 e	 devoção	 o	 levaram	aos	mais	 diversos	 lugares,	
enfrentando	perigos	 e	 passando	de	 inúmeras	 provações,	 porém,	 sua	 capacidade	de	
compreensão	das	questões	culturais	o	fez	ter	o	que	chamamos	hoje	de	inculturação.	Ao	
lermos	seus	diversos	relatos	de	viagem,	podemos	perceber	como	ele	sabia	compreender	
os	 traços	 culturais	 e	 sociais,	 que	 constituíam	 aquela	 sociedade	 na	 qual	 este	 estava	
evangelizando.
Tentaremos	 então	 apreender	 um	 pouco	 das	 lições	 deixadas	 por	 Paulo	 e	
buscaremos	 compreender	 como	 ele	 desenvolveu	 sua	 obra	 missionária	 e	 como	 ela	
pode	 nos	 ajudar	 hoje	 a	 entender	 um	 pouco	mais	 sobre	 a	 questão	 da	 inculturação.	
Certamente,	a	época	do	apóstolo	é	bem	diversa	da	que	vivemos	atualmente,	com	toda	
a	globalização	e	conexão	entre	as	mais	diversas	culturas,	porém,	seus	desafios	eram	
maiores	no	sentido	de	não	contar	com	um	suporte	de	informações	e	conhecimentos	
que	temos	sobre	as	diversas	culturas	do	mundo.	
Ao	pensarmos	em	um	projeto	missionário	nos	dias	atuais,	a	primeira	coisa	que	se	
pode	fazer	é	pesquisar	a	fundo	todos	os	traços	culturais,	sociais,	políticos,	econômicos	e	
artísticos	da	sociedade	para	a	qual	se	direciona	o	projeto.	Para	tal,	contamos	com	inúmeras	
ferramentas,	desde	livros	e	artigos,	até	ferramentas	na	Internet,	documentários	etc.
Paulo	 tinha	 um	 amplo	 conhecimento	 do	 “mundo	 civilizado”	 de	 sua	 época,	
mesmo	assim,	as	limitações	se	impunham	como	mais	uma	barreira	a	ser	vencida	em	
vista	 da	 evangelização,	 principalmente,	 dentro	 de	 uma	 perspectiva	 de	 inculturação.	
Claro	que	não	podemos	 impor	uma	 leitura	anacrônica,	buscando	ver	nas	viagens	de	
Paulo	um	paradigma	exato	para	o	processo	de	evangelização	e	inculturação	no	mundo	
de	hoje.	Devemos	observar	 todas	 as	diferenças	e	proporções.	 Entretanto,	 a	base	de	
sua	atuação	é	válida	para	nossa	discussão	e	tem	muito	a	nos	ensinar	sobre	como	a	
pregação	do	Evangelho	deve	ser	direcionada	por	um	entendimento	de	todos	os	fatores	
envolvidos,	inclusive	o	cultural.
O	texto	que	talvez	melhor	nos	indique	a	postura	do	apóstolo	Paulo	em	sua	tarefa	
de	levar	o	Evangelho	à	diferentes	culturas	é	o	de	1	Coríntios	9,	19-23	(BÍBLIA	SAGRADA,	
2002),	que	nos	diz	o	seguinte:
133
19	Porque,	embora	seja	livre	de	todos,	fiz-me	escravo	de	todos,	para	
ganhar	o	maior	número	possível	de	pessoas.	20	Tornei-me	judeu	para	
os	judeus,	a	fim	de	ganhar	os	judeus.	Para	os	que	estão	debaixo	da	
Lei,	tornei-me	como	se	estivesse	sujeito	à	Lei	(embora	eu	mesmo	não	
esteja	debaixo	da	Lei),	a	fim	de	ganhar	os	que	estão	debaixo	da	Lei.	
21	Para	os	que	estão	sem	lei,	tornei-me	como	sem	lei	(embora	não	
esteja	livre	da	lei	de	Deus,	e	sim	sob	a	lei	de	Cristo),	a	fim	de	ganhar	
os	que	não	têm	a	Lei.	22	Para	com	os	fracos	tornei-me	fraco,	para	
ganhar	os	fracos.	Tornei-me	tudo	para	com	todos,	para	de	alguma	
forma	salvar	alguns.	23	Faço	tudo	isso	por	causa	do	Evangelho,	para	
ser	coparticipante	dele.
O	apóstolo	Paulo	nos	indica	qual	era	sua	postura	junto	às	diversas	configurações	
sociais	e	culturais	com	as	quais	ele	 tinha	contato,	buscando	cumprir	 sua	missão	de	
pregar	o	Evangelho	da	melhor	forma	possível.	Para	compreendermos	este	relato	paulino,	
podemos	 argumentar	 que	 ele	 está	 indicando	 sua	 disposição	 em	 entender	 todos	 os	
aspectos	culturais	e	sociais,	todos	os	traços	que	marcavam	os	grupos	aos	quais	ele	se	
dirigia.	Sua	intenção	não	é	indicar	que	ele	assumiu	os	costumes	destes	grupos,	mas	que	
ele	se	colocou	no	lugar	deles,	buscou	compreender	a	forma	com	eles	viam	o	mundo,	
como	a	mensagem	do	Evangelho	os	impactaria.	
FIGURA 8 – PAULO ENTRE OS GREGOS
FONTE: <https://shutr.bz/2WXPe4R>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Essa	característica	do	ministério	do	apóstolo	Paulo	é	central	para	compreen-
dermos	o	sucesso	de	sua	pregação	entre	os	gentios,	a	forma	como	ele	entendia	que	
sua	postura	devia	ser	de	empatia,	não	de	disputa	ou	imposição	de	uma	doutrina.	Mais	
que	isso,	Paulo	compreendia	que	a	única	forma	de	levar	a	palavra	de	salvação	de	for-
ma	eficaz	era	apresentando-a	de	uma	maneira	que	não	fosse	estranha	aos	costumes	
dos	 indivíduos	que	a	ouvia.	No	episódio	em	que	ele	prega	aos	gregos,	podemos	ver	
toda	a	maestria	de	Paulo	em	saber	anunciar	o	Evangelho	a	partir	das	particularidades	 
de	cada	cultura:
134
22	 Então	 Paulo	 levantou-se	 na	 reunião	 do	 Areópago	 e	 disse:	
“Atenienses!	 Vejo	 que	 em	 todos	 os	 aspectos	 vocês	 são	 muito	
religiosos,	23	pois,	andando	pela	cidade,	observei	cuidadosamente	
seus	objetos	de	culto	e	encontrei	até	um	altar	com	esta	 inscrição:	
AO	 DEUS	 DESCONHECIDO.	 Ora,	 o	 que	 vocês	 adoram,	 apesar	 de	
não	 conhecerem,	 eu	 lhes	 anuncio.	 […]	 28	 “Pois	 nele	 vivemos,	 nos	
movemos	e	existimos”,	como	disseram	alguns	dos	poetas	de	vocês:	
“Também	 somos	 descendência	 dele”.	 (Atos	 17,	 22-23,	 28.	 BÍBLIA	
SAGRADA,	2002.)
Paulo	 demonstra	 sua	 sensibilidade	 em	 observar	 os	 costumes,	 os	 valores	 e	
hábitos	dos	atenienses,	ele	está	atento	ao	que	é	importante	para	eles,	tudo	aquilo	que	
faz	sentido	segundo	a	cultura	deles.	Dentre	estas	observações,	Paulo	percebe	que	o	
tema	da	religião	era	caro	aos	atenienses,	sendo	este	o	ponto	no	qual	ele	introduziria	a	
mensagemdo	Evangelho.	
Note	 que	 ele	 diz	 ter	 andado	 pela	 cidade	 observando	 cuidadosamente	 todas	
as	coisas,	principalmente,	os	objetos	de	culto,	conhecendo	até	mesmo	seus	poetas.	
Em	momento	algum	ele	começa	criticando	a	idolatria	dos	gregos	ou	dizendo	que	sua	
doutrina	era	verdadeira	e	a	dos	gregos	falsa.	Ele	introduz	seu	discurso	de	forma	empática,	
demonstrando	que	respeita	os	costumes	dos	gregos,	mas	tem	uma	mensagem	nova	
para	eles,	além	disso,	ele	indica	que	os	próprios	gregos,	sem	saberem,	já	possuem	os	
meios	de	compreenderem	tal	mensagem.
Todos	esses	pontos	fazem	parte	de	um	processo	de	 inculturação,	mesmo	que	
Paulo	não	tenha	ficado	por	um	longo	tempo	entre	os	gregos,	ele	foi	capaz	de	perceber	
que	 o	 melhor	 caminho	 era	 compreender	 os	 aspectos	 culturais.	 A	 noção	 de	 uma	
evangelização	inculturada	está	exatamente	na	perspectiva	de	se	conhecer	o	contexto	
cultura,	social,	político	e	até	econômico	da	sociedade	na	qual	se	está	inserindo,	buscando	
compreender	a	melhor	forma	de	se	valer	desses	aspectos.	
O	apóstolo	Paulo	nos	deu	uma	mostra	da	validade	do	processo	de	inculturação,	
mesmo	 que	 ele	 não	 tenha	 gastado	muito	 tempo	 nas	 culturas	 por	 onde	 passou,	 ele	
soube	observar,	aprender	os	costumes	e	valores,	analisar	a	melhor	forma	de	apresentar	
o	Evangelho	de	maneira	clara	e	compreensível.	Mais	ainda,	Paulo	não	buscou	apenas	
doutrinar	aqueles	que	ouviam	o	Evangelho,	mas,	sim,	apresentar	a	palavra	de	salvação	
de	forma	franca	e	clara,	este	é	o	melhor	caminho	ainda	hoje.
135
Neste tópico, você aprendeu:
•	 A	 globalização	 significa	 uma	 nova	 configuração	 das	 relações	 entre	 as	 diversas	
culturas,	bem	como	uma	maior	interação	entre	valores,	costumes	e	crenças	destas	
mesmas	culturas,	o	que	torna	a	evangelização	um	desafio	ainda	maior.
•	 A	mensagem	universal	do	Evangelho	deve	ser	apresentada	a	todas	as	nações	como	
uma	mensagem	isenta	de	influências	culturais,	sociais	ou	políticas,	não	importando	
os	costumes	ou	valores,	a	mensagem	de	salvação	é	transcultural,	ou	seja,	não	anula	
nenhuma	cultura,	mas	também	não	carrega	em	sua	essência	o	peso	de	nenhuma	
tradição.
•	 A	 pregação	 do	 Evangelho	 não	 deve	 ser	 apenas	 um	 processo	 de	 doutrinação	 ou	
imposição	de	valores	e	condutas	morais.	Deve	ser	o	anúncio	de	uma	verdade	que	é	
compreendida	pela	fé,	que	se	dirige	a	cada	indivíduo,	independentemente	de	suas	
influências	 culturais.	 Neste	 sentido,	 a	 evangelização	 inculturada	 é	 o	 processo	 de	
compreensão	das	diversas	expressões	culturais	da	sociedade	na	qual	se	desenvolve	 
a	missão.
•	 O	 apóstolo	 Paulo	 nos	 deu	 vários	 exemplos	 de	 um	 processo	 de	 inculturação,	 de	
respeito	e	compreensão	das	diversas	expressões	culturais	dos	povos	nos	quais	ele	
evangelizava,	valendo-se	destas	expressões	para	apresentar	o	Evangelho	de	forma	
clara	e	direta.
RESUMO DO TÓPICO 1
136
AUTOATIVIDADE
1	 O	termo	globalização	é	muito	utilizado	atualmente	para	descrever	a	 interação	entre	
as	diversas	culturas	e	a	forma	como	elas	desenvolvem	seus	comércios,	vida	cultural,	
costumes	e	interações.	Esta	realidade	tem	impactado	também	a	fé	cristã,	bem	como	
todas	as	religiões	do	mundo,	tendo	em	vista	o	forte	choque	de	doutrinas	e	visões	de	
mundo.	Sobre	estas	questões	da	globalização	e	as	 religiões,	assinale	a	alternativa	
CORRETA:
a)	 (			)	 O	 processo	 de	 globalização	 coloca	 em	 contato	 o	 Cristianismo	 com	 várias	
tradições	religiosas,	mas	isto	não	significa	a	necessidade	de	uma	disputa	religiosa	
ou	cultural	ferrenha.
b)	 (			)	 O	processo	de	globalização,	diante	das	ameaças	levadas	ao	Cristianismo	por	ou-
tras	religiões,	despertou	a	necessidade	de	uma	imposição	da	fé	cristã	no	mundo.
c)	 (			)	 A	globalização	tem	levado	o	Cristianismo	a	se	tornar	uma	religião	com	fortes	liga-
ções	de	sincretismo	com	outras	religiões	do	mundo,	tornando-o	mais	acessível.
d)	 (			)	 Os	desafios	postos	à	fé	cristã	pelo	processo	de	globalização,	dizem	respeito	mais	
à	questão	doutrinária,	pois	no	âmbito	econômico	ela	não	é	impactada.
2	 A	transculturalidade	sempre	foi	uma	realidade	indelével	da	obra	missionária,	desde	
o	comissionamento	dado	por	Jesus	de	 ir	por	todo	o	mundo	pregando	o	Evangelho.	
Todavia,	o	processo	de	globalização	moderna	tem	ampliado	esta	realidade.	Com	base	
nos	aspectos	da	transculturalidade,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	 A	noção	de	transculturalidade	diz	respeito	à	transmissão	de	costumes	próprios	de	
uma	cultura	para	outra,	visando	aperfeiçoá-la.
II-	 A	 transculturalidade	 precisa	 ser	 horizontalizada,	 construindo	 uma	 relação	 de	
respeito	e	interação,	não	de	dominação.
III-	 A	ideia	de	transculturalidade	traz	em	sua	essência	a	noção	de	que	todas	as	culturas	
podem	ser	modificadas	pela	mensagem	do	Evangelho,	tornando	novas	todas	as	coisas.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
137
3	 O	 apóstolo	 Paulo	 teve	 em	 sua	 jornada	missionária	 vários	 desafios	 relacionados	 à	
transculturalidade	e	à	 inculturação,	principalmente,	na	compreensão	dos	costumes,	
valores	 e	 peculiaridades	 das	 culturas	 nas	 quais	 se	 inseriu.	 De	 acordo	 com	 os	
pressupostos	da	noção	de	inculturação	no	processo	de	evangelização,	classifique	V	
para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	 A	inculturação	é	um	processo	rápido	de	imersão,	interpretação	e	compreensão	dos	
vários	fatores	culturais	de	uma	sociedade.
(			)	 A	inculturação	é	um	processo	longo,	que	se	inicia	com	a	inserção	e	imersão	ampla	
em	uma	cultura,	buscando	conhecê-la	a	fundo.
(			)	 A	evangelização	transcultural	é	o	 início	de	um	processo	de	 inculturação,	no	qual	
o	missionário	vai	para	uma	cultura	distinta	da	sua	e	busca	assimilá-la	da	melhor	
forma	possível.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 F	–	V	–	V.
c)	 (			)	 F	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 A	evangelização	de	vários	povos	e	culturas	no	passado	apresentou	diversos	pontos	
que	são	hoje	vistos	como	errados	e	que	não	devem	ser	repetidos,	principalmente,	
em	vista	do	respeito	às	diversidades	culturais.	Disserte	sobre	esta	questão	dos	erros	
cometidos	 no	 passado	 em	vista	 da	 evangelização	 de	 povos	 asiáticos,	 africanos	 e	
latino-americanos.
5	 A	pregação	do	Evangelho	em	culturas,	povos	ou	grupos	étnicos	com	traços	sociais	
bem	 específicos	 exige	 uma	 grande	 sensibilidade	 por	 parte	 do	 missionário,	 tendo	
como	premissa	que	não	se	deve	impor	uma	doutrina,	mas	buscar	o	convencimento,	
base	de	uma	conversão	verdadeira.	Neste	contexto,	disserte	sobre	os	a	pregação	do	
Evangelho	e	a	conversão	por	meio	da	fé.
138
139
A TEOLOGIA DA MISSÃO 
E A QUESTÃO SOCIAL
UNIDADE 3 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO 
Acadêmico,	no	Tópico	2,	abordaremos	alguns	aspectos	referentes	à	organização	
político-social	 e	 sua	 relação	com	o	processo	de	evangelização.	Para	 essa	finalidade,	
buscaremos	compreender	o	que	é	a	questão	social,	seus	desdobramentos	na	temática	
dos	 direitos	 humanos,	 da	 desigualdade	 social,	 da	 pobreza	 etc.	 Enfim,	 a	 relação	 da	
evangelização	com	todas	as	mazelas	que	se	vê	na	atual	sociedade	desigual,	impregnada	
de	 injustiças	 sociais	 e	 de	 desafios.	 Quando	 pensamos	 na	 contemporaneidade	 é	
imprescindível	 falarmos	 da	 complexa	 malha	 de	 relação	 entre	 os	 aspectos	 sociais,	
políticos,	econômicos	e	jurídicos	que	formam	a	sociedade	capitalista	na	qual	vivemos.
A	 realidade	 de	 globalização	 das	 sociedades	 modernas	 tem	 aprofundado	 as	
diversas	contradições	sociais,	criando	bolsões	de	pobreza	cada	vez	mais	acentuados.	
Pensar	em	um	processo	de	evangelização	neste	contexto	demanda	uma	visão	mais	
apurada	destes	fatores,	não	se	 limitando	ao	âmbito	do	espiritual,	mas	pensando	em	
como	as	pessoas	podem	ser	ajudadas	em	todas	as	suas	demandas.	
Muitos	desafios	são	postos	em	relação	à	aceitação	das	diferenças,	a	tolerância,	o	
respeitoà	individualidade	e	as	escolhas	de	cada	um.	Certamente	que	a	verdade	do	Evan-
gelho	direciona	os	indivíduos	para	uma	mudança	de	vida,	para	uma	reavaliação	de	seus	
próprios	valores	e	costumes,	mas	não	se	pode	partir	de	um	prejulgamento	para	direcionar	
a	pregação	desta	verdade.	Em	outros	termos,	não	se	pode	ter	nenhum	tipo	de	preconceitos	 
ou	reservas	quanto	a	grupos	sociais,	orientações,	estereótipos	ou	coisa	do	tipo.
O	ministério	de	Jesus	é	marcado	por	ações	que	valorizam	aqueles	que	eram	
os	excluídos,	 os	marginalizados	de	 sua	época,	 o	 leproso,	 a	prostituta,	 o	 cobrador	de	
impostos,	a	viúva,	a	mulher	com	fluxo	de	sangue,	até	mesmo	os	ladrões	na	cruz,	uma	
vez	 que	 todos	 foram	 acolhidos	 por	 ele.	 Neste	 sentido,	 ao	 pensarmos	 em	 questões	
sociais	de	tolerância,	de	respeito	às	diferenças,	estamos	pensando	em	grupos	sociais	
marginalizados	 pela	 sociedade,	 os	 mesmos	 que	 foram	 acolhidos	 por	 Jesus,	 pois	 a	
mensagem	do	Evangelho	é	uma	mensagem	de	transformação,	não	de	“seleção”.	
Tendo	 em	 mente	 esta	 perspectiva,	 podemos	 pensar	 em	 como	 buscar	 uma	
compreensão	da	 importância	dos	direitos	humanos,	 principalmente,	 em	vista	de	um	
processo	de	evangelização	que	respeite	as	diferenças	culturais,	sociais,	que	ampare	os	
mais	pobres	e	aqueles	que	são	menos	assistidos.	Por	muito	tempo	esse	tema	esteve	
140
distante	da	 realidade	de	pregação	do	Evangelho,	sobretudo,	a	partir	de	preconceitos	
e	prejulgamentos	que	permeavam	a	sociedade	tradicional.	Os	valores	e	preceitos	de	
conduta	alicerçados	na	palavra	do	Evangelho	são	guiados	pela	fé,	pelo	arrependimento	
e	para	a	regeneração	do	pecador.	Assim,	não	pode	haver	um	prejulgamento	do	indivíduo	
em	sua	conduta	antes	que	ele	tenha	a	oportunidade	de	ouvir	a	palavra	de	salvação	e	
se	decidir.
FIGURA 9 – A CONVERSÃO É UM ATO DE FÉ E ARREPENDIMENTO PESSOAL
FONTE: <https://shutr.bz/3AyngdW>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Para	 aquele	 que	 evangeliza,	 julgar	 o	 pecador	 por	 suas	 condutas	 antes	 que	
ele	tenha	ouvido	a	palavra	de	salvação,	é	como	um	médico	que	 julga	o	paciente	por	
seus	sintomas	antes	de	ter	 lhe	dado	o	remédio	adequado.	Sendo	assim,	buscaremos	
discutir	a	relação	entre	a	evangelização	e	os	direitos	humanos	como	um	exercício	de	
compreensão,	de	respeito	e	de	ajuda.	Vamos	começar?
2 A EVANGELIZAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS
Os	direitos	humanos	são	uma	realidade	que	foi	se	construindo	por	um	 longo	
período.	Se	pensarmos	na	Antiguidade,	veremos	que	os	 indivíduos	só	tinham	direitos	
dentro	do	convívio	social	guiado	por	regras	bem	rígidas	e	definidas.	As	relações	entre	as	
sociedades	eram	desprovidas	de	princípios	compartilhados	que	permitissem	uma	noção	
de	indivíduo	independente	de	sua	nacionalidade,	religião	ou	cultura.	Por	exemplo,	em	
uma	guerra,	a	nação	vencedora	escravizava	os	vencidos	de	forma	ostensiva,	crianças,	
mulheres,	 idosos,	não	havia	uma	noção	de	 “dignidade	humana”,	algo	que	fosse	visto	
como	direito	de	todos	os	indivíduos.
141
Dentro	das	próprias	sociedades,	os	 indivíduos	eram	vistos	de	formas	distintas,	
principalmente	 em	vista	 de	valores	 que	 eram	 tidos	 como	 inatos	 ou	 conquistados	 por	
merecimento.	 Entre	 os	 gregos,	 havia	 aqueles	 que	 faziam	 parte	 da	 elite,	 aristos	 (os	
melhores),	só	estes	podiam	participar	das	decisões	das	cidades.	A	noção	de	democracia	
que	 temos	 hoje	 não	 é	 a	mesma	 que	 os	 gregos	 antigos	 tinham.	Apenas	 os	 homens	
maiores	 de	 idade	 e	 com	 posses	 podiam	 participar	 da	 vida	 política.	 As	mulheres,	 os	
menores	 de	 idade,	 os	 estrangeiros,	 os	 escravos,	 os	 pobres,	 nenhum	deles	 podia	 ter	
acesso	aos	cargos	políticos	ou	a	voto	na	Ágora,	praça	de	discussão.
FIGURA 10 – A DEMOCRACIA GREGA ERA RESTRITA À ALGUNS CIDADÃOS
FONTE: <https://shutr.bz/3uVRKFt>. Acesso em: 12 ago. 2021.
O	filósofo	grego	Aristóteles	(1997),	em	sua	obra	Política,	busca	explicar	a	orga-
nização	político-social	a	partir	de	pressupostos	antropológicos	e	políticos.	Segundo	ele,	
há	uma	divisão	natural,	 justificada	pela	própria	 essência	dos	 indivíduos,	 os	escravos	
têm	uma	disposição	natural,	pela	constituição	de	suas	almas,	para	o	serviço	e	para	a	
escravidão,	 assim	 como	os	 que	 possuem	cargos	 de	 liderança	nas	 cidades	 possuem	
uma	alma	apta	para	isto.	As	mulheres	devem	ser	submissas	aos	seus	maridos,	assim	
como	os	cidadãos	devem	ser	submissos	a	seus	governantes.	Este	paradigma	indicado	
por	Aristóteles	dominará	por	muito	tempo	a	compreensão	de	sociedade	no	ocidente.
O termo “democracia” vem do grego demos kratos, que significa 
governo popular, ou governo do povo, diferente de aristos kratos, 
governo dos melhores (elite). Não quer dizer governo da maioria 
, como muito se pensa ser. Na verdade, indica que o governo e 
constituído por indivíduos de camadas distintas da sociedade.
NOTA
142
Durante	a	Idade	Média	não	foi	muito	diferente,	as	sociedades	eram	divididas	em	
estratificações	que	se	justificavam	por	questões	tidas	como	naturais,	em	alguns	casos	
até	divina,	como	os	reis.	A	nobreza,	o	Clero,	o	exército,	os	artesãos	e	os	camponeses,	
todos	faziam	parte	de	uma	sociedade	que	não	tinha	nenhum	tipo	de	compreensão	sobre	
direitos	que	fossem	iguais	para	todos.	Esta	organização	parecia	natural	e	indiscutível,	
levando	a	um	conformismo	por	parte	dos	oprimidos	e	uma	defesa	de	sua	manutenção	
por	parte	de	quem	fazia	parte	da	elite.	
A	visão	medieval	de	direitos	era	baseada	nesta	concepção	de	mundo.	Desde	os	
Pais	 da	 Igreja,	 as	 leis	 humanas	 foram	vistas	 como	conspurcadas,	 insuficientes	 e	 falhas	
diante	das	leis	divinas.	Como	nos	indica	Bastit	(2010,	p.	83):	“na	linha	de	agostinho	e	
da	doutrina	de	inúmeros	Padres,	a	lei	humana	é	um	mal	necessário,	consequência	da	
queda,	que	seria	melhor	substituir	por	uma	lei	natural”.
FIGURA 11 – PARA OS TEÓLOGOS CRISTÃOS AS LEIS HUMANAS DEVEM REFLETIR A LUZ DIVINA
FONTE: <https://shutr.bz/3BuAMAv>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Entretanto,	 pouca	 coisa	 mudou	 no	 processo	 de	 organização	 da	 sociedade	
durante	a	Idade	Média,	o	que	só	veio	a	mudar	durante	o	início	da	Modernidade,	quando	
alguns	 autores	 passaram	 a	 propor	 teorias	 sobre	 a	 constituição	 dos	 direitos	 como	
prerrogativas	de	todos	os	indivíduos.	Tais	direitos	existem	dentro	de	um	acordo	mútuo,	
um	“contrato	social”	no	qual	os	 indivíduos	entram	em	comum	acordo	e	estabelecem	
um	governo.	É	o	início	das	noções	de	Estado,	de	direitos	de	cidadania,	de	participação	
política.	Autores	como	John	Locke,	Thomas	Hobbes,	Jean-Jacques	Rousseau,	Immanuel	
Kant,	propuseram	teorias	que	estabeleciam	o	contrato	social	como	base	de	qualquer	
organização	político-social.	Neste	contrato,	cada	indivíduo	gozava	dos	mesmos	direitos,	
das	mesmas	 liberdades,	 bem	 como	 da	mesma	 possibilidade	 de	 participar	 do	 poder	
143
político.	Com	exceção	de	Hobbes,	todos	propunham	que	os	indivíduos	podiam	eleger	
seus	governantes	e	 retirá-los	do	poder,	 caso	este	viesse	a	 se	 tornar	 tirânico	ou	não	
contemplasse	as	necessidades	do	povo.
Como	 bem	 observam	Watkins	 e	 Kramnick	 (1981,	 p.	 11)	 sobre	 a	 influência	 do	
pensamento	de	 Locke,	 por	 exemplo:	 “Locke	 argumentava	que	 os	 indivíduos	 criavam	
os	governos	voluntariamente,	através	de	acordos	contratuais.	O	povo	consentia	em	ser	
governado	porque	os	governos	eram	necessários	para	proteger	os	direitos	naturais	dos	
indivíduos	à	vida,	à	liberdade	e	à	propriedade”.	Tais	direitos	tinham	uma	fundação	divina,	
segundo	Locke	e	outros	autores,	pois	todos	nasciam	iguais,	tendo	os	mesmos	direitos	
divinos	de	vida,	a	saber,	liberdade	e	propriedade.
Essa	rápida	visão	de	uma	história	dos	direitos	dos	indivíduos	que,	obviamente,	
se	estende	por	muitos	outros	períodos.	Como	temos	defendido	até	o	momento,	para	
pensarmos	uma	evangelização	transcultural,	de	inculturação,	que	respeite	a	diversidade	
cultural,	política	e	social	em	um	mundo	globalizado,	é	preciso	pensar	em	um	conceito	de	
direitos	humanos	abrangente.	
Se	nos	lembrarmos	do	que	foi	o	processo	de	evangelização	dos	povos	indígenas	
nos	séculosXVI,	XVII	e	XVIII,	a	evangelização	de	povos	africanos,	asiáticos,	veremos	que	os	
direitos	de	vários	deles	não	foram	respeitados.	No	Brasil	atual,	há	várias	questões	postas	 
em	discussão	sobre	os	direitos	humanos	e	o	combate	à	discriminação,	ao	preconceito,	
ao	ataque	às	tradições	dos	povos	originários,	das	comunidades	quilombolas	etc.
FIGURA 12 – OS DIREITOS HUMANOS DEVEM SER GARANTIAS CONTRA 
A DISCRIMINAÇÃO E O PRECONCEITO
FONTE: <https://shutr.bz/3iNbpCC>. Acesso em: 12 ago. 2021.
144
Tais	questões	devem	ser	analisadas	de	forma	crítica	e	abrangente	dentro	de	um	
projeto	missionário	a	partir	de	uma	visão	evangelizadora	que	respeite	os	direitos	humanos	
e	 as	 particularidades	 de	 cada	 povo	 ou	 grupo	 social.	A	 busca	 de	 uma	 evangelização	
transcultural	que	permita	uma	 inculturação	franca,	proveitosa,	passa	 indelevelmente	
pela	 compreensão	 de	 todos	 os	 fatores	 envolvidos	 na	 discussão	 que	 se	 coloca	 hoje	 
na	sociedade.	
As	comunidades	dos	povos	originários,	ou	indígenas,	possuem	suas	tradições,	
seus	 costumes,	 sua	 forma	de	 organização,	 como	 já	 defendemos	várias	vezes,	 cujos	
valores	e	costumes	não	devem	ser	desrespeitados.	A	mensagem	do	Evangelho	é	uma	
mensagem	de	convencimento,	assim,	os	povos	 indígenas	podem	recebê-la	de	forma	
que	não	agrida	suas	tradições.	A	conversão	é	pessoal,	cada	indivíduo,	convencido	pelo	
Espírito	Santo,	tem	sua	experiência	de	arrependimento	e	regeneração.	Desta	forma,	a	
imposição	de	uma	doutrina	ou	mesmo	uma	tomada	de	posição	agressiva,	por	parte	do	
missionário,	contra	os	valores	da	tradição	do	grupo	social,	apenas	tornaria	a	mensagem	
do	Evangelho	estranha	a	todos	os	indivíduos,	criando	forte	aversão.
Lembremo-nos	do	exemplo	de	Paulo	entre	os	gregos,	em	que	há	a	indicação	
de	que	se	tornou	judeu	para	evangelizar	os	judeus,	se	tornou	gentio	para	evangelizar	
os	gentios.	Para	evangelizar	uma	comunidade	indígena	é	preciso	se	tornar	indígena,	ou	
seja,	entender	a	visão	de	mundo,	os	valores	e	princípios	que	constituem	sua	sociedade.	
O	mesmo	se	dá	com	outros	grupos	sociais,	povos	ou	comunidades.
Continuando	esta	análise	da	relação	entre	evangelização	e	direitos	humanos,	
passaremos	a	contemplar	a	temática	da	evangelização	e	as	minorias	sociais.	Vamos	lá?
2.1 A EVANGELIZAÇÃO E AS MINORIAS SOCIAIS
A	noção	de	“minorias	sociais”	nem	sempre	condiz	com	a	ideia	de	uma	relação	
quantitativa,	pois	vários	grupos	tidos	como	minorias	são,	na	verdade,	maioria	numérica	
na	sociedade	brasileira,	como	é	o	caso	dos	negros	e	pardos.	Todavia,	quando	falamos	
de	minorias,	estamos	pensando	em	grupos	excluídos,	marginalizados	ou	não	atendidos	 
pelo	poder	público	em	todas	as	suas	demandas	sociais	e	políticas.	
145
FIGURA 13 – AS MINORIAS DEMANDAM POLÍTICAS PÚBLICAS
FONTE: <https://shutr.bz/3FAHyHs>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Nessa	 designação,	 podemos	 incluir	 os	 povos	 originários,	 as	 comunidades	
quilombolas	descendentes	de	escravos,	os	negros,	comunidade	LGBTQI++,	profissionais	
do	sexo,	pessoas	com	deficiência,	imigrantes,	mulheres	etc.	São	grupos	que	não	contam	
com	 todo	 o	 suporte	 que	 o	 poder	 público	 deve	 prestar,	 além	 de	 serem	discriminados	 e	
marginalizados	 pela	 sociedade	 em	diversos	 aspectos,	 bem	 como	 sofrerem	violência	 de	
diversas	formas.	Quando	pensamos	em	direitos	humanos,	devemos	pensar	na	situação	
destes	grupos	de	forma	prioritária,	pois	são	eles	que	mais	sofrem	com	as	 injustiças	e	a	 
falta	de	suporte	e	oportunidades.	
Como	aponta	Gomes	(2016),	os	grupos	mais	afetados	são	aqueles	que	menos	
têm	condições	de	exercer	sua	cidadania	e	menos	acesso	à	informação	e	à	concretização	
de	 seus	 direitos.	 Neste	 sentido,	 quando	 assumimos	 o	 compromisso	 de	 respeitar	 os	
direitos	humanos,	 levar	a	palavra	de	salvação	de	forma	 integral,	é	preciso	pensar	no	
amparo	não	só	espiritual,	mas	também	social.	
Sendo	assim,	o	processo	de	evangelização	não	pode	ferir	as	particularidades	
e	os	direitos	de	cada	grupo,	muito	menos	pode	perpetuar	situações	de	discriminação,	
preconceito	e	exclusão.	É	preciso	lembrar	a	velha	máxima:	“Deus	repreende	o	pecado,	
mas	 ama	 a	 pessoa	 que	 é	 prisioneira	 do	 pecado”.	 Se	 não	 amasse,	 não	 teria	 enviado	
seu	Filho	Unigênito	 para	 redimir	 toda	 a	humanidade,	 para	 livrar	 o	 oprimido	 e	 aquele	
que	se	encontra	preso	pelo	pecado.	Como	nos	diz	o	texto	de	Lucas	4,	 17-19	 (BÍBLIA	 
SAGRADA,	2002):
146
17	Foi-lhe	entregue	o	 livro	do	profeta	 Isaías.	Abriu-o	e	encontrou	o	
lugar	 onde	 está	 escrito:	 18	 “O	 Espírito	 do	 Senhor	 está	 sobre	mim,	
porque	 ele	me	 ungiu	 para	 pregar	 boas	 novas	 aos	 pobres.	 Ele	me	
enviou	para	proclamar	liberdade	aos	presos	e	recuperação	da	vista	
aos	cegos,	para	libertar	os	oprimidos	19	e	proclamar	o	ano	da	graça	
do	Senhor”.
Jesus	fez	exatamente	isso,	como	indicamos	anteriormente.	Seu	ministério	foi	
voltado	para	todos	aqueles	que	se	encontravam	em	situação	de	opressão,	tanto	pelo	
pecado	quanto	pelo	desprezo	da	sociedade.	Dessa	forma,	a	palavra	de	salvação	deve	
ser	também	um	alento	e	apoio	para	as	pessoas	que	se	encontram	em	tal	situação.	As	
minorias	sociais	não	devem	ser	vistas	como	“desajustadas”	de	uma	conduta	que	se	tem	
como	ideal,	seja	profissional	do	sexo,	seja	dependente	químico,	indígena,	homossexual,	
todos	merecem	o	respeito	que	é	a	base	da	noção	de	direitos	humanos.	A	pregação	do	
Evangelho	a	estes	grupos	é	a	mais	pura	expressão	da	mensagem	de	redenção,	a	qual	
diz	que	Deus,	em	sua	 infinita	misericórdia	expressa	no	sacrifício	de	seu	Filho	Jesus,	
pode	redimir	até	o	pior	dos	pecadores.
Todos	os	grupos	sociais	possuem	alguma	forma	de	 interação	com	a	sociedade	
como	um	todo,	entretanto,	muitas	vezes,	alguns	valores	que	são	majoritários	são	pontos	
de	motivação	para	a	exclusão	de	 indivíduos	que	não	se	adéquam.	Esses	pontos	devem	
ser	 identificados,	 trabalhados	 à	 luz	 do	 Evangelho	 e	vencidos	 por	 uma	visão	 de	 amor	 e	
compreensão	que	só	é	possível	a	partir	do	próprio	amor	de	Deus.	Existem	várias	formas	de	
alcançar	os	grupos	marginalizados	com	a	pregação	do	Evangelho,	nas	missões	urbanas,	
as	ações	de	 impacto,	as	diversas	pastorais	que	se	ocupam	do	auxílio	e	pregação,	as	
ações	empreendidas	pelas	 juntas	de	missões	nacionais	etc.	Tanto	por	parte	da	Igreja	
Católica,	quanto	por	parte	de	várias	denominações	reformistas,	evangélicas,	tais	ações	
são	empreendidas	de	maneira	a	alcançar	os	indivíduos	que	se	encontram	à	margem	da	
sociedade.
Quando	 nos	 voltamos	 para	 grupos	 como	 os	 povos	 originários,	 indígenas,	 é	 
preciso	 termos	 o	 cuidado	 de	 empreendermos	 uma	 leitura	 bem	 clara	 dos	 direitos	
que	 cabem	 a	 eles.	 Segundo	 a	 Constituição	 Federal	 (1988),	 em	 seu	 artigo	 231:	 “são	
reconhecidos	aos	 índios	sua	organização	social,	costumes,	 línguas,	crenças	e	tradições,	
e	os	direitos	originários	sobre	as	terras	que	tradicionalmente	ocupam,	competindo	à	
União	demarcá-las,	proteger	e	fazer	respeitar	todos	os	seus	bens”.	As	tribos	indígenas	
representam	 uma	 organização	 social	 com	 toda	 as	 suas	 particularidades,	 costumes,	
tradições,	crenças	e	valores,	a	pregação	do	Evangelho	nestas	comunidades	não	pode	
ser	uma	desvirtuação	de	toda	esta	tradição.	
Em	outros	termos,	não	se	pode	ferir	os	direitos	dos	povos	 indígenas	em	nome	
de	 uma	visão	 de	 evangelização	 que	 se	 preocupa	mais	 em	mudar	 “costumes”	 do	 que	
mudar	“vidas”.	Essa	é	a	grande	questão	ao	se	propor	um	projeto	de	evangelização	que	
tenha	como	foco	os	povos	 indígenas.	É	preciso	observar	o	quanto	 isso	 impactará	em	 
seus	direitos	garantidos	pela	Constituição.
147
FIGURA 14 – OS POVOS INDÍGENAS TÊM SEUS DIREITOS GARANTIDOS PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
FONTE: <https://shutr.bz/3FwHUOZ>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Ao	tratar	de	comunidades	quilombolas,	a	preocupação	deve	ser	a	mesma.	Esses	
grupos	possuem	toda	uma	tradição	ancestral	que	vem	do	período	da	escravidão,	no	
qual	seus	antepassados	eram	escravizados	por	senhores	“cristãos”.	Isso	tem	um	enorme	
peso	histórico	e	social,	pois,	por	muitos	séculos,	os	negros	foramoprimidos	pela	maioria	
branca	que	professava		a	fé	cristã.	Certamente,	esses	são	erros	do	passado	que	não	
podem	se	refletir	em	ações	do	presente,	por	isso,	deve	haver	um	respeito	em	relação	às	
tradições	e	costumes,	levando	o	Evangelho	de	forma	a	não	ferir	tais	aspectos.	
Esses	 temas	 são	 extremamente	delicados	 e	 devem	ser	 tratados	 com	toda	 a	
clareza	 que	merecem,	 porém,	 é	 preciso	 ter	 em	mente	 que	 não	 é	 “demonizando”	 ou	
depreciando	os	aspectos	culturais	destes	grupos	que	se	terá	uma	evangelização	que	
reflita	o	amor	de	Cristo	e	sua	comissão	de	ir	pregar	sua	mensagem.	Voltaremos	agora	
para	a	questão	da	relação	entre	a	evangelização	e	uma	opção	pelos	pobres.
3 A EVANGELIZAÇÃO E A OPÇÃO PELOS POBRES
A	opção	pelos	pobres	não	é	uma	tendência	da	evangelização	moderna,	nem	
mesmo	 dos	 processos	 missionários	 empreendidos	 apenas	 na	 América	 Latina.	 Essa	
opção	pelos	pobres	começou	com	o	próprio	Cristo,	como	ele	indicou	diversas	vezes,	seu	
ministério	teve	sempre	o	caráter	de	acolhimento	dos	mais	necessitados.	O	apostolado	
paulino	 também	 foi	 marcado	 por	 este	 carisma	 que	 se	 desenvolvia	 entre	 as	 classes	
menos	favorecidas,	aqueles	que	eram	oprimidos	e	excluídos	pelas	sociedades.
Ao	abordarmos	esse	tema,	nos	deparamos	com	duas	questões	centrais.	Primeiro,	
não	confundir	o	aspecto	político	com	o	aspecto	espiritual,	porém,	entendendo	que	eles	
se	relacionam	na	realidade	social,	demandando	uma	abordagem	integral.	Segundo,	não	
148
nos	aferrarmos	em	questões	de	disputas	doutrinárias	que	atrapalham	a	evangelização	
e	criam	um	estado	de	beligerância,	não	permitindo	que	se	veja	as	contribuições	que	
podem	vir	de	diversas	partes.
FIGURA 15 – NÃO SE DEVE OPOR RELIGIÃO E POLÍTICA
FONTE: <https://shutr.bz/3uWzWtG>. Acessado em 12 ago. 2021.
Tendo	como	premissa	estas	duas	questões,	voltaremos	para	a	discussão	sobre	
os	aspectos	políticos	e	espirituais	da	opção	pelos	pobres	no	processo	de	evangelização.	
Segundo	Guillen	(1974,	p.	29):	 “Fé	e	compromisso	político	são,	portanto,	 inseparáveis,	
no	entanto,	inconfundíveis.	Não	existem	separados	um	do	outro,	se	relacionam	em	uma	
fecunda	tensão	dialética.”
A	 partir	 das	 décadas	 de	 1960	 e	 1970,	 vemos	 surgir	 na	 América	 Latina	 um	
movimento	 teológico	 que	 se	 volta	 para	 a	 crítica	 da	 questão	 social	 e	 as	mazelas	 da	
sociedade	capitalista,	tendo	como	foco	principal	a	situação	dos	países	latino-americanos.	
A	 chamada	 “teologia	 da	 libertação”	 pode	 ser	 incluída	 nas	 diversas	 expressões	 surgidas	 
a	partir	da	crítica	à	forte	pressão	causada	pelos	países	“desenvolvidos”	sobre	os	países	
“subdesenvolvidos”	da	América	Latina.
Autores	como	Gustavo	Gutiérrez,	Rubem	Alves	e	Hugo	Assmann,	debateram,	
a	partir	da	fé	cristã,	a	necessidade	de	se	voltar	para	a	realidade	dos	pobres	da	América	
Latina.	A	primeira	obra	intelectual	que	marca	o	início	desta	discussão	pode	ser	apontada	
na	tese	acadêmica	de	Rubem	Alves,	à	época,	pastor	presbiteriano,	a	qual	se	intitulava	
como Towards a theology of liberation,	de	1969.	Logo	após,	em	1971,	há	a	publicação	de	
Teología de la liberación. Perspectivas, obra	do	padre	católico	Gustavo	Gutiérrez,	a	qual	
se	tornou	referência	para	esta	linha	teológica	na	América	Latina.
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FIGURA 16 – O POVO SOFRIDO DA AMÉRICA LATINA
FONTE: <https://shutr.bz/3AuJAF7>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Como	 se	vê,	 a	 discussão	 por	 uma	 aproximação	 entre	 a	Teologia	 e	 a	 Política	
começa	tanto	entre	os	reformistas	quanto	entre	os	católicos,	todavia,	serão	os	teólogos	
católicos	que	aprofundarão	este	tema	a	partir	das	chamadas	“comunidades	eclesiais	de	
base”	e	as	“pastorais	sociais”.	
Entretanto,	podemos	afirmar	que	a	construção	teórica	e	prática	surgida	a	partir	
da	discussão	proposta	pela	teologia	da	libertação	não	segue	uma	limitação	doutrinária,	
não	inviabilizando	sua	inserção	no	debate	sobre	a	situação	do	povo	latino-americano	e	
o	processo	de	evangelização.	A	grande	questão	é	se	voltar	para	a	realidade	de	miséria	
e	sofrimento	que	marca	a	 realidade	político-social	de,	praticamente,	todos	os	países	
da	América	Latina,	entendendo	que	a	fé	cristã	não	precisa	estar	alheia	à	tal	realidade.	
Mais	que	isso,	é	preciso	entender	que	a	mensagem	do	Evangelho	é	uma	mensagem	de	
transformação,	de	renovação,	que	começa	na	alma,	mas	deve	se	estender	para	todos	
os	âmbitos	da	vida.
Nesse	sentido,	ao	pensarmos	na	evangelização	e	a	opção	pelos	pobres,	estamos	
direcionando	a	discussão	para	uma	definição	do	que	sejam	os	aspectos	políticos	e	os	
aspectos	espirituais.	A	mensagem	do	Evangelho	traz	uma	verdade	de	fé,	de	salvação	e	
renovação,	mas	os	indivíduos	que	a	recebem	estão	inseridos	em	uma	realidade	social,	
política,	cultural.	
Falar	de	esperança	e	salvação	apenas	no	âmbito	espiritual,	como	se	não	existisse	
o	âmbito	político-social,	é	como	“fraturar”	a	realidade	dos	próprios	 indivíduos.	Como	nos	
instrui	Assmann	(1973,	p.	39),	 “[…]	o	ponto	de	partida	contextual	de	uma	“teologia	da	
libertação”	é	a	situação	histórica	de	dependência	e	dominação	em	que	se	encontram	
os	povos	do	terceiro	mundo”.	Como	ele	nos	indica,	esse	é	o	ponto	de	partida	contextual,	
ou	 seja,	 em	 outros	 termos,	 compreender	 a	 realidade	 dos	 indivíduos	 que	 recebem	 a	
mensagem	do	Evangelho,	perceber	suas	necessidades,	carências	e	anseios.
150
Discutimos	anteriormente	o	erro	de	vermos	todas	as	culturas	a	partir	de	padrões	
pertencentes	apenas	a	uma	cultura,	tida	como	melhor	ou	dominante.	O	mesmo	pode	
acontecer	quando	olhamos	para	a	realidade	político-social	de	grupos	oprimidos,	tendo	
como	 referência	 apenas	 nossa	 própria	 realidade,	 ou	 a	 realidade	 de	 sociedades	 que	
apresentam	um	grau	maior	de	igualdade.	
A	evangelização	em	comunidades	carentes,	em	cidades	sem	desenvolvimento	
urbano	adequado,	até	mesmo	entre	grupos	sociais	urbanos	excluídos,	como	os	catadores	
de	material	 reciclável,	 pessoas	 em	 situação	 de	 rua,	 profissionais	 do	 sexo,	 dependentes	
químicos	e	pessoas	sem	moradia,	deve	levar	em	conta	o	contexto	político-social	e	as	
necessidades	urgentes	de	cada	grupo.	Parece-nos	muito	pertinentes,	ainda	hoje,	as	
palavras	de	Jó	30,	24-26	(BÍBLIA	SAGRADA,	2002):	
24	“A	verdade	é	que	ninguém	dá	a	mão	ao	homem	arruinado,	quando	este,	em	
sua	aflição,	grita	por	socorro.	25	Não	é	certo	que	chorei	por	causa	dos	que	passavam	
dificuldade?	E	que	a	minha	alma	se	entristeceu	por	causa	dos	pobres?	26	Mesmo	assim,	
quando	eu	esperava	o	bem,	veio	o	mal;	quando	eu	procurava	luz,	vieram	trevas.
Trata-se	exatamente	de	compadecer	dos	pobres,	dos	oprimidos,	dos	excluídos,	
dos	que	são	marginalizados,	expropriados	e	 roubados,	daqueles	que	não	têm	alento,	
esperança	 ou	 sentido	 de	 futuro.	 “Chorar	 pelos	 que	 passam	 dificuldades”	 deve	 ser	 a	
primeira	tarefa	daqueles	que	empreendem	uma	evangelização	optando	pelos	pobres,	
que	se	lança	a	levar	a	palavra	de	salvação	aos	que	mais	precisam	de	alento	e	cuidado.	
Como	indicado,	não	se	trata	de	confundir	teologia	e	política,	fé	e	disputa	social,	
mas,	antes,	entender	que	os	indivíduos	que	ouvem	a	palavra	de	salvação	são	sujeitos	
“concretos”,	com	realidades	políticas	e	sociais	concretas,	as	quais	 impõem	desafios	e	
necessidades	urgentes,	 carências	profundas	e	 forte	 sofrimento.	Aqueles	que	não	 se	
compadecem	dos	pobres,	ou	não	são	convertidos	verdadeiramente,	ou	nunca	ouviram	
a	palavra	do	Evangelho	nem	conheceram	o	ministério	de	Jesus	Cristo	na	terra.	Sendo	
assim,	discutiremos	rapidamente	alguns	aspectos	da	evangelização	em	comunidades	
carentes	e	centros	urbanos.
3.1 EVANGELIZANDO OS POBRES DE NOSSA TERRA
Podemos	 afirmar	 que	 é	 necessário	 um	 olhar	 de	 amor	 e	 compreensão	 para	
entendermos	 a	 importância	 de	 voltar	 a	 atenção	 para	 os	 pobres	 quando	 falamos	
de	 evangelização,	 principalmente,	 nos	 grandes	 centros	 urbanos,	 nas	 cidades	 sem	
desenvolvimento	adequado	e	nos	países	pobres,	tanto	das	Américas	quanto	da	África	
e	outras	regiões	do	mundo.	São	dois	âmbitos	distintos	quando	pensamos	em	missões	
internacionais,	em	geral,	voltamo-nospara	os	países	dominados	pela	pobreza	pela	falta	
de	recursos	e	por	forte	repressão	política	e	social,	lugares	nos	quais,	em	muitos	casos,	a	
mensagem	do	Evangelho	de	Cristo	é	proibida	ou	nunca	foi	anunciada	de	forma	efetiva.
151
FIGURA 17 – ALGUNS PAÍSES FECHADOS NÃO PERMITEM A PREGAÇÃO DO EVANGELHO
FONTE: <https://shutr.bz/3BnKch3>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Muitas	denominações,	 reformistas	e	católicas,	empreendem	ações	humanitárias	
em	países	da	África,	da	Ásia,	da	América	Latina	e	do	Leste	Europeu,	junto	a	essas	ações	
humanitárias	 há	 a	 pregação	 do	 Evangelho,	 a	 implantação	 de	 igrejas	 e	 o	 auxílio	 aos	
mais	carentes.	Há	lugares	desafiadores,	como	os	países	do	Oriente	Médio,	os	quais	são	
dominados	por	ditaduras	político-religiosas	e	onde	não	se	pode	esperar	uma	discussão	
sobre	direitos	humanos	ou	qualquer	outro	tipo	de	debate.	
Segundo	Batista	e	Staffen	(2012),	os	missionários	 internacionais	poderiam	se	
encaixar	na	designação	de	“sujeitos	com	direitos	internacionais”,	uma	vez	que	sofrem	
graves	restrições	de	direitos	e	ameaças	diretas	contra	suas	vidas	e	de	suas	famílias.	
Todavia,	 essa	 realidade	 ainda	 está	 muito	 longe	 da	 ideal,	 haja	 vista	 a	 longa	 lista	 de	
ataques	a	missionários	cristãos	e	a	pessoas	que	se	converteram	ao	Cristianismo	em	
países	com	forte	repressão	religiosa.
As	missões	 internacionais	se	voltam,	principalmente,	para	os	pobres	do	mundo,	
ações	que	levam,	além	da	palavra	de	ação,	um	alento	para	várias	pessoas	que	vivem	em	
situações	 deploráveis	 e	 subumanas.	 Entretanto,	 podemos	 pensar	 também	 nos	 pobres	 
de	nossa	terra	quando	pensamos	em	missões	nacionais	ou	monoculturais,	bem	como	
em	missões	urbanas	e	rurais,	que	estão	neste	âmbito.	
Há	 várias	 mazelas	 sociais	 e	 políticas	 existentes	 em	 nossa	 sociedade,	 há	 as	
comunidades	carentes	e	os	grupos	sociais	excluídos,	todos	precisam	de	um	suporte	que	
deve	vir	 junto	com	a	evangelização.	Dentro	das	táticas	de	evangelização	de	 impacto,	
dentro	dos	grandes	 centros	urbanos,	 podemos	citar	 as	 ações	 sociais,	 as	 oficinas	de	
artes,	 oficinas	 de	 cursos	 profissionalizantes,	 os	 projetos	 de	 amparo	 e	 tratamento	 de	
dependentes	 químicos,	 as	 ações	 humanitárias	 junto	 a	 grupos	 específicos	 como	 as	
profissionais	do	sexo,	migrantes,	pessoas	em	situação	de	rua	etc.
152
FIGURA 18 – EVANGELISMO NAS RUAS DAS GRANDES CIDADES
FONTE: <https://shutr.bz/3mIgL3j>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Dentro	da	perspectiva	que	indicamos	deste	o	início	deste	tópico,	a	opção	pelos	
pobres	é	mais	que	um	assistencialismo	religioso,	mais	que	pregar	a	palavra	de	salvação	
em	vista	da	regeneração	espiritual,	é	preciso	também	um	cuidado	com	a	renovação	e	
restauração	social,	da	dignidade	da	pessoa	humana,	dos	direitos	de	cada	indivíduo.	Para	
cumprirmos	o	 “ide”	de	Jesus,	não	é	preciso	nos	 lançarmos	apenas	nos	 lugares	mais	
distantes,	é	preciso	também	cuidar	dos	pobres	de	nossa	terra,	chorar	como	Jó	que	viu	
os	pobres	de	sua	terra	e	os	injustiçados.	
Nesse	 sentido,	 pensar	 um	 processo	 de	 evangelização	 que	 seja	 ao	 mesmo	
tempo	comprometido	com	a	propagação	do	Evangelho,	a	palavra	de	salvação	e	com	
o	 cuidado	 dos	 mais	 necessitados,	 daqueles	 que	 são	 “invisíveis”	 para	 a	 sociedade	
como	 um	 todo	 ou	 são	 apenas	 ignorados,	 discriminados.	 Esta	 perspectiva	 demanda	
um	profundo	respeito	pelos	direitos	humanos	e	uma	visão	de	amor	que	não	se	prende	
a	 preconceitos,	 proselitismos	 ou	 disputadas	 doutrinárias,	 é	 preciso,	 então,	 refletir	 a	
essência	do	ministério	de	Jesus	e	sua	opção	pelos	pobres	e	oprimidos.
153
Neste tópico, você aprendeu:
•	 A	questão	social	está	presente	na	sociedade	de	forma	visceral,	permeando	todos	os	
seus	âmbitos,	colocando	em	contraste	grupos	sociais	que	se	distanciam	cada	vez	
mais	em	vista	da	desigualdade	social.
•	 O	tema	dos	direitos	humanos	está	muito	presente	na	discussão	sobre	a	evangelização,	
principalmente,	quando	nos	voltamos	para	a	 realidade	dos	grupos	marginalizados	e	
excluídos,	os	quais	demandam	um	cuidado	especial	na	resolução	de	suas	carências.
•	 Os	direitos	humanos	dizem	 respeito	 a	 todos	os	grupos	que	compõem	a	 realidade	
político-social	de	uma	sociedade,	bem	como	a	cada	indivíduo	em	particular,	ou	seja,	
quando	pensamos	em	direitos	humanos	é	preciso	ter	em	mente	a	“pessoa	humana”,	
mas	também	seu	contexto	social,	sua	realidade	de	grupo	e	de	tradições	culturais.
•	 A	 opção	 pelos	 pobres	 na	 evangelização	 é	 um	 compromisso	 com	 o	 engajamento	
social	 e	 o	 reconhecimento	de	que	há	grupos	 sociais	 que	demandam	um	cuidado	
maior	 sobre	 suas	 fragilidades	 políticas	 e	 sociais.	 Essa	 perspectiva	 não	 é	 nova,	 o	
ministério	de	Cristo	foi	marcado	por	esta	opção	pelos	pobres	e	pelo	cuidado	de	suas	
necessidades.
RESUMO DO TÓPICO 2
154
AUTOATIVIDADE
1	 A	chamada	globalização	é	um	processo	de	ampliação	das	relações	entre	as	diver-
sas	 culturas	 e	 a	 consequente	 alavancagem	 nas	 relações	 econômicas,	 culturais	 e	
políticas.	Atualmente,	o	comércio	se	tornou	uma	rede	internacional	completamente	
conectada,	 tornando	a	globalização	uma	forma	de	 relação	de	 riquezas,	porém,	de	
extrema	pobreza	em	alguns	lugares.	Sobre	estas	questões	da	globalização,	assinale	
a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 O	 processo	 de	 globalização	 colocou	 os	 países	 pobres	mais	 dependentes	 dos	
ricos,	aumentando	a	desigualdade	social	no	mundo	inteiro.
b)	 (			)	 O	processo	de	globalização	criou	uma	riqueza	global	expressa	na	capacidade	de	
todos	os	países	em	gerir	suas	diferenças	sociais.
c)	 (			)	 A	chamada	globalização	não	tem	relação	com	a	questão	social,	uma	vez	que	se	
caracteriza	apenas	pela	revolução	tecnológica.
d)	 (			)	 Para	muitos	autores,	a	globalização	trouxe	um	aumento	na	evangelização,	pois	
possibilita	a	distribuição	de	renda	e	o	acesso	a	povos	distantes.
2	 Os	 direitos	 humanos	 surgem	 como	 o	 desenrolar	 de	 um	 longo	 período	 de	 lutas,	
conquistas	e	até	mesmo	injustiças,	as	quais	suscitaram	uma	resposta	por	parte	dos	
indivíduos	oprimidos.	Neste	processo,	podemos	 indicar	o	 início	da	Modernidade,	o	
qual	 assistiu	à	uma	grande	mudança	de	paradigma	político-social.	Com	base	nas	
questões	relativas	à	tal	mudança,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	 A	noção	de	contrato	social	foi	decisiva	para	se	construir	uma	relação	político-social	
entre	governo	e	cidadão,	promovendo	o	avanço	dos	direitos	humanos.
II-	 No	início	da	Modernidade,	o	filósofo	Aristóteles	propôs	uma	teoria	democrática	que	
favorecia	a	noção	de	cidadão	e	direitos.
III-	 As	noções	de	direitos	humanos	existentes	no	início	da	Modernidade	são	oriundas	
da	produção	teórica	de	Agostinho	e	dos	Pais	da	Igreja.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 Somente	a	sentença	I	está	correta.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
155
3	 A	opção	pelos	pobres	é	uma	tomada	de	consciência	não	só	social,	mas,	também,	
espiritual	 e	 no	ministério	 de	 Cristo	 vemos	vários	 exemplos	 de	 sua	 atuação	 neste	
sentido.	 Nos	 dias	 atuais,	 ao	 se	 pensar	 em	 evangelização	 no	 mundo	 globalizado,	
este	tema	é	extremamente	 importante.	De	acordo	com	aspectos	desta	discussão,	
classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	 A	noção	de	opção	pelos	pobres	surge	a	partir	dos	movimentos	políticos	de	esquerda	
e	sua	aproximação	com	a	Igreja.
(			)	 A	 opção	pelos	 pobres	 é	 uma	noção	que	 leva	 em	consideração	 a	mensagem	de	
integralidade	do	Evangelho,	uma	mensagem	de	salvação	e	acolhimento	dos	mais	
necessitados.
(			)	 As	 igrejas	 reformistas	 têm	 extrema	 aversão	 à	 noção	 de	 opção	 pelos	 pobres	 na	
evangelização,	pois	remete	à	uma	ideia	católica	da	teologia	da	libertação.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 F	–	V	–	F.
c)	 (			)	 F	–	V	–	V.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 As	missões	internacionais	também	são	empreendidas	em	vista	de	ações	humanitárias,	
de	ajudaaos	oprimidos	do	mundo	e	às	comunidades	carentes	nos	países	mais	pobres.		
Entretanto,	esta	função	traz	vários	riscos	para	os	missionários,	principalmente,	em	
países	com	forte	 repressão	 religiosa.	Disserte	sobre	esta	questão	da	situação	dos	
missionários	internacionais	e	a	temática	dos	direitos	humanos.
5	 A	teologia	da	libertação	surge	no	cenário	latino-americano	desequilibrado	por	forte	
desigualdade	social,	 dependência	das	grandes	potências	e	necessidade	de	amparo	
aos	mais	pobres.	Esta	corrente	teológica	surge	como	resposta	à	necessidade	de	se	
pensar	a	relação	entre	política	e	teologia.	Neste	contexto,	disserte	sobre	os	primeiros	
teólogos	que	iniciaram	a	teologia	da	libertação.
156
157
TÓPICO 3 — 
EVANGELIZAÇÃO, ECUMENISMO E A 
REVOLUÇÃO NAS COMUNICAÇÕES
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO 
Acadêmico,	no	Tópico	3,	abordaremos	dois	temas	extremamente	importantes,	
mas	 igualmente	 complexos	 e	 até	 mesmo	 controversos.	 O	 primeiro,	 a	 questão	 do	
ecumenismo,	que	é	visto	por	alguns	grupos	como	uma	discussão	que	não	contempla	
algumas	denominações	 reformistas	e	exclui	várias	vertentes	 religiosas,	mas	também	
é	tido	por	outros	como	um	movimento	em	direção	a	um	entendimento	religioso	mais	
abrangente.	O	segundo	tema	é	a	discussão	sobre	a	evangelização	a	partir	dos	meios	de	
comunicação	de	massa,	tendo	em	vista	que	no	atual	mundo	globalizado	as	informações	
são	transmitidas	em	tempo	real,	bem	como	as	comunicações	passaram	por	profundas	
revoluções	no	decorrer	das	últimas	décadas.
A	chamada	“mídia	de	massa”	se	tornou	um	dos	principais	meios	de	evangelização	
de	 grupos	 distintos,	 seja	 no	 âmbito	 local,	 nacional	 e	 até	 mesmo	 internacional,	 por	
meio	 de	 programas	 televisivos,	 radiofônicos	 ou	virtuais,	 através	 da	 rede	mundial	 de	
computadores,	a	 Internet.	Entretanto,	é	preciso	compreender	os	 impactos	deste	tipo	
de	evangelização,	suas	vantagens	e	suas	principais	críticas,	uma	vez	que	se	pode	dizer	
que	é	um	tipo	de	 evangelização	 “generalizada”	 ou	 “padronizada”.	 Isto	quer	 dizer	 que	
a	mensagem	do	Evangelho	é	 levada	de	forma	padronizada,	“adequada”	às	formas	de	
comunicação	dominantes	nos	meios	técnicos	da	televisão,	rádio	e	Internet.
Entretanto,	não	se	pode	dizer	que	este	fenômeno	crie	uma	linearidade	nas	formas	
de	pregação,	ou	seja,	na	forma	de	transmitir	a	palavra	de	salvação,	certamente	que	cada	
denominação	foca	em	suas	doutrinas	e	particularidades	de	interpretação.	Certo	é	que	
este	é	um	campo	fértil	para	os	processos	de	evangelização	e	tem	se	agigantado	cada	
vez	mais,	tornando	maior	o	desafio	de	se	buscar	um	entendimento	entre	as	diversas	
denominações.	Essa	questão	toca	diretamente	no	ponto	do	ecumenismo	e	na	busca	
de	uma	aproximação	entre	as	diversas	denominações	reformistas,	católicas	e	demais	
vertentes	que	se	identificam	como	promulgadoras	da	fé	cristã.
Diante	dessas	questões,	nos	debruçaremos	primeiro	sobre	o	tema	das	mídias	
sociais	 e	 demais	 mídias	 de	 massa	 para,	 em	 seguida,	 pensarmos	 sobre	 o	 tema	 do	
ecumenismo	e	da	busca	de	um	diálogo	profícuo	entre	as	diversas	denominações.
158
2 EVANGELIZAÇÃO DE MASSA E AS MÍDIAS SOCIAIS
O	termo	“cultura	de	massa”,	surgido	a	partir	da	chamada	Escola	de	Frankfurt,	
na	obra	de	dois	de	seus	principais	expoentes,	Adorno	e	Horkheimer,	aborda	a	questão	
da	 padronização	 da	 arte	 e	 da	 comunicação	 a	 partir	 dos	 diversos	 meios	 técnicos	 e	
tecnológicos	 presentes	 na	 moderna	 sociedade	 capitalista.	 Para	 esses	 autores,	 a	
cultura	 de	 massa,	 ou	 indústria	 cultural,	 voltada	 para	 o	 amplo	 público,	 reproduz	 a	
própria	 essência	 da	 organização	 presente	 nos	 modos	 de	 produção	 do	 capitalismo,	
criando	uma	padronização	que	 reproduz	a	si	mesma,	como	segue:	 “inevitavelmente,	
cada	manifestação	da	indústria	cultural	reproduz	as	pessoas	tais	como	as	modelou	a	
indústria	em	seu	todo”	(ADORNO;	HORKHEIMER,	1991,	p.	102).
Tomando	em	conta	a	leitura	proposta	por	Adorno	e	Horkheimer	(1991),	podemos	
vislumbrar	o	que	se	tornou	a	comunicação	por	meios	dos	vários	meios	de	comunicação	
modernos,	desde	o	rádio	até	os	streamings	de	conteúdos	na	Internet.	Esta	tendência	
parece	ser	 irreversível,	 já	que	ela	 faz	parte	da	cultura	moderna	e	dita,	praticamente,	
todas	as	formas	de	interação	rápida	entre	as	pessoas.	A	rapidez	na	comunicação,	da	
troca	de	informação,	na	produção	de	entretenimento	e	de	conteúdos	dos	mais	diversos	
tipos,	desde	educacionais	até	religiosos	e	acadêmicos.	
Essa	realidade	se	tornou	também	a	realidade	da	evangelização	de	massa,	ou	
seja,	 a	pregação	do	Evangelho	através	de	meios	de	comunicação	de	amplo	alcance	
de	audiência.	Como	 indicamos,	o	 rádio,	a	televisão	e	a	 Internet,	são	hoje	os	grandes	
“campos	missionários”	 para	 alcançar	 aquelas	 pessoas	 que	 ainda	 não	 aceitaram	 a	 fé	
cristã,	ou	fazem	parte	de	um	grupo	de	pessoas	que	se	diz	ligado	a	uma	denominação,	
mas	não	são	“praticantes”.	
FIGURA 19 – REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NAS COMUNICAÇÕES
FONTE: <https://shutr.bz/2WXV1aB>. Acesso em: 12 ago. 2021.
159
A	pregação	através	de	meios	de	comunicação	em	massa	não	é	uma	novidade,	
desde	o	início	da	“era	do	rádio”,	por	volta	das	décadas	de	1920	e	1930,	já	havia	transmissões	
de	cunho	religioso	nos	Estados	Unidos	da	América	e	em	países	da	Europa.	O	rádio	se	
tornou	 o	 principal	meio	 de	 comunicação,	 especialmente,	 durante	 e	 após	 a	 Segunda	
Guerra	Mundial.	
Os	 Estados	 Unidos	 são,	 sem	 dúvidas,	 o	 país	 onde	 essa	 modalidade	 mais	
se	 desenvolveu.	 Quando	 chega	 a	 “era	 da	 televisão”,	 os	 programas	 de	 auditório	 e	 de	
entretenimento	 tornaram-se	 uma	marca	 da	 cultura	 norte-americana.	 Os	 programas	
evangelísticos	começaram	já	na	década	de	1950,	principalmente,	com	a	participação	de	
pregadores	conhecidos	e	conjuntos	musicais,	mas	o	alvo	destes	programas	não	eram	
grupos	ainda	não	evangelizados.
Nas	décadas	de	1970	e	1980,	surgiram	os	grandes	pregadores	que	alcançavam	
plateias	 no	 mundo	 todo	 com	 seus	 programas	 televisivos,	 podemos	 citar	 Jimmy	
Swaggart,	 Billy	 Graham,	 Rex	 Humbard,	 que	 se	 tornaram	 grandes	 influenciadores	
mundiais.	Certamente	que	o	poder	de	alcance	da	televisão	era	muito	maior	que	o	do	
rádio,	não	só	em	quantidade,	mas	também	em	diversidade.	Além	de	atingir	um	público	
mais	diversificado,	a	televisão	oferecia	a	oportunidade	de	se	valer	de	imagens,	efeitos	
sonoros,	musicais	etc.	
Ainda	 hoje,	 a	 televisão	 é	 o	 principal	 meio	 de	 comunicação	 entre	 as	 várias	
denominações	e	 seus	fiéis,	 bem	como	de	propagação	do	Evangelho	de	 forma	geral.	
Muitas	denominações	cristãs	contam	com	emissoras	próprias	de	televisão,	com	uma	
variada	gama	de	programações,	outras	são	focadas	apenas	nos	programas	religiosos,	
formando	 assim	 uma	 rede	 bem	 diversificada	 de	 programação.	 Entretanto,	 como	
apontamos	acima,	a	lógica	de	um	“modelo”	de	produção	midiática	ainda	é	dominante,	
a	massificação	dos	meios	de	 comunicação	exige	que	 tal	 padronização	 seja	 seguida.	
Em	vista	disso,	é	muito	difícil	ver	um	programa	que	fuja	a	um	certo	tipo	de	layout,	de	
formato	especificamente	produzido	para	o	ambiente	televisivo.
No	entanto,	mesmo	sendo	o	meio	de	comunicação	ainda	mais	popular,	a	televi-
são	tem	perdido	espaço	para	os	meios	de	comunicação	“virtuais”,	aqueles	que	se	propa-
gam	por	meio	da	 rede	mundial	de	computadores,	a	 Internet.	Falaremos	 resumidamente	 
sobre	este	tema.
2.1 “IDE POR TODA A ‘REDE’ PREGANDO O EVANGELHO” 
Pode	parecer	um	pouco	 jocosa	a	frase	do	título	deste	tópico,	mas	a	verdade	
é	que	se	trata	exatamente	de	adaptar	a	comissão	dada	por	Jesus	para	os	dias	atuais.	
A	ordem	de	ir	por	todo	o	mundo	pregando	o	Evangelho	pode	ser	cumprida,	em	partes,	
pelas	diversas	redes	sociais	e	de	conteúdos	que	dispomos	na	Internet.	Canais	como	o	
Youtube,	 o	Facebook,	 Instagram,	Blogs,	páginas	próprias	na	 Internet,	 tornaram-se	um	
fértil	terreno	para	a	propagação	do	Evangelho	e	para	a	difusão	de	várias	denominações.	
160
Quando	 pensamos	 em	 redes	 sociais,	 nos	 vem	 à	 mente	 estes	 canais	 queacabamos	de	citar,	porém,	podemos	afirmar	que	uma	rede	só	é	realmente	social	quando	
ela	consegue	unir	um	grupo	de	pessoas	em	torno	de	um	ideal,	gosto	ou	objetivo	incomum.	
Os	 diversos	 grupos	 existentes	 no	 Facebook,	 as	 “comunidades”,	 canais	 do	Youtube	 e	
seus	milhares,	até	milhões	de	seguidores,	as	páginas	pessoais	de	grandes	figuras	do	
“mundo	cristão”,	desde	padres	sertanejos	até	pregadores	evangélicos	consagrados.
FIGURA 20 – A EVANGELIZAÇÃO PELAS REDES SOCIAIS
FONTE: <https://shutr.bz/3FtsB9U>. Acesso em: 12 ago. 2021.
Toda	 essa	movimentação	 virtual	 é	 hoje	 o	 ponto	 alto	 de	 vários	 projetos	 que	
visam	 levar	a	palavra	do	Evangelho	para	o	maior	número	de	pessoas	possível,	tendo	
sempre	como	baliza	um	modelo	midiático	muito	definido.	Esta	realidade	tem	construído	
um	“mundo	virtual”	à	parte	do	mundo	concreto,	no	qual	as	pessoas	podem	acompanhar	
a	prática	religiosa	de	doutrinas	diferentes	e	até	de	religiões	diferentes,	sem,	no	entanto,	 
se	comprometer	diretamente	com	alguma	delas.	
Como	 nos	 aponta	 Santos	 (2019,	 p.	 98):	 “as	 novas	 tecnologias	 abrem	 novas	
possibilidades	 para	 as	 pessoas	 religiosas,	 desligadas	 das	 instituições,	 mas	 que	
encontram	no	ciberespaço	uma	nova	maneira	de	relacionamento	com	o	transcendental	 
e	o	divino,	sendo	suficiente	apenas	a	visitação	on-line	de	espaços	sagrados”.
Para conhecer mais sobre o mundo digital, leia a obra Teoria 
das mídias digitais, de Luís Mauro Sá Martino (2014). Nela, o 
autor apresenta as principais teorias, conceitos e organização 
da cibercultura e das mídias digitais como ferramentas de 
comunicação. Está disponível na Biblioteca Virtual do curso.
DICA
161
Parece-nos	 importante	 destacar	 que	 esta	 realidade	 é	 ao	 mesmo	 tempo	
benéfica	e	desafiadora,	primeiro	porque	torna	a	Internet	um	espaço	aberto,	democrático	
e	plural,	tem	a	condição	de	se	tornar	um	espaço	de	“encontro	ecumênico”	e	comunhão.	
Mas,	em	segundo	lugar,	é	desafiador,	pois,	exige	uma	maturidade	espiritual,	bem	como	
cultural,	muito	apurada,	em	outros	termos,	é	preciso	ter	o	cuidado	para	a	Internet	não	
se	descambar	para	um	“terreno	de	guerra	santa”,	no	qual	as	várias	denominações	se	
acusem	ou	se	depreciem.	
Em	vista	disso,	 é	preciso	compreender	que	as	 redes	 sociais	podem	ser	uma	
excelente	 ferramenta	 de	 evangelização,	 não	 só	 para	 aqueles	 indivíduos	 que	 ainda	
não	tiveram	um	contato	 real	com	a	palavra	de	salvação,	quanto	para	aqueles	que	 já	
conhecem	a	mensagem	de	Cristo,	mas	de	uma	forma	superficial	ou	incompleta.
O	poder	de	aglutinação	das	redes	sociais	é	tão	grande	que	líderes	religiosos	se	
tornam	referência	para	milhões	de	pessoas.	Segundo	pesquisa	de	Ramos	e	Leal	(2019,	
p.	87),	temos	os	seguintes	dados:
Na	 entrevista	 chegou-se	 ao	 seguinte	 resultado:	 61%	 dos	 entrevis-
tados	que	possuem	uma	conta	no	Facebook	estão	seguindo	um	ou	
mais	líderes	religiosos	em	seu	perfil.	[…]	Sobre	o	número	de	pessoas	
que	utilizam	a	mídia	social	Youtube	apenas	44%	o	fazem	para	acom-
panhar	líderes	religiosos.	[…]	Embora	o	Twitter	esteja	em	quarto	lugar	
na	posição	das	redes	mais	utilizadas	pelos	entrevistados,	em	com-
paração	com	o	terceiro	lugar	(Instagram)	ele	possui	maior	número	de	
pessoas	(44%)	seguindo	líderes	religiosos	na	citada	mídia	social.	
Por	 esses	 dados	 fornecidos	 por	 Ramos	 e	 Leal	 (2019),	 pode-se	 perceber	 que	
a	maioria	das	pessoas	que	possuem	algum	tipo	de	 rede	social	ou	acesso	à	 Internet,	
segue	um	 líder	 religioso.	Claro	que	 isso	não	quer	dizer	que	todo	o	conteúdo	seja	de	
evangelização	e	pregação,	mas	o	que	fica	em	destaque	é	o	poder	de	alcance	dos	meios	
virtuais	de	comunicação.	
Todo	esse	potencial	está	sendo	utilizado	para	a	evangelização,	mas	deve	ser	cada	
vez	mais	analisado,	“civilizado”	com	normas	e	práticas	que	permitam	uma	franca	e	eficaz	
pregação	da	mensagem	de	salvação	de	Cristo	Jesus.	Nesse	tema,	a	busca	de	um	diálogo	
entre	 as	 diversas	 denominações	 e	 vertentes	 cristãs	 é	 necessário	 para	 se	 construir	 um	
ambiente	saudável	e	condizente	com	a	mensagem	de	amor	e	compreensão	do	Evangelho.	
Sendo	assim,	voltaremos	agora	para	uma	rápida	análise	da	questão	do	ecumenismo.
3 ECUMENISMO E A TEOLOGIA DA MISSÃO: 
REVISITANDO A QUESTÃO DA UNICIDADE CRISTÃ
A	 discussão	 sobre	 a	 unicidade	 da	 Igreja	 de	 Cristo	 é	 um	 tema	 que	 nos	 leva	
para	 o	 cenário	medieval,	 primeiro	 com	 o	 grande	 Cisma	 de	 1054	 d.C.,	 segundo,	 com	
a	Reforma	Protestante,	 depois	 com	as	 diversas	 denominações	 que	vão	 surgindo	 na	
162
esteira	 do	 reformismo	 iniciado	 a	partir	 de	Martinho	Lutero.	 Entretanto,	 para	discutirmos	
brevemente	o	tema	do	ecumenismo,	hoje,	é	preciso	revisitar,	mesmo	que	sucintamente	 
esta	questão.	
Certamente,	 não	 há	 uma	 perspectiva	 de	 se	 ter	 uma	 “Igreja	 Cristã	 Una”	 nos	
dias	 atuais,	 muito	 menos	 uma	 única	 doutrina	 que	 cubra	 todo	 o	 grande	 espectro	
de	 denominações	 que	 professam	 uma	 fé	 em	 Cristo	 Jesus.	 A	 grande	 variedade	 de	
denominações,	 vertentes,	 correntes	 e	 seitas,	 que	 professam	 a	 fé	 em	 Jesus	 como	
salvador	 e	 usam	 a	 Bíblia,	 ou	 parte	 dela,	 como	 livro	 sagrado,	 não	 estaria	 disposta	 a	
assumir	uma	única	interpretação	do	Evangelho	e	das	questões	teológicas.	Entretanto,	
quando	se	fala	de	ecumenismo,	não	é	este	o	objetivo	e	seria	uma	ingenuidade	imaginar	
que	uma	união	de	todas	as	denominações	cristãs	existentes	atualmente	seria	possível.	 
Pelo	menos	não	até	a	volta	gloriosa	de	Jesus	como	noivo	de	sua	Igreja.	
A	 temática	 do	 ecumenismo	 começou	 a	 ser	 tratada,	 como	 indicamos,	 ainda	
nos	primeiros	séculos	da	Igreja	Católica,	antes	do	Cisma	e	durante	o	período	no	qual	
a	 relação	entre	Ocidente	e	Oriente	ainda	era	equilibrada,	tanto	que	os	sete	primeiros	
Concílios	são	chamados	de	“Concílios	Ecumênicos”,	pois	são	aceitos	tanto	pela	 Igreja	
Católica	quanto	pela	Igreja	Ortodoxa.	O	próprio	termo	“Ecumênico”	carrega	um	sentido	
de	 compartilhamento,	 significando	 algo	 como	 “casa	 comum”	 ou	 “lugar	 comum	 que	
habitamos”,	ou	seja,	a	noção	de	que	mesmo	com	as	diferenças	os	cristãos	estão	regidos	
pelos	mesmos	princípios	de	verdade	fornecidos	pelo	Evangelho	de	Cristo.
A	grande	questão	está	nas	disposições	doutrinárias,	eclesiásticas	e	litúrgicas,	
nas	palavras	de	Barbosa	(2000,	p.	259):	
No	debate	ecumênico	atual,	a	eclesiologia	é	certamente	o	capítulo	
mais	 central	 e	 problemático,	 pois	 inclui	 questões	 tão	 importantes	
como	o	sacramento	da	ordem,	o	sacerdócio	ministerial,	a	sucessão	
apostólica,	 a	 apostolicidade	 da	 Igreja	 e	 o	 primado	 do	 Papa.	 São	
questões	amplíssimas,	ou,	no	dizer	de	Yves	Congar,	"monumentais".
São	temas	extremamente	caros	para	os	católicos,	mas	também,	aparentemente,	
“irreconciliáveis”	para	os	reformistas,	tornando	assim	bastante	improvável	um	consenso	
sobre	eles.	Contudo,	como	apontado,	o	diálogo	ecumênico	está	pautado	na	busca	de	
uma	relação	de	comunhão	e	paz	entre	as	doutrinas	que	professam	a	fé	cristã.
Essa	busca	de	diálogo	e	relação	mais	próxima	foi	acentuada	no	fim	do	século	
XIX	 e	 início	 século	 XX,	 principalmente,	 após	 as	 duas	 Grandes	 Guerras	 Mundiais	 e	 a	
ameaça	do	chamado	“perigo	comunista”,	que	ameaçava	não	só	a	Igreja	Católica,	como	
outras	denominações	cristãs	em	vários	países	do	leste	europeu	e	da	Ásia.	Já	nos	fins	
da	Primeira	Guerra	Mundial,	 após	 a	 queda	 do	 czarismo,	 a	 Igreja	Ortodoxa	Russa	 fez	
o	“Sacro	Concílio	da	Igreja	Russa	Ortodoxa”,	promulgando	uma	visão	de	ecumenismo,	
como	nos	 indica	Rousseau	 (1967,	p.	554):	 “Do	seio	da	tempestade	que	então	 lavrava	
163
sobre	toda	a	Europa,	e	em	plena	agitação	revolucionária,	esse	Concílio,	pondo	a	proveito	
a	recuperação	de	sua	 liberdade,	formou	uma	seção	especial	para	a	união	das	 Igrejas	
cristãs.	Mas	tudo,	aí!,	foi	interrompido	pelo	bolchevismo”.
Os	desafios	eram	enormes	para	todas	as	denominações	cristãs	nas	primeiras	
décadas	do	século	XX,	sobretudo,	por	conta	da	 incerteza	que	pairava	sobre	o	futuro	
das	nações	e	da	própria	configuração	de	continentesinteiros,	como	no	caso	da	África	e	
da	Ásia,	em	vista	das	disputas	entre	as	grandes	potências.	Nesse	período,	as	principais	
lideranças	viram	a	necessidade	de	se	buscar	uma	forma	de	diálogo	e	cooperação	para	
que	a	mensagem	cristã	continuasse	a	ser	pregada	em	todos	os	lugares	do	mundo.	Não	
apenas	católicos	e	ortodoxos,	mas	também	reformistas	foram	imbuídos	de	um	espírito	
de	cooperação	e	busca	de	diálogo.	
Vejamos	o	que	nos	informa	Gonçalves	(2011,	p.	36)	ao	analisar	o	termo	ecumênico	
no	movimento	protestante:
Ocupei-me	 com	 esse	 termo	 grego	 porque	 dele	 deriva	 o	 adjetivo	
“ecumênico”,	no	seu	sentido	moderno	de	disposição	à	convivência	
e	ao	diálogo	entre	diferentes	confissões	religiosas,	e	“ecumenismo”,	
movimento	de	aproximação	entre	as	diversas	 igrejas	e	religiões.	Esse	
sentido	é	em	parte	assumido	pelo	movimento	ecumênico	aqui	definido	
como	tentativas	de	união	de	esforços	das	 igrejas	protestantes,	em	
vista	 à	 expansão	 da	 mensagem	 cristã,	 desde	 fins	 do	 século	 XIX	
até	 as	 primeiras	 décadas	 do	 século	 XX.	 Este	 movimento	 teria	 se	
originado	na	crença	de	que	as	igrejas	protestantes	seriam	portadoras	
de	 uma	 “unidade	 substancial”	 (comum)	 baseada	 na	 doutrina	 e	 no	 
dever	missionário.
A	disposição	em	buscar	uma	união	mais	abrangente	por	parte	dos	reformistas	
também	refletia	a	ânsia	de	se	garantir	um	fortalecimento	do	Cristianismo	no	cenário	
mundial	tão	dilacerado	do	início	do	século	XX.	Colocando	em	paralelo	as	informações	
cedidas	por	Gonçalves	 (2011)	 e	Rousseau	 (1967),	podemos	 intuir	que	a	busca	de	um	
diálogo	 ecumênico,	 mais	 do	 que	 apenas	 garantir	 um	 fortalecimento	 da	 fé	 cristã,	
comportava	também	a	preocupação	com	a	pregação	do	Evangelho.	
Nesse	 sentido,	 ao	 tratarmos	de	 uma	 teologia	 da	missão	 a	 partir	 do	 tema	do	
ecumenismo,	 é	 preciso	 ver	 o	 aspecto	 de	 cooperação	 contido	 em	 potencial	 neste	
movimento.	Em	outros	termos,	guardadas	as	devidas	proporções,	uma	visão	ecumênica	
pode	 contribuir	 muito	 para	 a	 expansão	 do	 Evangelho	 no	mundo,	 não	 se	 atendo	 às	
disputas	doutrinárias,	eclesiásticas	ou	litúrgicas,	mas	atendo-se	tão	somente	na	urgente	
necessidade	de	se	estabelecer	cada	vez	mais	o	reino	de	Deus	na	terra.
O	diálogo	ecumênico	tem	ocorrido	de	forma	salutar	em	diversos	momentos,	em	
alguns	de	maneira	mais	acentua,	em	outros	de	maneira	menos	profícua,	mas	a	questão	
é	que	não	se	pode	negar	a	importância	de	tal	disposição	para	a	busca	de	comunhão	e	
164
paz.	Como	indicado,	isso	não	significa	a	busca	de	uma	visão	incomum,	a	submissão	de	
uma	denominação	à	outra	ou,	ainda,	a	imposição	de	uma	visão	doutrinária	sobre	outra.	
Trata-se	de	um	movimento	que	estabelece	a	cooperação	e	o	diálogo	com	pontos	em	
comum	para	a	ampla	comunidade	cristã	no	mundo.	
165
LEITURA
COMPLEMENTAR
PROTESTANTISMO E ECUMENISMO
Unisinos
As	igrejas	protestantes	sempre	estiveram	interessadas	no	diálogo	ecumênico,	
a	ponto	de,	por	exemplo,	a	Igreja	Valdense	ter	dado	a	sua	contribuição	em	1948	para	
a	 criação	 do	 Conselho	 Mundial	 das	 Igrejas	 (CMI).	 O	 movimento	 ecumênico,	 quando	
se	 reuniu	 pela	 primeira	 vez	 em	 Amsterdam,	 já	 havia	 percebido	 a	 consciência	 das	
diferenças,	em	matéria	de	fé,	tradição,	cultura	nacional,	que	estão	dentro	das	diferentes	
denominações	 cristãs.	 A	 informação	 é	 de	 Daniela	 Di	 Carlo,	 publicada	 por	 Riforma	 -	
Semanário	das	Igrejas	metodistas	Evangélicas	Batistas	e	Valdenses	na	Itália,	15-12-2017.	
A	tradução	é	de	Luisa	Rabolini.
No	entanto,	na	busca	comum	de	Deus	tinha	a	intenção	de	se	identificar	como	
cristão,	 congregando-se	 em	 um	 caminho	 de	 cooperação	 que	 depois	 deu	 origem	 à	
decisão	de	construir	e	estabelecer	um	escritório	em	Genebra,	 inaugurado	em	1965.	É	
interessante	saber	como	cada	uma	das	igrejas	tenha	contribuído	para	a	construção	da	
sede	do	CMI.	Enquanto	as	comunidades	mais	 ricas	doaram	dinheiro,	as	mais	pobres	
contribuíram	com	matérias-primas,	como,	por	exemplo,	a	madeira	africana	que	reveste	
as	paredes	tanto	da	igreja	do	CMI	como	da	sala	de	conferências.
Atualmente	existem	349	igrejas	das	principais	tradições	protestantes,	anglicanas	e	
ortodoxas	que	aderem	ao	CMI.	A	Igreja	católica	participa	como	observadora	e	é	membro	
efetivo	 de	 algumas	 comissões	 de	 trabalho.	 É	 claro	 que	 a	 intenção	 do	CMI	 não	 é	 de	
formar	uma	estrutura	“supra	igreja”,	mas	promover	o	diálogo	e	a	cooperação	entre	as	
igrejas-membros.	O	futuro	das	igrejas	deve	ser,	portanto,	um	futuro	ecumênico	em	que	
não	 sejam	 ignoradas	 as	 diferenças	 doutrinárias	 ou	 próprias	 da	 tradição,	mas	 no	 qual	
será	dado	um	peso	cada	vez	maior	à	capacidade	de	colaborar	na	diversidade.	No	futuro,	 
não	deveremos	mais	nos	considerar	como	 igrejas	 independentes	que	se	encontram,	
mas	como	igrejas	interdependentes	todas	ligadas	a	Cristo.
Em	uma	visão	ecumênica	as	igrejas	também	deverão	aprender	a	apresentar	um	
testemunho	comum	através	da	diaconia,	ou	seja,	das	ações	que	dão	resposta	concreta	
à	pregação	do	Evangelho.	Como	já	foi	possível,	nestes	últimos	meses,	na	colaboração	
entre	 católicos	 e	 protestantes	 no	 projeto	 dos	 Corredores	 humanitários,	 que	 está	
conduzindo	em	segurança	1000	pessoas	provenientes	de	realidades	da	guerra,	assim	
será	no	futuro,	usando	as	forças	criativas	do	testemunho	e	ação	comum.
166
O	ecumenismo,	 já	hoje,	e	ainda	mais	no	futuro,	deverá	ser	capaz	de	ser	uma	
presença	profética	no	mundo.	As	pessoas	 estão	procurando	palavras	de	 conforto,	mas	
também	uma	 ajuda	 para	 serem	 livres	 e	 simultaneamente	 sujeitos	 de	 direito.	As	 igrejas	
podem	se	empenhar	juntas	para	proclamar	a	necessidade	de	justiça,	paz	e	reconciliação	
no	mundo,	com	uma	atenção	particular	e	mais	forte	também	em	relação	ao	uso	que	a	
humanidade	faz	da	mãe	terra	e	de	toda	a	criação.
O	ecumenismo	deve	ser,	além	disso,	pronto	para	o	diálogo	 inter-religioso.	As	
migrações	 em	 massa,	 que	 se	 tornam	 êxodos	 em	 algumas	 situações,	 mudaram	 as	
cidades	europeias	e	o	Cristianismo	convive	com	outras	tradições	de	fé.	É	preciso	então	
se	relacionar	com	as	outras	religiões	para	responder	e	agir	em	prol	daqueles	objetivos	
compartilhados	de	 justiça,	 paz	e	 convivência	que	podem	criar	um	mundo	acolhedor	
para	todos	e	todas.	
FONTE: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/574590-protestantismo-e-ecumenismo>. 
Acesso em: 12 ago. 2021.
167
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Os	 atuais	desafios	da	evangelização	em	um	mundo	globalizado,	 tendo	em	vista	 a	
transculturalidade	e	os	fundamentos	da	mensagem	cristã.
•	 A	relação	entre	a	evangelização,	a	partir	dos	fundamentos	teológicos	da	missão,	e	a	
questão	social,	tendo	como	foco	os	aspectos	dos	direitos	humanos	e	da	desigualdade	
social.
•	 As	relações	entre	a	evangelização,	a	partir	dos	fundamentos	da	teologia	da	missão,	e	
as	revoluções	tecnológicas	na	área	das	comunicações,	tendo	em	vista	o	impacto	de	
tais	tecnologias	na	chamada	evangelização	de	massa.
•	 Os	aspectos	teológicos	envolvidos	na	questão	ecumênica	têm	suas	relações	com	a	
evangelização	no	mundo	globalizado.
RESUMO DO TÓPICO 3
168
AUTOATIVIDADE
1	 Os	movimentos,	em	vista	de	um	ecumenismo	entre	as	vertentes	cristãs	existentes,	
têm	 sido	 intensificados	 nas	 últimas	 décadas.	 O	 objetivo	 de	 tal	 ecumenismo	 é	 um	
diálogo	maior,	bem	como	uma	melhor	cooperação	entre	as	igrejas	que	se	confessam	
seguidoras	do	Evangelho	de	Cristo.	Todavia,	esta	tendência,	apesar	de	ser	intensificada	
atualmente,	 pode	 ser	vista	em	outros	momentos	históricos.	Sobre	esta	questão	do	
ecumenismo,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	As	primeiras	expressões	de	um	ecumenismo	cristão	estão	presentes	desde	os	
primeiros	séculos	da	cristandade,	estando	presentes	nos	sete	primeiros	Concílios.
b)	(			)	Os	primeiros	movimentos	de	ecumenismo	surgem	ainda	na	época	dos	apóstolos,	
quando	os	grupos	liderados	por	Paulo	e	Pedro	resolveram	se	unir.
c)	 (			)	Pode	se	afirmar	que	a	busca	de	um	ecumenismo	cristão	está	presente	desde	o	
fim	da	Segunda	Guerra	Mundial.
d)	(			)	Para	os	católicos,o	ecumenismo	surge	juntamente	com	a	Reforma	Protestante,	
como	forma	de	diálogo	e	união	das	Igrejas	Irmãs	em	Cristo.
2	 As	 mídias	 sociais	 são	 hoje	 uma	 realidade	 muito	 presente	 na	 vida	 das	 pessoas,	
principalmente,	daqueles	que	moram	em	grandes	centros	urbanos	e	têm	fácil	acesso	
à	Internet	e	aos	meios	de	comunicação	de	massa.	A	religião	também	tem	sido	muito	
afetada	pelas	diversas	mudanças	trazidas	por	esta	nova	realidade.	Com	base	nesta	
temática	das	mídias	sociais	e	da	religião,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	 Os	líderes	religiosos	estão	afastados	das	redes	e	mídias	sociais	para	salvaguardar	a	
idoneidade	de	suas	igrejas.
II-	 As	redes	sociais,	bem	como	os	meios	de	comunicação	em	massa,	são	excelentes	
canais	para	divulgação	do	Evangelho.
III-	 O	primeiro	meio	de	comunicação	em	massa,	de	amplo	alcance	de	audiência,	a	ser	
utilizado	por	líderes	religiosos	para	suas	pregações,	foi	o	rádio.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 As	sentenças	II	e	III	estão	corretas.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
169
3	 A	 realidade	político-social	 da	América	 Latina	 sempre	 foi	 dependente	das	políticas	
empreendidas	 nas	 potências	 europeias	 e	 norte-americana,	 entretanto,	 esta	
dependência	ficou	mais	acirrada	na	segunda	metade	do	século	XX,	 influenciando,	
inclusive,	o	surgimento	de	uma	nova	visão	teológica.	De	acordo	com	os	elementos	
desta	discussão,	classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	 A	teologia	da	libertação	é	uma	corrente	teológica	surgida	a	partir	da	década	de	1960	
e	se	volta	para	a	relação	entre	política	e	teologia.
(			)	 A	opção	pelos	pobres	na	evangelização	é	uma	corrente	de	evangelismo	criada	na	
Europa	e	trazida	para	a	América	Latina	por	missionários	reformistas.
(			)	 Ao	assumir	a	opção	pelos	pobres	no	processo	de	evangelização	e	cuidado	pastoral,	
a	 teologia	 da	 libertação	 busca	 atuar	 a	 partir	 do	 contexto	 latino-americano	 de	
precariedade	social.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 V	–	F	–	V.
c)	 (			)	 F	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 A	proposição	de	direitos	que	pertençam	a	todas	as	pessoas,	independentemente	de	
questões	raciais,	religiosas,	políticas,	sexuais	ou	sociais,	é	uma	das	bases	da	noção	
de	direitos	humanos.	Esta	noção	está	ainda	alicerçada	em	uma	noção	de	dignidade	
da	 pessoa	 humana,	 ou	 seja,	 todo	 indivíduo	 tem	 direitos	 pelo	 simples	 fato	 de	 ser	
humano.	Disserte	sobre	esta	questão	dos	direitos	humanos	e	a	evangelização	 	de	
povos	originários.
5	 A	 organização	 social	 é	 bastante	 complexa	 na	moderna	 sociedade	 capitalista,	 a	 qual	
impõe	um	ritmo	intenso	de	mudanças	sociais,	políticas	e	econômicas.	Nesta	dinâmica	
mudança	social,	muito	grupos	são	colocados	à	margem	da	sociedade,	ou	seja,	são	
marginalizados,	excluídos.	Tais	grupos	são	chamados	de	minorias	sociais,	pois	têm	
pouco,	ou	nenhum,	acesso	aos	níveis	mais	altos	de	poder	e	participação	social.	Neste	
contexto,	disserte	sobre	a	questão	das	minorias	sociais	e	a	evangelização.
170
171
REFERÊNCIAS
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