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UNINASSAU – PETROLINA/PE CASO PARA EMISSÃO DE PARECER JURÍDICO João dos Santos, pequeno comerciante na cidade de Itu-SP, realizou algumas transações bancárias entre os anos de 2017 e 2022. Foram realizados vários depósitos diários, com valores inferiores a 2 mil reais em sua conta, totalizando mais de 2 milhões de reais. O COAF (Conselho de Controle de Atividade Financeira), lançando mão de sua atividade fiscalizadora, abriu procedimento preliminar de investigação, para a apuração de eventual crime de lavagem ou financiamento ao terrorismo, haja vista a quantidade de depósitos fracionados e o total não corresponder as atividades comerciais do investigado, João dos Santos, que até o ano de 2016, realizara atividades comerciais bem módicas. A Receita Federal, em dezembro de 2022 instaurou procedimentos, quebrando o sigilo bancário e fiscal de João dos Santos, no exercício da fiscalização tributária. Tomando conhecimento dessa situação, O Ministério Público Estadual instaurou Inquérito para investigar João dos Santos, requisitando formalmente todas as informações fiscais e bancárias dele, diretamente à Receita Federal, sem intervenção do Poder Judiciário. Devidamente intimado a prestar esclarecimentos junto ao MPE, João do Santos procura o seu escritório, na busca de orientação jurídica questionando: a) Pode a Receita Federal acessar seus dados amparados sigilo fiscal e bancário? Deveria o órgão pedir autorização judicial para tanto? SIM, essa possibilidade e está prevista no art. 6º da LC 105/2001, neste artigo fala que as autoridades e os agentes fiscais tributários podem ter acesso às movimentações bancárias, mesmo sem autorização judicial, desde que exista um processo administrativo instaurado ou um procedimento fiscal em curso e essas informações sejam indispensáveis. O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode ser chamado de “quebra de sigilo bancário”, mas é uma tramitação sigilosa entre os bancos e o Fisco e, por não ser acessível a terceiros, sendo assim, não há o se falar sobre violação (quebra) do sigilo. b) O Ministério Público pode requisitar essas informações diretamente, sem intervenção do Poder Judiciário? As provas obtidas são lícitas? SIM, em 2019, o STF pacificou que é legítimo que a Receita Federal compartilhe o procedimento fiscalizatório que ela realizou para apuração do débito tributário com os órgãos de persecução penal para fins criminais (Polícia Federal, Ministério Público etc.), não sendo necessário, para isso, prévia autorização judicial. Em conformidade com o Tema 990 - Possibilidade de compartilhamento com o Ministério Público, para fins penais, dos dados bancários e fiscais do contribuinte, obtidos pela Receita Federal no legítimo exercício de seu dever de fiscalizar, sem autorização prévia do Poder Judiciário. c) Não estaria sendo violada a intimidade consagrada no artigo 5º X e XII da Constituição Federal? Não, a Constituição Federal garante a inviolabilidade da intimidade e da vida privada (art. 5º, X) e a inviolabilidade de dados (art. 5º, XII). Assim a constitucional tem o dever de proteger os dados financeiros, o sigilo bancário e o sigilo fiscal. Todavia, essa garantia não é absoluta, pois os direitos fundamentais não podem servir como escudo protetivo à prática de atividades ilícitas, de atividades criminosas. Não é essa a finalidade das garantias individuais, das liberdades públicas. d) Pode haver compartilhamento de informações com as Procuradorias das Fazendas Federal, Estaduais e Municipais? Algum requisito deve ser obedecido? SIM, na observância do art. 6º da LC 105/2001, percebe-se que, fala de que estão autorizados a requisitar as informações bancárias as autoridades e agentes fiscais tributários não apenas da União (Receita Federal), mas também dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Assim, as Receitas estadual e municipal também poderão requisitar dos bancos, sem autorização judicial, informações sobre movimentações bancárias sem que isso configure quebra do sigilo bancário, no entanto, para que os Estados, DF e Municípios possam fazer uso dessa prerrogativa prevista no art. 6º da LC 105/2001, eles precisarão, antes, editar um ato normativo que regulamente detalhes, todas as regras operacionais para aplicação do dispositivo legal. Portanto, os Estados, DF e Municípios também poderão requisitar informações de instituições bancárias relativas a seus clientes.
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