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Inquéritos Policiais Direito Processual Penal Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ELLEN THAYNNÁ MARA DELGADO BRANDÃO MILENA BARBOSA DE MELO AUTORIA Ellen Thaynná Mara Delgado Brandão Eu, Ellen, tenho graduação em Direito pela Unifacisa – Universidade de Ciências Sociais Aplicadas e pós-graduanda em Docência do Ensino Superior. Atualmente sou professora conteudista e elaboradora de cadernos de questões. Como jurista, atuo nas áreas de Direito Penal, Direito do Trabalho e Direito do Consumidor. Milena Barbosa de Melo Eu, Milena, tenho graduação em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (2004). Doutora em Direito Internacional pela Universidade de Coimbra. Mestre e Especialista em Direito Comunitário pela Universidade de Coimbra. Atualmente, sou professora universitária e conteudista. Como jurista, atuo, principalmente, nas seguintes áreas: Direito à Saúde, Direito Internacional público e privado, Jurisdição Internacional, Direito Empresarial, Direito do Desenvolvimento, Direito da Propriedade Intelectual e Direito Digital. Desse modo, fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Inquérito Policial ........................................................................................ 12 Conceito de Inquérito Policial ................................................................................................ 12 As Características do Inquérito Policial ......................................................................... 18 Formas de Instauração do Inquérito Policial...................................22 Crimes de Ação Penal Pública Incondicionada .......................................................23 Crimes de Ação Penal Pública Condicionada e de Ação Penal de Iniciativa Privada .....................................................................................................................................................29 Diligências Investigativas e Identificação Criminal ...................... 32 Diligências Investigatórias ........................................................................................................32 Preservação do Local do Crime ........................................................................33 Apreensão de Objetos..............................................................................................34 Colheita de Outras Provas .................................................................................... 36 Oitava do Ofendido .................................................................................................. 36 Oitava do Indiciado .................................................................................................... 36 Reconhecimento de Pessoas, Coisas e Acareações .........................37 Determinação de Realização de Exame de Corpo de Delito e Quaisquer outras Perícias .................................................................................... 38 Identificação do Indiciado ..................................................................................... 38 Averiguação da Vida Pregressa do Investigado ................................... 38 Reconstituição do Fato Delituoso ................................................................... 38 Identificação Criminal ................................................................................................................. 39 Documentos Atestadores da Identificação Civil ................................. 40 Hipóteses Autorizadoras da Identificação Criminal ........................... 40 Indiciamento e Conclusão do Inquérito Policial ............................43 Indiciamento ......................................................................................................................................43 Pressupostos ................................................................................................................. 46 Desindiciamento ...........................................................................................................47 Conclusão do Inquérito Policial ............................................................................................47 Relatório da Autoridade Policial ....................................................................... 49 Destinatário dos Autos do Inquérito Policial ........................................... 50 Remessa dos Autos do Inquérito Policial ..................................................52 Arquivamento do Inquérito Policial ....................................................................................52 Procedimento de Arquivamento .......................................................................53 9 UNIDADE 02 Direito Processual Penal 10 INTRODUÇÃO Esta unidade será dedicada ao estudo da investigação preliminar, estudando sobre o que é o inquérito policial e como ele acontece. Sabemos que a autoridade responsável pelo inquérito é a polícia e que existe as formas de instauração do inquérito. Assim vamos estudar quais são estas formas, identificar quais são as diligências permitidas pelo nosso ordenamento jurídico, quem é o responsável por receber esse inquérito, antes de se iniciar a ação penal. Veremos também o que vem a ser indiciamento para, desta forma, estudarmos como ocorre a conclusão do inquérito e quem pode pedir seu arquivamento e como ele acontece. Empolgados com esse estudo? Vamos lá! Direito Processual Penal 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 – Inquéritos policiais. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Entender o que vem a ser inquérito policial. 2. Compreender as formas de instauração do inquérito policial. 3. Identificar as diligências investigativas e a identificação criminal. 4. Desenvolver o termo indiciamento e a conclusão do inquérito policial. Então? Preparado para adquirir conhecimento de um assunto fascinante e inovador como este? Vamos lá! Direito Processual Penal 12 Inquérito Policial OBJETIVO: Neste capítulo teremos como objetivo o estudo sobre o inquérito policial no que diz respeito ao seu conceito e suas características, entendendo de forma introdutória como ele funciona. Vamos lá! Ao se falar em investigação preliminar, automaticamente, temos que falar de inquérito policial, tendo em vista que a investigação preliminar situa-se na fase pré-processual e o interrogatório é o principal instrumento investigatório na área penal quetem a finalidade de estruturar, fundamentar e dar justa causa à ação penal. Conceito de Inquérito Policial A partir do momento em que um delito é praticado, o Estado tem o dever de punir o autor da ilicitude. Para que o Estado possa punir, ele precisa de elementos de informação quanto à autoria e quanto à materialidade da infração penal, assim, nasce a importância do inquérito policial. Mas o que vem a ser esse inquérito? Lima (2019) conceitua inquérito policial como um procedimento inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, que consiste em um conjunto de diligências, realizadas pela polícia investigativa, tendo como objetivo a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e à materialidade da infração penal, com a finalidade de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. Assim, o inquérito policial tem a característica de ser um procedimento preparatório da ação penal, com caráter administrativo e que é conduzido pela polícia judiciária. Ele não trata de processo judicial nem de processo administrativo, pois não resulta em imposição direta de nenhuma sanção. Direito Processual Penal 13 NOTA: A polícia judiciária, no Brasil, é representada pela Polícia Civil e pela Polícia Federal. A Polícia Militar, por sua vez, não tem a função investigatória, tendo somente função administrativa, de caráter ostensivo, assim, sua função é agir na prevenção de crimes e não na sua apuração. O art. 4º do Código de Processo Penal diz que “a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policias no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e sua autoria.”. Desta fora, a polícia é, encarregada de obter provas preliminares, com o intuito de apurar a infração penal e sua autoria, tendo como principal objetivo de formar a convicção do Ministério Público para a propositura da ação. No que se refere ao inquérito policial no Brasil, ele surgiu primeiramente com o Decreto nº4824, de 22 de novembro de 1871, que trazia em seu art. 42 que “o inquérito policial consiste em todas as diligências necessárias para o descobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e dos seus autores e cúmplices; e deve ser reduzido a instrumento escrito.” O nome inquérito policial só veio a aparecer nesta lei, que delimitava a separação da polícia e do judiciário. Todavia, Nucci (2011) aponta que, no Código de Processo de 1832, havia alguns dispositivos sobre o processo informativo, mas não existia ainda a nomenclatura inquérito policial. Direito Processual Penal 14 Figura 1 – Investigação policial Fonte: Pixabay (2020). Com a promulgação do Código de Processo Penal de 1941, que vigora até os dias atuais, o inquérito policial foi mantido, tendo entendido o legislador da época, de acordo com Lopes Júnior (2019) que O ponderado exame da realidade brasileira, que não é apenas a dos centros urbanos, senão também a dos remotos distritos das comarcas do interior, desaconselha o repúdio ao sistema vigente. (LOPES JÚNIOR, 2019, p.136) IMPORTANTE: É importante deixar claro que a principal função do inquérito policial é a de investigar o crime e descobrir quem foi seu autor, com o intuito de fornecer elementos para aquele que for titular da ação penal, seja ele o Ministério Público, seja o particular. Lima (2019) também aponta que o inquérito policial é um procedimento de natureza instrumental e, por isso, sobressai dele uma dupla função: Direito Processual Penal 15 • Preservadora – a existência de forma prévia do inquérito inibe a instauração de um processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando-se custos desnecessários para o Estado. • Preparatória – o inquérito fornece elementos de informação para que o titular da ação penal ingresse em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo. Ora, é mister ver o quanto o inquérito é importante, pois se nele forem obtidas provas nítidas do delito, a chance de erro do Estado se torna menor. Além disso, existem provas que são perecíveis ou podem sofrer deturpação irreversível. Desta forma, no inquérito, as provas são colhidas tão longo se tem conhecimento do crime, se fosse esperar pelo devido processo, estas provas poderiam sumir. NOTA: O inquérito processual é peça meramente informativa, por isso, se nele constarem vícios, estes não contaminarão o processo penal que der origem. Levando em consideração esse contexto, Lopes Júnior (2019) elenca os fatos de porque temos um inquérito policial, prévio ao processo: • Busca do fato oculto – o crime, na maioria dos casos, é total ou parcialmente oculto e precisa ser investigado para se atingir elementos suficientes de autoria e materialidade, para que assim, possa ser oferecida a acusação ou justificação do pedido de arquivamento. • Função simbólica – a visibilidade da atuação estatal investigatória contribui, no plano simbólico, para o restabelecimento da normalidade social abalada pelo crime, afastando o sentimento de impunidade. Direito Processual Penal 16 • Filtro processual – a investigação preliminar serve como filtro processual para evitar acusações infundadas, seja porque não tem lastro probatório suficiente, seja porque a conduta não é aparentemente criminosa. Não é possível processar sem punir e nem punir sem processar. Figura 2 – Questões do inquérito Fonte: Pixabay (2020). Mas, quanto ao juiz, também pode utilizar das provas obtidas no inquérito? Nucci (2011) diz que em nível ideal, somente deveriam ser admitidas as provas, colhidas no inquérito policial, para que fossem utilizadas para peça inicial acusatória. Todavia, não se pode pensar em coletar provas sem a presença do acusado ou de seu defensor, pois viola o princípio da ampla defesa e do contraditório. No que se refere ao juiz, se o inquérito colher as provas perecíveis não é possível que estas sejam desprezadas por ele. Desta forma, o ideal é que o juiz tenha discernimento para tomar as seguintes medidas, assegurando o devido processo legal, de acordo com Nucci (2011): Direito Processual Penal 17 • Deve desprezar toda e qualquer prova que possa ser renovada em juízo sob análise do contraditório. • Deve permitir à defesa que contrarie, em juízo, os laudos e outras provas, colhidas durante o inquérito, produzindo assim, contraprova. • Deve tratar como mero indício e jamais como prova direta, eventual confissão do indiciado. • Deve exercer real fiscalização sobre a atividade da polícia judiciária, por isso existe sempre um magistrado acompanhando o inquérito. • Deve ler o inquérito, antes de receber a denúncia ou queixa, isto, para que possa checar, se realmente há justa causa para a ação penal. • Pode aceitar toda prova, colhida na fase policial, desde que ela seja incontroversa. O art. 155 do Código de Processo Penal reforça que: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (BRASIL, 1941) Os elementos de informação citados no artigo acima, são aqueles colhidos na fase investigatória, em que não é obrigatória a observância do contraditória e da ampla defesa. Então, tendo em vista que não é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa, não deviam servir de fundamento para um decreto condenatório, pois violaria um preceito constitucional, elencado no art. 5º, LV, que assegura aos acusados o direito ao contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. Como já vimos, existem provas incontroversas e que são perecíveis, assim, o Supremo Tribunal Federal se manifestou, em 2014, em sede derecurso ordinário que “os elementos do inquérito podem influir na formação do livre convencimento do juiz para a decisão da causa, quando complementam outros indícios e provas que passam pelo crivo do contraditório em juízo” e também sustenta que “é válida a prova feita na fase do inquérito policial, quando não infirmada por outros elementos colhidos na fase judicial” (RO em Habeas Corpus 118516, Min Luiz Fux). Direito Processual Penal 18 IMPORTANTE: O inquérito policial é um período pré-processual importante, como se pode ver de acordo com o estudado, que tem natureza de buscar a verdade única e absoluta, mas que se reveste de alguns contornos garantistas. Qual vem a ser a diferença do inquérito policial da instrução probatória? Lima (2019) aponta que o inquérito policial se diferencia da instrução probatória pelo motivo de que, enquanto a investigação criminal tem por objetivo a obtenção de dados informativos, para que o órgão acusatório examine a viabilidade da propositura da ação, a instrução em juízo tem como escopo colher provas para demonstrar a legitimidade da pretensão punitiva ou do direito de defesa. As Características do Inquérito Policial Vimos o contexto do que vem a ser o inquérito policial, observando suas características, todavia, é importante destacarmos cada uma delas, de acordo com Nucci (2011): • Administrativo – como já visto no ponto anterior, o inquérito policial por ser instaurado e conduzido por uma autoridade policial; tem caráter administrativo. Deve ser frisado e reforçado que o inquérito não é fase do processo e que, devido ao fato de ser pré-processual, se houver irregularidade no decorrer da investigação, não gerará nulidade do processo. • Inquisitivo – outro ponto bastante ressaltado no item anterior. Por ser pré-processual, o inquérito tem natureza inquisitiva. Sabe-se que o processo é formado pelo autor, pelo acusado e pelo Juiz, todavia, o inquérito não tem autor nem acusado, nem tampouco há o direito ao contraditório e a ampla defesa, mas Nucci (2011) acentua que isso não significa que o indiciado não tenha direitos, Direito Processual Penal 19 como o de ser acompanhado pelo advogado, entre outros. Além disso, o indiciado pode requerer que sejam realizadas algumas diligências, mas fica a cargo da polícia decidir sobre a realização destas. • Oficiosidade – quando se trata de crime de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial deve ser instaurado pela autoridade policial, sempre que tiver notícia da prática do crime, independentemente de provocação. Isso é assegurado pelo art. 5º, I do Código de Processo Penal. • Oficialidade – como estudado, o inquérito policial é conduzido por um órgão oficial do Estado nos termos do art. 144, § 1º do CPP. • Procedimento escrito – o art. 9º do Código de Processo Penal diz que “todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, nesse caso, rubricadas pela autoridade policial.” Os atos que forem produzidos na competência do inquérito, deverão, portanto, serem escritos e reduzidos a termo aqueles que forem orais. É mister salientar que, por mais que o mencionado artigo não fale, com o avanço da tecnologia e uma aplicação subsidiária do art. 405, § 1º do CPP, deve-se admitir a utilização de gravação audiovisual das diligências, realizadas no curso do inquérito. • Indisponibilidade – quando o inquérito policial é instaurado, a autoridade policial não pode arquivá-lo, de acordo com o art. 17 do Código de Processo Penal, pois esta atribuição pertence, exclusivamente, ao Judiciário, quando o titular da ação penal assim o requerer. • Dispensabilidade – o inquérito policial não é obrigatório. Tendo em vista que tem caráter informativo, se o titular da ação já tiver todos os elementos para o seu oferecimento, o inquérito será dispensável, de acordo com o art. 39, §5º do Código de Processo Penal. Direito Processual Penal 20 • Sigiloso – o inquérito policial é, de acordo com Nucci (2011), sigiloso às pessoas em geral, pois por se tratar de mero procedimento investigativo, não existe nenhuma justificativa para ser liberado o acesso para qualquer pessoa. Todavia, não é em regra sigiloso com relação aos envolvidos, podendo, todavia, algumas peças do inquérito serem declaradas sigilosas, quando for necessário para o sucesso da investigação. O art. 20 do CPP garante esse sigilo ao dizer que “a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.” Mas é, garantido ao defensor, o acesso a todos os documentos, de acordo com entendimento do Supremo Tribunal Federal, em súmula vinculante 14 que consta “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório, realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. ” IMPORTANTE: Lima (2019) aponta que a negativa de acesso do advogado aos autos da investigação preliminar, o fornecimento incompleto de autos ou o fornecimentos de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo, implicará responsabilidade criminar e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa. • Discricionariedade na sua condução – é de responsabilidade do policial a condução da investigação, devendo conduzi-la da forma que considerar mais propícia, mas deve ser imparcial, podendo ser declarado suspeito, quando houver situação que prejudique sua necessária imparcialidade, de acordo com o art. 107 do CPP. Os arts. 6º e 7º do CPP trazem um rol exemplificativo de diligências que podem ser determinadas pela autoridade policial, logo que Direito Processual Penal 21 tiver conhecimento da prática da infração penal: conservação do lugar do fato delituoso até a chegada dos peritos; apreensão dos objetos e instrumentos que tiverem relação com o fato; colheita de todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; oitava do ofendido; reconhecimento de pessoas e coisas e a acareação; exame de corpo de delito e quaisquer outras perícias; identificação do indiciado; averiguação dos antecedentes do indiciado e reconstituição do fato delituoso. RESUMINDO: Estudamos o conceito de inquérito policial que, de acordo com Lima (2019) é um procedimento inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, que consiste em um conjunto de diligências, realizadas pela polícia investigativa, tendo como objetivo a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e a materialidade da infração penal, com a finalidade de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. Ele tem dupla função: preservadora e preparatória e que temos um inquérito prévio ao processo devido a busca do fato oculto, a função simbólica e ao filtro processual. Vimos que o juiz deve ter discernimento para tomar medidas com relação às provas, obtidas no inquérito, devendo assegurar o devido processo legal. Por fim, estudamos as características do inquérito que são: administrativo, inquisitivo, oficiosidade, oficialidade, procedimento escrito, indisponibilidade, dispensabilidade, sigiloso e discricionariedade na sua condução. Direito Processual Penal 22 Formas de Instauração do Inquérito Policial OBJETIVO: Após estudarmos o que vem a ser o inquérito, neste capítulo estudaremos as formas de sua instauração tratando como a autoridade policial deve proceder em cada tipo de ação. Vamos lá! É mister saber que existem cinco formas de dar início ao inquérito policial, de acordo com Nucci (2011). São elas: • De ofício – quando a autoridade policial ao tomar conhecimento da prática de umainfração penal de ação pública incondicionada, instaura a investigação para que possa verificar a existência do crime ou da contravenção penal e da sua autoria. • Por provocação do ofendido – ocorre quando a pessoa que teve o bem jurídico lesado, reclama a atuação da autoridade. • Por delação de terceiro – quando qualquer pessoa do povo leva ao conhecimento da autoridade policial a ocorrência de uma infração penal de iniciativa do Ministério Público. • Por requisição da autoridade competente – ocorre quando o juiz ou o promotor de justiça exigir, legalmente, que a investigação policial realize, porque há provas suficientes a tanto. • Pela lavratura do auto de prisão em flagrante – nos casos em que o agente é encontrado em qualquer das situações que constam no art. 302 do Código de Processo Penal. Direito Processual Penal 23 NOTA: O art. 302 do Código de Processo Penal diz que se considera flagrante delito quem está cometendo a infração penal; acaba de cometê-la; é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; é encontrado, logo depois, pela autoridade, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. Assim, existem diversas formas de instauração do inquérito policial, ela vai variar de acordo com a espécie da ação penal. Estudaremos essas formas a seguir. Crimes de Ação Penal Pública Incondicionada Os crimes de ação penal pública incondicionada são a maioria dos crimes. Assim, se não houver na lei, a expressão “se procede mediante queixa” ou “se procede mediante representação ou requisição do Ministro da Justiça”, fica subentendido que o crime é de ação penal pública incondicionada. De acordo com Lima (2019), nos crimes de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial pode ser instaurado das seguintes formas: a. De ofício – por força do princípio da obrigatoriedade, caso a autoridade policial tome conhecimento do fato delituoso, a partir de suas atividades rotineiras, deve instaurar o inquérito policial de ofício, ou seja, independentemente da provocação de qualquer pessoa, nos moldes do art. 5º, I do CPP. Quando a autoridade policial fica ciente do fato criminoso, independentemente do meio, seja pela mídia, por boatos, entre outros, ocorre o que se chama de notitia criminis. Direito Processual Penal 24 Figura 3 – Ciência do crime pela autoridade policial Fonte: Pixabay (2020). Nucci (2011) diz que a notitia criminis é a ciência da autoridade policial da ocorrência de um fato criminoso, podendo ser: • Direta ou mediata – quando a autoridade policial investigando, por qualquer meio, descobre o crime. • Indireta ou imediata – ocorre quando a autoridade policial é provocada pela vítima, comunicando-lhe a ocorrência, assim como quando o promotor ou o juiz requisitar a sua atuação. • Coercitiva – ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato em razão da prisão em flagrante do suspeito. Todavia, quando a autoridade fica ciente do fato criminoso por meio de uma delação formalizada por qualquer pessoa do povo, ocorre a chamada delatio criminis, que é uma espécie de notatia criminis. Nucci (2011) conceitua delatio criminis como a denominação dada à comunicação por qualquer pessoa do povo à autoridade policial (ou a membro do Ministério Público ou juiz), acerca da ocorrência de infração penal em que caiba ação penal pública incondicionada. Podendo ser feita de forma oral ou escrita. Se a autoridade policial verificar a procedência da informação, mandará instaurar inquérito para apurar oficialmente o acontecimento. Direito Processual Penal 25 A delatio criminis pode ser: • Delatio criminis simples – é aquela feita pela comunicação à autoridade policial por qualquer pessoa (art. 5º, § 3º do CPP). • Delation criminis postulatória – é a comunicação, feita pelo ofendido nos crimes de ação penal pública, condicionada ou ação penal privada, mediante a qual o ofendido já pleiteia a instauração do inquérito policial (estudaremos quando fomos falar de ação pública condicionada e privada). • Delation criminis inqualificada – é aquela chamada denúncia anônima, pois, é feia por qualquer um do povo à autoridade policial, mas sem a identificação do comunicante. NOTA: A Constituição da República em seu art. 5º, IV veda o anonimato. Dessa forma, como proceder com estas denúncias anônimas? Para garantir que vai ser investigado, mas mantendo o que a Constituição exige, o Delegado quando tomar ciência de fato, definido como crime por meio de denúncia anônima, não deverá instaurar o inquérito policial de imediato, devendo determinar que seja verificada a procedência da denúncia e, caso realmente seja contatado o crime, deve instaurar o inquérito policial. Lima (2019) estabelece que é impossível a instauração de procedimento criminal com base única e, exclusivamente, em denúncia anônima, haja vista a vedação constitucional do anonimato e a necessidade de haver parâmetros próprios à responsabilidade, nos campos cível e penal. Desta forma, a denúncia anônima, por si só, não é fundamento para instauração de inquérito policial, mas a partir dela, pode a polícia realizar diligências preliminares para apurar a veracidade das informações, obtidas anonimamente. Direito Processual Penal 26 b. Mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público – de acordo com o art. 5º, II do Código de Processo Penal, o inquérito será iniciado, nos crimes de ação pública, mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público. Lima (2019) diz que apesar do CPP fazer menção a esta possibilidade, a autoridade judiciária pode requisitar a instrução do inquérito policial, essa possibilidade não se coaduna com a adoção do sistema acusatório adotado pela Constituição Federal de 1988. Lima ainda reforça que essa possibilidade só guarda pertinência, com a ordem jurídica anterior a atual Constituição, pois era permitido ao magistrado, até mesmo a iniciação da ação penal nos casos de homicídio e lesões corporais culposas. Desta forma, sabemos que a Lei nº13964/2019 estabeleceu que de fato nosso sistema processual penal é acusatório, no qual há separação das funções de acusar, defender e julgar; não se pode permitir a instauração do inquérito policial por requisição do juiz, pois pode prejudicar a sua imparcialidade. Assim, caso o magistrado se depare com informações, acerca da prática de ilícito penal, ele deve encaminhar diretamente para o Ministério Público, nos termos do art. 40 do CPP. IMPORTANTE: O art. 40 do CPP diz que, quando em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia. Com a requisição do Ministério Público, a autoridade policial deve instaurar o inquérito policial, devido ao princípio da obrigatoriedade, que impõe às autoridades o dever de agir, diante da notícia da prática de infração penal. Direito Processual Penal 27 É importante também salientar que o art. 129, VIII, da Constituição Federal, determina que, entre as funções do Ministério Público, está a de requisitar diligências investigatórias e também a de instauração de inquérito policial, indicando os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais. Como também é importante dizer que o art. 13, II, do CPP traz em seu texto que incumbe à autoridade policial realizar as diligências, requisitadas pelo Ministério Público. Todavia, se a requisição ministerial for manifestamente ilegal, a autoridade policial deve abster-se da instauração do inquérito, devendo comunicar sua decisão, justificadamente, ao órgão do Ministério Público, responsável pela requisição, assim como às autoridades correcionais. (LIMA, 2019, p. 132) c. Requerimento doofendido ou de seu representante legal – é possível que haja a instauração do inquérito policial, devido ao requerimento do ofendido ou de quem tenha qualidade de representá-lo. Esse requerimento conterá sempre que possível, de acordo com o art. 5º, § 1: • A narração dos fatos, com todas as circunstâncias. • A individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer. • A nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. Assim, cabe ao delegado verificar a procedência das informações trazidas a ele, devendo evitar investigações temerárias e abusivas. Se após verificar que não há crime, a autoridade policial deve indeferir o requerimento do ofendido, decisão que caberá recurso inominado para o chefe de Polícia, de acordo com o art. 5º, § 2º. Direito Processual Penal 28 d. Notícia oferecida por qualquer do povo – de acordo com o art. 5º, § 3º do CPP, qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial e essa, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. Como podemos ver, isso é o que estudamos anteriormente, a chamada delatio criminis simples. Assim, após o delegado verificar a procedência das informações deverá instaurar o inquérito policial. A notícia oferecida por qualquer do povo é mera faculdade do cidadão, não tendo ele o dever de noticiar a prática da infração penal. Todavia, a Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei nº3688/1941), em seu art. 66, diz que a notícia de crime é obrigatória, sendo considerada contravenção penal, deixar de comunicar à autoridade competente: • Crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício de função pública, desde que a ação penal não dependa de representação. • Crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício da medicina ou outra profissão sanitária, desde que a ação penal não dependa de representação e a comunicação não exponha o cliente a procedimento criminal. O art. 319 do Código Penal ainda reforça que as autoridades públicas, especialmente, as envolvidas na persecução penal, devido ao princípio da obrigatoriedade, têm o dever de noticiar fatos possivelmente criminosos, sob a pena de responderem administrativamente e de incorrerem no delito de prevaricação, caso comprovado que a inércia se deu para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. e. Auto de prisão em flagrante delito – Lima (2019) diz que apesar de não constar expressamente, no art. 5º do Código de Processo Penal, o auto de prisão em flagrante é uma das formas de instauração do inquérito policial, funcionando o próprio auto como a peça inaugural. Direito Processual Penal 29 Como vimos, a prisão em flagrante é um tipo de notitia criminis coercitiva. Destaca-se o processo penal militar, no qual se o auto de prisão em flagrante for suficiente para o esclarecimento do fato e da sua autoria, constituirá o inquérito, dispensando outras diligências, ressalvando o exame de corpo e delito, quando o crime deixar vestígios, a identificação da coisa e a sua avaliação, quando o seu valor influir na aplicação da pena. Assim, de acordo com o art. 27 do Código de Processo Penal Militar, a remessa dos autos, com breve relatório da autoridade policial militar, far-se-á sem demora ao juiz competente, no prazo de vinte dias, se o indiciado estiver preso. Como o CPP não traga nada sobre o assunto, Lima (2019) retrata que é perfeitamente possível a aplicação subsidiária do art. 27 do CPPM no âmbito processual comum, tendo em vista que o art. 3º do CPP admite a interpretação extensiva e aplicação analógica. Podemos analisar da seguinte forma: se no auto de prisão em flagrante já contiver todos os elementos de informação necessários para o oferecimento da denúncia e, com base no que sabemos que o inquérito policial é peça dispensável para a propositura da ação, não há necessidade de determinar a instauração do inquérito policial. Crimes de Ação Penal Pública Condicionada e de Ação Penal de Iniciativa Privada No que se refere aos crimes de ação pública condicionada, para que seja iniciado o inquérito policial, depende da representação do ofendido ou da requisição do Ministério Público, de acordo com o art. 5º, § 4º do Código de Processo Penal. Como estudamos, a representação pode ser denominada de delatio criminis postulatória, que está associada à manifestação da vítima ou de seu representante legal, no sentido de possuírem interesse na persecução penal, sem necessidade de qualquer formalismo. Direito Processual Penal 30 No que se referem aos crimes de ação penal de iniciativa privada, o art. 5º, § 5º diz que a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito nos crimes de ação privada a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. Desta forma, o Estado só pode agir mediante requerimento do ofendido ou de seu representante legal. O art. 31 do CPP faz uma ressalva com relação à morte ou ausência do ofendido, dizendo que o requerimento poderá ser formulado por seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. IMPORTANTE: O requerimento mencionado é condição de procedibilidade do próprio inquérito, sem esse requerimento a investigação sequer pode ser iniciada. Conforme Lima (2019), esse requerimento deve ser formulado pelo ofendido, no prazo decadencial de seis meses, devendo ser contado, em regra, do dia em que vier a saber quem é o autor do crime. Se o requerimento for formulado, após o decurso do prazo decadencial, deve a autoridade policial se abster de instaurar o inquérito policial, pois de acordo com o art. 107, IV, a punibilidade se extingue. É importante ressaltar que quando há prisão em flagrante, também poderá se dá a instauração do inquérito policial nos casos de crimes de ação penal pública condicionada e de ação penal privada, devendo ser precedido de requerimento da vítima ou de seu representante legal. Quando ocorrem tais delitos, é plenamente possível a captura e a condução coercitiva da pessoa que for encontrada em situação de flagrante, fazendo com que a agressão sede cessada na intenção de manter a paz e a tranquilidade social. Mas, a lavratura do auto de prisão em flagrante está condicionada à manifestação do ofendido ou de seu representante legal. Caso ocorra algo com a vítima, a deixando impossibilitada de ir no momento para à delegacia, poderá realizar no prazo de entre da nota de culpa, que é de 24 horas. Direito Processual Penal 31 RESUMINDO: Estudamos nesse capítulo que de acordo com Nucci (2011) existem cinco formas de dar início ao inquérito policial, sendo elas: de oficio, por provocação do ofendido, por delação de terceiro, por requisição da autoridade competente e pela lavratura do auto de prisão em flagrante. Assim, estudamos que as formas de instauração do inquérito policial variam de acordo com o tipo da ação. Nos crimes de ação penal pública incondicionada, o inquérito pode ser instaurado de ofício (que foi onde estudamos o que vem a ser notitia criminis e suas espécies e estudamos o que é delatio criminis e suas espécies), mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, a requerimento do ofendido ou de seu representante legal, por notícia oferecida por qualquer do povo e por auto de prisão em flagrante. Nos crimes de ação penal pública condicionada, vimos que para que seja iniciado o inquérito policial, depende da representação do ofendido ou da requisição do Ministério Público e nos crimes de ação penal privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. Direito Processual Penal 32 Diligências Investigativas e IdentificaçãoCriminal OBJETIVO: Neste capítulo estudaremos sobre as diligências investigativas, rol presente no art. 6º do Código de Processo Penal, estudando cada uma delas. Em seguida, veremos o que vem a ser a identificação criminal e suas hipóteses de cabimento. Vamos lá! Diligências Investigatórias Conforme Nucci (2011), quando a notitia criminis chega ao conhecimento da autoridade policial, deve o delegado: • Dirigir-se ao local para que não se alterem o estado e a conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais. • Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberado pelos peritos criminais. • Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias. • Ouvir o ofendido. • Ouvir o indiciado. • Proceder o reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações. • Determinar, se for o caso, que se proceda o exame de corpo de delito e quaisquer outras perícias. • Ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes. • Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo, antes e depois do crime e durante ele, e Direito Processual Penal 33 quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. • Colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se têm alguma deficiência e o nome e contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. Estes pontos, elencados por Nucci (2011), são os contidos no art. 6º do Código de Processo Penal, sendo estas as diligências investigatórias. Algumas são de caráter obrigatório, outras têm sua realização condicionada à discricionariedade da autoridade policial, que deve determinar sua realização, de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Estudaremos agora cada uma destas diligências. Preservação do Local do Crime O primeiro ponto a se estudar é o fato de que a autoridade policial deverá dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais. A preservação do local tem como objetivo a preservação dos vestígios deixados pela infração penal, para que o trabalho dos peritos não seja prejudicado. Para que os peritos criminais possam realizar um exame pericial satisfatório, um dos requisitos básicos é que o local esteja, adequadamente, isolado e preservado, com o objetivo de não se perder qualquer vestígio que tenha sido produzido por quem praticou a infração. NOTA: Isso é garantido pelo art. 169 do CPP que diz: para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará, imediatamente, para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. Direito Processual Penal 34 De acordo com Lima (2019), a investigação terá mais probabilidade de sucesso, caso sejam observados dois fatores básicos: • Iniciar imediatamente as investigações a partir do local onde ocorreu o crime, pois será ali que haverá mais possibilidades de se encontrar alguma informação, tanto sob o aspecto da prova pericial, quanto das demais investigações subjetivas, tais como testemunhas, relatos diversos de observadores ocasionais, visualização da área para avaliação de possíveis informações de suspeitos, entre outros. • O tempo é fator que trabalha contra investigadores de polícia e peritos criminais, no esclarecimento de qualquer crime, uma vez que, quanto mais tempo se gasta para iniciar determinada investigação, fatalmente informações valiosas serão perdidas, que em muitos casos, poderão ser essenciais para o resultado final da investigação. Apreensão de Objetos O segundo ponto, do art. 6º do CPP das diligências, que deve ser adotado pela autoridade policial é a apreensão dos objetos que tiverem algum tipo de relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais. De acordo com Lima (2019), essa apreensão tem como objetivo: • Futura exibição do instrumento utilizado para a prática do delito, como, durante o plenário do Tribunal do Júri. • Necessidade de contraprova. • Eventual perda em favor da União como efeito da condenação. IMPORTANTE: Pode ser apreendido qualquer objeto que tenha relação com o fato delituoso, sendo ilícito ou lícito. Direito Processual Penal 35 De acordo com o art. 11 do CPP, os objetos que interessarem à prova, deverão acompanhar os autos do inquérito policial. Além disso, o art. 118 do CPP diz que, antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não poderão ser restituídas, enquanto interessarem ao processo. Conforme Lima (2019), não poderão ser restituídas: 1. As coisas apreendidas, enquanto interessarem ao processo. 2. Os instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito produto do crime. 3. Qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. 4. Objetos em relação aos quais haja dúvida quanto ao direito do reclamante. É muito importante que a autoridade respeite os requisitos da medida cautelar para fazer uma apreensão, para que ela seja considerada lícita. De acordo com o art. 244 do CPP, a busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver, fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. Todavia, esta busca domiciliar está condicionada ao art. 5º, XI da Constituição Federal, que assegura que a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. Caso você, aluno, queira saber de forma mais detalhada como acontece a busca e apreensão leia os arts. 240 ao 250 do Código de Processo Penal. Direito Processual Penal 36 Colheita de Outras Provas A autoridade policial deve colher todas as provas que sirvam para o esclarecimento do fato. Oitava do Ofendido Sempre que possível, a autoridade policial deve proceder à oitava do ofendido, todavia, deve ter cuidado na hora de colher esse depoimento, devido ao fato do emocional do ofendido e do seu interesse pela ação. Todavia, as informações por ele prestadas poderão ser bastante úteis na busca de provas, contribuindo com o êxito da investigação. Fernandes (1995) aduz que o sucesso da investigação e, consequentemente, o bom resultado final do processo dependem muito do interesse da vítima em colaborar. É ela que quase sempre comunica o crime e indica as principais testemunhas. O seu retorno para prestar ou fornecer novos esclarecimentos é muito importante. A sua participação é necessária para a realização de diligências relevantes, tais como os reconhecimentos de pessoas e coisas e a elaboração do exame de corpo de delito. Oitava do Indiciado A autoridade policial deverá ouvir o indiciado, todavia, deve-se lembrar da garantia do princípio do nemo tenetur se detegere de que o indiciado não é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Assim, é direito do indiciado saber pela autoridade policial que tem o direito a permanecer calado e que o exercício desse direito não decorrerá qualquer prejuízo. Direito Processual Penal 37 Reconhecimento de Pessoas, Coisas e Acareações A autoridade policial deve proceder ao reconhecimento de pessoas, coisas e acareações. Quando houver necessidade de fazer reconhecimento de pessoa, deverá seguir o art. 226 do CPP. Já no que se refere ao reconhecimento de coisas, ato ligado à identificaçãodos instrumentos empregados no delito, dos objetos utilizados para auxiliar no delito e dos objetos que constituem produto do crime, devendo utilizar o mesmo procedimento do reconhecimento de pessoas no que for possível. O art. 226 do CPP diz que o procedimento será: 1. A pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; 2. A pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la; 3. Se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; 4. Do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. Já no que se refere à acareação, o art. 229 do CPP diz que a acareação será admitida entre investigados, entre investigados e testemunha, entre testemunhas, entre investigado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem em suas declarações sobre os fatos ou circunstancias relevantes. Direito Processual Penal 38 Determinação de Realização de Exame de Corpo de Delito e Quaisquer outras Perícias De acordo com o art. 158 do CPP, quando a infração deixar vestígios o exame de corpo de delito é indispensável, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Identificação do Indiciado Foi dito que a autoridade policial deve ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes. A folha de antecedente, Lima (2019) aponta que corresponde a ficha que contém a vida pregressa criminal do investigado, na qual constam dados como a relação dos inquéritos policiais já instaurados contra sua pessoa e sua respectiva destinação. Averiguação da Vida Pregressa do Investigado Lima (2019) diz que cabe à autoridade policial averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo, antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. Reconstituição do Fato Delituoso O art. 7º do CPP dispõe que, a fim de verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. Quando a produção de prova tiver que utilizar de alguma ação do acusado esse tem que autorizar seu consentimento. Assim, Lima (2019) diz que cuidando-se do exercício de um direito, não se admitem medidas coercitivas contra o acusado para obrigá-lo a cooperar na produção de provas que dele precise de algum comportamento. Desta forma, se o investigado não é obrigado a participar da reconstituição do crime, não é possível também sua condução coercitiva para tanto. Direito Processual Penal 39 Identificação Criminal O que vem a ser a identificação criminal? O art. 5º, XLV da Constituição Federal, prevê que nenhuma pena pode passar da pessoa do condenado. Desta forma, para que o Estado possa punir o autor do delito, é indispensável o conhecimento efetivo e seguro de sua correta identidade. Assim surge a importância da identificação criminal, que auxilia na aplicação do Direito Penal, pois é por meio dela que é feito o registro dos dados que identificam a pessoa que praticou a infração penal sob investigação, possibilitando o conhecimento ou a confirmação de sua identidade, a fim de que, ao término da persecução penal, lhe sejam impostas as sanções decorrentes do delito praticado. (LIMA, 2019, p.146). Lima (2019) também aponta que a identificação criminal é o gênero do qual são espécies a identificação datiloscópica (feita com base nas saliências papilares da pessoa), a identificação fotográfica e a novel identificação do perfil genético. Desta forma, a identificação criminal abrange uma sessão fotográfica, a coleta de impressões digitais do indivíduo e, em algumas hipóteses a coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético. É importante ressaltar que não se deve confundir a identificação criminal com a qualificação do investigado, isto porque a identificação diz respeito à identificação datiloscópica, fotográfica e genética, sendo só possível suas utilizações, de acordo com a Constituição Federal nos casos previstos em lei. Já a qualificação do acusado compreende sua individualização, obtendo dados como seu nome completo, naturalidade, filiação, estado civil, nacionalidade, entre outros. Algo que poucas pessoas sabem é que antes da Constituição Federal de 1988, a identificação criminal era uma regra, mesmo que o indivíduo tivesse se identificado civilmente. Mas, com o argumento de que a investigação criminal poderia ser, levada adiante sem ser obrigatória a identificação criminal, a Constituição Federal trouxe em seu art. 5º, LVIII, que o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. Direito Processual Penal 40 Documentos Atestadores da Identificação Civil O art. 1º da Lei nº 12037/09 determina que o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nos casos previstos nesta Lei. Assim, se caso o indivíduo não se identificar civilmente, com a apresentação de um dos documentos listados no art. 2º da lei supracitada, será possível sua identificação criminal, quando se envolver com alguma prática delituosa. Os documentos litados no art. 2º da Lei nº 12037/09 são: carteira de identidade, carteira profissional, passaporte, carteira de identificação funcional e outro documento público que permita a identificação do indiciado. Hipóteses Autorizadoras da Identificação Criminal De acordo com o art. 3º da Lei nº12037/09, embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: 1. O documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação. 2. O documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado: é o que acontece, com os documentos públicos que não têm fotografia, a exemplo da certidão de nascimento. 3. O indicado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si. 4. A identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa. Essa hipótese depende de prévia autorização judicial. 1. Constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações. Direito Processual Penal 41 2. O estado de conservação, ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado, impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais. Assim, presente uma destas hipóteses e o investigado se recusando em colaborar, é possível sua condução coercitiva. Por fim, o art. 7º da Lei nº12037/09 que caso não seja oferecida a denúncia, ou seja, ela rejeitada ou o indiciado seja absolvido, é facultado ao indiciado ou ao réu, após o arquivamento definitivo do inquérito, ou o trânsito em julgado da sentença, requerer a retirada da identificação fotográfica do inquérito ou processo, desde que apresente provas de sua identificação civil. RESUMINDO: Estudamos que quando a notitia criminis chega ao conhecimento da autoridade policial, o delegado deve prosseguir com as diligências, sendo elas: dirigir-se ao local para que não se alterem o estado e a conservação das coisas, atéa chegada dos peritos criminais; apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberado pelos peritos criminais; colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; ouvir o ofendido; ouvir o indiciado; proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; determinar, se for o caso, que se proceda o exame de corpo de delito e quaisquer outras perícias; ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo, antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter; colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se têm alguma deficiência e o nome e contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. Direito Processual Penal 42 Estudamos então cada uma destas diligências. Em seguida, estudamos sobre a identificação criminal que ela auxilia na aplicação do Direito Penal, pois é por meio dela que é feito o registro dos dados que identificam a pessoa que praticou a infração penal sob investigação, possibilitando o conhecimento ou a confirmação de sua identidade, a fim de que, ao término da persecução penal, lhe sejam impostas as sanções decorrentes do delito praticado. Direito Processual Penal 43 Indiciamento e Conclusão do Inquérito Policial OBJETIVO: Estudaremos neste capítulo sobre o que vem a ser indiciamento, suas espécies, seus pressupostos e o que vem a ser o desindiciamento. Posteriormente, trataremos da conclusão do inquérito policial e do seu arquivamento. Preparados? Vamos lá!. Indiciamento Lima (2019) conceitua: indiciar como o ato de atribuir a autoria ou participação de uma infração penal a uma pessoa. É apontar uma pessoa como provável autora ou partícipe do delito. No que refere ao indiciado, Nucci (2011) diz que é a pessoa eleita pelo Estado, na sua convicção, como autoria da infração penal. IMPORTANTE: Não é de se confundir o indiciado com o suspeito, pois o suspeito é aquele que só existe possibilidade de autoria, já o indiciado é aquele que tem contra si indícios que apontam como provável autor da infração, assim, há probabilidade da autoria e não mera possibilidade. O indivíduo pode ser considerado indiciado já no momento da prisão em flagrante ou até o relatório final do delegado. O indiciamento constitui ato próprio da fase investigatória, assim, se a peça acusatória for recebida, não haverá mais de se falar em indiciamento. Direito Processual Penal 44 O indiciado figura como objeto da investigação, uma vez que, de acordo com Nucci (2011), ele não é sujeito de direitos, a ponto de requerer provas e, havendo indeferimento injustificado, apresentar recurso ao órgão jurisdicional superior. Além disso, no decorrer da investigação não tem direito ao contraditório e nem a ampla defesa, não tem acesso direito aos autos do procedimento investigatório, somente pelo advogado. NOTA: Quando Nucci (2011) aponta que o indiciado não é sujeito de direitos, ele aponta os direitos que ele não tem, não excluindo dele os direitos garantidos pela Constituição Federal, como o direito ao silêncio, a preservação da integridade física, não ser submetido a procedimento vexatório, entre outros garantidos pela Constituição. O art. 2º, § 6º da Lei nº 12830/13 diz que o indiciamento é ato privativo da autoridade policial e deve se dar por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, devendo indiciar a autoria, a materialidade e suas circunstâncias. Assim, o indiciamento só pode existir, quando existirem indícios razoáveis de probabilidade de autoria e não como um ato automático e irresponsável da autoridade policial. Em suma, no indiciamento a autoridade policial, de forma fundamentada, centraliza a investigação em apenas um ou alguns dos suspeitos, indiciando-os como os prováveis autores da infração. Exemplo: Direito Processual Penal 45 SUSPEITO “A” SUSPEITO “C” SUSPEITO “D” SUSPEITO “B”INDICIADOS: “B” e “D” Fonte: Elaborado pelas autoras (2020). Assim, a autoridade policial inicia investigando algumas pessoas, mas com o passar do tempo da investigação, começa a descartar algumas, até indiciar uma ou mais de uma delas. Sabe-se que existem casos que só irá existir um suspeito e somente ele vai ser indiciado, como também, existem casos em que todos os suspeitos são indiciados. SAIBA MAIS: Caso queira se aprofundar no assunto “O que é indiciamento”, assista o vídeo, clicando aqui. Espécies de indiciamento Direito Processual Penal https://www.youtube.com/watch?v=HoHC2QcpQH4 46 De acordo com Lima (2019), o indiciamento pode ser feito de duas maneiras: • Direta – ocorre quando o indiciado está presente. • Indireta – ocorre quando o indiciado está ausente. Todavia, a regra é o indiciamento seja feito de forma direta, mas existe hipótese de o investigado não ser localizado ou de, quando mesmo sendo regulamente intimado para o ato, deixar de comparecer injustificadamente, sendo possível o indiciamento indireto. Pressupostos Tendo em vista que o indiciamento é importante para o exercício de defesa na fase investigatória e também pode causar prejuízos ao indiciado, é indispensável a presença de elementos informativos acerca da materialidade e da autoria do delito. De acordo com Lima (2019), o indiciamento só pode ocorrer a partir do momento em que, reunidos elementos suficientes que apontem para a autoria da infração penal, o delegado de polícia deve cientificar o investigado, atribuindo-lhe de forma fundamentada a condição jurídica de “indiciado”, devendo respeitar todas as garantias constitucionais e legais. IMPORTANTE: O ato de indiciar não é um ato arbitrário nem discricionário, tendo em vista estarem presentes elementos informativos, apontando na direção do investigado, de maneira que não resta a autoridade policial outra opção senão seu indiciamento. O ministro Celso de Mello em julgamento de agravo regimental sustenta que “o indiciamento de alguém, por suposta prática delituosa, somente se justificará, se e quando houver indícios mínimos que, apoiados em base empírica idônea, possibilitem atribuir-se ao mero suspeito a autoria do fato criminoso.” Direito Processual Penal 47 O indiciamento não se encontra, previsto no Código de Processo Penal, mas ele deve ser objeto de um ato formal, devido às implicações jurídicas que ocasiona para a condição do indivíduo. Assim, o indiciamento funciona como um poder-dever da autoridade policial, uma vez convencida da concorrência dos seus pressupostos. (LIMA, p. 156, 2019). No Estado de São Paulo, a Portaria nº18, de 25 de novembro de 1998, expedida pela Delegacia Geral de Polícia, estabelece que o indiciamento deve ser precedido de despacho, fundamentado da autoridade policial, indicando, com base nos elementos probatórios reunidos na investigação, os motivos de sua convicção quanto à autoria delitiva e à classificação infracional atribuída ao fato. (art. 5º, parágrafo único da portaria supracitada). Desindiciamento A jurisprudência admite a impetração de habeas corpus a fim de sanar o constrangimento ilegal, quando estiver ausente qualquer elemento de informação quanto ao envolvimento do agente na prática delituosa, isso seria então, o desindiciamento. Conclusão do Inquérito Policial O art. 10 do Código de Processo Penal determina que o inquérito deverá terminar no prazo de dez dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante ou estiver preso preventivamente, devendo o prazo nesta hipótese ser contado a partir do dia em que foi executada a ordem de prisão, ou no prazo de trinta dias quando estiver solto, mediante fiança ou semela. Mas esse prazo pode ser prorrogado? O art. 10, § 3º responde essa pergunta ao dizer que se o fato for de difícil elucidação e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. Direito Processual Penal 48 NOTA: A contagem desse prazo de acordo com Lima (2019) se dá excluindo o dia do começo e incluindo-se o dia do final, ou seja, o prazo começa a correr a partir do primeiro dia útil subsequente. A legislação especial prevê prazos diferenciados para a conclusão do inquérito policial, vejamos: • A lei nº 5010/66 (Lei que organiza a Justiça Federal de primeira instância) dispõe em seu art. 66 que o prazo para a conclusão do inquérito policial será de quinze dias, quando o indiciado estiver preso, podendo ser prorrogado por mais quinze dias, a pedido fundamentado da autoridade policial e deferido pelo Juiz a que competir o seu conhecimento. Quanto o fato de se o indiciado tiver solto, a legislação não fala, desta forma, faz-se uma interpretação extensiva do prazo previsto no CPP de trinta dias. • O Código de Processo Penal Militar, em seu art. 20, determina que o inquérito deverá terminar em vinte dias se o indiciado estiver preso, devendo ser contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, sendo o prazo computado a partir da data em que se instaurar o inquérito, podendo ser prorrogado, por mais vinte dias para autoridade militar superior. • O art. 51 da Lei de drogas (Lei nº11343/06) prevê que o inquérito policial será concluído no prazo de trinta dias, se o indiciado estiver preso e de noventa dias, quando solto. Garante que estes prazos podem ser duplicados pelo Juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade policial. • A lei nº1521/51 (Lei dos crimes contra a economia popular) não faz distinção do indivíduo solto ou preso, prevendo que o inquérito deve ser concluído em dez dias. Direito Processual Penal 49 Merece destaque para o estudo do tempo de duração do inquérito, o caso de ter sido decretada prisão temporária do investigado. Sabe-se que a prisão temporária tem o prazo de cinco dias, podendo ser prorrogável por igual período, quando houver extrema e comprovada necessidade. Sendo o crime cometido hediondo ou equiparado, o prazo da prisão temporária é de trinta dias, também prorrogáveis por igual período. Lima (2019) aponta que no caso de prisão temporária de crimes sem ser hediondos ou equiparados, o prazo para conclusão do inquérito é o de dez dias, pois o prazo máximo para prisão temporária será de dez dias, prazo que coincide com o previsto no CPP para as hipóteses em que o investigado está preso. Ele também defende de que, nos casos de crimes hediondos e equiparados, tendo sido a prisão temporária decretada, por até 60 dias, o prazo, para conclusão das investigações, também é de 60 dias. Relatório da Autoridade Policial O art. 10, § 1º do Código de Processo Penal elucida que o inquérito policial deverá ser concluído com a elaboração, por parte da autoridade policial, de minucioso relatório do que tiver sido apurado, com posterior remessa dos autos do inquérito policial ao juiz competente. Assim, o relatório deve ser elaborado pela autoridade policial, devendo conter as principais diligências feitas na etapa investigatória, justificando se alguma das diligências não tiverem sido realizadas. É mister salientar que apesar de ser dever funcional da autoridade policial a elaboração do relatório, ele não é peça obrigatória para o oferecimento da denúncia, ora já sabemos que nem mesmo o inquérito policial é peça indispensável para o início do processo criminal, quando a imputação do delito encontrar, respaldo em outros elementos de convicção. A autoridade não deve fazer qualquer juízo de valor no relatório, já que a opinio delicti deve ser formada pelo titular da ação que é o Ministério Público nos crimes de ação penal pública e, nos crimes de ação penal de iniciativa privada, é o ofendido ou seu representante legal. Direito Processual Penal 50 A Lei de Drogas prevê que a autoridade policial deverá relatar sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, devendo indicar a quantidade e a natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstancias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente. (art. 52 da Lei nº 11343/06). Destinatário dos Autos do Inquérito Policial Nos termos do art. 10, § 1º do Código de Processo Penal, após concluída a investigação policial, os autos do inquérito policial devem ser encaminhados primeiramente ao Poder Judiciário, e somente depois ao Ministério Público. Todavia, Lima (2019) aponta que esse dispositivo não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, devido a adoção do sistema acusatório, em que outorga ao Ministério Público a titularidade da ação penal pública, não devendo se admitir que ainda subsista a necessidade de remessa inicial dos autos ao Poder Judiciário. Desta forma, sabendo que de acordo com o art. 129, I, da Constituição Federal ser o Ministério Público o dominus litis da ação penal pública, é ele, portanto, o destinatário final das investigações levadas a cabo no curso do inquérito policial. Assim, os autos da investigação policial devem tramitar diretamente entre a Polícia Judiciária e o Ministério Público, sem a necessidade da intermediação do Poder Judiciário, só sendo necessário passar por esse último órgão, quando precisar ser examinado medidas cautelares. Tirando a necessidade dos autos do inquérito passarem pelo Poder Judiciário, garante um dos direitos fundamentais do art. 5º da Constituição Federal, que é o da razoável duração do processo, pois havendo a tramitação direta entre a Polícia e o Ministério Público o procedimento se torna mais célere. Direito Processual Penal 51 Assim os dizerem de Lima (2019) são: Valores importantes como a celeridade, a eficiência, a desburocratização e a diminuição dos riscos da prescrição recomendam, pois, que as peças investigatórias sejam remetidas diretamente ao titular da ação penal, salvo se houver necessidade de medidas cautelares, eliminando- se, assim, o intermediário que não tem competência ou atribuição para interferir na produção de diligências inquisitoriais. (LIMA, 2019, p.163) No âmbito da Justiça Federal, há regulamentação desta matéria na Resolução nº 63 de 26 de junho de 2009, que traz que os autos do inquérito policial somente serão admitidos para registro, inserção no sistema processual informatizado e distribuição às Varas Federais, com competência criminal quando houver: a. Comunicação de prisão em flagrante efetuada ou qualquer outra forma de constrangimento aos direitos fundamentais previstos na Constituição da República. b. Representação ou requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público Federal para a decretação de prisões de natureza cautelar. c. Requerimento da autoridade policial ou no MPF de medidas constritivas ou de natureza acautelatória. d. Oferta de denúncia pelo MPF ou apresentação de queixa crime pelo ofendido ou seu representante legal. e. Pedido de arquivamento deduzido pelo MPF. f. Requerimento de extinção da punibilidade com fulcro em qualquer das hipóteses, previstas no art. 107 do Código Penal ou na legislação extravagante. O art. 107 do CP diz que extingue-se a punibilidade: pela morte do agente; pela anistia, graça ou induto; pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; pela prescrição, decadência ou perempção; pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; pela retrataçãodo agente, nos casos em que a lei admite; pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Direito Processual Penal 52 Remessa dos Autos do Inquérito Policial Após discutimos sobre se deve ou não os autos serem encaminhados primeiro ao Poder Judiciário, podemos concluir que, no fim, os autos devem ser encaminhados pela autoridade policial e uma vez recebidos, são duas as possibilidades: • Quando se tratar de crime de ação penal de iniciativa privada, o juiz deve determinar a permanência dos autos em cartório, para que seja aguardada a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, de acordo com o art. 19 do CPP. • Se o crime for de ação penal pública, os autos do inquérito devem ser remetidos para o Ministério Público. Ao receber os autos, o Ministério Público tem cinco possibilidades: • Oferecimento da denúncia. • Arquivamento dos autos do inquérito policial. • Requisição de diligências. • Declinação de competência. • Conflito de competência. Dependendo do caso, estas cinco possibilidades podem ser adotadas pelo Ministério Público, isoladamente ou em conjunto. Arquivamento do Inquérito Policial Como já foi visto, não é de responsabilidade da autoridade policial mandar arquivar autos de inquérito, também não podendo ser determinado de ofício pela autoridade judiciária. Incumbindo, exclusivamente ao Ministério Público, a avaliação dos elementos de informação de que dispõe, para saber se são ou não suficientes para o oferecimento da denúncia, razão essa pela qual nenhum inquérito pode ser arquivado, sem o expresso requerimento ministerial. Direito Processual Penal 53 O arquivamento do inquérito é um ato complexo que envolve prévio requerimento formulado pelo órgão do Ministério Público e posterior decisão da autoridade judiciária competente (LIMA, p.167, 2019). Devido ao fato do CPP não apresentar os requisitos que fundamente o arquivamento do inquérito policial, usa-se por analogia as hipóteses previstas nos arts. 395 e 397 do CPP. Assim, as hipóteses que autorizam o arquivamento são as seguintes: 1. Ausência de pressuposto processual ou de condição para o exercício da ação penal. 2. Falta de justa causa para o exercício da ação penal. 3. Quando o fato investigado evidentemente não constituir crime. 4. Existência manifesta de causa excludente da ilicitude. 5. Existência manifesta de causa excludente da culpabilidade, salvo a inimputabilidade. 6. Causa extintiva de punibilidade. 7. Cumprimento de acordo não persecução penal. Procedimento de Arquivamento O art. 28 do CPP traça todo o procedimento do arquivamento do inquérito policial. O Promotor de Justiça subscreve um requerimento com pedido de arquivamento que deve ser submetido à apreciação judicial. O juiz concordando com a promoção ministerial, pode-se dizer que o arquivamento está aperfeiçoado. Todavia, se o juiz não concordar com o pedido ministerial, os autos são enviados ao Procurador-Geral de Justiça. Ao receber os autos, o Procurador-Geral de Justiça deve: 1. Oferecer denúncia. 2. Requisitar diligências. 3. Designar outro órgão do Ministério Público para oferecer denúncia. 4. Insistir no pedido de arquivamento, hipótese em que o juiz está obrigado a atender, já que o Ministério Público é o titular da ação penal. Direito Processual Penal 54 Para que seja oferecida denúncia, o Procurador-Geral deve nomear um novo Promotor de Justiça, sendo obrigado a esse a denúncia. No que se referem aos crimes de ação penal de iniciativa privada, há a possibilidade de arquivamento quando, após inúmeras diligências realizadas no curso da investigação policial, não se tenha obtido êxito na obtenção de elementos de informação quanto à autoria do fato delituoso (LIMA, p. 180, 2019). RESUMINDO: Estudamos nesse último capítulo sobre o que vem a ser indiciamento, conceituando primeiramente que é o ato de apontar uma pessoa como provável autora ou partícipe do delito. Já o indiciamento é ato privativo da autoridade policial e deve se dar por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, devendo indiciar a autoria, a materialidade e suas circunstâncias. O indiciamento tem duas espécies, sendo elas direta e indireta. Vimos que o indiciamento só pode ocorrer, a partir do momento em que reunidos elementos suficientes que apontem para a autoria da infração penal. Em seguida, estudamos que para conclusão do inquérito o prazo determinado pelo CPP é de dez dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante ou estiver preso, preventivamente, devendo o prazo nesta hipótese ser contado a partir do dia em que foi executada a ordem de prisão, ou no prazo de trinta dias quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela, estudando também as leis que têm prazos diferentes. Vimos como deve ser o relatório da autoridade policial e que o destinatário desse relatório é o Ministério Público. Por fim, estudamos que o arquivamento do inquérito é um ato complexo que envolve prévio requerimento, formulado pelo órgão do Ministério Público, e posterior decisão da autoridade judiciária competente. Direito Processual Penal 55 REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1998]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm Acesso em: 4 abr. 2020. BRASIL. Decreto-Lei nº2848 de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1940]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ del2848compilado.htm Acesso em: 8 abr. 2020. BRASIL. Lei nº 13964, de 24 de dezembro de 2019. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/ L13964.htm . Acesso em:2 abr.2020. BRASIL. Decreto-Lei nº 3688 de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1941]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/ Del3931.htm Acesso em: 4 abr.2020. BRASIL. Lei nº 3689 de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1941]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm Acesso em: 4 abr.2020. BRASL. Resolução nº 63 de 26 de junho de 2009. Conselho da Justiça Federal. Disponível em:https://www2.cjf.jus.br/jspui/bitstream/ handle/1234/5547/RES%20063-2009.pdf?sequence=3. Acesso em: 8 abr.2020. FERNANDES, A.S. O papel da vítima no processo criminal. São Paulo: Malheiros, 1995. LOPES JUNIOR. A. Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2019. LIMA, R.B. de. Manual de Processo Penal. Salvador: Ed. JusPodvm, 2019. NUCCI, G.S. Manual de Processo Penal e execução penal. São Paulo: Editora revista dos tribunais, 2011. Direito Processual Penal http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del3931.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del3931.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm https://www2.cjf.jus.br/jspui/bitstream/handle/1234/5547/RES%20063-2009.pdf?sequence=3 https://www2.cjf.jus.br/jspui/bitstream/handle/1234/5547/RES%20063-2009.pdf?sequence=3 Inquérito Policial Conceito de Inquérito Policial As Características do Inquérito Policial Formas de Instauração do Inquérito Policial Crimes de Ação Penal Pública Incondicionada Crimes de Ação Penal Pública Condicionada e de Ação Penal de Iniciativa Privada
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