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RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR RESPONSABILIDADE CONTRATUAL CONTRATO DE TRANSPORTE • Podemos definir o contrato de transporte como aquele em que o transportador se obriga a transportar o passageiro – com segurança, cuidado e cortesia – de um local para outro. O transporte poderá ser não apenas de pessoas, mas de coisas (excluído, aí, por óbvio, o dever de cortesia). (BRAGA, 2019:1252) • - OBRIGAÇÃO DE RESULTADO E SEGURANÇA • “A obrigação do transportador não é apenas de meio, e não só de resultado, mas também de garantia. Não se obriga ele a tomar as providências e cautelas necessárias para o bom sucesso do transporte; obriga-se pelo fim, isto é, garante o bom êxito. Tem o transportador o dever de zelar pela incolumidade do passageiro na extensão necessária a lhe evitar qualquer acontecimento funesto, como assinalou Vivante, citado por Aguiar Dias. O objeto da obrigação de custódia, prossegue o mestre, é assegurar o credor contra os riscos contratuais, isto é, por a cargo do devedor a àlea do contrato, salvo, na maioria dos casos a força maior” (CAVALIERI FILHO, 2019:404) • CLAUSULA DE INCOLUMIDADE • “entende-se por cláusula de incolumidade a obrigação que tem o transportador de conduzir o passageiro são e salvo ao lugar de destino”. (CAVALIERI FILHO, 2019:404) • - É implícita em todo e qualquer contrato de transporte, sendo pois inafastável. • Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade. RESPONSABILIDADE OBJETIVA • “(...), a melhor doutrina e jurisprudência evoluíram no sentido de reconhecer responsabilidade objetiva ao transportador, fundada na teoria do risco”(CAVALIERI FILHO, 2019: 404 DIALOGO DAS FONTES ENTRE CDC E CC/2002 “O transporte de pessoas, se desempenhado com habitualidade e de forma remunerada (ainda que a remuneração não seja direta ou explícita), caracterizando alguém como fornecedor de serviços, provoca a incidência do CDC, que deve ser aplicado harmonicamente com o Código Civil. Haverá, portanto, em relação ao contrato de transporte, um necessário diálogo das fontes entre o CDC e o Código Civil, sendo que este não poderá ser usado para prejudicar o consumidor. Cabe lembrar que no sistema do diálogo das fontes, sempre que alguma lei garanta direitos para o consumidor, ela poderá se somar ao microssistema do CDC, incorporando-se à tutela especial. Diálogo das fontes se dá em busca do melhor resultado, do resultado mais conforme à Constituição da República” (BRAGA, 2019:1254) • - A responsabilidade do transportador em relação ao passageiro será regulada pelo art. 14 do CDC e art. 730 a 756 do CC/2002. • -Deve sempre ser buscado a interpretação que melhor atenda aos interesses do consumidor IMPORTANTE - Os danos sofridos por aqueles que não são passageiros também ensejarão responsabilidade objetiva. Em relação aos não usuários do serviço (pedestres, ciclistas etc.), a responsabilidade do transportador é objetiva. Os não usuários, se vítimas de danos provocados pelo serviço de transporte, são consumidores por equiparação, bystanders (CDC, art. 17). Responsabilidade objetiva, portanto (CDC, art. 14). Igualmente objetiva à luz da Constituição. O STF chegou a entender, em posição criticável, que a responsabilidade do art. 37, § 6o, da Constituição seria objetiva apenas em relação ao usuário, sendo subjetiva para as demais vítimas. Reviu, porém, felizmente, a posição anterior, harmonizando-se com os rumos contemporâneos da responsabilidade civil (STF, RE 591.874, rel. Min. Ricardo Lewandowski, Plenário, DJ 18-12-2009, com repercussão geral).(BRAGA, 2019:1257) INÍCIO DA RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR - Início da execução do contrato, que depende de cada tipo de transporte Trem e Metrô – Ingresso do passageiro na estação de embarque “a nossa jurisprudência tem entendido que, no caso das estradas de ferro ou metrô, a responsabilidade do transportador inicia-se com o ingresso do passageiro na estação de embarque, após passar pela roleta. Correto o entendimento, tendo em vista que a estação pertence à companhia, sendo, ainda, certo que o passageiro, após adentrar a plataforma de embarque, fica por conta e risco do transportador”.(CAVALIERI FILHO 2019:418) • Ônibus – embarque do passageiro • “Tratando-se de transporte rodoviário – ônibus principalmente –, tendo em vista que a estação de embarque não pertence à empresa transportadora, a execução do contrato tem início com o embarque do passageiro no veículo e só termina com o seu efetivo desembarque. Consequentemente, se o motorista arranca com o ônibus no momento em que o passageiro está nele embarcando, e o faz cair e se ferir, haverá responsabilidade do transportador, porque já se havia iniciado a execução do contrato. O fato de ainda não ter sido paga a passagem é irrelevante, porque esse pagamento, como se viu, já é fase da execução da obrigação do passageiro”. (CAVALIERI FILHO 2019:418) • • TRANSPORTE AÉREO – INICIA-SE COM A OPERAÇÃO DE EMBARQUE “Os limites temporais da responsabilidade do transportador aéreo estão claramente fixados no art. 233 do Código Brasileiro de Aeronáutica e seus parágrafos. A execução do contrato, diz o referido artigo, compreende as operações de embarque e desembarque, além das efetuadas a bordo da aeronave. Operação de embarque é a que se realiza desde quando o passageiro, já despachado no aeroporto, transpõe o limite da área destinada ao público em geral e entra na respectiva aeronave, abrangendo o percurso a pé, por meios mecânicos ou com a utilização de viaturas (§ 1º). A operação de desembarque inicia-se com a saída de bordo da aeronave e termina no ponto de interseção da área interna do aeroporto e da área aberta ao público em geral (§ 2º). Em suma, a responsabilidade do transportador aéreo inicia-se com a operação de embarque e termina com a operação de desembarque, conforme acima caracterizados.”.(CAVALIERI FILHO 2019:418) TRANSPORTE DESINTERESSADO OU DE MERA CORTESIA • Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia. • Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas. • “(...)neste caso, havendo acidente e dano causado ao tomador da carona, entendemos deva ser aplicado o sistema de regras da responsabilidade aquiliana do Código Civil, o que significa dizer que o juiz, nos termos do art. 186, deverá perquirir a culpa (em sentido lato) do condutor para efeito de impor-lhe a obrigação de indenizar” (GAGLIANO, 2019:293) • Súmula 145 do STJ: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave” TRANSPORTE COM REMUNERAÇÃO INDIRETA • -Responsabilidade Objetiva • “(...) diferentemente, neste caso, o condutor, posto não seja diretamente remunerado, experimenta vantagem indireta, à custa do conduzido. Imagine, por exemplo, um representante de vendas que “faz questão de levar o seu cliente” até o seu stand”. (GAGLIANO, 2019:293) EXCLUDENTES • - FORTUITO EXTERNO • - FATO EXCLUSIVO DE TERCEIRO • - FATO EXCLUSIVO DA VÍTIMA FORTUITO EXTERNO • - RISCO ESTRANHOS Á ATIVIDADE DE TRANPORTE. • (...)o fortuito interno é aquele que guarda relação com a atividade desenvolvida pelo ofensor e, por isso, não é hábil para romper o nexo causal. Já o fortuito externo, justamente por não guardar relação com a atividade desenvolvida pelo ofensor, ostenta força para romper o nexo causal, liberando o suposto ofensor de responder pelo dano”.(BRAGA 2019:1261) FATO EXCLUIVO DE TERCEIRO • - Terceiro é “ pessoa que não guarde nenhum vínculo jurídico com o transportado” (CAVALIERI FILHO 2019:412) • - O fato culposo, em regra não afasta a responsabilidade. •Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. • “o fato culposo de terceiro se liga ao risco do transportador, relaciona-se com a organização do seu negócio, caracterizando o fortuito interno, que não afasta a sua responsabilidade(...)”. (CAVALIERI FILHO 2019:412) • AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. TRANSPORTE ONEROSO DE PASSAGEIROS. EXCLUDENTES DA OBRIGAÇÃO REPARATÓRIA. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ATO CULPOSO DE TERCEIRO. FORTUITO INTERNO. • RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR. CONFIGURAÇÃO. • 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). • 2. A responsabilidade do transportador em relação aos passageiros é contratual e objetiva, somente podendo ser elidida por fortuito externo, força maior, fato exclusivo da vítima ou por fato doloso e exclusivo de terceiro - quando este não guardar conexão com a atividade de transporte. Precedentes. • 3. Agravo interno não provido. • (AgInt no REsp 1768074/CE, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/12/2019, DJe 06/12/2019) • - O FATO DOLOSO DE TERCEIRO, NÃO RELACIONADO A ATIVIDADE DE TRANSPORTE, AFASTA A RESPONSABILIDADE • AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRÁTICA DE ATO LIBIDINOSO CONTRA PASSAGEIRA NO INTERIOR DE UMA COMPOSIÇÃO DE TREM DO METRÔ PAULISTA. • AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA. FATO EXCLUSIVO DE TERCEIRO E ESTRANHO AO CONTRATO DE TRANSPORTE. AGRAVO INTERNO PROVIDO PARA CONHECER DO AGRAVO E DAR PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. • 1. Nos termos da jurisprudência firmada nesta Corte Superior, a responsabilidade do transportador em relação aos passageiros é objetiva, somente podendo ser elidida por fortuito externo, força maior, fato exclusivo da vítima ou por fato doloso e exclusivo de terceiro - quando este não guardar conexidade com a atividade de transporte. • 2. Na hipótese, afasta-se a responsabilidade da concessionária por prática de ato libidinoso, cometido por terceiro contra usuária do serviço de transporte, ocorrido no interior do metrô. • 3. Agravo interno provido para conhecer do agravo e, em novo exame do feito, dar provimento ao recurso especial. • (AgInt no AREsp 1332491/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019) ASSALTOS E PEDRADAS - Somente se verifica responsabilidade quando ficar provada a conivência dos prepostos, omissão ou qualquer outra forma de participação que caracterize culpa do transportador. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. METROPOLITANO. ROUBO COM ARMA BRANCA SEGUIDO DE MORTE. ESCADARIA DE ACESSO À ESTAÇÃO METROVIÁRIA. CASO FORTUITO EXTERNO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE CIVIL. PRECEDENTES. APELO PROVIDO. 1. Nos termos da jurisprudência firmada nesta Corte Superior, a responsabilidade do transportador em relação aos passageiros é objetiva, somente podendo ser elidida por fortuito externo, força maior, fato exclusivo da vítima ou por fato doloso e exclusivo de terceiro - quando este não guardar conexidade com a atividade de transporte. - 2. Não está dentro da margem de previsibilidade e de risco da atividade de transporte metroviário o óbito de consumidor por equiparação (bystander) por golpes de arma branca desferidos por terceiro com a intenção de subtrair-lhe quantia em dinheiro, por se tratar de fortuito externo com aptidão de romper o nexo de causalidade entre o dano e a conduta da transportadora. 3. Recurso especial provido. (REsp 974.138/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 22/11/2016, DJe 09/12/2016) • AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. TRANSPORTE COLETIVO DE PASSAGEIROS. • 1.- A respeito do dever de indenizar em virtude de fortuito externo caracterizado pelo fato doloso de terceiro, tem-se que, na linha dos precedentes desta Corte, o arremesso de objeto contra veículo não se inclui entre os riscos normais da atividade de transporte de passageiros e, por isso, não gera, para aquele que explora essa atividade, em princípio, dever de indenizar. • 2.- Agravo Regimental improvido. • (AgRg nos EDcl no AREsp 156.998/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/08/2012, DJe 04/09/2012) FATO EXCLUSIVO DA VÍTIMA • “Havendo, portanto, participação causal da vítima, a responsabilidade do transportador pode ser atenuada ou até excluída, desde que o comportamento da vítima tenha sido, efetivamente, a causa determinante do evento.” (CAVALIERI FILHO 2019:409) REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS • BRAGA NETTO, Felipe Peixoto Novo tratado de responsabilidade civil / Felipe Peixoto Braga Netto, Cristiano Chaves de Farias, Nelson Rosenvald. – 4. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019). • CAVALIERI FILHO, , Sergio. Programa de Responsabilidade Civil, 13ª edição. São Paulo; Atlas, [2019. 9788597018790. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597018790/. Accesso em: 31 Mar 2020 • GAGLIANO, Stolze, P., FILHO, P., Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3 - responsabilidade civil. São Paulo; Saraiva, 2019. 9788553609529. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553609529/. Accesso em: 31 Mar 2020)
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