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Responsabilidade Civil Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Christiane Cavalcante Marcellos Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Revisão Técnica: Prof. Dr. Reinaldo Zychan Responsabilidade Civil Contratual Responsabilidade Civil Contratual • Ingressar no estudo da Responsabilidade Civil Contratual, com destaque nos temas mais relevantes enfrentados por nossos Tribunais. OBJETIVO DE APRENDIZADO • A Importância de Contratar; • Considerações Gerais sobre a Responsabilidade Civil Contratual; • Responsabilidade Civil do Transportador; • Responsabilidade Civil dos Médicos e Cirurgiões Plásticos; • Responsabilidade Civil dos Advogados; • Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo. UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual A Importância de Contratar O contrato é um importante instrumento de circulação de riqueza! Um país onde as pessoas não contratam é um país em crise. Pela importância, interessa à Sociedade que o Contrato seja celebrado e cumpri- do. Aí entra o papel do Direito, de criar mecanismos legais para que o contrato seja extinto por seu cumprimento, não pelo seu inadimplemento. Quando um contrato não é cumprido não é apenas a parte inocente que perde, mas toda a Sociedade. Figura 1 – Contrato e riqueza Fonte: Pixabay Nesta Unidade, você vai estudar a Responsabilidade Civil Contratual, ou seja, a responsabilidade que decorre de um contrato que não foi cumprido. Temos uma infinidade de contratos, mas alguns são mais importantes para a vida acadêmica e prática e por isso foram escolhidos: • Responsabilidade civil do transportador; • Responsabilidade civil dos médicos e cirurgiões plásticos; • Responsabilidade civil dos advogados; • Responsabilidade civil nas relações de consumo. Espero que entenda e goste do tema, pois garanto que, na vida prática, eles esta- rão aguardando você. 8 9 Considerações Gerais sobre a Responsabilidade Civil Contratual Conforme estudado, a reponsabilidade contratual é aquela que deriva de um con- trato não cumprido, conforme Artigos 394 e ss. do Código Civil. É o caso de transportador que não cumpre a obrigação de transportar o passagei- ro são e salvo ao local de origem. Para melhor entendimento, vou começar explicando as diferenças entre a Res- ponsabilidade Civil Contratual e a Responsabilidade Civil Extracontratual. A primeira distinção diz respeito ao dever jurídico violado. No caso da Responsabilidade Civil Contratual, o dever jurídico violado foi aquele estabelecido pelas partes, no contrato. Figura 2 – Assinatura do contrato Fonte: Pixabay Por outro lado, na extracontratual, o dever jurídico violado foi aquele determinado em Lei. Nas palavras de Cavalieri Filho: Na responsabilidade contratual, como já destacado, o dever jurídico vio- lado pelo devedor tem por fonte a própria vontade dos indivíduos. São eles que criam, para si, voluntariamente, certos deveres jurídicos. A res- ponsabilidade extracontratual, por sua vez, importa violação de um dever estabelecido na lei, ou na ordem jurídica, como, por exemplo, o dever ge- ral de não causar dano a ninguém. Pois bem, todas as vezes que o dever jurídico violado tem a sua fonte em um contrato, em um negócio jurídico pelo qual o próprio devedor se obrigou, teremos a responsabilidade con- tratual (CAVALIERI FILHO, Sérgio, 2020, p. 321). 9 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual Outra diferença: na responsabilidade civil extracontratual não existe relação jurí- dica entre as partes. Exemplo fácil de entender é do acidente de trânsito, já que os motoristas envolvidos não se conhecem, nunca tiveram vínculo jurídico. Já na res- ponsabilidade civil contratual, as partes previamente criaram um vínculo (contrato), só que ele não foi cumprido. A distinção mais relevante está na questão da culpa. Na responsabilidade extra- contratual, a culpa do causador do dano deve ser provada. Na reponsabilidade civil contratual, a posição da vítima é mais confortável, pois não precisa se preocupar em provar a culpa, basta provar que houve um contrato e que ele não foi cumprido. O inadimplemento presume-se culposo. Assim, na contratual, para se eximir da responsabilidade, o inadimplente deve de- monstrar uma das excludentes já estudadas, legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular de um direito, caso fortuito e força maior, culpa exclusiva da vítima ou fato de terceiro. A partir de agora, a responsabilidade civil do transportador, dos médicos e dos cirurgiões plásticos, dos advogados e nas relações de consumo serão estudadas indi- vidualmente, abordando os aspectos mais importantes de cada tipo. Responsabilidade Civil do Transportador A responsabilidade do transportador é tríplice: • Em relação aos seus empregados; • Em relação a terceiros; e • Em relação aos passageiros. Figura 3 – Ônibus com passageiros Fonte: Pixabay 10 11 Iremos estudar a responsabilidade em relação aos passageiros (contrato de trans- porte de pessoas), pois daí decorre a responsabilidade contratual do contrato de transporte regido pelo Código Civil. Do contrato de transporte de pessoas O Código Civil de 2002 passou a disciplinar o Contrato de Transporte de pessoas a partir do Artigo 730. Pelo contrato de transporte de pessoas, o transportador se obriga, mediante pa- gamento, a transportar o passageiro, são e salvo, ao seu destino. A obrigação assumida pelo transportador é de resultado, pois, além de agir com toda diligência e cuidado, o transportador deve levar o passageiro incólume ao seu destino. Isso porque, no contrato, está implícita a chamada cláusula de incolumidade: Segundo a qual o transportador deve empregar todos os expedientes que são próprios da atividade para preservar a integridade física do passa- geiro, contra os riscos inerentes ao negócio, durante todo o trajeto, até o destino final da viagem (STJ, REsp 1786722/SP, 3ª Turma, Relatora Ministra Nancy Andrighi, j. 09/06/2020) Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu Incólume: Adjetivo. Sem ferimentos; desprovido de lesões corporais ou morais; ileso, intacto: a criança sobreviveu incólume à tragédia. Que se mantém da mesma forma; que se preserva igual; que não sofre modificações; inalterado: seu talento continua incólume. Etimologia (origem da palavra incólume). Do latim incolumis, “são e salvo”. Fonte: Dicionário Online de Português Responsabilidade objetiva do transportador A responsabilidade objetiva do transportador tem origem no Decreto Legislativo nº 2.681, de 1912, referente às estradas de ferro. Posteriormente, mas na mesma sintonia, veio o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90) trazendo a respon- sabilidade objetiva do fornecedor de serviço (Art. 14). O Contrato de Transporte passou a ter regulamentação específica somente com o Código Civil atual (2002). Embora sem disposição expressa, aplica-se a responsa- bilidade objetiva aos contratos de transporte. Sobre isso, não há dúvida. Assim, o transportador responde independentemente de culpa por danos causados as pessoas e suas bagagens, salvo as hipóteses de exclusão, que iremos estudar agora. 11 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual Excludentes da responsabilidade do transportador Segundo o caput do Artigo 734: “O transportador responde pelos danos causa- dos às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade”. De modo geral, a relação existente entre transportador e passageiro é de consu- mo, que prevê expressamente a responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços (Art. 14), sendo excludente a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Em consonância com os dois dispositivos, temos que rompem o nexo de causali- dade e por isso são excludentes da responsabilidade civil do transportador: • Força maior (caso fortuito ou força maior); • Culpa exclusiva da vítima (passageiro); • Culpa exclusiva de terceiro (quando estranho à atividade do transportador); Força maior (casofortuito ou força maior) Como estudado, o caso fortuito ou força maior são excludentes do nexo de cau- salidade, pois o dano não foi causado pela conduta do agente. A responsabilidade do transportador tem sido analisada de acordo com a visão moderna, que divide o fortuito em fortuito interno e fortuito externo (força maior). O fortuito interno não exclui a responsabilidade do transportador, pois estaria rela- cionado à atividade desenvolvida pelo transportador, faz parte do risco de sua atividade. Para o STJ, o fato de o passageiro ter sido empurrado por aglomeração e sofrido severos danos físicos: Constitui típico exemplo de fortuito interno, o qual é incapaz de romper o nexo de causalidade e de eximir a concessionária de sua responsabili- dade civil” (STJ, REsp 1.715.816/SP, 1ª Turma, Relatora Ministro Sérgio Kukina, j. 29/06/2020) Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu O fortuito externo, que se equipara à força maior, exclui a responsabilidade, pois não guarda conexão com a atividade do transportador. O STJ considerou fortuito externo a prática de crime ocorrido no interior do transportador, especificando o ato libidinoso, roubo, furto e lesão corporal, por configurar ato de terceiro estranho à atividade do transportador (STJ, 4ª Turma, REsp 1.748.295-SP, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, por maioria, julgado em 13/12/2018. Disponível em: https://bit.ly/2RWeUZu 12 13 Quer saber mais sobre o caso da passageira que sofreu ato libidinoso dentro do trem? Se fosse Juiz, você excluiria a responsabilidade do transportador? O Acórdão não foi unânime, inclusive apresenta o voto divergente. Leia o Acórdão na ínte- gra, acessando o link: https://bit.ly/2RVmkMG Culpa exclusiva da vítima (passageiro) A culpa exclusiva da vítima, no caso, o passageiro, exclui a responsabilidade por romper o nexo de causalidade. Assim, para não responder, o transportador deve provar que o dano foi causado por ato praticado única e exclusivamente pelo passageiro. Ora, o passageiro também tem obrigações a cumprir, como estabelece o Artigo 738 do Código Civil: A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço. Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atri- buível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o juiz re- duzirá equitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano. Cuidado, não confunda culpa exclusiva com culpa concorrente. Somente a culpa exclusiva do passageiro é excludente da responsabilidade do transportador. A culpa concorrente, conforme parágrafo único do citado Artigo 738, apenas “reduzirá equitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver con- corrido para a ocorrência do dano”. Em caso julgado pelo STJ, por exemplo, uma passageira de uma Companhia Aérea não teve direito à indenização por lesões sofridas no embarque. Pelo que consta no Acórdão, ficou demonstrado que a passageira: Pretendeu sair da fila de embarque com o objetivo de ingressar na aero- nave antes dos demais passageiros, por meio da porta traseira do avião, por sua livre e espontânea vontade, adotando caminho diverso dos outros viajantes, desviando-se do caminho indicado pelos prepostos da TAM S/A quando do momento do embarque, enquadrando-se essa situação como fato exclusivo da vítima (STJ, 2ª Turma, REsp 1.563.699/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/10/2016. Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu Sobre a culpa concorrente, exemplo típico é o caso do “pingente”, passageiro que viaja pendurado nas portas ou janelas do trem, devido à superlotação. 13 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual De acordo com o STJ: A transportadora concorreu para o evento ao permitir que suas composi- ções férreas trafegassem com “pingentes”, como é comum observar-se nas ferrovias do país, e a vítima colaborou para o resultado, colocando-se nessa situação de perigo sem maior necessidade, pois, segundo afirmou o r. acór- dão, o movimento era reduzido e não havia superlotação (STJ, 4ª Turma, REsp 324166/SP, Rel. Min. Ruy Rosado Aguiar, julgado em 18/10/2001). Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu Quer saber mais sobre o caso do passageiro “pingente”? Infelizmente, ele faleceu. Por isso, a mãe pediu indenização para a companhia de trem. Leia o Acórdão na íntegra, acessando o link: https://bit.ly/2RWYakM Culpa exclusiva de terceiro Em regra, a culpa de terceiro não é excludente. O transportador indeniza a vítima e tem ação regressiva contra quem deu causa ao acidente. É o que preceitua o Art. 735. “A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva”. Para saber se o ato de terceiro exclui ou não a responsabilidade, deve ser analisa- do o caso concreto, conforme jurisprudência do STJ: O fato de terceiro, conforme se apresente, pode ou não romper o nexo de causalidade. Exclui-se a responsabilidade do transportador quando a conduta praticada por terceiro, sendo causa única do evento danoso, não guarda relação com a organização do negócio e os riscos da atividade de transporte, equiparando-se a fortuito externo. De outro turno, a culpa de terceiro não é apta a romper o nexo causal quando se mostra conexa à atividade econômica e aos riscos inerentes à sua exploração, carac- terizando fortuito interno. (STJ, REsp 1747637/SP, 3ª Turma, Relatora Ministra Nancy Andrighi, j. 25/06/2020) Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu Se, por exemplo, um veículo ultrapassa o farol vermelho e vem a colidir com o ônibus, causando danos aos passageiros, o transportador é quem deve indenizar. Afinal, mesmo o dano tendo sido causado por um terceiro, como o fato está rela- cionado à atividade do transportador, não exclui a responsabilidade, nos termos do Artigo 735. O ato que exclui a responsabilidade é aquele que não tem relação com a atividade do transportador, como roubo e furto no interior do ônibus. Nota-se que se trata de fortuito externo porque o ato praticado pelo terceiro é totalmente alheio à atividade desenvolvida pelo transportador. 14 15 Responsabilidade pelo transporte gratuito – “Carona” Você já deu carona para alguém? Já pegou carona? Figura 4 – Pegando carona Fonte: Pixabay Enquanto você tentar lembrar, veja o que diz o Código Civil no Art. 736: Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuita- mente, por amizade ou cortesia. Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, em- bora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas. Pela leitura, notam-se dois tipos diferentes tratados no Artigo 736 do Código Civil, sendo: • O transporte puramente gratuito ou de mera cortesia (caput do Art. 736); • O transporte aparentemente gratuito (parágrafo único do Art. 736). No contrato de transporte puramente gratuito, previsto no caput, feito por amiza- de ou cortesia, não se aplicam as normas do contrato de transporte. No transporte aparentemente gratuito, disciplinado pelo parágrafo único, o trans- portador tem algum tipo de interesse patrimonial no transporte. Ele aufere vantagem. É aparentemente gratuito, por exemplo, quando o carona faz o pagamento do combustível, do estacionamento, do pedágio ou da refeição do motorista. Para esse tipo de transporte, aplicam-se as normas do contrato de transporte. Agora volto à pergunta anterior, só que mais completa. Você já deu carona para alguém? Já pegou carona? Qual tipo de carona? Se foi aquela em que o transportador aufere alguma vantagem patrimonial, apli- cam-se as normas do contrato de transporte já estudadas. Se foi aquela feita por amizade ou cortesia, não se aplicam as normas do contrato de transporte. 15 UNIDADEResponsabilidade Civil Contratual Imagino que você esteja se perguntando: então, no transporte feito por amizade e cortesia, se houver um acidente, o motorista não responde? Não é bem assim. Se ficar demonstrado que o motorista agiu com dolo ou culpa grave, aí é justo que responda. Esse é o entendimento consagrado pela Jurisprudência, conforme Súmula 145 do STJ: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.” Assim, a responsabilidade de quem dá carona a um amigo, por exemplo, é subje- tiva, nos termos do Artigo 186 e caput do Artigo 927, ambos do Código Civil. Enunciado 559 do CJF: “No transporte aéreo, nacional e internacional, a responsabilidade do transportador em relação aos passageiros gratuitos, que viajarem por cortesia, é objetiva, devendo atender à integral reparação de danos patrimoniais e extrapatrimoniais”. Responsabilidade Civil dos Médicos e Cirurgiões Plásticos “Com 3 ações de erro médico por hora, Brasil vê crescer polêmico mercado de segu- ros”. Esse foi o título da reportagem extraída do site da BBC News Brasil em São Paulo, do dia 19 de setembro de 2018 por Mariana Alvim. Disponível em: https://bbc.in/3cqOQzf Figura 5 Fonte: Pixabay O que mais chama a atenção são os números. A reportagem explica que, no ano de 2017, as acusações por erro médico somaram 70 novas ações por dia no Brasil, ou 3 por hora. 16 17 Como os números não param de crescer, estudar o assunto é de grande relevân- cia na vida acadêmica e prática. A responsabilidade civil dos médicos será estudada sob dois aspectos. A primeira, da responsabilidade do médico que presta serviço como profissional liberal, e a segunda, a responsabilidade médica empresarial, no caso de Hospitais e Clínicas. Responsabilidade civil do médico como profissional liberal Em regra, o médico tem obrigação de meio, significa dizer que deve agir com toda cautela e cuidado, além de utilizar todos os recursos disponíveis na Medicina para curar o paciente, mas não pode garantir o resultado, que é a cura. Figura 6 – Médico Fonte: Pixabay Assim sendo, na qualidade de profissional liberal, se vier a causar dano ao pa- ciente, a responsabilidade é contratual e subjetiva, em conformidade com o § 4º do Art. 14 do Código de Defesa do Consumidor: “A responsabilidade pessoal dos pro- fissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa”. O Superior Tribunal de Justiça vem decidindo que a relação entre médico e paciente é de meio, e não de fim (exceto nas cirurgias plásticas embelezadoras), o que torna imprescin- dível para a responsabilização do profissional a demonstração de ele ter agido com culpa e existir o nexo de causalidade entre a sua conduta e o dano causado – responsabilidade sub- jetiva, portanto (REsp 1184932/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Vieira, julgado em 13/12/2011. Disponível em: https://bit.ly/2RWeUZu Já na obrigação de resultado, aplicada em caso de Cirurgia Plástica Estética, a questão é tratada de forma diferente, conforme o STJ: 17 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual Não se vislumbra responsabilidade objetiva pelo insucesso da cirurgia, mas mera presunção de culpa médica, o que importa a inversão do ônus da prova, cabendo ao profissional elidi-la de modo a exonerar-se da res- ponsabilidade contratual pelos danos causados ao paciente, em razão do ato cirúrgico. (STJ, REsp 985888/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/02/12) Nas cirurgias de natureza mista – estética e reparadora, a responsabi- lidade do médico não pode ser generalizada, devendo ser analisada de forma fracionada, sendo de resultado em relação à sua parcela estética e de meio em relação à sua parcela reparadora. (REsp 1.097.955/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/9/2011, DJe de 3/10/2011) Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu A responsabilidade civil dos hospitais e das clínicas médicas Se o médico é parte integrante do quadro de profissionais do Hospital ou Clínica, aplica-se a regra estudada no Inciso III do Artigo 932, ou seja, o Hospital responde pelos atos praticados pelos seus empregados. Figura 7 – Leito de hospital Fonte: Pixabay Ademais, é flagrante a aplicação do Art. 14 do CDC, que assim dispõe: O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficien- tes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Assim, os Hospitais e as Clínicas respondem objetivamente pelos danos causados pelos médicos aos pacientes, lembrando-se de que, para que sejam responsabiliza- dos, a culpa do médico deve ser demonstrada. 18 19 Significa dizer que o Hospital somente será responsabilizado se ficar demonstrado que as complicações sofridas pela paciente, por exemplo, decorreram do procedi- mento escolhido pelo médico. Ao contrário, se a conduta do profissional se mostrou coerente, inexistindo nexo de causalidade, não há responsabilidade do Hospital. Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉ- DICO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS AJUIZADA CONTRA MÉDICO E HOSPITAL. QUADRO DE SEPTICE- MIA E HISTERECTOMIA APÓS CIRURGIA CESÁREA. CULPA DO MÉDICO NÃO COMPROVADA. FALHA DA PRESTAÇÃO DE SERVI- ÇO NÃO EVIDENCIADA. DEVER DE INDENIZAR NÃO CONFIGU- RADO. 1. A responsabilidade civil do hospital demandado, fornecedor de serviços de saúde, deve ser analisada com base na teoria objetiva, in- dependentemente de culpa, nos termos do que dispõe o Art. 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor. A responsabilidade do fornecedor será afastada somente quando comprovada a inexistência de defeito na prestação do serviço ou a culpa exclusiva do consumidor, ou de terceiro (Art. 14, § 3º do CDC). 2. Já referentemente a responsabilidade civil do médico demandado, esta deve ser analisada com base na teoria subjetiva, ou seja, mediante verificação de culpa, nos termos do que dispõem os Ar- tigos 186 do Código Civil e 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor. 3. Caso em que não restou evidenciada conduta negligente, imperita ou imprudente do médico que atendeu a autora, tampouco falha na prestação de serviço por parte do hospital réu. 4. Não restando comprovado nos autos o nexo de causalidade entre os procedimentos realizados pelo mé- dico e as complicações verificadas posteriormente a alta médica, inviável o reconhecimento do dever de indenizar. 5. Sentença de improcedência mantida. APELAÇÃO DESPROVIDA. RECURSO ADESIVO DESPRO- VIDO.( TJRS, Apelação Cível, Nº 70083603993, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Thais Coutinho de Oliveira, Julgado em: 02-07-2020). Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu Há divergência na Doutrina e na Jurisprudência sobre o médico que não possui vínculo com o Hospital, mas que apenas utiliza o espaço físico para a realização de procedimento específico, como parto e demais cirurgias. Segundo decisão da 3ª Turma do STJ: A responsabilidade do hospital somente tem espaço quando o dano de- correr de falha de serviços cuja atribuição é afeta única e exclusivamente à instituição de saúde. Quando a falha técnica é restrita ao profissional médico sem vínculo com o hospital, não cabe atribuir ao nosocômio a obrigação de indenizar. (STJ, REsp 1.635.560/SP, Rel. Min. Nancy An- drighi, j. 10/11/2016) Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu 19 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual Responsabilidade Civil dos Advogados Em regra, a obrigação do advogado é de meio, pois ele não tem a obrigação de ganhar a causa, mas sim de agir com zelo e de empregar todos os meios disponíveis no Direito para o bom andamento do Processo. Figura 8 – Justiça Fonte: Pixabay O exercício da Advocacia é regulado pela Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia), sendo a responsabilidade civil do advogado contratual e subjetiva, nos termos do caputdo Art. 32: “O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa”. Diferentemente da responsabilidade civil do médico, há divergência sobre a apli- cação do CDC na relação jurídica entre advogado e cliente. A edição n. 39 da Jurisprudência do STJ em tese, traz entendimento sobre Direito do Con- sumidor I, segundo o qual: “8) não se aplica o Código de Defesa do Consumidor à relação contratual entre advogados e clientes, a qual é regida pelo Estatuto da Advocacia e da OAB – Lei n. 8.906/94”. Disponível em: https://bit.ly/2RWeUZu Em sentido contrário, está a doutrina de Sérgio Cavalieri, que defende a aplicabi- lidade do Código de Defesa do Consumidor na relação advogado e cliente: Quando atua por conta própria, sem vínculo empregatício, o advogado é um profissional liberal que presta serviços diretamente aos seus clientes, mormente pessoas físicas, pelo que se submete também aos princípios do Código do Consumidor, principalmente o da boa-fé objetiva, da informação, da transparência e do sigilo profissional. Embora parte da doutrina (minoritária) sustente não se submeter o advogado ao CDC, 20 21 veremos que não há a menor incompatibilidade entre este diploma legal e o Estatuto da Advocacia, mas que, pelo contrário, um complementa o outro. (CAVALIERI FILHO, 2020, p. 437) A reponsabilidade civil do advogado pela perda de uma chance Ninguém espera errar, muito menos quando o erro traz consequências irreversíveis. No exercício da Advocacia, a perda de prazo é um erro grave, em especial quando se refere a peças fundamentais, como a Contestação, o Recurso e a Propositura de Ação. No entanto, o fato de o advogado ter perdido o prazo, por si só, não acarreta o dever de indenizar segundo a teoria da perda de uma chance. Para que seja passível, a chance perdida deve ser séria e real, não hipotética. O STJ tem se manifestado da seguinte forma: Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condu- tas apontadas como negligentes, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem não experimentada, as demandas que invocam a teoria da “perda de uma chance” devem ser solucionadas a partir de uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do processo, eventual- mente perdidas em razão da desídia do causídico. Vale dizer, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação, como no caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance. É ab- solutamente necessária a ponderação acerca da probabilidade - que se supõe real - que a parte teria de se sagrar vitoriosa. (STJ, 4ª Turma, REsp n. 1.190.180, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/11/2010). Quer saber mais sobre o caso dos advogados que perderam o prazo para contestar? • Leia o Acórdão na íntegra, disponível em: https://bit.ly/30mjZ27 • Sobre a perda do prazo para recorrer, disponível em: https://bit.ly/33UAdQW Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo A relação de consumo é formada pelo consumidor e pelo fornecedor, tendo por objeto um produto ou um serviço. O Código de Defesa do Consumidor, ao contrário do Código Civil, adotou como regra a responsabilidade civil objetiva, tendo como única exceção a responsabilidade civil do profissional liberal, que responde mediante a prova de culpa (§ 4º do Art. 14). 21 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual Figura 9 – Consumo Fonte: Pixabay São duas as responsabilidades disciplinadas pelo Código de Defesa do Consumidor: • A responsabilidade civil pelo fato do produto e do serviço (Art. 12 e ss.), sempre que houver um defeito de segurança; • A responsabilidade por vício do produto e do serviço (Art. 18 e ss.), que com- preende os vícios por inadequação. É extremamente importante que você entenda a diferença entre a responsabilida- de civil pelo fato (defeito) e pelo vício. • O vício por inadequação é intrínseco ao produto: Atinge a qualidade e a quantidade. Por exemplo: o consumidor A adquire um veículo zero km e ingres- sa na rodovia. Constata-se uma falha no sistema de freio, mas o consumidor consegue parar o veículo no acostamento, sem danos; • O defeito é mais grave, o vício extrapola e atinge a pessoa do consumidor: Exemplo de acidente de consumo: o consumidor B adquire o mesmo veículo zero km do consumidor A. Mesmo dirigindo em velocidade compatível com o local, a falha no freio causa o capotamento do veículo e o consumidor B sofre lesões corporais graves. Conclusão: no caso do motorista A, o vício atingiu somente o freio (reponsabili- dade pelo vício do produto). Já o motorista B não teve a mesma sorte: o vício causou um acidente de consumo, o que torna o produto defeituoso (responsabilidade pelo fato do produto). Da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço (acidente de consumo) Quando se fala da responsabilidade civil pelo fato do produto e do serviço, é pre- ciso ter em mente que a falha na segurança do produto e do serviço foi a causa do dano, pois causou um acidente de consumo. 22 23 A reponsabilidade pelo fato do produto está disciplinada no Artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor, que trata da responsabilidade civil objetiva decorrente de produtos defeituosos: Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por in- formações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Você percebeu que no rol de fornecedores do Artigo 12 faltou o comerciante? Sim, em regra, ele não tem responsabilidade pelo fato do produto, salvo nas hi- póteses do Art. 13. São elas: I – o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II – o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis. A responsabilidade do fornecedor pelo fato do produto é objetiva, sendo excluída somente quando o fornecedor provar: I – que não colocou o produto no mercado; II – que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (§ 3º do Art. 12). Em um caso julgado pelo TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Ter- ritórios), o fabricante foi condenado a indenizar o consumidor por ter colocado no Mercado de consumo veículo que pegou fogo em via pública, com apenas 2 (dois) anos de uso. Segundo o Tribunal: A fabricante colocou no mercado de consumo produto que não garan- tiu a devida segurança aos consumidores, vindo a pegar fogo quanto trafegava em via pública, com apenas dois anos de uso, sem que exista comprovação de má utilização pelos autores, que, ademais, realizaram todas as revisões periódicas exigidas pela fabricante. (Acórdão 1125547, 20161410012953APC, Relator: ARNOLDO CAMANHO, 4ª Turma Cí- vel, data de julgamento: 19/9/2018, publicado no DJE: 24/9/2018.) 23 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual Figura 10 – Veículo em chamas Fonte: Pixabay A responsabilidade civil pelo fato do serviço é tratada pelo Art. 14. Do mesmo modo, aplica-se a responsabilidade civil objetiva aos fornecedores de serviços, que só ficarão isentos quando provar que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste ou, então, é culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (§ 3º do Artigo 14). Apesar de não constar expressamente no CDC, o caso fortuito ou força maior são excludentes da reponsabilidade civil, pois, como visto, rompem o nexo de causalidade. RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. AQUISIÇÃO DE CERVEJA COM CORPO ESTRANHO. NÃO INGESTÃO. EXPOSIÇÃO DO CON- SUMIDOR A RISCO CONCRETO DE LESÃOÀ SUA SAÚDE E SE- GURANÇA. FATO DO PRODUTO. EXISTÊNCIA DE DANO MORAL. VIOLAÇÃO DO DEVER DE NÃO ACARRETAR RISCOS AO CONSU- MIDOR. (STJ – Resp: 1801593 SP 2019/0061633-0, Relatora: ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Publicação DJ 14/08/2019. Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu O Tribunal de Justiça de São Paulo julgou um caso bastante curioso, de uma con- sumidora que encontrou um aracnídeo (escorpião) em um sanduíche comprado em uma grande rede de Lanchonete. Considerando que a Lanchonete não provou nenhuma das excludentes, foi con- denada a pagar indenização de 5 mil reais de danos morais. No Material Complementar, encontra-se o link para o acesso do Acórdão, na íntegra, mas para matar a sua curiosidade, segue a Ementa: Ação de reparação por danos. Autora que compra um lanche “Big Mac” e encontra no meio do sanduíche um “ser” estranho, aracnídeo ou coleóptero, vindo a passar mal. Incidência do Artigo 12 do CDC. Responsabilidade objetiva da ré. Ausência de prova a elidi-la. Danos materiais comprovados. Obrigação de restituição dos valores despendidos com a aquisição do lanche. Danos morais configurados. Fato que não configura simples dissabor, mas verdadeiro dano moral indenizável. Precedente desta Câmara. 24 25 Apelo não provido. (TJSP, Apelação Cível n. 1024858-90.2014.8.26.0001, 32ª Câmara de Direito Privado, Relator(a): Ruy Coppola, j. 15/10/2015). Detalhe importante: o “produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado” (cf. §2º do Art. 12), assim como o “serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas (§ 2º do Art. 14). Em demanda que trata da responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (arts. 12 e 14 do CDC), a inversão do ônus da prova decorre da lei (ope legis), não se aplicando o Art. 6º, inciso VIII, do CDC.” (Edição n. 39, Jurisprudência em Tese do STJ - Direito do Consumidor I. Disponível em: https://bit.ly/2RWeUZu Não podemos nos esquecer da responsabilidade do profissional liberal, que é a exceção do Código de Defesa do Consumidor. Nos termos do § 4º do Art. 14: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.” Vale dizer que os profissionais liberais como médico, advogado, contador etc. só respondem se ficar demonstrado que agiram com culpa em sentido amplo (respon- sabilidade civil subjetiva). Da responsabilidade por vício do produto e do serviço Vamos falar agora da responsabilidade civil por vícios de inadequação dos produ- tos ou dos serviços. O Legislador divide a parte dos vícios da seguinte forma: • Vício de qualidade do produto (Art. 18); • Vício de quantidade (Art. 18 e 19); • Vício do serviço (Art. 20). Estudaremos o mais importante de cada um deles. Da responsabilidade pelo vício de qualidade do produto O assunto é tratado no Artigo 18, que assim dispõe em seu caput: Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis res- pondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparida- de, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. 25 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual Seguindo a linha do Código de Defesa do Consumidor, trata-se de reponsabilida- de civil objetiva. A novidade está na solidariedade, pois, em se tratando de vício do produto, os fornecedores respondem solidariamente, incluindo o comerciante. Figura 11 – Celular não liga Fonte: Pixabay Caso o consumidor adquira um produto com vício de qualidade, deve, primeira- mente, dar ao fornecedor o prazo de 30 (trinta) dias para sanar o vício. Não sendo reparado o vício, caberá ao consumidor escolher uma das 3(três) alter- nativas constantes do § 1º do Art. 18. São elas: I – Substituição do produto por outro da mesma espécie e em perfeitas condições; II – A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III – Abatimento proporcional ao preço. O prazo de 30 dias pode ser alterado em comum acordo entre fornecedor e con- sumidor. A Lei só exige que não seja inferior a 7 (sete) e nem a 180 (cento e oitenta) dias. Aliás, pode até nem existir prazo, podendo o consumidor fazer uso imediato das alternativas acima, nos termos do § 3º do Art. 18, quando “a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial”. Muito comum fazer o uso direto das alternativas em produtos como cadeiras de rodas, por se tratar de produto essencial para a locomoção do consumidor. 26 27 Em se tratando de fornecimento de produto in natura, como frutas e legumes, “será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando iden- tificado claramente seu produtor”, conforme Art. § 5° do Art. 18. Quais produtos são impróprios ao uso e consumo? O Legislador apresenta um rol no § 6º. do Art. 18: I – os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II – os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aque- les em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III – os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. Da responsabilidade pelo vício de quantidade do produto Como se vê, pode acontecer de o consumidor comprar um produto com vício de quantidade, o que significa que o peso, o tamanho ou o volume do produto não está de acordo com o que efetivamente foi comprado. Título de reportagem Fonte: Consumo em pauta, 2020 No caso de vício de quantidade do produto, a responsabilidade dos fornecedores também é solidária, conforme o Art. 19, que permite ao consumidor escolher uma das seguintes alternativas: I – o abatimento proporcional do preço; II – complementação do peso ou medida; III – a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; IV – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. 27 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual Há uma exceção quanto à responsabilidade solidária, que é do fornecedor imediato. Segundo o § 2° do Art. 19, ele será o único responsável “Quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais”. É o caso do açougue que efetuar a pesagem com problemas na balança, causando prejuízo ao consumidor, que paga por um peso maior, e recebe menos. Na prova da OAB caiu uma questão sobre a exceção do § 2° do Art. 19. Veja que interessante: (FGV – 2016 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XIX – Primeira Fase) Antônio desenvolve há mais de 40 anos atividade de comércio no ramo de hortifrúti. Seus clientes chegam cedo para adquirir verduras frescas entregues pelos produtores rurais da região. Antônio também vende no varejo, com pesagem na hora, grãos e cereais adquiridos em sacas de 30 quilos, de uma marca muito conhecida e respeitada no mercado. Determinado dia, a cliente Maria des- confiou da pesagem e fez a conferência na sua balança caseira, que apontou suposta diver- gência de peso. Procedeu com a imediata denúncia junto ao Órgão Oficial de Fiscalização, que confirmou que o instrumento de medição do comerciante estava com problemas de calibra- gem e que não estava aferido segundo padrões oficiais, gerando prejuízo aos consumidores. A cliente denunciante buscou ser ressarcida pelo vício de quantidade dos produtos. Com base na hipótese sugerida, assinale a afirmativa correta. a) Trata-se de responsabilidade civil solidária, podendo Maria acionar tanto o comer-ciante quanto os produtores. b) Trata-se de responsabilidade civil subsidiária, pois o comerciante só responde se os demais fornecedores não forem identificados. c) Trata-se de responsabilidade civil exclusiva do comerciante, na qualidade de forne- cedor imediato. d) Trata-se de responsabilidade civil objetiva, motivo pelo qual inexistem excludentes de responsabilidade. Correta: C (XIX Exame de Ordem Unificado, Tipo 1, Branca, questão n. 47.) Fonte: https://bit.ly/3i1kFzQ Da responsabilidade pelo vício do serviço Nos termos do Art. 20 do CDC, o fornecedor responde pelo vício de quali- dade na prestação de serviços, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I – a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III – o abatimento proporcional do preço. Caso prefira, o consumidor poderá confiar a reexecução dos serviços a terceiros de confiança, por conta e risco do fornecedor (§ 1° do Art. 20). 28 29 Se o serviço for de reparar um produto, o Legislador trata, de forma diferenciada, conforme Artigo 21 de CDC: No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor. Também se aplica o CDC nos serviços públicos (água, energia elétrica, gás, telefo- nia, transporte público etc.). Aliás, o CDC obriga que os serviços sejam adequados, eficientes e seguros, além de contínuos, quando essenciais. Nos casos de descumpri- mento, seja total ou parcial, “serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código” (Art. 22). Por fim, conforme O Art. 23, “A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qua- lidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade”. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRANSPORTE AÉREO. INEXECUÇÃO DO SERVIÇO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. AGÊNCIA DE TURISMO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM RECONHECIDA. 1. A jurisprudência deste Tribunal admite a responsabilidade solidária das agências de turismo apenas na comercialização de pacotes de viagens. 2. No caso, o serviço prestado pela agência de turismo foi exclusivamente a venda de passagens aéreas, circunstância que afasta a sua responsabili- dade pelo efetivo cumprimento do contrato de transporte aéreo e autori- za o reconhecimento da sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da ação indenizatória decorrente de cancelamento de voo. 3. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg no REsp 1453920 / CE, AGRAVO REGIMENTAL NO RE- CURSO ESPECIAL, 2012/0117453-8, 3ª T, Relator Ministro Ricardo Villas Boas Cueva, j. 10/12/2014. Fonte: https://bit.ly/2RWeUZu 29 UNIDADE Responsabilidade Civil Contratual Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Responsabilidade pelo Fato do Produto – Parte 1 https://youtu.be/RfVVZc_L59o Justiça seja Feita – Erro Médico Documentário: Justiça seja feita – Erro médico, apresentado pelo TV Justiça, Apresentado pelo Desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, Miguel Kfoutri Neto. https://youtu.be/8DIzesCkARY Leitura Acórdão Sobre Reponsabilidade Civil pelo Fato do Produto (consumidor que encontrou um aracnídeo no lanche). https://bit.ly/365W7DA Recurso Especial Nº 1.715.816 – SP (2017/0268928-8) Sobre Reponsabilidade Civil do transportador, sobre o caso do passageiro que foi empurrado por aglomeração no momento do embarque no trem. https://bit.ly/3hXu8Ih Programa de Responsabilidade Civil CAVALIERI FILHO, S. Programa de responsabilidade civil. 14.ed. São Paulo: Atlas, 2020 (e-book). Para aprofundamento teórico do tema “Responsabilidade pelo fato das coisas”, p. 258-68. https://bit.ly/3i1dZkY 30 31 Referências CAVALIERI FILHO, S. Programa de responsabilidade civil. 14.ed. São Paulo: Atlas, 2020. (e-book) GAGLIANO, P. S. PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil, Respon- sabilidade Civil. 17.ed. São Paulo: Saraiva Educação, v. 3, 2019. (e-book) GONÇALVES, C. R. Responsabilidade civil. 18.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. (e-book) Sites Visitados DICIONÁRIO ON-LINE DE PORTUGUÊS. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/>. Acesso em: 08/2020. 31
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