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Políticas curriculares: formação da Base Nacional Comum Curricular Profª. Maria Teresa Avance de Oliveira Descrição As políticas para o currículo das escolas, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares Nacionais, assim como o Plano Nacional de Educação, a BNCC e suas contradições. Propósito Para qualificar sua atuação na construção do currículo escolar, é essencial compreender as relações existentes entre o projeto político-pedagógico da escola, as concepções de currículo que permeiam as políticas públicas e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de forma que o currículo das escolas possa traduzir o que se pretende como objetivos e finalidades da educação. Objetivos Módulo 1 O currículo e as políticas públicas Identificar as concepções de currículo que permeiam as políticas públicas para a educação. Módulo 2 Propostas curriculares na BNCC Reconhecer as propostas curriculares hegemônicas na BNCC. Módulo 3 Contrução democrática do currículo escolar Formular estratégias de construção democrática do currículo escolar. Introdução Um currículo não está dissociado dos movimentos vividos nas sociedades, pelo contrário, ele traduz as mudanças, os anseios e as pretensões que determinada sociedade se impõe quando trata da formação de seus indivíduos. O currículo, dessa forma, não é sinônimo de conteúdo a ser ensinado, mas o conjunto das aprendizagens vivenciadas no processo de ensino e aprendizagem. É nesse sentido que podemos dizer que o currículo tem voz: somos nós e cada um em movimento dentro e fora da escola. O currículo nos formata e formatamos assim nosso agir e pensar no mundo e sobre ele. Neste conteúdo, vamos apresentar o processo de transformação do currículo, desde a Constituição de 1988, passando pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, pelo Plano Nacional de Educação e pela BNCC, até a reforma do ensino médio. Refletiremos sobre como as escolas estão ensinando e como estamos aprendendo. Serão abordadas, neste estudo, perspectivas divergentes acerca das últimas políticas públicas implementadas, o que permitirá a você, ao final, montar um panorama da discussão atual que está gerando muitos debates dentro dos cursos de formação de professores, das redes de ensino e, por conseguinte, das escolas nas quais essas novas diretrizes deverão se traduzir numa prática pedagógica. O currículo e as políticas públicas Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as concepções de currículo que permeiam as políticas públicas para a educação. Contextualizando o currículo A fim de iniciar a nossa discussão sobre o currículo, consideraremos alguns estudos da Antropologia que procuram compreender os modos de vida e de sobrevivência das diferentes sociedades e grupos sociais. Para os antropólogos, é preciso distinguir a cultura do saber escolar. A escola deve procurar entender o ponto de vista daqueles a quem serve e seu contexto cultural, que, necessariamente, envolve os costumes, os modos de viver, de vestir, de morar, das maneiras de pensar, as expressões da linguagem, os valores, os comportamentos frente ao novo, ao inesperado. Assim: o conhecimento não pode ser estudado como atividade isolada de seu contexto cultural. As pessoas sabem fazer bem o que é importante para elas. Os habitantes das ilhas Puluwat, pequeno atol da Micronésia, por exemplo, desenvolveram habilidades navegacionais surpreendentes, transmitidas entre as gerações por meio da oralidade e dos costumes. Cada viagem é planejada com antecipação e depende de um corpo específico de conhecimentos, que é prático e útil. Ignorando os navios de passageiros à sua disposição, eles pilotam suas canoas sem uma bússola, através de milhares de milhas, em pleno Oceano Pacífico. Sua navegação depende de aspectos do mar e do céu, baseando-se num sistema de lógica tão complexo que os ocidentais não o podem reproduzir sem o uso de instrumentos avançados. Assim, o que é aprendido como ‘prático’ em Puluwat, seria considerado como altamente ‘teórico’, ‘abstrato’, em um de nossos colégios navais. Ironicamente, quando um navegador de Puluwat é submetido a um de nossos ‘testes de inteligência’, seu índice de realização mental parece baixo. (SARUP apud KRUPPA, 2016, p. 42-43) Podemos transferir a experiência relatada para a realidade do nosso país: nossas comunidades indígenas possuem conhecimentos seculares sobre a preservação da floresta, o uso das plantas e as formas de subsistência, de modo a conviver harmonicamente com a floresta e tudo o que dela podem usufruir, sem destruí-la. Essa sabedoria dos povos originários, embora muito útil e potencialmente benéfica para a sociedade em geral, não se traduz em conhecimento escolar nas escolas tradicionais. text_snippet Resumindo Portanto, uma das possíveis compreensões acerca do currículo é entendê-lo (CORAZZA, 2001) como uma linguagem. E como tal, podemos identificar significantes e significados, sons, imagens, conceitos, falas, língua, posições discursivas, representações, metáforas, metonímias, ironias, invenções, fluxos, cortes etc. Nesse sentido, compreende-se o currículo como fruto de uma prática social, discursiva e não discursiva, que se corporifica em instituições, saberes, normas, prescrições morais, regulamentos, programas, relações, valores e modos de ser sujeito. As bases legais e suas interpretações Para entendermos as políticas públicas voltadas para o currículo, começaremos pela análise da ideia central que está inscrita na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conhecida como Lei de Diretrizes da Educação Nacional (BRASIL, 1996), que determina os princípios fundamentais que devem reger todos os processos educacionais no país, quais sejam: · Igualdade · Liberdade. · Pluralismo de ideias. · Gratuidade. · Valorização profissional. · Gestão democrática. · Garantia de padrão de qualidade. · Valorização da experiência extraescolar. · Consideração da diversidade étnico-racial. · Vinculação educação-trabalho-práticas sociais e a garantia de aprendizagem ao longo da vida. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a lei maior do país, também prevê esses princípios e ainda determina, no seu art. 14, que: [...] a lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos [...]. (BRASIL, 1988) De acordo com a determinação da Constituição, portanto, outro arcabouço legal e fundamental para o planejamento das ações e políticas educacionais foi instituído: o Plano Nacional de Educação (PNE). Nas suas diretrizes, estão expressos os princípios que devem nortear todas as ações de planejamento das políticas no período de 10 anos. Durante esse processo, são necessárias ações de acompanhamento das metas para que ajustes possam ser feitos ao longo da vigência do plano. Veja, a seguir, as diretrizes do PNE. São diretrizes do PNE: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV - melhoria da qualidade da educação; V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; VI - promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País; VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; IX - valorização dos (as) profissionais da educação; X - promoção dos princípios do respeito aos direitoshumanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. (BRASIL, 2014) Além das diretrizes gerais, o Plano Nacional de Educação (2014-2024) apresenta 20 metas e, em cada uma delas, estratégias para seu cumprimento. Vemos que a Meta 2 traça duas estratégias que estão voltadas para a elaboração de uma Base Nacional Comum Curricular: 2.1) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, deverá, até o final do 2º (segundo) ano de vigência deste PNE, elaborar e encaminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as) do ensino fundamental; 2.2) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5º do art. 7º desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum curricular do ensino fundamental. (BRASIL, 2014) No mesmo sentido, a Meta 3 trata da formação no ensino médio, estabelecendo estratégias para esse segmento: 3.2) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração com os entes federados e ouvida a sociedade mediante consulta pública nacional, elaborará e encaminhará ao Conselho Nacional de Educação - CNE, até o 2o (segundo) ano de vigência deste PNE, proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as) de ensino médio, a serem atingidos nos tempos e etapas de organização deste nível de ensino, com vistas a garantir formação básica comum; 3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5o do art. 7o desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum curricular do ensino médio. (BRASIL, 2014) Entre educadores, entidades e movimentos em defesa do direito à educação, há um consenso de que a legislação em vigor, quando traduz a necessidade de uma base comum curricular, não determina um currículo nacional único. A lei dispõe somente que as diretrizes sejam nacionais, de forma que os sistemas e as escolas possam democraticamente elaborar seus currículos. Nesse sentido, quando o Conselho Nacional de Educação (CNE) iniciou seu processo de discussão, em 2014, tinha como objetivo “acompanhar e contribuir com o Ministério da Educação na elaboração de documento acerca dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento”(BRASIL, 2014), tendo em vista, principalmente as diretrizes e as estratégias do PNE, já elencadas acima. Esse debate inicial contemplaria as metas e as diretrizes do PNE no que diz respeito não só à necessidade de uma base, como também à metodologia de construção dessa base. assignment_ind Comentário As demandas políticas se misturam, e aquilo que é debatido por professores e intelectuais necessita ser definido em uma velocidade que, por fatores políticos, não condiz com esses debates. A instabilidade política vivida nos períodos de 2014 e 2018 fez com que o documento em debate fosse “acelerado” e “fatiado”, por ser considerado uma demanda urgente. Dito isso, a opção por uma construção verticalizada, com ares de participação foi a ação adotada pelo Conselho e pelo Ministério da Educação. Pode-se aqui afirmar que não houve consenso nem mesmo dentro do próprio CNE que, ao aprovar o relatório da BNCC, teve pedido de vistas por três conselheiras que votaram contra o relatório e apresentaram um parecer alternativo respaldado por entidades de classe e sindicais dos trabalhadores da educação básica. Nesse parecer, alertava-se que propostas construídas desde os anos 80 e 90 já constituíam avanços no delineamento de concepções político-pedagógicas para todas as etapas e modalidades da educação básica. Essas conselheiras defendiam que seria necessário, em primeiro lugar, delinear um marco de referência que representasse todas as concepções, as utopias, os sonhos e os princípios educacionais desejados e definidos coletivamente. E ainda: Mais do que números, é fundamental uma interpretação qualificada. É preciso conhecer o que nos revelam os dados e os micro dados para a elaboração de um verdadeiro diagnóstico da educação. É preciso, ainda, refletir sobre o que está sendo realizado, o que é desejável e necessário para as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos do nosso país. As concepções, alicerçadas em princípios educacionais, a serem amplamente debatidas, se articulam aos sonhos, as utopias de resgate da dívida histórica do Estado brasileiro para com a educação nacional e, nesse caso, para a definição dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. A construção desses referenciais deve se efetivar de forma republicana. Não é incomum a adoção de medidas imediatistas, desvinculadas de um planejamento pautado em marcos de referência e nos diagnósticos, como é o caso da BNCC, que desde o seu início privilegia um conjunto de conteúdos e objetivos sem o fundamental suporte de uma referência que deixe claro o projeto de nação e educação desejadas. (AGUIAR; DOURADO, 2018, p. 14) Ao fazer a opção pela votação de uma proposta construída pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini, especialmente contratada como consultora para fazer toda a consolidação das propostas que deveriam ser incorporadas à terceira versão, o MEC se viu em uma situação de contradição: em prol da educação e da aceleração da reforma, esvaziou o protagonismo dos professores e de todos os profissionais da educação envolvidos nas discussões até então. As conselheiras denunciaram em seu parecer que sequer puderam ter acesso aos documentos sistematizados para que pudessem confrontá-los com o documento que seria apreciado e depois aprovado pelo Conselho.As conselheiras denunciaram em seu parecer que sequer puderam ter acesso aos documentos sistematizados para que pudessem confrontá-los com o documento que seria apreciado e depois aprovado pelo Conselho. A reforma curricular como parte da reforma neoliberal Numa análise do documento do Banco Mundial, publicado em 2018, está explícita a ideia da necessidade de reformas educacionais a partir da relação educação e desenvolvimento econômico. No relatório chamado Aprendizagem para realizar a promessa da educação, o aspecto econômico é colocado como benefício tanto individual como social da educação: afirma-se que a educação é um instrumento poderoso para a ampliação de renda, tornando os trabalhadores mais produtivos ao dar-lhes habilidades que permitem que eles aumentem o seu desempenho (BANCO MUNDIAL, 2018). Essa é a mesma reflexão que encontramos aqui: No nível nacional a educação sustenta o crescimento. O capital humano pode impulsionar o desenvolvimento de duas formas: primeiro ao melhorar a capacidade de absorver e se adaptar a novas tecnologias, que afeta o crescimento de curto e médio prazo; segundo, ao catalisar os avanços tecnológicos que conduzem o crescimento sustentável de longo prazo. (CÁSSIO, 2019, p. 54) Esse enfoque, sempre difundido por organismos internacionais e fundações empresariais, está diretamente relacionado à questão das competências para o mundo do trabalho. Portanto, essa formação técnica profissionalizante é que vai dar a possibilidade para essa entrada rápida, numa qualificação aligeirada para as necessidades do mercado. extension Exemplo A capa do Jornal O Globo de 4 de julho de 2021, ilustra bem essa demanda, ao estampar a seguinte matéria: “País vive ‘apagão’ de pessoal com formação técnica. Já na matéria, consta que o “desemprego é recorde, mas empresas não encontram pessoal qualificado” e o jornal aponta o motivo pelo qual tantas entidades empresariais apostam num currículo por competências. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) faltarão 300 mil profissionais nos próximos dois anos e o Brasil só deverá alcançar 106 mil dos 401 mil necessários até 2023. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, somente 11% dosestudantes se formam no ensino técnico. Na média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 38 países desenvolvidos, a parcela é de 42%. E o que o PNE fala da educação profissional técnica de nível médio? A Meta 11 determina que o Brasil deveria triplicar a matrícula, assegurando a qualidade da oferta a pelo menos 50% dos estudantes no seguimento público até 2024. Essa trágica realidade se agrava com a aprovação da reforma do ensino médio, por meio da Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, e a posterior BNCC para esse nível de ensino. Nessa reforma, a educação profissional está inserida nos “itinerários formativos”, apresentada pela propaganda governamental à época como uma opção que o aluno poderá fazer na sua formação. Veja, a seguir, uma imagem da propaganda. Captura de tela do vídeo de propaganda do MEC. warning Atenção O que a propaganda não informa é que as únicas disciplinas obrigatórias serão, daqui para frente, língua portuguesa e matemática. Também não especifica que, na falta de professores, serão aceitos profissionais sem formação docente para lecionarem disciplinas dos tais itinerários profissionalizantes e, ainda, que 30% do ensino médio poderá ocorrer à distância. Essa receita já foi testada em reforma anterior, que tornou obrigatório o ensino profissionalizante, com justificativas semelhantes, de formação de mão de obra para as necessidades do mercado. Qual foi o resultado? Escolas de excelência foram criadas para alguns, como as escolas técnicas federais e alguns projetos de escolas estaduais. Depois de alguns anos, muitos laboratórios dessas escolas foram abandonados porque as verbas de manutenção nunca chegavam e as aulas práticas ficaram cada vez mais distantes dos sonhos de uma formação profissional integral. Hora do conflito Há, portanto, diferentes perspectivas e posicionamentos diante dessas reformas. Vejamos uma contraposição dessas visões. De um lado: Entende-se que a reforma transforma o ensino em um mercado escolar, em que o professor passa a ser um tutor, o diretor será o gestor gerente, enquanto outros profissionais como psicólogo, fonoaudiólogo, coordenador, supervisor, inspetor de aluno, serventes e merendeiras, são dispensáveis ou terceirizados. Já o projeto político-pedagógico, construído democraticamente pela comunidade escolar, agora será um itinerário formativo, definido pela escola e por seus gerentes. Nessa visão, os alunos são clientes que agora consumirão a mercadoria aprendizagem por competência. Do outro lado: Se as escolas fazem parte dos sistemas sociais e se as pessoas passam a identificar a educação como um bem e desejam pagar por esse bem, nada tem mais sentido do que promover uma reforma de eficiência, trazendo fundamentos da gestão para o ambiente escolar. O Estado continua a lidar com a educação como um direito, mas também tentará ser mais eficiente e mais adequado às demandas de mercado, afinal, a educação tem um fim — nesse ponto de vista — de inserção educacional. Quem está certo? Depende de como você vê a questão, ambos os lados têm seus argumentos. A centralidade e a centralização da BNCC Muitos autores (CÁSSIO, 2019; AGUIAR; DOURADO, 2018) concordam que a base é, antes de tudo, uma política de centralização curricular, o que não é novo no Brasil. Analisando o tópico sobre as bases legais, podemos perceber que, desde a Lei de Diretrizes e Bases, a centralização curricular já era tida como um pressuposto para a melhoria da qualidade do ensino. É a partir desse pressuposto e do processo de globalização que se insere a necessidade de controlar para que seja possível avaliar, premiar e punir aqueles que serão responsáveis pelo sucesso ou pelo fracasso da educação ao final. Logomarca do grupo Todos pela Educação. O movimento Todos pela Educação, criado formalmente por empresários em 2006, assumiu, em 2014, a qualificação jurídica de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e está no cerne do Movimento pela Base. Este, formado em 2013, reúne também a Fundação Lemmann, a Fundação Roberto Marinho, os Institutos Ayrton Senna, o Unibanco, a Natura e a Inspirare, bem como economistas, consultores de materiais didáticos e especialistas em avaliações em larga escala. assignment_ind Comentário O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) trouxeram a representatividade e a “legitimidade” das redes de educação, tão almejadas pelo Movimento pela Base. Todas essas instituições que compõem o Movimento pela Base representam um grande poder econômico e político do país. São elas as responsáveis por “patrocinar” muitas políticas e processos de privatização e terceirização de serviços públicos, travestidos de parcerias público-privadas realizadas em parceria com o Consed e com a Undime. Ao mesmo tempo, o financiamento público vem diminuindo, principalmente após a aprovação da reforma do teto dos gastos (BRASIL, 2016), por meio da PEC 55 de 2016 — chamada pelos críticos de “PEC do fim do mundo” —, que congelou os investimentos públicos por 20 anos por medida de economia ou por redução da ação do Estado. warning Atenção Isso significou um corte abrupto em todos os investimentos públicos, mas as maiores perdas com certeza são na educação e na saúde do país. Hora do conflito Há, portanto, diferentes perspectivas e posicionamentos diante dessas ideias. Vejamos uma contraposição dessas visões. De um lado: A apropriação dos fundos públicos por entes privados pode ser verificada pelas consultorias, apostilamentos e venda de livros ao PNLD, pois o MEC é o maior comprador de livros do país. Em muitos sistemas de educação, empresas com materiais e cursos formatados oferecem esses materiais aos professores para que o consumo seja imediato. Também não é difícil encontrar, na Internet, diferentes PPPs formatados, adequados a diversas realidades e prontos para serem utilizados, em que a rede se ensino não atue na sua organização. Em todos os casos, o professor é desconsiderado e deve apenas seguir as prescrições das apostilas e dos livros didáticos adotados. Do outro lado: A introdução de temáticas relativas à gestão busca tornar eficientes as escolas e os modelos, de modo a facilitar a burocracia para que as escolas possam tomar as decisões dentro do ponto de vista pedagógico. O princípio democrático não é rompido pela disponibilização de modelos; a forma como cada uma das escolas vai trabalhar e mobilizar esses conhecimentos é que vai definir o resultado. É a lógica da autonomia e busca de eficiência dos estados e dos seus custos. Cabe ao Estado monitorar, acompanhar, direcionar e cobrar os que não fazem o processo com eficiência. video_library Diretrizes nacionais e currículos locais