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Monografia IJEP (revisada) - 20210907

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ARLUCE GURJÃO 
 
 
 
ARTETERAPIA DE ABORDAGEM JUNGUIANA 
A COR COMO SÍMBOLO NO ATELIÊ TERAPÊUTICO 
AQUARELA E COMPLEXOS 
 
 
 
 
 
 
 
ESPECIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA E EXPRESSÕES CRIATIVAS 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2021
 
 
 
 
 
 
ARLUCE GURJÃO 
 
 
 
ARTETERAPIA DE ABORDAGEM JUNGUIANA 
A COR COMO SÍMBOLO NO ATELIÊ TERAPÊUTICO 
AQUARELA E COMPLEXOS 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao 
IJEP como requisito parcial 
para obtenção do título de 
especialista em Arteterapia 
e Expressões Criativas 
 
 
 
SÃO PAULO 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
“Inflorescência” (aquarela, monotipia e colagem), 2015 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A mãe reparou que o menino 
gostava mais do vazio 
do que do cheio. 
Falava que os vazios são maiores 
e até infinitos. 
(Manoel de Barros, O menino que carregava água na peneira) 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho visa estabelecer uma relação do uso da cor no ateliê 
terapêutico com conceitos básicos da Psicologia Analítica, como complexo, arquétipo 
e símbolo. Ao associar o tema da Cor juntamente aos conceitos de Carl Gustav Jung, 
tenho como objetivo mostrar que o uso da pintura no ateliê terapêutico é uma das 
técnicas expressivas mais eficientes para o paciente se aventurar nesse espaço 
dedicado à escuta, pois através da manipulação da cor este não só estará dando voz 
a sua mente objetiva, simbolizando, como também ressignificando complexos. O uso 
das tintas aguadas, especialmente a aquarela, foi escolhido como técnica expressiva 
a esse pintar terapêutico, pois essa desencadeia uma forma especial de arte pela sua 
fluidez, pelo uso da água em sua manipulação. Acredito também que, utilizando o 
método da pintura espontânea, teremos assim duas grandes aliadas no processo de 
dar voz ao inconsciente, seja este pessoal ou coletivo, e expressão aos complexos 
que estejam constelados no momento desse fazer terapêutico. Penso ser interessante 
também um pouco do conhecimento sobre o significado do simbolismo das cores para 
auxiliar na interpretação por parte do arteterapeuta, não como um manual de regras 
rígidas, mas sim como um norte que o motive na interpretação da pintura junto ao 
paciente. 
Palavras-chave: Teoria dos Complexos; Símbolo; Cor; Pintura espontânea; 
Aquarela; Ateliê Terapêutico 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 6 
CAPÍTULO 1 Conceitos Junguianos ................................................................ 9 
1.1 A teoria dos Complexos .................................................................................. 9 
1.2 Símbolo ......................................................................................................... 12 
CAPÍTULO 2 Efeitos psicológicos da Cor ...................................................... 14 
CAPÍTULO 3 A utilização da cor no ateliê terapêutico................................... 25 
3.1 Sobre o uso da técnica da pintura espontânea ............................................. 26 
3.2 O uso da aquarela na pintura espontânea .................................................... 30 
CONCLUSÃO ................................................................................................. 32 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 35 
 
 
6 
 
INTRODUÇÃO 
A cor tem sido objeto de interesse desde sempre. A partir do momento em que 
se começa a desenhar na infância, o fascínio pela cor já é observado, a criança 
desenha e colore ao mesmo tempo, ela entende de uma forma intuitiva que precisa 
colorir para se expressar. E isso se manteve assim por toda a existência humana, 
desde o homem primitivo nas cavernas até a contemporaneidade, com seus mais 
diversos estudos sobre o efeito da cor, em algumas áreas específicas como a 
cromoterapia, por exemplo, o homem vive sob a influência da cor, seja ela externa ou 
interna. 
O presente trabalho de pesquisa pretende explorar o uso da Cor no Ateliê 
terapêutico através da pintura espontânea como uma técnica expressiva de grande 
valor por envolver os sentimentos na sua produção. A técnica das aguadas, 
especialmente da aquarela, foi escolhida a partir da minha longa afinidade com esta 
técnica e por acreditar que ela contenha em si o efeito catártico necessário para deixar 
fluir sentimentos na prática da pintura. 
 Durante minha vivência em ateliês coletivos, especialmente de aquarela, 
sempre me despertou curiosidade o fato de esta técnica criar uma espécie de gatilho 
para um fluxo oral entre os participantes. Por vezes, a conversação no ateliê se dava 
de forma tão natural, que algo que acontecia em segundo plano, o ato de falar, ia aos 
poucos ganhando proporções significativas naquele espaço dedicado ao fazer 
artístico. O clima nesses ateliês sempre me pareceu muito mais descontraído, se 
7 
comparado a um espaço dedicado à gravura, por exemplo, onde o silêncio se coloca 
de forma mais imperativa. Os ateliês de aquarela se destacavam pela facilidade com 
que a fala fluía, o que me levou a pensar que essa técnica talvez por utilizar água em 
sua composição poderia vir a influenciar de alguma maneira nesse fluxo verbal, ou 
ainda que a utilização da Cor daria conta também desse exercício, da fala dos 
sentimentos. Trazendo essa experiencia pessoal para uma prática de ateliê, agora 
com foco em Arteterapia, pensei então ser muito útil me valer da cor, e da técnica da 
aquarela, para trabalhar com prováveis simbolizações de complexos. 
Algumas particularidades se colocam quando se observa um ateliê de técnica 
em pintura e um ateliê terapêutico, que tem objetivos bem diferentes e específicos 
entre si, mesmo se valendo da mesma técnica. No primeiro, a pintura se mostraria 
como um recurso técnico e expressivo para o artista e sua poética pessoal, já no 
segundo ela se voltaria a simbolizar os vazios do sujeito, não se lançando mão de 
nenhum recurso técnico para sua execução. Mas, em ambos os casos, a Arte 
cumpriria a sua função base que seria ligar o sujeito ao objeto, nesse trabalho de 
pesquisa especificamente a Cor cumpriria essa função. Acredito que assim possa 
deixar minha contribuição com um conhecimento vindo do campo das Artes agora 
voltado ao atendimento no ateliê terapêutico. 
O objetivo desse trabalho será primeiro o de discorrer sobre conceitos básicos 
da Psicologia Analítica, Complexo/Arquétipo e Símbolo, e em seguida exemplificar 
como os complexos podem ser simbolizados através do uso da cor no ateliê 
terapêutico. O que nos leva a seguinte pergunta: a cor daria conta de expressar 
sentimentos recalcados da mente objetiva? 
A hipótese é que sim, a Pintura cumpriria esse papel de forma eficaz da fala do 
sentimento e dos complexos. “Cor=sentimento”, Jung faz essa afirmação em um 
ensaio escrito sobre a arte visual na obra de Pablo Picasso por ocasião de sua 
primeira exibição solo em 1932 e essa afirmação foi o que despertou em mim o desejo 
de escrever sobre o tema da cor pois como afirma Hoch “A correlação entre cor e 
sentimento pode ser a razão pela qual tantos se preocuparam com a cor” (HOCH, 
2019, p. 35) e ainda afirma (Cf. HOCH, p. 38) que nas produções de início o lápis, 
ou a pena, são utilizados para pequenos esboços de sonhos e fantasias e somente 
quando o paciente começa a servir-se de cores este seria o momento em que “o 
interesse puramente intelectual seria substituído por uma participação emocional” 
8 
(ibid. p. 38). Por esta característica intrínseca a cor, esta daria conta de simbolizar, 
através das imagens endógenas, a psique objetiva do sujeito. 
O presente trabalho se divide em três capítulos. O primeiro discorre brevemente 
sobre os conceitos de Jung utilizados para esse estudo, brevemente porque a obra 
de Jung é vasta e quase invencível; osegundo discorre sobre a simbolização das 
cores; e no terceiro capítulo, tento reunir os conceitos de Jung e da técnica da pintura 
espontânea desenvolvida por Susan Bello, usando os recursos da técnica da aquarela 
no ateliê terapêutico. 
Ainda nesse último capítulo, recorro a algumas apreciações por Nise da Silveira 
sobre o seu trabalho desenvolvido no ateliê de pintura de Engenho de Dentro. Daí 
foram tirados alguns olhares sobre a abstração. Apesar de se tratar de um campo 
específico, da pintura com psicóticos, os conceitos Junguianos que Nise discorre para 
falar sobre os conteúdos imagéticos dos seus pacientes foram muito enriquecedores 
para mim, pois forneceram um panorama geral sobre a pintura espontânea, 
especialmente sobre a abstração das formas. 
Esse trabalho teve sua base metodológica somente a partir de pesquisa 
bibliográfica sobre material previamente publicado, tendo como grande parte do 
referencial o pensamento de C. G. JUNG, por ele mesmo ou por autores que tiveram 
seus trabalhos voltados para a Psicologia Analítica, em livros e artigos disponíveis no 
site do IJEP e em outros artigos encontrados na internet sobre o tema Arteterapia/Cor, 
não tendo sido feita nenhuma observação de grupos em clínica ou ateliês 
terapêuticos. 
 
9 
 
CAPÍTULO 1 
Conceitos Junguianos 
O intuito desse primeiro capítulo será uma breve explanação sobre os principais 
conceitos dentro da Psicologia Analítica pesquisados para fundamentar esse trabalho, 
estes serão A teoria dos Complexos e Símbolos. Porém para falar de Complexo tive 
que abrir uma pequena observação também ao conceito de Arquétipo já que este 
reside no outro. 
1.1 A teoria dos Complexos 
Carl Gustav Jung começou a formular a sua Teoria dos Complexos a partir de 
seu teste de associação de palavras onde procurava por uma ‘’situação psíquica do 
diálogo, com uma determinação mais ou menos exata das medidas e das qualidades’’ 
(JUNG, C. G., VIII/2, § 196). No lugar de uma questão sentenciada era usado uma 
palavra-estímulo, vaga, aberta, visando obter com isso uma única resposta. O 
objetivo inicial desse teste seria o de determinar a velocidade média das respostas a 
essas palavras chaves e de suas qualidades, porém ele observou que este teste era 
comprometido pela assimilação. 
Por assimilação Jung a definiu como sendo uma ‘’atitude por parte do sujeito 
submetido à experiência e que interpreta erroneamente a experiência’’ (JUNG, C. G., 
VIII/2, § 195), seria como uma tentativa do indivíduo de lançar um olhar investigativo 
10 
sobre a experiencia, ver por trás dos bastidores e burlar as regras do teste, o que já 
comprometia todo o processo que esse visava comprovar. Porém, mais importante 
ainda para Jung foi observar que durante a execução do teste uma única palavra 
estímulo podia desencadear situações não esperadas que ele classificou como sendo 
manifestações em um tempo de reação mais prolongado ou outras vezes até como 
sendo uma fala do vazio ou ainda por suas palavras “certos fundos de cena 
silenciados’’ ou constelações. Por constelação Jung explica, “é um processo 
automático que ninguém pode deter por própria vontade. Esses conteúdos 
constelados são determinados complexos que possuem energia específica própria” 
(JUNG, C. G., VIII/2, § 198) e que estar constelado significaria que o complexo reagirá 
de forma definida. E junto a essas falhas de reação no tempo das respostas, causados 
pela assimilação, Jung percebe também que estas vinham com conteúdos carregados 
de afeto e com energia específica, e isso explicaria esse tempo de reação não ser o 
mesmo que o de outros conteúdos. A essas falhas de reação ele chama de Complexos 
de tonalidade afetiva, o que mais tarde viria a ser A Teoria dos Complexos, um dos 
mais importantes conceitos dentro da Psicologia Analítica. 
Jung define um complexo afetivo como sendo “a imagem de uma determinada 
situação psíquica de forte carga emocional e, além disso, incompatível com as 
disposições ou atitude habitual da consciência” (JUNG, C. G., VIII/2, § 201) portanto 
complexos seriam aspectos parciais da psique dissociados, sua origem estaria no 
trauma, no choque emocional, geralmente na infância, que arrancou fora um pedaço 
da psique e que o conflito moral seria uma das causas mais frequentes dessa 
dissociação. Na teoria Freudiana se aproximaria do conceito do recalque. 
O próprio conceito de complexo colocava em dúvida a ideia de uma unidade da 
consciência visto que não haveria diferença entre uma personalidade fragmentada 
(psicose) e um complexo. A constelação dos complexos seria um processo automático 
por esses conteúdos possuírem energia específica própria e portanto, para Jung, 
estes seriam autônomos e nós estaríamos na verdade “possuídos” por eles quando 
constelados, em suas palavras “mas o que não é bem conhecido e, embora 
teoricamente seja de maior importância, é que os complexos podem "ter-nos" (JUNG, 
C. G., VIII/2, § 200). Quando se fala em ser possuído por um complexo, nos viria à 
cabeça de que estes estariam no campo do sobrenatural por sua autonomia, fazendo 
com que o indivíduo parecesse possuído por um demônio. Como explica Jung (ibid.), 
11 
“a liberdade do eu cessa onde começa a esfera dos complexos, pois estes são 
potências psíquicas cuja natureza mais profunda ainda não foi alcançada”. 
“Os arquétipos são formas de apreensão, e todas as vezes que 
nos deparamos com formas de apreensão que se repetem de maneira 
uniforme e regular, temos diante de nós um arquétipo, quer 
reconheçamos ou não o seu caráter mitológico”. (JUNG, C. G., 
VIII/2, § 280) 
Jung via dois aspectos no complexo, um seria o que ele chamava de casca 
dos complexos e estes seriam “uma rede de associações agrupadas em torno de 
uma emoção central e adquirido individualmente, logo de natureza pessoal” 
(WHITMONT, 2010, p. 59) e o outro aspecto seria o que Jung chamou de núcleo 
mitológico do complexo, em suas palavras “o centro do complexo consiste no núcleo 
de um padrão humano universal chamado de arquétipo do inconsciente coletivo ou da 
psique objetiva” (ibid.), portanto esses estariam além de conteúdos de representação 
pessoal e seriam representações simbólicas universais que residiriam em todos nós. 
O arquétipo, ou núcleo mitológico do complexo, se apresenta sob formas ou 
representações mitológicas pois além de ser imagem seriam inerentes a todos nós e 
se mostrariam através dos contos de fadas, mitos, contos, formas religiosas, sonhos 
e fantasias, estas imagens arquetípicas, aparecem em todos os lugares e épocas e a 
elas nos referimos como mitologema. O mitologema por sua vez só pode ser 
alcançado quando se esgota toda a casca do complexo, uma vez que a sua natureza 
de caráter pessoal é somente uma forma que um tema mitológico se apresentaria a 
nós, talvez de uma forma mais compreensível. 
Os arquétipos então por sua natureza, segundo Jung, seriam representações 
simbólicas. Estes estariam gravados tão profundamente no inconsciente coletivo que 
funcionariam como modelos pré-formados e se exprimem por imagens arquetípicas, 
mas o que seria comum a toda a Humanidade segundo Chevalier (2012, p. XIX) 
seriam suas “estruturas constante e não as imagens aparentes que podem variar de 
acordo com as épocas, as etnias e os indivíduos”. 
Essas estruturas constantes podem ser observadas, por exemplo, nos mitos 
onde este funcionaria como um teatro simbólico das lutas interiores da humanidade, 
variando somente os seus personagens. 
12 
1.2 Símbolo 
Todos os processos e efeitos de profundidade psíquica 
representados pictoricamente são, em oposição a representação 
objectiva ou “consciente’’, simbólicos, quer dizer, indicam da melhor 
maneira possível, e de forma aproximada, um sentido que, por 
enquanto, ainda é desconhecido. Jung (O espírito na arte e na ciência, 
s/d, p. 88) 
“O que chamamos de símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem 
que nos podeser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além 
do seu significado evidente e convencional” (JUNG, p. 21) assim Jung conceitua 
símbolo em um dos seus textos mais conhecidos, quando fala da importância dos 
sonhos, em O homem e seus símbolos. Continua ainda assinalando que “uma palavra 
ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado 
manifesto e imediato” (ibid.). 
O conceito de símbolo traz em si vários sentidos. Como já dito, para Jung este 
não seria somente uma alegoria ou um signo, mas algo que se encontra além disso, 
em suas palavras “uma imagem apropriada para designar, da melhor maneira 
possível, a natureza obscuramente pressentida do Espírito” (apud CHEVALIER, 2012 
p. XXII). O significado de espírito neste contexto para Jung se volta para o consciente 
e inconsciente. 
Seria bom então distinguir a diferença entre signo e símbolo já que os dois são 
representações imagéticas. Um signo seria uma imagem com significado intelectual, 
um conhecimento objetivo, fechado e não ultrapassaria seus níveis de significação 
racional, ou seja, não vai além da sua representação e estaria no plano das ideias. O 
símbolo por sua vez seria também uma imagem, mas essa carregaria consigo forte 
carga afetiva, mobilizando o psiquismo e afetando assim as estruturas mentais. Para 
alcançar seu significado, diferente do signo, o símbolo precisa de interpretações e 
estaria no plano da imaginação. O símbolo por possuir uma grande “riqueza 
psicológica”, de acordo com Chevalier, 2012, p. XVIII, “ao afastar-se do significado 
convencional, abre caminho à interpretação subjetiva. Com o signo permanece-se 
num caminho seguro e contínuo: o símbolo supõe uma ruptura de plano”. 
Portanto o símbolo traz consigo a ideia de reunião, de reagrupamento de um 
signo que foi previamente partido e que agora se fará novamente unidade pois em 
13 
sua origem uma das definições para símbolo seria a de “um objeto dividido em dois” 
(Cf. Chevalier 2012, p. XXI) e assim, “o símbolo separa e une, comporta as duas ideias 
de separação e de reunião, evoca uma comunidade que foi dividida e que se pode 
reagrupar” (ibid.). O símbolo serviria assim para nós como uma ponte, ou usando uma 
terminologia mais contemporânea, um link, que reúne elementos separados, aqui 
mais especificamente neste trabalho de pesquisa, o consciente e o inconsciente. O 
símbolo teria a função de estruturar através da mente consciente o que a mente 
criadora/inconsciente exprime através de imagens, mantendo assim o equilíbrio 
psíquico e possibilitando a transformação do sujeito. 
Por sua função mediadora como uma força que une, que religa, o símbolo 
exerce uma função especial no campo da arteterapia visto que faz uso da capacidade 
imaginativa, este se apresenta como função terapêutica, fazendo com que o indivíduo 
se ligue ao que estava desligado, ressignificando complexos, e caminhe em direção a 
uma unidade, ou ainda nas palavras de Bello, (1996, p. 13) “é o símbolo que cura”. 
Aqui, a cor teria essa função, a de simbolizar, como veremos mais detalhadamente 
no capítulo seguinte, de forma universal os sentimentos, e terão quase sempre a 
mesma interpretação, seja essa pessoal ou cultural. 
 
 
 
 
14 
 
 
CAPÍTULO 2 
Efeitos psicológicos da Cor 
 
“O primeiro caráter do simbolismo das cores é a sua 
universalidade, não só geográfica, mas também em todos os níveis do 
ser e do conhecimento, cosmológico, psicológico, místico etc. As 
interpretações podem variar.” (CHEVALIER, 1982, p. 275). 
 
A cor tem sido objeto de interesse desde sempre. A partir do momento em que 
se começa a pintar na infância o fascínio pela cor já é observado, a criança pinta e 
desenha (pelo gestual) ao mesmo tempo. Ela entende, de uma forma intuitiva, que 
precisa colorir para se expressar. E isso se manteve assim por toda a existência, do 
homem primitivo nas cavernas até a contemporaneidade, com seus mais diversos 
estudos sobre o efeito da cor, em algumas áreas específicas como a cromoterapia por 
exemplo, o homem vive sob a influência da cor, seja ela externa ou interna. 
Apesar de Jung não ter formulado a sua própria teoria da Cor sempre se 
interessou pelo Simbolismo das cores. Ele discorre sobre a cor em seus escritos sobre 
interpretação dos sonhos e alquimia e algumas pistas sobre a sua concepção de cor 
também podem ser encontradas na sua discussão sobre imaginação ativa (Cf. HOCH, 
15 
2018 p. 37). Jung também classificou as principais funções psíquicas do homem por 
cores. A função pensamento, intuição, sentimento e sensação foram representadas 
pelas cores azul, amarelo, vermelho e verde nessa mesma sequência (Cf. 
URRUTIGARAY, 2011, p. 134) o que demonstra que o assunto da cor é um tema 
relevante e de grande interesse dentro da Psicologia Analítica. 
Falar em simbolismo da cor implica falar também em sua universalidade e, 
portanto, de sua conotação arquetípica. Heller, no seu livro A Psicologia das Cores, 
afirma que as cores não estão ligadas a uma questão de gosto pessoal, mas que estas 
na verdade seriam “’vivências comuns que, desde a infância, foram ficando 
profundamente enraizadas em nossa linguagem e em nosso pensamento” (HELLER, 
2013, p. 21). Heller também afirma que como conhecemos mais sentimentos do que 
cores, em quantidade, seria possível que uma mesma cor causasse efeitos diferentes 
dependendo da ocasião, e que estes seriam na maioria das vezes, contraditórios. O 
que mais importa não é olhar a cor em si, isolada, pois essa quase nunca se 
apresentará sozinha, mas o conjunto de cores que a acompanham ou o seu acorde 
cromático. O acorde cromático é o que define o efeito da cor principal, dependendo 
das cores que estejam a ela associadas. Um azul pode ser tranquilo, profundo, etéreo 
ou espiritual, mas dependendo de sua associação com outras cores pode vir a ter um 
efeito perturbador, triste ou melancólico. Matisse, um dos pintores que mais se 
interessou pelo uso da cor levando-a até as últimas consequências em suas obras 
(dados os devidos créditos também à Kandinsky e Klee) afirmava que ‘’um único tom 
não é nada em termos de cor, dois tons são um acorde, são a vida’’. Ainda nas 
palavras de Heller (ibid.) “Um acorde cromático não é uma combinação aleatória de 
cores, mas um efeito conjunto imutável. Tão importantes quanto a cor mais 
frequentemente citada são as cores que a cada vez a ela se combinam”. 
Vale ressaltar também que na apreciação das cores o contexto será outro 
critério relevante a ser observado visto que uma cor pode possuir significados 
diferentes se estiver contida, por exemplo, em uma vestimenta, um objeto de arte, um 
ambiente ou ainda em um alimento, aqui o contexto é o que irá nortear se esta 
despertará sentimentos positivos ou negativos. 
A impressão psicológica das cores será também outro fator a ser levado em 
consideração pois mesmo tendo parentescos entre si, como o rosa e o vermelho, o 
amarelo e o laranja, o azul e o violeta, as cores possuem efeitos psicológicos 
16 
diferentes, nenhuma podendo substituir outra e todas igualmente importantes em suas 
particularidades. 
De acordo com Heller e seu ponto de partida, uma pesquisa realizada com 
2.000 pessoas na Alemanha onde foram apresentados acordes cromáticos de 2 a 5 
cores e sentimentos que deveriam ser a eles associados, “em termos estatísticos, os 
acordes cromáticos são absolutamente confiáveis” (HELLER, 2013, p. 25). Além de 
sua pesquisa, Heller explana também sobre a Teoria da Cor de Goethe e análises de 
caráter, embasadas na psicologia profunda, como suportes aos seus dados 
estatísticos, confirmando a universalidade da cor como um fato. 
Feito todas essas ressalvas sobre os efeitos psicológicos da cor vamos então 
ao simbolismo de algumas delas. 
 
Azul, a cor preferida dos ocidentais 
Por ser a cor preferida ela representa todas as características dos bons 
sentimentos.Não existe sentimento negativo em que o azul predomine, está 
associado ao céu e por isso desperta o sentimento do Divino em nós. Quando 
associado ao branco simboliza os valores supremos do bem, da verdade e do 
judicioso. É também a cor das virtudes intelectuais, do princípio feminino passivo, 
tranquilo, introvertido e em busca da harmonia. O azul pertence à água, ao ar. É a cor 
da Virgem Maria, o seu manto é azul e a sua simbologia na trindade cristã, e também 
de outras divindades femininas, como Iemanjá. Quando associamos à sensação de 
espaço pensamos em planos muito mais amplos e por isso o azul adquiriu o efeito 
universal de distância. Podemos ver isso até como consequência de um efeito ótico 
pois todas as cores se dissolvem no azul, quando observamos uma paisagem quanto 
mais longe o objeto mais azulado ele será e isso nos dá também a sensação de 
profundidade e de perspectiva. “O azul é a cor das dimensões ilimitadas. O azul é 
grande” (ibid. p. 48). 
17 
Vermelho, a cor da carne 
O simbolismo do vermelho está ligado ao fogo e ao sangue, duas referências 
universais ao humano. Quando o sangue sobe à cabeça nós coramos, seja por raiva, 
por vergonha ou por paixão. É a cor dos extrovertidos e por ser uma cor quente 
sempre se projeta pois pela ótica é impossível uma cor quente ficar em segundo plano. 
É também a cor da guerra, do planeta Marte, da agressividade, da raiva e da coragem, 
atividades que exigem mais paixão do que compreensão. No Renascimento foi a cor 
mais apreciada por homens, mulheres, jovens e idosos. Ainda nas pinturas das 
cavernas foi a primeira cor a ser utilizada, visto que por essas pinturas serem feitas a 
partir de pigmentos terrosos e estes conterem óxido de ferro, mesmo sendo terras 
amarronzadas quando oxidadas pelo tempo puxavam para o vermelho e é por isso 
“que em nosso pensamento inicial, pensar em vermelho equivale a pensar em cor” 
(ibid. p. 101). 
Durante séculos se creditou ao vermelho algum poder especial ligado à magia, 
era comum se colocar fitas vermelhas nos braços ou pernas dos doentes porque 
acreditava-se que essa cor afastava a própria doença. O “efeito homeopático” da cor 
também era muito utilizado, doenças vermelhas eram tratadas com alguma substância 
também vermelha, como por exemplo vestir alguém de vermelho quando essa tinha 
escarlatina ou colocar um colar de coral vermelho no pescoço se esse tinha febre. 
É a cor preferida citada pelas crianças e uma das primeiras que eles 
reconhecem, talvez por estar associado aos doces. O vermelho remete ao amor 
passional, quando vem acompanhado do branco transforma-se na gentil cor de rosa, 
o amor angelical e quando associado ao preto, transporta-nos do amor passional ao 
ódio. 
Vermelho é a cor da matéria, do animal ao contrário do azul que é imaterial, 
espiritual. 
18 
 
Figura 1 - Quadrados com Círculos Concêntricos, Aquarela – 
Wassily Kandinsky 
Amarelo, a cor contraditória 
É a cor mais clara dentre todas do disco de cores, o amarelo nos remete ao 
Sol, a luz, ao ouro, ao Verão, a inflorescência. É a cor da inteligência pois pertence à 
cabeça, por alusão a iluminação do entendimento, é também a cor do lúdico, da 
recreação. Os otimistas são ensolarados, mas também os traidores e os invejosos. É 
tida como uma cor instável pois basta um pouco de vermelho para se tornar laranja 
ou um pouco de azul para se tornar verde. Conhecida também como a cor da 
maturidade, em alusão ao tempo pois as coisas envelhecem e se tornam amareladas, 
além de ser a preferida pelas pessoas mais velhas, com a idade as cores mais 
luminosas vão sendo as mais apreciadas talvez por remeter à jovialidade. Ao contrário 
do amor passional, associado ao vermelho, ao coração, o amarelo nos remete ao 
amor amadurecido, sensual. Na companhia do vermelho e do laranja é o acorde do 
prazer, simboliza a alegria de viver, atividade, energia, animação, contentamento e 
riqueza. Associado ao branco se torna radiosamente claro, do rosa e do branco nos 
remete à leveza e a delicadeza, mas junto ao preto se torna extremamente berrante. 
Pelo simbolismo das cores, o preto neutralizaria tudo a que se associa, sendo assim 
o amarelo combinado com preto perde o caráter luminoso e se torna pálido, 
19 
esverdeado, o que nos remete a uma sensação de turvo, de falta de discernimento e 
de claridade da mente simbolizando assim a inveja e o ciúme. O simbolismo da raiva 
amarela parece ser também universal, talvez pela bile humana ser amarelada e 
quando estamos com raiva a produzimos em excesso. A palavra francesa jalousie 
(inveja) é um bom exemplo de como o amarelo, jaune, simboliza sentimentos 
negativos. Ao lado do cinza se torna a cor da insegurança pois o cinza não é nem 
preto nem branco. 
Ao contrário do azul, feminino, o amarelo é tido como a cor do masculino pois 
além de ser associado a tudo o que é solar, Deus frequentemente aparece 
representado por um triângulo amarelo, geralmente com um olho dentro do triângulo, 
o símbolo da onisciência e da onividência. 
Azedo, refrescante e amargo são sabores associados ao amarelo, talvez pela 
associação com as frutas cítricas. O Amarelo se fosse som seria agudo. ‘’O compositor 
Alexander Skriabin estava convencido de que cada tom tinha uma correspondência 
cromática; o ré maior era o seu amarelo’’ (ibid. p. 153). 
Era também a cor preferida de Van Gogh, que é conhecido pelo uso de intensos 
amarelos em suas obras, pelos seus girassóis e até pela cor da sua casa em Arles. 
Os amarelos o inspiravam profundamente. Amarelo também eram as vestes de 
Dionísio, deus do vinho e da fertilidade, onde era celebrado com muito vinho e sexo 
em orgias e ele dedicadas. 
Verde, a cor da Natureza 
O verde é tido como uma cor elementar pois simboliza a quintessência da 
Natureza. Está ligado a consciência ambiental que se recusa a sucumbir a uma 
sociedade tecnológica. O verde acalma e traz sensação de segurança e de saúde. 
Está ligado a ideia de renovação e esperança e, portanto, à Primavera. O verde é 
úmido, agradável, tranquilizador. É a cor que reside entre o espírito e a matéria, é a 
cor do meio termo. O verde está entre o vermelho-quente e o azul-frio, o verde é de 
temperatura amena. O vermelho é animal, o azul espiritual, o verde é o vegetal. A 
ideia de prosperidade também está associada ao verde, assim como a fertilidade, 
simbolizada pela rã, que é verde. Tudo que é novo está associado ao verde, as 
expressões “novo em folha”, frescor, amor jovem são representações orais desse 
20 
simbolismo. A deusa Vênus está associada também ao verde por ser a deusa dos 
jardins, das hortas e das vinhas. 
 Kandinsky, um dos abstracionistas que mais se interessou pela impressão das 
cores não gostava muito do verde e chegou a comparar a cor com os predicados da 
burguesia: algo imóvel, autocomplacente e estúpido. Aliás, como o vermelho era a cor 
da nobreza o verde realmente era tido como a cor da burguesia. Goethe em sua Teoria 
das Cores chama o verde de uma cor útil, “como de fato o são os comerciantes, os 
artesãos e os empregados” (ibid. p. 208). Goethe classificava indiretamente as cores 
de acordo com o status social delas e foi isso que ele utilizou para classificar o verde 
como sendo a cor da burguesia. 
 
 
Figura 2 - Círculo cromático do livro Teoria das Cores (1810), 
de Goethe. 
Preto 
O branco, o começo, o cinza o meio, o preto o fim. É a cor preferida pelos jovens 
pois a associam com as roupas da moda e os carros caros, os idosos por sua vez a 
evitam pois pensam na morte, preferindo assim usar cores mais luminosas. O branco 
é composto de todas as cores enquanto o preto é a ausência total de luz. Kandinsky 
classificou o preto “como um nada sem possibilidades, como um nada morto, após a 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_das_Cores_(livro)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Goethe
21 
extinção do sol, como um eterno calar, sem futuro e sem esperança: assim soainteriormente o preto.” (ibid.) 
Na simbologia cristã o preto se apresenta como a tristeza pela morte, o cinza 
como o juízo final e o branco como a cor da ressurreição e por isso os mortos eram 
vestidos de branco. A simbologia da morte como ceifadora da vida sempre nos 
aparece vestida de preto assim como Cronos, o deus do tempo, também tem suas 
vestes pretas. 
A principal característica do preto é a reversão dos valores das cores que o 
acompanham em seu oposto, despertando assim uma característica ou sentimento 
negativo. Como já vimos o amarelo acompanhado do preto deixa de ser luminoso e 
se torna um dos acordes mais negativos pois se associa à inveja e ao ciúme. O 
vermelho associado ao preto deixa de ser passional e passa a ser o mal que se deriva 
das paixões. Preto se deriva do grego melas e amarelo de choles e daí advém a 
palavra melancolia pois antigamente acreditava-se que as pessoas melancólicas 
possuíam o sangue preto. Porém, para Jung, simbolizava o lugar das germinações, 
de acordo com Chevalier (2012, p. 276) Jung considerava que o preto seria “a cor das 
origens, dos começos, das impregnações, das ocultações, na sua fase germinativa, 
anterior a explosão luminosa do nascimento”. 
Branco, a cor da ressurreição 
O branco ao contrário do preto ilumina tudo que o acompanha, enquanto cor 
luz que reflete todas as cores ou cor pigmento, que ao contrário do preto não pode ser 
obtido misturando-se outras cores, o branco está associado a tudo que é bom ou 
positivo, ao luminoso. Vinculamos ao branco sentimentos que não fazemos com 
nenhuma outra cor. Branco é a cor dos deuses, Zeus aparece em várias versões, 
touro ou cisne é branco, o espírito Santo ou Divino é uma pomba branca e na Índia o 
gado branco é a materialização da luz. Na companhia do branco tudo se torna positivo. 
O branco, diferente do agudo amarelo, é silencioso. Na simbologia chinesa, o 
branco representa o Yin feminino (Yin-Yang) e um temperamento tranquilo, passivo 
também é branco. O branco também está associado ao vazio. O branco ao lado do 
cinza representa a ausência de sentimentos. A leveza é outro atributo do branco por 
esse ser a cor mais clara de todas, e também o frescor. 
22 
 
 
Figura 3 – The Ten Largest, Têmpera sobre papel – 
Hilma af Klint 
Laranja, a cor da recreação 
Por ser a combinação do amarelo e do vermelho o laranja é tido como uma cor 
quente e versátil. Para Goethe, era o vermelho amarelado. A cor está diretamente 
associada à fruta e somente quando essa chegou à Europa, vinda das Índias, é que 
se denominou essa cor como sendo laranja (nareng era o seu nome e transformou-se 
em orange, na França). 
Por estar ligada a um sabor, tudo que vemos em cor laranja associamos ao 
cítrico dessa fruta, mesmo que esse não tenha nenhuma relação, nós sempre 
esperamos que os alimentos tenham esse sabor. Assim como o amarelo está ligado 
ao sabor cítrico, o laranja esta ligado a sabores diversificados. Quando pensamos em 
laranja pensamos em doce, ácido e agridoce. A cor laranja também nos faz pensar 
que tudo nessa cor é mais gostoso. 
23 
Laranja está associado a diversão, a sociabilidade e ao lúdico e sua cor 
complementar é o espiritual azul, por serem complementares os botes salva vidas 
para naufrágios são também desta cor pelo seu contraste com o mar. O laranja por 
ser a cor da extroversão é também da ostentação, ao lado do dourado. É a cor dos 
inconformistas e dos originais. Laranja também é luz do outono. O laranja clareia e 
aquece sendo uma mistura ideal para alegrar o corpo e a mente. É considerado uma 
cor feminina por aspirar ao vermelho, masculino. No Budismo simboliza a 
transformação, é a cor da iluminação e como tal, do mais alto grau da perfeição. 
Violeta, a cor mística e da magia 
É a cor dos sentimentos ambivalentes. Muito confundida com o lilás, o violeta 
é a mistura de azul e vermelho, o lilás tem adição do branco em sua composição. O 
violeta representa a união dos opostos masculino e feminino, sensualidade e 
espiritualidade. 
Assim como o laranja está para o budismo o violeta está para a teologia. A 
igreja católica é a única instituição onde seus ministros trajam violeta. Na igreja 
evangélica, o violeta também está presente e, portanto, para essas simboliza a cor do 
divino e da fé. Ela é também tida como a cor da penitência, da humildade e do jejum 
da Páscoa. 
Em contradição ao conceito de humildade da igreja católica o violeta é tido 
como a cor da vaidade, um dos pecados capitais, e ligado à beleza é evidentemente 
feminino. É a cor dos pecados doces. O violeta contém mais sexo do que o vermelho. 
O acorde vermelho-violeta-preto-rosa é o acorde da imoralidade, da sensualidade, da 
sedução. 
Complementar do laranja, o violeta é a cor da fé e da superstição. Nele todos 
os opostos se fundem pois é a cor da sensualidade com a espiritualidade, sentimento 
e intelecto, amor e abstinência. Nessa cor o visível e o invisível se fundem pois no 
arco íris é o ultravioleta. Nos chakras, o violeta simboliza o chakra coronário, ou da 
cabeça, pois aí se conectam a inteligência e os sentimentos. 
Violeta e seu complementar laranja formam a combinação mais 
anticonvencional, o violeta apesar de frio é sonoro, o laranja é quente e alegre. Foi a 
24 
cor triunfante do movimento Art Nouveau e a mais apreciada por Klimt pois suas 
figuras femininas quase sempre eram pintadas em tons de violeta associado ao 
dourado e ao prata pois nessa época nada que não fosse artificial poderia ser 
considerado Arte. O violeta também é tido por sua fusão de masculino e feminino 
como a cor da homossexualidade e o arco íris que outrora fora o símbolo da união do 
divino com o homem, hoje representa o movimento LGBT, mais uma contradição do 
violeta. 
O lilás, por ser uma cor rebaixada do violeta pelo branco, representava a cor 
das “solteironas”, mas que ainda estavam disponíveis ao casamento, pois, como não 
poderiam mais ostentar a jovial cor de rosa o lilás, contendo o vermelho, servia para 
assinalar o seu desejo ainda pelo matrimônio. O lilás até como cheiro estava 
associado a elas pois a lavanda e a violeta eram os perfumes “lilases”. E assim o lilás 
acabou sendo associado a tudo que é negativo. 
Até para Goethe o lilás teria, segundo suas palavras, “algo de vivaz, mas sem 
alegria”. 
 
Figura 4 – Disks of Newton 1, Aquarela – Frantisek Kupka 
 
No capítulo seguinte veremos a utilização da pintura no ateliê terapêutico como 
forma de dar voz a complexos constelados. 
 
25 
 
CAPÍTULO 3 
A utilização da cor no ateliê terapêutico 
 
Pintar aquilo que vemos diante de nós é uma arte 
diferente de pintar o que vemos dentro de nós 
(JUNG apud SILVEIRA, 2001, p. 86) 
 
 
Falar do uso da cor no ateliê terapêutico equivale a falar praticamente em 
pintura, e em Arteterapia. Como afirma Oliveira (2019) “essa técnica é tão comum à 
arteterapia que pode-se dizer que praticamente se confunde com ela’’. A prática da 
pintura em ateliê terapêutico estabelece um diálogo entre o criador e sua obra, 
oferecendo ao terapeuta material suficiente para dialogar com o inconsciente do 
paciente, agora traduzido em imagem uma vez que a matéria se transformou em um 
novo objeto e oferece margens a interpretações pois como toda produção artística 
sempre terá espaço aberto para a imaginação do material ressignificado. De acordo 
com Pain (1996, p. 43) “a representação criativa tem sempre uma dose de 
redundância que constituiu seu estilo e uma dose de originalidade que faz sua 
diferença’’. 
26 
A psicologia Analítica reconhece na imagem grande importância, assim como 
na fantasia e nos delírios. Segundo Silveira, (Cf. Silveira, 2001, p. 86) Jung via no 
universo imagético um autorretrato do estado interno da psique de seus pacientes pois 
a libido, quando transformada em imagem, viria carregada de energia, desejos e 
impulsos e por isso ele sugeria a eles que pintassem, poissomente através da pintura, 
essa se mostraria tal qual como é, sem passar pelo crivo da interpretação do ego. 
Ainda nas palavras de Silveira (ibid.) “o que importa é o indivíduo dar forma, mesmo 
que rudimentar, ao inexprimível pela palavra”. A cor como símbolo aqui cumpre a sua 
função principal que seria a da fala dos sentimentos. Nas palavras de Urrutigaray 
(2011, p. 22) “fazer uso das cores em produções é facilitar a passagem da mensagem, 
feita pelo canal do inconsciente à consciência, dos afetos reprimidos, esquecidos ou 
ainda imaturos para o alcance da mesma”. 
Para a Psicologia Analítica as imagens se dividiriam em dois tipos: as do 
inconsciente pessoal e as do inconsciente coletivo (Cf. Silveira, 2001, p. 86). As do 
inconsciente pessoal representariam as vivências e experiências pessoais do 
indivíduo “logo reprimidas”, já as do inconsciente coletivo emergiriam das camadas 
mais profundas da psiquê e representariam todas as emoções coletivas. Jung as 
denominou de imagens arquetípicas. Essas imagens por serem inerentes à psique 
coletiva e aos temas míticos condensariam em si toda a memória da humanidade e 
seriam, pois, de acordo com Silveira (ibid.), “é aí que estão as raízes de nossa vida 
psíquica, a fonte de toda imaginação criadora”. 
3.1 Sobre o uso da técnica da pintura espontânea 
Susan Bello, em seu livro Pintando sua Alma, nos apresenta o que ela 
denominou de pintura espontânea. Em breves palavras (Cf. Bello, 1996, p. 14), o uso 
dessa técnica permitiria que as imagens internas emergissem do inconsciente sem 
passar pelo crivo da racionalidade, expressando-se através de imagens simbólicas. 
Diferentemente da forma clássica da pintura, onde o senso estético tem lugar de 
destaque, aqui o que se privilegia é o símbolo, este viria sempre primeiro despertando 
a energia latente da psique. Ao fazer uso da pintura espontânea no ateliê terapêutico, 
a criatividade também seria despertada, pois, uma vez que a energia psíquica é 
27 
ativada, esta dirige-se com tanta força que nada pode pará-la. “É o símbolo que cura” 
(Bello, 1996, p. 13). 
Consonante a esse conceito, Jung também afirmava que ([ S.I.: s.n.] p. 87) “a 
arte não objetiva extrai seus conteúdos essencialmente do “íntimo” da pessoa”. Este 
‘’íntimo” não pode corresponder à consciência” (grifos do autor). Nessa técnica, a 
pintura se volta a uma imagem interior, recebida como inspiração ou ainda como 
insight, e a olhamos sem nenhum juízo de valor estético. Aliás, é recomendado que 
não se façam retoques de caráter estético na imagem, pois quanto mais primitiva mais 
fiel ela será como símbolo. Segundo Margareth Naumburg (apud Silveira, 2001, p. 92) 
“as técnicas da arte terapia baseiam-se no conhecimento de que todo individuo, tenha 
ou não treinamento em arte, possui capacidade latente para projetar seus conflitos 
internos sob forma visual”. Se essa imagem simbólica será pessoal ou mitológica, ela 
se mostrará como o tempo e revelará fielmente o estado anímico de quem a pintou. 
Mas no que o uso da pintura espontânea no ateliê terapêutico teria a ver com 
complexos afinal? Segundo Bello (1996, p. 93), no uso da prática da pintura, “vemos 
uma parte da psique necessitando expressar aquilo que ainda não é capaz de integrar 
dentro da estrutura do ego existente” e por essa definição de cunho da própria autora, 
a pintura atuaria como um facilitador de sentimentos em imagens de material 
reprimido ou ainda não levado à consciência, deixando o inconsciente livre para fluir 
sem passar pelo ego, cabendo ao terapeuta somente estabelecer a conexão entre o 
material produzido e o estado emocional do paciente. 
Pensar na pintura espontânea como um relaxamento da mente racional, 
consciente e egóica para pintar o que emergir da mente objetiva pode causar uma 
certa insegurança e um estado de estresse, esperado e natural, quando o caos se 
apresenta, pois nesse momento estamos desvinculados dos conceitos estéticos de 
belo ou feio. Pain, (Cf. Pain 1996, p. 56) nos chama a atenção também sobre a 
materialidade do fazer pictórico, pois a própria folha em branco seria o vazio a ser 
vencido e ainda é necessário tirar sentido daquilo que se produzirá sobre ela. ‘’A 
criação de um objeto é sempre uma aventura, um desafio dramático no qual o sujeito 
é o autor” (ibid.). 
Aqui o inconsciente dirige o processo e o caos é um estado necessário dentro 
do processo criativo de transformação (caos-morte-destruição-renovação). 
Precisamos dar suporte ao paciente de que esse estado de caos é desejável e faz 
28 
parte do processo criativo e será daí, fora de sua zona de segurança, que ele 
descobrirá novos modos de conhecimento, permitindo que as imagens expressem 
sentimentos profundos, não censurando nada que possa ser paralisado pela mente 
consciente pois, de acordo com Bello (ibid p. 49), “o símbolo está vivo, produzindo o 
que o pintor necessita nesse momento para evoluir o Self”. 
Do seu trabalho à frente do ateliê de pintura de Engenho de Dentro, Nise da 
Silveira nos deixa algumas observações sobre a produção de seus pacientes 
na linguagem da abstração, em suas palavras, “certamente a linguagem 
abstrata presta-se a dar forma a segredos pessoais, satisfazendo na 
necessidade de expressão sem que os outros os devassem” (SILVEIRA, 2015 
p. 73). 
A correlação de abstração na produção da pintura espontânea me ocorreu pelo 
fato de que, muitas vezes por não se ter noções de desenho e até mesmo por uma 
inibição, de caráter estético, o famoso ‘’não sei desenhar”, o sujeito foge da figuração 
para uma linguagem conhecida como abstração. Portanto coloco aqui somente uma 
alusão à abstração pois, caso ela se manifeste de forma impositiva em séries, como 
linguagem pictórica será de grande valor ao arteterapeuta possuir um conhecimento 
sobre a linguagem abstrata. 
Kandinsky as chamava de improvisações. “Expressões, em grande parte 
inconscientes e quase sempre formadas de súbito, originadas de acontecimentos 
interiores, portanto impressões de Natureza Interior. Eu as chamo Improvisações” 
(apud Silveira, 2015 p. 23). Paul Klee também cita a linguagem abstrata como sendo 
uma fuga do mundo real e segundo ele escreve em seu diário “Quanto mais o mundo 
se torna horrificante (como atualmente) mais a arte se torna abstrata; um mundo em 
paz suscita uma arte realista” (apud SILVEIRA, 2015 p. 21). Como podemos ver, a 
linguagem da abstração sempre foi um sintoma de inquietação, até mesmo na Arte. 
Worringer, em seu livro Abstração e Natureza, defendia que o sentimento 
estético se movimentava entre dois polos: empatia e abstração. Para ele, a empatia, 
ou figuração, se daria quando o homem encontrava beleza ou satisfação no mundo 
orgânico e a abstração no mundo inorgânico, ou nas leis abstratas, ou seja, a relação 
do homem com o cosmos definiria uma ou outra dessas tendências (Cf. SILVEIRA, 
2015, p. 20). Jung, a partir das ideias de Worringer, correlaciona estes polos com 
atitudes típicas de introversão e extroversão. A necessidade de abstração viria a partir 
29 
de uma forte carga de libido do sujeito nos objetos fazendo com que eles se tornem 
assustadores e inquietantes, o que o faria recorrer à linguagem da abstração. Já a 
figuração se daria quando o sujeito nada visse nos objetos que o hostilizasse, 
empatizando com eles e trazendo-os para perto de si. “Empatia e abstração são 
necessárias para a apreciação do objeto e para a criação estética. Ambas se acham 
presentes em todo indivíduo, embora desigualmente diferenciadas” (apud SILVEIRA, 
2015, p. 21). 
A forma está ligada ao movimento, enquanto a cor é somente 
sensação. A forma apela a abstração, ao reconhecimento do objeto, 
enquanto a cor provoca sensibilidade e intuição. A forma evoca o 
gesto, a cor traduz a emoção. A forma constitui o objeto, a cor é 
somente uma qualidade do objeto: a cor pode faltar, mas não se pode 
evitar de ter uma forma, visto que tem sempreum limite. Pain (1996, 
p. 99) 
Ainda sobre o uso da cor na prática da pintura espontânea podemos sinalizar 
alguns itens a serem observados, além de uma possível aproximação à abstração, 
como por exemplo, a nossa percepção da cor comparada a intensidade dos 
sentimentos nela contidos. O fato de uma cor vir a ser representada mais ou menos 
matizada indicaria a intensidade de um sentimento (Cf. URRUTIGARAY, 2011, p. 129) 
quanto mais suave for a cor mais tênue será a emoção nela contida e o contrário 
também se dá com a sua saturação, pois mais carregada essa viria de emoção. A 
incidência de luz, ou a capacidade de refletir, também são indicadores de sentimentos, 
cores quentes indicam estados de expansão, de excitação, já as cores tidas como 
frias nos transmitem sensação de tranquilidade, de profundidade e de recolhimento. 
Assim como no desenho, a cor também possuiria um “contorno” criado pelo seu 
próprio limite no espaço e isso pode estabelecer planos entre figura (algo que se 
destaca, portanto mais perto do observador) e fundo (algo que lhe contém). A escolha 
da própria cor seria por si só um indicativo das emoções do sujeito, visto que existem 
cores que gostamos mais e de outras menos. Nossa relação com a cor pode estar 
associada nesse ponto a algum acontecimento do passado e que teve grande 
importância afetiva para nós, de forma positiva ou não. Por isso, convém sempre 
observar quais cores aparecem frequentemente nos trabalhos, a paleta de cores, e 
quais cores nunca são escolhidas, ou raramente aparecem nas produções. 
30 
3.2 O uso da aquarela na pintura espontânea 
 Libertadas da tirania cerebral, as mãos podem elaborar 
imagens construir objetos de grande significado simbólico, expressão 
de conteúdos do inconsciente, que terão significado terapêutico, não 
só para o criador, mas também muitas vezes, para o próprio 
observador que saiba ver. Walter Boechat (A libertação das mãos, 
p. 9) 
O uso da aquarela entra como o facilitador para o diálogo entre consciente e 
inconsciente na técnica da pintura espontânea, pois a própria matéria, na qual é 
diluída, já é suficiente para mobilizar o lado afetivo, dos sentimentos, pelo uso da água 
e da cor. 
Por sua fluidez e transparência, o que nos fornece retirar efeitos interessantes 
de contraste e sobreposição, me parece ser perfeita para a pintura espontânea, assim 
como todas as tintas aguadas, mas me detive nessa pela afinidade. O uso do suporte 
para a pintura também pode variar, dependendo da disposição do arteterapeuta em 
explorar tamanho, superfícies e texturas diferentes das do papel tradicional para 
aquarela. O uso de alguns suportes como papel filtro, papel triplex, excelente para 
exploração da técnica da monotipia em aquarela, ou ainda papel cartão podem 
facilitar, e baratear nesse caso, para se lançar nessa técnica tida como não muito 
utilizada por ser considerada de alto custo nos ateliês terapêuticos. 
Das tintas em pastilhas até em tubos, da técnica de úmido sobre úmido ou 
ainda úmido sobre seco, do pincel seco ao pincel molhado, da mancha trabalhada até 
o grafismo do pincel (aqui me aproximo um pouco da escrita oriental) a aquarela 
fornece inúmeros recursos para ser escolhida como expressão do inconsciente do 
sujeito. Além do material tradicional para aquarela, existem suportes tido como 
sucatas que podem ser explorados no uso da expressão das imagens endógenas tais 
como rolo de papel, esponjas para efeitos de textura, papel transparente para colagem 
(e aqui abro um parêntese para a pintura conversar novamente com outra técnica, a 
colagem) além de escovas de dentes para efeitos de pontilhados, materiais 
pontiagudos para efeitos de riscos sobre a pintura, entre tantos outros objetos que 
podem, e valem a pena, serem explorados no uso da pintura com aquarela, além dos 
tradicionais pincéis 4 e 1. 
31 
O uso dessa técnica na pintura terapêutica de acordo com Urrutigaray (2011 
p. 65) “pode retirar o excesso de conteúdo investido na projeção (como imagem 
criada) proporciona uma regressão da libido necessária ao movimento de 
introspecção e de reintegração da emoção exteriorizada”, o que buscamos através do 
uso do símbolo, a busca da reintegração das partes. Além disso, por ser uma técnica 
aguada, e portanto exigindo um domínio técnico prévio e de difícil controle, dificultaria 
assim a correção de possíveis “erros’’ (coloco aqui o erro no sentido de algo 
inesperado por parte do indivíduo na sua produção, diferente do que pretendia 
exteriorizar esteticamente) podendo assim apenas amenizar algumas situações com 
certa técnica, agora por parte do arteterapeuta auxiliando na execução se for o caso, 
sendo isso um estímulo muito grande a aceitação das dificuldades naturais, 
decorrentes no processo da pintura, e da existência, trabalhando ao mesmo tempo a 
questão da supremacia da consciência, aprendendo a conviver com as dificuldades 
pessoais e aceitar onde não se pode ter total controle. Nesse caso, os complexos se 
prestariam bem a esse papel de algo incontrolável e apenas aceitável. 
Finalizo o presente trabalho de pesquisa com uma citação de Jung sobre os 
complexos, que muito se alinha com o processo da pintura espontânea com aquarela 
deixando de lado a ideia do controle, ‘’a liberdade do eu cessa onde começa a esfera 
dos complexos, pois estes são potências psíquicas cuja natureza mais profunda ainda 
não foi alcançada” (JUNG, C. G., VIII/2, § 216). 
Só nos restaria então, aceitá-los. 
 
 
32 
 
CONCLUSÃO 
O presente trabalho de pesquisa pretendeu apresentar a Cor como uma técnica 
expressiva de grande valor no ateliê terapêutico. Apesar de outras tantas técnicas 
expressivas fazerem parte do acervo do arteterapeuta, a pintura ainda se apresenta 
como um dos recursos mais primitivos, no sentido de básico, no ateliê terapêutico, 
independentemente da tinta utilizada ser de natureza seca ou úmida. Aqui, a ênfase 
foi dada à prática da pintura espontânea em aquarela para trabalhar com o sujeito e 
seus complexos, deixando estes aflorarem espontaneamente através do uso da cor, 
visto que esses envolvem sentimentos na sua simbolização. 
A primeira parte foi dedicada aos princípios Junguianos de complexo e símbolo. 
Os complexos, sendo elementos desagregados da psique por algum trauma e ligados 
geralmente a um conflito moral, residem no inconsciente do sujeito e, por isso, 
acabamos não tendo consciência de sua participação ativa no nosso comportamento 
e sentimentos. Uma vez constelados, passam a interferir em nossas decisões e 
atitudes fazendo com que o próprio sujeito se desconheça em suas ações e reações. 
Por possuírem grande carga afetiva, os complexos atuariam como subpersonalidades, 
porém com forte influência sobre o ego dominante. O próprio complexo de identidade, 
por ser o primeiro complexo a ser formado no sujeito e com lugar privilegiado na 
consciência, estaria fortemente ameaçado por complexos constelados, tirando de nós 
assim a ideia de que a consciência teria supremacia sobre as tomadas de decisões 
do sujeito e que o ego tudo controla. Mas nem todos os complexos foram reprimidos 
33 
por uma ação da mente consciente. Alguns deles sempre residiram no inconsciente 
coletivo e, por fazer parte de um coletivo, o sujeito não teria como se desligar deles. 
Nessa parte, no núcleo do complexo, residem os arquétipos. 
O símbolo aparece como o segundo conceito junguiano trabalhado nessa 
monografia, pois este seria o que ligaria o mundo físico aos complexos, auxiliando 
estes a emergirem do inconsciente para o consciente. Nas palavras do próprio Jung, 
bem resumidamente, o símbolo teria por si só essa função, de ligar partes que antes 
formariam entre si uma unidade, fazendo com que a parte dissociada, arrancada, volte 
a fazer parte desse todo. Sendo assim, a função principal do símbolo seria a de 
mediadora entre as partes e de oferecer a volta a uma totalidade. Outra funçãoseria 
a de simbolizar, pois como traz em si um sentido que está além do significado real do 
objeto, levaria ao uso da capacidade imaginativa por parte do sujeito e do 
arteterapeuta na sua interpretação, o que parece nunca se esgotar, característica 
essa intrínseca ao símbolo, pois caso esse se esgote em interpretações, perderia sua 
originalidade, transformando-se então em signo. 
A principal questão colocada foi pertinente à cor e se esta daria conta de 
simbolizar complexos. Pode-se afirmar que sim, ela daria conta dessa simbolização, 
pois, pela sua própria universalidade, já nos mostra como as cores são ligadas 
intrinsicamente ao sentimento e podem assim representar o estado anímico do sujeito 
no momento do fazer terapêutico, com transparência. O segundo capítulo, que foi todo 
dedicado aos efeitos psicológicos da cor como o núcleo desse trabalho, mostrou 
também como cada uma delas pode representar pictoricamente os sentimentos 
universais do humano, porém a importância de nunca serem avaliadas 
individualmente, mas no seu conjunto, ou como foram designadas, pelo seu acorde 
cromático. 
Outra questão a ser respondia foi relativa à técnica da pintura espontânea e se 
esta, como prática terapêutica, seria eficiente para o uso da cor na simbolização dos 
complexos. Podemos verificar que a própria natureza dessa prática tem como objetivo 
deixar fluir sentimentos armazenados na mente subjetiva, onde residem os 
complexos, fazendo com que estes, por estarem carregados de energia psíquica, 
possam ser representados eficientemente pela cor, nos seus mais diferentes 
momentos, através dessa prática espontânea de deixar fluir imagens endógenas. 
34 
Uma terceira parte, dentro do último capítulo, pretendeu mostrar as técnicas 
aguadas como o mais eficiente meio dentro da pintura espontânea pela sua própria 
materialidade. A água, como midium dessas, seria também o catalizador na 
dissolução desses sentimentos agregados aos complexos, através da sua 
manifestação imagética e pictórica. A própria imagem, uma vez simbolizada em cor, 
já estaria fazendo o serviço de não só dar voz ao inconsciente, simbolizando, como 
ao mesmo tempo de ir dissolvendo a energia psíquica agregada nos complexos, 
libertando-os gradativamente de sua compactação em torno dos arquétipos. A pintura 
mostra então, de forma transparente, toda a sua eficácia como terapia expressiva e 
curativa. 
 
35 
 
REFERÊNCIAS 
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criativa. Brasília: 1996. 
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1.ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2013. 
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2019. p. 35-49. 
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Disponível em: https://www.ijep.com.br/artigos/show/a-potencia-simbolica-e-
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Rio de Janeiro: Wak, 2011. 
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analítica. 14 Ed - São Paulo: Editora Pensamento-Cultrix, 2010. 
37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Artista não é uma pessoa dotada de livre arbítrio que 
persegue seus próprios objetivos, mas alguém que permite à Arte 
realizar seus propósitos através dele. Como ser humano, ele pode ter 
humores, desejos e metas próprias, mas como Artista ele é “homem” 
num sentido mais sublime - ele é um homem coletivo - alguém que 
carrega e molda a vida psíquica inconsciente da humanidade. (JUNG)

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