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ARLUCE GURJÃO ARTETERAPIA DE ABORDAGEM JUNGUIANA A COR COMO SÍMBOLO NO ATELIÊ TERAPÊUTICO AQUARELA E COMPLEXOS ESPECIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA E EXPRESSÕES CRIATIVAS SÃO PAULO 2021 ARLUCE GURJÃO ARTETERAPIA DE ABORDAGEM JUNGUIANA A COR COMO SÍMBOLO NO ATELIÊ TERAPÊUTICO AQUARELA E COMPLEXOS Monografia apresentada ao IJEP como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Arteterapia e Expressões Criativas SÃO PAULO 2021 “Inflorescência” (aquarela, monotipia e colagem), 2015 A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos. (Manoel de Barros, O menino que carregava água na peneira) RESUMO O presente trabalho visa estabelecer uma relação do uso da cor no ateliê terapêutico com conceitos básicos da Psicologia Analítica, como complexo, arquétipo e símbolo. Ao associar o tema da Cor juntamente aos conceitos de Carl Gustav Jung, tenho como objetivo mostrar que o uso da pintura no ateliê terapêutico é uma das técnicas expressivas mais eficientes para o paciente se aventurar nesse espaço dedicado à escuta, pois através da manipulação da cor este não só estará dando voz a sua mente objetiva, simbolizando, como também ressignificando complexos. O uso das tintas aguadas, especialmente a aquarela, foi escolhido como técnica expressiva a esse pintar terapêutico, pois essa desencadeia uma forma especial de arte pela sua fluidez, pelo uso da água em sua manipulação. Acredito também que, utilizando o método da pintura espontânea, teremos assim duas grandes aliadas no processo de dar voz ao inconsciente, seja este pessoal ou coletivo, e expressão aos complexos que estejam constelados no momento desse fazer terapêutico. Penso ser interessante também um pouco do conhecimento sobre o significado do simbolismo das cores para auxiliar na interpretação por parte do arteterapeuta, não como um manual de regras rígidas, mas sim como um norte que o motive na interpretação da pintura junto ao paciente. Palavras-chave: Teoria dos Complexos; Símbolo; Cor; Pintura espontânea; Aquarela; Ateliê Terapêutico SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 6 CAPÍTULO 1 Conceitos Junguianos ................................................................ 9 1.1 A teoria dos Complexos .................................................................................. 9 1.2 Símbolo ......................................................................................................... 12 CAPÍTULO 2 Efeitos psicológicos da Cor ...................................................... 14 CAPÍTULO 3 A utilização da cor no ateliê terapêutico................................... 25 3.1 Sobre o uso da técnica da pintura espontânea ............................................. 26 3.2 O uso da aquarela na pintura espontânea .................................................... 30 CONCLUSÃO ................................................................................................. 32 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 35 6 INTRODUÇÃO A cor tem sido objeto de interesse desde sempre. A partir do momento em que se começa a desenhar na infância, o fascínio pela cor já é observado, a criança desenha e colore ao mesmo tempo, ela entende de uma forma intuitiva que precisa colorir para se expressar. E isso se manteve assim por toda a existência humana, desde o homem primitivo nas cavernas até a contemporaneidade, com seus mais diversos estudos sobre o efeito da cor, em algumas áreas específicas como a cromoterapia, por exemplo, o homem vive sob a influência da cor, seja ela externa ou interna. O presente trabalho de pesquisa pretende explorar o uso da Cor no Ateliê terapêutico através da pintura espontânea como uma técnica expressiva de grande valor por envolver os sentimentos na sua produção. A técnica das aguadas, especialmente da aquarela, foi escolhida a partir da minha longa afinidade com esta técnica e por acreditar que ela contenha em si o efeito catártico necessário para deixar fluir sentimentos na prática da pintura. Durante minha vivência em ateliês coletivos, especialmente de aquarela, sempre me despertou curiosidade o fato de esta técnica criar uma espécie de gatilho para um fluxo oral entre os participantes. Por vezes, a conversação no ateliê se dava de forma tão natural, que algo que acontecia em segundo plano, o ato de falar, ia aos poucos ganhando proporções significativas naquele espaço dedicado ao fazer artístico. O clima nesses ateliês sempre me pareceu muito mais descontraído, se 7 comparado a um espaço dedicado à gravura, por exemplo, onde o silêncio se coloca de forma mais imperativa. Os ateliês de aquarela se destacavam pela facilidade com que a fala fluía, o que me levou a pensar que essa técnica talvez por utilizar água em sua composição poderia vir a influenciar de alguma maneira nesse fluxo verbal, ou ainda que a utilização da Cor daria conta também desse exercício, da fala dos sentimentos. Trazendo essa experiencia pessoal para uma prática de ateliê, agora com foco em Arteterapia, pensei então ser muito útil me valer da cor, e da técnica da aquarela, para trabalhar com prováveis simbolizações de complexos. Algumas particularidades se colocam quando se observa um ateliê de técnica em pintura e um ateliê terapêutico, que tem objetivos bem diferentes e específicos entre si, mesmo se valendo da mesma técnica. No primeiro, a pintura se mostraria como um recurso técnico e expressivo para o artista e sua poética pessoal, já no segundo ela se voltaria a simbolizar os vazios do sujeito, não se lançando mão de nenhum recurso técnico para sua execução. Mas, em ambos os casos, a Arte cumpriria a sua função base que seria ligar o sujeito ao objeto, nesse trabalho de pesquisa especificamente a Cor cumpriria essa função. Acredito que assim possa deixar minha contribuição com um conhecimento vindo do campo das Artes agora voltado ao atendimento no ateliê terapêutico. O objetivo desse trabalho será primeiro o de discorrer sobre conceitos básicos da Psicologia Analítica, Complexo/Arquétipo e Símbolo, e em seguida exemplificar como os complexos podem ser simbolizados através do uso da cor no ateliê terapêutico. O que nos leva a seguinte pergunta: a cor daria conta de expressar sentimentos recalcados da mente objetiva? A hipótese é que sim, a Pintura cumpriria esse papel de forma eficaz da fala do sentimento e dos complexos. “Cor=sentimento”, Jung faz essa afirmação em um ensaio escrito sobre a arte visual na obra de Pablo Picasso por ocasião de sua primeira exibição solo em 1932 e essa afirmação foi o que despertou em mim o desejo de escrever sobre o tema da cor pois como afirma Hoch “A correlação entre cor e sentimento pode ser a razão pela qual tantos se preocuparam com a cor” (HOCH, 2019, p. 35) e ainda afirma (Cf. HOCH, p. 38) que nas produções de início o lápis, ou a pena, são utilizados para pequenos esboços de sonhos e fantasias e somente quando o paciente começa a servir-se de cores este seria o momento em que “o interesse puramente intelectual seria substituído por uma participação emocional” 8 (ibid. p. 38). Por esta característica intrínseca a cor, esta daria conta de simbolizar, através das imagens endógenas, a psique objetiva do sujeito. O presente trabalho se divide em três capítulos. O primeiro discorre brevemente sobre os conceitos de Jung utilizados para esse estudo, brevemente porque a obra de Jung é vasta e quase invencível; osegundo discorre sobre a simbolização das cores; e no terceiro capítulo, tento reunir os conceitos de Jung e da técnica da pintura espontânea desenvolvida por Susan Bello, usando os recursos da técnica da aquarela no ateliê terapêutico. Ainda nesse último capítulo, recorro a algumas apreciações por Nise da Silveira sobre o seu trabalho desenvolvido no ateliê de pintura de Engenho de Dentro. Daí foram tirados alguns olhares sobre a abstração. Apesar de se tratar de um campo específico, da pintura com psicóticos, os conceitos Junguianos que Nise discorre para falar sobre os conteúdos imagéticos dos seus pacientes foram muito enriquecedores para mim, pois forneceram um panorama geral sobre a pintura espontânea, especialmente sobre a abstração das formas. Esse trabalho teve sua base metodológica somente a partir de pesquisa bibliográfica sobre material previamente publicado, tendo como grande parte do referencial o pensamento de C. G. JUNG, por ele mesmo ou por autores que tiveram seus trabalhos voltados para a Psicologia Analítica, em livros e artigos disponíveis no site do IJEP e em outros artigos encontrados na internet sobre o tema Arteterapia/Cor, não tendo sido feita nenhuma observação de grupos em clínica ou ateliês terapêuticos. 9 CAPÍTULO 1 Conceitos Junguianos O intuito desse primeiro capítulo será uma breve explanação sobre os principais conceitos dentro da Psicologia Analítica pesquisados para fundamentar esse trabalho, estes serão A teoria dos Complexos e Símbolos. Porém para falar de Complexo tive que abrir uma pequena observação também ao conceito de Arquétipo já que este reside no outro. 1.1 A teoria dos Complexos Carl Gustav Jung começou a formular a sua Teoria dos Complexos a partir de seu teste de associação de palavras onde procurava por uma ‘’situação psíquica do diálogo, com uma determinação mais ou menos exata das medidas e das qualidades’’ (JUNG, C. G., VIII/2, § 196). No lugar de uma questão sentenciada era usado uma palavra-estímulo, vaga, aberta, visando obter com isso uma única resposta. O objetivo inicial desse teste seria o de determinar a velocidade média das respostas a essas palavras chaves e de suas qualidades, porém ele observou que este teste era comprometido pela assimilação. Por assimilação Jung a definiu como sendo uma ‘’atitude por parte do sujeito submetido à experiência e que interpreta erroneamente a experiência’’ (JUNG, C. G., VIII/2, § 195), seria como uma tentativa do indivíduo de lançar um olhar investigativo 10 sobre a experiencia, ver por trás dos bastidores e burlar as regras do teste, o que já comprometia todo o processo que esse visava comprovar. Porém, mais importante ainda para Jung foi observar que durante a execução do teste uma única palavra estímulo podia desencadear situações não esperadas que ele classificou como sendo manifestações em um tempo de reação mais prolongado ou outras vezes até como sendo uma fala do vazio ou ainda por suas palavras “certos fundos de cena silenciados’’ ou constelações. Por constelação Jung explica, “é um processo automático que ninguém pode deter por própria vontade. Esses conteúdos constelados são determinados complexos que possuem energia específica própria” (JUNG, C. G., VIII/2, § 198) e que estar constelado significaria que o complexo reagirá de forma definida. E junto a essas falhas de reação no tempo das respostas, causados pela assimilação, Jung percebe também que estas vinham com conteúdos carregados de afeto e com energia específica, e isso explicaria esse tempo de reação não ser o mesmo que o de outros conteúdos. A essas falhas de reação ele chama de Complexos de tonalidade afetiva, o que mais tarde viria a ser A Teoria dos Complexos, um dos mais importantes conceitos dentro da Psicologia Analítica. Jung define um complexo afetivo como sendo “a imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional e, além disso, incompatível com as disposições ou atitude habitual da consciência” (JUNG, C. G., VIII/2, § 201) portanto complexos seriam aspectos parciais da psique dissociados, sua origem estaria no trauma, no choque emocional, geralmente na infância, que arrancou fora um pedaço da psique e que o conflito moral seria uma das causas mais frequentes dessa dissociação. Na teoria Freudiana se aproximaria do conceito do recalque. O próprio conceito de complexo colocava em dúvida a ideia de uma unidade da consciência visto que não haveria diferença entre uma personalidade fragmentada (psicose) e um complexo. A constelação dos complexos seria um processo automático por esses conteúdos possuírem energia específica própria e portanto, para Jung, estes seriam autônomos e nós estaríamos na verdade “possuídos” por eles quando constelados, em suas palavras “mas o que não é bem conhecido e, embora teoricamente seja de maior importância, é que os complexos podem "ter-nos" (JUNG, C. G., VIII/2, § 200). Quando se fala em ser possuído por um complexo, nos viria à cabeça de que estes estariam no campo do sobrenatural por sua autonomia, fazendo com que o indivíduo parecesse possuído por um demônio. Como explica Jung (ibid.), 11 “a liberdade do eu cessa onde começa a esfera dos complexos, pois estes são potências psíquicas cuja natureza mais profunda ainda não foi alcançada”. “Os arquétipos são formas de apreensão, e todas as vezes que nos deparamos com formas de apreensão que se repetem de maneira uniforme e regular, temos diante de nós um arquétipo, quer reconheçamos ou não o seu caráter mitológico”. (JUNG, C. G., VIII/2, § 280) Jung via dois aspectos no complexo, um seria o que ele chamava de casca dos complexos e estes seriam “uma rede de associações agrupadas em torno de uma emoção central e adquirido individualmente, logo de natureza pessoal” (WHITMONT, 2010, p. 59) e o outro aspecto seria o que Jung chamou de núcleo mitológico do complexo, em suas palavras “o centro do complexo consiste no núcleo de um padrão humano universal chamado de arquétipo do inconsciente coletivo ou da psique objetiva” (ibid.), portanto esses estariam além de conteúdos de representação pessoal e seriam representações simbólicas universais que residiriam em todos nós. O arquétipo, ou núcleo mitológico do complexo, se apresenta sob formas ou representações mitológicas pois além de ser imagem seriam inerentes a todos nós e se mostrariam através dos contos de fadas, mitos, contos, formas religiosas, sonhos e fantasias, estas imagens arquetípicas, aparecem em todos os lugares e épocas e a elas nos referimos como mitologema. O mitologema por sua vez só pode ser alcançado quando se esgota toda a casca do complexo, uma vez que a sua natureza de caráter pessoal é somente uma forma que um tema mitológico se apresentaria a nós, talvez de uma forma mais compreensível. Os arquétipos então por sua natureza, segundo Jung, seriam representações simbólicas. Estes estariam gravados tão profundamente no inconsciente coletivo que funcionariam como modelos pré-formados e se exprimem por imagens arquetípicas, mas o que seria comum a toda a Humanidade segundo Chevalier (2012, p. XIX) seriam suas “estruturas constante e não as imagens aparentes que podem variar de acordo com as épocas, as etnias e os indivíduos”. Essas estruturas constantes podem ser observadas, por exemplo, nos mitos onde este funcionaria como um teatro simbólico das lutas interiores da humanidade, variando somente os seus personagens. 12 1.2 Símbolo Todos os processos e efeitos de profundidade psíquica representados pictoricamente são, em oposição a representação objectiva ou “consciente’’, simbólicos, quer dizer, indicam da melhor maneira possível, e de forma aproximada, um sentido que, por enquanto, ainda é desconhecido. Jung (O espírito na arte e na ciência, s/d, p. 88) “O que chamamos de símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos podeser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além do seu significado evidente e convencional” (JUNG, p. 21) assim Jung conceitua símbolo em um dos seus textos mais conhecidos, quando fala da importância dos sonhos, em O homem e seus símbolos. Continua ainda assinalando que “uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato” (ibid.). O conceito de símbolo traz em si vários sentidos. Como já dito, para Jung este não seria somente uma alegoria ou um signo, mas algo que se encontra além disso, em suas palavras “uma imagem apropriada para designar, da melhor maneira possível, a natureza obscuramente pressentida do Espírito” (apud CHEVALIER, 2012 p. XXII). O significado de espírito neste contexto para Jung se volta para o consciente e inconsciente. Seria bom então distinguir a diferença entre signo e símbolo já que os dois são representações imagéticas. Um signo seria uma imagem com significado intelectual, um conhecimento objetivo, fechado e não ultrapassaria seus níveis de significação racional, ou seja, não vai além da sua representação e estaria no plano das ideias. O símbolo por sua vez seria também uma imagem, mas essa carregaria consigo forte carga afetiva, mobilizando o psiquismo e afetando assim as estruturas mentais. Para alcançar seu significado, diferente do signo, o símbolo precisa de interpretações e estaria no plano da imaginação. O símbolo por possuir uma grande “riqueza psicológica”, de acordo com Chevalier, 2012, p. XVIII, “ao afastar-se do significado convencional, abre caminho à interpretação subjetiva. Com o signo permanece-se num caminho seguro e contínuo: o símbolo supõe uma ruptura de plano”. Portanto o símbolo traz consigo a ideia de reunião, de reagrupamento de um signo que foi previamente partido e que agora se fará novamente unidade pois em 13 sua origem uma das definições para símbolo seria a de “um objeto dividido em dois” (Cf. Chevalier 2012, p. XXI) e assim, “o símbolo separa e une, comporta as duas ideias de separação e de reunião, evoca uma comunidade que foi dividida e que se pode reagrupar” (ibid.). O símbolo serviria assim para nós como uma ponte, ou usando uma terminologia mais contemporânea, um link, que reúne elementos separados, aqui mais especificamente neste trabalho de pesquisa, o consciente e o inconsciente. O símbolo teria a função de estruturar através da mente consciente o que a mente criadora/inconsciente exprime através de imagens, mantendo assim o equilíbrio psíquico e possibilitando a transformação do sujeito. Por sua função mediadora como uma força que une, que religa, o símbolo exerce uma função especial no campo da arteterapia visto que faz uso da capacidade imaginativa, este se apresenta como função terapêutica, fazendo com que o indivíduo se ligue ao que estava desligado, ressignificando complexos, e caminhe em direção a uma unidade, ou ainda nas palavras de Bello, (1996, p. 13) “é o símbolo que cura”. Aqui, a cor teria essa função, a de simbolizar, como veremos mais detalhadamente no capítulo seguinte, de forma universal os sentimentos, e terão quase sempre a mesma interpretação, seja essa pessoal ou cultural. 14 CAPÍTULO 2 Efeitos psicológicos da Cor “O primeiro caráter do simbolismo das cores é a sua universalidade, não só geográfica, mas também em todos os níveis do ser e do conhecimento, cosmológico, psicológico, místico etc. As interpretações podem variar.” (CHEVALIER, 1982, p. 275). A cor tem sido objeto de interesse desde sempre. A partir do momento em que se começa a pintar na infância o fascínio pela cor já é observado, a criança pinta e desenha (pelo gestual) ao mesmo tempo. Ela entende, de uma forma intuitiva, que precisa colorir para se expressar. E isso se manteve assim por toda a existência, do homem primitivo nas cavernas até a contemporaneidade, com seus mais diversos estudos sobre o efeito da cor, em algumas áreas específicas como a cromoterapia por exemplo, o homem vive sob a influência da cor, seja ela externa ou interna. Apesar de Jung não ter formulado a sua própria teoria da Cor sempre se interessou pelo Simbolismo das cores. Ele discorre sobre a cor em seus escritos sobre interpretação dos sonhos e alquimia e algumas pistas sobre a sua concepção de cor também podem ser encontradas na sua discussão sobre imaginação ativa (Cf. HOCH, 15 2018 p. 37). Jung também classificou as principais funções psíquicas do homem por cores. A função pensamento, intuição, sentimento e sensação foram representadas pelas cores azul, amarelo, vermelho e verde nessa mesma sequência (Cf. URRUTIGARAY, 2011, p. 134) o que demonstra que o assunto da cor é um tema relevante e de grande interesse dentro da Psicologia Analítica. Falar em simbolismo da cor implica falar também em sua universalidade e, portanto, de sua conotação arquetípica. Heller, no seu livro A Psicologia das Cores, afirma que as cores não estão ligadas a uma questão de gosto pessoal, mas que estas na verdade seriam “’vivências comuns que, desde a infância, foram ficando profundamente enraizadas em nossa linguagem e em nosso pensamento” (HELLER, 2013, p. 21). Heller também afirma que como conhecemos mais sentimentos do que cores, em quantidade, seria possível que uma mesma cor causasse efeitos diferentes dependendo da ocasião, e que estes seriam na maioria das vezes, contraditórios. O que mais importa não é olhar a cor em si, isolada, pois essa quase nunca se apresentará sozinha, mas o conjunto de cores que a acompanham ou o seu acorde cromático. O acorde cromático é o que define o efeito da cor principal, dependendo das cores que estejam a ela associadas. Um azul pode ser tranquilo, profundo, etéreo ou espiritual, mas dependendo de sua associação com outras cores pode vir a ter um efeito perturbador, triste ou melancólico. Matisse, um dos pintores que mais se interessou pelo uso da cor levando-a até as últimas consequências em suas obras (dados os devidos créditos também à Kandinsky e Klee) afirmava que ‘’um único tom não é nada em termos de cor, dois tons são um acorde, são a vida’’. Ainda nas palavras de Heller (ibid.) “Um acorde cromático não é uma combinação aleatória de cores, mas um efeito conjunto imutável. Tão importantes quanto a cor mais frequentemente citada são as cores que a cada vez a ela se combinam”. Vale ressaltar também que na apreciação das cores o contexto será outro critério relevante a ser observado visto que uma cor pode possuir significados diferentes se estiver contida, por exemplo, em uma vestimenta, um objeto de arte, um ambiente ou ainda em um alimento, aqui o contexto é o que irá nortear se esta despertará sentimentos positivos ou negativos. A impressão psicológica das cores será também outro fator a ser levado em consideração pois mesmo tendo parentescos entre si, como o rosa e o vermelho, o amarelo e o laranja, o azul e o violeta, as cores possuem efeitos psicológicos 16 diferentes, nenhuma podendo substituir outra e todas igualmente importantes em suas particularidades. De acordo com Heller e seu ponto de partida, uma pesquisa realizada com 2.000 pessoas na Alemanha onde foram apresentados acordes cromáticos de 2 a 5 cores e sentimentos que deveriam ser a eles associados, “em termos estatísticos, os acordes cromáticos são absolutamente confiáveis” (HELLER, 2013, p. 25). Além de sua pesquisa, Heller explana também sobre a Teoria da Cor de Goethe e análises de caráter, embasadas na psicologia profunda, como suportes aos seus dados estatísticos, confirmando a universalidade da cor como um fato. Feito todas essas ressalvas sobre os efeitos psicológicos da cor vamos então ao simbolismo de algumas delas. Azul, a cor preferida dos ocidentais Por ser a cor preferida ela representa todas as características dos bons sentimentos.Não existe sentimento negativo em que o azul predomine, está associado ao céu e por isso desperta o sentimento do Divino em nós. Quando associado ao branco simboliza os valores supremos do bem, da verdade e do judicioso. É também a cor das virtudes intelectuais, do princípio feminino passivo, tranquilo, introvertido e em busca da harmonia. O azul pertence à água, ao ar. É a cor da Virgem Maria, o seu manto é azul e a sua simbologia na trindade cristã, e também de outras divindades femininas, como Iemanjá. Quando associamos à sensação de espaço pensamos em planos muito mais amplos e por isso o azul adquiriu o efeito universal de distância. Podemos ver isso até como consequência de um efeito ótico pois todas as cores se dissolvem no azul, quando observamos uma paisagem quanto mais longe o objeto mais azulado ele será e isso nos dá também a sensação de profundidade e de perspectiva. “O azul é a cor das dimensões ilimitadas. O azul é grande” (ibid. p. 48). 17 Vermelho, a cor da carne O simbolismo do vermelho está ligado ao fogo e ao sangue, duas referências universais ao humano. Quando o sangue sobe à cabeça nós coramos, seja por raiva, por vergonha ou por paixão. É a cor dos extrovertidos e por ser uma cor quente sempre se projeta pois pela ótica é impossível uma cor quente ficar em segundo plano. É também a cor da guerra, do planeta Marte, da agressividade, da raiva e da coragem, atividades que exigem mais paixão do que compreensão. No Renascimento foi a cor mais apreciada por homens, mulheres, jovens e idosos. Ainda nas pinturas das cavernas foi a primeira cor a ser utilizada, visto que por essas pinturas serem feitas a partir de pigmentos terrosos e estes conterem óxido de ferro, mesmo sendo terras amarronzadas quando oxidadas pelo tempo puxavam para o vermelho e é por isso “que em nosso pensamento inicial, pensar em vermelho equivale a pensar em cor” (ibid. p. 101). Durante séculos se creditou ao vermelho algum poder especial ligado à magia, era comum se colocar fitas vermelhas nos braços ou pernas dos doentes porque acreditava-se que essa cor afastava a própria doença. O “efeito homeopático” da cor também era muito utilizado, doenças vermelhas eram tratadas com alguma substância também vermelha, como por exemplo vestir alguém de vermelho quando essa tinha escarlatina ou colocar um colar de coral vermelho no pescoço se esse tinha febre. É a cor preferida citada pelas crianças e uma das primeiras que eles reconhecem, talvez por estar associado aos doces. O vermelho remete ao amor passional, quando vem acompanhado do branco transforma-se na gentil cor de rosa, o amor angelical e quando associado ao preto, transporta-nos do amor passional ao ódio. Vermelho é a cor da matéria, do animal ao contrário do azul que é imaterial, espiritual. 18 Figura 1 - Quadrados com Círculos Concêntricos, Aquarela – Wassily Kandinsky Amarelo, a cor contraditória É a cor mais clara dentre todas do disco de cores, o amarelo nos remete ao Sol, a luz, ao ouro, ao Verão, a inflorescência. É a cor da inteligência pois pertence à cabeça, por alusão a iluminação do entendimento, é também a cor do lúdico, da recreação. Os otimistas são ensolarados, mas também os traidores e os invejosos. É tida como uma cor instável pois basta um pouco de vermelho para se tornar laranja ou um pouco de azul para se tornar verde. Conhecida também como a cor da maturidade, em alusão ao tempo pois as coisas envelhecem e se tornam amareladas, além de ser a preferida pelas pessoas mais velhas, com a idade as cores mais luminosas vão sendo as mais apreciadas talvez por remeter à jovialidade. Ao contrário do amor passional, associado ao vermelho, ao coração, o amarelo nos remete ao amor amadurecido, sensual. Na companhia do vermelho e do laranja é o acorde do prazer, simboliza a alegria de viver, atividade, energia, animação, contentamento e riqueza. Associado ao branco se torna radiosamente claro, do rosa e do branco nos remete à leveza e a delicadeza, mas junto ao preto se torna extremamente berrante. Pelo simbolismo das cores, o preto neutralizaria tudo a que se associa, sendo assim o amarelo combinado com preto perde o caráter luminoso e se torna pálido, 19 esverdeado, o que nos remete a uma sensação de turvo, de falta de discernimento e de claridade da mente simbolizando assim a inveja e o ciúme. O simbolismo da raiva amarela parece ser também universal, talvez pela bile humana ser amarelada e quando estamos com raiva a produzimos em excesso. A palavra francesa jalousie (inveja) é um bom exemplo de como o amarelo, jaune, simboliza sentimentos negativos. Ao lado do cinza se torna a cor da insegurança pois o cinza não é nem preto nem branco. Ao contrário do azul, feminino, o amarelo é tido como a cor do masculino pois além de ser associado a tudo o que é solar, Deus frequentemente aparece representado por um triângulo amarelo, geralmente com um olho dentro do triângulo, o símbolo da onisciência e da onividência. Azedo, refrescante e amargo são sabores associados ao amarelo, talvez pela associação com as frutas cítricas. O Amarelo se fosse som seria agudo. ‘’O compositor Alexander Skriabin estava convencido de que cada tom tinha uma correspondência cromática; o ré maior era o seu amarelo’’ (ibid. p. 153). Era também a cor preferida de Van Gogh, que é conhecido pelo uso de intensos amarelos em suas obras, pelos seus girassóis e até pela cor da sua casa em Arles. Os amarelos o inspiravam profundamente. Amarelo também eram as vestes de Dionísio, deus do vinho e da fertilidade, onde era celebrado com muito vinho e sexo em orgias e ele dedicadas. Verde, a cor da Natureza O verde é tido como uma cor elementar pois simboliza a quintessência da Natureza. Está ligado a consciência ambiental que se recusa a sucumbir a uma sociedade tecnológica. O verde acalma e traz sensação de segurança e de saúde. Está ligado a ideia de renovação e esperança e, portanto, à Primavera. O verde é úmido, agradável, tranquilizador. É a cor que reside entre o espírito e a matéria, é a cor do meio termo. O verde está entre o vermelho-quente e o azul-frio, o verde é de temperatura amena. O vermelho é animal, o azul espiritual, o verde é o vegetal. A ideia de prosperidade também está associada ao verde, assim como a fertilidade, simbolizada pela rã, que é verde. Tudo que é novo está associado ao verde, as expressões “novo em folha”, frescor, amor jovem são representações orais desse 20 simbolismo. A deusa Vênus está associada também ao verde por ser a deusa dos jardins, das hortas e das vinhas. Kandinsky, um dos abstracionistas que mais se interessou pela impressão das cores não gostava muito do verde e chegou a comparar a cor com os predicados da burguesia: algo imóvel, autocomplacente e estúpido. Aliás, como o vermelho era a cor da nobreza o verde realmente era tido como a cor da burguesia. Goethe em sua Teoria das Cores chama o verde de uma cor útil, “como de fato o são os comerciantes, os artesãos e os empregados” (ibid. p. 208). Goethe classificava indiretamente as cores de acordo com o status social delas e foi isso que ele utilizou para classificar o verde como sendo a cor da burguesia. Figura 2 - Círculo cromático do livro Teoria das Cores (1810), de Goethe. Preto O branco, o começo, o cinza o meio, o preto o fim. É a cor preferida pelos jovens pois a associam com as roupas da moda e os carros caros, os idosos por sua vez a evitam pois pensam na morte, preferindo assim usar cores mais luminosas. O branco é composto de todas as cores enquanto o preto é a ausência total de luz. Kandinsky classificou o preto “como um nada sem possibilidades, como um nada morto, após a https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_das_Cores_(livro) https://pt.wikipedia.org/wiki/Goethe 21 extinção do sol, como um eterno calar, sem futuro e sem esperança: assim soainteriormente o preto.” (ibid.) Na simbologia cristã o preto se apresenta como a tristeza pela morte, o cinza como o juízo final e o branco como a cor da ressurreição e por isso os mortos eram vestidos de branco. A simbologia da morte como ceifadora da vida sempre nos aparece vestida de preto assim como Cronos, o deus do tempo, também tem suas vestes pretas. A principal característica do preto é a reversão dos valores das cores que o acompanham em seu oposto, despertando assim uma característica ou sentimento negativo. Como já vimos o amarelo acompanhado do preto deixa de ser luminoso e se torna um dos acordes mais negativos pois se associa à inveja e ao ciúme. O vermelho associado ao preto deixa de ser passional e passa a ser o mal que se deriva das paixões. Preto se deriva do grego melas e amarelo de choles e daí advém a palavra melancolia pois antigamente acreditava-se que as pessoas melancólicas possuíam o sangue preto. Porém, para Jung, simbolizava o lugar das germinações, de acordo com Chevalier (2012, p. 276) Jung considerava que o preto seria “a cor das origens, dos começos, das impregnações, das ocultações, na sua fase germinativa, anterior a explosão luminosa do nascimento”. Branco, a cor da ressurreição O branco ao contrário do preto ilumina tudo que o acompanha, enquanto cor luz que reflete todas as cores ou cor pigmento, que ao contrário do preto não pode ser obtido misturando-se outras cores, o branco está associado a tudo que é bom ou positivo, ao luminoso. Vinculamos ao branco sentimentos que não fazemos com nenhuma outra cor. Branco é a cor dos deuses, Zeus aparece em várias versões, touro ou cisne é branco, o espírito Santo ou Divino é uma pomba branca e na Índia o gado branco é a materialização da luz. Na companhia do branco tudo se torna positivo. O branco, diferente do agudo amarelo, é silencioso. Na simbologia chinesa, o branco representa o Yin feminino (Yin-Yang) e um temperamento tranquilo, passivo também é branco. O branco também está associado ao vazio. O branco ao lado do cinza representa a ausência de sentimentos. A leveza é outro atributo do branco por esse ser a cor mais clara de todas, e também o frescor. 22 Figura 3 – The Ten Largest, Têmpera sobre papel – Hilma af Klint Laranja, a cor da recreação Por ser a combinação do amarelo e do vermelho o laranja é tido como uma cor quente e versátil. Para Goethe, era o vermelho amarelado. A cor está diretamente associada à fruta e somente quando essa chegou à Europa, vinda das Índias, é que se denominou essa cor como sendo laranja (nareng era o seu nome e transformou-se em orange, na França). Por estar ligada a um sabor, tudo que vemos em cor laranja associamos ao cítrico dessa fruta, mesmo que esse não tenha nenhuma relação, nós sempre esperamos que os alimentos tenham esse sabor. Assim como o amarelo está ligado ao sabor cítrico, o laranja esta ligado a sabores diversificados. Quando pensamos em laranja pensamos em doce, ácido e agridoce. A cor laranja também nos faz pensar que tudo nessa cor é mais gostoso. 23 Laranja está associado a diversão, a sociabilidade e ao lúdico e sua cor complementar é o espiritual azul, por serem complementares os botes salva vidas para naufrágios são também desta cor pelo seu contraste com o mar. O laranja por ser a cor da extroversão é também da ostentação, ao lado do dourado. É a cor dos inconformistas e dos originais. Laranja também é luz do outono. O laranja clareia e aquece sendo uma mistura ideal para alegrar o corpo e a mente. É considerado uma cor feminina por aspirar ao vermelho, masculino. No Budismo simboliza a transformação, é a cor da iluminação e como tal, do mais alto grau da perfeição. Violeta, a cor mística e da magia É a cor dos sentimentos ambivalentes. Muito confundida com o lilás, o violeta é a mistura de azul e vermelho, o lilás tem adição do branco em sua composição. O violeta representa a união dos opostos masculino e feminino, sensualidade e espiritualidade. Assim como o laranja está para o budismo o violeta está para a teologia. A igreja católica é a única instituição onde seus ministros trajam violeta. Na igreja evangélica, o violeta também está presente e, portanto, para essas simboliza a cor do divino e da fé. Ela é também tida como a cor da penitência, da humildade e do jejum da Páscoa. Em contradição ao conceito de humildade da igreja católica o violeta é tido como a cor da vaidade, um dos pecados capitais, e ligado à beleza é evidentemente feminino. É a cor dos pecados doces. O violeta contém mais sexo do que o vermelho. O acorde vermelho-violeta-preto-rosa é o acorde da imoralidade, da sensualidade, da sedução. Complementar do laranja, o violeta é a cor da fé e da superstição. Nele todos os opostos se fundem pois é a cor da sensualidade com a espiritualidade, sentimento e intelecto, amor e abstinência. Nessa cor o visível e o invisível se fundem pois no arco íris é o ultravioleta. Nos chakras, o violeta simboliza o chakra coronário, ou da cabeça, pois aí se conectam a inteligência e os sentimentos. Violeta e seu complementar laranja formam a combinação mais anticonvencional, o violeta apesar de frio é sonoro, o laranja é quente e alegre. Foi a 24 cor triunfante do movimento Art Nouveau e a mais apreciada por Klimt pois suas figuras femininas quase sempre eram pintadas em tons de violeta associado ao dourado e ao prata pois nessa época nada que não fosse artificial poderia ser considerado Arte. O violeta também é tido por sua fusão de masculino e feminino como a cor da homossexualidade e o arco íris que outrora fora o símbolo da união do divino com o homem, hoje representa o movimento LGBT, mais uma contradição do violeta. O lilás, por ser uma cor rebaixada do violeta pelo branco, representava a cor das “solteironas”, mas que ainda estavam disponíveis ao casamento, pois, como não poderiam mais ostentar a jovial cor de rosa o lilás, contendo o vermelho, servia para assinalar o seu desejo ainda pelo matrimônio. O lilás até como cheiro estava associado a elas pois a lavanda e a violeta eram os perfumes “lilases”. E assim o lilás acabou sendo associado a tudo que é negativo. Até para Goethe o lilás teria, segundo suas palavras, “algo de vivaz, mas sem alegria”. Figura 4 – Disks of Newton 1, Aquarela – Frantisek Kupka No capítulo seguinte veremos a utilização da pintura no ateliê terapêutico como forma de dar voz a complexos constelados. 25 CAPÍTULO 3 A utilização da cor no ateliê terapêutico Pintar aquilo que vemos diante de nós é uma arte diferente de pintar o que vemos dentro de nós (JUNG apud SILVEIRA, 2001, p. 86) Falar do uso da cor no ateliê terapêutico equivale a falar praticamente em pintura, e em Arteterapia. Como afirma Oliveira (2019) “essa técnica é tão comum à arteterapia que pode-se dizer que praticamente se confunde com ela’’. A prática da pintura em ateliê terapêutico estabelece um diálogo entre o criador e sua obra, oferecendo ao terapeuta material suficiente para dialogar com o inconsciente do paciente, agora traduzido em imagem uma vez que a matéria se transformou em um novo objeto e oferece margens a interpretações pois como toda produção artística sempre terá espaço aberto para a imaginação do material ressignificado. De acordo com Pain (1996, p. 43) “a representação criativa tem sempre uma dose de redundância que constituiu seu estilo e uma dose de originalidade que faz sua diferença’’. 26 A psicologia Analítica reconhece na imagem grande importância, assim como na fantasia e nos delírios. Segundo Silveira, (Cf. Silveira, 2001, p. 86) Jung via no universo imagético um autorretrato do estado interno da psique de seus pacientes pois a libido, quando transformada em imagem, viria carregada de energia, desejos e impulsos e por isso ele sugeria a eles que pintassem, poissomente através da pintura, essa se mostraria tal qual como é, sem passar pelo crivo da interpretação do ego. Ainda nas palavras de Silveira (ibid.) “o que importa é o indivíduo dar forma, mesmo que rudimentar, ao inexprimível pela palavra”. A cor como símbolo aqui cumpre a sua função principal que seria a da fala dos sentimentos. Nas palavras de Urrutigaray (2011, p. 22) “fazer uso das cores em produções é facilitar a passagem da mensagem, feita pelo canal do inconsciente à consciência, dos afetos reprimidos, esquecidos ou ainda imaturos para o alcance da mesma”. Para a Psicologia Analítica as imagens se dividiriam em dois tipos: as do inconsciente pessoal e as do inconsciente coletivo (Cf. Silveira, 2001, p. 86). As do inconsciente pessoal representariam as vivências e experiências pessoais do indivíduo “logo reprimidas”, já as do inconsciente coletivo emergiriam das camadas mais profundas da psiquê e representariam todas as emoções coletivas. Jung as denominou de imagens arquetípicas. Essas imagens por serem inerentes à psique coletiva e aos temas míticos condensariam em si toda a memória da humanidade e seriam, pois, de acordo com Silveira (ibid.), “é aí que estão as raízes de nossa vida psíquica, a fonte de toda imaginação criadora”. 3.1 Sobre o uso da técnica da pintura espontânea Susan Bello, em seu livro Pintando sua Alma, nos apresenta o que ela denominou de pintura espontânea. Em breves palavras (Cf. Bello, 1996, p. 14), o uso dessa técnica permitiria que as imagens internas emergissem do inconsciente sem passar pelo crivo da racionalidade, expressando-se através de imagens simbólicas. Diferentemente da forma clássica da pintura, onde o senso estético tem lugar de destaque, aqui o que se privilegia é o símbolo, este viria sempre primeiro despertando a energia latente da psique. Ao fazer uso da pintura espontânea no ateliê terapêutico, a criatividade também seria despertada, pois, uma vez que a energia psíquica é 27 ativada, esta dirige-se com tanta força que nada pode pará-la. “É o símbolo que cura” (Bello, 1996, p. 13). Consonante a esse conceito, Jung também afirmava que ([ S.I.: s.n.] p. 87) “a arte não objetiva extrai seus conteúdos essencialmente do “íntimo” da pessoa”. Este ‘’íntimo” não pode corresponder à consciência” (grifos do autor). Nessa técnica, a pintura se volta a uma imagem interior, recebida como inspiração ou ainda como insight, e a olhamos sem nenhum juízo de valor estético. Aliás, é recomendado que não se façam retoques de caráter estético na imagem, pois quanto mais primitiva mais fiel ela será como símbolo. Segundo Margareth Naumburg (apud Silveira, 2001, p. 92) “as técnicas da arte terapia baseiam-se no conhecimento de que todo individuo, tenha ou não treinamento em arte, possui capacidade latente para projetar seus conflitos internos sob forma visual”. Se essa imagem simbólica será pessoal ou mitológica, ela se mostrará como o tempo e revelará fielmente o estado anímico de quem a pintou. Mas no que o uso da pintura espontânea no ateliê terapêutico teria a ver com complexos afinal? Segundo Bello (1996, p. 93), no uso da prática da pintura, “vemos uma parte da psique necessitando expressar aquilo que ainda não é capaz de integrar dentro da estrutura do ego existente” e por essa definição de cunho da própria autora, a pintura atuaria como um facilitador de sentimentos em imagens de material reprimido ou ainda não levado à consciência, deixando o inconsciente livre para fluir sem passar pelo ego, cabendo ao terapeuta somente estabelecer a conexão entre o material produzido e o estado emocional do paciente. Pensar na pintura espontânea como um relaxamento da mente racional, consciente e egóica para pintar o que emergir da mente objetiva pode causar uma certa insegurança e um estado de estresse, esperado e natural, quando o caos se apresenta, pois nesse momento estamos desvinculados dos conceitos estéticos de belo ou feio. Pain, (Cf. Pain 1996, p. 56) nos chama a atenção também sobre a materialidade do fazer pictórico, pois a própria folha em branco seria o vazio a ser vencido e ainda é necessário tirar sentido daquilo que se produzirá sobre ela. ‘’A criação de um objeto é sempre uma aventura, um desafio dramático no qual o sujeito é o autor” (ibid.). Aqui o inconsciente dirige o processo e o caos é um estado necessário dentro do processo criativo de transformação (caos-morte-destruição-renovação). Precisamos dar suporte ao paciente de que esse estado de caos é desejável e faz 28 parte do processo criativo e será daí, fora de sua zona de segurança, que ele descobrirá novos modos de conhecimento, permitindo que as imagens expressem sentimentos profundos, não censurando nada que possa ser paralisado pela mente consciente pois, de acordo com Bello (ibid p. 49), “o símbolo está vivo, produzindo o que o pintor necessita nesse momento para evoluir o Self”. Do seu trabalho à frente do ateliê de pintura de Engenho de Dentro, Nise da Silveira nos deixa algumas observações sobre a produção de seus pacientes na linguagem da abstração, em suas palavras, “certamente a linguagem abstrata presta-se a dar forma a segredos pessoais, satisfazendo na necessidade de expressão sem que os outros os devassem” (SILVEIRA, 2015 p. 73). A correlação de abstração na produção da pintura espontânea me ocorreu pelo fato de que, muitas vezes por não se ter noções de desenho e até mesmo por uma inibição, de caráter estético, o famoso ‘’não sei desenhar”, o sujeito foge da figuração para uma linguagem conhecida como abstração. Portanto coloco aqui somente uma alusão à abstração pois, caso ela se manifeste de forma impositiva em séries, como linguagem pictórica será de grande valor ao arteterapeuta possuir um conhecimento sobre a linguagem abstrata. Kandinsky as chamava de improvisações. “Expressões, em grande parte inconscientes e quase sempre formadas de súbito, originadas de acontecimentos interiores, portanto impressões de Natureza Interior. Eu as chamo Improvisações” (apud Silveira, 2015 p. 23). Paul Klee também cita a linguagem abstrata como sendo uma fuga do mundo real e segundo ele escreve em seu diário “Quanto mais o mundo se torna horrificante (como atualmente) mais a arte se torna abstrata; um mundo em paz suscita uma arte realista” (apud SILVEIRA, 2015 p. 21). Como podemos ver, a linguagem da abstração sempre foi um sintoma de inquietação, até mesmo na Arte. Worringer, em seu livro Abstração e Natureza, defendia que o sentimento estético se movimentava entre dois polos: empatia e abstração. Para ele, a empatia, ou figuração, se daria quando o homem encontrava beleza ou satisfação no mundo orgânico e a abstração no mundo inorgânico, ou nas leis abstratas, ou seja, a relação do homem com o cosmos definiria uma ou outra dessas tendências (Cf. SILVEIRA, 2015, p. 20). Jung, a partir das ideias de Worringer, correlaciona estes polos com atitudes típicas de introversão e extroversão. A necessidade de abstração viria a partir 29 de uma forte carga de libido do sujeito nos objetos fazendo com que eles se tornem assustadores e inquietantes, o que o faria recorrer à linguagem da abstração. Já a figuração se daria quando o sujeito nada visse nos objetos que o hostilizasse, empatizando com eles e trazendo-os para perto de si. “Empatia e abstração são necessárias para a apreciação do objeto e para a criação estética. Ambas se acham presentes em todo indivíduo, embora desigualmente diferenciadas” (apud SILVEIRA, 2015, p. 21). A forma está ligada ao movimento, enquanto a cor é somente sensação. A forma apela a abstração, ao reconhecimento do objeto, enquanto a cor provoca sensibilidade e intuição. A forma evoca o gesto, a cor traduz a emoção. A forma constitui o objeto, a cor é somente uma qualidade do objeto: a cor pode faltar, mas não se pode evitar de ter uma forma, visto que tem sempreum limite. Pain (1996, p. 99) Ainda sobre o uso da cor na prática da pintura espontânea podemos sinalizar alguns itens a serem observados, além de uma possível aproximação à abstração, como por exemplo, a nossa percepção da cor comparada a intensidade dos sentimentos nela contidos. O fato de uma cor vir a ser representada mais ou menos matizada indicaria a intensidade de um sentimento (Cf. URRUTIGARAY, 2011, p. 129) quanto mais suave for a cor mais tênue será a emoção nela contida e o contrário também se dá com a sua saturação, pois mais carregada essa viria de emoção. A incidência de luz, ou a capacidade de refletir, também são indicadores de sentimentos, cores quentes indicam estados de expansão, de excitação, já as cores tidas como frias nos transmitem sensação de tranquilidade, de profundidade e de recolhimento. Assim como no desenho, a cor também possuiria um “contorno” criado pelo seu próprio limite no espaço e isso pode estabelecer planos entre figura (algo que se destaca, portanto mais perto do observador) e fundo (algo que lhe contém). A escolha da própria cor seria por si só um indicativo das emoções do sujeito, visto que existem cores que gostamos mais e de outras menos. Nossa relação com a cor pode estar associada nesse ponto a algum acontecimento do passado e que teve grande importância afetiva para nós, de forma positiva ou não. Por isso, convém sempre observar quais cores aparecem frequentemente nos trabalhos, a paleta de cores, e quais cores nunca são escolhidas, ou raramente aparecem nas produções. 30 3.2 O uso da aquarela na pintura espontânea Libertadas da tirania cerebral, as mãos podem elaborar imagens construir objetos de grande significado simbólico, expressão de conteúdos do inconsciente, que terão significado terapêutico, não só para o criador, mas também muitas vezes, para o próprio observador que saiba ver. Walter Boechat (A libertação das mãos, p. 9) O uso da aquarela entra como o facilitador para o diálogo entre consciente e inconsciente na técnica da pintura espontânea, pois a própria matéria, na qual é diluída, já é suficiente para mobilizar o lado afetivo, dos sentimentos, pelo uso da água e da cor. Por sua fluidez e transparência, o que nos fornece retirar efeitos interessantes de contraste e sobreposição, me parece ser perfeita para a pintura espontânea, assim como todas as tintas aguadas, mas me detive nessa pela afinidade. O uso do suporte para a pintura também pode variar, dependendo da disposição do arteterapeuta em explorar tamanho, superfícies e texturas diferentes das do papel tradicional para aquarela. O uso de alguns suportes como papel filtro, papel triplex, excelente para exploração da técnica da monotipia em aquarela, ou ainda papel cartão podem facilitar, e baratear nesse caso, para se lançar nessa técnica tida como não muito utilizada por ser considerada de alto custo nos ateliês terapêuticos. Das tintas em pastilhas até em tubos, da técnica de úmido sobre úmido ou ainda úmido sobre seco, do pincel seco ao pincel molhado, da mancha trabalhada até o grafismo do pincel (aqui me aproximo um pouco da escrita oriental) a aquarela fornece inúmeros recursos para ser escolhida como expressão do inconsciente do sujeito. Além do material tradicional para aquarela, existem suportes tido como sucatas que podem ser explorados no uso da expressão das imagens endógenas tais como rolo de papel, esponjas para efeitos de textura, papel transparente para colagem (e aqui abro um parêntese para a pintura conversar novamente com outra técnica, a colagem) além de escovas de dentes para efeitos de pontilhados, materiais pontiagudos para efeitos de riscos sobre a pintura, entre tantos outros objetos que podem, e valem a pena, serem explorados no uso da pintura com aquarela, além dos tradicionais pincéis 4 e 1. 31 O uso dessa técnica na pintura terapêutica de acordo com Urrutigaray (2011 p. 65) “pode retirar o excesso de conteúdo investido na projeção (como imagem criada) proporciona uma regressão da libido necessária ao movimento de introspecção e de reintegração da emoção exteriorizada”, o que buscamos através do uso do símbolo, a busca da reintegração das partes. Além disso, por ser uma técnica aguada, e portanto exigindo um domínio técnico prévio e de difícil controle, dificultaria assim a correção de possíveis “erros’’ (coloco aqui o erro no sentido de algo inesperado por parte do indivíduo na sua produção, diferente do que pretendia exteriorizar esteticamente) podendo assim apenas amenizar algumas situações com certa técnica, agora por parte do arteterapeuta auxiliando na execução se for o caso, sendo isso um estímulo muito grande a aceitação das dificuldades naturais, decorrentes no processo da pintura, e da existência, trabalhando ao mesmo tempo a questão da supremacia da consciência, aprendendo a conviver com as dificuldades pessoais e aceitar onde não se pode ter total controle. Nesse caso, os complexos se prestariam bem a esse papel de algo incontrolável e apenas aceitável. Finalizo o presente trabalho de pesquisa com uma citação de Jung sobre os complexos, que muito se alinha com o processo da pintura espontânea com aquarela deixando de lado a ideia do controle, ‘’a liberdade do eu cessa onde começa a esfera dos complexos, pois estes são potências psíquicas cuja natureza mais profunda ainda não foi alcançada” (JUNG, C. G., VIII/2, § 216). Só nos restaria então, aceitá-los. 32 CONCLUSÃO O presente trabalho de pesquisa pretendeu apresentar a Cor como uma técnica expressiva de grande valor no ateliê terapêutico. Apesar de outras tantas técnicas expressivas fazerem parte do acervo do arteterapeuta, a pintura ainda se apresenta como um dos recursos mais primitivos, no sentido de básico, no ateliê terapêutico, independentemente da tinta utilizada ser de natureza seca ou úmida. Aqui, a ênfase foi dada à prática da pintura espontânea em aquarela para trabalhar com o sujeito e seus complexos, deixando estes aflorarem espontaneamente através do uso da cor, visto que esses envolvem sentimentos na sua simbolização. A primeira parte foi dedicada aos princípios Junguianos de complexo e símbolo. Os complexos, sendo elementos desagregados da psique por algum trauma e ligados geralmente a um conflito moral, residem no inconsciente do sujeito e, por isso, acabamos não tendo consciência de sua participação ativa no nosso comportamento e sentimentos. Uma vez constelados, passam a interferir em nossas decisões e atitudes fazendo com que o próprio sujeito se desconheça em suas ações e reações. Por possuírem grande carga afetiva, os complexos atuariam como subpersonalidades, porém com forte influência sobre o ego dominante. O próprio complexo de identidade, por ser o primeiro complexo a ser formado no sujeito e com lugar privilegiado na consciência, estaria fortemente ameaçado por complexos constelados, tirando de nós assim a ideia de que a consciência teria supremacia sobre as tomadas de decisões do sujeito e que o ego tudo controla. Mas nem todos os complexos foram reprimidos 33 por uma ação da mente consciente. Alguns deles sempre residiram no inconsciente coletivo e, por fazer parte de um coletivo, o sujeito não teria como se desligar deles. Nessa parte, no núcleo do complexo, residem os arquétipos. O símbolo aparece como o segundo conceito junguiano trabalhado nessa monografia, pois este seria o que ligaria o mundo físico aos complexos, auxiliando estes a emergirem do inconsciente para o consciente. Nas palavras do próprio Jung, bem resumidamente, o símbolo teria por si só essa função, de ligar partes que antes formariam entre si uma unidade, fazendo com que a parte dissociada, arrancada, volte a fazer parte desse todo. Sendo assim, a função principal do símbolo seria a de mediadora entre as partes e de oferecer a volta a uma totalidade. Outra funçãoseria a de simbolizar, pois como traz em si um sentido que está além do significado real do objeto, levaria ao uso da capacidade imaginativa por parte do sujeito e do arteterapeuta na sua interpretação, o que parece nunca se esgotar, característica essa intrínseca ao símbolo, pois caso esse se esgote em interpretações, perderia sua originalidade, transformando-se então em signo. A principal questão colocada foi pertinente à cor e se esta daria conta de simbolizar complexos. Pode-se afirmar que sim, ela daria conta dessa simbolização, pois, pela sua própria universalidade, já nos mostra como as cores são ligadas intrinsicamente ao sentimento e podem assim representar o estado anímico do sujeito no momento do fazer terapêutico, com transparência. O segundo capítulo, que foi todo dedicado aos efeitos psicológicos da cor como o núcleo desse trabalho, mostrou também como cada uma delas pode representar pictoricamente os sentimentos universais do humano, porém a importância de nunca serem avaliadas individualmente, mas no seu conjunto, ou como foram designadas, pelo seu acorde cromático. Outra questão a ser respondia foi relativa à técnica da pintura espontânea e se esta, como prática terapêutica, seria eficiente para o uso da cor na simbolização dos complexos. Podemos verificar que a própria natureza dessa prática tem como objetivo deixar fluir sentimentos armazenados na mente subjetiva, onde residem os complexos, fazendo com que estes, por estarem carregados de energia psíquica, possam ser representados eficientemente pela cor, nos seus mais diferentes momentos, através dessa prática espontânea de deixar fluir imagens endógenas. 34 Uma terceira parte, dentro do último capítulo, pretendeu mostrar as técnicas aguadas como o mais eficiente meio dentro da pintura espontânea pela sua própria materialidade. A água, como midium dessas, seria também o catalizador na dissolução desses sentimentos agregados aos complexos, através da sua manifestação imagética e pictórica. A própria imagem, uma vez simbolizada em cor, já estaria fazendo o serviço de não só dar voz ao inconsciente, simbolizando, como ao mesmo tempo de ir dissolvendo a energia psíquica agregada nos complexos, libertando-os gradativamente de sua compactação em torno dos arquétipos. A pintura mostra então, de forma transparente, toda a sua eficácia como terapia expressiva e curativa. 35 REFERÊNCIAS ANDRADE, L. Q. de. Terapias Expressivas. São Paulo: Vetor, 2000. BELLO, Susan. Pintando sua alma – método para desenvolver a personalidade criativa. Brasília: 1996. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT Alain. Dicionário de Símbolos. INTRODUCAO; COR. 26 ed. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 2012. HELLER, Eva. A Psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. 1.ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2013. HOCH, M. Os conceitos de cor de C.G. Jung no contexto da arte moderna, 2018. In: Fundação das obras de C.G. JUNG (Org). A arte de C.G. Jung. Petrópolis: Vozes, 2019. p. 35-49. JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. Edição Especial Brasileira. 7. ed. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira. ______ A natureza da psique. Em: Obras Completas de C. G. Jung. Vol VIII/2. 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