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Ácidos nucléicos e nucleotídios Apresentação Os ácidos nucleicos são moléculas formadas por nucleotídeos e permitem que todos os organismos vivos transfiram informações genéticas de uma geração para outra. Existem dois tipos de ácidos nucleicos: o ácido desoxirribonucleico (mais conhecido como DNA) e o ácido ribonucleico (mais conhecido como RNA). Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a reconhecer a estrutura química de um dos ácidos nucleicos, o DNA; vai conhecer as bases nitrogenadas que compõem os ácidos nucleicos e como elas se organizam nas moléculas. Além disso, você vai aprender quais são as diferenças entre os dois principais ácidos nucleicos encontrados nas células. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a estrutura química do DNA.• Reconhecer as bases nitrogenadas dos ácidos nucleicos.• Diferenciar os ácidos nucléicos DNA e RNA.• Infográfico A molécula de DNA é formada por duas cadeias de nucleotídeos que são pareadas por ligações de hidrogênio entre suas bases nitrogenadas. Essas podem ser purinas (adenina e guanina) ou pirimidinas (timina e citosina), e as ligações de hidrogênio acontecem entre adenina e timina ou citosina e guanina. Confira no infográfico a seguir a representação dessas moléculas! Conteúdo do livro Os ácidos nucleicos são macromoléculas formadas pela união de nucleotídeos. Essas macromoléculas podem ser encontradas nas células vivas nas formas de ácido desoxirribonucleico (DNA) e de ácido ribonucleico (RNA). Apesar de compartilharem algumas semelhanças, as moléculas de DNA e de RNA apresentam diferenças bastante importantes tanto em sua estrutura, como em sua função. No capítulo Ácidos Nucleicos e Nucleotídeos, da obra Bioquímica, você entenderá como a estrutura dos ácidos nucleicos está organizada e quais as diferenças existentes entre o DNA e o RNA. Você também identificará as bases nitrogenadas presentes nas cadeias dos ácidos nucleicos e compreenderá as principais características químicas da molécula de DNA. Bons estudos. BIOQUÍMICA Daikelly Iglesias Braghirolli Ácidos nucleicos e nucleotídeos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a estrutura química do DNA. � Reconhecer as bases nitrogenadas dos ácidos nucleicos. � Diferenciar os ácidos nucleicos DNA e RNA. Introdução As células dos organismos vivos apresentam dois tipos de ácidos nuclei- cos — o ácido desoxirribonucleico (DNA) e o ácido ribonucleico (RNA) —, moléculas que carregam as informações genéticas das células, que podem ser passadas de geração a geração. O DNA armazena a informação genética das células, e o RNA apresenta funções regulatórias, além de ser responsável por expressar a informação genética contida no DNA, auxiliando no processo de produção de proteínas. Esses ácidos nucleicos são formados por uma sequência de nucleotídeos e se organizam em diferentes estruturas tridimensionais. Neste capítulo, você entenderá como as moléculas de ácidos nucleicos são organizadas e quais bases nitrogenadas formam o DNA e o RNA. Ainda, compreenderá as diferenças entre esses dois ácidos nucleicos e identificará a estrutura química do DNA. Nucleotídeos e a formação dos ácidos nucleicos Os ácidos nucleicos DNA e RNA são polímeros lineares de nucleotídeos, isto é, são macromoléculas formadas pela união de grande número de nucleotídeos. Portanto, os nucleotídeos representam as unidades básicas, os “monômeros”, que formam a estrutura dos ácidos nucleicos. Além de serem as unidades formadoras dos ácidos nucleicos, os nucleotídeos participam de outras importantes funções no interior celular, como metabolismo energético, sinalização, regulação de enzimas e síntese proteica (RODWELL et al., 2016). Sua estrutura básica é formada por três componentes: uma base nitrogenada, um açúcar (ose) e um grupo fosfato. Tanto a base nitrogenada quanto a ose que formam o nucleotídeo são estruturas cíclicas. É importante destacar, também, a diferença entre os nucleotídeos e os nucleosídeos, os quais compreendem unidades formadas pela ligação de uma base nitrogenada com uma ose, sendo, assim, as moléculas precursoras dos nucleotídeos (RODWELL et al., 2016). Já os nucleotídeos podem apresentar um grupo fosforil, sendo denominados nucleotídeos monofosfatados. Outros grupos fosforil podem também se ligar ao fosforil do nucleotídeo, por ligações de anidro ácido, formando nucleotídeos di ou trifosfatados (BROWN, 2018). As bases nitrogenadas são moléculas heterocicíclicas aromáticas e planas, cuja estrutura apresenta heteroátomos, e derivam, em sua maior parte, dos compostos purina e pirimidina, os quais são fracamente básicos, característica pela qual são chamados de bases (NELSON; COX, 2014). São as bases nitro- genadas que identificam o tipo de nucleotídeo, sendo as bases encontradas nos ácidos nucleicos a adenina (A), a guanina (G), a citosina (C), a timina (T) e a uracila (U). A adenina e a guanina são derivadas da purina, sendo chamadas de bases purínicas ou púricas (Figura 1), enquanto a citosina, a timina e a uracila compreendem bases pirimídicas, isto é, são derivadas da pirimidina. Normalmente, o RNA apresenta as bases pirimídicas uracila e citosina, e o DNA, a timina e a citosina (NELSON; COX, 2014). As bases nitrogenadas nucleotídicas absorvem luz ultravioleta, característica que confere aos ácidos nucleicos a capacidade de forte absorção ultravioleta (UV) em comprimento de onda próximo a 260 nm (NELSON; COX, 2014). Ácidos nucleicos e nucleotídeos2 Figura 1. Bases nitrogenadas presentes nos ácidos nucleicos e seus pre- cursores pirimidina e purina. Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 280). O resíduo de açúcar, a ose, que forma os nucleotídeos é constituído por 5 átomos de carbono, sendo, portanto, classificado como uma pentose (VOET; VOET, 2013). Os átomos de carbono que formam a pentose são numerados de 1’ a 5’ no nucleotídeo. O sinal (’) diferencia os átomos da pentose daque- les presentes na base nitrogenada, numerados 1, 2, 3, etc. Os nucleotídeos formadores dos ácidos nucleicos podem apresentar dois tipos de pentoses — a 2’-desoxi-D-ribose (ou desoxirribose) e a ribose —, que formam os desoxir- 3Ácidos nucleicos e nucleotídeos ribonucleotídeos e os ribonucleotídeos, respectivamente (Figura 2). Assim, a pentose presente nos ácidos nucleicos de DNA é a desoxirribose, e, no RNA, a ribose. O prefixo desoxi- indica que a ribose não apresenta um átomo de oxi- gênio ligado ao átomo de carbono 2’ de sua estrutura (NELSON; COX, 2014). As pentoses se ligam às bases formando os nucleosídeos por meio de liga- ções glicosídicas, que ocorrem entre o carbono 1’ da pentose e o nitrogênio 1 das pirimidinas ou 9 das purinas. Os nucleotídeos são formados a partir dos nucleosídeos pela fosforilação do carbono 5’ da pentose. Figura 2. Estrutura química dos ribonucleotídeos e dos desoxirribonucleotídeos. Note a diferença entre a ribose (presente nos ribonucleotídeos) e a desoxirribose (presente nos desoxirribonucleotídeos). Os nucleotídeos apresentados na figura apresentam apenas um grupo fosforil. Fonte: Voet e Voet (2013, p. 82). Formação dos ácidos nucleicos A união de várias moléculas de nucleotídeos dá origem ao polímero de ácido nucleico: os nucleotídeos se ligam entre si por meio de ligações chamadas fosfodiéster, que ocorrem entre o grupo 5’-fosfato de uma molécula de nucle- otídeo e o grupo 3’-hidroxila da próxima. Normalmente, o polinucleotídeo ácido nucleico é formado a partir de subunidades de nucleotídeos trifosfa- tados. Durante a ligação, os dois grupos fosforil não ligados diretamente à pentose (β e γ) são clivados, liberando energia utilizada para a formação da ligação fosfodiéster (BROWN, 2018). Assim, um ácido nucleico apresenta, em sua cadeia principal e alternadamente, fosfatos e resíduos de pentoses. As bases nitrogenadas dos nucleotídeos se posicionamlateralmente a essa cadeia (NELSON; COX, 2014). Ácidos nucleicos e nucleotídeos4 As ligações fosfodiéster sempre apresentam a mesma orientação ao longo do esqueleto do ácido nucleico (Figura 3). Assim, a cadeia de um ácido nucleico tem direcionalidade e suas extremidades sempre são diferentes, o que confere a ela polaridade. Os ácidos nucleicos apresentam uma extremidade 3’, na qual o átomo 3’ não está ligado a um próximo nucleotídeo, e uma extremidade 5’, em que o átomo 5’ não se liga a um nucleotídeo vizinho. Essas extremidades podem estar ligadas a fosfatos ou a outros grupos químicos (VOET; VOET, 2013). As ligações fosfodiéster podem ser rompidas por reações de hidrólise, catalisadas por nucleases e desorribonucleases, no DNA, e ribonucleases, no RNA. Essas ligações também podem sofrer hidrólise por alguns grupos químicos (HARVEY; FERRIER, 2012). Pode-se classificar os ácidos nucleicos em oligonucleotídeos e polinucleo- tídeos, de acordo com o tamanho de sua cadeia: as cadeias de ácidos nucleicos formadas por até 50 unidades de nucleotídeos são classificadas, normalmente, como oligonucleotídeos, e os polinucleotídeos representam cadeias maiores de ácidos nucleicos (VOET; VOET, 2013; NELSON; COX, 2014). Pelo que se sabe atualmente, não existe um limite máximo em relação ao número de nucleotídeos que podem ser ligados em uma cadeia de ácido nucleico; ao contrário, são conhecidas moléculas de RNA que apresentam milhares de nucleotídeos. Ainda, as moléculas de DNA, encontradas nos cromossomos, podem exibir vários milhões de unidades de nucleotídeos em seu comprimento (BROWN, 2018). Como você leu anteriormente, as bases dos nucleotídeos se posicionam lateralmente à cadeia principal dos ácidos nucleicos DNA e RNA. Essas bases são hidrofóbicas e, em pH neutro, próximo ao pH celular, apresentam baixa solubilidade em água. Assim, as interações hidrofóbicas são ligações bastante importantes entre as bases nitrogenadas. Nos ácidos nucleicos, as bases se posicionam paralelamente umas às outras, em relação aos planos de seus anéis aromáticos, e formam as chamadas interações de empilhamento hidrofóbicas, as quais também envolvem as ligações dipolo-dipolo e ligações de van der Waals. As interações de empilhamento previnem a interação das bases com a água e, também, são bastante importantes para a estabilização da estrutura tridimensional da cadeia do ácido nucleico (NELSON; COX, 2014). As bases purínicas e pirimídicas apresentam grupos funcionais, como anéis nitrogenados, grupos carbonila e grupos amina exocíclicos, que também estabelecem ligações entre si, quando cadeias complementares de ácidos nucleicos são emparelhadas (NELSON; COX, 2014). Por convenção, as bases que se localizam ao longo do esqueleto dos ácidos nucleicos são escritas em 5Ácidos nucleicos e nucleotídeos sequência, a partir da extremidade 5’, em direção à extremidade 3’ (HARVEY; FERRIER, 2012). Figura 3. Estrutura do ácido nucleico desoxirribonucleico. Note o esqueleto da cadeia formado por ligações fosfodiéster e a diferença entre as suas extremidades. As bases nitrogenadas encontram-se dispostas lateralmente ao esqueleto principal, formado pela alternância do fosfato e da pentose. Fonte: Rodwell et al. (2016, p. 360). Estrutura do DNA A estrutura dos ácidos nucleicos, assim como a do DNA, é estudada hierar- quicamente em níveis de complexidade. A sequência de nucleotídeos unidos pelas ligações covalentes fosfodiéster forma a chamada estrutura primária do DNA. Já a estrutura secundária dessa molécula se relaciona à estrutura estável e regular que ela pode adotar em função das interações químicas que ocorrem entre os diferentes polinucleotídeos ou entre diferentes partes do mesmo polinucleotídeo. O DNA apresenta sua estrutura secundária organizada em uma dupla hélice, enquanto o enovelamento do ácido nucleico, como o que ocorre nos cromossomos, é considerado a estrutura terciária dessa molécula (NELSON; COX, 2014). Ácidos nucleicos e nucleotídeos6 A estrutura em dupla hélice do DNA foi proposta pelos pesquisadores James Watson e Francis Crick, em 1953, que reuniram dados gerados por outros estudos, de diferentes cientistas, para propor a estrutura desse ácido nucleico, como o de Rosalind Franklin. No início da década de 1950, Franklin utilizou o método de difração de raio X para analisar as fibras de DNA, por meio do qual obteve uma fotografia do DNA, que foi crucial para que Watson e Crick elucidassem a sua estrutura (Figura 4). A estrutura do DNA proposta por Watson e Crick, chamada de forma B do DNA ou B-DNA, assemelha-se a uma “escada espiral” e consiste em duas cadeias de polinucleotídeos dispostas paralelamente, que se espiralam em torno de um eixo comum helicoidal, com orientação para a direita. Nessa estrutura, as duas cadeias principais dos poli- nucleotídeos, formadas pelo esqueleto de desoxirribose-fosfato, organizam-se no lado externo da hélice, voltadas para a água circundante. Enquanto isso, as bases nitrogenadas hidrofóbicas, que formam os grupos laterais dos polinu- cleotídeos, encontram-se voltadas para o lado interno da hélice, empilhadas entre si. Os planos das bases são perpendiculares ao eixo helicoidal da hélice (VOET; VOET, 2013; NELSON; COX, 2014; BROWN, 2018). As duas cadeias que formam a estrutura da dupla hélice são pareadas de forma antiparalela entre si, ou seja, as duas cadeias apresentam orientações diferentes — enquanto uma apresenta direção 5’ 3’, a outra, direção 3’ 5’. A disposição antiparalela das duas cadeias contribui para a manutenção da estabilidade da dupla hélice (BROWN, 2018). A dupla hélice apresenta um diâmetro de 20 Å (ampères). A cada volta helicoidal da fita, chamada passo, são encontrados 10 pares de bases. Ao longo de seu comprimento, a estrutura helicoidal apresenta dois sulcos ou cavidades: um mais largo e profundo, chamado “sulco maior”, e um mais estreito, denominado “sulco menor” (BROWN, 2018). Esses sulcos se formam em razão de os resíduos de desoxirribose não serem simétricos e representam pontos de acesso a proteínas com funções reguladoras, que se ligam a regiões específicas do DNA (HARVEY; FERRIER, 2012; VOET; VOET, 2013). A estabilidade da dupla hélice se dá a partir do estabelecimento de dois tipos de interações químicas: as interações de empilhamento de bases e as pontes de hidrogênio. Como vimos antes, as interações hidrofóbicas de empi- lhamento são as interações que ocorrem entre os anéis aromáticos das bases nucleotídicas adjacentes, enquanto as ligações de hidrogênio acontecem entre bases adjacentes entre si. 7Ácidos nucleicos e nucleotídeos Cada base nitrogenada de uma fita de DNA forma ligações de hidrogênio com uma base proveniente da fita oposta a ela, formando um par de bases planar (VOET; VOET, 2013). Essas ligações ocorrem de forma específica, o que resulta no chamado “pareamento de bases complementares”. As bases nitrogenadas das duas fitas de DNA são pareadas de modo que a adenina (A) de uma fita é sempre pareada com a timina de outra fita (T), e vice-versa. Ao mesmo tempo, cada resíduo de citosina (C) é sempre pareado a um de guanina (G) da outra fita, e vice-versa. As bases A e T são unidas por duas ligações de hidrogênio e o par C e G, por três ligações (NELSON; COX, 2014). Os pares adenina-timina e citosina-guanina são os únicos possíveis na estrutura do DNA. Portanto, o pareamento sempre acontece entre uma base purínica e uma base pirimídica. O pareamento específico entre as bases citadas se dá em função de suas estruturas. As bases purínicas são mais volumosas que as pirimídicas. Enquanto as bases purínicas apresentam dois anéis em sua estrutura, as pirimídicas apenas um (ver Figura 1). Dessa forma, o volume e a geometria dessas bases, e a posição dos seus átomos envolvidos nas ligações de hidrogênio interferem e permitem o seu “encaixe” dentro da estrutura da dupla hélice. Pareamentos diferentes de adenina com timina ou citosina comguanina normalmente desestabilizam a estrutura helicoidal em dupla hélice do DNA (NELSON; COX, 2014). Com base no pareamento das bases, as fitas antiparalelas que compõem a dupla hélice sempre são complementares entre si. Assim, conhecendo a sequência de bases de uma das fitas de DNA, a outra pode ser determinada (HARVEY; FERRIER, 2012; BROWN, 2018). Ainda, as cadeias preexistentes do ácido desoxirribonucleico pontem atuar como moldes para a síntese de cadeias complementares a elas (NELSON; COX, 2014). É importante desta- carmos que a sequência de nucleotídeos da fita molde consiste na informação genética e é responsável por definir a composição de uma nova fita de DNA ou RNA a ser sintetizada (RODWELL et al., 2016). O pareamento de bases também estabelece relações quantitativas, conheci- das como “regra de Chargaff”, a qual afirma que a quantidade de adenina em uma molécula de DNA é sempre igual a de timina e a quantidade de citosina, sempre igual a de guanina. Ainda, de acordo com essa regra, a soma de resíduos de purinas (A+G) é sempre igual à soma dos resíduos de pirimidinas (T+C) (HARVEY; FERRIER, 2012; NELSON; COX, 2014). Ácidos nucleicos e nucleotídeos8 O rompimento das ligações de hidrogênio entre as bases leva à separação das duas fitas de polinucleotídeos da dupla hélice, um fenômeno que promove a perda da estrutura secundária do DNA, chamado desnaturação. Isso pode ocorrer em função do aumento da temperatura, assim como pela variação do pH e pela alteração da concentração de sais em uma solução. Quando as con- dições fisiológicas de homeostase são reestabelecidas, as fitas podem voltar a se recombinar por meio do processo de renaturação (RODWELL et al., 2016). Figura 4. Estrutura tridimensional do DNA, proposta por Watson e Crick. Fonte: Rodwell et al. (2016, p. 361). 9Ácidos nucleicos e nucleotídeos Em condições fisiológicas, a forma B-DNA é a forma tridimensional mais estável para moléculas de DNA aleatórias, apresentando dez pares de bases por volta completa da hélice, que resulta em uma distância de 3,4 nm. Apesar de se acreditar que o B- -DNA é a forma predominante do DNA nas células vivas, sabemos que também são possíveis variações do modelo estrutural proposto por Watson e Crick (BROWN, 2018). Os nucleotídeos que compõem a estrutura do DNA apresentam flexibilidade e seus átomos podem mudar ligeiramente de posição. Assim, a estrutura tridimensional das moléculas de DNA é capaz de exibir algumas variações. In vitro, ao menos seis formas estruturais do DNA podem ocorrer, como as formas A e Z do DNA. A forma A do DNA também se refere a uma estrutura em dupla-hélice à direita, embora esta seja mais larga, já que o número de bases por volta helicoidal é maior (11) que no B-DNA. Ainda, no A-DNA, o plano das bases apresenta inclinação em relação ao B-DNA, resultando em uma hélice com sulco maior mais aprofundado e sulco menor mais superficial e largo. O A-DNA ocorre preferencialmente em solu- ções livres de água. Enquanto isso, o Z-DNA se refere a uma estrutura helicoidal com rotação à esquerda, em que cada volta apresenta 12 pares de bases. A forma Z do DNA apresenta uma diferença estrutural bastante grande em relação à forma B. O Z-DNA organiza-se em uma hélice orientada para a esquerda, mais delgada e alongada que a forma B da molécula e apresenta uma conformação em “ziguezague”. A forma Z do DNA se dá em regiões com repetições guanina-citosina e acredita-se que ela ocorra em segmentos do B-DNA que desenrolaram ligeiramente em função da cópia do segmento, por exemplo (NELSON; COX, 2014; BROWN, 2018). O DNA é a molécula que armazena a nossa informação genética. A sequência de bases nucleotídicas em uma fita de DNA é utilizada para a formação de novas fitas de DNA, fornecendo as informações que serão herdadas pelas células-filhas, e para a síntese de RNA e, assim, para a produção de proteínas necessárias para o funcionamento celular. Assim, a molécula de DNA funciona como um molde. No link a seguir, você poderá compreender melhor o papel do DNA. https://qrgo.page.link/jd5sr Ácidos nucleicos e nucleotídeos10 Comparando o DNA e o RNA O RNA representa a segunda maior forma de ácidos nucleicos presentes nas células. Esse ácido nucleico pode apresentar diferentes funções celulares, sendo extremamente importante na produção de proteínas. Na síntese proteica, três formas de RNA participam do processo: RNA ribossômico (rRNA), RNA transportador (tRNA) e RNA mensageiro (mRNA). Algumas moléculas de RNA também podem apresentar função catalítica, sendo, nesse caso, cha- madas de ribozimas (Harvey e Ferrier, 2012). As ribozimas frequentemente apresentam atividade relacionada à clivagem de ácidos nucleicos (RODWELL et al., 2016). Outro tipo de RNA encontrado em células eucarióticas é o RNA nuclear pequeno (snRNA). Essas moléculas exercem funções relacionadas ao processamento do RNA. Ainda, o RNA pode representar o material genético de alguns tipos de vírus, como o vírus de imunodeficiência humana (HIV) (RODWELL et al., 2016). O RNA também é formado por uma cadeia de nucleotídeos unidos por ligações fosfodiéster, na orientação 5’ 3’. Apesar de essa característica ser compartilhada pela molécula de DNA, esses dois ácidos nucleicos apresentam diferenças estruturais bastante importantes entre si. Como vimos anterior- mente, a ose presente nos nucleotídeos que compõem o RNA é a ribose e, no DNA, a desoxirribose. As estruturas tanto do RNA quanto do DNA apresentam as bases purínicas adenina e guanina. Porém, em relação às bases pirimídicas, o RNA apresenta citosina e uracila, em vez da citosina e da timina, encontrada no DNA. A molécula de RNA também é consideravelmente menor que a de DNA e está organizada em uma fita simples ou única, em vez da fita dupla helicoidal do DNA. Entretanto, a fita de RNA pode se dobrar, originando estruturas tridimensionais complexas (HARVEY; FERRIER, 2012), como quando a fita de RNA exibe um segmento com sequência de bares complementares com polaridade oposta. Nesse caso, a fita de RNA pode se dobrar, adquirindo um aspecto de “grampo de cabelo”. Com isso, o RNA assume a característica de dupla fita, em que as bases C e G assim como A e U pareiam (RODWELL et al., 2016). A estrutura em grampo é a estrutura secundária mais comum adotada pela molécula de RNA. Um ponto importante que devemos destacar reside no fato de que como o RNA é constituído por uma fita simples, seu conteúdo de bases pirimídicas e purínicas pode ser diferente, isto é, o número de resíduos de citosina não precisa ser igual ao de guanina, assim como o de adenina não necessariamente seja igual ao de uracila (RODWELL et al., 2016). 11Ácidos nucleicos e nucleotídeos A maior parte da função das moléculas de RNA está relacionada à expressão gênica e à síntese de proteínas, a partir do DNA. Em eucariotos, o DNA está confinado no núcleo das células e a síntese de proteínas ocorre no citoplasma destas. O RNA é encontrado tanto no núcleo quanto no citoplasma. Assim, ele atua como um intermediário da síntese proteica, codificando a informação contida no DNA para os ribossomos, especificando a sequência de aminoácidos que deve ser inserida na proteína em formação (NELSON; COX, 2014). As moléculas dos diferentes tipos de RNA — tRNA, rRNA e mRNA — estão envolvidas no processo de síntese proteica e apresentam variações entre si em relação ao tamanho, à estrutura e à função. O mRNA é responsável por transportar a informação contida em um gene do DNA para os ribossomos, portanto trata-se de um codificador da informação. O RNA mensageiro pode ser classificado em monocistrônico e policistrônico. O mRNA moncistrônico carrega a informação de apenas um gene, sendo comum nas células eucariontes. Enquanto isso, o mRNA policistrônico car- rega informações de mais de um gene, ocorrendo principalmente nas células procariontes. Essa classe de RNA representa cerca de 5% do conteúdo de RNA das células e é bastante heterogêneaem relação ao tamanho e à sequência de bases. O mRNA apresenta regiões chamadas “não codificadoras” em suas extremidades. Em células eucariontes, como as nossas, o mRNA apresenta a extremidade 5’ unida a um trifosfato de 7-metilguanosina ligado a um 2’-O-metilribonucleosídeo, que formam um “capuz” (ou 5-cap). Esse capuz está envolvido no reconhecimento da molécula de mRNA pela maquinaria de síntese proteica e na estabilização dessa molécula. Enquanto isso, a ex- tremidade 3’ do mRNA apresenta uma sequência longa de nucleotídeos de adenina, chamada cauda poli-A, que auxilia na manutenção da estabilidade das moléculas de mRNA e facilita o processo de tradução. O RNA transportador ou RNA de transferência é uma molécula adaptadora, que atua na tradução da informação contida no mRNA para aminoácidos específicos. As moléculas de tRNA são menores que as moléculas de mRNA ou rRNA, apresentando cerca de 74 a 95 nucleotídeos, correspondem a 15% do RNA intracelular e dispõem de uma alta proporção de bases modificadas em suas cadeias. Ainda, a fita de tRNA apresenta vários segmentos nos quais as bases têm pareamento que causa a formação de estruturas tridimensionais na molécula. Para cada tipo de aminoácido encontrado na estrutura das proteínas, existe um tipo específico de tRNA — assim, cada célula apresenta, no mínimo, 20 tipos de tRNA. O tRNA liga-se em sua extremidade 3’ a um aminoácido Ácidos nucleicos e nucleotídeos12 específico correspondente e o carrega até o local de síntese proteica, no qual reconhece a sequência genética do mRNA, de modo que o aminoácido possa ser unido corretamente à sequência do peptídeo em crescimento (HARVEY; FERRIER, 2012; NELSON; COX, 2014; RODWELL et al., 2016). As moléculas de RNA ribossômico são componentes dos ribossomos, organelas responsáveis pela síntese de proteínas. Quatro tipos de rRNA são encontrados nas células eucariontes e três tipos nas células procariontes. Essas moléculas apresentam diferentes tamanhos e pesos moleculares. As moléculas de rRNA representam cerca de 80% do conteúdo de RNA de uma célula. A descoberta da estrutura do DNA, que marcou um grande avanço da ciência e permitiu o desenvolvimento de várias tecnologias, foi possível graças a diferentes estudos, que fizeram com que Watson e Crick desenvolvessem o modelo da dupla hélice. No link a seguir, você poderá ler um pouco mais sobre essa importante descoberta. https://qrgo.page.link/MGRX2 A descoberta da estrutura do DNA contribuiu para o desenvolvimento de várias tecnologias, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), técnica na qual muitas cópias de uma região específica do DNA são feitas in vitro. Conhecendo uma pequena região do DNA de interesse, um oligonucleotídeo pode ser desenvolvido. Chamado primer, esse oligonucleotídeo apresenta uma sequência de bases complementares de interesse da molécula de DNA. Durante a PCR, o DNA da amostra é desnaturado e o primer é ligado a uma das suas fitas moldes. Essa ligação ocorre a partir do pareamento de bases complementares. A partir da ligação do primer, uma enzima chamada DNA polimerase inicia a replicação da fita de DNA. Ao final dessa reação, um grande número de cópias daquele segmento de DNA é gerado. A técnica da PCR é utilizada em diferentes situações, como pesquisa científica, sequenciamento genético, diagnóstico de diversas doenças e análises forenses de DNA (NELSON; COX, 2014). 13Ácidos nucleicos e nucleotídeos BROWN, T. A. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Artmed, 2014. RODWELL, V. et al. Bioquímica ilustrada de Harper. 30. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. VOET, D.; VOET, J. G. Bioquímica. 4. ed. Porto Alegre: Armed, 2013. Ácidos nucleicos e nucleotídeos14 Dica do professor Os ácidos nucléicos são as macromoléculas bioquímicas responsáveis pela informação genética de um organismo. Eles são divididos em dois tipos principais: DNA e RNA. Para conhecer as propriedades dos ácidos nucléicos, acompanhe a Dica do Professor a seguir: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/daab0ee37a29f0494123ec3968b78154 Exercícios 1) Qual das seguintes afirmações sobre a estrutura dos nucleotídeos é CORRETA? A) O componente açúcar de um nucleotídeo é sempre ribose. B) O componente açúcar de um nucleotídeo é sempre desoxirribose. C) As bases dos nucleotideos estão ligadas às pentoses por uma ligação glicosídica. D) O componente açúcar de um nucleotídeo está na configuração L. E) As bases dos nucleotídeos estão ligadas às pentoses por uma ligação peptídica. 2) Além dos elementos orgânicos padrão carbono, hidrogênio e oxigênio, qual o outro elemento presente nos ácidos nucléicos? A) Iodo. B) Nitrogênio. C) Cálcio. D) Fósforo E) Enxofre. 3) Quais compostos formam um nucleosídeo? E um nucleotídeo? A) O nucleosídeo é formado apenas pela união da base púrica ao açúcar, já o nucleotídeo pela união da base pirimídica ao açúcar. B) O nucleosídeo é formado apenas pela união da base pirimídica ao açúcar, já o nucleotídeo pela união da base púrica ao açúcar. C) O nucleosídeo é formado pela base nitrogenada e fosfato. Já o nucleotídeo pela base nitrogenada e açúcar. D) O nucleosídeo é formado pela base nitrogenada e açúcar. Já o nucleotídeo é um nucleosídeo fosforilado. E) O nucleosídeo é formado pelo açúcar e fosfato. Já o nucleotídeo pela base nitrogenada e fosfato. 4) Sobre as diferenças na composição do RNA e DNA, quais elementos são típicos apenas no RNA? A) Uracila e ribose. B) Citosina e guanina. C) Desoxirribose e uracila. D) Fosfato e ribose. E) Adenina e uracila. 5) Lembrando que a ordem das bases nitrogenadas em uma molécula de RNA pode servir como molde para a formação de outro tipo de molécula, podemos afirmar que a sequência das bases nitrogenadas do RNA determina a sequência de: A) Aminoácidos em uma proteína. B) Aminoácidos em um nucleotídeo. C) Açúcares em uma proteína. D) Grupos fosfato em um nucleotídeo. E) Grupos fosfato em uma proteína. Na prática O DNA é a molécula responsável pelo armazenamento e transferência da informação genética dos seres vivos, e as suas unidades são os genes: segmentos da molécula de DNA que contêm a informação necessária para a síntese de um produto biologicamente funcional, seja proteína ou RNA. Já o RNA tem variedade de funções. Algumas são: - RNA ribossomais (rRNAs) executam a síntese proteica. - RNAs mensageiros (mRNAs) são intermediários, carregando a informação genética de um ou poucos genes para o ribossomo, onde as proteínas correspondentes podem ser sintetizadas. - RNAs transportadores (tRNAs) são moléculas adaptadoras que traduzem fielmente a informação no mRNA em uma sequência específica de aminoácidos. Você sabia que as alterações que causam câncer têm origem no DNA? As alterações na sequência de nucleotídeos do DNA (mutações) podem provocar mudanças na informação genética contida nessa molécula. Essas alterações, que podem ocorrer em genes específicos que controlam o ciclo celular, estão dessa forma diretamente ligadas ao processo de carcinogênese. Confira! Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: James Watson, um dos responsáveis por descrever a estrutura do DNA, conta como foi sua experiência: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Veja como as ferramentas de edição gênica CRISPR permitem editar o DNA: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Saiba mais com a Seção VII do livro Bioquímica Ilustrada de Haper que está em sua 30a edição: Conteúdo interativo disponível na plataformade ensino! https://www.ted.com/talks/james_watson_on_how_he_discovered_dna/transcript https://www.ted.com/talks/jennifer_doudna_we_can_now_edit_our_dna_but_let_s_do_it_wisely
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