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3 Democracia O que é democracia? Normalmente, quando se fala em democracia, a primeira imagem que nos vem ao pensamento é a imagem do voto. Essa imagem é adequada e está no fundamento da democracia. Por outro lado, o voto é, dentro do próprio sistema democrático, a consequência de um conjunto de ideias anteriores. Vamos tentar deixar isto mais claro: podemos dizer que a democracia é aquele sistema político onde todos têm direito ao voto e as decisões são tomadas a partir do voto da maioria. A democracia e sua transformação ao longo da história A palavra democracia tem origem na Grécia antiga e significa “governo do povo”. Portanto, todo aquele regime que se reivindica como democrático, pressupõe a participação dos cidadãos e cidadãs no destino do país. É a partir daqui, na maneira como se dá a tal participação, que ao longo da história a democracia foi ganhando vários formatos, onde as pessoas participam de forma direta ou indireta. A seguir, vamos conhecer alguns formatos do regime democrático: Democracia representativa: Um dos modelos mais tradicionais é o de democracia representativa – formato aplicado no Brasil, que funciona a partir das eleições que, em basicamente todo o mundo ocidental, são sustentadas pelo Sufrágio Universal, ou seja, todas e todos podem votar e escolher o seu representante, daí a ideia de representatividade democrática. No modelo representativo, os políticos e ou cidadãos que desejem exercer cargos eletivos necessitam estar filiados em partidos políticos, estes lançam os candidatos, que por sua vez e sempre nos períodos eleitorais, podem ir às ruas ou utilizar outros métodos para pedir votos às pessoas. No Ocidente, a democracia representativa é maioria, com algumas diferenças de um país para outro. E quais são essas diferenças? A começar pela duração dos cargos eletivos (varia entre 4 e 5 anos), financiamento de campanhas: em alguns países apenas cidadãos podem doar, em outros, o financiamento é misto, ou seja, pessoas e empresas privadas podem ajudar com dinheiro e, em alguns países, além dos dois meios de financiamento, o Estado também possui um fundo eleitoral, caso do Brasil. E como os partidos políticos acessam esse fundo? De acordo com a sua bancada na Câmara dos Deputados Federais: quanto maior o partido, mais dinheiro recebem. Democracia participativa ou direta O modelo de democracia participativa é considerado por especialistas como o mais ideal, pois a ideia é conceder poder deliberativo aos cidadãos e cidadão. E o que seria o poder de deliberativo? Os eleitores podem barrar diretamente decisões que considerem ruins por parte dos governantes. Por exemplo: o governador de um estado decide construir uma ponte, porém essa construção vai afetar diretamente a vida de moradores de um determinado bairro. Esses moradores, organizados, na democracia participativa podem barrar tal medida. Em uma democracia representativa, os afetados pela construção dependem dos deputados e vereadores para barrarem ações que considerem negativas. 4 É importante destacar que o modelo de democracia participativa também não é homogêneo. A participação dos cidadãos pode ser através de conselhos populares organizados em nível nacional, estadual e municipal; participação direta no destino da verba pública a partir de audiências deliberativas, ou seja, são os grupos organizados que decidem onde o dinheiro público vai ser investido e, por ser deliberativa, o governo nacional e o local não podem desobedecer. No Brasil nós tivemos uma pequena experiência de democracia participativa durante a gestão da então prefeita da cidade de São Paulo, Marta Suplicy (PT), com a instituição do Orçamento Participativo (OP), onde grupos organizados participavam de uma audiência pública e decidiam o destino de 15% do orçamento da cidade. Para especialistas, o modelo participativo de democracia é ideal demais e por isso tão pouco aplicado. Alguns avaliam que ele pode funcionar em países pequenos, mas não em nações como o Brasil ou EUA, que são grandes demais. Qual a diferença entre parlamentarismo e presidencialismo? Parlamentarismo e presidencialismo são dois sistemas de governo que existem na maioria dos governos democráticos da atualidade. O objetivo é o mesmo: garantir a governabilidade e a segurança do Estado e dos cidadãos. A principal diferença entre os dois sistemas de governo é o modo como é escolhido o chefe do Poder Executivo. Também se as funções como chefe de Estado e de Governo são concentradas em uma só pessoa ou divididas em duas. No presidencialismo, o chefe do Poder Executivo é o presidente, que é eleito pelo povo por meio do voto direto ou indireto. Parlamentarismo O Parlamentarismo é um sistema de democracia que também pode ser entendido como representativo, porém o chefe de Estado, que geralmente é o 1º Ministro, depende de formar uma maioria no Congresso Nacional. Ou seja, ao contrário do modelo brasileiro, onde o Presidente da República concentra boa parte do poder, seja de verba ou de decisões, nos regimes parlamentaristas o poder está concentrado nas mãos dos parlamentares. Desta maneira, o representante do país não é eleito de maneira direta, como fazemos no Brasil ao votar em candidatos(as) à presidência da República. Quem nomeia o futuro Chefe de Estado é a maioria parlamentar eleita. Em alguns países, Espanha, por exemplo, esse voto se dá por meio de uma lista fechada, ou seja, você escolhe votar na lista do partido X, se este obtiver maioria é ele quem decide ou nomeia o futuro representante do país. Às vezes, nenhum partido consegue maioria absoluta para indicar o Chefe de Estado, a partir daí os partidos começam uma negociação para formar uma maioria e é neste ponto que aparece um dinamismo interessante neste regime: supondo que os partidos Y e N não foram os mais votados, mas, juntos, conseguem o maior número de parlamentares, cabe a estes dois partidos indicar o representante, mesmo que o partido X, como indicado antes, tenha obtido a maioria dos votos. No regime parlamentarista os chefes de Estados não são depostos por meio do impeachment, como ocorre no Brasil, mas sim por meio de dois caminhos: 1) Voto de desconfiança: se os parlamentares considerarem que o atual governo não está realizando uma boa gestão, eles colocam em votação a Desconfiança, se esta for aprovada, o governo é dissolvido. Em alguns países, isso gera obrigatoriamente novas eleições, em outros, quem monta o novo governo é o partido que propõe o Voto Desconfiança. 2) Dissolução da base de apoio: se o governo em questão perde sua base de apoio, o chefe de Estado é automaticamente removido do cargo. Neste caso há dois caminhos: o próprio partido do poder pode fazer uma eleição interna e escolher um novo representante ou novas eleições podem ser convocadas. 5 Alguns países que são parlamentaristas: Alemanha, Reino Unido, Japão, Irlanda, Itália, Espanha e outros. Presidencialismo Parlamentarismo Definição O presidencialismo é um sistema de governo em que o presidente é o Chefe de Estado e Chefe de Governo. Este presidente é o responsável pela escolha dos ministros e deve submeter seus projetos de lei ao parlamento. Parlamentarismo é um sistema de governo em que o Poder Legislativo (parlamento) define o representante do Poder Executivo. Todos os projetos, leis e outras decisões do governo são submetidos a votação do parlamento. Poder executivo Exercido pelo Presidente da República. Primeiro-Ministro (em alguns países é chamado de Chanceler, Presidente do Conselho de Ministro, Presidente do Governo). Escolha do representante Por meio de voto direto do povo. Nos Estados Unidos, o presidente é eleito por um colegiado. O primeiro-ministro é escolhido pelo parlamento, por meio da maioria de votos internos. Ele também pode ser escolhido pelo Chefede Estado através de uma lista fornecida pelo parlamento. Por sua parte, o parlamento é escolhido pelos cidadãos. Tempo de mandato Depende do país. No Brasil, o mandato é de 4 anos, já na França é de cinco anos. A possibilidade de reeleição também depende das leis de cada país. Indefinido. Em certos países há eleições a cada quatro ou cinco anos. Onde surgiu Estados Unidos Inglaterra Medieval Função do parlamento Fiscalizar, debater leis que sejam sugeridas pelo Executivo e ser um contrapeso aos atos do mesmo. Todas as decisões do governo passam pelo parlamento. Ele também é responsável pela escolha do Chefe de Governo. Chefia de Estado Está concentrado na mesma pessoa que exerce a chefia de governo. O chefe de Estado (rei ou presidente) é exercido por outra pessoa e esta não possui responsabilidades políticas. Interrupção do governo Em caso de falecimento ou por meio do Impeachment. Este só acontece apenas em casos de crimes de responsabilidade, cassação por crime eleitoral ou crime comum durante o mandato. O parlamento tem o poder de substituir o Chefe de Governo. Em caso de suspeita de corrupção, pode ser aprovado o voto de censura. Exemplos Brasil, Estados Unidos, Argentina, Uruguai Canadá, Inglaterra, Suécia, Itália, Alemanha, Portugal. Divisão de Poderes No presidencialismo, o presidente exerce o Poder Executivo, enquanto os outros dois poderes (Legislativo e Judiciário) possuem autonomia. O Poder Executivo necessita da aprovação do parlamento para ser formado. No entanto, há independência entre os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. Em qual regime de governo pode ser aplicado? República Monarquia e república A divisão de poderes Até este momento nós acompanhamos os modelos de democracia existentes no mundo. Percurso importante para que vocês tenham em mente que não existe apenas um e que todos estes 6 modelos apresentados possuem características diferentes, a depender do país. Porém, todos eles têm uma marca em comum: a participação da população no destino político do país. Além disso, a democracia possui outras marcas: a liberdade de expressão, onde, de acordo com as regras de cada país, os cidadãos e cidadãs podem expressar suas respectivas opiniões, estas características nos levam a outra, que também acompanha um regime democrático: a liberdade de imprensa, ou seja, jornais, revistas, rádio, portais de internet, etc., podem fazer críticas ou elogios aos governos sem que sofram sanções. Além dos pilares da participação dos cidadãos e cidadãs por meio do voto ou pela participação de Conselhos Populares (deliberativos ou consultivos,) e da liberdade de expressão, a democracia possui outra marca: a divisão de poderes; são eles: executivo, legislativo e judiciário. Vejamos a competência de cada um deles: Executivo O poder executivo é aquele designado ao representante eleito (presidente, governador e prefeito) – direta ou indiretamente, como vimos anteriormente – e que tem por obrigação aplicar o seu plano de governo. E como isso se dá? Tanto no regime presidencialista (representativo ou participativo), quanto no Parlamentarista, esse poder executivo é distribuído em ministérios que são responsáveis por assuntos específicos. Por exemplo: economia, educação, saúde, segurança, direitos humanos, arte e cultura, lazer etc. Legislativo O poder legislativo varia muito conforme o país. Por exemplo, no Brasil nós temos três tipos de poder legislativo: o municipal (Câmara dos Vereadores), o estadual (Assembleia Legislativa) e o nacional (Câmara dos Deputados Federais e o Senado, estes dois compõem aquilo que é chamado de Congresso Nacional). E o que faz cada um? O vereador é responsável por fiscalizar o trabalho da prefeitura e também atuar na zeladoria da cidade; o deputado estadual é aquele que é eleito para trabalhar pela sua região, mas também pelo estado (São Paulo, Bahia, etc.) como um todo; o deputado federal é responsável por fiscalizar o trabalho do representante do poder executivo, bem como propor leis nacionais e também conseguir verba para a sua região. Além disso, os deputados federais possuem a prerrogativa de propor e revogar (derrubar) leis e alterar a Constituição. Os senadores e senadoras, assim como o deputado federal, também representam as suas respectivas regiões, mas também atuam como fiscalizadores do Poder Executivo e possuem o poder de criar ou derrubar leis e também de alterar a Constituição. Porém, seus respectivos mandatos possuem 8 anos de duração, enquanto dos deputados e vereadores, 4 anos. Judiciário O poder judiciário, além de garantir os direitos da população, ele também serve como fiscalizador do Poder Executivo e ele está dividido em algumas esferas: O Supremo Tribunal Federal (STF), O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, os Tribunais e Juízes do Trabalho, os Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes Militares e os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal. Cabe destacar que dentro de cada estrutura dessa funcionam uma série de outras subestruturas do Poder Judiciário, como os tribunais estaduais. Quando votamos, estamos escolhendo qual será o melhor representante ou conjunto de representantes que melhor irá administrar os recursos públicos. Por isso, não faz diferença se quem está votando é rico ou pobre, pois os recursos públicos são propriedade de todos os membros de uma sociedade, representados pelo Estado. 7 Além dos recursos financeiros, a estrutura pública também é formada de recursos “legais”, isto é, de um determinado código de leis que rege a sociedade como um todo, e que cabe também aos representantes eleitos pelo voto a estabelecerem. Princípios democráticos fundamentais É importante notar que o direito ao voto se refere sempre a uma comunidade específica. Por exemplo, nas eleições municipais de uma cidade “x”, só podem votar para escolher como prefeito ou vereador, as pessoas que são naturais desta cidade. Da mesma forma, um brasileiro que não tenha dupla nacionalidade, ou seja, não tenha direitos políticos em dois países diferentes, não pode participar dos processos eleitorais que ocorrem, por exemplo, na Itália. Desta forma, a universalidade do direito ao voto sempre está regulada pela participação de determinado indivíduo em determinada comunidade. Na Grécia antiga, onde surgiu a democracia, temos um exemplo interessante a respeito das restrições da democracia quanto a quem tinha direito ao voto. Se tomarmos, por exemplo, a cidade de Atenas entre os séculos VI e V a.C, poderemos verificar que as condições para que se tivesse direito ao voto eram não ser: escravo, estrangeiro ou do sexo feminino. Essas condições faziam com que o percentual efetivo de pessoas que tinham direito ao voto não ultrapassasse os 15%. Obviamente, se compararmos a sociedade democrática de hoje com a democracia ateniense de 2.600 anos atrás, iremos constatar que hoje existe uma abrangência muito maior do direito ao voto. As mulheres conquistaram igualdade política na sociedade ocidental e a escravidão é uma prática completamente extinta das estruturas políticas dos Estados ocidentais, desde o século XIX. É preciso compreender que o verdadeiro centro da democracia é a ideia de que todos os membros de determinada comunidade têm igual direito e dever de intervir nas decisões que se referem aos recursos públicos. O voto é o meio através do qual este processo pode ser realizado e deve ser visto sempre como uma consequência de um processo maior, e não como um ato isolado em si mesmo. 8 O valor do voto reside no comprometimento da pessoa que votou com determinada proposta, pois o que realmente transforma uma sociedade é o cuidadocontínuo com a mesma, expresso através das manifestações públicas que exigem direitos públicos, tais como: justiça, igualdade de direitos, dignidade, condições de trabalho, educação, saúde. Cabe ainda ressaltar que a democracia, embora seja cada vez mais afirmada como valor universal, é um valor de origem claramente ocidental. Na verdade, o próprio ocidente passou muito mais tempo afastado da democracia, do que próximo a ela. O continente europeu foi por mais de 1.600 anos governado por imperadores, reis e pela igreja católica. Essas formas de governo se caracterizavam pelo poder de oligarquias, que são pequenos grupos de pessoas consideradas nobres e que por isso teriam o direito de governar. A democracia, tal como podemos observar no ocidente, é, portanto, fruto de um longo processo histórico que pode parecer estranho às culturas que vieram de outras influências filosóficas e religiosas. 9 Por isso, a discussão de até que ponto e em que velocidade a democracia pode (ou não) se estender como um valor realmente universal, configura-se como tarefa muito delicada e necessária do ponto de vista de uma ética global. O panorama da extensão da democracia no mundo de hoje aponta que esta se mostra presente em toda a Europa, predominante na América, e pouco expressiva na Ásia e África. Uma democracia ou várias democracias? Como vimos, a democracia é fruto de um processo lento de desenvolvimento político das sociedades ocidentais. Esse processo se mistura à própria história do ocidente, encontrando variações relativas aos acontecimentos e ideias que marcaram cada país. Dessa forma, é preciso reconhecer que existem democracias mais bem desenvolvidas que outras. O que realmente tem valor dentro de uma democracia verdadeira é o comprometimento com propostas políticas que são manifestadas através do voto. O voto é um meio para expressar a defesa de um comprometimento político. Só é possível que uma nação tenha consciência e compromisso político, na medida em que seus habitantes estejam convencidos de que defender o bem-estar do Estado ao qual pertencem, é defender seu próprio interesse particular. Os habitantes de um país devem entender que ele foi e é fruto de uma construção coletiva, em favor de uma terra onde se possa viver com prosperidade, paz e segurança. É preciso que o cidadão tenha a consciência clara de que o destino de seu país pertence a ele, é fruto do seu trabalho. Pode-se dizer que a experiência democrática no Brasil é muito recente e, por isso mesmo, ainda precisa ser muito desenvolvida, sobretudo no que se refere à consciência da necessidade de respeito e cuidado com a esfera pública. Para exemplificar o que estamos querendo dizer em relação à consciência dos bens públicos, vamos tomar por base o fato de o Brasil possuir uma das maiores cargas tributárias do mundo: Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, realizado neste ano de 2009, cerca de 38,45 % do que recebemos por nosso trabalho é consumido com o pagamento de impostos e, mesmo assim, não nos sentimos suficientemente indignados para cobrar do governo condições básicas de saúde, educação e segurança. Aliás, o brasileiro muitas vezes tem “vergonha” de cobrar seus direitos. Mesmo pagando quase 4 reais de cada 10 reais que ganha para tê-los. A razão deste comportamento incoerente é que, historicamente, não tivemos tempo suficiente de experiência com a democracia e com o Estado de direito. Por isso ainda há uma dificuldade para interiorizarmos a consciência de que todo o benefício público é financiado pelo trabalho do povo. Como pode um político qualquer se gabar tanto em dizer que “fez” uma ponte, um hospital ou um colégio? Na verdade, quem faz a ponte, o colégio, o hospital e tudo mais, é o trabalho do povo. O político brasileiro fala como se tivesse feito um grande gesto de bondade, como se tivesse doado de seu salário a quantia necessária para a construção de obras públicas. O político, quando aplica o dinheiro público para o bem público, não faz mais que a sua obrigação. É para isso que ele é pago, aliás, no Brasil, excessivamente bem pago! Como podemos ainda assistir a escândalos diários envolvendo políticos do alto escalão do governo, sem termos com isso a mobilização necessária para reivindicar punições severas para aqueles que roubam dinheiro público? Quantos políticos você se lembra de serem condenados, presos por um tempo considerável por crimes envolvendo o dinheiro do estado? Certamente, você não vai se lembrar porque, no Brasil, a lei não se aplica devidamente aos crimes praticados contra o patrimônio público. Dessa maneira, fica evidente que nossa democracia necessita progredir muito e não podemos dizer que exista uma uniformidade das democracias existentes em países com históricos de formação muito distintos. Certamente, alguns países europeus irão demonstrar graus de evolução democrática mais elevados que os Estados Unidos. O estado de evolução da democracia no Brasil apresenta índices bem mais elevados que na Colômbia, Venezuela, Rússia e China, dentre outros. Ou seja, ao falarmos de democracia, devemos 10 sempre pensar em “democracias”, dada a variedade de estágios de desenvolvimento dos Estados democráticos no mundo. Corrupção: o grande “veneno” para a democracia Ainda falta falarmos de um valor importantíssimo ligado ao fundamento da democracia. Trata-se da “confiança”. Em uma democracia, escolhemos representantes que possam cuidar dos nossos interesses. O papel do político é, basicamente, servir aos interesses do povo que ele representa, tal como cabe ao comandante de uma aeronave conduzir os passageiros em uma viagem tranquila. Por isso, uma relação de confiança sólida entre aqueles que votam e aqueles que são eleitos deve ser estabelecida. Assim, deve haver um Estado democrático onde as pessoas estejam seguras de que podem contar com o empenho de seus governantes eleitos para promover o bem-estar da comunidade. Se não existir confiança, dificilmente haverá uma democracia de fato. Pois, escolher alguém que nos represente é, “por si”, um ato de confiança. Assim, ocorre que os políticos são aqueles que mais têm acesso aos recursos públicos. Nós lhes conferimos poder para que façam o melhor emprego do dinheiro dos impostos de todos. O que esperamos ou deveríamos esperar de um político é, na verdade, o que se deve esperar de qualquer outro profissional que cuida de algo que nos pertence: honestidade. E o político, tendo acesso aos recursos públicos, vê-se diante de dois caminhos: ou age com honestidade e trabalha para o povo, honrando os votos de confiança que lhe foram dados, ou se corrompe. Mas o que é se corromper? Muitas pessoas confundem a corrupção com a “mudança de ideia” ou de vontade. Mas ela é algo significativamente diferente. Você quer ver um exemplo: Imagine alguém que deseja ser prefeito visando o valor do salário e dos benefícios que são atribuídos ao cargo e que consegue, por fim, ser eleito. Imagine que essa pessoa descubra que, na verdade, gostaria de ganhar mais e de ter mais poder em outra profissão. Este alguém ainda não é corrupto. Ele simplesmente mudou de ideia, mudou de planos, não está mais satisfeito com os benefícios daquele cargo tão sonhado. Nesse caso, essa pessoa deve abrir mão do cargo e ir em busca daquilo que lhe satisfaça, sem que, por isso, seja corrupto. Basicamente, a corrupção nasce quando a pessoa finge estar comprometida com valores que na verdade não está. Mas aí você pode se perguntar: a corrupção não tem a ver com receber dinheiro para realizar coisas que não deveriam ser feitas? A resposta é sim. No entanto, antes de ser um ato de recebimento de importâncias financeiras ou favores, é um ato de quebra de confiança relativa a valores até então defendidos, tais como: igualdade, justiça, causas ambientais, bem-estar público, liberdade, dignidade, educação etc. Vamos deixar isso mais claro: ninguém elege um político desejando que ele desvie dinheiro público para multiplicar o seu salário. Elegemos políticos de acordo com a confiança que temos na sua suposta capacidade moral de seguir os ideais defendidos no período de campanha. 11 Quando determinado político aceita dinheiro ou favores para não seguir os valores e ideais afirmados em público, ou quando simplesmente se nega a trabalhar por estes valores, ele se corrompe. Isto é, ele ocupa um cargo e recebe por ocupar este cargo, fingindo estar a favor de causas que para ele, na verdade, não existem mais, foram corrompidas. Nesse caso, com a corrupção dos valores, ocorre a quebra de confiança no sistema democrático, pois a população percebe que foi traída na defesa de seus interesses. Nesse sentido, a corrupção é algo que existe no mundo todo, mas que, no entanto, é especificamente um problema mais recorrente em democracias mais jovens, como é o caso do Brasil. Isso porque, nesses casos, a impunidade se mostra mais acentuada. Sem valores, a democracia não é muito melhor que qualquer sistema tirânico disfarçado. Isso porque, enquanto os sistemas tirânicos são baseados em imposições de governo por via da ameaça e da violência, os sistemas democráticos tendem a ser regulados por valores tais como liberdade, igualdade e justiça. Ou seja, são justamente os valores agregados à democracia que fazem dela um sistema de governo melhor que o de um tirano, como o do ex-ditador do Iraque, Saddam Hussein. É interessante notar que a liberdade está sempre presente em todo sistema democrático. Pode até ser que a maioria dos políticos de um país democrático qualquer seja corrupta. Mas a liberdade, ou a sensação de liberdade, sempre é mantida dentro dos Estados democráticos. O que, de qualquer forma, não deixa de ser, mesmo diante do problema da corrupção, uma grande vantagem em relação aos sistemas e governo tirânicos. A democracia e as minorias Quando falamos de democracia, é extremamente importante discutirmos a questão das minorias. Já sabemos que o sistema democrático segue a vontade da maioria dentro de determinado meio social e que, consequentemente, sempre existirá, para todos os casos, uma minoria “derrotada” democraticamente. Deve ficar claro que com o mesmo cuidado com que o sistema democrático acata a vontade da maioria, ele deve respeitar a discordância da minoria. As minorias não podem nunca ser massacradas ou perseguidas. O fato de a maioria determinar as decisões a serem tomadas não deve, e nem pode, inibir que a minoria manifeste, através da liberdade de expressão, sua discordância. Uma democracia que persegue os grupos menores deixa de ser uma democracia e se transforma em um totalitarismo. Isto é, em um sistema que não admite divergências de pensamento em relação às tomadas de decisão política de quem tem o poder. Em uma democracia, o eleito deve governar para todos, e não simplesmente para os que o elegeram. Deve-se entender que o voto de uma pessoa que pertence a uma determinada minoria relativa a uma questão específica qualquer vale tanto quanto o voto da pessoa que participa da maioria para esta mesma questão. As pessoas não são melhores ou piores por participarem de grupos maiores ou menores. O respeito individual dos membros de uma sociedade democrática deve sempre prevalecer sobre as divergências coletivas. Através deste equilíbrio, ao mesmo tempo que a vontade da maioria prevalecerá, o bem-estar da minoria será garantido, já que ambos os grupos são constituídos por seres humanos individuais igualmente merecedores de respeito. Resumo O voto, dentro da democracia bem desenvolvida, não pode ser nunca um fim em si mesmo. Ele é a consequência de um conjunto de ideias anteriores, sobretudo a de igualdade de direitos, e mostra-se como um meio para que uma decisão seja tomada. A democracia parte do pressuposto de que todos têm os mesmos direitos dentro do Estado do qual participam. 12 Para a democracia, é fundamental a divisão clara entre aquilo que é público e aquilo que é privado. O sistema democrático opera, sobretudo, com as questões de cunho, social, político e econômico onde todos têm direitos iguais. A estrutura pública é formada por recursos materiais e pelo corpo de leis que regulam o desenvolvimento da sociedade. A universalidade do voto está sempre limitada pela participação de determinado indivíduo em determinada estrutura social onde ele tem poder de voto. É preciso fazer parte de um meio para poder ter direitos políticos de intervenção sobre ele. A democracia nasce na Grécia antiga e suas primeiras formas datam de mais de 2.600 anos. O processo de desenvolvimento da democracia é lento e obedece às variações culturais de cada país ou região. A verdadeira democracia exige que os cidadãos tenham real sentimento e consciência de pertença e responsabilidade para com o meio onde vivem. A formação do Brasil partiu de um processo de colonização exploradora, enquanto que países como os Estados Unidos passaram por processos de colonização de povoamento. Cerca de 76% da história de nosso país é marcada pelo regime escravocrata. Muito de nossa passividade quanto aos crimes absurdos contra o dinheiro público deriva da nossa pouca experiência histórica com a democracia. A carga tributária do Brasil é uma das maiores do mundo – 40% – e, mesmo assim, muitas vezes sentimos “vergonha” quanto à cobrança de nossos direitos: mais um sintoma da fragilidade de nossa consciência democrática. A corrupção se mostra como a grande inimiga da democracia na medida em que acaba com os vínculos de confiança necessários entre eleitores e eleitos. A liberdade é talvez o traço mais fundamental da democracia. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 1. O que é democracia? 2. Defina presidencialismo e parlamentarismo. 3. Além dos pilares da participação dos cidadãos e cidadãs por meio do voto ou pela participação de Conselhos Populares (deliberativos ou consultivos,) e da liberdade de expressão, a democracia possui outra marca: a divisão de poderes, quais são eles? 4. Uma democracia sem exercício de voto não é possível. Por outro lado, o voto sem os fundamentos da democracia não faz sentido democrático. Por quê? 5. Leia o fragmento de texto a seguir: Só de Sacanagem! Elisa Lucinda [...] Só de sacanagem! Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba” e vou dizer: “Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.” Dirão: “É inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”. Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final! Agora, com base no que você aprendeu nesta aula, responda: a) Que papel o valor “confiança” tem dentro do sistema democrático? b) Aponte pelo menos uma medida fundamental para a diminuição do nível de corrupção em nosso país 13 CIDADANIA O que é a cidadania? A cidadania representa o conjunto de direitos e deveres que um cidadão tem em um determinado território. Esse conceito, que perpassa diversas áreas das Ciências Humanas, é bastante amplo e remete ao convívio pacífico da sociedade, mediante um conjunto de diversos direitos e deveres que devem ser assegurados e respeitados, com vistas à construção de uma sociedade plenamente democrática. Os direitos e deveres de um cidadão envolvem as esferas civil, política e social, assim como diversos campos da sociedade, como a saúde, a educação e a segurança.→ Exemplos de cidadania A cidadania é o termo que designa o conjunto de direitos e deveres de um indivíduo. São exemplos de cidadania o direito ao voto livre e a liberdade de expressão. A função da cidadania é contribuir para a participação ativa dos indivíduos na sociedade, e o exercício pleno da cidadania promove a participação das pessoas em diversos setores da comunidade, havendo assim a construção de uma sociedade democrática. Logo, a importância da cidadania remete à transformação social, por meio da participação cidadã. Conceito bastante amplo, a cidadania envolve diversas esferas da sociedade. São exemplos de cidadania desde práticas individuais, como destinar o lixo doméstico para locais adequados de coleta e reciclagem, até ações que impactam a sociedade como um todo, como o direito e o dever de participar de uma eleição democrática por meio do voto. Qual a função da cidadania? A função da cidadania está relacionada à construção de uma sociedade democrática, levando em conta os direitos e deveres dos cidadãos, sejam eles civis, políticos ou sociais, por meio da participação ativa do indivíduo em diferentes esferas da sociedade. Portanto, a função da cidadania é garantir o cumprimento dos direitos e deveres dos cidadãos, visando a construir uma sociedade verdadeiramente democrática. Sendo assim, a cidadania contribui, dentre outros aspectos, para a atenuação da desigualdade social e para o fomento do desenvolvimento sustentável, por meio de ações individuais e coletivas que objetivem o respeito e a solidariedade entre os indivíduos que compartilham um mesmo território. O que é ser cidadão? O conceito de cidadania está diretamente imbricado ao de cidadão, uma vez que para a efetivação da cidadania de um indivíduo torna-se necessário o exercício dos seus deveres e o respeito dos seus direitos. Nesse sentido, um cidadão é o indivíduo que participa de forma autônoma e ativa na sociedade, com a adoção de medidas individuais e participação em ações coletivas que contribuem para a construção de um modelo social mais livre e democrático. Assim, ser cidadão é exercer de fato a cidadania, tendo direitos e deveres resguardados pela legislação local e aplicados no cotidiano. Exercício pleno da cidadania O exercício pleno da cidadania envolve a participação ativa do indivíduo na sociedade. Desse modo, o cidadão exerce a cidadania quanto tem ciência completa dos seus direitos e deveres e os aplica nas ações do cotidiano que promovem o desenvolvimento da sua comunidade, sendo de suma https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/conceito-territorio.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/reciclagem.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/desigualdade-social.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/desenvolvimento-sustentavel.htm 14 importância a participação das escolas e da educação em geral no processo de conscientização dos indivíduos. Cidadania no Brasil A cidadania no Brasil foi resultado de uma longa trajetória de construção da identidade brasileira e do processo de independência do país, que marcou a construção dos primeiros documentos legais que demarcam os direitos e deveres dos cidadãos do país. Nesse contexto, a Constituição da República Federativa do Brasil é um elemento-chave, uma vez que ela é a principal lei do país, ou seja, onde estão reunidos todos os principais direitos e deveres dos cidadãos brasileiros. Mesmo com o aporte legal, o exercício da cidadania no Brasil ainda é bastante complexo, visto que não são todas as prerrogativas legais que são cumpridas pelo poder público, como, por exemplo, em áreas como saúde, educação, segurança e alimentação. No mesmo sentido, a acentuada desigualdade social brasileira, assim como a falta de efetivação de políticas públicas diversas, dificulta o exercício da cidadania no país. Direitos do cidadão Os direitos de um cidadão são descritos nos documentos constitucionais que legislam determinado território. No caso específico do Brasil, esse documento é a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988. De acordo com o referido documento, são exemplos de direitos dos cidadãos brasileiros|1|: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados; a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; a livre locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Deveres do cidadão Assim como ocorre em relação aos direitos, os deveres de um cidadão também são descritos no documento constitucional de um determinado território. São exemplos de direitos indicados pela Constituição da República Federativa do Brasil (1988)|1|: o sufrágio universal por meio do voto direto e secreto nos termos da lei; o respeito e o cumprimento da legislação do Brasil; o cumprimento do serviço militar obrigatório nos termos da lei; a proteção ao patrimônio histórico, cultural e ambiental do Brasil. História da cidadania A história da aplicação do termo “cidadania” tem origem na Grécia Antiga, onde havia uma clara descentralização do poder, por meio da constituição de cidades semiautônomas. Logo, esse termo referia-se aos direitos e deveres daqueles que moravam nas cidades da Grécia Antiga. No mesmo sentido, o termo cidadania aplicava-se ao conjunto de direitos e deveres da população local na Roma Antiga. Em ambos os casos, vislumbra-se uma relação muito próxima entre cidadania e democracia, com destaque para a Grécia, considerada o berço das práticas democráticas no mundo. Portanto, a história da cidadania está justamente atrelada à participação dos indivíduos nos diferentes âmbitos de uma comunidade. Com o tempo, essa concepção foi ampliada, incluindo diversas esferas da sociedade, assim como inúmeras localidades, que passaram a adotar a democracia como regime de governo. Atualmente, a maior parte das nações ditas ocidentais e outras localidades no planeta têm no exercício da democracia uma das suas premissas básicas. https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/a-identidade-nacao-brasileira.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/a-identidade-nacao-brasileira.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/independencia-brasil-1822.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/constituicao-1988.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/poder.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/poder.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/sufragio-universal.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/sufragio-universal.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/roma-antiga.htm 15 Por que a cidadania é importante? A cidadania é importante porque, por meio dela, os cidadãos podem contribuir de forma direta para a construção de uma sociedade mais justa. Nesse sentido, destaca-se que é fundamental que os cidadãos tenham plena consciência dos seus direitos e deveres e que os coloquem em prática, com vistas à mudança da mentalidade individual e coletiva para que seja promovida a cidadania plena dos indivíduos. Essas ações promovem a transformação social, auxiliando assim na construção de uma sociedade mais democrática. Resumo sobre cidadania A cidadania é o conjunto de direitos e deveres que todo cidadão tem em sua localidade de origem. O direito ao voto é um exemplo de cidadania praticada empaíses com regime de governo democrático. A função da cidadania é contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva mediante a participação na sociedade. O exercício pleno da cidadania envolve o conhecimento dos direitos e deveres por parte dos indivíduos. A história da cidadania remete à construção do processo de democracia em sociedades antigas, como Grécia e Roma, e está relacionada ao cumprimento dos direitos e deveres dos cidadãos. A cidadania no Brasil está fortemente vinculada à construção da Constituição da República Federativa do Brasil, datada de 1988. A educação, a saúde e a alimentação são direitos que estão previstos na Constituição da República Federativa do Brasil. Os brasileiros têm como dever, dentre outros, participar ativamente do processo eleitoral local por meio do exercício do voto. O QUE É UMA POLÍTICA PÚBLICA E COMO ELA AFETA SUA VIDA? As políticas públicas afetam a todos os cidadãos, de todas as escolaridades, independente de sexo, raça, religião ou nível social. Com o aprofundamento e a expansão da democracia, as responsabilidades do representante popular se diversificaram. Hoje, é comum dizer que sua função é promover o bem-estar da sociedade. O bem-estar da sociedade está relacionado a ações bem desenvolvidas e à sua execução em áreas como saúde, educação, meio ambiente, habitação, assistência social, lazer, transporte e segurança, ou seja, deve-se contemplar a qualidade de vida como um todo. E é a partir desse princípio que, para atingir resultados satisfatórios em diferentes áreas, os governos (federal, estaduais ou municipais) se utilizam das políticas públicas. Um programa da Prefeitura que esteja beneficiando seu bairro, por exemplo, é uma política pública. A educação, a saúde, o meio ambiente e a água são direitos universais, assim, para assegurá-los e promovê-los. O conceito de políticas públicas pode possuir dois sentidos diferentes. No sentido político, encara- se a política pública como um processo de decisão, em que há naturalmente conflitos de interesses. Por meio das políticas públicas, o governo decide o que fazer ou não fazer. O segundo sentido se dá do ponto de vista administrativo: as políticas públicas são um conjunto de projetos, programas e atividades realizadas pelo governo. Uma política pública pode tanto ser parte de uma política de Estado ou uma política de governo. Vale a pena entender essa diferença: uma política de Estado é toda política que independente do governo e do governante deve ser realizada porque é amparada pela constituição. Já uma política de governo pode depender da alternância de poder. Cada governo tem seus projetos, que por sua vez se transformam em políticas públicas. https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/regimes-de-governo.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/regimes-de-governo.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/democracia.htm https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/brasil.htm https://www.politize.com.br/democracia-o-que-e/ https://www.politize.com.br/niveis-de-governo-federal-estadual-municipal/ https://www.politize.com.br/prefeituras-principais-problemas-enfrentados-na-gestao-municipal/ https://www.politize.com.br/gestao-de-conflitos-politica/ 16 Políticas públicas podem ser definidas como o conjunto de diretrizes e intervenções emanadas do estado, feitas por pessoas físicas e jurídicas, públicas e/ou privadas, com o objetivo de tratar problemas públicos e que requerem, utilizam ou afetam recursos públicos. Toda vez que alguém fala em política pública surge um grande ponto de interrogação em sua cabeça? Tudo bem, o termo “política pública” é um desses conceitos com os quais todos nós já nos deparamos por aí, mas nem sempre compreendemos de primeira. Ele está sempre em jornais, sites e revistas, mas, quando somos questionados, temos dificuldade em definir o que ele significa. Isso não é nenhuma surpresa, afinal o termo tem muitas formas e usos. Longe de esgotar o significado dessa expressão, vamos tentar dar a ela um sentido prático. Imagine que você e seus vizinhos decidam adotar conjuntamente um cachorro que está passeando nas redondezas. Para evitar aquele velho ditado “cachorro com mais de um dono morre de fome” todos vocês teriam de fazer alguns combinados: delegar responsabilidades (que envolvem dinheiro e regras), como quem dá alimento em quais dias, quem tem disponibilidade para vacinar o animal e castrá- lo, quem pode ofertar abrigo esporádico etc. Assim, toda essa organização e processo contribui para que um objetivo comum seja atingido: o bem do cãozinho. Esse processo funciona de maneira semelhante a uma política pública. De maneira simples, a política pública é um processo (com uma série de etapas e regras) que tem por objetivo resolver um problema público. Todos nós lidamos com isso diariamente em nossas relações pessoais: traçar soluções para chegar a uma finalidade que agrade a um grupo de pessoas. Políticas Públicas na prática A diferença entre esses dois processos é grande. Criar uma política pública para, por exemplo, erradicar o analfabetismo, é muito mais complexo que fazer um acordo para cuidar do cãozinho comunitário. Enquanto este envolve meia dúzia de moradores em uma área limitada, algumas idas ao veterinário, algumas porções de comida e um abrigo, o outro mobiliza um número muito grande de pessoas (especialistas, professores e outros funcionários públicos) em áreas muito extensas, recursos financeiros públicos, planejamento de aplicação e fiscalização do investimento, avaliação das práticas e aprimoramento constante para tornar essas ações mais eficientes. Tudo isso, seguindo uma série de regras e conhecimentos técnicos. Parece bastante coisa? Pois é mesmo! Agora vamos dar uma olhada nos quatro tipos e exemplos de políticas públicas que impactam nossas vidas diariamente: 1. Políticas públicas distributivas: sua a principal função é distribuir certos serviços, bens ou quantias a apenas uma parcela da população. Um exemplo seria o direcionamento de dinheiro público para áreas que sofrem com enchentes; na Educação, seriam as cotas. 2. Políticas públicas redistributivas: sua principal função é redistribuir bens, serviços ou recursos para uma parcela da população, retirando o dinheiro do orçamento de todos. Um exemplo disso seria o sistema previdenciário; na Educação seria a política de financiamento educacional, onde há um fundo em que todos os municípios e estados colocam dinheiro, mas que depois é repartido conforme as matrículas e não de acordo com a contribuição de cada um. 3. Políticas públicas regulatórias: Essas medidas estabelecem regras para padrões de comportamento. São bastante conhecidas, pois tomam a forma de leis. Um exemplo muito comum são as regulações do trânsito; na Educação, podemos citar a lei que organiza a área, como a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/cao_comunitario2_1444053124.pdf https://www.infoescola.com/educacao/lei-de-diretrizes-e-bases-da-educacao/ https://www.infoescola.com/educacao/lei-de-diretrizes-e-bases-da-educacao/ 17 4. Políticas públicas constitutivas: O nome difícil quer dizer que elas estabelecem as “regras do jogo”. Isto é, são elas que dizem como, por quem e quando as políticas públicas podem ser criadas. O conceito pode parecer obscuro, mas quer saber uma que atinge a vida de todos nós? A distribuição de responsabilidade entre municípios, estados e Governo Federal. Na Educação, por exemplo, municípios são responsáveis pela Educação Infantil e Ensino Fundamental 1; estados pela Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio; e o Governo Federal pela Educação Superior. E o que você tem a ver com isso? As políticas públicas dão forma ao País que queremos e, por isso, é tão importante estarmos de olho nelas. Se estabelecemos uma política públicade redistribuição de renda, por exemplo, estamos sinalizando o enfrentamento da dura desigualdade econômica brasileira, de maneira mais imediata – o que é importante para a parcela da população mais pobre, como os das milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Essas leituras do que são e para que se faz políticas públicas têm de estar no radar da população o tempo todo e não apenas durante os períodos eleitorais. Quanto mais democráticos e técnicos forem os processos das políticas públicas, maiores as chances de os resultados serem positivos para toda a sociedade. Como os recursos financeiros do País são limitados, as políticas públicas desempenham a importante missão de organizar para onde vai esse montante de dinheiro público. Neste cenário de pandemia do novo coronavírus, por exemplo, as políticas públicas educacionais de médio prazo, visando a superação da crise e a garantia de oportunidades iguais para estudantes de diferentes classes sociais e condições, será determinante para o bem-estar do Brasil nos próximos anos! Será o bom planejamento da gestão pública da Educação que garantirá que o ano de 2020, em que houve longo período de suspensão de aulas, não seja um ano perdido para muitos estudantes. Se mesmo assim você ainda acha que esse assunto não é com você, repense. Ainda que você não use o serviço público de saúde (outro exemplo de política pública), você faz uso de ruas, praças e parques públicos, descarte de lixo, regulação das habitações, etc. É fácil perceber que as políticas públicas estão em tudo e dizem respeito a todos nós. Importante lembrar também de um tipo específico delas: as políticas públicas educacionais. Uma gestão que dá prioridade às ações de qualidade focadas na Educação indica o desejo de garantir o acesso ao conhecimento para todos e, consequentemente, construir um País menos desigual. Essas iniciativas educacionais requerem planejamento técnico e levam mais tempo para que os frutos sejam colhidos. ESFERA PÚBLICA Esfera pública é a dimensão na qual os assuntos públicos são discutidos pelos atores públicos e privados. Tal processo culmina na formação da opinião pública que, por sua vez, age como uma força oriunda da sociedade civil em direção aos governos no sentido de pressioná-los de acordo com seus anseios. A noção de esfera pública tem como aspectos básicos: a) Discursividade e argumentação: dominada pelo uso da razão, a obtenção de consenso acontece pelo convencimento racional dos antagonistas. b) Publicidade: o objeto debatido e os argumentos apresentados ganham exposição ou visibilidade. c) Privacidade: enquanto participante do debate, cada um vale somente pelos argumentos e pela capacidade de argumentar. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/12/05/no-brasil-152-milhoes-vivem-abaixo-da-linha-da-extrema-pobreza-diz-ibge.ghtml https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/12/05/no-brasil-152-milhoes-vivem-abaixo-da-linha-da-extrema-pobreza-diz-ibge.ghtml https://pt.wikipedia.org/wiki/Opini%C3%A3o_p%C3%BAblica https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_civil 18 Esfera pública política O conceito de esfera pública política tem sido retomado devido a dois movimentos conceituais. O primeiro deles é a noção de democracia deliberativa, que determina que o reconhecimento social de pretensões e vontades acontece apenas quando toma forma de palavra, através do discurso. Assim, a esfera pública política argumentativa ganha força. Outro é a relação entre política e mídia, uma vez que, atualmente, não há espaço de exposição, visibilidade e debate maior que a mídia. Habermas nega a existência de uma esfera pública política autêntica em uma cena política dominada pelos medias. O debate foi reacendido porque muitos acreditam que a política midiática é feita de forma espetacular, seguindo princípios de sedução, escassamente argumentativa, teatral. Muitos autores consideram que a esfera pública perdeu sua participação no processo de construção de diálogo na política, uma vez que a produção de decisões ocorre fora de seu alcance, na negociação protegida do público pelos gabinetes. Essas decisões emergem publicamente de modo a fazer com que os cidadãos possam assentir, aderir ou tolerar as posições. Logo, a esfera pública apresenta apenas o papel de legitimação das informações. Esfera pública e esfera privada As esferas pública e privada são lâminas sobrepostas. Os problemas experienciados na esfera privada ecoam na esfera pública. Mas não a totalidade do que é vivido no privado e íntimo aflora na publicidade; apenas aqueles aspectos causados por déficits nos sistemas funcionais, que afetam o mundo da vida. Habermas compreende que não há uma demarcação de um conjunto fixo de temas e relações que separam o acesso da esfera privada e da esfera pública, mas sim variações na acessibilidade, que garantem a intimidade de um lado, e a publicidade, de outro. Na esfera pública, realiza-se uma comunicação em condições de publicidade ou visibilidade; e na esfera privada, uma comunicação com intimidade ou reserva. A publicidade social (ou esfera pública) tem uma visibilidade alta, com discussões de públicos especializados até exibição midiática em horário nobre, enquanto o domínio privado (esfera privada) possui uma baixa visibilidade, que vai desde segredos e intimidade até redes interpessoais de fofoca. Ainda segundo Habermas, as problemáticas que são debatidas na esfera pública política refletem as experiências de sofrimento advindas de condições sociais estressantes. Essas experiências afetam primeiro o âmbito pessoal, as histórias de vida; depois, elas afetam os círculos familiares, os grupos de amigos, a vida cotidiana; e só então elas ecoam na esfera pública, numa discussão pública acerca de uma problemática em comum. Organizações Sociais e Organizações Civis O que são Organizações Sociais? De modo geral, como o Estado não tem sempre condições, seja financeira ou operacional (ou ambas), de proporcionar todos os serviços que são inerentes aos direitos universais do cidadão, as OSs surgem para suprir essa demanda. OS são disciplinadas por uma lei específica: a Lei Nº 9.637, de 15 de Maio De 1998 que em seu primeiro artigo traz a seguinte informação: “O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei.” No caso, uma “pessoa jurídica de direito privado” é, grosso modo, sinônimo de “empresa”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_deliberativa http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L9637.htm 19 Assim, toda organização sem fim lucrativo criada com o intuito de exercer alguma das atividades descritas no Artigo citado e atendendo aos extensos requisitos dispostos na Lei, podem ser qualificadas como uma OS pelo Poder Executivo. É importante frisar também que o surgimento da regulamentação para OSs veio de um movimento de administração pública que se baseia em criar relacionamento estratégico entre Estado e Sociedade a fim de incentivar a produção de bens e serviços, pela Sociedade, que não são exclusivos do Estado e, assim, ajudando a minimizar as limitações operacionais do governo. Quando uma instituição é qualificada como OS, ela está habilitada para administrar bens e equipamentos do Estado, além de receber financiamento público, com a contrapartida obrigatória de celebrar um contrato de gestão (parte das condições de consolidar sua qualificação). O que são OSCIPs (Organização da sociedade civil de interesse público)? Mais uma vez, vamos entender inicialmente a sua regulamentação, que é feita a partir da Lei Nº 9.790, de 23 de MarçoDe 1999 em seu Art. 1º: “Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos por esta Lei.” No caso, a Lei totaliza treze “objetivos sociais”, como citado no Artigo, que vão desde assistência social, promoção da cultura, educação e saúde, dentre outros. Para complementar seu conhecimento, você pode acessar a lei e conhecer os treze objetivos sociais que qualificam OSCIPs, pois são todos de grande importância. Outro critério importante é que, na condição de proporcionarem tais objetivos sociais, a OSCIP deve os proporcionar segundo os Princípios da Universalidade dos Serviços Públicos. Muita gente pensa que uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) é um tipo de entidade ou organização. Mas não é nada disso. Mas uma ONG já não é uma OSCIP? Essa pergunta é frequente e a resposta para ela é: não. Então, o que é? Uma OSCIP é uma qualificação jurídica atribuída a diferentes tipos de entidades privadas atuando em áreas típicas do setor público com interesse social, que podem ser financiadas pelo Estado ou pela iniciativa privada sem fins lucrativos. Ou seja, as entidades típicas do terceiro setor. A OSCIP está prevista no ordenamento jurídico brasileiro como forma de facilitar parcerias e convênios com todos os níveis de governo e órgãos públicos (federal, estadual e municipal) e permite que doações realizadas por empresas possam ser descontadas no imposto de renda. A diferença entre ONG e OSCIP Mas uma ONG já não é uma OSCIP? Essa pergunta é frequente e a resposta para ela é: não. E o motivo é simples: a figura da ONG não existe no ordenamento jurídico brasileiro. A sigla é usada de maneira genérica para identificar organizações do terceiro setor, ou seja, que atuam sem fins comerciais e cumprindo um papel de interesse público, como associações, cooperativas, fundações, institutos, entre outras. Já a qualificação de OSCIP é o reconhecimento oficial e legal mais próximo do que se entende por ONG, especialmente porque é marcada por exigências legais de prestação de contas referentes a todo o dinheiro público recebido do Estado. https://jus.com.br/artigos/54024/organizacoes-sociais-e-organizacoes-da-sociedade-civil-de-interesse-publico https://jus.com.br/artigos/54024/organizacoes-sociais-e-organizacoes-da-sociedade-civil-de-interesse-publico http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9790.htm https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/77/edicao-1/principio-da-universalidade 20 OSs e OSCIPs são a mesma coisa? Para sermos diretos: não. Vamos entender as diferenças, abaixo. As OS celebram contrato de gestão para receberem habilitação de receberem recursos financeiros do Estado para com eles administrar bens e equipamentos do mesmo e, com isso, promoverem serviços públicos. Outro ponto relevante para destacar a diferença é que OS são propriedades públicas não estatais e, assim, não são de propriedade de um indivíduo ou de um grupo, mas sim são constituídas por associações civis sem fins lucrativos. Por sua vez, as OSCIPs não recebem qualquer repasse governamental e não celebram contratos, mas sim termos de parceria para que possam desenvolver atividades lado a lado com o governo, mas que não são necessariamente de responsabilidade do mesmo. Por não receberem recursos, é comum que OSCIPs recebam doações externas – vide as chamadas para doação na própria página do CLP, por exemplo. E, em diferença às OSs, OSCIPs são Organizações Não Governamentais (ONGs) de propriedade privada, ou seja, por uma ou mais pessoas e que, após criadas como uma organização privada, pleiteia e conquista a qualificação de OSCIP. Para concluir, vale a pena voltar a frisar que embora elas não sejam a mesma coisa, ambas são importantíssimas no contexto social, pois cada uma contribui enormemente, a sua maneira, para o desenvolvimento da sociedade. Iniciativa popular O que é Iniciativa popular? A iniciativa popular é uma das formas de garantir a participação do indivíduo na vida do Estado. Por meio dela os cidadãos poderão inovar o ordenamento jurídico em âmbito federal, estadual e municipal, desde que atendidos os requisitos exigidos pela Constituição. Conceito O conceito de iniciativa popular corresponde ao direito constitucionalmente previsto que permite aos cidadãos apresentarem projeto de lei e, a partir de então, iniciarem o processo legislativo. Este instrumento poderá ser aplicado para aprovar normas nas esferas municipal, estadual ou federal. Iniciativa Popular na Constituição Em um Estado democrático de direito, é dado à sociedade a participação ativa na vida do Estado. Nesse sentido, a soberania popular pode ser exercida por meio do voto direto e secreto, bem como pelo plesbicito, referendo ou iniciativa popular. Nesse raciocínio, o artigo 14 da Constituição Federal: A seguir, veremos as particularidades que envolvem o direito à iniciativa popular. 21 Em Leis Federais Segundo dispõe o artigo 61, parágrafo segundo da constituição federal, no âmbito federal é exigida a subscrição mínima de 1% do eleitorado nacional distribuídos em 5 Estados e com participação de 0,3% em cada um desses Estados. Observe: Em Leis Estaduais Quanto à iniciativa de lei em âmbito estadual, não é previsto pela carta magna o numerário necessário, como ocorre no âmbito federal, de modo que caberá à lei dispor acerca dos requisitos. Nesse sentido, o artigo 27, parágrafo quarto: Vale destacar, portanto, que o artigo colacionado representa norma constitucional de eficácia limitada, dependente de lei superveniente para ser aplicada. Em Leis Municipais Segundo o artigo 29, inciso XII da constituição, exige-se, em âmbito municipal, que o percentual de 5% do eleitorado do Município pretenda a apresentação do projeto de lei. Qual a diferença entre iniciativa popular e ação popular? A Constituição Federal de 1988 contempla dois institutos com nomes bem parecidos, marcados por uma atuação cidadã, mas que possuem distintos significados: a iniciativa popular e a ação popular. A iniciativa popular, prevista nos artigos 14, inciso III, e 61, § 2º, da Constituição, e regrada pela Lei nº 9.709/98, representa uma das formas de deflagração do processo legislativo via reunião das assinaturas pelo eleitorado brasileiro para que seja possível apresentar, na Câmara, um Projeto de Lei. Sendo assim, podemos imaginar que ocorre aqui uma espécie de "grande abaixo-assinado": ao menos 1% do eleitorado nacional deve subscrever o pedido, estando distribuído, pelo menos, por 5 Estados, com não menos do três décimos por cento dos eleitores de cada um deles, como prevê a Constituição, no seu artigo 61, § 2º: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639858/artigo-14-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10724075/inciso-iii-do-artigo-14-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631826/artigo-61-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10699735/par%C3%A1grafo-2-artigo-61-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104101/lei-9709-98 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631826/artigo-61-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10699735/par%C3%A1grafo-2-artigo-61-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 22 § 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. O exemplo mais famoso que temos no Brasil de lei de iniciativa popular é a chamada Lei da Ficha Limpa, fruto de todo um movimento de combate à corrupção eleitoral. A ação popular, por sua vez, é uma ação judicial, prevista no artigo 5º, inciso LXXIII, da Constituição. Trata-se, agora, de um processo judicial, que pode ser usado pelo cidadão brasileiro que queira proteger o meio ambiente, o patrimônio público, o patrimônio histórico cultural ou a probidade administrativa. Vejamos o que diz a Constituição a respeito: LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; Uma vez proposta uma ação popular terá início um processo judicial, cuja tramitação encontra- se regrada pela Lei nº 4.717/65. Ao final do andamento do processo, espera-se que ocorra um julgamento pelo Magistrado competente, o que pode levar à condenação dos responsáveis pelo ato lesivo. Em síntese, portanto: ambas são demonstrações de cidadania, sendo a iniciativa popular uma reunião de assinaturas para apresentação de um projeto de lei perante a Câmara dos Deputados, enquanto a ação popular representa, por sua vez, um processo judicial, promovido pelo cidadão, que deseja resguardar o meio ambiente, o patrimônio público, o patrimônio histórico e cultural ou a probidade administrativa. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 1. O que é a cidadania? 2. Qual a função da cidadania? 3. O que é ser cidadão? 4. Quais são os Direitos do cidadão e Deveres do cidadão? 5. Por que a cidadania é importante? 6. Como pode ser definida política pública? 7. Cite os tipos e exemplos de políticas públicas. 8. O que é Esfera pública? 9. Diferencie Esfera pública e esfera privada. 10. O que são as OS? 11. O que são as OSCIPs? 12. Qual é a diferença entre ONG e OSCIP? 13. OSs e OSCIPs são a mesma coisa? 14. O que é Iniciativa popular? 15. Qual a diferença entre iniciativa popular e ação popular? http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/823283/lei-ficha-limpa-lei-complementar-135-10 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/823283/lei-ficha-limpa-lei-complementar-135-10 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10727487/inciso-lxxiii-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104081/lei-da-a%C3%A7%C3%A3o-popular-lei-4717-65 23 IDENTIDADE E CULTURA 1. Introdução A identidade cultural ainda é bastante discutida dentro dos círculos teóricos das Ciências Sociais em face de sua complexidade. Entre as possíveis formas de entendimento da ideia de identidade cultural, exitem duas concepções distintas que devemos destacar dentro dos estudos sociológicos mais recentes. Essas concepções de identidade são brevemente explicadas por Anthony Giddens, sociólogo britânico, e nos ajudarão a entender melhor esse conceito. 2. Conceito de Cultura O conceito de cultura faz alusão às características socialmente herdadas e aprendidas que os indivíduos adquirem a partir de seu convívio social. Entre essas características, estão a língua, a culinária, o jeito de se vestir, as crenças religiosas, normas e valores. Esses traços culturais possuem influência direta sobre a construção de nossas identidades, uma vez que elas constituem grande parte do conjunto de atributos que formam o contexto comum entre os indivíduos de uma mesma sociedade e são parte fundamental da comunicação e da cooperação entre os sujeitos. Como se define cultura? Em 1952 os antropólogos A.L. Kroeber e Clyde Kluckhohn analisaram 162 diferentes definições de cultura e concluíram que não seria possível uma definição de cultura que contentaria a maioria dos antropólogos. Com esse balde-de-água-fria, seguem algumas definições já “clássicas” de cultura na antropologia que devem ser consideradas criticamente. Um dos pioneiros da antropologia, Edward Tylor (1832-1917) fez uma das primeiras propostas científicas de que cultura seria “em seu amplo sentido etnográfico, este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou quaisquer outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. (1871, p.1). Note o adquirido e o membro de uma sociedade nessa definição. Apesar de não ficar tão claro a cultura material na proposta de Tylor, a cultura seria algo socialmente adquirido, não genético ou inato. ALVES, Leonardo Marcondes. O que é cultura? Antropologicamente falando. https://wp.me/pHDzN-hm 24 3. Conceito de Identidade Identidade e alteridade Identidade é o conceito que atravessa as áreas da sociologia e da antropologia e está ligado às características do grupo social no qual o indivíduo está inserido. Alguns fatores tal como a cultura, a história, o local e o idioma são importantes para que um grupo compartilhe elementos identitários. Um problema antigo para a história do pensamento ocidental é o da identidade. A identidade foi enunciada em um princípio elucidado pelo filósofo grego clássico Aristóteles, chamado princípio da identidade. Aristóteles o propôs em uma fórmula que diz: “algo é algo”, ou seja, qualquer coisa possui uma identidade definida. Os seres humanos prezam por suas identidades, que são o que de mais imediato e preciso temos em nossas particularidades. Essa identidade, que garante a nossa individualidade, pode ser o gatilho para um comportamento individualista. Nesse sentido, a princípio, a identidade parece ser o início do não reconhecimento da alteridade. É por isso que a psicologia e a filosofia podem ajudar-nos a compreender a importância da alteridade em nosso mundo. O conceito de identidade refere-se a uma parte mais individual do sujeito social, mas que ainda assim é totalmente dependente do âmbito comum e da convivência social. De forma geral, entende-se por identidade aquilo que se relaciona com o conjunto de entendimentos que uma pessoa possui sobre si mesma e sobre tudo aquilo que lhe é significativo. Esse entendimento é construído a partir de determinadas fontes de significado que são construídas socialmente, como o gênero, nacionalidade ou classe social, e que passam a ser usadas pelos indivíduos como plataforma de construção de sua identidade. Dentro desse conceito de identidade, há duas distinções importantes que devemos entender antes de prosseguirmos. A teoria sociológica distingue duas apreensões: a identidade social e a autoidentidade. A identidade social refere-se às características atribuídas a um indivíduo pelos outros, o que serve como uma espécie de categorização realizada pelos demais indivíduos para identificar o que uma pessoa em particular é. Portanto, o título profissional de médico, por exemplo, quando atribuído a um sujeito, possui uma série de qualidades predefinidas no contexto social que são atribuídas aos indivíduos que exercem essa profissão. A partir disso, o sujeito posiciona-se e é posicionadoem seu âmbito social em relação a outros indivíduos que partilham dos mesmos atributos. Já a autoidentidade (ou a identidade pessoal) refere-se à formulação de um sentido único que atribuímos a nós mesmos e à nossa relação individual que desenvolvemos com o restante do mundo. A escola teórica do “interacionismo simbólico” é o principal ponto de apoio para essa ideia, já que parte da noção de que é diante da interação entre o indivíduo e o mundo exterior que surge a formação de um sentido de “si mesmo”. Esse diálogo entre mundo interior do indivíduo e mundo exterior da sociedade molda a identidade do sujeito que se forma a partir de suas escolhas no decorrer de sua vida. 4. Conceito de Raça e Etnia O que é Raça e Etnia: Raça e etnia não são sinônimos. Etnia é um grupo definido pela mesma origem, afinidades linguísticas e culturais, enquanto que raça como distinção entre os homens é um conceito socialmente construído de que existiriam diferenças biológicas entre as etnias. A palavra etnia é derivada do grego ethnos, que significa "povo que tem os mesmos costumes". Raça é um conceito biológico aplicado aos subgrupos de uma espécie. A espécie humana não possui subespécies ou subcategorias, e portanto não é correto dizer que existem diferentes raças humanas. Mas há ainda um entendimento do senso comum, construído socialmente de que as diferentes raças correspondem às características biológicas dos grupos étnicos. Como por exemplo, a raça negra 25 que seria composta daqueles que têm a pele negra, cabelos crespos, entre outras características fenotípicas. A diferença entre raça e etnia é portanto que raça determinava um grupo por características biológicas, enquanto a etnia fala sobre aspectos culturais. Contudo, estudos da sociologia, antropologia e da biologia no último século contribuíram para desconstruir a ideia discriminatória do conceito de raça e aposentar o termo quanto classificação humana. A língua é utilizada como fator primário de classificação dos grupos étnicos. Existe um grande número de línguas multi-étnicas e determinadas etnias são multilíngues. Os grupos étnicos compartilham uma origem comum, e exibem uma continuidade no tempo, apresentam uma noção de história em comum e projetam um futuro como povo. Isto se alcança através da transmissão de geração em geração de uma linguagem comum, de valores, tradições e, em vários casos, instituições. Raça e Etnia no Brasil O Brasil é considerado um país com uma enorme miscigenação étnica, como os indígenas, portugueses, holandeses, italianos, negros, japoneses, árabes, e etc. Mas não se pode dizer que há diferença racial entre os brasileiros, já que a raça humana é uma só. Cada região brasileira, devido ao seu contexto histórico particular, possui uma predominância de determinada etnia. Os processos migratórios no Brasil foram fundamentais para a variedade de etnias brasileiras. Além dos grupos culturais de imigrantes, a miscigenação permitiu a criação de grupos étnicos próprios do Brasil, como os caboclos e mulatos. 5. Conceito de Miscigenação Miscigenação é o processo gerado a partir da mistura entre diferentes etnias. Os seres humanos miscigenados apresentam características físicas típicas de várias "raças". O indivíduo que nasce a partir da miscigenação étnica (que ainda pode ser chamada de mestiçagem ou caldeamento) é considerado mestiço. Miscigenação no Brasil A miscigenação do povo brasileiro é bastante evidente e intensa, principalmente devido à presença de diferentes etnias que colonizaram e residiram no país, como europeus, asiáticos, africanos e indígenas, que já habitavam o Brasil antes da chegada dos portugueses. Aliás, o processo de miscigenação no Brasil começou a partir do século XVI, com a chegada dos portugueses em terras brasileiras. É graças ao fenômeno da miscigenação que o Brasil é conhecido por sua diversidade cultural, pois o povo, formado por tantas misturas, preserva a herança de vários grupos étnicos diferentes. De acordo com a classificação de "raças" no Brasil, criada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e aplicada a partir do censo de 1971, existem cinco categorias: branca, preta, amarela, parda e indígena. De acordo com o IBGE: “Consideraram-se cinco categorias para a pessoa se classificar quanto à característica cor ou raça: branca, preta, amarela (compreendendo-se nesta categoria a pessoa que se declarou de raça amarela), parda (incluindo-se nesta categoria a pessoa que se declarou mulata, cabocla, cafuza, mameluca ou mestiça de preto com pessoa de outra cor ou raça) e indígena (considerando-se nesta categoria a pessoa que se declarou indígena ou índia).” 26 "A miscigenação entre brancos e negros originou os povos chamados de mulatos. Já da mistura entre índios e brancos surgiram os mamelucos, considerados como os primeiros brasileiros no período após o descobrimento. Já a miscigenação entre índios e negros deu origem aos cafuzos." Pardo é o mesmo que mulato, cafuzo ou caboclo, ou seja, uma pessoa com diferentes ascendências étnicas e que são baseadas numa mistura de cores de peles entre brancos, negros e indígenas. 6. Identidade Cultural Por fim, podemos estabelecer, diante do que já foi esclarecido, que o conceito de identidade cultural faz alusão à construção identitária de cada indivíduo em seu contexto cultural. Em outras palavras, a identidade cultural está relacionada com a forma como vemos o mundo exterior e como nos posicionamos em relação a ele. Esse processo é continuo e perpétuo, o que significa que a identidade de um sujeito está sempre sujeita a mudanças. Nesse sentido, a identidade cultural preenche os espaços de mediação entre o mundo “interior” e o mundo “exterior”, entre o mundo pessoal e o mundo público. Nesse processo, ao mesmo tempo que projetamos nossas particularidades sobre o mundo exterior (ações individuais de vontade ou desejo particular), também internalizamos o mundo exterior (normas, valores, língua...). É nessa relação que construímos nossas identidades. O que é identidade cultural? A palavra identidade está associada, historicamente, ao que algo é. Na Filosofia, a essência é a definição do que algo é, ou seja, a identidade é a definição da essência. A identidade cultural não está distante da definição de identidade, pois ela é a identificação essencial da cultura de um povo. A identidade cultural é um conjunto híbrido e maleável de elementos que formam a cultura identitária de um povo, ou seja, que fazem com que um povo se reconheça enquanto agrupamento cultural que se distingue dos outros. É difícil definir uma identidade cultural específica, pois ela é maleável e depende do momento e das peculiaridades culturais de uma determinada sociedade. Atualmente, o maior desafio para se manter a identidade cultural dos grupos sociais é a globalização, que determina padrões culturais baseados na cultura estadunidense, que tem se tornado hegemônica no mundo. As vestimentas, os hábitos e costumes são elementos da identidade cultural. 27 7. A Identidade Cultural Brasileira A identidade cultural brasileira é o conjunto de traços culturais que definem o que é ser brasileiro. Em tese, os brasileiros compartilham determinadas características culturais que fazem com que cada um deles se sinta parte da nação. Esse conjunto de traços distintivos é chamado de brasilidade. É comum nos identificarmos (ou sermos identificados por estrangeiros) como um povo alegre, comunicativo, caloroso e criativo. Certas manifestações culturais, como o Carnaval, ou hábitos alimentares, como comer arroz com feijão, parecem fazer parte desse "rótulo" do ser brasileiro. Estudiosos da cultura nacional chamam a atenção para um fenômeno característico da formação do povo brasileiro: a miscigenação. Historicamente, somos fruto da mistura das culturas
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