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Descolonização da África Antecedentes e fatores No século XV, durante o processo de expansão marítima europeia, a África tornou-se portuguesa por conta do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 pelas duas maiores potências da época, Portugal e Espanha. A partir desse acordo, o continente africano tornou-se fonte fornecedora de trabalhadores para outras áreas colonizadas pelos europeus. Eram relegados à condição de escravos e bens de capital. No século XIX, como consequência da Revolução Industrial, a África sofreu nova invasão dos países europeus, promovida pela expansão capitalista. A necessidade era buscar colônias para abrigar o excedente demográfico, para complementar a economia das novas metrópoles e para servir de mercados consumidores e fornecedores de matérias-primas. Esse processo ficou conhecido como Imperialismo. A Segunda Guerra Mundial criou condições para que a dominação europeia começasse a enfraquecer. A participação dos soldados das colônias africanas nos exércitos das metrópoles deu a eles um sentimento de nacionalismo e possibilitou-lhes a descoberta de que poderiam lutar pela sua liberdade. Após a guerra, os países europeus se viram arruinados e sem condição de manter as colônias, que exigiam vultuosos gastos e investimentos. Além disso, as novas potências pós-guerra, URSS e EUA, que ocuparam o lugar dos países europeus no controle da política mundial, estimularam as colônias a se libertar de suas metrópoles, visando com isso ampliar suas áreas de influência. Os movimentos e as várias Áfricas As contradições existentes entre a dominação europeia (justificada pelo darwinismo social, que afirmava a incompetência e a inferioridade africanas) e a atuação dos colonos na guerra tornaram-se visíveis. Os países europeus tinham dificuldade para reprimir os movimentos libertários que surgiam em várias partes da África. A Inglaterra, por exemplo, resolveu conceder a independência às suas colônias africanas, evitando confrontos militares. Até o ano de 1955, existiam no continente africano, apenas cinco países independentes: África do Sul, Líbia, Etiópia, Egito e Libéria. Em 1960, eram 26 países. Esse salto significativo foi resultado também da Conferência de Bandung, realizada na Indonésia, em 1955, na qual foram aprovados o “princípio da coexistência pacífica” e os “direitos à autonomia e à liberdade das colônias africanas”. Em Bandung, defendeu-se a independência em relação às potências da época (EUA e URSS0 e a união dos países pobres (Terceiro Mundo). Conferência de Bandung França Para fazer frente à guerra de independência da Argélia, a França desembarcou tropas na colônia dando início a uma violenta guerra. Na realidade, a reação não era bem da metrópole. Os que defendiam os laços da colônia com a França eram os colonos franceses e seus descendentes brancos, que constituíam a elite dominante e eram grandes proprietários e comerciantes. Em 1962, o presidente Charles de Gaulle realizou um plebiscito, que foi favorável à independência e pôs fim à guerra, reconhecendo a Argélia como nação soberana. Portugal Portugal lutou como pôde para manter seu controle sobre Angola e Moçambique. A ditadura de Marcelo Caetano, em Portugal, sucessor de Antonio Salazar, começou a apresentar sinais de desgaste, os quais aumentavam na mesma proporção que os custos das guerras de independência na África. Em Angola, Agostinho Neto liderava o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) e, em Moçambique, Samora Machel liderava a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) contra Portugal. O desgaste com as guerras chegou ao auge em 1974, quando os militares derrubaram a ditadura portuguesa na Revolução dos Cravos. O novo governo estabeleceu negociações com as colônias em guerra: Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, dando-lhes a independência. O caso da África do Sul A África do Sul foi colonizada por holandeses e ingleses. Seus descendentes formaram uma elite branca que monopolizou as melhores terras, os melhores cargos, os melhores empregos, controlando o comércio, a agricultura, a mineração, a indústria e os bancos. Os nativos negros foram reduzidos à subserviência, segregados em seu próprio território e oficialmente inferiorizados em razão da política do apartheid, que legalizava a postura: ao branco, tudo, ao negro, nada. As transformações mundiais ocorridas após a Segunda Guerra Mundial e as independências das colônias africanas incentivaram a população negra da África do Sul, por meio do Congresso Nacional Africano, a lutar contra o apartheid. O líder negro da África do Sul, Nelson Mandela (1918-2013), foi preso em 1962 e condenado à prisão perpétua. A luta contra o apartheid tomou rumos internacionais. Países e organizações humanitárias passaram a apoiar a causa das populações negras denunciando e pressionando o governo sul-africano e prestando solidariedade ao líder político preso. Em 1990, Mandela foi libertado e voltou a liderar o movimento de reivindicação dos direitos dos negros. Em 1994, elegeu-se presidente da África do Sul. Nelson Mandela As “várias Áfricas” A África é um continente bastante heterogêneo, com países de maioria negra e exceções como a Argélia, cuja maioria é branca. Existem comunidades primitivas e também cidades extremamente urbanizadas e sofisticadas, como a cidade do Cabo, na África do Sul. Culturalmente, há grande diversidade, por exemplo no campo religioso, em que coexistem religiões de cultos tribais, de origem europeia (luterana, anglicana, católica) e religiões de origem asiática, como o hinduísmo e o islamismo. Cidade do Cabo- África do Sul Favela em Lagos- capital da Nigéria Favela em Nairóbi- capital da Quênia Desenvolveram lá também, grandes impérios como o egípcio. Na Idade Moderna e na Contemporânea, o continente foi atacado, invadido e espoliado pelas potências europeias, que buscavam riquezas minerais, especiarias, escravos, matérias-primas e mercados consumidores, obedecendo a interesses econômicos e/ou ideológicos dos países capitalistas e socialistas. O imperialismo produziu uma diversidade enorme que se arrasta até os dias atuais. Durante a dominação europeia, tribos rivais foram obrigadas a conviver no mesmo espaço geográfico controlado pelos brancos, que se utilizaram dessas rivalidades internas para imporem seu domínio. Com a independência, as antigas fronteiras delimitadas pelos europeus (que não levaram em conta as divisões tradicionais realizadas pelas tribos) foram herdadas pelos países recém-independentes. Estes passaram a ter dificuldades para estabelecer um governo nacional que representasse os interesses de todo o país, uma vez que várias tribos, cada qual com seu próprio idioma e padrão cultural, não chegavam a um consenso. Um dos casos representativos dessa situação foi a Nigéria: o predomínio da tribo haussa levou os ibos à revolta, dando origem a Guerra de Biafra (1967-1970). A região de Biafra, rica em petróleo, atraiu o interesse de potências como EUA, Inglaterra e URSS, que se envolveram na guerra fornecendo armas, equipamentos e dinheiro. Ao final da guerra, os ibos foram massacrados e cerca de dois milhões de pessoas morreram, a maioria de fome. Biafra foi reincorporada à Nigéria, é um dos maiores produtores de petróleo e um dos países mais miseráveis. Guerra de Biafra Guerra de Biafra A África, além de um continente diversificado, é extremamente conturbado e marcado pela corrupção política. O norte da África, onde existe o predomínio da cultura árabe e da religião islâmica, foi ocupado por ingleses, franceses e italianos a partir do século XIX. A Líbia, por exemplo, foi controlada pelos italianos, interessados no petróleo, e, após a Segunda Guerra Mundial, ficou sob influência anglo-francesa. Poucos anos após sua independência, o país passou a ser governado ditatorialmente pelo coronel Kadafi (1969-2011). Só chegou ao fim após umaguerra civil ocorrida sob o contexto da chamada Primavera Árabe, com início em dezembro de 2010, que também derrubou governos ditatoriais no Egito e na Tunísia. Na parte central, o predomínio francês fez surgir vários países sob influência da cultura francesa. Kadafi- ditadura militar na Líbia Primavera Árabe- Líbia Primavera Árabe- Egito Primavera Árabe Tunísia A influência belga deu origem à República Democrática do Congo; a influência inglesa originou a Nigéria e o Sudão; e a influência alemã deu origem a Camarões. Ao sul, o predomínio inglês deu nascimento a Zâmbia, Zimbábue, Lesoto e África do Sul. Este último era possessão portuguesa, que passou para a Holanda durante o domínio espanhol (1580-1640), até ser anexada pelos ingleses em 1902. As regiões portuguesas de Angola e Moçambique foram as últimas a se tornarem independentes, após receberem apoio militar de Cuba e URSS. Assim a divisão do continente africano de acordo com os interesses imperialistas e/ou colonialistas europeus, impôs sistemas de produção com base no latifúndio monocultor exportador e destruiu culturas locais, contribuindo para que a instabilidade política, divergências tribais e a fome deste continente.
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