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A colonização na América Portuguesa Império português no século XVI O comércio de especiarias orientais, em fins do século XV, apresentou alta lucratividade para Portugal, já que era o único país europeu a ter acesso às fontes produtoras na Índia. No século XVI, os Países Baixos (atuais Bélgica e Holanda), Inglaterra e França, também começaram a navegar pelo Atlântico em direção às Américas, à África e a Ásia. Aos poucos, Portugal foi perdendo o monopólio do comércio oriental e seus lucros foram diminuindo a cada viagem. A organização político-admnistrativa Suas dívidas começaram a se acumular e os franceses ameaçavam a terra americana. Dessa forma, o Brasil passou a ser visto pela Coroa portuguesa como uma possível fonte consumidora de produtos metropolitanos e fornecedores de produtos de alta rentabilidade na Europa. Em 1530, chegou Martim Afonso de Sousa comandando a expedição colonizadora. Logo de início, dada a ausência de metais preciosos, a solução encontrada foi a agricultura. O produto escolhido foi a cana-de-açúcar, para aproveitar o clima brasileiro e por apresentar mercado consumidor, pois o açúcar era, na época, raro e caro. Quanto a mão de obra, os índios estavam à disposição em grande quantidade e, ainda, havia a alternativa de trazer negros das colônias portuguesas da África. Quanto ao capital necessário, os portugueses se associaram aos flamengos, que passaram a controlar a produção açucareira. Transportavam, refinavam e distribuíam o açúcar no mercado consumidor europeu. Chefiada por Martim Afonso de Sousa em 1530, tinha por função expulsar os franceses do litoral, descobrir riquezas, explorar o litoral do Amazonas até a foz do Prata e fundar colônias. Em 1532, ele fundou a primeira vila do Brasil, São Vicente, e iniciou a cultura canavieira, criando as bases da colonização portuguesa. A expedição colonizadora-1930 São Vicente- primeira vila brasileira Dividiu o território em grandes faixas de terras (15 lotes), medindo entre 200 e 650 km de largura. O donatário estava subordinado diretamente ao rei, era chamado de capitão e a terra passava para o filho mais velho como herança, daí o nome de capitania hereditária. Esse sistema já havia sido utilizado, com sucesso, nas ilhas atlânticas de Madeira, em Cabo Verde e Açores. Capitanias Hereditárias Mas, nelas, os lotes eram minúsculos, se comparados com os do Brasil, e ainda havia a vantagem de estarem próximos ao reino, enquanto, para se chegar ao Brasil, levavam-se quase dois meses em alto-mar. Esse sistema político-administrativo transferia para os donatários a obrigação que era do Estado (Coroa portuguesa): colonizar, defender, explorar e administrar a região. Quem investia nas terras eram os donatários, mas os lucros eram divididos com o rei. Os donatários recebiam a Carta de doação e o Foral. A Carta de doação concedia ao donatário o direito de exploração da terra, mas a propriedade da terra era do rei que podia retomar o lote quando desejasse. O Foral era o documento que estabelecia os direitos e deveres dos capitães donatários. Entre seus direitos estava, o de fundar vilas e povoados, conceder sesmarias (porções de terra), exercer a autoridade máxima na região, escravizar índios, cobrar impostos e nomear funcionários. Entre seus deveres estava, o de defender o litoral, estabelecer feitorias, promover a fé católica, desenvolver a agricultura e pagar impostos. As únicas capitanias que obtiveram sucesso foram São Vicente e Pernambuco. São Vicente, doada a Martim Afonso de Sousa, recebeu ajuda do rei. Seu proprietário, além de amigo de infância de D. João III, fora nomeado governador das Índias Orientais. Nessa capitania, prosperaram alguns povoados, como o de Santos, fundado por Brás Cubas, e alguns engenhos foram instalados. O sucesso foi relativo porque a lavoura canavieira se desenvolvia numa estreita faixa de terra entre o mar e a serra do Mar e a distância entre São Vicente e Portugal era muito grande. Pernambuco, doada a Duarte Coelho, desenvolveu-se graças ao sucesso da lavoura canavieira, que ali encontrou clima e solo favoráveis e, geograficamente, situava-se mais próxima de Portugal. Vários foram os fatores que contribuíram para o fracasso das capitanias: A necessidade de vultuoso investimento para a instalação de engenhos; A necessidade de financiar a vinda de pessoas para povoar e defender a terra; Os ataques de corsários franceses e de índios que se defendiam da invasão de suas terras queimando e atacando vilas e povoados. O fracasso das capitanias O isolamento dos donatários devido à grande distância entre uma capitania e outra; A ausência de um poder central, na colônia, para apoiar os capitães donatários. Muitos donatários nem tiveram o trabalho de vir ao Brasil, por conta das dificuldades apresentadas, outros faliram completamente ou desapareceram no combate contra os índios. Em virtude do fracasso das capitanias, a Coroa resolveu assumir o controle, criando o Governo-Geral e centralizando politicamente a colônia. Isto não foi bem recebido por Duarte Coelho, que não admitia perder ou diminuir os poderes absolutos sobre sua capitania (Pernambuco). Para o rei, não só o fracasso, mas também o sucesso de Pernambuco e São Vicente exigiam a centralização, porque esses donatários (em especial Duarte Coelho) estavam se tornando muito ricos, representando uma ameaça futura. Foi criado em 1548, com o objetivo de exercer o efetivo controle da colônia, por parte da metrópole, auxiliando os donatários e diminuindo os poderes de alguns. O Governo-Geral tinha por obrigação: Auxiliar as capitanias em dificuldade; Defender o litoral, combatendo os franceses; Desbravar o interior, combatendo os indígenas; Coordenar a administração política, econômica e a defesa. Governo Geral Para auxiliar o governador-geral, foram criados os cargos de ouvidor-mor, que cuidava da justiça, de provedor-mor, que cuidava da arrecadação de impostos, e de capitão-mor, que cuidava da defesa. O governador-geral se tornava a autoridade máxima na colônia, representando o rei, e a ele os donatários deviam obediência e subordinação. A Bahia foi escolhida para sediar o Governo-Geral, por se localizar estrategicamente entre o norte e o sul e próxima ao maior centro produtor de açúcar: Pernambuco. Tomé de Sousa trouxe os primeiros jesuítas para o Brasil. Na Bahia, fundou a primeira cidade brasileira, Salvador, que se tornou a primeira capital do país. Organizou a montagem político-administrativa da colônia, em nome do rei. Tomé de Sousa- 1549-1553 Para iniciar o processo de evangelização indígena, Tomé de Sousa criou o primeiro bispado, que ficou a cargo de D. Pero Fernandes Sardinha. Trouxe para a colônia as primeiras cabeças de gado e incentivou a agricultura doando terras. Tomé de Sousa Início da evangelização indígena Salvador- primeira cidade brasileira Seu governo foi marcado pela desorganização político-administrativa. Ocorreram diversos e violentos conflitos entre colonos e jesuítas por causa da escravidão indígena. Os índios se revoltaram contra a escravidão, atacando vilas e povoados, e os franceses, que não haviam desistido do nosso litoral, aproveitaram o momento e invadiram o Rio de Janeiro, fundando a França Antártica. Durante seu governo, os jesuítas Nóbrega e Anchieta fundaram a cidade de São Paulo (25/1/1554). Duarte da Costa- 1553-1558 Fundação da cidade de São Paulo Foi responsável pela reorganização da colônia e pacificou as relações entre colonos, jesuítas e indígenas. Para combater os franceses instalados na região do Rio de Janeiro (França Antártica), designou seu sobrinho, Estácio de Sá, que, com o apoio dos jesuítas e de algumas tribos indígenas, coordenou a expulsão dos franceses, após ter fundado a Vila de São Sebastião no Rio de Janeiro (atual cidade do Rio de Janeiro). Mem de Sá- 1558-1572 Mem de Sá incentivou a expansãoda produção canavieira, importando mão de obra escrava e financiando a construção de engenhos. O poder regional, na colônia ficava nas mãos dos homens-bons, que compunham o poder local, representado pelas câmaras municipais. Os homens-bons eram grandes proprietários, escravocratas que, dominando o poder local, governavam e administravam as vilas e as cidades. Mem de Sá Em 1580, o controle administrativo do Brasil passou para a Espanha. Quando a Espanha se apossou do trono português, levou também as possessões lusitanas na África, na Ásia e na América, suspendendo o limite estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas. Esse período, também chamado de União Ibérica vigorou até 1640. Durante esse tempo, Portugal perdeu sua esquadra (navios de guerra) na derrota espanhola ante a Inglaterra, que destruiu a “Invencível Armada” de Filipe II. Domínio Espanhol – 1580-1640 Seus territórios coloniais foram invadidos pelos inimigos da Espanha e Portugal perdeu o mercado de açúcar devido a concorrência antilhana. Felipe II – rei da Espanha Portugal, quando resolveu colonizar o Brasil, optou pela agricultura da cana-de-açúcar, um produto de alta lucratividade e aceitação no mercado. Em 1533, Martim Afonso de Sousa instalou o primeiro engenho (Engenho do Governador) em São Vicente. A organização econômica A cultura canavieira desenvolveu-se ao longo do litoral brasileiro. O grande centro produtor foi o Nordeste, graças ao solo favorável (massapê) e ao clima sempre quente e úmido. No século XVII, o Brasil tornou-se o maior produtor mundial de açúcar, popularizando um produto até então raro, que era vendido em farmácias como remédio e entrava na partilha de herança. Plantation canavieira A montagem das instalações, a importação das mudas e a mão de obra exigiam um investimento muito alto e, para levar esse empreendimento adiante, os colonos recorreram aos flamengos, que acabaram ficando com a maior parte dos lucros. Os holandeses financiavam a plantação e as instalações do engenho, transportavam a carga para a Europa, refinavam o produto em Antuérpia e Amsterdã e o comercializavam, distribuindo-o por toda a Europa. Os portugueses metropolitanos lucravam servindo de intermediários entre Brasil e Europa. O termo engenho abrangia a fazenda de cana, as instalações técnicas, a área destinada ao gado e ao cultivo de alimentos e a mata virgem. A área social era composta pela Casa-Grande (residência do senhor de engenho), pela senzala (instalação dos escravos) e pela capela (destinada aos cultos dominicais e às celebrações como batismo, casamento e morte). As instalações técnicas compreendiam a casa da moenda (moagem da cana), a caldeira (onde se fervia o caldo de cana, formando o melado) e a casa de purgar (onde o melado era purificado e colocado em vasilhas de cerâmica para a cristalização, tomando a forma de pães – os pães de açúcar – que eram enviados para a Europa para serem refinados e consumidos) Os colonos acabaram recorrendo à mão de obra africana. O comércio de escravos africanos revelou-se altamente lucrativo para a burguesia europeia. Além dos escravos havia trabalhadores livres, assalariados, como o mestre de açúcar, responsável pelo controle de qualidade, o feitor de escravo, que era o capataz da fazenda, e alguns técnicos responsáveis pela manutenção das instalações. A plantação canavieira desenvolveu-se no sistema de plantation, isto é, fundamentou-se na grande propriedade – o latifúndio – produzindo um só produto (monocultura), assentado na exploração da mão de obra escrava e visando ao mercado externo (exportação). Portugal tinha o monopólio comercial, isto é, o Brasil era obrigado a vender os produtos para Portugal, e dele comprar os artigos europeus de que necessitava. Perdia na compra e na venda. Engenho Formas de pão de açúcar Moendas engenho Do melaço da cana, os colonos extraíam dois subprodutos amplamente consumidos pela população escrava ou livre: aguardente e rapadura. A aguardente era utilizada para consumo interno, entre os escravos e os pobres em geral, como forma de enganar a fome. Também foi utilizada como moeda de troca no escambo de escravos na África. A rapadura tornou-se um dos principais itens da alimentação nordestina. Outros produtos coloniais Os subprodutos do açúcar O gado foi introduzido no Brasil por Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral. Para não prejudicar a lavoura canavieira, no Nordeste, a criação de gado foi proibida na faixa litorânea, desenvolvendo-se no Sertão nordestino, em terras não favoráveis à agricultura. Sua utilização era ampla: servia para mover a moenda e puxar carroça; a carne salgada e seca era conservada por mais tempo; o couro era utilizado para vestimenta e confecção de outros objetos. A Pecuária A produção de algodão satisfazia às necessidades de fabricação de panos grosseiros para vestimentas de escravos e pobres, desenvolvendo-se na região do Pará e do Maranhão, em áreas onde a lavoura canavieira não deu certo. O algodão O tabaco é uma planta nativa da América, utilizada pelos indígenas em seus rituais. Seu consumo expandiu-se rapidamente na Europa, onde se acreditava que ele possuía propriedades terapêuticas curativas. Sua produção foi estimulada principalmente porque, juntamente com a aguardente, ele era utilizado pelos traficantes de escravos para escambo na África. Sua cultura desenvolvia-se em áreas já desgastadas pela lavoura canavieira, em solos pobres adubados com esterco de boi. Fumo O contato com os índios promoveu o conhecimento de grande variedade de plantas e ervas aromáticas, medicinais e alimentícias, que ficaram conhecidas como drogas do sertão. Os missionários, em seu trabalho de catequese, perceberam a importância desses conhecimentos e passaram a utilizar a mão de obra indígena para a coleta desses produtos. As drogas do sertão Essas especiarias eram exportadas para a Europa e seu comércio revelou-se tão lucrativo que passou a ser disputado pelos colonos, tornando-se frequentes as rivalidades entre eles e os jesuítas pela exploração das drogas do sertão (erva-mate, castanha-do-pará, caju, guaraná, salsaparrilha, urucum) e de animais silvestres e exóticos. Drogas do sertão